Don Heck é da primeira geração de desenhistas da editora Marvel Comics, com trabalhos anotados ainda nos anos 1950.
Dono de um traço ágil e seco, com elegância na composição e dinamismo em cenas de ação ou movimento, conseguia adaptar sua narrativa visual para vários gêneros de histórias em quadrinhos.
Apesar de seu perfil não ser exatamente para super-herói, ele era tão talentoso que sua arte se encaixava em quase todos os gêneros.
Don Heck é um ilustre desconhecido nas fileiras da indústria de quadrinhos de super-heróis, pois mais pacato e sucinto em seu jeito do que seus pares, como Steve Ditko e Jack Kirby, esses verdadeiras forças da natureza, seja segurando os lápis ou em temperamentos.
Mas isso em nada diminuí o espaço conquistado por Don Heck — é graças ao seu talento que personagens como Homem de Ferro, Gavião Arqueiro, Viúva Negra, o Colecionador, Mantis e dezenas de outros ganharam vida nos gibis e nos cinemas.
Infelizmente, sua trajetória no fim de carreira também foi a de muitos, com sua importância sendo diminuída e pouco conhecida, e seu legado não foi devidamente incensado pelas gerações seguintes.
Mais do que tudo isso, Don Heck garantiu seu nome criações importantes na editora Marvel e em outras empresas, como a DC Comics, em fases importantes e clássicas dos personagens, e ainda anotou trabalhos na tira em quadrinhos do Fantasma, publicadas nos jornais americanos, personagem que é considerado o primeiro super-herói da história.
Na sua fase na Marvel, Don Heck participou da criação do Destrutor, a identidade secreta de Alex Summers, um dos heróis mutantes dos X-Men.
O herói dá nome a este blog, e esta matéria faz parte da série de comemoração de 100 posts. O escritor Arnold Drake foi quem idealizou o herói em The X-Men #54 (1969), e Don Heck quem o desenhou pela primeira vez em sua identidade civil — Alex Summers — inclusive quando ele usa seus poderes pela primeira vez.
Seu nome original é Havok, uma palavra inglesa de derivação francesa, geralmente usada como sinônimo de destruição.
Arnold Drake foi outro dos grandes profissionais da indústria de quadrinhos de super-heróis dos Estados Unidos. É graças a ele que temos a Patrulha do Destino (Doom Patrol), um grupo disfuncional de pessoas com super-poderes, liderados por um sábio de cadeira de rodas, surgidos meses antes dos X-Men, na DC Comics.
A editora do Superman, Batman e cia. foi o local de nascimento de outras criações célebres de Drake, como o Desafiador, um dos principais personagens místicos da editora até hoje, que narra as aventuras de Boston Brand, um ex-acrobata que vive entre o reino dos vivos e dos mortos.
Atlas e Marvel
O nova-iorquino Donald L. Heck, de família de descendência alemã, aprendeu a desenhar em cursos por correspondência, e ainda estava na Woodrow Wilson Vocational High School, quando um amigo lhe arrumou trabalho na editora Harvey Comics, em 1949.
Foi quando ele teve a oportunidade de trabalhar como assistente de arte de Milton Caniff, um dos seus ídolos, o criador das tiras em quadrinhos Terry e os Piratas e Steve Canyon, duas obras-primas do gênero. Foi o começo de Heck por diversas editoras, como Quality Comics, Hillman Comics e Toby Press.
Os primeiros trabalhos creditados de Don Heck foram em 1952, em revistas de horror da Comic Media. Pete Morisi era um colega de trabalho na empresa, e em uma ocasião, lhe apresentou um jovem Stan Lee, então editor-chefe e diretor de arte da Timely Comics, a predecessora da Atlas Comics — a futura Marvel Comics.
Em 1954, Don Heck é contratado pela Timely, que estava se transformando na Atlas.
Seu traço limpo e funcional coube também em histórias de faroeste, criminais, horror e de aventuras na selva. Em determinado momento, a Timely decidiu distribuir suas revistas por conta própria, e após algumas movimentações por algumas distribuidoras, decidiu pela Independente News.
