MEUS HERÓIS ERAM TODOS VICIADOS | Música, drogas e crime em um romance

Meus Heróis Eram Todos Viciados

Com influências de cultura pop musical e do submundo criminal das drogas, a história em quadrinhos Meus Heróis Eram Todos Viciados (2017) traz a história de uma jovem em rota de colisão com um rapaz que não sabe o que lhe espera quando se interessa pela moça.

É o amor tratado de forma pulp pelo escritor Ed Brubaker e o desenhista Sean Phillips, mostrado em várias camadas de amores: pelas drogas, pela música, por nossos pais, por namoricos, por quem (e o que) a gente ama no final da contas.

A protagonista Ellie, viciada em música e drogas, sempre teve ideias romantizadas a respeito dos temas, em especial por conta de sua infância, regada com boas lembranças musicais, graças aos K7 e LP de vários artistas, que ouviu em várias oportunidades, e situações marcantes envolvendo drogas, como quando presenciou a mãe usando heroína. Sua alma também guarda algo trágico do passado, agravado pela obsessão desde a morte de sua mãe, que era uma dependente.

Meus Heróis Eram Todos Viciados
Música, drogas, romance e crime

Brubaker joga tudo isso de modo fechado em uma narrativa que acontece dentro de uma clínica de reabilitação de alta classe, onde nada é o que parece.

É lá que Ellie conhece Skip, também internado na instituição. Ela não queria atrair atenção do rapaz, mas ela não pôde fazer muito quanto a isso, já que também começou a se interessar por ele. Essa ação é entrecortada por passagens em que Ellie relembra sua infância ao lado da mãe viciada.

A própria Ellie conta que “não é uma narradora confiável“, o que diz muito sobre Meus Heróis Eram Todos Viciados, uma HQ que não se propõe a refletir ou revolucionar a gramática e linguagem dos quadrinhos em busca de inovação, mas sim em contar uma boa história.

E é exatamente isso que Brubaker faz em 72 páginas, onde a melancolia e a surpresa se faz companheira sempre.

Philips é um artista excelente em usar narrativas cinematográficas na condução visual. Isso não é relacionado a cenas de ação — que são poucas, quase nada — e sim nos cortes da narrativa, que ajudam a dar mais qualidade a esse noir. E apesar do estilo, Ellie passa longe da imagética de femme fatale, outra grande prova da inventividade de tratar a moça como protagonista com qualidade próprias.

Meus Heróis Eram Todos Viciados
A arte de Sean Philips está longe até mesmo de ser um neonoir, mas funciona com perfeição

Meus Heróis Eram Todos Viciados saiu no Brasil em dezembro de 2021 pela Editora Mino, e é um spin-off do universo de Criminal, uma série de histórias criadas por Ed Brubaker que se passa em Center City, um emaranhado sombrio de aço e concreto cujo habitantes sofrem com gerações de criminosos em suas ruas e posições de poder na sociedade.

Meus Heróis Eram Todos Viciados
Meus Heróis Eram Todos Viciados pela Editora Mino no Brasil

Também de autoria da dupla Brubaker e Phillips, as histórias são independentes entre si, mas têm como fio condutor principal o fato de serem todas protagonizadas por criminosos, que vez por outra surgem em outras HQs correlacionados. É o caso de Meus Heróis Eram Todos Viciados.

Criminal foi originalmente publicada pela editora Marvel Comics a partir de 2006, mas posteriormente a série foi para a editora Image Comics, onde continua até hoje.

A editora Panini publicou os dois primeiros arcos da série no Brasil entre 2010 e 2011, mas jamais continuou.

Meus Heróis Eram Todos Viciados se passa no mesmo universo de Criminal, que começou no selo Icon, da Marvel

Em novembro de 2021 a Editora Mino adquiriu os direitos de publicação das obras de Brubaker (um mês antes de sair Meus Heróis Eram Todos Viciados), e começou a colocar ordem na casa e publicar tudo que não saiu por aqui, além de também republicar o seu início.

Com isso, o ano de 2022 viu Matar ou Morrer – Volume 3 (janeiro), Matar ou Morrer – Volume 4 (março), The Fade Out (abril), Criminal – Volume 1 (abril), Criminal – Volume 2 (junho), Criminal – Volume 3 (agosto), Reckless (setembro), Criminal – Volume 4 (outubro), Criminal – Volume 5 (dezembro) e Bad Weekend (dezembro).

