CHRIS CLAREMONT | O arquiteto da fabulosa mitologia dos X-Men

Chris Claremont é um roteirista de histórias em quadrinhos que se destacou na editora americana Marvel Comics durante os anos 1970 e 1980 pelo seu trabalho nos títulos dos X-Men, responsável direto pelo enorme apelo e popularidade dos personagens na cultura pop.

Em 16 anos, ele transformou os mutantes da Marvel em uma potência de sucesso, crítica e vendas, influenciando profundamente a indústria de história em quadrinhos nos Estados Unidos, deixando um legado que é sentido até os dias de hoje.

Ele introduziu temas complexos como discriminação, diversidade e identidade — que eram pouco comuns em HQs da época — em meio a uma narrativa incrível de pessoas com superpoderes que juraram proteger um mundo onde elas são temidas e odiadas.

Chris Claremont
Chris Claremont, anos 1980

Ele também ficou conhecido por sua habilidade em criar personagens femininas fortes e complexas, como Tempestade e Jean Grey, as quais colocou em posições de protagonismo, liderança e força que eram até então inéditos.

O escritor também trabalhou personagens de diferentes etnias e culturas nos X-Men, em uma época bastante sensível quanto a essas questões — como o soviético Colossus, em plena Guerra Fria — o que trouxe mais diversidade para o universo da Marvel e abriu caminho para outros escritores e artistas explorarem esses temas em suas histórias.

Chris Claremont
X-Men #94, de 1975, a primeira revista dos X-Men escrita por Chris Claremont (em uma trama construída por Len Wein)
Arte promocional promovendo os Novos X-Men, arte de Dave Cockrum
Dias de um Futuro Esquecido, roteiro de Chris Claremont e John Byrne, com arte do último
X-Men, arte de Arthur Addams, a equipe com o line-up com que Chris Claremont começou a talhar seus planos de longo prazo na revista
X-Men, arte de Rick Leonardi, a equipe do outback australiano, o melhores line-up no melhor mood de histórias
A melhor equipe, na arte do melhor desenhista da revista: Marc Silvestri

A ironia era outra característica marcante de Chris. Ele faz uma idosa enxergar o futuro, mas ela é cega; um linda garota extrovertida que não pode tocar em ninguém; um fazendeiro comunista com alma de poeta e corpo de aço; um samurai urbano baixinho e selvagem que é a pessoa mais perigosa do planeta; um alemão acrobata com aparência diabólica; uma deusa negra das tempestades ex-ladra de rua; um indígena deficiente físico cujo poder é construir qualquer coisa, entre muitos outros.

As X-garotas do line-up outback, arte de Marc Silvestri
Os X-Men outback, arte de Alan Davis

O trabalho de Claremont trouxe um nível de realismo e complexidade para os X-Men que não havia sido visto antes nos gibis de super-heróis. Ele apresentou conflitos pessoais e emocionais, além de explorar as ramificações políticas e sociais da existência dos mutantes no universo ficcional da Marvel.

Uncanny X-Men #196, citação a Nimrod nas ruas, robô assassino de mutantes que estreou em UXM #191
Citação de morte aos mutantes em Uncanny X-Men #225
Os X-Men NUNCA usam a porta para entrar em algum lugar

Algumas se tornaram épicas, como A Saga da Fênix Negra, que se tornaram clássicos do gênero e influenciaram muitos outros escritores e artistas nos anos seguintes, a criação de uma lei política de controle de seres superpoderosos e uma equipe de vilões sancionada pelo governo para missões black-ops — anos antes da DC Comics fazer isso com Watchmen e Esquadrão Suicida.

Arte promocional da Marvel para a Lei de Registro Mutante, de enorme impacto para a época. dentro e fora das HQs, até hoje na verdade

O run de Chris Claremont durou 16 anos (1975-1991) e permanece como uma das maiores jornadas de aventuras nas HQs de super-heróis.

Nem sempre Chris Claremont vai acertar, é claro. Como aqui.

É característico de Claremont em suas HQs criar mistérios e subtramas que se estendem por anos, algo que editoras como Louise Jones Simonson e Ann Nocenti conseguiam manejar muito bem. Isso é percebido com clareza pelo claro fio narrativo que liga as sagas Massacre de Mutantes, Queda de Mutantes e Inferno, não por acaso, o ápice criativo de Claremont (no caso, sob tutela de edição de Nocenti).

Capa de um compilado das histórias de Inferno

Wolverine foi o alvo preferido dessa tendência do escritor, tornando-se um dos personagens mais enigmáticos dos quadrinhos de super-heróis, com mais e mais fatos sobre seu passado sendo pendurados a cada história.

Os segredos de Wolverine

Chris Claremont nasceu em 1950, Londres, Inglaterra, mas com apenas 3 anos veio morar nos Estados Unidos. Era grande fã de seriados de ficção científica e Os Vingadores (1961-1969), sobre 2 espiões ingleses em um produto muito a frente de sua época: camp, sexy e com abordagens mais complexas em suas tramas.

O gosto por fetiche de Chris Claremont vem diretamente do seriado de TV

Chris estudou Teoria Política e Atuação, e começou sua carreira nos quadrinhos em 1969, como assistente editorial na Marvel Comics.

Parte de um plot visto em X-Men #59 (1969), roteiro de Roy Thomas e arte de Neal Adams, já teve algo seu (a ideia de que o Sol era uma das fontes de mutação nos humanos, com os Sentinelas se dirigindo para lá) mas seu primeiro trabalho de escritor mesmo foi em Daredevil #102 (1973), o título do Demolidor, em uma história desenhada por Syd Shores.

Os Sentinelas tentam destruir (uma das) fonte de mutações nos seres humanos: o próprio Sol

Logo ele estava nos títulos Marvel Premiere e Iron Fist, escrevendo as histórias do Punho de Ferro, em grande parte com desenhos de John Byrne, artista que também se destacaria como escritor, e que junto com Claremont, criaria as melhores histórias dos X-Men até hoje. Foi lá que personagens como Dentes de Sabre e Misty Knight e Coleen Wing apareceram primeiro, e depois incorporados ao lore de X-Men, em maior ou menor grau, como inimigo de Wolverine ou amigas de Jean Grey respectivamente.

Quando Chris Claremont assumiu o título dos X-Men, o grupo era composto pelos originais criados por Stan Lee e Jack Kirby em 1963 e outros, como o Destrutor, criado por Arnold Drake e Don Heck. O título estava em risco de cancelamento, e nem mesmo o desenhista superstar Neal Adams junto com o roteirista (e editor-chefe) Roy Thomas salvaram a revista no fim dos anos 1960.

Assim, X-Men #66 (1967), de Thomas e Sal Buscema, foi o último número da série regular, que se tornou bimestral e trazia apenas republicações de histórias antigas.

A última edição dos X-Men da Marvel Comics, antes do título ser cancelado por baixas vendas

Mas foi sob a tutela de Thomas que os X-Men renasceriam. Ele criou a base criativa do com ajuda dos roteiristas Steve Gerber e Mike Friedrich, e com desenhos de Dave Cockrum (recém-saído da revista Legião dos Super-Heróis, da editora DC Comics, responsável pela diversidade de etnias dos X-personagens), e roteiro final de Len Wein, atuaram sob a edição de Marv Wolfman, e lançaram Giant Size X-Men #1 (1975), na qual os Novos X-Men fazia sua estreia para salvar os antigos membros em Krakoa, a ilha-mutante viva.

Giant Size X-Men, de 1975, a estreia dos Novos X-Men. Arte de capa de Gil Kane

Esse line-up veio com os consagrados personagens que todos conhecem: Wein criou o russo Colossus (no auge da Guerra Fria e com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS como inimiga dos EUA), o alemão Noturno, a africana-americana Tempestade, o nativo-americano Pássaro Trovejante, que se somavam a outros personagens que já haviam aparecido na série, o irlandês Banshee e japonês Solaris.

Havia também Wolverine, batizado e concebido por Thomas para explorar o mercado canadense, introduzido por Wein em uma história do Hulk (Incredible Hulk #180, de outubro de 1974, com desenhos de Herb Trimpe).

O feroz personagem canadense (não era estabelecido ainda que era mutante) com garras iria ditar a tendência de personagens nervosos, violentos e definidos por suas armas.

Os responsáveis pelo renascimento dos X-Men

O ano de 1974 já fazia escorrer sangue com a estreia do Justiceiro em Amazing Spider-Man #129, de fevereiro de 1974 (por Gerry Conway, Ross Andru e John Romita Sr.) e com Deathlok, o sensacional pré-Robocop negro zumbi sem nariz que apareceu em Astonishing Tales #25, de agosto de 1974 (por Doug Moench e Rich Buckler).

Esse mood violento seria apenas um dos ingredientes de sucesso dos novos X-Men. A série foi relançada em X-Men #94. E Len Wein entregou o roteiro da retomada a Chris Claremont, que tinha apenas 25 anos, já que estava virando editor-chefe no lugar de Thomas.

E Claremont se provaria que era o cara certo em histórias que definiram tudo que os heróis são hoje.

Sempre presentes nas HQs de Chris Claremont, é a quantidade de diálogos. O roteirista incorpora muito da velha escola de escritores da Era de Prata dos Quadrinhos, que joga muitos diálogos redundantes nas páginas, com descrições de cenas mesmo com elas mostrando a ação.

É de Claremont também as brigas entre Ciclope, o líder super-herói mais tradicional, e Wolverine, aquele que detesta receber ordens e se prender aos padrões de comportamento comuns, agravado por um triângulo amoroso envolvendo Jean Grey.

O artista John Byrne ajudou muito nisso, pois além de gostar de Ciclope, também gostava de Wolverine pelo fato do baixinho ser canadense (nacionalidade do artista também). Claremont sempre teve preferência por Tempestade (revelou detalhes de seu passado como ladra nas ruas do Cairo e um primeiro encontro com um jovem Xavier — e o Rei das Sombras), mas a popularidade era de Wolverine e ele sabia disso — o feroz e misterioso mutante tinha muito mais espaço para revelações do que qualquer outro integrante da equipe. O preferido do primeiro desenhista dos X-Men, Dave Cockrum, era o Noturno.

Os X-Men de Chris Claremont e John Byrne, aqui exemplificados pelo gosto de Byrne pelos antigos membros, do qual sempre dava um jeito de incluir, e de Claremont, que preferia trabalhar os novos, especialmente Tempestade

Essa rivalidade, dentro e fora dos gibis, enriqueceu as tramas, e tornou-se parte essencial da revista, adotada inclusive nas adaptações de X-Men para o cinema e animação.

Algumas das maiores criações do universo X são de Claremont: Dentes de Sabre, Kitty Pryde, Moira MacTaggert, Capitão Britânia, Mística, Sina, Vampira, Emma Frost, Madelyne Pryor, Rachel Summers, Lady Letal, Nimrod, Psylocke, Senhor Sinistro, Jubileu, Gambit e muitos outros.

Além de X-Men, Chris Claremont também foi o idealizador das revistas New Mutants (1982), que acompanhou os jovens Novos Mutantes lado a lado dos X-Men, e Excalibur, com mutantes sobreviventes da saga do Massacre de Mutantes na Europa — no caso, Kitty Pryde/Lince Negra, Noturno e Rachel Summers na Inglaterra, terra natal do autor. Até mesmo o primeiro título do Wolverine teve Claremont no roteiro das primeiras histórias.

Arte de John Buscema para Wolverine, em seu primeiro título solo

Segundo o site Comicvine, Chris Claremont escreveu 563 histórias dos X-Men e relacionados.

Acompanhemos os X-detalhes: Chris começou em X-Men #94 (1975) e foi até o #279 (1991). Foram 16 anos de uma construção contínua de mitologia e narrativa, editadas à perfeição por Louise e Ann (e com o horroroso do Bob Harras depois).

Em 1982, Claremont escreveu uma minissérie do Wolverine, com arte de Frank Miller. Um ano depois, ele escreveu 56 histórias dos Novos Mutantes — The New Mutants #1-50 e 52-54 (1983-1989), mais as edições #63, #66 e #81.

Paralelo a isso, Claremont também escreveu novas histórias complementares na série Classic X-Men #1-45 (1986-1990), um título de republicação de edições antigas de X-Men, com algumas alterações e adições, que trazia novas informações e revelações íntimas sobre personagens e situações mais aprofundadas.

Arte de Arthur Addams para Classic X-Men #3, com Tempestade em destaque (o design é alusivo à comemoração de 25 anos de Marvel Comics na época, 1986)

De 1988 a 1991, Chris escreveu 34 números de Excalibur. Na mesma época, também escreveu 10 números da revista solo de Wolverine, do #1-10 (1988-1989). Claremont ainda escreveu os 3 primeiros números de X-Men em 1991, um título dedicado apenas para Jim Lee pelo editor Bob Harras, em sua “visionária” condução dos títulos X.

Arte de Alan Davis em Excalibur

Ele também escreveu vários anuais das revistas e edições especiais dos heróis, como a minissérie de Illyanna Rasputin, a Magia, em Magik #1-4 (1983); X-Men and the Micronauts #1-4 (1984), especial com os Micronautas, uma equipe de personagens licenciados de uma franquia de brinquedos; Kitty Pryde and Wolverine#1-6 (1984-1985), com os dois no Japão contra Ogun; X-Men/Alpha Flight #1-2 (1985), com a Tropa Alfa; e o especial com o Quarteto Fantástico, Fantastic Four and vs. the X-Men #1-4 (1987).

Como dito, Claremont fez seu nome com a revista do Punho de Ferro, Iron Fist #1-15 (1975-1977), e antes e após de assumir os X-Men, também escreveu histórias do Hulk, Vingadores, Demolidor, Capitão Marvel, Capitão América, Thor, Luke Cage, Mulher-Aranha, Homem-Aranha e Golias Negro. Outros títulos de destaque que Claremont escreveu foi Miss Marvel (20 edições) e Capitão Britânia (10 edições).

