STAR WARS SHADOWS OF THE EMPIRE | A vitória do mediano nos videogames

Projeto multimídia de George Lucas para promover uma história encaixada entre dois filmes da franquia Star Wars, o videogame Star Wars Shadows of The Empire foi feito pela LucasArts, uma softhouse criada pelo próprio Lucas para produzir games.

Foi um jogo exclusivo para o Nintendo 64 na época do lançamento. Livro, gibi, cards e um CD com músicas também foram feitos.

O ano era 1996, e o console da Big N fazia sua estréia, com todos os holofotes voltados para si. E eles apostaram no protagonismo não de um jedi, mas sim de um duvidoso pero no mucho contrabandista.

Star Wars Shadows of The Empire
Capa de Star Wars Shadows of The Empire do cartucho do game para o console Nintendo 64

Shadows of The Empire foi um dos primeiros jogos do N64, e não é o favorito da crítica, muito menos dos gamers, tampouco era ou se tornou um blockbuster na indústria dos videogames.

Mas tinha algumas qualidades inerentes que muitos deixaram e ainda deixam passar batido, e que devem ser ressaltadas.

Com gráficos medianos, muito longe de aproveitarem o poder de processamento de um console de 64 bits, esse Star Wars entregava diversão de muitas maneiras em sua jogabilidade.

Havia vários modos dentro do game: ação em primeira ou terceira pessoa, simulador de pilotagem, tiro em “trilhos”, controle de nave e até corrida de motos. E Shadows lidava com o lado B da saga Star Wars.

A narrativa se dá entre os filmes de cinema O Império Contra-ataca (1980) e Retorno de Jedi (1983), mostrando vários acontecimentos entre os longas.

A intenção de dar importância para saga Star Wars Shadows of the Empire se deu até na remasterização feita na trilogia clássica, com inserções de referência ao projeto nos filmes.

Star Wars Shadows of The Empire
(1996, Lucasarts)

Em Shadows, visitamos e lutamos a guerra nas estrelas em locações como Hoth, Ord Mantell, Tatooine, Gall, Falleen’s Fist e Coruscant, todos nomes conhecidos na franquia.

O tempo é cerca de 3 anos e meio depois da Batalha de Yavin, mostrada em Star Wars – Uma Nova Esperança (1977), quando a Estrela da Morte é destruída.

Star Wars Shadows of The Empire
Contracapa da embalagem de Star Wars Shadows of The Empire do N64

Controlamos aqui o mercenário Dash Rendar, que tem a missão de auxiliar Luke Skywalker a resgatar a princesa Leia, raptada por um poderoso aliado do Império, o Príncipe Xizor, que controla o Black Sun (Sol Negro, que reaparece no novo cânone de Star Wars / Disney), um sindicato do crime instalado em Coruscant, o mundo que serve de capital do Império.

Dash Rendar, em arte do card do projeto Star Wars – Shadows of The Empire

Dash é um contrabandista contratado pela Rebelião a fim de ajudá-los na luta contra o Império. Amigo de longa data de Han Solo, ele protagoniza a história no lugar dele de certa forma, já que esse se encontra enclausurado na forma de carbonita durante os eventos da história.

Já Xizor não se encontra parado, e planeja tomar o lugar de do próprio Darth Vader ao lado do Imperador. Não é sem razão que o game finaliza em um combate momentos antes de O Retorno de Jedi.

O game nos coloca em pontos cruciais dos filmes, como a base evacuada de Hoth, onde podemos ver a nave Millenium Falcon de Solo se mandando, ou ter a oportunidade de enfrentar Boba Fett, que também é visto levando embora o Han Solo congelado em carbonita.

Star Wars Shadows of The Empire
Dash Rendar presencia a fuga de Han e Leia de Hoth na Millenium Falcon

O primeiro capítulo se inicia no começo de O Império Contra-ataca. Dash Rendar está em Hoth e participa da batalha principal, a ponto de ver a Millenium Falcon fugir do local antes de Vader a atacar.

No segundo capítulo, o protagonista tem que lutar contra os caçadores de recompensas que estavam atrás de Han Solo, confrontando IG-88 em Ord Mantell e Boba Fett em Gall. No terceiro capítulo, devemos proteger Luke de Xizor, que deseja matá-lo.

