FRED DUNCAN | O agente do FBI que ajudou Charles Xavier a criar os X-Men

Fred Duncan é um agente do FBI (Federal Bureau of Investigation, a Polícia Federal americana) e ajudou o Professor Charles Xavier a criar os X-Men no começo daquela que seria toda a trajetória mutante no século XX dentro dos quadrinhos da Marvel.

A primeira edição dos X-Men, da Marvel Comics. Fred Duncan aparece logo no segundo número

Sem Fred Duncan, Xavier não teria seu primeiro aluno, Scott Summers, o futuro Ciclope.

Fred Duncan, como agente do FBI, ajudou o Professor Charles Xavier a encontrar o jovem Scott Summers, aquele que seria seu primeiro aluno e x-man, o Ciclope

Frederick Amos Duncan foi criado pelo escritor Stan Lee e o desenhista Jack Kirby, já no segundo número da revista dos X-Men, publicada em setembro de 1963.

A população começa a tomar ciência que os mutantes estão na sociedade, e protestam contra a existência deles. O FBI destaca o agente Fred Duncan para investigar esses acontecimentos

Com o passar dos anos, a histeria anti-mutante ganhou espaço na narrativa das HQs da Marvel de um jeito gigantesco e incontornável, principalmente por conta dos roteiros de Chris Claremont, que comandou os X-Men de 1975 a 1991, e qualquer laço governamental que a equipe possa ter tido com as autoridades foi deixada de lado.

Xavier convence Duncan que os mutantes podem se tornar ameaças se não tiverem um primeiro contato confortável, e o agente concorda em ajudar o professor

Mas isso não significou uma castração criativa política nos quadrinhos, apenas que o assunto social dos mutantes seria tratado de formas mais contundentes nas tramas, como bem evidenciou Claremont na condução de seus roteiros.

Um dos aspectos mais legais é como que o agente Fred Duncan e o Professor Charles Xavier “constroem juntos” os X-Men, logo após os contextos das primeiras aparições dos super-heróis modernos na Marvel.

Fred Duncan e Xavier discutindo a possibilidade de uma equipe de mutantes, logo após o surgimento de super-heróis como Capitão América (esse ressurgimento), Quarteto Fantástico e o Homem-Aranha

O agente Duncan foi pouco explorado e utilizado por outros escritores do título dos X-Men ou mesmo na Marvel, e sua existência acabou encontrando um fim, mas vale a pena destacar a sua importância enquanto esteve ativo como um dos mais poderosos e improváveis aliados de Charles Xavier em seu sonho de coexistência pacífica de mutantes e humanos.

Uma série de ameaça que os X-Men enfrentaram no começo de sua carreira tiveram ajuda do agente Fred Duncan
O agente Fred Duncan entendia que as relações dos mutantes com a sociedade seria mais complexa do que seus superiores imaginavam

Fred Duncan era um humano comum, sem superpoderes, nem nada do tipo.

Seu poder foi ser perspicaz e entender que o aparecimento de seres dotados de habilidades extraordinárias iria mudar todo o jogo da balança de poderes sociais que a humanidade até então experimentava dentro do Universo Marvel.

Duncan, como agente do FBI, reuniu uma quantidade enorme de informações sobre mutantes. E ele tratou esse material com a maior responsabilidade que conseguiu

Fred Duncan serviu para justificar a possibilidade de Xavier organizar certas situações relativas à fundação de sua escola e aos X-Men, como toda a cobertura legal necessária no início de suas atividades, bem como acesso à informações privilegiadas.

Tudo era feito em nome de um interesse em comum com a questão mutante, já que Duncan entendia que a população não estava preparada para o contato irrestrito com essa nova raça, bem como sabia como seria o trato do governo, com sua tendência natural à paranoia.

 

Duncan e Xavier construíram uma parceria desde antes dele formar os X-Men em retcons alternativos posteriores

Isso trouxe uma dinâmica política às ações de Charles Xavier e os X-Men da Era de Prata da Marvel Comics que nunca mais seria visto.

Fred Duncan & Stan Lee & Jack Kirby

X-Men #2 (1962) mostra uma aventura dos heróis mutantes contra o prático criminoso mutante Vanisher, que tem o poder de se teleportar.

O vilão mutante Vanisher

Ele decide atacar o Pentágono atrás de segredos militares, e no meio da trama, Xavier entra em contato com Fred Duncan para ajudá-los a deter a ameaça.

