007 PERMISSÃO PARA MATAR | Fim dos anos 80 para James Bond é o mais violento

No fim dos anos 1980, a década perdida, tivemos 007 – Permissão Para Matar, o filme do James Bond mais violento dos cinemas.

Uma história simples de pura vingança do agente secreto britânico contra um poderoso traficante de drogas da América do Sul.

No ano de lançamento do filme, 1989, o comunismo caía com o Muro de Berlim, e a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS em pouco tempo seria uma “aliada”. Os vermelhos não poderiam mais serem os antagonistas.

Então a droga foi eleita o inimigo da vez (uma política elaborada pelos Estados Unidos), uma antagonista invencível que acaba com todos em todo lugar. Ninguém escapa do seu toque de morte — usuários, traficantes, policiais, políticos e inocentes são pegos no tiroteio político da guerra as drogas.

Permissão Para Matar foi o último filme do 007 produzido e lançado durante a Guerra Fria. Qualquer novo adversário estrangeiro em potencial ainda não estava claramente reconhecido.

O ator Timothy Dalton retorna ao papel de James Bond. É o segundo e último que atuaria — ele já vestira o smoking do MI-6 em 007 – Marcado para a Morte, de 1987, e neste Permissão Para Matar, faz justiça com as próprias mãos em uma missão própria por vingança.

007 – Permissão Para Matar
(License to Kill, 1989,
de John Glen)

007 Permissão Para Matar
Timothy Dalton é o 007 de 1989, uma das décadas mais violentas na ficção e na vida real

Em 007 – Permissão Para Matar, a água é um elemento frequente. O filme começa e termina nele. Volúvel e altamente adaptável como a água, é assim que vemos James no começo do filme.

Ele está casando seu bom amigo, Felix Leiter, o agente da CIA da franquia, com sua querida Della, em uma ilha não-identificada na América do Sul. O casal apaixonado chama Bond para ser padrinho.

E claro, antes da cerimônia, dá tempo do britânico e americano atuarem juntos em uma missão para desmantelar um esquema de drogas do poderoso Franz Sanchez, um chefão do narcotráfico, que acaba até preso.

007 Permissão Para Matar
James Bond em 007 Permissão Para Matar pensa apenas em uma coisa: matar

Mas Sanchez se vinga. O lorde das drogas escapa da custódia, encontra Felix ainda se preparando para a noite de núpcias

Ele mata Della e joga o homem em um tanque de tubarão. Metade do agente ainda fica vivo a ponto de avisar Bond do que aconteceu. Com isso, James Bond, baseado nos eventos do filme 007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969), compartilha agora a mesma infelicidade com Felix: de perder a esposa no dia do casamento.

Com Felix internado em estado grave, James Bond decide que vai matar Sanchez a qualquer custo, e não vai permitir que ninguém fique em seu caminho. No ar, na terra, na água. Principalmente na água.

E com isso temos nosso filme.

Violência e vingança

A primeira cena é sobre a aliança de casamento do noivo. Isso faz lembrar das alianças feitas e desfeitas durante o decorrer da narrativa.

Quando James rispidamente pede demissão do serviço na cara de seu chefe M e sai correndo, os britânicos já tentam matá-lo. Com empregadores assim, quem precisa de concorrentes?

007 Permissão Para Matar
Uma missão em cima da hora para destruir um cartel de tráfico antes de se casar? Claro, vamos lá

De todos os filmes do 007, esse é o único em que Q, o inventor das engenhocas do serviço secreto britânico, tem a maior participação em tela.

Mais que isso, James Bond perde a chance de ir para a cama com a mocinha da vez, e é obrigado a dividir o quarto com o velhinho. Só essa cena praticamente valida o filme.

007 Permissão Para Matar
A melhor participação de Q em todos os 007 dos cinemas

Benicio Del Toro, que interpreta o capanga Dario, foi o mais jovem vilão a aparecer em um filme do 007 — ele tinha 21 anos de idade. E sua morte está entre as melhores da franquia. Ele é literalmente dilacerado em um moedor de tijolos.

Outro vilão é morto dentro de uma câmara de pressão, com riqueza de detalhes gráficos. Não há limites do razoável neste filme.

Há confrontos com capangas latinos e ninjas (!) de Hong Kong (!!). Mas o elemento menos realista de todo o longa-metragem é a dinâmica do terceiro ato, com uma perseguição entre caminhões de gasolina-cocaína, em que certas manobras feitas são dignas dos Transformers.

007 Permissão Para Matar
Dario, interpretado por um jovem Benicio Del Toro, tem uma das mortes mais legais da franquia

007 – Permissão para Matar teve a bilheteria mais fraca da série, ganhado apenas 156 milhões de dólares no mundo inteiro. Em 1989, ele competiu nos cinemas com diversos blockbusters Batman e Indiana Jones e a Última Cruzada, por exemplo.