Acontece q a empresa era de propriedade também da DC Comics, que limitou as revistas distribuídas para apenas oito títulos.
Isso dizimou o line-up da Timely, e o próprio Stan Lee teve que demitir grande parte do rol de artistas — Bill Everett, criador de Namor, o Príncipe Submarino, um dos primeiros heróis da Marvel (e mutante), foi trabalhar em desenhos para uma empresa de cartão de felicidades. Gene Colan, para uma agência de publicidade (Colan seria a estrela de Tumba de Drácula, revista de abril de 1972 da Marvel, com Marv Wolfman recriando o mito de Drácula, que estava em domínio público, em uma abordagem original e criativa.
Colan daria as feições do ator Jack Palance ao personagem., que também seria desenhado por Don Heck. Mike Sekowski virou empacotador de supermercado. Don Heck não escapou do corte, e foi desenhar modelos de aviões para uma firma de aviação.
Quando Don retorna, a Atlas Comics estava em processo de se tornar a Marvel Comics, e ele é escalado para Tales of Suspense #1 (janeiro de 1959), um dos títulos que viria ser um dos clássicos da empresa.
Não é exagero dizer que Don Heck é um dos “pais fundadores” do chamado Universo Marvel.
Homem de Ferro
Heck assumiu também outros títulos, como Strange Tales, Tales To Astonish, Strange Worlds, World of Fantasy e Journey into Mystery.
Sua reputação cresce, seus desenhos ficam cada vez mais bonitos, e como desenhava mulheres muito belas, também faz revistas de romance da Marvel, como Love Romances e My Own Romance.
Mas a estrela destinada a Don era mesmo Tales of Suspense. Seu run criativo durou anos — Tales of Suspense #1, de janeiro de 1959, até o número #46, de outubro de 1963.
Ele fez uma pausa de 3 números, coberto pelo colega Steve Ditko, e reassume no número #50, de fevereiro de 1964, até o #72, de dezembro de 1965.
Mesmo assim, Don ainda anotou outras dezenas de edições, com a arte-final das tintas em cima do lápis de outros artistas.
É durante esse período em Tales of Suspense que Don Heck criou o Homem de Ferro, junto com Stan Lee, Jack Kirby e Larry Lieber. Não apenas o playboy bilionário filantropo e super-herói com problemas no coração, mas muitos outros personagens que se tornariam clássicos na galeria do herói ferroso.
O Homem de Ferro surgiu em Tales of Suspense #39 (março de 1963), co-escrito pelo editor Stan Lee, pelo argumentista Larry Lieber, e desenhado por Don Heck, com capa de Jack Kirby.
Kirby fez uma armadura cinza rústica e redonda na capa, mas foi Heck quem a equipou com ventosas, jatos, imãs e raios.
Com o passar do tempo, ela se tornou inteiramente amarela. Quando fez três números da revista, Steve Ditko a simplificou, com o acréscimo do vermelho ao design.
Heck foi o responsável pelo visual de Tony Stark sem a armadura, bem como o de seus amigos mais chegados, como o fiel mordomo Edwin Jarvis, Pepper Potts e Happy Hogan.
Pra variar, a participação de Don Heck na criação dos personagens ficou na obscuridade por muito tempo, até historiadores e jornalistas posicionarem sua devida importância no lugar dos fatos.
Em Tales of Suspense #52 (abril de 1964), de novo em colaboração com Lee, Lieber e Kirby, Don Heck co-criou a super-espiã femme fatale comunista Viúva Negra, como inimiga do Homem de Ferro.
Ela depois se tornaria Agente da S.H.I.E.L.D. e até uma Vingadora. Em Tales of Suspense #57 (setembro de 1964), mais uma vez com Lee e Lieber — sem Kirby — Heck co-criou o Gavião Arqueiro, outro inimigo do Homem de Ferro, que também se redimiria ao se tornar um Vingador.
Outro inimigo famoso do Homem de Ferro é o Mandarim, criado por Lee e Heck em Tales of Suspense #72 (dezembro de 1965).