Podemos perceber que Xavier e Duncan já se conhecem há tempos, inclusive com o agente tendo um equipamento próprio para se comunicar telepaticamente com o Professor.

Lee e Kirby fazem questão de destacar na arte a seção do FBI que Duncan trabalha: “Departamento de Casos Especiais“.

A primeira aparição do agente Fred Duncan, arte de Jack Kirby, texto de Stan Lee

Em X-Men #38-39 (1967), escrita por Roy Thomas e desenhado por Don Heck, temos uma aventura dos X-Men contra diversos vilões, como Vanisher, Unus, Blob e o vilão Transformante (que ficaria mais conhecido pelo sua versão alternativa chamada Morfo, décadas depois, na saga Era do Apocalipse), todos liderados pelo que pensavam ser um grande mestre mutante, mas que na verdade era um alien.

Esse arco duplo de história marca o uso dos primeiros uniformes individuais dos X-Men, com cada membro tendo identidade visual própria agora, deixando de lado os uniformes azuis/pretos e amarelos padrões.

A primeira aparição dos X-Men com uniformes individuais

No fim de cada edição, a Marvel publicou uma história secundária, também escrita por Thomas, mas desenhada por Werner Roth.

E foi exatamente a história da origem de Fred Duncan, e que também é a do jovem Scott Summers.

A trama mostra um incidente na cidade em Manhattan, com a população em fúria, ciente de que entre eles, há pessoas estranhas com poderes fantásticos, e que elas oferecem perigo. Elas protestam para saber mais a respeito, pois entendem que o governo está escondendo a existência deles.

A notícia é publicada nos jornais, e é lida por um ainda novato Professor Charles Xavier, que sozinho em sua mansão, decidia o que fazer para ajudar os mutantes.

Ao tomar ciência de que o FBI vai investigar esses casos, ele decide se mexer mais proativamente.

Na origem de Fred Duncan, também ficamos sabendo que Xavier estava pensando como ajudar os mutantes, ainda em sua mansão em Westchester, onde estava desde que tinha retornado da Coréia, onde seu meio-irmão Cain Marko supostamente tinha morrido (na verdade ele tinha se tornado magicamente o Fanático)

Como agente do FBI, Fred Duncan foi designado por seus superiores a entender as atividades crescentes de mutantes na sociedade americana, e ele começa uma investigação em torno de pessoas que possam ser mutantes.

E ele está bem próximo de descobrir um jovem que tem o poder de disparar rajadas dos olhos.

Charles Xavier decide encontrar Fred Duncan pessoalmente para alinhar interesses. Xavier faz uma jogada arriscada: entra dentro do escritório do FBI onde Duncan está, e se revela um mutante para o agente.

Duncan fica mais surpreso ainda quando Xavier demonstra seus poderes, quando o mutante lê seus pensamentos.

Para sorte de ambos, eles se entendem, com Xavier até sentindo que Duncan genuinamente acha que nem todos os mutantes são uma ameaça. E Charles pede para que o agente o ajude a encontrar o jovem que pode disparar as rajadas óticas, e conversar com ele primeiro.

Fred Duncan fica impressionado com Xavier, e concorda em ajudar o Professor na questão mutante, por entender que ele sendo mutante os primeiros contatos podem ser mais fáceis

Esse foi o passo decisivo para que Charles tivesse contato com Scott Summers antes das autoridades, e assim tivesse seu primeiro aluno, para então formar em breve sua Escola Xavier para Jovens Superdotados, e claro, os X-Men.

Duncan rastreia Scott Summers para Xavier e permite que ele o contate primeiro

A aventura continua por mais 3 números, e mostra Xavier salvando

Summers das mãos do criminoso Jack Winters, o Diamante Vivo, que estava obrigando o rapaz a cometer crimes.

Esse primeiro contato de Xavier e Duncan foi o cerne da amizade dos dois, e que iria continuar por muito tempo.

O agente iria passar informações privilegiadas ao amigo sempre que a segurança nacional se encontrasse em perigo de alguma maneira e envolvesse mutantes.

Em X-Men #46 (1968) — quando saiu a última parte dessa origem do Ciclope — também foi publicada na história principal uma trama em que o Professor Charles Xavier morre (!), após um combate com o monstro Grotesko.

