Para o primeiro texto de 2024, um relato pessoal meu, Tom Rocha, criador do blog Destrutor, sobre o ofício de escrever.
Tudo começou com meus tios, consumidores ávidos por jornais impressos.
Desde criança nos anos 1980 lendo todas as editorias da Folha de S.Paulo e ESTADÃO. Eram cadernos gordos e exigiam tempo de leitura. E eu lia tudo, até os Classificados. Me pegava a Ilustrada e o Caderno 2, prenúncio. Depois na escola, livros e mais livros — o primeiro q lembro foi um sobre um índio (indígena/povo originário) Tchuca, algo assim. Eu era um dos que mais frequentava a biblioteca. Se todo garoto era apaixonado pelas suas professoras, eu amava a ruivinha bibliotecária.
Ao lado da escola, um sebo. Foi quando descobri revista de histórias em quadrinhos. Era 1993, tinha 12 anos — 30 anos atrás ontem. Uma picada de papel e nanquim e quadros que causou um vício até hoje — coleciono os mais diversos gêneros. É um mar à parte no mundo da literatura, e quem mergulha nunca mais seca a mente nesse oceano.
Os jornais juntos ainda no meu rolê, meu pai assinava o Diário de Sorocaba e meu avô o Jornal Cruzeiro do Sul . Lia esses e a Folha e Estadão dos tios.
Até que meu pai montou uma banca de revistas e jornais em 1999. Aí eu lia tudo que queria todo dia, até revista de crochê e biscuit.
E entendi que pagavam gente para escrever tudo aquilo. Jornais e revistas.
Com a ajuda da família, comecei jornalismo na Universidade de Sorocaba em 2004. A internet já era uma realidade, as redes sociais também. Era acessar o Orkut todo dia pra trocar as 9 fotos do álbum (e ver as dos outros), entrar nas comunidades e mandar depoimento pros outros, além de buscar ser 100% sexy (entendedores entenderão).
Eu acessava o Kibeloco do Antonio Tabet todo dia pra rir, era meu site favorito. Mas o que queria era fazer o que os caras do Universo HQ faziam, o que o Omelete Company fazia (os dois desde 2001 on). Que era entretenimento comentado.
Tive o privilégio de ter a Mirna Tonus como professora em Novas Tecnologias de Comunicação. Ela já sabia que o podcast seria o futuro, isso em 2005. Mas me incentivou a fazer um blog. Fiz. Slash-Out o nome. Mas atualizei pouco, a vida correu mais rápido e outras prioridades entraram na frente.
Me formei em 2007, com nota máxima em um livro-reportagem sobre dublagem — fui visitar os estúdios cariocas e conheci o Herbert Richers em pessoa. Devo ser dos poucos que tem umas 2h de áudio com ele.
Já em 2008 entrei pra fazer exatamente o que queria: escrever para jornal impresso para, olha só, o Diário de Sorocaba. Foram bons quase 5 anos, de coberturas X e Y na cidade alfabeto de Sorocaba.
Até que decidi trilhar outros caminhos na comunicação por N motivos. Mas eu estava verde ainda: passei por várias empresas que me enriqueceram no momento certo, mas não para o que minha ansiedade desejava. Escrever sobre cultura pop.
Era 2013. Ano das famigeradas ‘Jornadas de Junho’ no Brasil, “contra tudo que está aí”. A Mídia Ninja apareceria para embaralhar o controle informacional do jornalismo convencional, abrindo caminho para a desintegração psicossocial do ethos com os influencers logo menos, tudo potencializado pela livre circulação de conteúdo nas redes sociais sem freio ou regra alguma, que o Facebook e Twitter já conseguiam.
O Tumblr, o templo erótico dos porn gifs, mas onde todo meme aparecia antes de bombar no Facebook e Twitter, ainda era relevante. Montei outro blog lá: RochaRock. Com meu nome (advogado feelings), mas já com o nome interno que queria: Destrutor. Fiz boas coberturas com ele: show do Raimundos, Rock in Rio e resenhas mil do que eu gosto e tenho fissura de mostrar para os outros.
