Beatriz “Bia” Bonilla da Costa, é identidade civil da super-heroína Fogo, e ela é o Brasil na DC Comics, mas antes foi Green Fury, a Fúria Verde.
A origem da personagem é uma das mais curiosas e divertidas do lore da DC Comics.
Beatriz surgiu primeiramente como Green Fury (“Fúria Verde“), em uma HQ dos Super Amigos (1973-1985), nome do desenho animado que trazia os heróis da DC Comics para as telinhas da TV, em uma produção bem infantil, mas deliciosamente divertida e fiel visualmente às HQs da DC na época.
Super Amigos fazia tanto sucesso que ganhou gibi próprio, que é título onde Green Fury surge. Bia por sua vez, fez tanto sucesso que ela recebeu muito destaque na revista.
E ela foi trazida para a cronologia regular de quadrinhos DC Comics ainda antes Crise nas Infinitas Terras, nome da megassaga que remodelou cronologicamente e editorialmente o Universo DC.





Nesta primeira parte de uma matéria sobre a Fogo da DC Comics, iremos trazer a origem e início de sua trajetória como Green Fury. Depois iremos aprofundar seu lore pós-Crise, na qual ganhou ainda mais protagonismo — por exemplo, Fogo (não a Green Fury) precedeu a Mulher-Maravilha como a primeira super-heroína em um (tele) filme da DC Comics!

Sua origem amazônica e mística é alterada no pós-Crise, e de uma modelo carioca que se torna uma agente do Serviço Secreto Brasileiro (!), Bia adota o codinome Fogo e se torna integrante do maior grupo de heróis da Terra, a Liga da Justiça; retorna como agente secreta no Xeque-Mate; além de participar de muitas outras aventuras no rico universo de heróis da editora de Superman, Batman e Mulher-Maravilha.
Green Fury e os Super Amigos


A primeira aparição de Bia da Costa acontece na revista Super Friends #25 (1979), escrita por E. Nelson Bridwell e com arte de Ramona Fradon.
Bia é apresentada como Green Fury (“Fúria Verde”) e seus poderes têm origens místicas nesta etapa de sua vida editorial da DC Comics.

