COWBOY BEBOP | Um faroeste neonoir cyberpunk na tristeza do vazio

O seriado Cowboy Bebop é um dos desenhos animados japoneses mais fabulosos já feitos na indústria de animes.

Sua trama futurista de faroeste neonoir espacial cyberpunk em ambientações de mood ocidental de referências sócio-culturais em viagens interplanetárias, com caracterizações psicológicas densas em seus personagens, que nunca são fáceis de lidar.

As dualidades de mocinhos e bandidos desse anime são tingidas de cinza em um mundo adulto onde todos estão tentando ganhar e seguir com a vida do jeito que der, conquistam logo de cara.

Cowboy Bebop
A galera do Cowboy Bebop

Cowboy Bebop

Spike Spiegel
Cowboy Bebop
Faye Valentine
Cowboy Bebop
Jet Black
Cowboy Bebop
Ein e Ed

Cowboy Bebop

Cowboy Bebop

Cowboy Bebop
Montagem com os frames de abertura do desenho animado

Um mergulho nas emoções

No primeiro episódio, quando um casal é perseguido por caçadores de recompensas, já sabemos na hora que a tragédia e o caos irão operar com força esmagadora a série inteira.

Cowboy Bebop é um produto sofisticado para o público jovem e adulto, e merece ser posicionado para além do campo de animes — é, com efeito, uma grande obra da narrativa audiovisual.

A série aborda com maestria questões complexas e difíceis como tristeza, finitude e sensação de vazio. Você fica feliz e melancólico com alguns episódios, emocionado e com raiva em outros.

Cowboy Bebop

A imersão em Cowboy Bebop também se deve a uma identidade visual única “realista”, que respeita formas e conteúdos das figuras humanas (não há alienígenas), ao mesmo tempo que se utiliza da estética anime/mangá e toda a hipercinética que eles possuem.

Mas quando os caçadores de recompensas usam armas, é um armamento detalhadamente desenhado, baseado em armas reais; quando eles bebem e comem, o desenho das bebidas e alimentos são como são; quando eles levam tiros, morrem — mesmo que demorem até o último episódio.

Cowboy Bebop

Os protagonistas

Spike Spiegel e Jet Black são dois desses caçadores de recompensas, num futuro em que a humanidade se espalhou pelo Sistema Solar, colonizando seus planetas e luas.

O que também cresceu junto com a colonização espacial foi a criminalidade, então as autoridades policiais espaciais se viram obrigadas a contratar pessoas interessadas em colabora em prender bandidos, na única condição possível — dinheiro. É aí que entram os caçadores de recompensas.

Cowboy Bebop

Situada no ano 2071, a história de Cowboy Bebop trata com contornos e multidimensionalidade as personalidades do ex-criminoso Spike e o ex-policial Jet, agora atuando como caçadores de recompensas.

Quando se juntam a eles a ladra Faye Valentine e a hacker Ed, isso também acontece. Nenhum deles é fácil, e é no vazio do cosmos e de suas vidas que a série explora vários conceitos filosóficos, como existencialismo, solidão e tédio.

E mesmo querendo que a tristeza acabe, sabemos que para que ela acabe de fato, precisa de um fim definitivo. Essa é outra razão de seu final inevitável e poderoso ser tão bom.

As influências

E mesmo sendo triste, se tem um anime que pode ser chamado de cool, é Cowboy Bebop. Temos uma trilha sonora espetacular, que faz uso de jazz, bebop e referências musicais de blues, rock e heavy metal — e até bossa nova!

E as referências visuais vem muito de obras cinematográficas, como 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968), Meu Ódio Será Tua Herança (1969), Shaft (1971), Alien (1979), Blade Runner (1982), O Corvo (1994) e os filmes de ação dos anos 1970 do cineasta Don Siegel e os dos anos 1980 de John Woo.

Os filmes de ação de John Woo nos anos 1980 foram uma das inspirações do anime de Cowboy Bebop. A maior parte deles tem o ator Chow Yun Fat

O cowboy vem das icônicas figuras americanas dos vaqueiros, e os caçadores de recompensas são referidos dessa maneira no anime. Bebop é o nome da nave de Jet, e é um estilo de jazz dos mais apreciados — mais rápido, mais virtuoso, mais nervoso e tão flexível que exige grande domínio musical por parte de quem faz.

Os maiores nomes foram os músicos Charlie Parker e Dizzy Gillespie, além de influenciarem Thelonious Monk, Miles Davis, John Coltrane, Kenny Clarke, Max Roach, Charlie Christian, Milt Jackson, Bud Powell, J. J. Johnson e muitos outros.

Em 2001, a revista Henshin, publicação especializada em cultura pop japonesa, da editora brasileira JBC, lançou sua edição #25, na qual tem uma entrevista com Shinichiro Watanabe, onde ele detalhou a influência da música na obra.

“No início da história do jazz havia o swing jazz e as big bands. As músicas eram compostas, escritas e tocadas seguindo partituras. No bebop, os músicos improvisavam e alteravam aquilo que estava na partitura. Quando havia alguém tocando outro instrumentista entrava improvisando e o primeiro, escutando isso, ficava mais inspirado e improvisava mais ainda. Isso era chamado de ‘jam session’. Isso foi o início do bebop. E na história (do anime), eu queria que os personagens agissem da mesma maneira, que cada um tivesse uma personalidade e estimulasse o outro. (…) todos competem entre si tentando aparecer mais que os outros.”

Uma construção em jazz

A trama do anime bebe muito da cultura americana, a começar pela excelente trilha sonora, quase toda ela baseada no jazz, ritmo negro americano dos anos 1940.

Os nomes dos personagens geralmente são ocidentais, e todo o mood visual remete ao cinema de Hollywood, como filmes noir, de máfia e faroestes.

Também temos o detalhismo do anime nas reproduções fiéis de armas usadas no seriado: a de Jet Black é uma Walther P99, Spike Spiegel usa uma IWI Jericho 941 R e Valentine usa uma .45 ACP Glock 30.

Jazz e bebop

A música é o 50% restante de Cowboy Bebop. A criatividade, sofisticação, técnica e improviso do gênero bebop deram novos rumos ao jazz, e o termo se encaixa ao estilo de trabalho dos caçadores de recompensas do anime, onde todos esses elementos contam para seguir esse modo de ganhar a vida.