Arte de Sal Buscema para vários dos personagens da Marvel nos anos 1970. Chris Claremont escreveu vários

1963–1970: Stan Lee e Jack Kirby (e outros)

A primeira edição dos X-Men, de 1963

Criados pelo editor e escritor Stan Lee e o desenhista Jack Kirby, os heróis mutantes da Marvel foram lançados em The X-Men #1, de setembro de 1963. No primeiro número já temos os 5 membros originais: Anjo/Warren Worthington III, Fera/Hank McCoy, Ciclope/Scott Summers, Homem de Gelo/Robert “Bobby” Drake e a Garota Marvel/Jean Grey, todos tutelados por Charles Xavier, o Professor X, líder da equipe.

O título dos X-Men começou com periodicidade bimensal, mas depois de mais de 2 anos, marcou presença todo mês nas bancas, a partir do #14.

Lee escreveu 19 edições, onde apresentou dilemas e confrontos com Magneto (Erik Magnus Lensherr, velho amigo e inimigo de Xavier) e sua Irmandade de Mutantes (Feiticeira Escarlate, Mercúrio, Mestre Mental e Groxo); os robôs gigantes assassinos Sentinelas, criados pelo cientista Bolivar Trask, por meio do Molde Mestre; o meio-irmão de Xavier, Cain Marko, o poderoso Fanático; Blastaar; Mímico; Grotesko; Sauron; além de heróis como Namor O Príncipe Submarino, um dos primeiros super-heróis da editora (e depois estabelecido como o primeiro mutante da Marvel); os Vingadores; Kevin Plunder/Ka-Zar (o Tarzan loira da Marvel) e os futuros x-men Banshee e Solaris.

Importante citar que neste primeiro momento, Lee estabelece que o grupo é criado com a ajuda do agente federal Fred Duncan, do FBI, amigo pessoal de Charles, com algumas das missões sancionadas pelo governo federal, enquanto que outras se mostram combates ao crime no mais tradicional mood de super-herói.

O agente do FBI Fred Duncan e Xavier tinham feito amizade anos atrás, antes do Professor X montar os X-Men
Duncan seria a ligação da equipe com o governo, anos antes da histeria antimutante

As lutas contra o preconceito e paralelos por direitos sociais, mulheres, negros, gays e tudo mais seriam melhor lapidados por Chris Claremont.

Mas a política de segregação era mais do que claro por Lee e Kirby. A imagem abaixo é de The X-Men #14 (1965), na estreia do cientista Trask e seus Sentinelas.

Esses diálogos são mais atuais do que nunca

Também passaram pelo título os escritores Roy Thomas (que criou Sean Cassidy/Banshee junto com o artista Werner Roth), Arnold Drake (que criou Alex Summer/Destrutor e Lorna Dane/Polaris, com Don Heck e Neal Adams) e Gary Friedrich.

Vale destacar 3 capas que o artista Jim Steranko fez, em X-Men #49-51, sendo que na #50, estreia de Polaris, também trouxe o novo logo dos X-Men, criado por ele mesmo, e que de tão poderoso até hoje é um dos mais usados em peças promocionais.

Como dito, X-Men #66 foi o último a trazer história inédita dos heróis. E nos 5 anos que se passaram entre as edições #67-93 (1970-1975), os X-Men fizeram aparições esporádicas em outros títulos da Marvel, até mesmo atuando com outros super-heróis.

O Anjo apareceu com o Ka-Zar na revista do herói (Ka-Zar #2-3, 1970) e em Marvel Tales #30 (1971); o Homem de Gelo tenta prender o Homem-Aranha (!) em Amazing Spider-Man #92 (1971) ao pensar que ele tinha sequestrado Gwen Stacy (!!), sendo que volta a aparecer em Marvel Team-Up #23 (1974), onde ajuda o Tocha Humana num confronto com o Equinox, que tem poderes de fogo e gelo (Ciclope, Garota Marvel e Anjo também aparecem brevemente aqui).

O Fera teve até seu “próprio título”, estrelando Amazing Adventures #11-17 (1972-1973), onde, trabalhando na Corporação Brand, acaba adquirindo sua aparência azul feral. Ele enfrenta o monstro Grifo (com o Anjo) e o Hulk (sozinho, em Incredible Hulk #161, de 1973). Ainda com o Verdão, apareceram por lá Destrutor e Polaris, que tinham deixado os X-Men para morar no Novo México. Na aventura de Hulk #150 (1972), Lorna é confundida com a Jarella, um dos amores do Hulk.

Os X-Men ajudam o Homem-Aranha contra o vampiro Morbius em Marvel Team-Up #4 (1972), e Ciclope e Xavier aparecem em um pequeno flashback do vilão com os personagens em Adventure into Fear #20 (1974).

As participações mais proeminentes dos X-Men são duas. Uma é em The Avengers #110-111 (1973), escrita por Steve Englehart, onde os Vingadores devem resgatar os mutantes capturados por Magneto. A aventura ainda tem o Demolidor e Viúva-Negra.

Em Captain America #172-175 (1974), escrita também por Englehart, em um arco clássico da Marvel, com o Capitão América e o Falcão contra o sindicato do crime Império Secreto, que tem em seu líder a maior autoridade política de Washington — pois é. Os X-Men, junto com outros vilões e heróis, iriam ser usados como soldados condicionados mentalmente na batalha pela conquista do país.

O Império Secreto tentou usar mutantes como armas na dominação do país

O Professor Xavier ainda apareceu diversas vezes ajudando os heróis da Marvel, como em The Avengers #88 (1971), escrita por Thomas e Harlan Ellison (o famoso escritor de livros de ficção científica), onde o mutante ajuda Reed Richards, o Senhor Fantástico, e o General Thunderbolt Ross, para capturar o Hulk.

O professor também aparece em Shanna the She-Devil #5 (1973), numa aventura da Shanna, A Mulher-Demônio, que é contatada pelo Professor Xavier (e pelo agente Duncan) para dar conta de uma ameaça na Terra Selvagem, por conta dos vilões mutantes Mandrill e Nekra.

Em The Defenders #15-16 (1974), temos uma história essencial para o lore dos X-Men. Escrita por Len Wein, temos Magneto e a Irmandade de Mutantes tendo que lidar com Alfa, O Mutante Supremo, um ser artificial criado pelo próprio Magneto, que de tão poderoso escapa do controle, e reduz o vilão e os outros a bebês (!).

Xavier também aparece em Giant-Size Fantastic Four #4 (1975), escrita por Chris Claremont, onde ele apresenta seu primeiro mutante: Jamie Madrox, o Homem-Múltiplo, que recebe ajuda do Quarteto Fantástico e de Xavier para controlar seus poderes.

1975–1991: O run de Chris Claremont

A primeira e a última edição dos X-Men, escritas por Chris Claremont

Dave Cockrum, 1975-1977, 15 edições / +13 artes de capa

Depois de Giant Size X-Men, as aventuras dos Novos X-Men continuam em X-Men #94-95, onde temos os heróis contra os Homens-Animais e o Conde Nefária, em uma trama bastante simples de super-herói, mas que já mostrou a que veio: a morte de Pássaro Trovejante.

Chris introduz a maior aliada humana dos mutantes, Moira MacTaggert, no número #96; e desde a #97, constrói uma trama que termina na edição comemorativa de X-Men #100 apresentando Steven Lang, um dos primeiros fanáticos antimutantes dos quadrinhos (bem mais que Bolivar Trask) — foi nesse arco que vimos Wolverine sem máscara (Cockrum desenhou o personagem parecido com o Lobo Cinzento, da Legião dos Super-Heróis).

Arte promocional de Dave Cockrum para X-Men #100

O desenhista Gil Kane havia desenhado errado a máscara de Wolverine para a capa de Giant-Size X-Men, com o ornamento em torno dos olhos maior do que em sua aparição original na revista do Hulk. O artista Dave Cockrum achou que ficaria melhor assim, e deixou o design em definitivo dessa maneira.

Vale citar que Len Wein queria revelar que o herói era um carcaju de verdade, alterado geneticamente para ser humano (!!!), e que as garras faziam parte das suas luvas – idéias que Claremont cortou.

No número seguinte, #101, Chris Claremont transforma a Garota Marvel em Fênix; mostra um pouco do passado de Banshee com seu primo criminoso Black Tom Cassidy, parceiro do Fanático; e revela na edição #103 o nome verdadeiro de Wolverine: Logan (retirado do nome da montanha mais alta do Canadá).

A primeira vez que o nome Logan aparece é dito por um…leprechaum?? Pois é.

Ele promove o primeiro encontro dos Novos X-Men contra o poderoso Magneto; e depois os joga na primeira (de muitas) space opera, envolvidos com o Império Shiar. Claremont também revela mais aqui a respeito de Scott, como seu pai ainda vivo, o insuspeito Corsário, líder dos Piratas Siderais.

O artista Dave Cockrum deixa a revista no #108, de 1977 (mas continuou fazendo as capas até a edição #126).

É hora de John Byrne “assumir” os X-Men

John Byrne, 1977-1981, 35 edições

Um dos melhores quadros artísticos e criativos dos quadrinhos de super-heróis

John Byrne foi muito mais que apenas desenhista. Byrne & Claremont eram o Lennon & McCartney dos quadrinhos na segunda metade dos anos 1970. Assinando os roteiros em conjunto e com centenas de idéias fantásticas para os mutantes, cada edição deles se revelou as mais legais já feitas com os personagens, com uma força que perdura até hoje.

Os X-Men perto do clímax da Saga da Fênix Negra

Como arte-finalista, Byrne desejava utilizar seu parceiro em Marvel Team-Up, Dave Hunt, pois queria um estilo mais rústico, similar ao do próprio Cockrum. Mas o editor Archie Goodwin indicou Terry Austin, que já tinha trabalhado com Chris e John em Punho de Ferro (revista cancelada por baixas vendas, olha que ironia).

Inglês de nascimento (como Chris), mas naturalizado canadense, Byrne fez de tudo para que Wolverine ganhasse destaque na série. Ele inclusive criou uma equipe de heróis canadenses, a Tropa Alfa, para falar do passado de Logan antes dos X-Men.

E o uniforme marrom e laranja, que é o melhor do personagem até hoje, foi criação sua. O mistério de Wolverine na diversidade dos roteiros, e os desenhos de Byrne, que fugiam do padrão mais conservador que dominava as HQs americanas da época, ajudou a criar uma Marvel mais moderna.

Uma das sequências mais impressionantes e sangrentas das HQs de super-heróis dos anos 1970, o começo da popularização de Wolverine como personagem imbatível

A arte-final das tintas de Austin dava ao lápis de John uma limpeza e precisão, que tornaria a arte dessa fase Byrne-Claremont referência para futuros artistas.

A primeira revista em que a dupla trabalhou, X-Men #108, era o final de uma longa saga em que os mutantes salvavam o universo da destruição.

De início, o roteiro foi exclusivamente de Claremont, mas com o tempo, os 2 começariam a escrever a 4 mãos. E a primeira sugestão de Byrne viria exatamente na edição seguinte, #109. O governo do Canadá envia um super-herói local para levar Logan de volta a seu país na marra, James Hudson, o Arma Alfa (que é derrotado).

Foi uma das primeiras vezes que vimos o misterioso passado de Wolverine ser abordado. No número #111 temos um confronto com Mesmero, e a edição seguinte traria mais um confronto com Magneto, o que deixaria Fênix e Fera longe da equipe, pensando que eles estavam todos mortos, e vice-versa.

No número #114 da revista dos X-Men, tivemos uma mudança importante do título: ela agora se chama The Uncanny X-Men. No Brasil, a tradução seria a sensacional Os Fabulosos X-Men, e a partir de agora, vamos se referir no texto para as revistas como UXM, ok?

Fera, Xavier e Logan pensam que os X-Men estão mortos, e vice-versa

Longe da Fênix e Fera, os X-Men de Chris Claremont começam a fazer uma world tour, um mood que o escritor adotará várias vezes (e que não por acaso é das mais legais).

Eles foram para a Terra Selvagem, onde têm que enfrentar Sauron e Garrok (UXM #115-116), e na edição seguinte, temos um flashback muito revelador do Professor Charles Xavier (e um pouco de Tempestade) anos atrás no Cairo, com a primeira aparição do Rei das Sombras, um misterioso e indefinido ser psíquico que vive no inconsciente coletivo da humanidade, e que seria o cerne de todo o trabalho de Chris Claremont nos X-Men até o fim de sua passagem.

Xavier conhece a pequena ladrinha Ororo Munroe, no Cairo, Egito
O Rei das Sombras é uma poderosa entidade psíquica que fará parte de um projeto muito maior no planejamento de Chris Claremont

Em UXM #118-119, os X-Men partem para o Japão ajudar Solaris contra a ameaça de Moses Magnum (ocasião que Banshee perde os poderes); e eles seguem para o Canadá, onde James Hudson, agora chamado de Guardião, tenta de novo capturar Wolverine, dessa vez com a ajuda da Tropa Alfa, uma equipe de super-heróis canadenses que se provaria um dos materiais mais legais que John Byrne já criou.

Tanto que a Marvel “obrigou” o artista a escrever e desenhar um título dos heróis, Alpha Flight #1-28 (1983-1985). Apesar do próprio Byrne dizer não gostar dos personagens, eles ganharam um tratamento de qualidade poucas vistas nas HQs, mérito total do grande talento de Byrne enquanto quadrinhista.