Seus poderes são bem variados, e incluem voo, rajadas de fogo místico da boca (até do nariz!), bafo gelado (!!), criação de ilusões e chamas verdes que reconstituem roupas. Ela é morena (branca de cabelo preto), mas fica com uma cabeleira verde quando se torna a Green Fury.
A série de desenho animado dos SuperFriends/Super Amigos teve uma temporada de 16 episódios em 1973, com os heróis Superman, Batman, Robin, Mulher-Maravilha e Aquaman, que eram acompanhados pelo garotos Marvin, Wendy (sem poderes) e o Cão-Maravilha. O Flash, Homem-Borracha e o Arqueiro Verde estrelaram alguns episódios também.
Em 1977, saiu mais 14 episódios na segunda temporada do desenho, que agora se chamava The All-New Super Friends Hour — no Brasil, o desenho animado sempre foi chamado simplesmente de Super Amigos, inclusive nas nomenclaturas das temporadas seguintes.
Wendy, Marvin e o Cão-Maravilha ficam de fora, e são introduzidos agora os Super Gêmeos, Jayna e Zan, além do macaquinho Gleek.
Outros super-heróis da DC fazem sua estreia, como Gavião Negro, Mulher-Gavião, Lanterna Verde, Eléktron. O Flash retorna, mas não o Homem-Borracha e Arqueiro Verde.
Novos personagens aparecem para se juntar aos heróis, como Vulcão Negro, Chefe Apache e Samurai, numa representação mais eclética de etnias e nacionalidades no desenho animado. Também surge nesta temporada Rima, a Garota das Selvas.
A terceira temporada estreia em 1978, dessa vez com 34 episódios. Chamada de Challenge of the SuperFriends (ou simplesmente New SuperFriends), o line-up se mantém o mesmo (apenas os Super Gêmeos e Eléktron ficam de fora), mas os grandes vilões da DC tem sua chance, com a aparição da Legião do Mal.
A quarta temporada estreia em 1979, com 8 episódios de The World’s Greatest SuperFriends, onde temos apenas os heróis Superman, Batman, Robin, Mulher-Maravilha, Aquaman, os Super Gêmeos, além da estreia de Lois Lane e Jimmy Olsen, trazidos do lore do Superman.
É neste ano que a Green Fury estreia nos quadrinhos do desenho animado. O mood de dar regionalidade e etnias aos heróis explica a razão de Green Fury estar relacionada ao Brasi, bem como diversos outros personagens que surgiram na HQ
A quinta temporada retoma o nome simples de SuperFriends, em 1980, com 24 episódios. Eléktron, os Super Gêmeos, Vulcão Negro, Chefe Apache, Rima e Samurai, além do Gavião Negro e Mulher-Gavião e os heróis principais, fazem o line-up desse desenho.
A temporada seguinte, de 1981, mantém o mesmo nome, com 18 episódios. Os Gaviões saem e estreia o El Dourado, um herói genérico que representa as culturas antigas do México.
A sétima temporada do desenho dos Super Amigos ainda mantém o nome de SuperFriends, e estreou em 1983, com 24 episódios. Os Gaviões retornam ao panteão de heróis, e Superboy faz sua estreia aqui.
Com 16 episódios, a oitava temporada se chama SuperFriends: The Legendary Super Powers Show e foi a estreia de Nuclear no desenho animado. Vulcão Negro, Chefe Apache, Rima, El Dorado e Samurai permanecem, mas os Gaviões, Flash e Eléktron estão ausentes.
A última temporada do desenho animado dos Super Amigos se chama The SuperPowers Team: Galactic Guardians, e foi ao ar em 1985, com 10 episódios. Nuclear continua na equipe, e o super-herói Cyborg, dos Novos Titãs, faz sua estreia aqui. Retornam o Flash, Lanterna Verde e o Gavião Negro. Apenas Apache permanece dos heróis “étnicos”.
Green Fury
por Nelson Bridwell e Ramona Fradon
A criação de Bia envolveu dois grandes nomes dos quadrinhos.
O americano Edward Nelson Bridwell foi um dos escritores da Mad, uma das maiores revistas de humor nos Estados Unidos. Era um intelectual, mas escreveu diversos trabalhos para o mercado de quadrinhos de super-heróis dos EUA, do qual era grande fã.
Nelson escreveu as tiras em quadrinhos de jornais do Batman e revistas regulares do Homem-Morcego, além do Capitão Marvel e outros heróis.
Bridwell, junto com o roteirista Cary Bates e o desenhista Dave Cockrum, deram nova vida ao grupo da Legião dos Super-Heróis (Dave depois ficaria famoso na Marvel, ao co-criar Os Novos X-Men, junto com Len Wein e Chris Claremont, inclusive usando ideias descartadas pela DC).
Nelson também foi o escritor que estabeleceu geograficamente as duas cidades mais importantes da DC Comics: botou Metropolis em Delaware, e Gotham City em New Jersey (e Smallvile em Kent Country, em Maryland).

E Nelson escreveu a revista Super Friends (Super Amigos), de 1976 a 1981. Ele sempre procurava inserir algo da continuidade regular da DC Comics dentro do título: trouxe o namoro do Batman com socialite Silver St. Cloud; fez Wendy ser sobrinha do detetive que treinou Bruce Wayne na juventude; e tornou Marvin o filho da enfermeira Diana Prince White, da qual a Mulher-Maravilha emprestou o nome civil.

Ele também criou os personagens da equipe Guardiões Globais. Liderados pelo misterioso Doutor Mist, eles eram uma espécie de “super-heróis internacionais”, de diversas nacionalidades, que se reuniam para combater ameças globais.

Já a desenhista Ramona Fradon é uma verdadeira lenda das HQs. Ela foi uma artista pioneira no mercado de quadrinhos super-heróis americanos, uma das primeiras desenhistas mulheres da Era de Ouro e de Prata das HQs dos EUA.

Fradon começou a carreira em 1950 e ficou popular desenhando para DC Comics as revistas dos personagens Zatara (1950), Aquaman (1951-1964) — onde co-criou o Aqualad (Garth); Homem-Borracha; Metamorfo (co-criou o personagem em 1965 com Bob Haney); Batman; Os Falcões Negros (1958); Combatentes da Liberdade (1976-1977); Homens-Metálicos; Cavaleiro Andante; Mulher-Maravilha (1989); Superamigos; House of Secrets e muitos outros. Na Marvel, teve uma passagem pelo título do Quarteto Fantástico.


Para as tiras de jornais, Ramona fez Brenda Starr, Repórter, entre 1980-1996. Ela foi casada com Dana Fradon, cartunista da revista The New Yorker, e Ramona desenha até hoje, mesmo estando semi-aposentada.