A série possui 26 episódios, chamados de sessions, “sessões”, referência direta ao nome dado aos shows de jazz. Muitas sessões são explicitamente nomes de músicas famosas, e quando não o são, fazem referência a algo no episódio.

Esse estilo único aplicado em Cowboy Bebop é resultado de um trabalho fenomenal da compositora Yoko Kanno, que usou muito jazz, bebop, blues e funk na trilha sonora.

Ela se valeu de tudo que aprendeu sobre jazz e funk durante uma viagem aos Estados Unidos, e quando montou uma banda de jazz chamada The Seatbelts especificamente para o anime, encontrou o tom da série.

Toda a parte musical do anime foi finalizada antes da produção visual estar completa, o que ajudou o design do seriado.

Cowboy Bebop foi dirigido por Shinichiro Watanabe, com roteiros da Keiko Nobumoto, produzido pela Sunrise Studios, com 26 episódios lançados entre 1998 e 1999, com um filme (animado) lançado nos cinemas em 2001, que conta uma história passada depois do vigésimo segundo episódio.

As sessions de Cowboy Bebop

Antes de acompanhar uma rápida resenha de todos os episódios de Cowboy Bebop, algumas considerações para você não se perder e entender melhor a contextualização de algumas situações.

No ano de 2071 em que se passa a série, a tecnologia evoluiu e permitiu a raça humana colonizar os planetas do Sistema Solar, incluindo processos de terraformação, o que permite uma atmosfera e pressão do ar condizentes com as terrestres, permitindo assim a vida ao ar livre neles, sem necessidade de roupas especiais.

A população aumentou consideravelmente e, junto com ela, o número de criminosos. A polícia espacial se chama ISSP (Inter Solar System Police), e ela não dá conta de prender todos os bandidos, e por isso recorre aos caçadores de recompensas.

As informações dos procurados são veiculadas em um programa de “TV” (uma transmissão digital que passa em todos os cantos do Sistema Solar), chamado Big Shot, que estipula os valores de cada criminoso.

O woolong é a moeda no mundo de Cowboy Bebop, um dinheiro virtual em forma de créditos, que pode transferido de uma pessoa a outra através de um cartão magnético.

Cowboy Bebop

As viagens espaciais são feitas por meio dos Portais Hiperespaciais, construído em 2021 (será que já tem algum por aí agora e a gente não sabe?), que “transportam” as naves de modo mais rápido entre os planetas e luas que estão colonizados

A Terra não é o palco principal da trama, pois um acidente em um portal ocorrido há décadas destruiu a Lua (!), que explodiu (!!), causando uma chuva de meteoros constante sobre a superfície do planeta (!!!), tornando-o praticamente inabitável.

A Bebop

As principais localidades em Cowboy Bebop: Mercúrio, um dos mais quentes e pequenos planetas do Sistema Solar; Vênus, o planeta mais similar em estrutura com a Terra; Marte, menor que Terra e Vênus, mas é a mais parecida com nosso antigo lar; Bohemian Junkheap, um aglomerado de naves espaciais abandonadas, uma terra (vácuo?) sem lei; o Cinturão de Asteroides, entre Marte e Júpiter, local de antigas minerações; falando em Júpiter, o maior planeta de nossos sistema, lá tem 4 grandes luas, todas colonizadas — Ganymede, Callisto, Io e Europa; Saturno, que teve sua luta Titã colonizada; Urano, que tem um observatório científico; e Plutão, que agora é uma prisão colonial. Netuno não tem referências no anime.

Asteroid Blues
session 1

O início de Cowboy Bebop é com lembranças recorrentes de Spike Spiegel, em um tiroteio, em meio a rosas e chuvas. Ele e Jet Black estão atrás de um homem procurado, que tenta fugir deles junto com sua mulher grávida. Ou assim parece. Já neste primeiro episódio temos a aparição de um índio nativo norte-americano lakota, que realiza uma benção wakantanka para Spike.

Cowboy Bebop

E o velho prevê que ele morrerá por causa de uma mulher.

De novo“, Spike diz.

A abertura do anime é uma das mais estilosas de todos os tempos dos animes, e o dono da voz é Tim Jensen. Os mood faroeste cyberpunk são orgânicos, assim como o neonoir, usado para refletir os que personagens estão pensando.

Nada dá certo de primeira, e Spike e Jet tem que improvisar muito em cima dos imprevistos que acontecem. Isso quebra expectativas a todo momento e é muito legal de acompanhar as soluções que os dois caçadores de recompensas arrumam. E tudo dobra de qualidade com as pontuações da linda trilha sonora criada por Yoko Kanno.

É obrigatório vocês repararem em três velhinhos que vivem aparecendo como figurantes em algumas cenas. Eles são Antônio, Carlos e Jobim. Pois Shinichiro Watanabe, além de gostar de jazz, é grande fã de Tom Jobim, um dos mais famosos músicos brasileiros com reconhecimento mundial.

Fora que o Japão é um dos países onde a bossa nova faz mais sucesso, e o Tom é um dos maiores nomes do gênero, criado nos anos 1950 no Rio de Janeiro, ao unir elementos de samba e jazz.

O nome do episódio faz referência ao blues, estilo musical criado no extremo sul dos EUA no fim do século XIX. O gênero se desenvolveu a partir de raízes das tradições musicais africanas, canções de trabalho negras, spirituals e música tradicional.

Cowboy Bebop
Antônio, Carlos e Jobim em uma das várias cenas que aparecem

A inspiração para Watanabe criar Spike Spiegel foi Shuichi Tsujiyama, tirado diretamente do Tantei Monogatari, um filme japonês policial de 1983.

O ator Yusaku Matsuda interpretou o personagem, e ele fez outros em diversos outros filmes do gênero. A imagem abaixo é autoexplicativa.

Yusaku Matsuda

Cowboy Bebop

Cowboy Bebop
Um dos rascunhos iniciais de design de Spike Spiegel

No campo dos animes, a influência mais óbvia de Cowboy Bebop é Lupin III, uma série de mangá de 1967, escrita e ilustrada por Kazuhiko Kato (sob o pseudônimo de “Monkey Punch“).