Na verdade, Xavier tinha se retirado secretamente para se preparar contra uma invasão alienígena dos Z´Nox, e deixou o antigo vilão reformado Transformante/Morfo em seu lugar, que foi quem morreu.

No velório, Duncan aborda os jovens integrantes dos X-Men que choravam a morte do mentor, e os chama em reservado para ler o testamento de Xavier.

O agente Duncan aborda os jovens X-Men no enterro de Xavier. Ele precisa ler o testamento do Professor para seus alunos

Os X-Men ainda tem que enfrentar o Fanático no meio de tudo isso, e sobre até para o agente Duncan apanhar do vilão (e sair vivo!).

Duncan pode pegar para si o título de humano mais sortudo do mundo: apanhou do Fanático ao ter a cabeça esmagada no teto e jogado pela janela de um prédio

No fim da história, Fred Duncan pede para que Scott debande os X-Men, já que sem a presença de alguém mais velho, sábio e confiável como Xavier no comando, as autoridades entendem que tantos mutantes juntos representam um perigo em potencial.

No fim da aventura, Duncan pede que os X-Men sejam dissolvidos, por entender que sem Xavier no comando da equipe, ela não pode continuar a contento

Com muito pesar no coração, eles decidem acatar o pedido de Duncan, e os X-Men debandam.

A revista então começa a mostrar aventuras solo dos personagens no título, até eventualmente se reunirem novamente.

Duncan fora do jogo mutante

Na verdade, a revista dos X-Men ia muito mal de vendas, e nem mesmo o artista superstar na época como Neal Adams conseguiu salvar o título do cancelamento.

Uncanny X-Men #66 (1970) foi o último título com histórias originais da equipe. A Marvel, para não cancelar a revista dos mutantes, começou a republicar histórias clássicas — inclusive aquelas que Duncan aparece.

Nem a arte de Neal Adams e novos personagens, como o Destrutor, conseguiu alavancar as vendas

Isso perdurou até Uncanny X-Men #94 (1975), quando a Marvel introduz os Novos X-Men, que estrearam no especial Giant-Size X-Men, publicado no mesmo ano, obra escrita por Len Wein, Chris Claremont e arte de Dave Cockrum.

Durante todo esse tempo, Duncan só foi reaparecer em Shanna the She-Devil #5 (1973), escrita por Steve Gerber e desenhada por Ross Andru, numa aventura da Shanna, A Mulher-Demônio, que é contatada pelo Professor Xavier e pelo agente Duncan para dar conta de uma ameaça na Terra Selvagem, por conta dos vilões mutantes Mandrill e Nekra.

O agente Fred Duncan e o Professor Charles Xavier numa aventura da Shanna

Chris Claremont nunca trabalhou com o personagem nos 16 anos em que construiu a mitologia dos X-Men, logo, ele Duncan nunca aparece em histórias da equipe durante todo os anos 1980.

Isso também se deve ao modo que Claremont arranjou socialmente os X-Men no panorama americano das reações públicas e sociais do assunto mutante em si, sempre com o governo contra os mutantes, e nunca a favor.

Fred Duncan só apareceu em uma informação biográfica da equipe dos X-Men em The Official Handbook of the Marvel Universe #12 (1983), uma das várias enciclopédias de personagens da editora. E ela já indica o motivo do sumiço: Duncan estava morto (“deceased“).

Fred Duncan está morto.

Nós só saberíamos o motivo da morte 10 anos depois. O agente morreu, sob circunstâncias ainda não reveladas (até hoje!), depois de ser atacado por mutantes, segundo informações de seu antigo parceiro no FBI, Carl Denti.

Essa história foi publicada em Uncanny X-Men Annual #17 (1993), escrita por Scott Lobdell (o sucessor de Claremont no roteiros das HQs dos mutantes), e desenhada por Jason Pearson.

Denti ficou extremamente consternado com o assassinato de Duncan, e reuniu diversos equipamentos que seu mentor recolheu no passar dos anos, todos relacionados aos aliados e inimigos dos X-Men.

O Executor X, logo depois de matar o vilão mutante Torre

E munido dessas armas, assumiu a persona de X-Cutioner, ou Executor X, como ficou conhecido na tradução brasileira.

