Forgotten Worlds é um game de tiro com dois heróis sem nome contra um conquistador alienígena demoníaco em uma jornada gráfica insana cheia de aliens reptilianos, egípcios robóticos, monges voadores, bestas e animais fantásticos e outras doideiras new wave em um mundo pós-apocalíptico que apenas os anos 1980 podem proporcionar.
Os grandes cenários são bem legais e detalhados, e os monstros enormes e sprites criativos dos detalhes deles e dos estágios ainda hoje são um show gráfico à parte.
A mistura de medieval, cibernético e alienígena funciona muito bem em Forgotten Worlds.
O jogo de tiro Forgotten Worlds (Lost Worlds no original japonês) foi produzido pela Capcom e lançado em 1988 para os arcades.
No lugar das conhecidas naves do gênero shoot ‘em up (“tiroteio”), ou “navinha”, como é mais popularmente conhecido, a figura dos dois militares tentou ser um diferencial da Capcom para esse game.
Forgotten Worlds foi o primeiro jogo a usar a placa gráfica CP System 1, uma inovação poderosa da Capcom. Essa placa de circuitos era destravável, indo na contramão das placas fixas de gabinete. Isso quer dizer que um mesmo gabinete da Capcom podia ter um jogo trocado por outro apenas mudando a placa CPS 1 dentro.
Uma das aventuras mais loucas da Capcom
Em Forgotten Worlds, controlamos dois soldados não-identificados equipados com jetpacks em uma aventura de ação de plataforma 2D.
Os tiros que os dois soldados (literalmente desconhecidos, tratados como unknown soldiers, “soldados desconhecidos”, em referências posteriores) disparam podem sair em até 3 direções, além dos personagens moverem o corpo em diferentes direções.
Os personagens são acompanhados de uma pequena peça de satélite modular, que também efetua disparos, servindo como apoio.
Coletando moedas pelo cenário — soltas ou liberadas depois da morte de inimigos — os soldados podem comprar power-ups para o combate, como armaduras, armas que disparam mais tiros (mudam até o gráfico), entre outros itens, como novas armas para os modulares, kits para restaurar o life do personagem.
Atenção especial à atendente da shop: uma bela loira angelical, Sylphie, que é quem definiu a missão dos soldados (!).
Forgotten Worlds pode ser jogado por um ou dois jogadores ao mesmo tempo. O ataque padrão é um rifle com munição infinita.
O jogador 1 é loiro e usa uma armadura azul, e vem uma versão automática da arma. O jogador 2 veste uma armadura vermelha e usa moicano, e tem uma versão mais curta da mesma arma.
Os controles permitem uma movimentação em 8 direções, mais uma rotação para atirar para atrás. O cenário é plataforma 2D e “anda” sempre pra frente, o que representa mais perigo e tática para não ser atingido, esmagado ou perdendo itens.
Antes de tudo, é preciso prestar atenção ao nome do jogo: o título em inglês significa “mundos esquecidos”, e na versão japonesa (Lost Worlds) é “mundos perdidos”.
Os termos podem causar confusão. Mas não se enganem. Estamos na Terra.
Bios é uma misteriosa entidade sobrenatural que destruiu toda a civilização, e que se autointitula “Celestial Emperor” (“Imperador Celestial”). Ele criou 8 poderosos seres malignos que cruzaram universo destruindo civilizações.
Os humanos sobreviventes conseguiram construir uma cidade para resistir à invasão assassina, mas eventualmente foram derrotados.
As ruínas ficaram conhecidas como “Dust World“.
Anos depois, dois soldados desconhecidos surgem como uma esperança contra os vilões. Literalmente desconhecidos, não se sabe de onde vieram, mas foram encorajados pela mercadora Sylphie a derrotar os vilões.
Forgotten Worlds tem 9 fases em 3 grandes áreas, cada um com seu próprio chefe.
A primeira fase de Forgotten Worlds mostra toda a destruição ocorrida no mundo. O primeiro chefe é um monstro de boca vaginal que ocupa grande parte da tela. Ele se chama Paramecium.
Na fase seguinte ainda vemos a decadência que o apocalipse causou, e o chefão é um dragão com bucho dilacerado, que ataca com as costelas expostas (!!). Ele é Dust Dragon, um dragão que ajudou a destruir o mundo dos humanos, e que é visto na introdução do game.
Na terceira fase temos um monstrengo em uma superarmadura muito difícil de derrotar. Trata-se de War God (“Deus da Guerra”).
A quarta fase chega com algo egípcio, cheio de cabeças gigantes monstruosas, arqueiros e um tipo Anúbis barqueiro robótico muito legal como chefe. Ele é Mesketit, nome alterado de Mesektet, o barqueiro solar que o Deus-Sol Ra usa para cruzar os céus na mitologia egípcia.
Na quinta fase (mais uma com motivo egípcio), temos um trabalho gráfico mais detalhado, com grandes sprites (figuras gráficas pixelizadas) ao fundo de figuras de esfinge em cabeças flutuantes, e uma serpente energética terrível como chefe.
Na sexta fase, a mais curta de todas, ainda estamos nesse ambiente egípcio, e o chefão é um grande sarcófago, numa alusão clara à Tutancâmon.
No sétimo estágio, o cenário é uma montanha congelada cheia de mamutes e monges voadores que controlam o ki, assombrada por um velho gigante horroroso. O chefe final é dos mais interessantes visualmente: um monstro de cabeça de cristal em ótimos gráficos.