Ele narra as desventuras de um grupo de ladrões liderados por Arsène Lupin III, neto de Arsène Lupin, o ladrão cavalheiro da série de romances franceses de Maurice Leblanc, de 1905. Lupin III e sua gangue viajam o mundo para roubar tesouros, sob um mood visual sóbrio e um pouco cartunesco, ao mesmo tempo divertido e detalhado de modo realista, com uma trilha sonora matadora de jazz, criada pelos músicos Takeo Yamashita e Yuji Ohno.

Lupin III faz tanto sucesso que até hoje tem produtos derivados como mais mangás, seriados em anime e live-action, filmes, videogames e todas as tranqueiras possíveis que a cultura pop exige.

Spike se parece muito com Lupin, e Jet Black também tem influências de Jigen, o parceiro de aventuras do neto de Arsène Lupin.

Stray Dog Strut
session 2

Aqui é dito que há 300 mil caçadores de recompensas zanzando pelo espaço (!), e é pelo programa de “TV”, Big Shot for The Big Hunters, que eles se informam sobre os procurados.

Conduzido por um animado apresentador negro vestido de cowboy, Punch (Alfredo), que começa sempre o programa gritando “AAMIGOOOO!!!“, e Judy, uma loirinha gata como apresentadora assistente, o programa é uma das situações mais inusitadas e legais do seriado.

O cachorrinho corgi Ein faz sua estreia, e ele é muito mais inteligente do que parece — às vezes até mais do que Jet e Spike.

Ah, vale ressaltar que Spiegel não gosta de crianças e animais.

O programa de TV onde os caçadores de recompensas pegam as informações de que precisam

Também podemos ver nesta aventura com clareza outra das grandes influências de Cowboy Bebop: os filmes de kung fu dos anos 1970. As habilidades e o estilo de arte marcial de Spike vem do Jeet Kune Do, criado pelo ator e lutador Bruce Lee para atuar em seus filmes.

O nome do procurado neste episódio é Abdul Hakim, referência ao filme O Jogo da Morte (1978), onde o jogador de basquete Kareem Abdul-Jabbar interpretou um personagem chamado Hakim, que luta com Bruce Lee no filme. Em outras duas ocasiões, Spike faz citações a outros filmes de Bruce Lee, como O Voô do Dragão (1972) e Operação Dragão (1973).

O nome do episódio faz referência e um trocadilho com Stray Cat Strut, música dos Stray Cats, banda americana de rockabilly em ativa desde 1967, presente m um álbum de mesmo nome, lançado em 1981.

Honky Tonk Women
session 3

Surge Faye Valentine, uma das femme fatale mais ladinas e sacanas do universo dos animes. Seu sex appeal vem de Fujiko, outra personagem de Lupin III, uma ladra que sempre passa a perna no burro do Lupin.

Estamos agora num cassino, onde Faye confunde Spike com outro golpista com quem ia confabular para roubar o local. Ela ferra tudo, e para piorar, há indícios que ela pode ser uma jogadora criminosa chamada Alice, que teria 219 anos de idade (!!!).

Cowboy Bebop

Um dos primeiros rascunhos de design da Faye Valentine

Em determinado momento, uma tela na TV mostra Lobo Solitário, a obra-prima em mangá de Kazuo Koike e Goseki Kojima (1970-1976), mostrada aqui em alguma de suas versões adaptadas para o audiovisual (2 séries de TV e 6 filmes).

Temos a primeira citação de Jet como um ex-policial, e o título do episódio é o mesmo da música Honky Tonk Women dos Rolling Stones, banda britânica que foi uma das bases do rock n´roll.

la foi composta em Matão (!), cidade do interior de São Paulo (!!), na fazenda do pai do cineasta Walter Salles Jr. (!!!), quando os Rolling Stones passaram um tempo no local (!?). Keith Richards e Mick Jagger e suas respectivas esposas estavam aproveitando a gravidez delas e os filhos em um período de descanso na fazenda, no começo do ano de 1969.

Reparem nas artes do intervalo, sempre diferentes, outra prova do quão cool é a série.

Gateway Shuffle
session 4

Faye fugiu de Jet e Spike, já que sua cabeça estava à prêmio depois da confusão do último episódio. Mas ela não foi para muito longe, pois acabou o combustível da nave dela. Os três se veem enrolados com uma líder terrorista, que também está sendo procurada.

É neste episódio que Faye Valentine se torna parte da equipe da Bebop. O título do episódio faz referência ao Harlem Shuffle, canção do disco Dirty Work (1986), do Rolling Stones.

Ballad of Fallen Angels
session 5

Conhecemos agora o perigoso Vicious, um criminoso do Sindicato do Dragão Vermelho, a organização da qual Spike pertencia e fugiu.

A punição para quem sai do sindicato é a morte, mas parece que de alguma forma Spike os enganou, e desde então ele está fora do radar deles há 5 anos.

Quando Vicius mata Mao Yenrai, Spike se vê obrigado a voltar para tentar entender o que está acontecendo. E a razão é bastante simples: o homem era um dos gângsters de posição mais alta no sindicato, e ao que parece, ele foi o mentor dos jovens Spike e Vicious na organização.

Uma falsa recompensa pelo assassino de Mao foi posta para tentar atrair interessados, e Faye cai nessa — ao que parece, Vicious soube que Spike estava por aí vivo.

A animação está bem mais produzida aqui do que as outras quatro sessions anteriores. Temos ótimas cenas de shows, opera, cassino, além de um grande tiroteio.

Vicious com uma espada, Spike com uma arma, uma luta dentro de uma igreja. Poética, linda, entremeada com flashbacks dentro de flasbacks: outras rosas e outro tiroteio.

Spike e Vicious eram parceiros, antes? Quem é essa loira enigmática? (outra referência visual à Fujiko, de Lupin III).

A canção que pontua todas essa sequência é uma das mais lindas de todo o anime.

Um dos melhores episódios de Cowboy Bebop, senão o melhor.

Fallen Angels é uma canção do Poison, banda americana de glam metal, presente no disco Open Up and Say… Ahh! (1988), e o Aerosmith, banda de hard rock americana, também tem uma canção com esse nome, no álbum Nine Lives (1997).

Sympathy for the Devil
session 6

O anime explica que um Portal Hiperespacial explodiu décadas atrás, e destruiu até a Lua. Os efeitos disso assolaram a Terra, que agora sofre com uma chuva constante de meteoros dos detritos que se criou em torno do globo.