O Executor X invade a Mansão X atrás dos X-Men, totalmente armado e equipado com materiais relacionados a aliados e inimigos da equipe

O Executor X achava que Duncan estava cego ao problema mutante e que não entendia que eles eram uma ameaça real

E adota uma missão para si: caçar e matar mutantes que considera perigosos e criminosos para vingar a morte de Fred Duncan. De novo: literalmente isso nunca foi muito bem explicado pela Marvel até hoje.

O Executor X se tornou mais um inimigo da extensa galeria de vilões dos X-Men, e é utilizado até hoje em algumas tramas, como na atual (2019 ~) fase concebida pelo roteirista Jonathan Hickman.

Executor X nos anos 90
Executor X nos anos 2000
Nos anos 2010, outros personagens baseados no vilão aparecem na revista dos X-Men
O Executor X nos quadrinhos dos X-Men dos anos 2020

Mas se Fred Duncan estava morto na cronologia atual, no passado ele seguiu vivo em algumas (boas!) obras.

Reboots e revisões

Em 1997, saiu What If…? # -1, escrita por Ben Raab e desenhada por Ariel Olivetti, título da Marvel para suas histórias alternativas de multiverso, mais conhecido por aqui como “O que aconteceria se…?”.

A história mostra os mutantes Bishop e Fitzroy viajando de um futuro distópico dos mutantes para o passado, com resultados desastrosos.

Eles acabam em 1960, e Bishop, com suas ações, acaba levando Xavier e não criar os X-Men. O Professor X inclusive chama Fred Duncan para prender Bishop, graças a uma artimanha engenhosa do vilão Fitzroy.

Uma das melhores histórias de Fred Duncan está em X-Men: Children of the Atom (1999), minissérie em 6 edições escrita por Joe Casey e desenhada por vários artistas, como Steve Rude e Paul Smith, e que faz uma revisão das histórias de origem dos X-Men.

Fred Duncan e Xavier na primeira vez que se encontram, em arte sensacional de Steve Rude

E Casey usou de modo muito sagaz o envolvimento do agente Fred Duncan na ajuda que deu para Xavier criar os X-Men.

Ele cria uma história cheia de perigosos militantes anti-mutantes e faz um sensacional panorama na vida dos jovens Scott, Jean, Bobby, Hank e Warren, em suas pobres e drásticas descoberta de poderes, até terem contato com Xavier para serem seus X-Men.

Duncan ajuda Xavier a rastrear Scott Summers, que estava enrolado com seu pai adotivo, o criminoso Jack Winters, o Diamante Vivo
Duncan também vai contra seus superiores, que se aproximam de extremistas anti-mutantes

Duncan a todo momento ajuda Xavier e os jovens, mesmo indo contra ordens de seus superiores. Duncan aqui é esperto, justo e quer fazer a coisa certa, e com certeza é um dos elementos mais legais e interessantes da minissérie, que sofre com alguns defeitos de roteiro apressado e troca de desenhistas, mas que não chegam a arruinar ela como um todo.

Duncan pede ajuda de Xavier para resolver um problema com Jean Grey. O Professor nessa altura já estava com seus quatro primeiros alunos

X-Men: The Hidden Years (1999-2001) era um título escrito e desenhado pelo artista John Byrne, veterano escritor e desenhista da Marvel e DC Comics, criador de histórias incríveis de personagens das duas editoras, e que tinha feito uma das melhores — se não a melhor — fase dos X-Men no final dos anos 1970 e começo dos 1980, junto com Claremont.

Esse título continuava as histórias dos X-Men no ponto que a revista foi descontinuada lá no final dos anos 1960, com aventuras que seguiam o ponto narrativo deixado em Uncanny X-Men #66.

Inclusive John conseguiu que o mesmo arte-finalista de Neal Adams trabalhasse com ele, o artista Tom Palmer.

Em X-Men: The Hidden Years #17 (2001), numa história em que os X-Men enfrentavam Kraven (inimigo clássico do Homem-Aranha), temos Fred Duncan ajudando o Professor Xavier a entrar em contato com uma criança mutante.

Fred Duncan, texto e desenho de John Byrne, e arte-final de Tom Palmer

Infelizmente, a Marvel decidiu encerrar a publicação na edição #22, e nunca saberemos se Byrne faria uso de Duncan mais vezes em suas histórias.

Fred Duncan & X-Men Odd Men Out

Fred Duncan estava inserido num contexto bem peculiar em sua criação original concebida por Lee e Kirby na Marvel, como aliado dos mutantes no quadro governamental.