Na penúltima fase, entramos no subterrâneo do mundo, onde há montanhas de fogo, estátuas de leões e como sub-chefes dois gigantes hercúleos em uma Torre de Babel ao fundo. Aqui já estamos no chamado The Cosmic World, lar do último chefão.
Laidin e Whodin (Raijin e Fujin na versão japonesa) são dois gigantes que representam o trovão e vento, vindos da mitologia japonesa. Esses guardiões também são baseados em Raiga e Fuga, lutadores da série Fist of the North Star / Hokuto no Ken (1983-1988), criado por Tetsuo Hara e Yoshiyuki Okamura.
A nona e última fase é um templo vertical, onde uma figura demoníaca de asas nos espera, o Imperador Celestial Bios. Foi essa misteriosa entidade a responsável por destruir toda a civilização.
O final, bem ao modo da Capcom nos anos 1980, é uma repetição da passagem dos soldados pelas fases, acompanhados dos créditos de produção.
- As moedas azuis vistas em Forgotten Worlds são os zennies, a primeira vez que apareceram em um jogo da Capcom, e usado outras vezes em títulos distintos como Black Tiger (1987), Mega Man Legends (1997), Gaia Master (2000) e na série Mega Man Battle Network (2001).
Forgotten Consoles
Houve conversões do arcade de Forgotten Worlds para os computadores oitentistas Amiga, Amstrad CPC, Commodore 64, DOS e ZX Spectrum, todos feitos pela U.S. Gold, empresa que adaptou vários outros jogos da Capcom na época.
O game também saiu para os consoles da Sega, o 8-bits Master System e o 16-bits Mega Drive. A versão do Master System tem vários cortes, com apenas 5 fases, mas veio com uma exclusiva, um estágio aquático.
Também houve uma adaptação para o videogame TurboGrafx-16, conhecido no Japão como PC Engine, é um console de videogame lançado em 1987 pela NEC e Hudson Soft. Essa versão conta com a melhor trilha sonora.
O game nunca mais teve uma continuação, mas a Capcom sempre deu um jeito de referenciar a obra em seus títulos.
Forgotten Worlds foi o terceiro e último jogo da Capcom de tiro com jetpack (Section Z, 1985, e Hyper Dyne Side Arms, 1986, vieram antes).
Em 1989, a Capcom lançou o game de briga de rua Final Fight. Na versão japonesa Lost Worlds, o War God se chama Bushin, mesmo nome do estilo de ninjutsu do lutador Guy, um dos heróis de Final Fight.
Ainda em Final Fight, um dos membros da gangue Mad Gear se chama Two.P, e usa o mesmo design do soldado desconhecido jogador 2 de Forgotten Worlds.
A brincadeira com o nome é reveladora: Two.P = Two Player = Jogador 2.
Aliás, a biografia oficial do marginal na Capcom indica que ele tem amnésia e não se lembra de sua vida anterior.
Em 1996, em Street Fighter Zero 2, no cenário de Ken, é possível ver vários personagens ilustres de outros jogos da Capcom na festa de Eliza, namorada do lutador. Entre eles, está os dois soldados desconhecidos.
STREET FIGHTER ZERO 2 | O poder e impacto do design 2D nos jogos de luta
O maior destaque do game fora de Forgotten Worlds aconteceu em Marvel vs. Capcom (1998), quando soldado desconhecido jogador 1 (nomeado exatamente como Unknown Soldier), foi parceiro especial de luta dos personagens principais como Special Partner, junto com vários outros personagens da softhouse.
Mais que isso, o cenário “Headquarters of Evil” é uma representação direta de Forgotten Worlds no game de luta.
Nele podemos ver a Torre de Babel e representações de vários personagens, como Bios, Laidin e Whodin segurando a Lua e a Terra, entre outras figuras e seres.
Unknown Soldier é o único personagem que é Special Partner que ganhou um cenário de seu próprio jogo em Marvel vs. Capcom.
Em 2004, no game de luta Capcom Fighting Evolution (2004), que reuniu vários lutadores da empresa, Guy é um deles. E uma estátua de Bushin/War God aparece no final do personagem.
O jogo dos dois soldados contra a rapa do apocalipse só foi reaparecer em 2005, quando a Capcom lançou a coletânea Capcom Classics Collection para o console de 128-bits da Sony, o PlayStation 2, e o X-Box, da Microsoft.
Além de Forgotten Worlds, temos 1942, 1943, 1943 Kai, Bionic Commando, Commando, Exed Exes, Final Fight, Ghost ‘N Goblins, Ghouls ‘N Ghosts, Gun Smoke, Legendary Wings, Mercs, Pirate Ship Higemaru, Section Z, Son son, Street Fighter II, Street Fighter II Hyper Fighting, Street Fighter II Champion Edition, Super Ghouls’ N Ghosts, Trojan e Vulgus.
Em 2008, a versão do Mega Drive de Forgotten Worlds ficou disponível para download para os jogadores do console Wii, da Nintendo, via Virtual Console.
Depois disso, algo só foi ser referenciado em 2016, em Street Fighter V (2016). O design estilizado de Bushin/War God aparece nas roupas de Zeku, o mentor ninja de Guy, mestre do Bushinryu, e que dá os primeiros passos para desenvolver um novo estilo, que será conhecido como Strider, mesmo estilo do ninja que estrela o game de mesmo nome.
Ainda em SFV, uma roupa baseada no Jogador 1 é uma DLC para o lutador Guile.
Finalmente, Forgotten Worlds reapareceu na coletânea digital Capcom Arcade Stadium (2021), que trouxe 32 games da Capcom.
curadoria e textos: tomrocha (twitter e instagram)
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