Dash e Luke atacam o cargueiro Imperial Suprosa, onde adquirem os planos secretos da Segunda Estrela da Morte, aspecto essencial que é mostrado no Retorno de Jedi. No quarto e último capítulo, Dash, junto com Luke e Lando Calrissian, viajam até o Centro Imperial para resgatar Leia Organa do Palácio de Xizor.

Depois de entrarem pelos esgotos da Cidade Imperial e de lutarem contra os guardas do palácio, eles resgatam Leia e vão para o espaço em uma batalha contra a estação espacial de Xizor.

O game toma liberdade até em mostrar aquelas plaquetas com a mesma fonte clássica que explicam o início do filme e como que a história se dá.

Parte I: A Batalha de HothEditar

É uma época de crise. Sondas Imperiais, procurando pela Galáxia a Base Rebelde secreta, descobriram-na no remoto mundo gelado de Hoth. Darth Vader, obscecado em encontrar Luke Skywalker, enviou suas tropas para entrar em batalha com os Rebeldes. Com a tropa imperial se aproximando, uma nave aliada entrou no Sistema de Hoth…

Star Wars Shadows of The Empire
Uma das manobras clássicas da saga Star Wars na jogabilidade do game, a Batalha de Hoth teve a primeira oportunidade de ser reproduzida com alguma riqueza com esse game de N64, e Dash Rendar não poderia ficar de fora, por isso, ele foi incluído nessa parte

Parte II: A Procura Por Boba Fett

Um caçador de recompensas rival forçou Boba Fett a se esconder antes de ele entregar o capturado Han Solo para o vil Jabba o Hutt. Enquanto Luke Skywalker e Dash Rendar procuram por Fett, uma nova ameaça emerge das sombras. Esse inimigo é o líder do Sol Negro, uma poderosa organização criminal, e quer tomar o lugar de Darth Vader como a mão direita do Imperador…

Parte III: Caçando os Assassinos

Os Rebeldes localizaram Boba Fett, mas com a ajuda de uma escolta imperial, o caçador de recompensas conseguiu escapar. Em Gall, um assassino quase mata Luke. Temendo pela segurança de Skywalker, Leia pede para Dash segui-lo até Tatooine. No planeta, na casa abandonada de Ben Kenobi, Luke aperfeiçoa suas habilidades de Jedi enquanto Dash fica de olho em tudo em uma conhecida Cantina de Mos Eisley…

Star Wars Shadows of The Empire
Visão em primeira pessoa é uma das várias opções que o game Star Wars Shadows of The Empire oferece

Parte IV: O Ninho do Príncipe Sombrio

A Princesa Leia se encontrou com o misterioso e sombrio Príncipe Xizor. Quando ela descobriu os planos de Xizor, ela foi capturada e mantida presa no Palácio do Príncipe. Xizor não sabe que tanto Darth Vader quanto os Rebeldes descobriram sobre seus planos e que ambos estão vindo para confrontá-lo. Determinados à salvar Leia e destruir o Sol Negro, Luke e Dash se infiltraram desapercebidos nos subterrâneos da Cidade Imperial…

As sombras dos bastidores de criação de um império

Shadows of The Empire foi lançado em 3 de dezembro de 1996 para o Nintendo 64, e também ganhou versões para PC Windows um ano depois.

Foi o terceiro jogo do console da Big N mais vendido em 1997, com mais de um milhão de cópias nos lares de gamers por aí.

Um feito notável para um jogo muito mediano — tanto em mecânica e diversão, como relevância de mercado.

O cartucho de Star Wars Shadows of The Empire vendeu muito bem, ciando nas graças da Nintendo e da Lucasarts

O desenvolvimento do game começou em 1994, com a base gráfica de trabalho de jogos anteriores da LucasArts, como Star Wars: Dark Forces (1995) e Outlaws (1997).

O projeto original previa 19 fases, mas tudo teve que ser acelerado para que tivesse em tempo para o catálogo de vendas da Nintendo no lançamento do console.

