COVID-19 | A pandemia do entretenimento

O coronavírus se espalha pelo mundo, adoece e mata muita gente, em uma pandemia que atinge tudo e a todos — incluindo o entretenimento.

A melhor arma seria uma vacina, mas o tempo da fabricação em massa impossibilita essa aplicação imediata.

Os governos então ordenam restrições maciças de circulação de pessoas.

Nesse momento de enfrentamento ao coronavírus, quando o única ação que podemos fazer é ficar dentro de casa para proteger a nós e às outras pessoas, muitos veículos de mídias e protagonistas do mercado de entretenimento estão focados em fazer indicações em série de coisas para ler, ouvir e assistir enquanto atravessamos essa fase — que ninguém sabe o tempo que vai durar.

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Sinal vermelho na indústria cultural. Cena de A Fraternidade é Vermelha, filme de 1994

Além das vítimas que continua gerando ao redor do mundo, o coronavírus, o nome popular do vírus Covid-19, derruba e embaralha as cartas dos poderosos negócios da indústria de cultura pop.

Ele cancela eventos, fecha estabelecimentos, suprimi shows e apresentações, e desliga as câmeras e luzes do cinema. Só na última semana, todos os lançamentos de Hollywood até o começo de maio caíram.

No Brasil, pela primeira vez na história, não teve estreias nas salas. A chance dos grandes estúdios considerarem derrubar a tradicional janela de exibição nas telonas para adiantar a estreia no streaming é bastante real.

Arte e cultura exercem um papel fundamental em nossas vidas, responsáveis pelo escapismo saudável da rotina massacrante de obrigações familiares e do trabalho, além da tensão social inerente de nossas relações uns com os outros.

Em tempo de dificuldades, filmes, livros, músicas, séries, videogames, jogos de tabuleiro, todas essas ferramentas desempenham um papel importante.

Grande parte da riqueza cultural do Japão — o mangá (quadrinhos), o anime (desenho animado) a cena experimental de filmes (olá, Ironman) foram todos desenvolvidos em um contexto pós-Segunda Guerra Mundial. Do caos também nasce a beleza.

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Meu Vizinho Totoro, animação japonesa de 1988. Produto final em excelência, de uma depuração que começou dos escombros do pós-Guerra

Empresas e instituições juntam forças para encontrar a melhor maneira não só de manter a sociedade funcionando, mas também de oferecer os recursos necessários para que as pessoas tenham suas rotinas afetadas o mínimo possível.

A internet, a commoditie mais popular do século 21, é fonte de entretenimento e fonte de informação, e ponto central da era da pandemia.

Segundo informações da agência de notícias Reuters, a Netflix chegou a um acordo para reduzir em 25% a banda larga da União Européia, a fim de evitar que parte dos europeus fique sem internet por causa de um grupo menor de pessoas assistindo a vídeos em alta definição.

A beleza e o caos do entretenimento

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A música está em nossas mentes. Capa do disco Music of My Mind, do cantor Stevie Wonder, lançado em 1972

Há implicações séria da pandemia em diversos setores do entretenimento. As primeiras notícias de suspensões e adiamentos de eventos culturais vinham de eventos em datas próximas ou realizados para grandes públicos, mas potenciais zonas de proliferação da doença em locais pequenos, para exibições de shows menores, filmes ou peças de teatro, também sofreram restrições.

Determinações municipais, estaduais e federais tornaram a medida compulsória — não só no Brasil, mas sim pelo mundo inteiro. Segundo informações do Box Office Mojo, o final de semana de 13 a 15 de março nos Estados Unidos foi o pior desde 1995, com os cinco primeiros filmes arrecadando somente US$ 30,7 milhões — valor que qualquer filme top 5 sozinha arrecadaria facilmente.

O Festival de Cinema de Cannes 2020, que aconteceria entre os dias 12 e 23 de maio na França, foi adiado.

Esta é a primeira vez que o festival é adiado na história. Segundo a organização, está sendo estudada a proposta de realizar o festival apenas no final de junho e começo de julho. Talvez.

O adiamento do festival mexe com calendário global de mostras de cinema. Por ser hoje um dos principais pontos de divulgação e negociação da indústria, a mudança de data de Cannes tem poder para alterar de forma significativa o planejamento anual do meio.

E Cannes não tem um “seguro”. Caso o Covid-19 aniquile por completo o ano, o festival terá um prejuízo arrasador.

Poster promocional de Cannes, em 2014

A pandemia de coronavírus no setor de música ao vivo expõe uma ferida aberta do mercado musical: a dependência que artistas e organizações têm das performances ao vivo como principal fonte de renda.

Fabiana Batistela, diretora da SIM, falou ao Correio 24 Horas sobre o momento atual e a mobilização do mercado da música para reagir aos impactos do coronavírus.

Em resposta à conjuntura atual e às medidas de auto-isolamento, músicos e coletivos brasileiros organizam festivais e shows transmitidos via livestreaming.

O Alexandre Matias, do sempre ótimo e necessário Trabalho Sujo, compilou iniciativas acontecendo durante os próximos dias e conversou com alguns dos artistas e agentes envolvidos.

Nascido em Portugal, o Festival Fico em Casa ganhou uma versão brasileira. Mais de 70 artistas do país se juntaram para realizar uma série de shows que serão transmitidos pela internet, entre os dias 24 e 27 de março, somando mais de 40 horas de entretenimento.

Outros eventos do gênero são o #FestivalMusicaEmCasa. Este último, de 20 a 29 de março, terá atrações variadíssimas, como Atitude 67, Leo Santana, As Bahias e a Cozinha Mineira, Di Ferrero, Sandy, Felipe Araújo, Rodrigo Suricato, Donatto, Mahmundi e Tropkillaz.

Poster promocional do Festival Fico em Casa, para driblar a pandemia, e entregar o entretenimento da música para os ouvintes

A Disney sofre os impactos do covid-19 em três áreas: cinemas, esportes e parques. Ocorreram o adiamento de lançamentos como o live-action de Mulan, uma de suas grandes apostas para 2020, e a paralisação de filmagens em andamento de séries do Disney Plus, o serviço de streaming da casa do rato.

Mas, oras, se não há filmagens, o que exibir na plataforma? Os heróis Marvel não chegarão nas telas pretas tão cedo assim. A Disney também é dona da ESPN, responsável por transmitir campeonatos que tiveram suas temporadas suspensas, como a NBA.

E toda a galera que lota seus parques temáticos se perdeu, já que eles ficarão fechados por tempo indeterminado.

Sempre uma mídia popular no Brasil, a televisão também é afetada. Produções da Rede Globo foram paralisadas, por exemplo.

No universo das séries “de televisão”, a Aline Diniz, ex-Omelete, e uma das jornalistas mais bem gabaritadas para explicar o rolê, comentou para o UOL o que essa crise significa, e correlaciona com outra, ocorrida no final dos anos 00.

Cena final de Butch Cassidy, de 1969. O entretenimento terá o mesmo fim com a pandemia?

Nosso distanciamento social vai prosseguir até quando?

A revista do MIT especula que isso pode ser o “novo normal“.

O distanciamento social veio para ficar; vai mexer com o nosso estilo de vida, de certa forma, para sempre“.

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