Poucas pessoas vivem no planeta agora. Para acompanhar esse mood terrível, esse episódio é sobre um moleque demoníaco (!) tocador de gaita (!!) que dá um trabalhão para o pessoal da Bebop.

O título da session deve ser das mais conhecidos do grande público, já que é uma canção famosa do Rolling Stones, presente no disco Beggars Banquet (1968).

Heavy Metal Queen
session 7

Cowboy Bebop
Victoria Terpsichore

É heavy metal até no nome e na abertura desse episódio, que trata de uma mina que ninguém sabe o nome, a tal “rainha do heavy metal” do título.

Ela na verdade é Victoria Terpsichore, a esposa do maior caçador de recompensas que já existiu, Ural Terpsichore.

Além da óbvia referência ao gênero musical, Heavy Metal Queen é o nome de uma canção da banda alemã Trance, presente no disco Power infusion (1983).

Waltz for Venus
session 8

Spike se vê no dilema de prender Rocco, um fã de seu trabalho, que cuida da irmã cega, a inocente Stella. Ele é um pilantrinha, e alguns criminosos barra-pesada estão atrás dele.

Episódio excelente para mostrar que a moral do pessoal da Bebop dança ao sabor dos ventos, mas que no fundo, não passam de pessoas comuns que devem conviver com as escolhas que fazem.

O nome do episódio é um trocadilho com Waltz for Debby (1962), álbum ao vivo de jazz do pianista e compositor Bill Evans.

Jamming with Edward
session 9

A incrível Ed estreia em Cowboy Bebop

Senhoras e senhores, temos a estreia de Edward Wong Hau Pepelu Tivrusky IV, ou Ed para facilitar. A querida (ou seria querido?) hacker é uma maluquinha de carteirinha, e atualmente se encontra no que antes era a América do Sul.

As pedras lunares fustigaram toda a superfície da Terra, no acidente do portal ocorrido 50 anos atrás, mas a missão da Bebop é lá mesmo, já que uma gorda recompensa foi dada para quem capturar um hacker que está mexendo e atacando no sistema de satélites da administração colonial.

Os rascunhos iniciais do design de Ed

Devido a fama do hacker, nada poderia preparar Spike, Jet e Faye para ver que ele na verdade era uma garotinha esguia e com uma fome do tamanho do Sistema Solar.

No fim, descobrimos junto com eles que quem está por trás de tudo é uma poderosa IA, que ainda vive digitalmente entre os antigos satélites pré-catástrofe do portal — pra variar, a inteligência artificial é dos Estados Unidos.

O título da session é o mesmo de um disco do Rolling Stones, lançados em 1972.

Ganymede Elegy
session 10

Cowboy Bebop
Alisa, uma mulher do passado de Jet

Estamos em Ganymedes, uma das várias luas de Júpiter, local de nascimento de Jet Black, e o primeiro episódio focado só nele. Seu passado misterioso na polícia é entrelaçado com Alisa, ex-namorada que o deixou para trás.

O atual companheiro dela, Rhint Celonias, está sendo procurado (pra variar), o que complica ainda mais as coisas que Jet quer (pensa) resolver, já que tudo ainda está mal-resolvido entre ele e Alisa.

Os rascunhos do design de Jet

Ficamos sabendo que o apelido de Jet na polícia era Black Dog, “cão negro”, referência a uma música do Led Zeppelin, os britânicos criadores (um deles) do heavy metal. A canção está no álbum Led Zeppelin IV (1971).

Elegia é o nome de um poema específico, que versa em tom melancólico sobre situações tristes como um velório ou um funeral.

Toys in the Attic
session 11

Um dos episódios mais experimentais de todo Cowboy Bebop. Spike, Faye, Ed e Jet estão entendiados dentro da nave, e algo sinistro à espreita nos corredores e encanamentos parece colocar em alerta Ein.

O que está acontecendo? Quando esquecemos um pedaço de lagosta por mais de um ano dentro de uma geladeira, o que pode acontecer?

O nome da session é o mesmo de uma canção e disco do Aerosmith, de 1975.

Jupiter Jazz (Parte 1 & Parte 2)
session 12 & 13

Acho que em 26 episódios a galera da Bebop deve ter fumado todos os cigarros do Sistema Solar

O primeiro episódio duplo de Cowboy Bebop. Até aqui podíamos ver cada session em separado, mas agora temos uma sequencial.

Vicious subiu de posição dentro do Sindicato do Dragão Vermelho, mas ainda recebe ordens da alta cúpula. E ele não parece estar feliz com isso.

Faye foge da Bebop com toda a grana que a Jet e Spike acumularam, e eles tão fodidos querendo pegar ela. Ficamos sabendo que Spike e Jet estão há 3 anos nessa parceria de caça-recompensas, mas ela agora corre risco de acabar, pois o cabeludo deixa tudo para trás quando Ed, tentando achar Faye para Jet, esbarra com o nome Julia.

Ele sai correndo dessa pista (que nada tem a ver com Faye) e Jet fica tão putaço de ser “abandonado” com o problema do roubo que diz que ele nem precisa mais voltar.

Em Calisto (outra das luas de Júpiter), Spiegel reencontra Vicious, que escapou vivo do último confronto. O jovem Lin também está com ele, outro membro do Sindicato, outrora colega de campo de Spike.

Também conhecemos Gren, um amigo de Vicious durante as Guerras de Titã, um grande confronto militar que é referenciado outras vezes na série. Gren fica amigo de Faye, que descobre um infeliz segredo a respeito dele.

As Guerras de Titã

As vidas de todos eles se entrelaçam, e parece que Julia era uma mulher bem importante tanto para Spike quanto para Vicious. Enquanto isso, Spiegel corre contra o tempo para acertar as coisas com seu passado. Quem é essa loira afinal?

Mais uma boa música de encerramento: Space Lion.

Bohemian Rhapsody
session 14

Neste episódio temos um caso de um mestre enxadrista e computação que inventou os sistemas de Portais Hiperespaciais.

Por acaso, ele começa uma partida de xadrez com Ed, e como há uma recompensa por sua cabeça, a galera da Bebop fica de olho nele. Episódio muito bom para mostrar a passagem de tempo e as escolhas que fazemos na vida.