E muitos outros, como Espião Mestre (Ted Calloway), Espantalho (Ebenezer Laughton), o Dínamo Escarlate (Ivan Antonovich “Anton” Vanko), Dínamo Escarlate II (Boris Turgenov), Homem de Titânio (Boris Bullski), Jack Frost, O Nevasca (Gregor Shapanka), Poderoso (Erik Stephan Josten), Unicórnio (Milos Masaryk) e Guardião II (Michael O’brien).
Don Heck, X-Men e Vingadores
O artista ainda trabalhou em títulos dos Vingadores, Thor, Capitão Marvel, Tumba de Drácula e X-Men. Quando Don foi para a revista dos mutantes, o título amargava vendas medíocres.
Junto com o escritor Arnold Drake, Heck mudou os uniformes padrões de amarelo e preto para identidades visuais próprias, e criou novos personagens.
Além do Destrutor, fez sua namorada e também heroína, Lorna Dane, a Polaris. O inimigo da dupla, e depois dos X-Men e de outros heróis da Marvel, Ahmet Abdol, o Faraó Vivo (depois Monólito Vivo) também é criação de Don Heck.
O artista também criou o mutante japonês Solaris, um dos maiores representantes do país do Sol Nascente no Universo Marvel.
A tentativa de revolucionar os X-Men continuaria nas mãos de Roy Thomas e Neal Adams, que serão abordados no próximo post.
Inclusive, o visual de herói do Destrutor é de criação de Adams. A fúria de fãs de Heck foi aplacada por ao menos um ano, graças a arte fotoreealista e fantástica de Neal para os X-Men, o que durou até ele retornar para a DC.
Na passagem pelo título dos Vingadores, Heck pegou o bastão de Jack Kirby.
Ele co-criou vários outros personagens clássicos, como Magnum (de início vilão, depois herói e Vingador, e de nome original Wonder Man, uma safadeza de Stan Lee para garantir os direitos do nome de contraponto da Mulher-Maravilha / Wonder Woman, pertencente a concorrência), o Conde Nefária, Espadachim, Golias, Laser Vivo, o Colecionador, Bill Foster, o Golias Negro e Mantis.
Quando deixou o título, foi substituído por John Buscema. Heck também trabalhou em Homem-Aranha, como arte-finalista, em cima do lápis de John Romita Sr.
Com ele e Stan Lee, Don Heck co-criou o capitão George Stacy, o pai de Gwen Stacy, o maior amor da vida de Peter Parker até hoje.
DC Comics
Nos anos 1970, Don Heck foi para a editora concorrente, a DC Comics, onde ajudou a criar Steel, the Indestructible Man, mais conhecido no Brasil como Comandante Gládio, com o escritor Gerry Conway.
O personagem seria usado para o background de heróis da DC durante a Segunda Guerra Mundial, e para contextos e participações em grupos como Sociedade da Justiça, o primeiro grupo de super-heróis da DC Comics — e da história das HQs.
O traço de Heck também podia ser visto em títulos famosos como Mulher-Maravilha, Flash, Batmoça e Liga da Justiça.
Seu primeiro trabalho foi em House of Secrets #85 (maio de 1970). Na Liga, pegou uma das fases clássicos da equipe, chamada “Fase Satélite“, onde um variado line-up vivia em um satélite que orbita a Terra, com base de operações.
Foi Heck quem desenhou o encontro da equipe com o All-Star Squadron, chamado no Brasil de Comando Invencível, grupo que reunia a Sociedade da Justiça da América e outros heróis da editora, em um grupo que tinha cerca de 50 super-heróis.
Ele substituiu ninguém menos do que George Perez, o melhor artista de quadrinhos de super-heróis para desenhar vários personagens.
Em Mulher-Maravilha, Don Heck foi o responsável pela fase de restauração de seus poderes, após a passagem equivocada de Denny O´Neil pelo título. Heck ficou até o cancelamento da revista, por conta do reboot promovido em Crise nas Infinitas Terras.
Heck ainda ocasionalmente fazia freelas para a Marvel, em títulos como Demolidor, Motoqueiro Fantasma, Namor e Vingadores.