Tropa Alfa, arte de John Byrne

James Hudson era um agente político governamental de direita, líder da equipe mais variada das HQs: um anão (Pigmeu), uma policial que também era uma semideusa (Pássaro da Neve), o indígena sarcee Michael Twoyoungmen (o místico Shaman), a alienígena Marrina, o cientista de raios gamma Walter Langkowski que se transforma em um “pé-grande” (Sasquatch), os gêmeos mutantes Estrela Polar (o primeiro gay da Marvel, e o mais arrogante personagem já criado) e Aurora (com problemas mentais de personalidade), mais ainda o deficiente físico Roger Bochs (que cria a armadura de combate Box).

O Departamento H comanda a Tropa Alfa, que também opera a Tropa Beta e a Tropa Gama

Em UXM #123-124 temos a estreia de Arcade, um humano obcecado por jogos mortais (anos antes dos Jogos Mortais, a franquia cinematográfica), ocasião que Claremont apresenta pela primeira vez o coronel russo Alexei Vazhin, um oficial da KGB (serviço secreto soviético) que o escritor usaria muito no futuro como um “Nick Fury soviético”.

Chris Claremont e John Byrne não tinham receio de trabalhar com temas sensíveis na época do auge da Guerra Fria, como comunistas soviéticos

No arco triplo apresentado em UXM #125-128, Claremont e Byrne apresentam a incrível história de Proteus, filho de Moira. Ele é um mutante muito poderoso, que pode alterar a realidade e que possuía corpos, que eram decompostos após ter a energia absorvidos.

Ele deixa um rastro de cadáveres na Escócia, algo bem incomum em quadrinhos da época dada a violência, e até pelo inesperado desfecho, com o pacífico Colossus tendo que cometer seu primeiro homicídio para deter o vilão.

Uma das melhores capas de X-Men

Era apenas o aperitivo do que estava por vir, com a A Saga da Fênix Negra, de UXM #129-137 (1980).

Jean Grey como Fênix Negra
Jean Grey como Rainha Negra e o Clube do Inferno

Sendo uma das mais famosos sagas dos quadrinhos, temos muitos momentos icônicos, como a introdução do Clube do Inferno, uma sociedade maçônica sadomaso de mutantes com pretensões de domínio mundial, liderados pelos mutantes (que se passam por humanos) Sebastian Shaw, Emma Frost, Harry Leland, Jason Wyngarde, o Mestre Mental (anteriormente da primeira Irmandade), além de Donald Pierce, o único humano, sendo na verdade um ciborgue.

Também temos a aparição de Katherine Anne “Kitty” Pryde, em UXM #129, uma das mutantes mais queridas da equipe, e Alison Blaire, a cantora mutante Cristal (parte de um projeto multimídia da Marvel com a Casablanca Records) em UXM #130.

Cristal na verdade foi um projeto multimídia que acabou sendo alterado em suas muitas etapas. Ela era para ser parecida com a atriz, cantora e modelo Grace Jones, como John Romita Jr. chegou a desenhar nesta arte promocional

Eles serão a ponta de lança da transformação de Fênix de heroína para vilã, um exemplo textual de como fazer roteiros de longo prazo em uma HQ mensal, mérito de Claremont & Byrne.

Tudo começa quando Jean Grey começa a sofrer flashbacks do que ela julgava ser a vida de uma ancestral sua do século XVIII, uma mulher que é integrante do Clube do Inferno e esposa de um dos líderes do clube, Jason Wyngarde. Paralelo a isso, Xavier rastreia duas novas mutantes, a Kitty e Cristal, mas o Clube do Inferno já estão atrás delas também.

Uma das primeiras adolescentes a se comportar como tal nas HQs de super-heróis, Kitty Pryde foi baseada por John Byrne em uma ex-colega homônima da Escola de Arte de Alberta, no Canadá. Também foi a primeira heroína de origem judia dos quadrinhos.

Do outro extremo psicológico, temos a introdução do tema fetichista real em X-Men, com Emma Frost, a Rainha Branca, uma telepata amoral loira, linda e trajando espartilho vitoriano + lingerie, literalmente o sonho de qualquer um que segurasse a revista em mãos.

Claremont trouxe muito do que o seriado Os Vingadores mostrava, e esse apelo sexual não era exceção. Como a atriz Emma Rigg (o nome de Frost veio dela), uma das protagonistas da série, mostra claramente abaixo.

Ainda em apelo sexual, logo após derrotarem a Rainha Branca, Ciclope e Fênix fazem amor em cima de um platô no Novo México, outro ponto fora da curva nas HQs. Quando a dupla de criadores mostra os X-Men invadindo a sede do Clube do Inferno, temos uma sequência incrível, com a Fênix perdendo o controle e os X-Men sendo derrotados, com exceção de Wolverine.

A edição UXM #133 é a primeira dos X-Men dedicada só a Wolverine, que protagoniza uma invasão solo ao lugar e uma matança desenfreada que mostra o quanto imbatível ele é.

Uma edição obrigatória para qualquer fã dos X-Men

A edição também mostra Jean Grey cedendo ao lado negro, e ela se torna a Fênix Negra, se libertando do controle de Wyngarde, e o destruindo no processo.

Claremont sugeriu para Byrne que a Fênix devorasse uma estrela como forma do enorme poder que a personagem detinha, mas Byrne aprimorou a ideia, desenhando um planeta habitado em torno da estrela, que é destruído no processo.

A Fênix Negra volta à Terra e derrota os X-Men, mesmo com a ajuda de Anjo e Fera. Não fosse o Professor X, com a ajuda do próprio lado bom de Jean Grey, a entidade mataria todo mundo.

Tudo muito bem, certo? Errado. A Imperatriz Shiar, Lilandra, intervém a mando de um conselo intergalático formado por outras raças do universo, como os Kree e Skrulls. A Fênix deve pagar por seus crimes. Lilandra e Xavier tinham criado um forte laço íntimo e romântico desde UXM #97, e o Professor recorre a uma antiga tradição de duelo para tentar ganhar a favor de Jean no julgamento.

Temos então um inesquecível combate entre os X-Men e a poderosa Guarda Imperial de Shiar, que é vencido facilmente por esta. O desfecho é bem triste, com a Fênix temporariamente sob controle de Jean, que se despede de Scott e se mata com um tiro de uma arma colocada na arena de batalha (a Área Azul da Lua).

Colossus enfrenta o Gladiador, o “Superman” da Marvel
A Guarda Imperial de Shiar derrota os X-Men, e Jean Grey se torna mais uma vez a Fênix Negra
Jean consegue retomar o controle mental por alguns instantes, e aciona uma arma para tirar a própria vida

Destaque para a entrada de uma nova editora nos X-Men: Louise Jones.

Louise Jones Simonson, também conhecida como “Weezie”, desempenhou um papel crucial nos trabalhos de edição da revista dos X-Men. Uma das principais contribuições de Louise foi sua habilidade em ajudar Claremont a estruturar e organizar as tramas complexas dos X-Men.

Ela tinha uma compreensão profunda do universo dos mutantes e uma visão clara de como as histórias deveriam se desenrolar. Simonson trabalhava com Claremont para refinar as ideias e os arcos narrativos, garantindo que eles se encaixassem em uma narrativa coesa.

Além disso, Simonson também teve um papel importante na construção dos personagens e relacionamentos dos X-Men. Ela ajudou a desenvolver os aspectos emocionais e psicológicos dos personagens, adicionando camadas de complexidade às suas histórias. A contribuição de Simonson foi fundamental para o sucesso duradouro dos X-Men e para a consolidação de sua reputação como uma das equipes mais populares da Marvel Comics.

Mas mesmo com Louise, Jean Grey nunca teve chance. Nem dentro, nem fora dos gibis.

O editor-chefe Jim Shooter, desde que viu a edição que Jean destruiu o planeta, ficou incomodado. Ele queria que a personagem pagasse pelos seus crimes, que fosse aprisionada em um asteróide distante onde seria torturada pelo resto da eternidade (!). Byrne e Claremont decidiram matar logo de uma vez então a Fênix.

A Marvel lançou, anos depois, a versão original desse fim, tal qual Byrne e Claremont pensaram. Phoenix: The Untold Story mostra Jean sendo submetida a uma lobotomia que extirpa seus poderes. E Ciclope sai dos X-Men para cuidar dela.

A edição de UXM #138 é exatamente o velório de Jean, com Ciclope fazendo uma recapitulação de tudo que viveu com os X-Men até então, uma revista fundamental pois mostra todo o talento narrativo de Chris e John como síntese de toda a trajetória dos X-Men até esse momento.

Vida que segue, temos UXM #139-140, onde Kitty finalmente entrando para os X-Men, ao mesmo tempo que temos uma aventura de Wolverine no Canadá com seus amigos da Tropa Alfa e Noturno, contra o Wendigo.

Wolverine enfrenta seu primeiro inimigo das HQs

Lembrando que o monstro marcou presença na primeira aparição do baixinho, no quebra com o Hulk. É aqui que John Byrne refaz pela primeira vez o uniforme de Wolverine, apresentando o icônico marrom e laranja.

Mais ícone que isso, só a saga seguinte: Dias de um Futuro Esquecido, o Ragnarok mutante.

Publicado em UXM #141-142 (1981), essa saga marcaria os X-Men para sempre, ao mostrar um futuro distópico onde os mutantes são caçados em um mundo apocalíptico, dominado pelos Sentinelas. O número #142 marca mais uma mudança no título: Uncanny X-Men, sem o “The”.

X-Men – Dias de um Futuro Esquecido, o Ragnarok Mutante

Na trama, os X-Men tem quem impedir o assassinato do senador Robert Kelly pelas mãos da mais nova Irmandade de Mutantes: a líder Mística (criada por Claremont em Ms. Marvel #16, de 1978); Blob (criado por Stan Lee e Jack Kirby em X-Men #3, de 1964), e os estreantes Pyro (um pirocinético), Avalanche (um “terracinético”) e Sina, uma vidente idosa cega, em suas primeiras aparições.

Mística e a nova Irmandade de Mutantes

A trama mostra um futuro terrível em 2013, com um mundo destruído pelos Sentinelas. Eles fogem do controle, assumem o governo, e além de mutantes, caçam e matam todos os seres superpoderosos do mundo, incluindo os super-heróis não-mutantes.

Um político racista é eleito, e na esteira do extermínio de mutantes, os super-heróis também são mortos

Os sobreviventes vivem em campos de concentração em um EUA devastado e sem liberdade, onde apenas quem tem genes humanos puros é livre. Para impedir esse apocalipse, os X-Men sobreviventes desse mundo definem que o assassinato de Robert Kelly, em 1980, foi o estopim para que tudo desmoronasse.

Um futuro apocalíptico para os X-Men e os mutantes

Uma Kitty Pryde idosa tem sua mente enviada ao passado para seu jovem corpo pela telepata Rachel Summers, a filha de Scott Summers e Jean Grey.

Rachel Summers, filha de Scott e Jean Grey, junto com seu namorado, Franklin Richards, filho do Senhor Fantástico e Mulher-Invisível

A trama estabelece que um candidato radical à presidência em 1984 (não é Kelly) instituiu um “mutant control act“, “ato de controle mutante“, que resultou na sanção presidencial para a criação em massa de Sentinelas para controlar a ameaça mutante. É isso que causou o apocalipse nesse futuro.

Simplesmente a maior história dos X-Men de todos os tempos

A trama, então, divide-se em duas vertentes. Enquanto os X-Men do presente enfrentam a Irmandade para tentar salvar a vida do senador, os X-Men do futuro travam uma luta desesperada pela sobrevivência contra os Sentinelas.

No fim, todo o esforço é inútil no futuro. Chris Claremont e John Byrne nos dão o primeiro vislumbre da morte dos mutantes. A cena da morte de Wolverine é inesquecível.

A 1ªa vez que Wolverine é morto nas HQs é nesta história
O futuro de Dias de um Futuro Esquecido é imperdoável

Na última página da saga, muitos meses depois do ataque à Kelly, é mostrado um encontro na Casa Branca, com o Presidente dos Estados Unidos (!) nas sombras, promovendo um encontro de Sebastian Shaw (lembre-se que ele se apresenta como um poderoso empresário humano) e o senador Kelly com Henry Peter Gyrich, agente político para questão super-humanas.

Eles acertam uma agenda em comum, o “Project Wideawake“, “Projeto Despertar“, para a criação dos Sentinelas. Gyrich foi criado em Avengers #165 (1977), por Jim Shooter e John Byrne, e foi um carrapato burocrata no pescoço dos Vingadores por um longo tempo. Ele também teria esse papel em cima do Hulk, estando ativo nas histórias do Gigante Esmeralda e dos mutantes até mesmo nos títulos atuais de 2021.

A engenharia política dos humanos antimutantes começam a ganhar corpo exatamente depois desse arco clássico dos X-Men

Dias de um Futuro Esquecido é um trabalho brilhante de Byrne & Claremont, o epílogo perfeito para toda a saga dos mutantes da Marvel, considerado por muitos uma espécie de “verdadeiro final” dos X-Men.

Importante destacar outros aspectos da saga: a dupla não concordou em quase nada na criação dela. Claremont queria que as máquinas fossem controlados por humanos anti-mutantes radicais, enquanto Byrne achava que os Sentinelas tinham saído de controle e, no melhor estilo Exterminador do Futuro (filme de James Cameron lançado 3 anos depois, em 1984) tinham subjugado a humanidade.

Também na saga vimos uma indagação pertinente de Noturno a respeito da incrível semelhança física dele com Mística. A ideia de Chris Claremont é que Mística, transformado em um homem, engravidasse Sina, e fossem os pais do herói. Tanto Byrne tanto o editorial da Marvel negaram e o escritor não teve chance de aprofundar as origens dos dois personagens.

UXM #143 é a edição derradeira de John Byrne nos X-Men de Chris Claremont. É uma aventura “de Natal” envolvendo Kitty Pryde, um batismo de fogo contra uma das criaturas demoníacas chamadas N´garai, que haviam enfrentado os X-Men anos antes.