A coleção de obras de Ed Brubaker no Brasil, pela Editora Mino

O site Vitralizado, especializado em quadrinhos e conduzida pelo jornalista Ramon Vitral, fez uma entrevista com Ed Brubaker, e ele comenta de Meus Heróis Eram Todos Viciados.

Apesar de My Heroes Have Always Been Junkies ser um spin-off de Criminal, ela funciona como uma obra autônoma, assim como Pulp. Como é essa experiência para você? Trabalhar tendo em visto um número limitado de páginas? Como esse tipo de restrição espacial contribuiu para o desenvolvimento das suas histórias?

Eu odeio ter que me preocupar com o tamanho de uma história. Prefiro apenas escrevê-las, sem ter uma contagem de páginas definida, mas por causa da realidade do mercado de quadrinhos e dos prazos, temos que ter um objetivo geral antes de começarmos a trabalhar, para descobrirmos quanto vai custar a impressão e coisas do tipo e quanto tempo o Sean vai levar para desenhar.”

Meus Heróis Eram Todos Viciados e Ed Brubaker: Uma Vida de Crime

Ed Brubaker

Com passagens por ícones da DC Comics, como Batman e Mulher-Gato, e gigantes da Marvel Comics como Capitão América, X-Men, Demolidor e Punho de Ferro, Ed Brubaker ganhou vários prêmios da indústria americana de quadrinhos, graças ao seu talento de contar ótimas histórias.

Edward Brubaker nasceu em Bethesda, cidade de Maryland, EUA, e fez 56 anos em 2021. Ele começou como cartunista nos anos 1980 para a Blackthorne Comics e Slave Labour Graphics.

Emplacou uma história autobiográfica, Lowlife, para a Caliber Comics, em 1991, e fez histórias criminais para a editora Dark Horse. Junto com o desenhista Eric Shanower, fizeram a história Accidental Death, publicada em 3 partes na Dark Horse Presents #65-67 (1992), com o qual ganharam uma nomeação ao Eisner Award, o “Oscar” dos quadrinhos americanos.

DC Comics

Vieram trabalhos para outras editoras, e com Prez: Smells Like Teen President (1995), Ed conseguiu ser publicado pelo selo Vertigo, da DC Comics, o prestigiado selo de quadrinhos alternativos da editora de Superman e cia., conduzido pela Karen Berger.

Depois de outros trabalhos, Brubaker fez uma parceria com os desenhistas Michael Lark e Sean Phillips na minissérie em 4 edições Scene of the Crime (1999), no qual todos receberam a segunda indicação ao Eisner.

Com isso, Brubaker conseguiu um contrato assinado com a DC Comics. E ele assumiu o título do Batman.

Scene of The Crime saiu pela Vertigo, da DC Comics, e também está na mira da Editora Mino

Ele fez 22 edições de Batman (#582-607) e 14 números de Detective Comics (#758-762, 777-786), de 2000 a 2002.

Com o artista Darwin Cooke, em 2002, Brubaker revolucionou outra personagem do bat-universo, a Mulher-Gato. Foram 36 edições onde ele mudou o traje da heroína, seu elenco de apoio e até modus operandi de Selina Kyle enquanto vilã e anti-heroína. O título foi um sucesso até seu término, em 2005.

Mulher-Gato na arte de Darwin Cooke

A pegada urbana e “realística” das ruas sujas dos heróis escritos por Ed Brubaker encontrou o ápice com o Homem-Morcego e a cidade sombria que ele cuida e seu futuro mood noir criminal quando ele deu início á série Gotham Central (ou GCPD, como ficou mais conhecida, com “Police Departament” acrescido), co-escrita com Greg Rucka e desenhada por Michael Lark.

Foram 22 edições (#1-27, #34-36, de 2003 a 2005), onde vemos o cotidiano dos policiais e gente comum de Gotham City, uma cidade cheia de supercriminosos insanos e povoada de vigilantes.

Uma das melhores séries dos anos 2000 da DC Comics, escrita por Brubaker

Para a Wildstorm, a editora de quadrinhos do artista superstar Jim Lee, que agora era um “selo” na DC, Brubaker escreveu Point Blank (2002), com o artista Colin Wilson.