Foi Don Heck quem desenhou o casamento do Visão e da Feiticeira Escarlate, e do Espadachim e de Mantis, dois personagens que ele criou. No fim dos anos 80 e começo dos anos 90, Don Heck retornou às fileiras da Marvel, e trabalhou em títulos especiais da editora, como Marvel Comics Presents e Marvel Fanfare.
Don Heck era o artista originalmente escalado para fazer o primeiro encontro dos Vingadores e Liga da Justiça, depois que George Perez saiu do projeto. Mas o editor Jim Shooter acreditou a sua arte não venderia.
Aliás, era um período tenebroso para certos artistas veteranos da Marvel. Chic Stone e Jim Mooney, dois arte-finalistas clássicos, haviam sido dispensados por bilhetes.
Relatos em fanzines, livros e textos de jornalistas indicam quem os jovens editores da Marvel não passavam trabalho para Don Heck, que sempre foi mais do trabalho caseiro do que o presencial no ambiente de escritórios de desenhos das editoras.
Uma controversa entrevista de Harlan Ellison, conduzida por Gary Groth para o The Comic Journal, uma das revistas especializadas em quadrinhos mais famosa dos EUA, pode ter contribuído para a “má” fama de Don Heck em determinado momento.
Ellison disse que Don Heck era o “pior artista que já trabalhou nos quadrinhos de super-heróis“(Comics Journal #53, 1980). Depois houve desculpas da brincadeira de mau gosto, e até tentativas de dizer que na verdade queriam falar de Sal Buscema, um desenhista com arte rápida, seca e angulosa como a de Heck.
Mas o estrago estava feito. Don Heck ficou com a fama que não caprichava muito em sua arte, e os trabalhos minguaram. Harlan Ellison foi um escritor norte-americano de ficção científica, fantasia e horror, dono de uma vasta carreira, com mais de 1.700 contos, novelas, roteiros, roteiros de quadrinhos, roteiros utilizados na produção de peças de TV, ensaios e críticas que abrangem literatura, cinema, televisão e mídia impressa.
Ganhou inúmeros prêmios, incluindo vários Hugos, Nebulas e Edgars. Heck nunca respondeu publicamente Harlan Ellison. Na verdade, o artista dava poucas entrevistas.
Don Heck nos cinemas
Sem Don Heck, não existiria o império bilionário da Marvel nos cinemas. Afinal, foi co-criador de muitos personagens.
A começar pelo Homem de Ferro (2008), longa que deu início ao Universo Cinematográfico da Marvel. O ator Robert Downey Jr. foi o escalado para interpretar o herói-símbolo dos filmes da Marvel Studios pelo diretor Jon Fravreau — e ele mesmo interpreta o melhor amigo e segurança de Tony, Happy Hogan, também criação de Don.
O segundo filme, Homem de Ferro 2 (2010) também é de Jon, que colocou a agente secreta da SHIELD, Natasha Romanoff, a Viúva Negra, na trama. O Dínamo Escarlate, na identidade de Ivan Antonovich “Anton” Vanko, também “aparece” adaptado, em uma mistura de personagens, com outro vilão, Mark Scarlotti, vulgo Chicote Negro, para o personagem Ivan Vanko, o Chicote, interpretado por Mickey Rourke.
O pai de Tony, Howard Stark (interpretado por John Slattery), aparece em muitos dos filmes, e também, vale frisar, é criação de Don Heck.
O Colecionador, interpretado por Benicio Del Toro, apareceu em Guardiões da Galáxia (2014) e Vingadores Guerra Infinita (2018). Bill Foster, o Golias Negro, foi interpretado por Laurence Fishburne em Homem-Formiga e a Vespa (2018), e Mantis, interpretada pela atriz Pom Klementieffe, apareceu em Guardiões da Galáxia – Volume II (2017), Vingadores 3 – Guerra Infinita (2018) e Vingadores 4 – Ultimato (2019).
O Mandarim apareceu em diversos contextos no primeiro filme do Homem de Ferro e no terceiro longa-metragem, bem distante do vilão original chinês, dono de 10 anéis de poder e planos de conquista.