O abrupto final da parceria Claremont & Byrne, no auge de seu prestígio e logo após suas melhores histórias, causou grande impacto entre os fãs, e ainda hoje exerce pressão criativa sobre quem assume os personagens.

Dave Cockrum, 16 edições (1981-1982)

Uncanny X-Men #143 foi uma edição desenhada por Bret Anderson, em que os X-Men enfrentam Desespero, mas a partir de UXM #144, Dave Cockrum retornou.

Mas ficou mais do que evidente que seria impossível um retorno do desenhista depois que John Byrne passou pelo título. Cockrum continuava lento, necessitando da ajuda de diversos colegas para cobrir seus atrasos. Ele ficou por 16 edições, até UXM #164 (1982).

Vale destacar que foi em 1982 também que tivemos a primeira graphic novel dos X-Men, publicada em Marvel Graphic Novel #5, escrita por Chris Claremont e desenhada por Anderson.

X-Men Deus Ama O Homem Mata

A história de Deus Ama, O Homem Mata se tornou um dos maiores clássicos dos X-Men e da Marvel, em uma trama épica moral sobre os mutantes e um religioso fanático, William Stryker, que deseja matar todos eles. Foi uma das raras vezes que Claremont citou Fred Duncan como peça-chave para Xavier criar os X-Men.

Stryker cita que pegou os arquivos de Fred Duncan para poder combater os X-Men
Uma das histórias mais impressionantes moralmente das HQs de super-heróis

Chris Claremont também escreveu a minissérie de 4 números do Wolverine em 1982, com desenhos de Frank Miller. Aliás, foi a 1ª minissérie que a Marvel Comics publicou — até então, a editora sempre trabalhou com edições especiais ou títulos regulares. Também foi o ano de estreia dos Novos Mutantes, e sua revista mensal, The New Mutants, também foi escrito por Claremont (um gibi que não abordaremos aqui).

Arte de Bill Sienkiewicz para os Novos Mutantes
As capas e artes internas de Sienkiewicz foram um experimentalismo ímpar nas HQs de super-heróis, mérito da editora Ann Nocenti, que permitiu a liberdade criativa

Dave Cockrum desenhou uma aventura dos X-Men contra o Arcade e o Doutor Destino em UXM #143-145; uma com a Mulher-Aranha e Cristal em UXM #148; Claremont também deu mais complexidade para Magneto em UXM #150, onde revela que o vilão é um sobrevivente do Holocausto, ao mesmo tempo que promove mais um confronto dele com os heróis; Kitty é manipulada pela Rainha Branca para deixar os X-Men, em mais um confronto dos heróis com o Clube do Inferno, em UXM #151-152.

Claremont cuida de Carol Danvers em UXM #154, uma aventura logo após Avengers Annual #10, onde reabilitou a personagem após uma série de decisões atrozes de outros escritores (incluindo ser estuprada e dar a luz ao próprio abusador).

Ela é muito amiga de Logan e ele tenta ajudar a moça do jeito que pode, que também sofre com o fato de ter tido sua mente e poderes sugados em definitivo por Vampira — é por causa disso que ela voa e é superforte.

Na mesma edição temos a volta de Corsário, o pai de Scott, em meio a uma perseguição alienígena. E agora ele se revela para o filho, que não recebe muito bem o fato de todos os X-Men terem escondido o fato dele. Mas no fim ele acaba aceitando tudo, inclusive apresentando ele para Alex também.

Vale citar também a Uncanny X-Men #159, uma aventura desenhada por Bill Sienkiewicz, dos X-Men contra o Drácula. Claremont estica a trama de Corsário para a introdução da temível Ninhada, os Aliens da Marvel (que só vai terminar várias edições à frente).

Em UXM #158, temos os X-Men colocando um super vírus dentro dos computadores governamentais para apagar qualquer referência de qualquer x-membro dos registros oficiais.

Carol Danvers, a antiga Miss Marvel, insere o vírus nos computadores do governo, que apagam qualquer registro dos X-Men e seus aliados, incluindo ela mesma

Em UXM#161, Claremont aprofunda serem motivo de Magneto e Xavier serem amigos anos atrás: juntos infligiram uma grande derrota ao criminoso nazista Barão Von Strucker.

Erik Magnus Lensherr usa o ouro nazista para dar início a sua cruzada mutante
Charles Xavier, Erik Magnus Lensherr e Gabrielle Haller foram um trio de amigos inseparáveis em Israel em uma época

Acontece a estreia de Carol Danvers, antes Miss Marvel, como a super-heroína Binária em UXM #164 (para quem acha que a ultrapoderização de Carol começou com os filmes do Marvel Studios, é melhor ler esse gibi de 1982).

Carol Danvers se torna a Binária em UXM #164

Paul Smith, 10 edições, 1983

Arte de Paul Smith para um dos guias de referência da Marvel, o Official Handbook of Universe Marvel. Desde o começo da construção de seu lore, Chris Claremont estabelece que Fred Duncan morreu off-page

Cockrum é substituído por Paul Smith, um artista muito talentoso, mas que produziu muito pouco. Ele fica poucas edições, e quando consegue juntar dinheiro para comprar uma moto para rodar os EUA, deixa a revista.

Claremont finaliza com Paul o enrosco com a Ninhada em UXM #165-166. Essa última a salvação de todos os X-Men pelas mãos de Carol Danvers/Binária, que com seus poderes expurga a infecção letal da Ninhada dos heróis.

Temos a primeira aparição do dragãozinho Lockheed, que se afeiçoa à Kitty, a criação de um novo corpo clonado para Charles Xavier (que estava infectado pela Ninhada também, mas não presente com os X-Men e Binária), o que faz ele poder andar novamente (ainda que sofra de dores psíquicas inexplicáveis quando usa as pernas, resultado direto de um conflito interno depressivo, que demora a ser superado). A graphic novel Deus Ama, O Homem Mata se passa cronologicamente depois dessa história.

Também temos depois a clássica “O Professor Xavier é um idiota”, em UXM #168, mesma ocasião que Chris apresenta pela primeira vez Madelyne Pryor, uma ruiva que Scott Summers conhece em seu período de licença dos X-Men.

O Professor Xavier é um idiota
Scott Summers conhece Madelyne Pryor

A primeira aparição dos Morlocks, mutantes deformados que vivem no sistema subterrâneo dos esgotos de Nova York, ocorre na edições UXM #169-170 (1983). Tempestade derrota Callisto, a líder deles, em uma combate incrível, que ajudou a destacar Ororo mais uma vez entre os X-Men.

Uma bela capa de Paul Smith: ângulo, design, composição
Tempestade vs. Callisto

Tanto que ela promove uma mudança radical no visual, adotando um mood moicano punk que se tornaria clássico. Só Kitty que recebe isso muito mal.

Em UXM #171, a vilã Vampira deixa a Irmandade, para desespero de Mística (que tinha adotado a menina), e se junta aos X-Men. Claremont aproveitou e “rejuvenesceu” a personagem, deixado de ser uma mulher de aparência de 30 e poucos (talvez mais) para uma moça de 18 e poucos (talvez menos).

De UXM #172 a #175, Claremont desenvolve o casamento de Wolverine com Mariko Yashida, mas que não chega a ser concretizado, já que o Mestre Mental manipula os eventos para se vingar dos X-Men, em especial também de Scott, que suspeita que Madelyne pode ser a Jean Grey reencarnada. Destaque pára um combate entre Wolverine e o Samurai de Prata.

Paul Smith dominava com perfeição cenas de luta

Uncanny X-Men #175 também é especial por ser a edição comemorativa de 20 anos de publicações da revista dos heróis, lançada em setembro de 1983. Além de fechar a trama de Mestre Mental contra os X-Men, também marca enfim um casamento, só que não de Logan e Mariko, e sim de Scott Summers e Madelyne Pryor. Era Chris Claremont marcando o início de uma saga que iria permear todos os X-Men por anos.

Na própria história temos uma referência da criação de 20 anos dos X-Men

Também temos aqui já a quase consolidação de uma equipe de trabalho sintonizada e praticamente perfeita: Claremont nos roteiros, os desenhos de Paul encontrando um substituto à altura em John Romita Jr. (que já desenhou as últimas páginas de UXM #175), a colorista Glynis Wein (esposa de Len Wein) e letras de Tom Orzechowski, tudo com edição de Louise Jones (em breve Simonson, quando casada com Walt Simonson).

Paul Smith só retornaria pontualmente aos X-Men em edições esparsas, mas vale citar Uncanny X-Men #278 (1991), a penúltima edição que Chris Claremont escreveu para os mutantes, parte da Saga da Ilha Muir.

John Romita Jr., 32 edições, 1983-1986

John Romita Jr. é filho do lendário John Romita Sr., um dos primeiros artistas da Marvel, que fez história no Homem-Aranha, ao substituir ninguém menos do que o co-criador do personagem, Steve Ditko.

Ele já tinha desenhado uma longa fase no Homem-Aranha, e agora entra em outra prata da casa, os X-Men. Destaque para o melhor arte-finalista de todos os tempos aqui também: Dan Green.

Dan Green, Ann Nocenti e John Romita Jr.

Em Uncanny X-Men #176 (1983), Valerie Cooper faz sua primeira aparição. Ela é uma assessora política ligada ao alto comando federal, mostrada em uma palestra na Casa Branca a respeito das atuações (e ameaça) de Magneto e os X-Men pelo mundo.

É o começo da narrativa mais politizada e com paralelos de perseguição à minorias e preconceito racial com que Claremont começará a trabalhar nos X-Men, ampliando o que já tinha sido mostrado em Dias de Um Futuro Esquecido.

A Irmandande de Mutantes retorna em UXM #178

Em UXM #179, mais uma aventura com os Morlocks, e na edição seguinte Tempestade tem uma conversa definitiva com Kitty Pryde para acertarem os ponteiros a respeito da mudança dela.

Ororo Munroe punk tem uma conversa sincera com Kitty Pryde

O Ato de Registro Mutante aparece oficialmente no Universo Marvel em Uncanny X-Men #181 (1984), quando o senador Robert Kelly apresenta o projeto na Casa Branca. Ele determina a obrigatoriedade de mutantes declararem suas origens, identidades e poderes para o Governo Federal, sob pena de prisão em caso de recusa. Esse registro vai permear várias situações e tramas dos x-títulos da Marvel por toda a década de 1980 e começo dos 1990.

A Lei de Registro Mutante, a primeira lei de controle de seres superpoderosos nas HQs de super-heróis

A edição também mostra uma aventura dos X-Men no Japão, logo após retornarem dos eventos de Guerras Secretas. A pequena Amiko faz sua primeira aparição e Wolverine se torna guardião legal da menina.

Os X-Men retornam de Guerras Secretas

Em UXM #182 temos uma aventura com Vampira, que vai ajudar o coronel Michael Rossi, mantido preso dentro do aeroporta-aviões da SHIELD. Rossi secretamente faz parte da rede de resistência de Xavier, um humano alinhado às causas dos mutantes. Ele também é mais do que um amigo íntimo de Carol Danvers, e quando ele descobre a verdade do que Vampira fez, a tragédia se anuncia.

É nesta edição que Ann Nocenti começa como editora, o que só ajuda a aumentar ainda mais a qualidade dos roteiros de Claremont.

Louise e Ann dividiram a edição

A próxima edição é uma sensacional construção de Claremont em uma conversa e porrada franca entre Wolverine, Noturno, Colossus e o Fanático em um quebra-quebra em um boteco.

Forge é um nativo-americano cheyenne xamã mutante inventor ex-militar e cyborg, e aparece pela primeira vez em Uncanny X-Men # 184 (1984), mais uma grande criação de Chris Claremont na revista.

Forge estreia no lore dos X-Men

No número seguinte, Henry Peter Gyrich, de posse de uma arma criada por Forge — um neutralizador de poderes — atinge Tempestade (que salvou Vampira da rajada), deixando Ororo em uma nova situação física e psicológica.

Tempestade perde os poderes

Na mesma edição, Rachel Summers surge no presente da linha temporal regular da Marvel, vinda diretamente dos eventos de Dias de um Futuro Esquecido. Ela fica na mira de Selene, uma bruxa mutante, e é salva pelos X-Men.

A edição Uncanny X-Men #186 tem arte de Barry Windsor-Smith, e é uma linda história de recuperação (ou não) de Tempestade após levar o tiro que a estripou de seus poderes. Forge é quem cuida dela, e eles se envolvem romanticamente. Mas Ororo não sabe que ele é o criador da arma.

Arte original de Barry Windsor-Smith para Uncanny X-Men 186

A edição seguinte tem os dois mais os X-Men contra os Espectros, perigosa raça alienígena transmorfa (que mata suas vítimas para tomar suas formas) e que invadia a Terra na época. Temos também a aparição de Nazé, avô e mentor místico de Forge. E algo terrível acontece com ele aqui, dando a entender que ele não é mais a mesma pessoa.

Em UXM #189, a bruxa mutante Selene, na iminência de se tornar a Rainha Negra do Clube do Inferno, enfrenta os X-Men, antagonizando em especial Rachel Summers. Chris Claremont revela mais de seu passado, e descobrimos que ela foi por um um tempo uma Farejadora, uma mutante escrava rastreadora de outros mutantes.

Uma minissaga em 2 partes acontece em UXM #190-191, com vários heróis de NY, como Homem-Aranha, Vingadores e os X-Men — e a própria cidade — alterados pela magia do feiticeiro Kulan Gath.

O final de Uncanny X-Men #191 tem a misteriosa (e inexplicada) aparição de Nimrod, um robô que representará o maior perigo que os mutantes já viram.