Mas a histeria anti-mutante ganhava força com os roteiros de Chris Claremont. e isso esaclou com o Projeto Despertar, iniciativa do governo para investigar, perseguir e até eliminar mutantes, conduzida pelo agente federal Henry Peter Gyrich, que trabalha diretamente ao Gabinete da Presidência dos EUA.

A primeira menção ao Projeto Despertar acontece em Uncanny X-Men #142 (1981), escrita por Claremont e desenhada por Byrne, onde, não sem surpresas, temos o fim do arco Dias de um Futuro Esquecido, onde depois de todo um conflito envolvendo os X-Men, Irmandade de Mutantes (liderada pela terrorista mutante Mística) para impedir o assassinato do Senador Robert Kelly e evitar um futuro apocalítico do Universo Marvel, temos Kelly sendo apresentado a Henry Peter Gyrich pelo Presidente dos Estados Unidos em pessoa.

Henry Peter Gyrich e o Projeto Despertar, no fim do arco de Dias de Futuro Esquecido

Kelly, junto com Gyrich e Sebastian Shaw (secretamente um mutante Lorde Cardeal do Clube do Inferno, uma sociedade secreta mutante maçônica sadomasoquista, com pretensões de dominação mundial), preparam um novo desenvolvimento dos Sentinelas., os robôs gigantes assassinos de mutantes, criados originalmente pelo cientista Bolivar Trask, na fase Lee/Kirby dos X-Men.

X-Men #14 (1963), primeira aparição dos Sentinelas
O cientista que odeia mutantes Bolívar Trask, inventor dos Sentinelas
O Molde Mestre, que cria os Sentinelas
X-Men contra os Sentinelas nos anos 1980, arte de John Romita Jr. e Al Williamson

O Projeto Despertar teve apoio do Conselho de Segurança Nacional, e entre seus membros, a assistente para assuntos superhumanos Valerie Cooper, a agente federal Raven Darkhölme (que na verdade é Mística disfarçada!), bem como outros integrantes da comunidade de inteligência dos EUA. Todos eles, liderados por Peter Gyrich.

Paralelo a todo esse andamento, Fred Duncan entrou na mira dos idealizadores do Projeto, graças ao vasto arquivo e dados que acumulou ao longo do tempo investigando mutantes no FBI.

Mas quando os computadores do governo foram invadidos pelos X-Men para apagar todo e qualquer registro ou menção dos heróis e seus aliados, graças a um poderoso vírus de computador (em uma aventura sensacional com a Vampira, ainda como vilã da Irmandade de Mutantes, em Uncanny X-Men #158, de 1982), todas as informações acumuladas se perderam.

Carol Danvers invade os computadores do governo e apaga todos os registros federais a respeito dos X-Men e seus aliados, incluindo os seus dados pessoais

Não está claro se isso afetou o arquivo pessoal de Fred Duncan, mas de qualquer maneira eles se perderam também, talvez apagados até mesmo pelo agente.

Isso foi a deixa perfeita para que Duncan se livrasse das garras do Projeto Despertar.

Gyrich ficou possesso com a perda dos dados do FBI, e exigiu que Duncan desse um jeito de recuperar os arquivos, mas o agente simplesmente pede demissão e deixa a agência.

Fred Duncan então constrói uma carreira de consultoria de segurança e começa a trabalhar em um livro, onde iria expor as contradições do Governo Americano em sua histeria anti-mutante.

Parte desses acontecimentos foram publicados no especial X-Men: Odd Men Out (2008), em uma aventura escrita por Roger Stern, com arte de Dave Cockrum.

Charles Xavier e Fred Duncan se encontram antes da morte do agente

Foi a aparição (retroativa) mais atual do personagem na x-cronologia até então, quando os X-Men eram Time Azul e Time Dourado.

O que é uma pequena incongruência, já que, como vimos e informadoem The Official Handbook of the Marvel Universe #12, ele já estava dado como morto numa época que os X-Men tinham uma equipe diferente. Mas isso não chega a contradizer nada, já que essa revista faz parte da cronologia.

Fred está bem mais velho e vivendo afastado em sua casa em Nova York, quando recebe a visita de Charles Xavier para conversarem um pouco a respeito de como estão suas vidas.