No fim do mundo (espaço) que o velho se esconde, também estão o Antônio, Carlos e Jobim. O nome Bohemian Rhapsody vem de uma música do disco A Night at the Opera (1975), da banda britânica de rock Queen.

My Funny Valentine
session 15

Quem é Faye Valentine?
De novo, quem é Faye Valentine?

Um dos episódios mais esperados de Cowboy Bepop: os segredos de Faye Valentine. Ou não.

Parece que ela passou 54 anos congelada, com a maior parte de suas informações pessoais perdidas no acidente do portal da Terra e Lua anos atrás.

Mas Whitney, um advogado que se afeiçoou a ela, a ajuda no caso. Tudo que Faye sabe é que acordou em 2068, ainda com seus 20 anos de idade.

Nos tempos atuais (2071), ela reencontra Whitney (que ganhou vários quilos desde então), e descobre que ele era golpista, e que nada sabia a respeito do passado de Faye. Mas o gordinho picareta genuinamente gostava dela. My Funny Valentine é uma canção de jazz do musical Babes in Arms (1937).

Black Dog Serenade
session 16

Fad e Jet, dois amigos de longa data

Mais um pouco do passado de Jet Black aqui. Udai, um perigoso assassino do Sindicato, provoca uma revolta dentro de uma nave-camburão.

Jet o conhece de outros carnavais, bem como alguns agentes da lei envolvidos no caso, como um amigo de longa data, Fad. Também vamos saber o motivo de Jet ter um braço biônico. Como já falamos na session 10, Black Dog é uma música do Led Zeppelin.

Mushroom Samba
session 17

Um episódio dos mais engraçados, todo focado em Ed

É o o samba do Brasil referenciado em Cowboy Bebop!
Sem comida nenhuma na geladeira e estômagos, a tripulação quase morta da Bebop cai em um lugar desolado em Europa, lua de Júpiter.

Ed arruma uns cogumelos para matar a fome, mas quer saber se são comestíveis pra não se matar.

E nada melhor do que testar nos esfomeados Spike, Faye e Jet, que são feitos cobaias facilmente. Grande momento engraçado da série. O episódio todo é de Ed, que vai atrás de uma recompensa: um traficante que perdeu os tais cogumelos.

Speak Like a Child
session 18

A jovem Faye Valentine, no centro da imagem, junto com suas amigas da escola

Faye recebe uma fita VHS que pode revelar mais sobre seu passado. Mas não é uma VHS…ou é?

É uma betacam, formato anterior, bem maior, que não deu certo comercialmente. O episódio lida de modo muito legal as tecnologias datadas, a nostalgia e, principalmente, tudo que Faye passou na vida até agora.

E finalmente sabemos mais a respeito dela — Valentine é um segredo agora e antes. Jet e Spike vão para a Terra tentar achar alguém em algum lugar do que já foi a Ásia, para tentar reproduzir a betacam.

A Faye adolescente é muito lindinha e fofinha. Para quem viveu nos anos 1980 e 1990, é um episódio muito bonito de Cowboy Bebop, temperado com uma alegria nostálgica. O título da session é de um disco e música do pianista americano Herbie Hancock, de 1968.

Wild Horses
session 19

Os Portais Hiperespaciais em Cowboy Bebop

Neste episódio conhecemos Dooham, o construtor da Swordfish II, a pequena nave de  interceptação de Spike, que a galera da Bebop usa nas missões.

O mecânico está de posse de um velho ônibus espacial, chamado aqui de Columbus, e se vê às vistas em um conflito aéreo que pode ter uso para o veículo, o qual está reformando com todo carinho.

A trama termina com um corte seco, diferente do tradicional que vemos até então. Duas referências aqui: o nome Wild Horses vem de uma música do disco álbum Sticky Fingers (1971), do Rolling Stones, e Columbia foi o primeiro ônibus espacial construído pela Nasa, a agência espacial americana, em 1981.

Pierrot Le Fou
session 20

Pierrot, o Louco, em um dos episódios mais impressionantes de Cowboy Bebop. Ele conta a história de um psicopata cyborg gordo imenso que pode flutuar no ar, e que está matando várias pessoas em seu caminho, aparentemente sem conexões umas com as outras.

É o episódio com mais ação de todo o seriado.

Spike leva um pau do cara, e Pierrot fica ainda mais maluco depois de não conseguir matar Spike quando ele foge. Eles se reencontram num parque de diversões abandonado, onde sabemos mais desse perigoso ser.

O assassino profissional Tong Pu passou por experiências terríveis genéticas e cibernéticas na busca de um soldado perfeito. Essas histórias raramente terminam bem.

O mood original do personagem, em detrimento de apresentar um modelo cansado e óbvio de supersoldado aprimorado artificialmente, ganha muitos pontos.

É a primeira vez que vemos que Faye Valentine se importa com Spike Spiegel. Pierrot Le Fou faz referência ao filme homônimo de Jean-Luc Godard de 1965, além de ser perceptível elementos da graphic novel V de Vingança (1982-1989), do escritor Alan Moore e o desenhista David Lloyd.

Boogie Woogie Feng Shui
session 21

Mais um episódio focado em Jet Black, dessa vez em desventuras com a jovem Pao Meifa,filha de um falecido (será?) amigo, Pao Pu-Zi, um mestre de feng shui.

O título traz duas referências. Boogie Woogie é um estilo musical baseado no piano ao som do blues, bastante popular nos EUA no começo dos anos 1910 e nas décadas seguintes, com as bandas de swing e de salão.

Feng shui é o nome chinês para a estética filosófica que usa elementos de astronomia e geografia para ajudar aspectos da vida prática, e que se tornou popular no Ocidente em questões de decoração e arrumação de casas, apartamentos e outros tipos de edificações.

Cowboy Funk
session 22

Wyatt Earp/Andy é um caçador de recompensas completamente doido, atrapalhado e falastrão, sempre cavalgando uma égua (!), e que cruza o caminho dos caçadores de recompensas da Bebop.

Episódio hilário onde vemos até um Jet Black cabeludo (!). Andy na verdade é um ricaço maluco entendiado, e Spike quer pegar ele de jeito, mas é ele quem acha que Spike que o atrapalha (por sua burrice).