O vilão é referenciado em Homem de Ferro, por meio do nome de um grupo terrorista conhecido como Os Dez Anéis. Eles são citados no segundo filme do ferroso e em Homem-Formiga (2015).
Em Homem de Ferro 3 (2013), o ator Ben Kingsley aparece como Mandarim, o que nos leva a crer que ele é o líder dos Dez Anéis. Mas no decorrer do longa é revelado que ele na verdade é Trevor Slattery, um ator picareta contratado. Essa persona terrorista “Mandarim” foi uma armação do fundador da I.M.A., Aldrich Killian (Guy Pearce), um alto executivo como Tony Stark, para mascarar atividades genéticas ilegais.
Mas uma adaptação mais fiel está prestes a ser vista no filme Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, previsto para ser lançado em abril de 2021.
O filme adapta o personagem visto nas revistas do Mestre do Kung-Fu, que apresentava as aventuras de Shang Chi e sua luta contra a organização terrorista do próprio pai.
Chi e o Homem de Ferro nunca tiveram interações sólidas nos quadrinhos para se fazer essa ponte, mas o fato dos dois vilões serem chineses explica a escolha criativa da Marvel.
Don Heck No Brasil
Homem de Ferro sempre teve lugar no Brasil em várias revistas. Sua estreia é também com Don Heck, em Homem de Ferro e Capitão América (Capitão Z) 3ª Série – n° 0, uma revista em quadrinhos dos Postos Shell, vendida apenas nos postos, em junho de 1967.
Como o nome diz, a revista era um duo. Foram duas histórias do Capitão América, de Stan Lee e Jack Kirby. E uma história do Homem de Ferro, publicada em Tales of Suspense #67 (1959).
Na arte de Heck, o Vingador Dourado enfrentava o Conde Nefária, Dínamo Escarlate, Unicórnio, Derretedor, Jack Frost, O Nevasca, Cavaleiro Negro II, Gargantus e a organização criminosa de Nefária, a Maggia, uma espécie de máfia no Universo Marvel. Todos eles, criações de Stan Lee e Heck.
A outra história também era da dupla, com Tony de novo em tretando com Nefária. Em 1972, a editora GEA publicou O Invencível Homem de Ferro n° 1, a primeira revista do herói em performance solo.
Era uma história de Iron Man #37 (1968), escrita por Gerry Conway, com Heck desenhando o herói enfrentando problemas no coração. As informações constam do site Guia dos Quadrinhos, o maior banco de dados do Brasil sobre HQs. Você pode conferir neste link deles todos os trabalhos publicados de Don Heck.
O Vingador Dourado teve suas histórias publicadas principalmente nos anos 80, na revista Heróis da TV, publicação da editora Abril, quando ficou mais famoso entre o público. Ele dividia as páginas com dezenas de outros personagens da Marvel.
Na edição de número 100, publicada em outubro de 1987, as comemorações forma de histórias duplas do Doutor Estranho, Homem de Ferro, X-Men e Vingadores — uma da estreia nas HQs e outra da fase atual.
Assim, vimos pela primeira vez a história de origem do Homem de Ferro, com Don Heck nos desenhos. Há um texto introdutório de Stan Lee, que menciona a genialidade de desenhista.
Os materiais mais recentes com arte de Don Heck lançadas no Brasil foram, pela parte da DC, Coleção de Graphic Novels: Sagas Definitivas #24, de maio de 2020, da editora Eaglemoss, com histórias do Batman desenhadas por Don e outros artistas.
Pela Marvel, um antigo material compilado pela editora Abril nos anos 1990, que reunia histórias de décadas de Thanos, o Titã Louco, um dos maiores vilões do Universo Marvel, teve uma nova proposta editorial similar pela editora Panini, que em fevereiro de 2020 publicou A Saga de Thanos. No segundo número, tem histórias desenhadas por Don Heck.
O Artista Fantasma e Esquecido
Fora do universo de super-heróis da Marvel e da DC, Don também fez a quadrinização de séries de TV para a a editora Dell/Western, especializada nesse tipo de publicação.