Esta foi a oportunidade perfeita também para Stern revisitar diversos momentos dos X-Men, inclusive aquele que Duncan pediu para os X-Men debandarem após a suposta morte de Xavier. Na verdade, Fred sabia do plano de Xavier de enfrentar os aliens invasores e ajudou no engodo.

Ao pedir para os X-Men deixarem a Mansão X, deixou Charles livre para concluir seu plano.

Fred Duncan sendo abordado por Gyrich após o desfecho da saga Dias de um Futuro Esquecido

Sequência incrível com o agente Fred Duncan saindo do FBI para não se submeter aos desmandos de Peter Gyrich e o Projeto Despertar

Xavier e Duncan relembram os velhos tempos e brindam aos novos, nesta que é a edição mais importante de Fred Duncan no Universo Marvel, ao traçar um panorama de sua trajetória e atividades como aliado dos X-Men.

Uma conversa esclarecedora e sincera de como Fred Duncan é um dos mais importantes e sinceros personagens dos X-Men

Foi uma edição mais do que justa, a fim de retificar o triste fim que o personagem teve nas HQs anos antes em Uncanny X-Men Annual #17, de 1993.

Roger Stern é um outro veterano das histórias em quadrinhos de super-heróis, com grandes trabalhos na Marvel. Além de escritor, também foi editor, e foi exatamente como editor dos X-Men que ajudou Chris Claremont e John Byrne a trabalharem, uma dinâmica difícil devido ao enorme talento e temperamento difícil de ambos, ainda mais com Byrne dando ideias para o roteiro além de desenhar.

Stern entrou como editor em Uncanny X-Men #113 (1978) e ficou até a edição #131 (1980), ainda com Chris e Byrne no comando dos X-Men, numa história dos heróis contra o Clube do Inferno. Era a estreia de Cristal na Marvel e ponta de lança de uma das maiores sagas dos personagens, a Saga da Fênix Negra.

Fred Duncan & Neal Adams & cinema

Fred Duncan ainda fez mais um retorno aos quadrinhos em 2012, na série First X-Men, escrita por Christos N. Gage e ninguém menos que Neal Adams, que também fez os desenhos.

É uma “história dos X-Men” antes do sonho de Xavier. Temos um Logan pré-Wolverine, um Victor Creed pré-Dentes de Sabre e um Erik Magnus Lensherr antes de assumir a persona de Magneto.

Logan e Creed estão em um período pós-agentes secretos da CIA, Magnus está num mood assassino de nazistas pelo mundo (igual ao visto no filme X-Men: Primeira Classe, lançado um ano antes, em 2011), e temos até um Namor antes de ser redescoberto pelo Tocha Humana no começo das aventuras do Quarteto Fantástico.

Fred Duncan e os “X-Men antes dos X-Men”, em uma história que toma diversas liberdades em relação ao cânone Marvel da equipe

A trama toma enormes liberdades criativas. Logan sabe que não é um ser humano comum, e vê notícias de mutantes se multiplicando pela mídia. Atendendo um pedido de um velho amigo, ele decide ajudar o filho dele, que pode ser um mutante. Isso faz desenrolar a trama, com Logan chamando Creed para lhe ajudar (mediante pagamento, é claro) e recrutar outros superseres.

Isso incluí até mesmo Charles Xavier, anos antes do primeiro contato oficial dos dois em Giant Size X-Men. Aqui ele ainda não está paralítico, pois ainda não tinha enfrentado o vilão alien Lúcifer.

 

Xavier recusa, mas Logan consegue juntar Bomb/Anthony, Holo/Holly Bright, Meteor, Scout/Josef Dansig, Shadowshift/Jamie Dansig e Yeti/Ben Goldendawn — todos personagens inéditos e descartáveis.

Os antagonistas são principalmente um mutante maligno chamado Vírus/Lyle Doome, que muito improvavelmente consegue construir uma agenda secreta dentro de um projeto secreto do governo, o Projeto Quimera, que queria usar mutantes como armas militares.

Paralelo a isso temos Bolivar Trask, o cientista e engenheiro responsável pela criação dos Sentinelas.

Duncan se vê pressionado entre seus superiores e Bolívar Trask, que quer mandar Sentinelas atrás dos mutantes

No meio de tudo isso, Fred Duncan Xavier tenta de alguma maneira lutar com seus superiores por dentro dos corredores burocráticos do FBI e do Projeto Quimera para tentar ajudar Logan e sua “equipe de X-Men”.