O antagonista da vez é um fanático por bombas que os dois perseguem pela recompensa, mas até isso fica em segunda plano.

Spike e Andy fazem até um duelo de faroeste, com direto ao panaca dizer a frase clássica de encerramento de Cowboy Bebop: SEE YOU SPACE COWBOY.

É Faye quem resume bem toda a loucura, ao apontar as inevitáveis semelhanças entre Spike e Andy. Uma das sessions mais divertidas do anime.

As referências musicais são várias, e a despeito do episódio levar funk no nome — gênero musical que se originou em comunidades afro-americanas nos anos 1960, quando músicos negros misturaram soul, jazz e rhythm and blues –, temos composições que lembram as trilhas sonoras do mestre italiano Ennio Morricone, um dos maiores compositores do cinema, com mais de 500 trabalhos em filmes.

Cowboy Bebop – O Filme
(Cowboy Bebop – Knock´n on heaven´s door)
(Cowboy Bebop – Tengoku no tobira)

Lançado nos cinemas em 2001, dois anos depois do encerramento do anime, esse filme animado — também dirigido por Watanabe, escrito por Reiko e com músicas de Kanno, se encaixa cronologicamente depois do episódio 22.

Por isso, a fim de cronologia, falemos dele já. A introdução do filme animado de Cowboy Bebop é um assalto em uma lojinha qualquer, que serve para determinar a moral de Spike Spiegel e Jet Black para quem não os conhece do seriado.

Faye presencia sem querer a explosão promovida por um terrorista e a galera da Bebop começa a investigar o caso pela gorda recompensa pelo responsável: 300 milhões de woolongs.

E eles tem que correr, já que mais um ataque irá ocorrer no dia 31 de outubro, o tradicional Halloween americano. Quem eles procuram é Vincent, que está na posse de uma terrível arma biológica. Nem Faye nem Spike conseguem escapar dele.

O desenvolvimento da trama do filme é meio lenta, mas a proposta segura o interesse. Spike nunca ficou tão perto da morte quanto aqui: leva um pau e um tiro e, pra variar, é um índio quem o salva — pela primeira vez, Spiegel diz que sentiu medo.

Descobrimos que Vincent foi um soldado nas Guerras de Titã, onde se tornou uma cobaia experimental de uma vacina contra um poderoso vírus

Mas os terríveis efeitos colaterais o fizeram perder toda a memória, o que o fez perder todos os amigos, todos quem amou. Enlouqueceu sem nem saber a razão.

O turrão do Jet resiste a procurar os amigos desaparecidos no andamento da trama, o que os deixa mais ainda em apuros. Spike gosta da agente de segurança Elektra logo de cara, e até fala de Julia com ela (primeira vez que faz isso aliás).

O plano que todos fazem para impedir Vincent é bem bolado, pois sabem que não podem impedir o terrorista, mas podem contornar a liberação do tal vírus.

Temos uma animação ótima nas lutas e um final abrupto, que deve deixar um sabor diferente para quem não está a par do ritmo do seriado. Vale destacar que Antonio, Carlos e Jobim também participam do filme, em papéis relevantes na parte final.

Brain Scratch
session 23

Um dos episódios mais experimentais de Cowboy Bebop, com uma seita eletrônica-esotérica maluca, mostrada em reportagens de “TV”. Aliás, isso ainda existe no futuro? bem, se tem o Big Shot…ops, não tem mais, ele é encerrado nesse episódio

Os discípulos dessa seita, que cultuam um Deus transcendental, jogam suas consciências no fluxo digital da rede, e dão um trabalhão para a tripulação da Bebop. Ironicamente, os membros da seita abordam os malefícios de ver muita TV, em uma discussão que ainda era muito relevante em 1998-1999.

Mas como sempre, nada é o que parece em Cowboy Bebop.

O nome do episódio pode ser referência à música Brain Damage, da banda britânica de rock progressivo Pink Floyd, presente no disco The Dark Side of the Moon (1973), um dos mais emblemáticos da indústria. Pela quantidade de imagens psicodélicas que tem esse episódio, deve ser uma aposta certeira.

Hard Luck Woman
session 24

Faye tenta descobrir um lugar visto no betacam que recebeu, mas acha um orfanato comandado por uma freira antes. É quando descobrimos o passado misterioso de Ed, que sumiu desse local há 3 anos.

Antes, há uns 5, o pai da menina a deixou (!), pois literalmente, esqueceu da garota (!!), e isso não parece tão monstruoso como parece (!!!), o que explica bem o jeito doidinho de nossa querida hacker.

Mesmo assim, esse contato com o orfanato ajuda Faye a encontrar uma idosa que conhece Valentine dos tempos do colegial. Assim, mais segredos de nossa ladra favorita são revelados.

É o último episódio antes do clímax de Cowboy Bebop, e que fecha as pontas soltas das mulheres da equipe. O pai de Ed reaparece, e a deixa para trás “sem querer” de novo!

Na verdade, Ed aproveita a deixa para sair por aí de novo, e assim abandona o grupo dos caçadores de recompensas, em um momento dos mais bonitinho para uma série tão pesada.

A despedida da duplinha é de cortar o coração

A tristeza da partida é contraposta com mais melancolia, quando Faye acha a casa onde viveu quando menina. E descobre revirando o passado que não existe mais nada lá para ela. Hard Luck Woman também é o título de uma música da banda americana Kiss, presente no disco Rock and Roll Over (1976).

The Real Folk Blues (Parte 1 & Parte 2)
session 25 & 26

Episódio duplo no final de Cowboy Bebop. E Julia finalmente aparece. Vicious tenta tomar o poder do Sindicato do Dragão Vermelho, e é preso para ser executado.

Shin, o irmão mais novo de Lin, aparece para avisar Spike que os chefões querem matar Vicious e todos que tinham alguma relação com ele, incluindo ele e Julia.

No meio de um tiroteio, Jet leva um tiro na perna, e fica fora de combate. Faye ainda está fora, e nem sabe que Ed e Ein nem fazem mais parte da Bebop. Mas ela e Julia improvavelmente se cruzam, o que nos mostra o quão sagaz a loira é.

Ao que parece, Spike tentou abandonar o sindicato e forjou sua própria morte, e pediu para Julia ir com ele.