Todos os heróis de NY são afetados pela magia de Kulan Gath
Nimrod estreia na mitologia dos X-Men, surgindo literalmente do nada

Os X-Men enfrentam o Magus em UXM #192, um alienígena tecnorgânico, e a Uncanny X-Men #193 é mais uma edição comemorativa, com o dobro de páginas, em alusão a centésima edição dos Novos X-Men. Na aventura escrita por Claremont, temos James Proudstar, irmão de John Proudstar, o Pássaro Trovejante, querendo matar Xavier e os X-Men pela morte dele.

Mais uma edição comemorativa de X-Men, a centésima edição da revista escrita por Chris Claremont

Em UMX #194 temos o primeiro confronto dos heróis mutantes com o robô Nimrod, com o Fanático ainda no meio. Aparentemente, esse robô veio do mesmo futuro de Rachel Summers, a linha temporal de Dias de um Futuro Esquecido, e trata-se de um ultra-sentinela de última geração, completamente dotado de incríveis recursos e inteligência artificial. Claremont também faz a primeira aparição (dessa vez real) de Alexei Vazhin.

Ele é mostrado como interessado em analisar as atividades e dinâmicas dos super-heróis americanos, bem como a relação com os mutantes. Ele recebe o relatório da luta dos X-Men, Fanático e Nimrod, e sabe que os mutantes arriscam a vida para salvar o mundo.

O soviético sabe que o governo americano vai contra eles e que Magneto não confia em nenhum governo, pois sempre tentam destruir a raça mutante. E parece particularmente interessado em como os X-Men arriscam o pescoço para salvar um mundo em que todos os humanos preferem ver mutantes presos ou mortos.

Vazhin não prevê boas coisas vindas no horizonte, e considera um apocalipse se aproximando. Ao que parece, Chris Claremont queria escalonar uma discussão política para além da Cortina de Ferro, como era chamada a linha imaginária que dividia o mundo capitalista do mundo comunista nos países europeus sobre influência dos EUA e URSS, e traçaria um paralelo de visão deles com o ocidental capitalista americano a respeito de como lidar com os mutantes.

Vazhin parecia mais sóbrio em sua analítica política em relação às autoridades americanas, que nesse ponto já preparavam a promulgação da Lei de Registro Mutante.

Os Morlocks retornam em UXM #195, junto com o Quarteto Futuro, e temos mais revelações sobre Rachel Summers na edição seguinte (e Beyonder está à espreita dela, prenunciado a saga Guerra Secretas II).

Arcade retorna em UXM #197, e Claremont mostra mais uma aventura solo de Tempestade, de novo com arte de Barry Windsor-Smith, em Uncanny X-Men #198.

Mística, prevendo os problemas que os mutantes passariam no futuro com o governo, aborda Valerie Cooper com uma proposta: transformar a Irmandade em uma equipe para realizar serviços sujos relacionados e missões secretas sob sanção presidencial e fora dos radares das autoridades oficiais.

É um conceito que Chris Claremont apresentou 14 meses antes da estreia do Esquadrão Suicida de John Ostrander, sobre criminosos fazendo missões black ops para o governo (no caso deles, em comutação das penas).

Com isso, estreia nos X-Men a Força Federal.

A Força Federal é criada sob sanção presidencial de Ronald Reagan, tal qual o Esquadrão Suicida na DC Comics, 14 meses depois

E a primeira missão deles é prender Magneto, que na ocasão tinha ajudado os X-Men durante os eventos de Guerras Secretas II. Isso acontece em UXM #199 e termina na edição comemorativa Uncanny X-Men #200 (1985).

Temos o primeiro (de muitos) julgamento de Magneto (e a estreia de um novo uniforme dele, horroroso), por crimes contra a humanidade, em uma cerimônia em Palais du Justice, em Paris. O julgamento é conduzido por Sir James Jaspers, Primeiro-Ministro da Inglaterra, Gabrielle Haller, autoridade política de Israel, e Charles Xavier, o Professor X, com provas e documentos do que já estava sendo rascunhado lá atrás com Valerie em sua primeira aparição na Casa Branca.

Vale citar que Gabrielle e Xavier tiveram um filho, David Haller, o poderoso e esquizofrênico Legião.

Essas duas edições são marcantes por estabelecer 2 aspectos: o surgimento da segunda Fênix, na pessoa de Rachel Summers, e mostrar Charles Xavier deixando a Terra para cuidar de sua saúde abalada (situação criada do nada por Claremont), com sua amada Lilandra, a Imperatriz do Império Shiar (que por acaso estava zanzando pelo espaço perto da Terra e descobriu com sensores da nave que Xavier estava passando mal).

Assim, Charles Xavier deixa a Escola sob cuidados de ninguém menos do que Magneto (que foi liberado do julgamento no final da edição). Foi a chance perfeita para Chris se livrar de Xavier, que considerava um empecilho para seus planos futuros para os personagens.

Claremont dá um jeito de se livrar de Xavier. E Magneto assume a Escola

Também é nessa edição que Madelyne Pryor entra em trabalho de parto. Em Uncanny X-Men #201, temos Rick Leonardi na arte, outro grande desenhista, que fará várias edições futuras, apesar de não ser o artista regular.

Aqui, Claremont apresenta o bebê Nathan Christopher Summers, e também marca um duelo de Ciclope com Tempestade pela liderança dos X-Men. E Ciclope perde. E ele deixa a equipe para cuidar do filho e esposa.

UXM #202 é bem interessante e traz Super Sentinelas do futuro, que aparentemente foram trazidos para o presente por Beyonder, que agora está mais interessado ainda em Rachel depois dela ter se transformado em Fênix.

Uma das capas mais legais de X-Men tem arte-final de Al Williamson

Todo o poder da Fênix
Os Super Sentinelas classe Ômega do futuro

É uma aventura lindamente desenhada por John Romita Jr. com arte-final de Al Williamson, que deixa a edição muito mais elegante e bonita — ele é um dos maiores artistas de quadrinhos que a indústria já teve, com passagens marcantes por clássicos das HQs, como Flash Gordon, Star Wars, Agente Secreto Corrigan e muitos outros.

A edição seguinte é a continuação do confronto de Fênix e Beyonder, e UXM #204 temos uma aventura solo de Noturno.

Claremont faz mais uma edição clássica em Uncanny X-Men #205 de novo com arte de Barry Windsor-Smith, mas dessa vez estrelando Wolverine. Yuriko Oyama, uma antiga inimiga de Logan, deseja vingança contra o baixinho, por considerar que seu pai, Lorde Vento Negro, teve seu conhecimento roubado e aplicado indevidamente no corpo do mutante, já que ele foi o criador do processo de revestimento de adamantium nos ossos.

Isso foi mostrado em Alpha Flight #34 (1986), em uma aventura de Wolverine, Yuriko e a Tropa Alfa, escrita por Bill Mantlo e desenhado por Sal Buscema. É apenas mais uma pista na longa trilha de mistérios do personagem.

Yuriko passa por uma transformação terrível pelas mãos de Espiral, uma integrante da Força Federal que na verdade é uma bruxa extradimensional do Mundo de Mojo, e que por meio da Loja de Corpos, promove alterações genéticas e cibernéticas.

Ela transforma a moça em uma cyborg, virando a Lady Letal, e junto com alguns ex-soldados do Clube do Inferno picotados por Wolverine (e que passaram pelo mesmo processo), armam uma cilada para Logan, que se encontra em um estado de irracionalidade no meio de uma tempestade de neve.

Barry Windsor-Smith retorna para mais uma edição clássica de X-Men. Aqui, Yuriko Oyama se torna a Lady Letal
O confronto de Wolverine com Lady Letal é sensacional

É uma das mais impressionantes histórias em quadrinhos dos X-Men. A Força Federal luta contra os X-Men de novo em UXM #206, e a edição seguinte é a clássica história que Wolverine quer impedir Rachel de assassinar Selene, mesmo que tenha que matar a garota.

Uma das grandes decisões equivocadas de Claremont no roteiro dos X-Men. Ninguém é perfeito, não é mesmo?

Trata-se de um dos grandes erros do herói, ou melhor, de Chris Claremont, prova que mesmo seu talento não impede erros grotescos. Não há lógica alguma em Wolverine querer impedir Rachel de matar Selene, e ela com o poder da Fênix, não teria como ser morta por um ferimento de corte. Não bastasse isso, os X-Men não agem naturalmente com a situação, tampouco se empenham como deveriam para procurar seu paradeiro.

Talvez Chris precisasse se livrar logo de Rachel por outros planos. E o poder dela seria de grande ajuda no confronto dos X-Men (e o Clube do Inferno) contra Nimrod, que passa pelas edições UXM #208-209.

A edição marca a morte de Harry Leland, o Bispo Negro do Clube do Inferno, e a captura de uma Rachel Summers extremamente ferida por Espiral, que a manda para o Mundo de Mojo, onde passaria por diversos apuros até ser resgatada.

Kitty fica possessa com Wolverine ter tentando matar Rachel
Selene é a nova Rainha Negra do Clube do Inferno. Em UXM #208, Chris Claremont estabelece pela primeira vez uma classificação de nível de poderes mutantes. E Rachel Summers é uma mutante nível Ômega, de acordo com Nimrod

Em Uncanny X-Men #210 (1984) temos nada mais nada menos que a estreia da saga Massacre de Mutantes, talvez a primeira saga de quadrinhos de super-heróis interligada com vários outros títulos, algo que definitivamente não era comum na época.

O começo de um longo mood das histórias em quadrinhos de super-heróis: a saga interligada por diversos títulos
Wolverine fumando na capa. A Marvel nunca mais republicou a arte dessa maneira

Chris Claremont estabelece que um grupo de mutantes assassinos, chamados de Carrascos, começam a matar os Morlocks indiscriminadamente. E os X-Men têm que fazer de tudo para impedir. Magneto tendo uma conversa com o Clube do Inferno, a respeito de uma aliança para sustentarem uma sobrevivência no futuro negro que enxergam no horizonte.

Os X-Men tentam proteger os Morlocks dos Carrascos
A situação é tão sangrenta e diabólica, e os inimigos tão temíveis, que Colossus não pensa duas vezes em matar Maré Selvagem

O roteirista também mostra Magneto encontrando o X-FactorFruto de um projeto editorial paralelo de mutantes na Marvel, o X-Factor deveria ser a reunião dos 4 x-men originais, Ciclope, Homem de Gelo, Anjo e Fera, mais a Alison Blaire, a Cristal, em uma nova superequipe mutante.

Arte promocional de X-Factor, ainda sem a integrante feminina, com a Marvel fazendo mistério de quem seria

Mas os envolvidos no projeto, o roteirista Roger Stern, que escrevia o título dos Vingadores, e John Byrne, que escrevia e desenhada a revista do Quarteto Fantástico desde que tinha saído dos X-Men, baseados em uma ideia do roteirista Kurt Busiek, decidiram ressuscitar ninguém menos ninguém mais que Jean Grey em pessoa.

Os Vingadores encontram um misterioso casulo no fundo do mar em Avengers #263 (1985) e o Quarteto investiga e liberta Jean Grey de dentro dele em Fantastic Four #283. Quem pensamos ser Jean Grey desde X-Men #100 na verdade era a Força Fênix incorporada em uma cópia do corpo e mente da Jean original, que ficou em estado catatônico dentro desse casulo, criado por piedade por Fênix.

Claremont ficou furioso. Além de não querer a volta de Jean, isso atrapalhava o que ele construiu para Scott Summers e Madelyne Pryor. Aliás, o “herói”, assim que descobre que sua amada ressuscitou, não pensa 2 vezes em abandonar Maddie e Nathan. Pois é. Uma das decisões editoriais mais equivocadas de todos os tempos.

Claremont jamais respeitou o título do X-Factor, escrito por Bob Layton, com arte de Jackson Guice. Mas o roteirista e desenhista estava se atrapalhando nos prazos, e não conseguiu passar da edição #5. Assim, por sugestão do próprio Claremont , e Ann Nocenti, o editor Bob Harras trouxe Louise Simonson para escrever o título (ela já tinha ajudado antes, em uma edição que não chegou a ser publicada, exatamente por conta de atrasos).

Louise trouxe mais qualidade ao X-Factor e uma certa proximidade com os X-Men, ainda que ambos vivessem bem separados enquanto núcleo narrativo e criativo.

X-Factor #9, no qual enfrentam a Força Federal, já parte da saga Massacre de Mutantes

Os X-Men originais agora se passavam por caça-mutantes, de nome X-Factor, mas tudo não passava de uma fachada para acolher os mutantes e salvá-los. Eles aproveitavam de modo reverso a onda antimutante que cada vez mais se instalava na sociedade.

Vampira vê uma propaganda do X-Factor em UXM #210

Claremont faz Magneto ficar estarrecido com o fato dos x-men originais de Charles Xavier agora caçarem mutantes. Como todo mundo, Magneto acreditava na propaganda efetiva da equipe para mascarar suas verdadeiras intenções.

Magneto encontra o X-Factor de relance, pouco antes de ir ao Clube do Inferno

A Uncanny X-Men #211 é a segunda parte de Massacre de Mutantes, e marca a comemoração de 25 anos da Marvel Comics, com uma série de capas com design único: vários personagens fazendo o contorno regular da arte.

No caso, aqui, temos Wolverine na arte de John Romita Jr,. que deixa o título dos X-Men (ao menos nesta fase de Chris Claremont). Esta edição também marca a primeira aparição de Psylocke nos X-Men.

A 1ª aparição de Psylocke nos X-Men

Em UXM #212 temos a terceira parte de Massacre de Mutantes, com arte de Rick Leonardi. Pela primeira vez na história dos X-Men, Chris Claremont estabelece uma rivalidade entre Wolverine e Dentes de Sabre, que aparentam se conhecer muito bem.

A edição seguinte é mais um confronto, dessa vez na arte de Alan DavisNo meio da luta temos Psylocke, em sua prova de fogo para entrar na equipe de mutantes. Foi também o fim da saga Massacre de Mutantes, que trouxe as mais terríveis mudanças para o status quo mutante.