John Glen foi editor e diretor de 5 filmes da franquia James Bond.
Ele foi o homem que dirigiu todos os filmes do agente dos anos 80.

007 – Somente para seus Olhos (1981)
007 contra Octopussy (1983)
007 Na Mira Dos Assassinos (1985)
007 Marcado para Morrer (1987)
007 – Permissão para Matar (1989)

Ele também trabalhou como editor e diretor de segunda unidade em três filmes dessa saga:

007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969)
007 – O Espião que me Amava (1977)
007 contra o Foguete da Morte (1979)

Entre outros filmes de Glen como diretor de segunda unidade estão Superman – O Filme.

007 – Permissão Para Matar
e Atuar

007 Permissão Para Matar
Uma das artes promocionais do longa-metragem, o último feito pelo fundador da EON Productions, Albert Broccoli, o detentor dos direitos cinematográficos do personagem

Timothy Peter Dalton nasceu no País de Gales. Foi o mais bem preparado profissionalmente para personificar James Bond. Mas, de início, Timothy recusou ser o 007.

Sean Connery não queria mais fazer o agente secreto, e Dalton era a primeira escolha do estúdio para ser o segundo James Bond dos cinemas. Ele tinha apenas 23 anos de idade. Pensou ser jovem demais, e recusou.

Pierce Brosnan então foi procurado, mas razões contratuais com uma série de TV o impediram de aceitar.

Roger Moore foi procurado e aceitou. Após este também deixar o smoking, Dalton foi chamado novamente, e dessa vez, aceitou. Assinou um contrato para 5 filmes. Fez só 2. Descontente com uma espera de anos desde que filmara 007 – Permissão Para Matar, em função de entraves jurídicos entre os produtores e os detentores de direitos autorais, em 1994 ele abandonou o papel.

Pierce Brosnan foi novamente convidado, e dessa vez aceita o papel, e deu continuidade para a franquia, em 1995, com 007 – Goldeneye.

Leia mais

GOLDENEYE 007 | A revolução do game em primeira pessoa nos anos 90

Timothy Dalton e o fim de 007

O James Bond de Dalton é um perfil mais humano e realista do agente, o que deixa mais crível ele se tornar mais cínico e violento. Essa versão é a mais que se aproxima dos livros do criador Ian Fleming. E nunca a série se aproximara tanto dos níveis de brutalidade dos livros. Moore tinha se aproximado demais da galhofa a favor de um humor fora de lugar. Mas o público não correspondeu na medida habitual, e deixou de lado este que é o melhor filme da franquia.

O projeto que Dalton faria se chamaria 007 – Property of Lady (em tradução livre: 007 – Propriedade da Madame), e tinha previsão de sair em 1990. A história teria cenas rodadas na Escócia, Tóquio e Hong Kong, e envolveria nanotecnologia.

Depois das filmagens de Permissão Para Matar, ocorreram diversas despedidas na trajetória cinematográfica do 007 nos cinemas.

John Glen deixou a EON Productions, a produtora que faz os filmes do 007. O escritor do longa, Richard Maibaum, que tinha feito 13 filmes da saga, morreu em 1991. 007 – Permissão Para Matar seria também o último filme produzido pelo fundador da EON, Albert Broccoli, o detentor dos direitos cinematográficos do personagem.

O criador do design de aberturas — que sempre são embaladas por uma artista de renome da indústria fonográfica do momento — era Maurice Binder, que também se mandou. Permissão Para Matar foi a última participação de Robert Brown como M, o chefão do MI-6, o nome do serviço secreto do qual Bond é empregado.

O filme seguinte, 007 – GoldenEye, traria a renomada atriz Judi Dench como M. A secretária do chefão, Moneypenny, foi interpretada também pela última vez pela atriz Caroline Bliss.

A felicidade não é permitida para agentes secretos — sejam eles britânicos, ou americanos

O personagem Felix Leiter, interpretado por David Hedison, apareceu pela última vez aqui, e só retornaria na fase “moderna” com Daniel Craig em 007 – Cassino Royale, de 2006, o reboot da franquia.

David foi o único ator na franquia a reprisar esse papel duas vezes com dois 007 diferentes: em Permissão para Matar, de 1989, e anteriormente com Roger Moore em 007 – Viva e Deixe Morrer (1973).

Permissão Para Matar foi o primeiro filme da saga sem ser baseado diretamente em um livro ou história curta de Ian Fleming, mas alguns enxertos de outros livros foram usados nele.

A frase que Sanchez deixa no corpo comido de Felix é “He disagreed with something that ate him” (ele discordou de algo que comeu ele) veio da novela Live and Let Die — que é onde ele perde o braço, e não a perna.