O cara deu um bilhete para ela encontrá-lo em um cemitério, mas ela nunca apareceu. Pois Vicious descobriu tudo antes, e disse que mataria ambos se ela fosse encontrá-lo.

No presente, Vicious arma uma arapuca para os chefões, e literalmente pica todo mundo para se tornar o novo líder  do sindicato. Temos uma grande sequência de combate de naves — até então inédita no lore em Cowboy Bebop. 

O que será que nos espera?

Esqueça o passado”

The Real Folk Blues é o nome de uma série de álbuns com compilação de músicas de artistas de blues como John Lee Hooker, Howlin’ Wolf, Muddy Waters e Sonny Boy Williamson II, lançados entre 1965 e 1969. Também é o nome da canção de Yoko Kanno que encerra os episódios de Cowboy Bebop.

Tempos aqui uma notória qualidade superior de animação, por óbvio em vista de todas as cenas anteriores e por ser o fim de Cowboy Bebop.

Uma fuga e tiroteios numa Marte cinza e chuvosa que termina muito mal, na maior das tragédias para Spike Spiegel. Até a pobre Annie é assassinada.

Já podemos adivinhar o que virá.

Mas nem Jet, nem Faye, conseguem demover Spike do que ele quer fazer

…descobrir se estou mesmo vivo”

O momento de Spike com Jet e Faye é muito bem construído.

E resume nossa jornada toda até agora, acompanhando e se apaixonando por esses personagens.

Um final épico e agridoce para Cowboy Bebop.

Você terá de carregar esse peso”

A música final é uma das melhores de toda a história dos animes.

Fracasso e sucesso

Cowboy Bebop

A ideia original (e final) de Cowboy Bebop, como qualquer produto infanto-juvenil de anime, é apenas uma: vender brinquedo.

A Bandai, dona de tudo e do dinheiro, uma das mais poderosas empresas de entretenimento no Japão, patrocinou o seriado para vender navinha.

Mas o diretor Shinichiro Watanabe aproveitou a situação, já que o briefing que recebeu dizia que ele teria liberdade para construir o seriado da maneira que desejasse, contanto que tivesse muitas naves espaciais no enredo.

Esse espaço de manobra e trabalho permitiu a ele executar as ideias sofisticadas e diferentes que tornaram Cowboy Bebop único. Mas claro que quando os executivos da Bandai viram o corte bruto da série, eles desistiram do negócio, ao achar que o produto apresentado não era vendável.

Cowboy Bebop

Outro departamento assumiu o que foi feito, o que deu a Watanabe total controle criativo para continuar.

O diretor chegou a pensar em Cowboy Bebop como um longa-metragem, mas optou pela linha episódica, pois sempre acreditou que o fato de Cowboy Bebop ter um limite de episódios manteria o espírito original da série.

O engraçado (só que não), é que Cowboy Bebop demorou a fazer sucesso. Ninguém deu muita atenção na época para esse anime e Watanabe se viu com apenas 13 episódios veiculados na TV — se você reparar bem, o décimo terceiro episódio é um “fim”, querendo ou não.

Para encerrar a série, os criadores adicionaram um episódio extra intitulado “Mish-Mash Blues” — que nunca foi lançado oficialmente fora do Japão — um mix com cenas dos episódios já feitos, com ponderações filosóficas dos personagens.

Apenas as costumeiras reprises foram dando musculatura cult ao seriado, que ganhou sinal verde para outros 13 episódios para encerrar de fato a série.

Watanabe, Keiko e Yoko

Hajime Yatate, o nome do criador de Cowboy Bebop, que aparece em vários dos materiais promocionais da série, na verdade é um pseudônimo usado pela produção do Sunrise Studios — o conceito original é todo de Shinichiro Watanabe.

Na entrevista da Henshin, ele conta que suas principais influências para fazer Cowboy Bebop foram filmes de Sam Peckinpah (1926-1984) e Don Siegel (1912-1991).

Sam fez filmes clássicos de faroeste, como Meu Ódio Será Tua Herança (1969), Pat Garret and Billy The Kid (1973), Comboio (1978), entre outros. Siegel fez Vampiros de Almas (1965), clássicos urbanos da violência como a cinessérie de Dirty Harry e filmes criminais como Fuga de Alcatraz (1979).

O character design do anime é de Toshihiro Kawamoto (Double Zeta Gundam, Venus Wars, Mobile Police Patlabor, Gundam 0080, Gundam 0083, Mighty Space Miners, Golden Boy e 08th MS Team), e os desenhos mecânicos são de Kimitoshi Yamane (Bubblegum Crisis, G Gundam, The Vision of Escaflowne, 08th MS Team).

Shinichiro Watanabe

Antes de assumir Cowboy Bebop, Watanabe fez trabalhos de direção em Macross Plus (1994-1995), anime espacial de naves e robôs — também muito musical, incluindo a cantora digital Sharon Apple, uma das protagonistas — numa de suas primeiras parcerias com Yoko Kanno e Keiko Nobumoto.

A obra é uma dos mais queridos animes de ação e romance do mercado, e faz parte da série Macross, um clássico dos animes, com 36 episódios lançados em 1984, e que fez enorme sucesso no Japão e nos EUA, onde foi adaptado (junto com outros animes) como Robotech.

Macross Plus é o quarto produto da saga, lançado em formato de 4 OVAs (Original Video Animation, animações de pouco menos de 1 hora, em formato de VHS), além de um filme animado para os cinemas. A música Information High, de Kanno, é um épico cyberpunk pop dos mais legais da indústria de animes.

Watanabe também dirigiu dois episódios da antologia em animação Animatrix (2003), derivado da prestigiada trilogia Matrix (1999-2003), dos (então) irmãos Wachowski.

Dos 9 curta-metragens animados, Watanabe talvez fez o melhor da produção, Uma história de detetive, que ele também escreveu.

Ash, um investigador linha-dura contratado por um telefonema misterioso para procurar a hacker conhecida como Trinity (voz da própria Carrie-Anne Moss), vive uma aventura fatídica num noir estiloso, cheio de belas cenas preto e branco, onde nada é o que parece — exatamente como um noir, um filme de Matrix, ou em episódio de Cowboy Bebop.