Além da grande perda de vidas de Morlocks, Colossus e Noturno se feriram gravemente e Lince Negra estava à beira da morte. Era o começo do plano de Chris Claremont de desmontar peça por peça as engrenagens da equipe em uma série de reformulações nas sagas seguintes, até conseguir ter o que desejava para melhor contar as histórias dos mutantes.

UXM #214 temos a retomada de Claremont em cima de Alison Blaire, que cada vez mais vê poucas chances de levar sua vida de cantora, ainda mais quando a mutante Maligna, que domina corpos, se apodera da moça.

Alison Blaire nunca quis ser uma super-heroína, ela quer fazer arte, música, ser cantora. Não vai dar com a atual histeria antimutante

Em UXM #215-216, Claremont se dedica para Tempestade, em uma aventura dupla solo da mutante sem poderes contra 3 caçadores de criminosos, na verdade 3 super-heróis veteranos da Segunda Guerra Mundial: o Comando Escarlate, um humano especialista em armas e combate, e os mutantes Muralha, que tem o poder de ser imexível (pois é) e Sabre de Prata, um velocista.

Em Uncanny X-Men #217-218 temos uma aventura de Cristal, Vampira e Psylocke contra o Fanático, na estreia do desenhista Marc Silvestri nos X-Men, o melhor artista para todas as histórias que Claremont desenvolveu no gibi.

Marc Silvestri, 35 edições, 1987-1991

Marc Silvestri, o melhor desenhista dos X-Men

Dono de um traço cinético e ágil, as cenas de ação e composições de repouso, descanso e poses de Silvestri não tem igual. Um casamento perfeito de roteiro e arte. Destaque para a edição #218, continuação da treta com o Fanático, e a primeira a mostrar Longshot na equipe, um ser extradimensional que se junta ao grupo.

O loirinho é um Bon Jovi de 4 dedos cujo poder é sempre ser sortudo, uma incrível criação de Ann Nocenti em uma minissérie especial homônima de 1985, e que passou a ser parte dos X-Men desde Uncanny X-Men Annual #10 (1986), antes do contexto de Massacre de Mutantes.

Longshot surge do nada na Sala de Perigo dos X-Men, e se junta ao grupo. No mundo das HQs é assim

UXM #219 mostra o retorno de Alex Summers, o Destrutor, aos X-Men. Ele deixa Lorna Dane, a Polaris, para tentar ajudar seus amigos, e os Carrascos não perdem tempo e atacam a companheira de Alex, e Maligna toma o controle da mente e corpo da mutante magnética.

Claremont estabelece um clima de paranoia e terror dos X-Men para com Alex, e tamanho o problema que se veem, consideram até mesmo matar Alex para lhe poupar sofrimento no futuro.

Em Uncanny X-Men #220, Tempestade começa a buscar o paradeiro de Forge, que além de desejar recuperar seus poderes, foi incentivada por Nazé, que fala de um perigo iminente à espreita.

É o começo dos eventos que desembocarão em A Queda de Mutantes, a próxima saga dos mutantes.

Arte promocional de Queda de Mutantes, desenhos de Alan Davis

Em UXM #221 temos a primeira aparição do Senhor Sinistro, o líder dos Carrascos, e idealizador do Massacre de Mutantes. A edição seguinte mostra os Carrascos atacando os X-Men, que acabam cruzando o caminho de Madelyne Pryor, que fica sob os cuidados dos heróis a partir de agora. Polaris é mostrada como integrante dos Carrascos, totalmente dominada por Maligna.

Polaris agora é Maligna, literalmente

Claremont estabelece uma nova “base” para os X-Men na Ilha de Alcatraz na Baía de São Francisco, costa leste dos EUA, em UXM #223. A Força Federal reaparece e quer prender todos os X-Men por causa da Lei de Registro de Mutantes em UXM #224.

A saga A Queda de Mutantes é quando os X-Men enfrentam o Adversário, uma entidade extradimensional que pretende exterminar a Terra. O run acontece em The Uncanny X-Men #225-227, X-Factor #24-26 e New Mutants #59-61, de janeiro a março de 1988.

Arte original de Marc Silvestri e Dan Green para UXM #225
Mais uma das melhores capas de X-Men
Os X-Men na enorme zona que acontece em Dallas

O Adversário possui Nazé, que manipula Tempestade de modo a Forge ser morto por ela. Com efeito, ela o esfaqueia, pensando que ele estava abrindo um portal para o inferno. Na verdade, o índio mutante tentava fechá-lo, para impedir a entrada do Adversário em nosso mundo.

Nazé na verdade agora era a forma corpórea desse antigo deus maligno extra dimensional chamado Adversário. Ele pretendia invadir a Terra e destruir tudo por aqui.

Tempestade é enganada pelo Adversário e quase mata Forge, que tentava fechar a passagem dimensional que ele tinha aberto inadvertidamente na época do Vietnã, e que permitiu o Adversário vir para nosso mundo. Agora, com o portal aberto, o Adversário está livre para consumir o mundo. Tempestade cuida dos ferimentos de Forge, e juntos tentam achar uma maneira para deter o Adversário.

Tempestade tenta matar Forge, acreditando em uma mentira
O Adversário agora está livre para dominar o mundo

Mística e a Força Federal aparecem no caminho dos X-Men e lutam para prender os heróis por causa do Registro, mas Sina, aos poucos, percebe na batalha a magnitude do conflito que virá. Forge consegue reativar os poderes de Tempestade, e mais uma vez, Ororo Munroe é a Rainha dos Ventos.

Tempestade recupera seus poderes

O Adversário torna Dallas um nexo de portais do tempo, e monstros pré-históricos, tribos perdidas e soldados de várias épocas de guerra assolam a cidade. Na zona que isso se torna, a Força Federal e os X-Men têm que se unir para sobreviver aos perigos e salvar aos habitantes da cidade.

A vidente Sina prevê um futuro terrível para os X-Men

Mas a batalha final fica reservada aos heróis. E incrivelmente eles se sacrificam para derrotar o deus maligno, graças a um feitiço poderoso que Forge invoca e consegue produzir com as almas dos 8 x-men, mais Madelyne Pryor.

Forge sabe o que deve fazer, mas hesita
Por fim, ele usa um feitiço energizado pelas almas dos X-Men e de Madelyne e derrota o Adversário

Assim, os Fabulosos X-Men morrem. E a “morte” dos X-Men foi um grande acontecimento no Universo Marvel.

Mística não fica contente com a morte de sua filha Vampira, bem como a de seus companheiros

O fato reverberou por diversos títulos da editora — até porque a morte foi televisionada para o mundo inteiro. Mas logo em seguida os heróis são salvos e ressuscitados por Roma, uma entidade divina do multiverso, aliada dos heróis.

Como “efeito colateral”, os 8 mutantes ficaram invisíveis a sistemas de gravações eletrônicas como câmeras e até mesmo por meios místicos. Os X-Men se tornam uma verdadeira lenda no Universo Marvel, com todo mundo — inimigos e aliados — pensando que eles estão realmente mortos.

É um excelente ardil para que os X-Men fiquem seguros e ao mesmo tempo possam enfrentar seus adversários. O mundo se vê finalmente “livre” dos famigerados X-Men. Mas isso só fortaleceu a lenda dos mutantes.

Os X-Men morrem, os X-Men ressuscitam

Nesse ponto, é preciso frisar que a equipe dos X-Men manterá um line-up que se revelaria um dos melhores de toda a X-história: 4 homens e 4 mulheres, com Tempestade como líder (mesmo com ela sem poderes ainda), a telepata Psylocke, a cantora raio laser Cristal e a multipoderosa de ocasião Vampira.

Do lado dos homens temos Wolverine, o cara mais perigoso do planeta, Colossus, o homem blindado russo (preso em sua forma de aço devido a ferimentos causados na saga Massacre de Mutantes), Longshot e Destrutor.

Kitty Pryde e Noturno ainda estavam se recuperando dos ferimentos de Massacre de Mutantes, sob cuidados de Moira na Ilha Muir, e escaparam de todos esses eventos. Eles acabariam por se reunir com Rachel Summers, mais o Capitão Britânia e Meggan, e formariam o Excalibur.

Nos planos do escritor Chris Claremont, tudo se encaminhava para uma épica saga ainda maior do que a Queda de Mutantes, Inferno, que mexeria com as bases de todas as histórias do universo X.

Apesar de parecer uma sobreposição de tramas, Chris tinha domínio do que estava fazendo, e a sequência lógica dos acontecimentos acontecia de modo muito natural, o que não ocorre em tramas mais recentes dos quadrinhos.

A edição seguinte de A Queda de Mutantes foi UXM #228, desenhada por Rick Leonardi, uma misteriosa aventura de Wolverine e Cristal atrás de um assassino.

Claremont faz uma ligação improvável de Logan com Peter Gyrich, com os dois sendo velhos conhecidos do tempo que o mutante era um agente secreto canadense. Ele nunca mais retomou tal ligação.

Em Uncanny X-Men #229-230 temos uma história clássica, dos X-Men contra os Carnceiros, um bando de ciborgues assassinos e ladrões, cuja base secreta é uma cidade fantasma no meio do deserto australiano.

Foi a chance de Claremont deixar os X-Men em um mundo à parte do Universo Marvel, onde não havia outros heróis e com mil possibilidades de contar novas histórias.

Os X-Men derrotam os Carniceiros, e obriga a maior parte dos criminosos a atravessar o Portal de Destino, um poderoso artefato místico que faz a pessoa renascer de acordo com seus pecados e merecimentos, dado aos heróis por Roma.

A partir de agora, os X-Men se dedicam a fazer suas missões tendo como base a mesma cidade fantasma dos Carniceiros, ajudados de perto por um misterioso mutante aborígene chamado Teleporter, que tem o dom de abrir portais de deslocamento espacial. Vale citar o resgate de uma das vítimas dos Carniceiros, Jessan Hoan, que desempenhará papel central nas aventuras solos de Wolverine na Ilha de Madripoor, outro título que Chris Claremont escreverá.

Os X-Men treinam seus poderes e habilidades no deserto australiano

Uncanny X-Men #232 é a despedida de Ann Nocenti da edição, em uma aventura que envolverá a Ninhada, que vai até o UXM #234. Embora sua influência nos roteiros e desenhos seja indireta, a abordagem editorial de Ann teve um impacto significativo na direção criativa da revista e na colaboração entre Claremont e Romita Jr. e Silvestri.

 

Os X-Men iriam se transformar em outra coisa nas mãos do novo editor Bob Harras

Como editora dos X-Men, Ann Nocenti tinha a responsabilidade de supervisionar e coordenar a produção da revista. Ela desempenhou um papel fundamental na gestão das equipes criativas e na garantia de que a visão geral da série fosse consistente. Sua função incluía ajudar a desenvolver tramas, orientar Claremont sobre excessos e revisões do que ele já tinha deixado de subtramas, além, é claro, de aprovar o conteúdo e garantir que os prazos fossem cumpridos.

Ann Nocenti

Nocenti trabalhou em estreita colaboração com Claremont. discutindo ideias, oferecendo feedback e ajudando a refinar as tramas. Sua perspectiva como editora permitiu que ela visse a narrativa de um ângulo mais amplo e ajudasse a moldar a direção geral da série. Além disso, Ann Nocenti também foi fundamental na escolha dos artistas para a revista. John Romita Jr. e Marc Silvestri tiveram contribuições significativas para a estética visual e a narrativa das histórias.

Ann Nocenti, Chris Claremont e Louise Simonson

Nocenti desempenhou um papel importante na identificação e contratação desses talentos, garantindo que suas habilidades artísticas se alinhassem à visão dos X-Men.

A própria Ann Nocenti com os X-Men (os X-Babies no caso, criação do Mojo)

Ela ajudou a reunir os elementos-chave da série, trabalhando em conjunto com o roteirista e os artistas para garantir a coesão e a qualidade geral da revista. Com certeza sua influência editorial contribuiu para a criação de uma das eras mais memoráveis e influentes dos X-Men.

De UXM #235 a #238, tivemos a introdução de Genosha, uma ilha na costa africana, que escraviza mutantes e os transforma em mutóides, seres sem intelecto mas com os poderos intactos, prontos para servirem mansos até o dia que morrerem. É outra das mais poderosas metáforas que Chris Claremont promove no mundo mutante.

A estreia de Genosha e seus Magistrados foi de grande importância para futuras histórias dos X-Men

Quando a saga Inferno finalmente começa, de The Uncanny X-Men #239 ao #243, ficamos sabendo que Madelyne Pryor na verdade era um clone de Jean Grey, criada pelo Senhor Sinistro, para Scott ter um filho com ela.

A criança gerada, Nathan, seria um dos mais poderosos mutantes da história. Madelyne fica ciente disso, pira, e se antecipa a qualquer um que queira fazê-la de marionete.

Mais uma das grandes capas de X-Men, naquele que foi o encontro mais esperado da época: X-Men e X-Factor
Em meio ao caso demoníaco, os X-Men ainda tem que enfrentar os Carrascos
os efeitos da magia na cidade de Manhattan alteram até mesmo os heróis, tornando-os cada vez mais diabólicos também

Ela faz um pacto satânico com o demônio N’Astirh, ganha poderes místicos, que somados a sua genética alterada de mutante-clone de Jean, uma poderosa telepata e telecinética, a transforma na poderosa Rainha dos Duendes.

Madelyne Pryor agora é a Rainha dos Duendes

Claremont já vinha dando pistas a respeito disso desde que os X-Men resgaram a moça, lá em UXM #222. A ruiva ficou em uma função passiva com os X-Men, monitorando as informações do mundo para o grupo. E por conta disso, qualquer contato dos X-Men com seus antigos aliados, como outros mutantes e grupos, eram alterados de forma perniciosa.