O trabalho abriu portas para uma das maiores obras de Brubaker, Sleeper, onde usou espionagem, ação e intrigas em um mood de super-heróis já há muito ultrapassado, ao pegar personagens relacionados ao Wildcats.

Sleeper, um neonoir de ação derivado do universo de super-heróis da Wildstorm

Ele fez 12 edições com o artista Sean Philips em 2003. Um ano mais tarde, fizeram mais 12 números. Brubaker também escreveu 13 edições de Authority, na saga Revolution, a equipe de super-heróis mais badass das HQs do gênero, uma com arte de Jim Lee e as outras 12 com Dustin Nguyen.

Marvel Comics

Em 2014, Ed Brubaker foi para a Marvel Comics, onde escreveu muitas das melhores histórias já feitas com o Capitão América, com desenhos de Steve Epting.

Seu longo run começou com um novo título do personagem, o qual escreveu 72 números. Brubaker trouxe de volta dos mortos o “intocável” Bucky Barnes, o parceiro do Capitão América morto desde a época da Segunda Guerra Mundial (dentro e fora dos quadrinhos), em uma trama de espionagem e ação política envolvendo o Soldado Invernal, um dos mais letais assassinos da Marvel.

Soldado Invernal, na arte de Steve Epting

Tanto que o auge foi literalmente a morte do Capitão América (com a devida ressurreição tempos depois).

Não à toa, a saga do Soldado Universal e parte de sua trama foram adaptados para o filme Capitão América 2 – Soldado Invernal (2014), o melhor longa-metragem do Marvel Studios até hoje. Aliás, Ed Brubaker aparece em uma cena, como homenagem ao criador do personagem.

Cena de Capitão América 2 – Soldado Invernal

Em 2006 Brubaker escreveu X-Men: Deadly Genesis, com arte de Trevor Hairsine e Scott Hanna, reestruturando o status pós-Dinastia M na continuidade dos mutantes.

Arte para a capa de X-Men – Deadly Genesis, por Marc Silvestri

MARC SILVESTRI | A cinética e dinâmica na narrativa visual

Ele assumiu também 29 edições de Uncanny X-Men, do #475 ao #503. Brubaker fez uma grande saga espacial com (alguns) X-Men liderados pelo Destrutor, contra Vulcano, dois irmãos Summers envolvidos em uma batalha sideral entre impérios galácticos.

Uma das capas de Uncanny X-Men que Ed Brubaker escreveu. Um dos protagonistas foi o Destrutor

DESTRUTOR | O poder do plasma nos X-Men

Ed também assumiu a revista do Demolidor, dando qualidade ao já incrível run de Brian Michael Bendis ao título. Matt Murdock começa sua jornada com Brubaker atrás das grades em uma longa e excruciante escalada aos eixos, mostrada em 29 edições, de Daredevil #82 ao 119. Ele e o desenhista Michael Lark ganharam o Eisner pelo título.

Um dos desejos de Brubaker era fazer um novo crossover do Homem sem Medo com o Batman, nunca realizado, graças às rusgas e empecilhos executivos entre as duas editoras.

O Demolidor de Ed Brubaker também contou com arte de Michael Lark

Junto com o escritor Matt Fraction, ele fez a revista do Punho de Ferro, Immortal Iron Fist, 14 edições, publicadas de 2006 a 2008. Ganharam outro Eisner. Tantos prêmios na Marvel deu chance a ele criar uma história autoral dentro da editora, no selo Icon, destinada a obras do tipo.

Em 2006, saiu o primeiro Criminal de Ed Brubaker, com arte do desenhista Sean Philips. Foram 10 edições em 2006; mais 7 em 2008; e 4 em 2011. Esses 4 volumes representam 6 arcos separados de histórias independentes, mas que são ligadas pela temática de crimes e dramas que se passam na mesma cidade, Central City. Elas são Coward, Lawless, The Dead and the Dying, Bad Night, The Sinners e The Last of the Innocent.

Ed também fez Incógnito, em 2009, em 6 edições, e outras 5 em 2010. No fim de 2011, saiu mais 12 edições de Criminal, um arco chamado Fatale, encerrado em 2013 mais um “volume” de arco (o sétimo, no caso).

Vieram seguidas republicações desses encadernados, até que em 2017 foi lançado Meus Heróis Eram Todos Viciados, que não é tratado como o oitavo “volume”.

Meus Heróis Eram Todos Viciados

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