Na primeira aparição de Bia da Costa/Green Fury/Fúria Verde, mostrada em Super Friends #25, a brasileira entra em um confronto com um Superman dominado mentalmente.
O Escoteiro estava no Rio de Janeiro (!), em cima do Pão de Açúcar (!!), anunciando que iria criar seu “Império” aqui (!!!).

E é nossa heroína que tem que controlar o Azulão. O vilão por trás de todos os acontecimentos é o Overlord Sandor Fine, que já tinha dominado mentalmente quase todos os heróis da Liga da Jus, ops, os Super Amigos.

Nessa mesma edição, Nelson traz a Nubia, a Mulher-Maravilha negra do universo regular da DC. Outros heróis dominados enfrentam heróis de países atacados, como os Super Gêmeos, que são confrontados por Seraph, de Israel, e Robin, confrontado pelo Demônio da Tazmania (é sério), quando ataca a Austrália (?). Os dois são personagens dos Guardiões Globais, que já tinham aparecido na revista.
Em Super Friends #42-44 (1981), temos a segunda aparição da Green Fury, que aqui é apresentada por Bruce Wayne como a diretora da Wayne Enterprises na filial do Brasil.

Ela passa o Natal em Gotham City, ajuda os Super Amigos contra o vilão botânico Green Thumb (Fargo Keyes) e o “frankenstein” Futurio-XX, até que se afasta por um certo momento, quando não consegue ajudar seus colegas em uma determinada situação, quando percebe que não sabe as identidades secretas deles.

Bia da Costa/Green Fury ganhou tanto destaque que o último número da revista dos Super Amigos da DC Comics, a Super Friends #47 (1981), foi dedicado para a origem da personagem.
A carioca Carlota da Costa sobreviveu a um naufrágio no Rio Amazonas junto com o marido, que iria trabalhar em um lugar na selva amazônica chamado Inferno Verde.
Carlota estava grávida antes de fazer a viagem, e deu à luz Beatriz em meio a uma tribo de índios chamados Ge. Quando completou 15 anos, a menina foi contatada pelo ancião da tribo, que lhe revelou que ela tinha grandes poderes, dados pela entidade mística Sky Spirit (“Espírito do Céu”).

Foram 25 páginas escritas por Nelson e desenhada por Romeo Thangal, onde os Super Amigos ajudam a Green Fury contra novas ameaças que surgem perto do local onde ela nasceu, em uma surpreendente boa história adulta dentro da mais infantil revista da DC Comics na época.
O final da história é tocante, com o velho ancião que previu os poderes de Bia no leito de morte, em uma linda e derradeira despedida. Antes de partir, ele pergunta para “sua filha de coração”, o Superman e o Batman, em quem eles acreditavam como sendo o Criador de tudo no universo.
O quadrinho abaixo é antológico.

Green Fury na continuidade regular da DC Comics

Na revista DC Comics Presents #46 (1982), dedicada ao Superman da cronologia regular em parceria e aventuras com outros personagens do Universo DC, o roteirista Nelson Bridwell e o desenhista Alex Saviuk trouxeram os Guardiões Globais para a a continuidade oficial da DC Comics, e a Green Fury veio junto.
Bia foi trazida para praticamente do mesmo jeito: ela ainda é morena antes de se transformar, ainda é diretora da Wayne Enterprises Brasil, e tem contatos com os super-heróis medalhões da DC, como o Superman, a quem ajuda os Guardiões Globais a enfrentar uma nova ameaça internacional.

Essa aventura é a única antes da Crise nas Infinitas Terras acontecer. E como não poderia deixar de ser, a Bia/Green Fury e os Guardiões Globais participam da megassaga, como todos os outros milhares de personagens da DC.
Foi a última aparição de Beatriz da Costa como Green Fury na DC Comics como a conhecemos.

Na segunda parte dessa matéria, abordaremos a sua reformulação, onde ela se torna Green Flame (Flama Verde) e Fogo, identidade pela qual seria mais conhecida.
Beatriz da Costa
Fogo
ex-Green Fury
pós-Crise





No Xeque-Mate, Beatriz da Costa, agora como Fogo (ela deixa a alcunha de Green Fury), é liderada por Amanda Waller, uma das personagens mais casca-grossa da DC Comics.
Nelson Bridwell morreu em 1987, aos 56 anos.
Ramona Fradon nasceu em em 1926, e atualmente está com 96 anos.
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