Essa peça promocional de Inferno é autoexplicativa: às vezesm um bom planejamento leva uma vida inteira
O mais legal aqui foi o encontro tão esperado dos X-Men com o X-Factor, com certeza uma das melhores edições da revista

Os Novos Mutantes participam bastante das histórias de Inferno, e a função de Illyanna Rasputin, a Magia, é crucial, já que ela é a governadora do Limbo, uma dimensão demoníaca, de onde vem N’Astirh e Sym, outro demônio que vivia dando trabalho aos X-Men.

Illyanna Rasputin, a Magia, está intimamente ligada aos eventos de Inferno, muito antes da saga acontecer

Depois de Inferno, Chris Claremont decide desmontar peça por peça os X-Men, matando todos do grupo em definitivo, em (mais) uma sequência épica de acontecimentos.

Mas antes, a calmaria antes da tempestade.

UXM #244 mostra as 4 x-mulheres saindo para se divertir a valer (com Marc Silvestri inspiradíssimo) e UXM #245 faz o mesmo com os x-caras (arte horrenda de Rob Liefeld, em uma divertida paródia da saga Invasão!, da DC Comics).

As garotas sem para a farra

É entre essas edições que temos a minissérie Wolverine e Destrutor – Fusão, uma HQ incrível pintada e publicada sob o selo Epic Comics, escrita por Louise e Walt Simonson, com artes de Jon J. Muth e Kent Williams. Um thriller de espionagem e ação em uma trama geopolítica que é uma das melhores histórias em quadrinhos dos anos 1980.

Aqui, Wolverine pega uma licença com os X-Men, e parte uma uma série de aventuras solo em sua própria revista, um arco escrito por Archie Goodwin e desenhado por… John Byrne. Pois é. Isso saiu em Wolverine #17-23.

Em The Uncanny X-Men #246-247 (1989), Nimrod, que ainda estava disfarçado de um trabalhador braçal (!) por aí, inadvertidamente entra em contato com um pedaço da consciência do Molde Mestre.

Nimrod e Molde Mestre se fundem

O robô criador de Sentinelas teve uma segunda versão construída por Steven Lang (aquele cara fanático antimutante de UXM #96-100), e na batalha final dos heróis, foi destruído, não sem antes de ter as gravações mentais de Lang impressas em seu circuito neural.

Ele sobrevive, e depois tenta capturar o Anjo e o Homem de Gelo, mas acaba atraindo a atenção do Hulk, como mostrado em The Incredible Hulk Annual #7 (1977), uma aventura escrita por Roger Stern e desenhada por John Byrne. Os dois heróis na época não estavam com os Novos X-Men, e sim com os Campeões, inusitada superquipe baseada em Los Angeles, com Hércules, Viúva-Negra, Estrela Negra e Motoqueiro Fantasma.

Entre várias outras idas e vindas pelas HQs, o robô aparentemente tinha sido destruído por Ciclope em X-Factor #13-14 (1987) em Anchorage, no Alasca, onde Scott buscava pistas do paradeiro de Madelyne e Nathan (pai do ano). O roteiro é de Louise Simonson, com arte de Walt Simonson.

E eles apresentam aqui algo que o Molde Mestre teme: doze mutantes escolhidos que decidirão o futuro do mundo. E algo ainda amais estarrecedor: todos os seres humanos têm alguns genes mutantes, e são potenciais procriadores. Algo que não foi melhor abordado depois por outros roteiristas.

Molde Mestre, Ciclope e os Doze

De qualquer maneira, o módulo central da CPU do Molde Mestre sobreviveu, e ele domina Nimrod assim que é tocado. Os dois se fundem à revelia de ambos, e Molde Mestre se torna muito mais poderoso do que já era. Os X-Men acabam em confronto com o robô, e eles acabam ficando sem opções, a não ser usar o Portal de Destino. Mas Vampira é sugada para dentro do portal, junto com o robô.

O Molde Mestre/Nimrod é tão poderoso que até consegue detectar os mutantes de alguma forma

O final é trágico também para Sharon, esposa do senador Robert Kelly. O político culpa os X-Men e dá sinal verde para o Projeto Nimrod de caça aos mutantes, o começo de um aparente autocírculo de destruição, já que foi o Molde Mestre/Nimrod que causou a morte da mulher e ela que provocará então sua criação.

Molde Mestre/Nimrod acaba por fazer criar o programa que dará origem ao Nimrod, em um círculo temporal fechado

Em The Uncanny X-Men #248 (1989), Longshot abandona a equipe para procurar seu verdadeiro eu. Na mesma edição, os X-Men enfrentam Babá e o Fabricante de Órfãos, e Destrutor dispara uma poderosa rajada de plasma na nave da vilã — inadvertidamente, ele mata Tempestade.

Essa edição tem desenhos de Jim Lee, um artista que conseguiria ser ainda mais dinâmico e cinético que Marc Silvestri, e que se tornaria o grande representante do design a ser seguido nos anos 1990 nos quadrinhos de super-heróis.

Uncanny X-Men #249 tem arte de Marc Silvestri e uma das melhores capas de todos os tempos dos X-Men. Destrutor, que meio que assume a liderança do grupo (e que está putaço com Wolverine estar fora fazendo diabos sabe o que), Cristal, Colossus e Psylocke vão para a Terra Selvagem enfrentar Zala Dane.

Capa dos X-Men com o Destrutor, inspiração para o nome do blog. A melhor capa, segundo nossa opinião
Todos os X-Men começam a morrer

Destrutor “assume” a liderança e começa a ser bem mais violento

Inacreditavelmente, a edição #250 do título dos X-Men não tem algo de especial. Ann Nocenti e Chris Claremont não prepararam nada para a edição, que finaliza a história dos heróis na Terra Selvagem. De mais relevante, ela entrega uma visão terrível de Psylocke a respeito do futuro dos X-Men.

Os X-Men mortos de verdade

UXM #251 é mais uma capa clássica de Marc Silvestri, com a crucificação de Wolverine nas mãos dos Carniceiros, que retomaram o controle da cidade fantasma australiana. Vindo diretamente dos eventos mostrados em Wolverine #17-23 (1989), Logan é pego de surpresa pelos ciborgues assassinos, liderados agora por Donald Pierce, ex-Clube do Inferno.

A capa mais icônica dos X-Men

Em meio a terríveis torturas que ele entende o que aconteceu com os X-Men, em uma história não-linear muito legal criada por Chris Claremont. Psylocke, tendo as visões terríveis da morte dos poucos X-Men restantes pelas mãos dos Carniceiros, convence a todos que a única fuga possível é o Portal do Destino.

Besty faz uma trapaça e usa seus poderes para dar uma ajudinha na escolha de Alison Blaire, Piotr Rasputin e Alex Summers nessa decisão difícil. Mas é o que ela faz, incluindo ela mesma, pouco antes dos Carniceiros surgirem.

Os X-Men e o Portal do Destino

O roteirista rascunha aqui algo que vai acompanhar Logan por um tempo: dois fantasmas mentais criados por ele, um de Carol Danvers e outro de Nick Fury.

UXM #252 é outra edição incrível, com desenhos de Rick Leonardi e arte-final de Kent Williams, que mostram Donald Pierce, Lady Letal e os Carniceiros atrás de Wolverine, que conseguiu escapar da cruz em forma de X graças a ajuda de uma garota, Jubileu, uma menina que será de fundamental importância a partir de agora.

Em Uncanny X-Men #253 (1989), Claremont começa a promover o retorno do vilão Rei das Sombras, no maior projeto que tinha para os X-Men. O misterioso e poder ser assume o controle do corpo do agente do FBI Jacob Reisz, e coloca um longo plano de vingança contra o Professor Charles Xavier e seus X-Men.

Com os heróis quase todos mortos, Claremont começa a trabalhar outros personagens, e Forge será peça principal dessas tramas.

O Rei das Sombras sempre quis controlar Tempestade, e foi essa intenção que fez Forge ter contato com o Rei das Sombras, quando o cheyenne estava em sondagens pelo Plano Astral.

Forge descobre que Tempestade ainda está viva

Forge é derrotado no encontro, mas descobre que Tempestade está viva — e, consequentemente, os outros X-Men também podem estar. Na mesma revista, descobrimos que de fato Ororo está viva, mas regrediu à forma adolescente (e ainda é invisível à sondagens eletrônicas, mas pelo visto místicas agora valem).

Começa a busca pelos X-Men mortos e desaparecidos

Forge é convocado por Valerie Cooper para ir com a Força Federal para a Ilha Muir, região da Escócia, onde tentariam proteger Moira MacTaggert, conforme mostrado nas edições de Uncanny X-Men #254-255 (1989).

Lá, uma equipe improvisada do que restou dos X-Men e associados, como Banshee/Sean Cassidy, Amanda Sefton (namorada de Noturno), Lorna Dane/Polaris (que não foi teleportada por Teleporter no retorno da Terra Selvagem, e que está manifestando outros poderes, como superforça) e alguns Morlocks sobreviventes de Massacre de Mutantes, mais a Força Federal, enfrentam os Carniceiros, que foram pra ilha matar qualquer um relacionado aos X-Men.

Temos aqui uma das capas mais icônicas dos X-Men do final dos anos 1980, quando os poucos que restaram tiveram que se unir para sobreviver.

Uma nova equipe de X-Men

Na luta, o ciborgue Racha-Crânio é destruído por Forge, mas Sina é morta pelo poderoso e louco Legião. Antes de ser morta, Sina salva a vida de Forge, e pede que ele cuide de Mística.

Muralha morre
Sina morre
Racha-Crânio morre

Depois da luta, Forge e Banshee formam uma parceria para realizar uma busca pelos X-Men mortos e perdidos. Essa fase é das mais legais já feitas por Chris Claremont, com a dupla rodando o mundo atrás dos heróis, em uma verdadeira world tour promovida pelo roteirista.

Forge e Banshee iniciam sua busca pelos X-Men

Assim, vemos na China um desdobramento da saga Atos de Vingança (1989), que ocorreu em todas as revistas da Marvel Comics na época, com uma guilda de vilões empenhados em derrotar os super-heróis, trocando os antagonistas para pegá-los de surpresa (Wolverine, nas aventuras de Archie Goodwin e John Byrne, enfrentou o Tubarão-Tigre, tradicional inimigo de Namor, O Príncipe Submarino).

No caso dos X-Men, Claremont faz o Tentáculo se apoderar de Psylocke, que aparece renascida e sem memórias nas mãos de Matsuo Tsurayba, um dos líderes da organização, uma das mais antigas ordens de assassinos do planeta, que cultuam o poderoso demônio Besta-Fera.

O Tentáculo foi criado por Frank Miller em sua clássica passagem pelo Demolidor, e apareceu pela 1ª vez em Daredevil #174, de 1981. Elektra até então era a maior “representante” da organização.

Jim Lee, 25 edições, 1989-1992 + 11 edições de X-Men (1991-1992)

Em UXM #256-258, Chris Claremont e Jim Lee fazem Betsy Bradocck se tornar uma ninja tão letal e poderosa quanto Elektra, mais ainda com um novo mood de seu talento mutante: uma adaga psíquica mortal.

 

É um projeto pessoal de Matsuo para o Mandarim, o perigoso lorde do crime chinês, tradicional inimigo do Homem de Ferro. Wolverine e Jubiue saíram da Austrália e foram para Hong Kong. Logan foi atrás de Rose, uma velha amiga, e por lá ele acabam trombando com Psylocke, que o derrota de surpresa. O Tentáculo e Logan eram velhos inimigos de longa data, e nada poderia deixar os vilões mais felizes do que botar as mãos em um de seus mais antigos inimigos.

Betsy Braddock é agora uma ninja letal

O mutante passa pelo mesmo processo de lavagem cerebral a que Psylocke foi submetida, mas Logan, talvez pelo estado mental extremamente fragilizado, escapa de ser dominado.

Até os fantasmas mentais dele de Carol Danvers e Nick Fury conseguem “lutar” contra os ninjas e mesmo Psylocke, que parece ter se livrado do controle mental também. O Tentáculo e o Mandarim é derrotado, e Wolverine, Psylocke e Jubileu continuam as buscas pelos X-Men perdidos e mortos.

Em Uncanny X-Men #259 (1990), Moira tenta fazer o Legião (temporariamente são) usar o poderoso equipamento de rastreio mental de mutantes Cérebro para encontrar os X-Men perdidos, e o Rei das Sombras acaba encontrando David, aumentando assim sua zona de influência.

Mais pistas a respeito do paradeiro de Tempestade

No refluxo mental que atinge a todos, mais uma vez Forge consegue perceber que Ororo está viva. Na mesma edição também ficamos sabendo a respeito do paradeiro de Colossus: ele renasceu como Peter Nicholas, um artista em SoHo, NY.

UXM #260 mostra o destino de Alison Blaire, que coincidentemente renasce perto de sua antiga mansão da época em que era cantora. Claremont retoma um antigo plot das revistaz própria de heroína, com um produtor de cinema obcecado pela cantora.

 

Alison Blaire retorna praticamente em casa

A edição seguinte é de novo com Wolverine, Psylocke e Jubileu, que fazem uma sessão de treinamento com os Tormentos, uma equipe de mercenários criada por Chris Claremont, liderados por Harry Malone, um velho conhecido de Logan e Nick Fury.

Em Uncanny X-Men #262-264 (1990), temos Forge, Banshee, Jean Grey (na época com o X-Factor) e Peter Nicholas enfrentando os Magistrados de Genosha e Morlocks renegados liderados por Masque. As artes são de Bill Jaaska.

As edições #263-264 são todas dedicadas à Forge, que vai ao resgate de Banshee e Jean Grey. Isso é intercalado com flashbacks do tempo do cheyenne no Vietnã. Em uma situação paralela nessas edições, temos Alexei Vazhin em um encontro com Valerie Cooper.