Mas como tudo que envolve os X-Men, a aventura termina em tragédia. E apesar de não ser bem escrita e ter um desenvolvimento e potencial desperdiçados, há alguns bons momentos.

Inclusive no final, com Logan completamente arrasado após o desfecho da trama, e que depois de recusar um convite de Duncan de ser um agente de novo, é recrutado pelo Programa Arma X, e Xavier abrindo sua Escola para Jovens Superdotados (ainda sem alunos).

Fred Duncan chega a chamar Logan para trabalhar no “Departamento de Assuntos Mutantes” do FBI, mas ele recusa depois de toda a tragédia que passou
Logan é recrutado pelo Programa Arma X no final da trama

Por fim, vale destacar que um ano antes dessa revista ser publicada, a Fox promoveu o lançamento do já citado filme X-Men – Primeira Classe nos cinemas.

X-MEN PRIMEIRA CLASSE | O 007 dos mutantes no cinema

O personagem do ator Oliver Platt não recebe nome na trama (ele é informalmente chamado de Homem de Preto), mas ele é um agente da CIA que se torna o elo da equipe com a alta cúpula governamental, em um mood que se parece exatamente com o que Fred Duncan desempenhou.

Oliver Pratt como “Homem de Preto” no filme X-Men: Primeira Classe. Ele é exatamente como Fred Duncan era nos quadrinhos

/ PROJETO DESPERTAR. Vale destacar que apesar da agenda assassina do Projeto Despertar, o Governo Americano usou diversas vezes mutantes a seu serviço, como o inventor Forge, que desenvolveu armas e equipamentos bélicos (Tony Stark/Homem de Ferro tinha parado ser o fornecedor oficial).

O de mais destaque foi a Força Federal, que usava os antigos membros da Irmandade de Mutantes como uma força-tarefa black ops para missões escusas (conceito que precedeu o Esquadrão Suicida, da DC Comics, criado por John Ostrander).

Mística via o Projeto Despertar avançar e a histeria anti-mutante crescer, e concluiu que ficar a serviço do governo seria um atalho útil para a sobrevivência em todo esse jogo. A Força Federal inclusive teve Valerie Cooper no comando executivo.

FORGE | O Cheyenne xamã mutante inventor militar cyborg dos X-Men

FORÇA FEDERAL | Um “pré-Esquadrão Suicida” na Marvel Comics

AMANDA WALLER | O poder da política em Esquadrão Suicida

/ EXECUTOR X. Seguem diversas artes com o vilão Executor X, que carrega de certa forma o legado (equivocado) de Fred Duncan nos X-Men e Universo Marvel até hoje. Além de ser usado nas histórias dos X-Men, ele foi vilão nos títulos solo do Gambit e X-Man; enfrentou a Geração X; fez uma parceria das mais improváveis com o Justiceiro na época que ele era da Máfia (!!!), numa fase horrenda escrita por Ostrander; além de ainda estar no radar nas revistas mais atuais da “fase Jonathan Hickman”, como Marauders/Carrascos.

Executor X vs Ciclope e Cable. Desenho de John Romita Jr. e arte-final de Dan Green
Ele desejava matar Emma Frost, a Rainha Branca
Capa de Geração X #17, arte de Chris Bachallo
Justiceiro vs. Executor X
John Ostrander tenta dar mais profundidade ao personagem na edição de Punisher #12, indicando que ele matar apenas mutantes que já tenham matado alguém antes
O rosto de Carl Denti é revelado nessa aventura. Como se nota, poderia ser dono de padaria também.
Denti tenta convencer Frank Castle, o Justiceiro, que eles tem modos parecidos de fazer justiça. Ele diz que não compra “coisas anti-mutantes”, e que há bons e mais entre eles, mas que os culpados devem ser punidos. E diz que o Justiceiro foi sua inspiração
X-Man vs. Executor X, arte espetacular de Steve Skroce
Executor X vs. Vampira e X-Man, arte de Skroce
Carl Denti aparece de modo diferente na revista do Gambit

 

Executor X vs. Gambit, sequência sensacional de Steve Skroce em Gambit
Marauders #6, de 2020, a mais recente aparição do Executor X
Arte de um card dos anos 90 do Executor X

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