Esse corre-corre na produção é uma medida mais que comum na indústria dos videogames, o que prejudica o desempenho final do jogo em si.

Gráficos e jogabilidade perdem parte de sua performance no polimento final.

O N64 nem estava pronto quando o pessoal da Lucasarts decidiu produzir o jogo, e  os programadores nem ao menos tinham o console para trabalhar, e usaram estações de trabalho Silicon Graphics Onyx para criar o jogo.

O controle teve que ser um do Super Nintendo, com a alavanca analógica feita pela Konami. As especificações se mostrariam discrepantes no andamento de tudo, e isso por si só constitui outra saga de estrelas para adaptar tudo.

O site Gamasutra explica em detalhes toda essa história.

O game foi desenvolvido por quatro diretores: Jon Knoles, Mark Haigh-Hutchinson, Eric Johnston e Mark Blattel.

De acordo de uma entrevista de Jon para a Game Informer, o jogo deveria ser um faroeste 3D, com até mesmo a inclusão de um trem na narrativa — o que o cenário de Ord Mantell realmente entrega.

Uma nova esperança para a Nintendo

A Nintendo queria uma propriedade original para seu console 64 bits que estava prestes a nascer, e a Lucasarts queria dar vazão ao seu projeto de multimídia de Star Wars Shadows of The Empire, com o máximo de canais possíveis.

Uma nova máquina de videogame no mercado de entretenimento parecia promissor. Jon queria usar Boba Fett no jogo, mas ele iria para a HQ do projeto.

Luke e Leia enfrentariam Xizor no livro. Nos games, uma nova propriedade intelectual da Lucasarts e algo original que a Nintendo pedia casaram, e Dash Rendar encontrou seu lar.

Seu nascimento teve muitos pais, já que Steve Perry, o autor do livro do projeto, iria ter que incluí-lo em certo momento na narrativa, e o queria com cabelos compridos.

O que foi impedido pelo pessoal do videogame, já que por limitações técnicas, Dash teria que ter cabelo curto e ombreiras, para facilitar a movimentação do boneco pelo cenário.

A criação de Dash Rendar é coletiva, uma amálgama de diferentes visões. Vários pesos criativos têm que ser considerados na conta, incluindo os profissionais da Bantam Spectra, que iriam fazer o livro, e o pessoal da Dark Horse Comics, que iria fazer a série de quadrinhos.

Boba Fett em Star Wars Shadows of The Empire, em uma rara oportunidade de ver o caçador de recompensas em ação nos videogames. Aliás, era para ele ser o protagonista do game, mas a Lucasarts tinha outros planos para o personagem. Na imagem, uma captura de tela da versão PC Windows do game, o único fora da plataforma da Nintendo, e como a imagem mostra, com qualidade gráfica superior.

São apenas 16 inimigos que se encontram no jogo, com sete chefões. Há seis opções de armas para destruí-los e sete itens de ajuda, em um game de visual amplo mas empobrecido, com quatro fases de naves e seis fases de ação em terceira pessoa e exploração, com inimigos difíceis de acertar, mesmo com opção de quatro câmeras.

Mais pra frente, podemos usar um jetpack, o que aumenta a chance de explorar o cenário. Solidão e sensação de confinamento são constantes por causa disso, seja intencional ou não.

As fases são muitas extensas, e o jogo se divide em 4 partes que destoam demais entre si. A jogabilidade possui várias mecânicas: hora controlando em alta velocidade uma moto snowspeeder, passando por speeder bikes, iguais do Retorno de Jedi, jetpacks e uma nave muito similar à Millenium Falcon, a Outsider de Dash.

A péssima escolha de design de chão e penhascos aumentam as dificuldades de acerto nos inimigos, e uma mira sempre para o jogador, mas nunca a dos inimigos, são os piores defeito do jogo.

A arquitetura do N64 sempre foi complicada de se trabalhar, e este é um game que ainda desbravava como que a máquina funcionava. Azar dele e o nosso também.

Comando de corrida mal ajambrados, que fazem cair o personagem em abismos, e pobreza de cenários com pouca inventividade não ajudam a dar mais adjetivos ao game Shadows of the Empire.