Alguns de seus trabalhos foram O Agente da U.N.C.L.E. e Viagem ao Fundo do Mar. Pesquisadores e historiadores de quadrinhos americanos também creditam parte do trabalho das tiras de quadrinhos para jornais do Fantasma, personagem clássico de Lee Falk, para Don Heck.
O período seria entre 1966/1971, quando Heck revezava com o artista George Olsen e outro “ghost”, termo aplicado a profissionais do desenho não-creditados nos trabalhos.
Não há informação se Heck tenha participado das páginas dominicais coloridas. Provavelmente, ele atuou só nas tiras diárias, que são preto e branco. Mais detalhes nesta matéria.
Nos anos 90, Don Heck desenvolveu trabalhos na Topps Comics, editora mais conhecida por surfar a febre dos cards, colecionáveis que infestaram a década.
O artista trabalhou em títulos como NightGlider, Hero Comics’ Mr. Fixit e Vortex’s NASCAR Adventures. A Topps tinha o editor Jim Salicrup no comando, um ex-editor da Marvel, que liderava o artista Todd McFarlane em Homem-Aranha.
Ele fez um line-up de artistas veteranos para trabalhar nos títulos da empresa, como Heck, Steve Ditko, Dick Ayers, Johh Severin, Roy Thomas, Gerry Conway e Gary Friedrich, em uma tentativa análoga que a Image Comics fazia nos anos 90 com desenhistas que estavam em títulos de vendas altíssimas da Marvel — McFarlane em Homem-Aranha era um deles, por exemplo. Na Millennium Publications, Don Heck fez um incrível quadrinho chamado H. P. Lovecraft’s Cthulhu: The Whisperer in Darkness.
O último trabalho de Don Heck na DC Comics foi a arte-final sobre o lápis de Joe Quesada em Spelljammer #11, de julho de 1991.
A revista era de material licenciado da TSR, a dona de franquias de livros de RPG como Advanced Dungeons & Dragons, Dragonlance, Forgotten Realms — e essa Spelljammer.
O último trabalho de Don Heck na Marvel Comics foram 10 páginas da história “The Theft of Thor’s Hammer“, escrita por Bill Mantlo, outro gigante dos quadrinhos, em Marvel Super-Heroes vol. 2 #15, de outubro de 1993.
No livro Marvel Comics: A história secreta, vencedor em 2013 do Eisner — o Oscar dos quadrinhos — o autor Sean Howe contou diversas histórias a respeito de Don Heck, algumas delas usadas para compor essa matéria. De acordo com o livro, um pouco antes de morrer de câncer de pulmão, em 1995, Don Heck estava amargo em relação à Marvel. Quando um funcionário perguntou se ele tinha algum trabalho alinhado com a Marvel, Heck vociferou:
“Acha que eles querem um vovozinho do caralho trabalhando nessas merdas de gibis?”
Marvel Comics: A história secreta, Sean Howe
Don Heck, página 392
/ ARTISTAS FAVORITOS. Don Heck era fã dos desenhistas Joe Kubert, um dos pioneiros da indústria de super-heróis, grande artista de ângulos incríveis, dono de uma escola que formou centenas de outros desenhistas, pai de Adam e Andy Kubert, os dois também grandes desenhistas na DC e na Marvel; José Luis García-López, um cara que literalmente deu a cara da DC ao fazer o DC Comics Story Guide, nos anos 1980; John Severin, um dos fundadores da revista de humor Mad (1952), e artista da Marvel em títulos como O Incrível Hulk, Namor, Conan e outros; Mort Druker, cartunista e quadrinista conhecido pela longa carreira na Mad.
E Don gostava de Jim Lee, um dos artistas mais dinâmicos e representativos da arte super-heroística dos anos 90. As informações são de entrevista cedida a uma uma newsletter de 1993, escrita por David Watkins, para a Minnesota Cartoonist´s League.
/// LIVRO DE ARTE. Além do livro Marvel Comics: A História Secreta, parte de Don Heck: A Work of Art foi consultado para fazer essa matéria. O material, que honra a qualidade do artista, foi publicado pela editora americana TwoMorrow, e pode ser encontrado aqui.
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