Em 2014 voltei para o jornal impresso, o Diário de S. Paulo. Foram outros bons anos de cobertura X e Y de assuntos de A a Z. Meu chapa André Steiner bem que tentou me arrastar para profissionalizar o blog em site, mas parei por outros corres.
Em 2018, decidi pegar uma assessoria política na campanha que mudaria o cenário nacional de modo irreversível até hoje, tal qual um derrame cerebral. Foi um bom aprendizado de realpolitk. O peso mental era tanto que decidi que tinha que espairecer.
Montei outro blog, o Destrutor de fato, no Blogspot. E fui em frente para escrever e me me manter são. Escrevendo até para outro blog, o Linhas Livres / Lilis, de uma amiga, a Leila Gapy. Mas o ano acabou e sanidade era o que menos teríamos.
No ano de 2019, outro chapa, Bruno Alves, me chamou para um projeto sensacional, um app educacional + rede social, chamado Quinto . Foi minha 1º experiência no mundo tech. Foi onde conheci outro outro chapa, o Fábio Devito. Sabido demais ele, também fã de quadrinhos, logo melhor pessoa ever. Me ajudou a migrar o blog para um domínio que já estava praticamente pronto (graças ao Steiner). O Fábio quem fez o primeiro design do site. O primeiro logo. O primeiro tudo.
Antes do Natal já estava postando no site novo, e antes do Carnaval de 2020 já estava em São Paulo-SP para minha 1ª reunião de negócios (!), articulado por uma amiga (“amiga” rs) de grande coração. Era uma vindoura plataforma/nicho de streaming de vídeo, queria colab de textos dos filmes do catálogo.
A pandemia de 2020 arrasou vidas e planos de muita gente. Isso foi junto. Para escapar da espiral de pesadelo mental, produzi que nem um louco: 3 posts por semana, escrevendo sobre tudo que não pude em todo lugar que passei.
O biênio 2020-2021 foi importante para mim, pois perdi poucas pessoas que amava por causa da maldita pandemia, e tive a chance de bombar esse projeto que sempre foi o que queria fazer. E junto outro projeto que eu escrevia também, o Portal Mandala, graças a amiga Samira Galli.
Com todo mundo trancado em casa, grande parte das pessoas, preguiçosas por natureza e opção, consumiu muito vídeo e áudio. E outras tantas leitura. E se tem algo que consigo bem, é rankear os assuntos mais aleatórios do que escrevo no Google. Ele bombou em muito conteúdo. Uma amiga queria até arrastá-lo pro IG.
Não demorou para eu conseguir por um Google AD Sense no Destrutor, o que garante alguns trocados, mas bem distantes do que idealizei. Tem uma chave PIX (a chave é destrutor1981@gmail.com) que cai algo de vez em nunca. É uma luta de um protozoário contra um mamute. Ainda mais que quase ninguém mais lê.
Por que eu faço então isso de escrever?
Desde o começo de 2022 estou no ramo publicitário, que não poderia estar mais distante do escopo ambicioso de escrita, em detrimento para uma síntese pueril de comunicação-relâmpago ingrata que concorre com invencíveis vídeos de TikTok.
Mas sigo escrevendo, pois é isso que me move enquanto ser encucado.
Este é o 281º post. A maioria passa dos 10 mil caracteres — teve um que fiz que deu 130 mil (é uma novela praticamente): a trajetória de Chris Claremont nos X-Men.
CHRIS CLAREMONT | O arquiteto da fabulosa mitologia dos X-Men
Para 2024, há vários planos em andamento no Destrutor ainda: reunir os artigos, matérias e entrevistas em formato livro ou e-book, desdobrar a marca em outros produtos, parceria com outros blogs, a cartilha toda de marketing digital. É uma alegria indescritível manter o prazer de fazer o que se gosta.
Não é fácil. Imprevistos acontecem. Prioridades aparecem. Compromissos são feitos. Obrigações devem ser cumpridas. Tarefas feitas. A vida muda.
O tempo é curto.
Tempo é sorte.
Que possamos aproveitar nosso tempo, seja ele quando e quanto seja.
Feliz 2024!
A referência do “tempo é sorte” e a imagem de capa desse post sobre escrever vêm do filme Miami Vice (2006), de Michael Mann.
Obrigado por ler até aqui!
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