Uma colossal batalha espacial com a Outrider de Dash Rendar na última fase do game

Mas tudo isso é vencido quando estamos em momentos laterais da história principal dos filmes. Meter bala no Boba Fett é um deles, assim como invadir a capital imperial pelos esgotos, literalmente.

O game sofre dos defeitos comuns do início de vida de um console recém-nascido sofre, como quedas constantes de frames e gráficos que poderiam ter sido bem melhores, mas o conjunto salva a obra.

Representantes da Lucasfilm chamaram primeiramente John Williams para fazer a trilha sonora do game, compositor de renome na indústria cinematográfica, e que criou a trilha de Star Wars. Williams porém, indicou Joel McNeely para o trabalho.

A trilha a princípio seria o formato MIDI, usual na época, mas para ter mais qualidade, usaram partes das músicas que Joel McNeely gravou com a Royal Scottish National Orchestra, com 15 minutos de som puro no cartucho.

É o único título do Nintendo 64 que tem música orquestrada. A versão PC tem algumas delas em versões completas.

As músicas de Joel são parte do projeto multimídia que foi Star Wars Shadows of The Empire, e um dsico exclusivo com as músicas orquestradas foram vendidas em CD.

A ideia original de Star Wars Shadows of the Empire era usar o tempo entre O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi, uma época em que nenhum livro tinha ido antes, e de explorar todas as possibilidades comerciais de um filme de verdade, sem realmente fazer o filme.

O projeto preparou o caminho para o lançamento de Star Wars Trilogia: Edição Especial no ano seguinte, e o futuro lançamento da Nova Trilogia, dos anos 2000., os famigerados Episódios I,II,e III. O livro escrito por Steve Perry caiu nas graças de George Lucas na época, que afirmou que a história, de tão boa, poderia até ter virado um filme nos anos 80. Publicado em 1996, foi lançado no Brasil Sci-fi Books, e em 2015 pela editora Aleph, sob o nome Sombras do Império. Houve ainda lançamentos de cards e brinquedos de Shadows of The Empire.

Os cards games de Star Wars Shadows of The Empire foram produzidos pela Topps, a empresa líder de mercado de cards dos EUA nos anos 90, e tinham artes pintadas dos irmãos Greg e Tim Hildebrandt, dois dos mais celebrados artistas do momento. Eles mostravam diversas passagens marcantes das narrativas encontradas no livro, HQ e claro, do videogame.

/ NA TRILOGIA CLÁSSICA. Em 1997, na Edição Especial de Star Wars – Uma Nova Esperança, as swoop bikes e Droides ASP de Star Wars Shadows of The Empire fazem aparições, assim como a nave de Dash Rendar, a Outrider, vista partindo da cidade, como mostra a imagem abaixo. Embora primeiramente criada para essa Edição Especial, a Nave de Desembarque Imperial fez sua primeira aparição em Shadows. Essa é a nave vista nessa nova edição do filme quando os stormtroopers estão explorando Tatooine em cima dos Dewbacks.

/ NA TRILOGIA DOS ANOS 2000. O Príncipe Xizor tem uma pequena aparição na corrida de pods de Star Wars – A Ameaça Fantasma (1999).

/ NA TRILOGIA DOS ANOS 2010. Em Star Wars: A Ascenção Skywalker (2019), na cena clímax da batalha espacial, centenas de naves respondem ao chamado da Resistência. Uma delas é a Outrider, a nave de Dash Rendar, como a imagem abaixo mostra.

/ HAN SOLO. Dash Rendar e Han Solo são grandes amigos, e outro marco canônico de Star Wars Shadows of The Empire é a presença de Dash na narrativa do filme Han Solo A Star Wars Story, de 2018. Ele é mencionado no livro-jornal Solo: A Star Wars Story: Tales from Vandor, escrito por Jason Fry. Trata-se de um documento que aparece no longa, e que de fato foi lançado de forma oficial, pelo Studio Fun International no mesmo ano do filme. O livro-jornal é um compilado de informações sobre várias figuras perigosas e infames da galáxia — Dash Rendar está no meio.

curadoria e textos: tomrocha (twitter e instagram)
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