James Bond escapa por um detalhe de virar picadinho, em um dos melhores finais da saga

A fato desse 007 ser muito violento foi um must da imprensa na época, que tinha nas telas filmes recentes e brutais como Máquina Mortífera, de 1987, e Duro de Matar, de 1988.

Permissão Para Matar foi o primeiro filme com restrição PG-13 de idade. Por falar em Duro de Matar (que é estrelado por Bruce Willis), Robert Davi e Grand L. Bush, que interpretaram o vilão principal e um policial qualquer em Permissão Para Matar, tinham trabalhado juntos no primeiro Duro de Matar, onde fizeram os agentes do FBI Big Johnson e Little Johnson.

O compositor musical de Permissão Para Matar, Michael Kamen, fez a trilha desse filme também. A abertura da música fica por conta da Licence To Kill, interpretada pela cantora Gladys Knight.

Timothy Dalton na verdade estava no universo do 007 muito antes de 1987.

Ele foi figurante na produção não-oficial estrelada por Sean Connery em 1983, 007 – Nunca Mais Outra Vez, tradução de Never Say Never Again. Esse é o único filme não-oficial da série, e que Connery aceitou atuar apenas como forma de provocar os produtores oficiais.

Ele é uma refilmagem da produção oficial de 1965, Thunderball, aqui traduzido como 007 – Contra a Chantagem Atômica. 007 – Nunca Mais Outra Vez foi lançado no mesmo ano que 007 – Contra Octopussy, a produção oficial, com Roger Moore no papel do agente, que Dalton recusara 4 anos antes.

Antes de Christopher Nolan fazer seu assalto aéreo no começo de seu Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, o diretor John Glen já tinha feito isso em Permissão Para Matar com um helicóptero e um avião.

E mesmo assim, ele ainda dá um jeito de colocar água na cena. Tem cenas de barco, navio, jet-ski, tem hidroavião, esqui aquático, tem muitos desses elementos espalhados pela história. O filme termina na água, com James Bond beijando a Bond Girl da vez, Pam, dentro de uma piscina, e a fonte, no formato de um peixe, ainda dá uma piscadela para a câmera antes de subir os créditos.

007 Permissão Para Matar
A água é um elemento recorrente em 007 – Permissão Para Matar

Em sua carreira de 007, Timothy Dalton / James Bond nos dois filmes da franquia, matou 23 bandidos (média de 11,5 por filme), visitou 8 países (média de 4 por filme), conquistou 4 gatas (média de 2 por filme) e deu US$ 677 milhões para os donos dos direitos do agente secreto.

“Se ninguém viu você entrar, ninguém precisa ver você sair”
Sanchez

Carey Lowell como Pam Bouvier

/// 1989. Nos cinemas passavam filmes como A Bolha Assassina, Cocoon II – O Regresso, Moonwalker, Loucademia de Polícia 6, Mississipi Em Chamas, Terror a Bordo, Nas Montanhas dos Gorilas, Indiana Jones e a Última Cruzada, Uma Noite Alucinante – A Morte do Demônio, Faça a Coisa Certa, Um Morto Muito Louco, O Castelo no Céu, Máquina Mortífera 2, A Hora do Pesadelo 5 – O Maior Horror de Freedy, Brinquedo Assassino, Cemitério Maldito, Halloween 5 – A Vingança de Michael Myers, Batman, Cegos, Surdos e Loucos, Eles Vivem, De Volta para o Futuro Parte II, Os Caça-Fantasmas 2, O Segredo do Abismo, Além da Eternidade, Quem Vê Cara Não Vê Coração, entre outros.

Obrigado por ler até aqui!

O Destrutor é uma publicação online jornalística independente focada na análise do consumo dos produtos e tecnologia da cultura pop: música, cinema, quadrinhos, entretenimento digital (streaming, videogame), mídia e muito mais. Produzir matérias de fôlego e pesquisa como essa, mostrando todas essas informações, dá um trabalhão danado. A ajuda de quem tem interesse é essencial.

Apoie meu trabalho

  • Qualquer valor via PIX, a chave é destrutor1981@gmail.com
  • Compartilhe essa matéria com seus amigos e nas suas redes sociais se você gostou.
  • O Destrutor está disponível para criar um #publi genuíno. Me mande um e-mail!

O Destrutor nas redes: Instagram do Destrutor (siga lá!)

Todas as imagens dessa matéria têm seus direitos reservados
aos seus respectivos proprietários, e são
reproduzidas aqui a título de ilustração.

LEIA TAMBÉM:

007 UM NOVO DIA PARA MORRER | O filme mais anos noventa e comunista de James Bond