O trabalho seguinte de Shinichiro foi o inovador seriado de anime Samurai Champloo (2004), onde desenvolveu uma aventura samurai hip hop no Japão e Okinawa durante o Período Edo (1603-1868).

O anime é cheio de sons de vinil com scratches, com ajuda providencial do músico e produtor Nujabes, que acabaria por criar um novo estilo musical, tamanha a força do trabalho que executou: o lo-fi hip-hop.

Um dos trabalhos mais recentes de Watanabe foi a direção de Blade Runner: Blecaute 2022 (2017), curta-metragem animado que precede o filme Blade Runner 2049 (2015), de Denis Villeneuve.

Nujabes

Leia também

LO-FI HIP-HOP | O flow e design do rolê com Nujabes, MF Doom e J Dilla

 

Samurai Champloo

Keiko Nobumoto, além de roteirizar os episódios de Cowboy Bebop e o filme animado, também trabalhou em Wolf’s Rain (2004).

É a história dos jovens lobos Kiba, Tsume, Hige, Toboe e Blue, num mundo onde esses animais são apenas lendas, com um grupo de humanos que se envolve com a matilha.

A música da obra, também em 4 OVAs, também é de Yoko Kanno. Um ano antes, Keiko escreveu o filme animado Tokyo Godfathers (2003), uma tragicomédia criminal, e escreveu episódios do Samurai Champloo.

Não há adjetivos que bastam para falar de Yoko Kanno. Um de seus primeiros trabalhos foi Porco Rosso (1992), um clássico anime de Hayao Miyazaki; The Vision of Escaflowne (1996); Clamp School Detectives (1997); Record of Lodoss War: Chronicles of the Heroic Knight (1998); Turn A Gundam (1999); Jin-Roh (1999); RahXephon (2002); Ghost in the Shell: Stand Alone Complex (2002) e muitos outros.

Yoko Kanno

Cowboy Bebop fora do anime

Cowboy Bebop teve duas séries de mangá, uma chamada Shooting Star e outra simplesmente Cowboy Bebop.

As aventuras em papel e tinta de Spike Spiegel, Jet Black, Faye Valentine, Edward e Ein foram escritas e desenhadas pelo mangaká Yutaka Nanten, supervisionado pelo próprio Shinichiro Watanabe.

Os mangás saíram na revista Asuka Fantasy DX, uma publicação shojo, nome dado ao recorte comercial do mercado editorial japonês voltado para meninas de 10 a 18 anos, mostrando a versatilidade da obra.

O primeiro volume saiu um mês depois que o anime estreou na TV (1998), e mostrou aventuras originais, e não adaptações dos episódios.

As 6 edições da obra saíram no Brasil pela editora JBC em 2004.

Cowboy Bebop
O mangá de Cowboy Bebop

Os videogames de Cowboy Bebop

Ainda em 1998 saiu o primeiro videogame de Cowboy Bebop, chamado simplesmente de Cowboy Bebop. Trata-se de um jogo de nave produzido e lançado pela Bandai, exclusivo para o Japão, para o console de 32-bits da Sony, o então estreante PlayStation.

No jogo controlamos Spike e sua Swordfish II pelo espaço atrás de suas recompensas. Jet, Faye e Ed aparecem também, mas não são selecionáveis.

O produto mais recente da franquia até hoje era mais um videogame, dessa vez um adventure, lançado em 2005 para exclusivamente no Japão para o PlayStation 2, chamado Cowboy Bebop: Tsuioku no Serenade, onde podemos ir atrás até de 50 procurados.

Quem passa as missões é Ed, e podemos escolher entre Spike, Jet ou Faye, que podem lutar no mano a mano ou atirar nos bandidos. O game foi produzido pela Banpresto e lançado pela Bandai.

Com Cowboy Bebop sendo um dos animes mais elogiados e bem sucedidos de todos os tempos, aparecendo com freqüência em listas de TOP 10, não foi surpresa ele entrar na mira dos grandes estúdios da atualidade.

O live-action de Cowboy Bebop

Depois de muitas idas e vindas de possíveis adaptações cinematográficas por Hollywood, os 26 episódios do anime apareceram no serviço de streaming do Netflix. E não demorou para eles anunciaram uma produção live-action da obra.

Cowboy Bebop
Um Cowboy Bebop live-action

E em novembro de 2021, Cowboy Bebop ganhou um seriado live-action de 10 episódios de 1 hora, produzidos pela própria plataforma.

Ela promete entregar uma expansão do anime, ao mesmo tempo que deve aprofundar as características e repertório dos personagens Spike (John Cho), Jet (Mustafa Shakir) e Faye (Daniella Pineda) (Ed parece tá fora, mas Ein tá por aí).

Entre os roteiristas, temos Christopher Yost (Thor: Ragnarok, 2017), André Nemec (Missão: Impossível – Protocolo Fantasma, 2011) e Jeff Pinkner (Venom, 2018).

A Netflix tem planos para mais temporadas, caso a série faça sucesso. Shinichiro Watanabe foi incluído como consultor criativo, o que pode ajudar a termos um bom produto final.

See You Space Cowboy…

 

 

 

Cowboy Bebop

Formas de apoiar o Destrutor

Todo dia eu, Tom Rocha, tô por aqui (e aqui: Twitter e Instagram)
Quer apoiar o Destrutor? tem um jeito simples de fazer isso – é só deixar uma contribuição (ou duas, ou quantas mais quiser)

A chave PIX é destrutor1981@gmail.com

O Destrutor é uma publicação online jornalística independente focada na análise do consumo dos produtos e tecnologia da cultura pop: música, cinema, quadrinhos, entretenimento digital (streaming, videogame), mídia e muito mais. Nosso principal canal de financiamento é o apoio direto dos leitores. E produzir matérias de fôlego e pesquisa como essa, mostrando todas essas informações, dá um trabalhão danado.

Ajude o Destrutor a crescer, compartilhe essa matéria com seus amigos e nas suas redes sociais se você gostar! Se você gostou desse post, considere compartilhar com quem você acha que vai gostar de ler também. Você pode indicar os posts para seus amigos, seus conhecidos, seus crushes, seus colegas.

E obrigado por ler até o final =)

* Todas as imagens dessa matéria têm seus direitos
reservados aos seus respectivos proprietários, e são
reproduzidas aqui a título de ilustração.