Claremont revela mais do passado de Forge, como quando fez um feitiço proibido durante a Guerra do Vietnã (que permitiu o acesso do Adversário ao nosso mundo)

 

Vazhin já tinha detectado as ações do Rei das Sombras e estava apreensivo sobre o alcance do poder do vilão, e queria saber o que a comunidade de super-heróis americanos sabia a respeito. A surpresa de Valerie Cooper em encontrar Alexei Vazhin é salutar, ainda mais na comparação que ela faz — “James Bond, Nick Fury e George Smiley em um só”.

Alexei quer saber mais das várias divisões e facções mutantes estabelecidas na América. Ele sabe que a questão não se trata mais sobre criminosos comuns, mas de forças políticas e militares que querem dominar o mundo.

Alexei, além de prever uma iminente guerra entre facções mutantes, já estava a par das maquinações do Rei das Sombras, e busca deter o vilão

Mas infelizmente, em Uncanny X-Men #265-266, vemos que Valerie Cooper já estava dominada pelo Rei das Sombras/Jacob Reisz. Aqui também o vilão cria os Farejadores, seres humanos escravos com níveis de perversidade extremos, que servem ao vilão como rastreadores assassinos. Eles são bem parecidos com aqueles que vimos nos flashbacks de Rachel Summers.

O Rei das Sombras domina Valerie Cooper

A pequena Ororo Munroe, ainda sem memórias de seu passado, leva uma vida de ladra em Nova Orleans, mas o Rei das Sombras a quer. A menina só sobrevive graças a outro misterioso ladrão, Gambit, na estreia dele do Universo Marvel em UXM #266. Em pouco tempo, os dois ladrões se tornam amigos inseparáveis. As artes aqui são de Bill Jaaska e Jim Lee.

O Rei das Sombras sempre mostrou uma preferência especial em querer dominar Tempestade
Gambit estreia na mitologia dos X-Men

Na saga Dias de um Futuro do Presente, de 1990, apresentada nas edições Fantastic Four Annual #23, New Mutants Annual #6, X-Factor Annual #5 e X-Men Annual #14, Forge e Banshee finalmente encontram alguns dos X-Men perdidos, em uma aventura épica dos X-Men, X-Factor, Novos Mutantes e Quarteto Fantástico, com ligações com a realidade distópica de Dias de um Futuro Esquecido.

A saga reúne o Quarteto Fantástico, Os Novos Mutantes e os X-Men

Temos também a primeira aparição de Ahab, líder dos Farejadores, que Chris Claremont já os tinha apresentado em UXM #189.

É nessa saga que Forge reencontra Tempestade, agora uma menina adolescente, muito diferente da mulher adulta que ama. Por um erro da Marvel, esse anual dos X-Men saiu antes de UXM #266, ocasionando que foi aqui a 1ª aparição verdadeira de Gambit.

Em UXM #268, temos mais uma edição clássica dos X-Men, com arte de Jim Lee. Ele já estava tão hypado que o editor Bob Harras começou a fazer concessões no roteiro para ele, portanto, Chris Claremont começa a perder muito do seu poder de coesão narrativa e storytelling aqui.

Mas a aventura é muito legal de qualquer maneira, muito por mérito de Claremont, que sabia manejar o pouco espaço que começou a ter. Estamos na época da Segunda Guerra Mundial, e Logan é um jovem andarilho, e faz uma inusitada parceria com o Capitão América para atacar uma nefasta aliança entre a Hidra, uma organização nazista liderada pelo Barão Von Strucker, e o Tentáculo, que tenta transformar a jovem Natasha Romanoff em sua mais nova assassina.

Acontece que a menina é ninguém menos que a Viúva Negra, a conhecida agente secreta que se tornou uma das maiores e mais importantes super-heroínas do Universo Marvel.

A edição é entrecortada com uma ação se passando no presente, com Logan, Psylocke e Jubileu ajudando a Viúva-Negra contra os Fenris, os filhos mutantes do Barão Von Strucker.

Toda essa situação com o Capitão e a Viúva com Wolverine na guerra aconteceu por pedido de Jim Lee, que queria desenhar os personagens. E Claremont teve que acomodar sua narrativa em cima disso.

Mesma situação vista em UXM #269, onde vemos Vampira saindo do Portal do Destino, quando foi puxada pelo Molde Mestre. Ela acaba saindo na cidade fantasma australiana e cai nas garras dos Carniceiros.

Junto com ela também surge Carol Danvers, ou algo que se assemelha à ela. O Portal parece ter dado vida às 2 mentes que encontrou no corpo da mutante, mas apenas uma parece ter força suficiente para manter essa vida. Vampira escapa dos Carniceiros e da Miss Marvel por um portal do Teleporter, e acaba caindo na Terra Selvagem. Danvers vai atrás dela, e quando a mutante está prestes a ser morta, ela é salva por Magneto.

Logo em seguida, em Uncanny X-Men #270-272 (1990), começa a saga Programa de Extermínio, onde os X-Men, X-Factor e Novos Mutantes são perseguidos pelos Magistrados de Genosha. Tempestade retorna à sua forma adulta aqui, o Destrutor é reencontrado como um Magistrado (!) e Forge e Banshee finalmente se integram à equipe dos X-Men.

A saga conta como Cameron Hodge, antigo relações públicas do X-Factor, ainda está vivo, mesmo depois de ter sido morto por Arcanjo. Ele tinha feito cum pacto com Nastirth durante a saga Inferno e se tornou uma aberração cibernética, tomando controle de Genosha.

Arte promocional de Programa de Extermínio

Os X-Men começam a ser reunidos aqui

Os Novos Mutantes, sem a supervisão de Xavier, ainda no espaço, e de Magneto, que tinha deixado os X-Men para ser parte do Clube do Inferno, agora eram liderados por Cable
Destrutor renasceu do Portal do Destino como um Magistrado

No fim da saga, vemos Jean Grey usando o Cérebro para tentar achar os outros X-Men perdidos, e ela tem um rápido encontro com o Rei das Sombras. Ela só não morre porque Psylocke a salva. Isso é mostrado em Uncanny X-Men #273 (1991), uma edição especial com um monte de outros desenhistas, inclusive com 3 páginas de John Byrne — dizem que foi a pedido de Jim Lee.

Em UXM #274, Claremont retoma o fio com Vampira na Terra Selvagem, onde Zala Dane pretendia absorver o poder de Magneto. Destaque para as participações especiais de Ka-Zar e Nick Fury. No fim, Magneto mata Zala Dane e deixa Vampira. Chris Claremont ou Jim Lee fazem aqui uma estranha aproximação romântica entre os dois, que iria dura por toda a mitologia dos X-Men.

Em Uncanny X-Men #275-277, Claremont mostra uma nova formação dos X-Men: Tempestade como líder, Wolverine, Gambit, Forge, Banshee, Jubileu e Psylocke. Ororo lidera esses X-Men ao espaço em busca do Professor Xavier, que estava com os Piratas Siderais e envolvido nas intrigas palacianas do Império Shiar desde os eventos de Uncanny X-Men #200 (1985).

Forge, Psylocke Gambit e Jubileu conhecem Charles Xavier — mas no caso, aqui ainda era um impostor Skrull se passando por ele. Apenas depois o verdadeiro Xavier é libertado
Xavier percebe as maquinações do Rei das Sombras

No fim das lutas, Xavier decide retornar para a Terra exatamente porque sentiu uma presença residual do Rei das Sombras em Tempestade.

Ela seria a última peça dos trabalhos de Chris Claremont na desmantelação e reunião total dos mutantes, iniciada em diversos eventos como Massacre de Mutantes, Queda de Mutantes e Inferno, além das mortes e renascimentos por conta do uso do Portal do Destino.

Em Uncanny X-Men #278, com roteiro de Chris Claremont, os X-Men decidem ir para a Ilha Muir se preparar para o combate contra o Rei das Sombras, enquanto que Xavier vai atrás do veículo oficial dos X-Men, o Pássaro Negro, na época, com a equipe Excalibur (que não participou da saga do Rei das Sombras, a despeito de serem formados por X-Men).

O Rei das Sombras, arte de Paul Smith

A aventura continua em Uncanny X-Men #279 (1991), a última edição dos Fabulosos X-Men escrita por Chris Claremont.

O Rei das Sombras controla Peter Nicholas/Colossus para tentar matar Xavier, que consegue contornar a situação e liberta seu aluno russo. Chris escreveu apenas parte dessa revista, cabendo ao roteirista Fabian Nicieza continuar. Em X-Factor #69 (1991), com roteiro de Nicieza e arte de Andy Kubert, temos aquela que é a parte final da Saga do Rei das Sombras.

O começo da revista mostra Xavier reunindo os x-men originais — o X-Factor — com a ajuda de Alexei Vazhin, além de autoridades americanas e soldados da SHIELD, para fazer uma força-tarefa e invadir a Ilha Muir para derrotar de uma vez o Rei das Sombras.

O professor Charles Xavier reencontra seus alunos, o X-Factor

O problema é que o agente do FBI Jacob Reisz e Valerie Cooper também estão com eles, deixando o Rei das Sombras à par de todos os planos, já que nem Xavier nem Jean sentem sua presença. Além disso, os X-Men que foram antes para a ilha já estão sendo derrotados e dominados mentalmente. Não fosse por Forge, que desenvolveu uma forma de bloquear a influência mental do vilão, tudo estaria perdido antes de começar.

Reisz se revela como o Rei das Sombras e tenta matar Xavier, e pede para que Valerie dê um tiro nele. Mas ela era na verdade Mística disfarçada, que mete um tiro na cabeça do agente. Com isso, o vilão passa integralmente para o Legião, que simplesmente explode a ilha Muir inteira.

A maioria dos X-Men, X-Factor e agentes da SHIELD ficam fora de combate. A situação fica tão crítica que Alexei Vazhin considera fazer um ataque nuclear na ilha para aniquilar qualquer possibilidade de sobrevivência do vilão.

 

Alexei Vazhin considera fazer um ataque nuclear na Ilha Muir para deter o vilão

Com muito custo, Forge consegue usar a adaga psíquica de Psylocke em Lorna Dane/Polaris, que era o nexo físico para o Rei das Sombras ficar em nosso mundo. Sem essa âncora, o Rei das Sombras é derrotado por Xavier no Plano Astral novamente.

A bem da verdade, o desfecho é bem apressado e mal-ajambrado, reflexo de decisões editoriais e escolhas criativas em cima de um trabalho não-finalizado originalmente pensado por Chris Claremont, que não pode concluir o que estava planejando há tempos.

A edição seguinte, X-Factor #70, escrita por Peter David, seria emblemática por ser o ponto zero para uma nova fase dos X-Men e do X-Factor. O número seguinte de X-Factor seria uma equipe totalmente reformulada, com mutantes a serviço do governo, liderados por Destrutor (e Forge mais pra frente), com a agente Valerie Cooper como elo com o governo (a Força Federal tinha sido desmantelada).

Já os X-Men teriam 2 revistas: a já clássica Uncanny X-Men e outra intitulada simplesmente X-Men, essa com desenhos de Jim Lee.

Arte promocional de X-Men #1

Em X-Men #1-3 (1991), temos a fatídica aventura de Claremont nos X-Men, com roteiros divididos com Jim Lee. Xavier reabre a Escola, os x-men originais retornam e se juntam aos outros, e agora temos 2 equipes de heróis: o Time Azul e o Time Dourado.

X-Men #1, um dos gibis mais vendidos de todos os tempos
X-Factor e os X-Men se juntam de novo na Escola Xavier
Agora todos são X-Men: equipes Azul e Dourada

Quando Magneto ressurge como ameaça mundial, com a reativação do Asteroide M e a primeira aparição dos Acólitos, mutantes que desejam servir o Mestre do Magnetismo, os X-Men precisam detê-lo.

Os X-Men prontos para deter qualquer ameaça
No caso, a ameaça agora é novamente X-Men. Detalhe para essa página para Matsuo Tsurayba se apoderando do Ômega Vermelho

Magneto, graças à Moira, consegue criar uma lavagem cerebral em metade dos X-Men

Infelizmente, as diferenças criativas de Chris Claremont com Bob Harras e Jim Lee eram irreversíveis. Jim era jovem e queria mais do que tudo desenhar os X-Men contra seus inimigos clássicos — Magneto, os Sentinelas, a turma toda. Bob Harras entendia que o lore dos X-Men era a escola: jovens tentando controlar e entender seus poderes. Tudo que Claremont já tinha feito. O roteirista queria, podia e devia fazer mais.

Mas agora estava relegado a preencher os diálogos de roteiros definidos por Jim Lee. Algo que já tinha passado com John Byrne. Mas agora a situação era com um artista com muito mais poder, mais o editor.

Jim e Bob ganharam. E o roteirista deixa em definitivo os mutantes.

Chris Claremont e Uncanny X-Men #300

Arte não-usada de Jim Lee para os X-Men

Chris Claremont retirou os X-Men da escola localizada em Westchester County, Nova York, e os reposicionou em Alcatraz, outback australiano, Ilha Muir (litoral escocês), Ásia (Hong Kong, Japão, Madripoor), promovendo uma world tour muito mais interessante de acompanhar.

Era esse o mood criativo que o roteirista queria fazer com os X-Men: super-heróis livres das amarras geográficas americanas, verdadeiros players ativo no mundo, longe das interferências (editoriais na verdade).

Capa de Marvel Age Annual #4, de 1988, com arte dos X-mutantes por Arthur Addams

Quando Uncanny X-Men se tornou bimensal, ajudou a popularizar ainda mais Marc Silvestri e Jim Lee, o que criou uma onda no fandom que privilegiava muito mais a arte do que o roteiro.

Claremont começou a perder sua influência natural nos roteiros em UXM #288 (aquela do Capitão América), sendo que ele tinha planos para seguir ao menos até a edição Uncanny X-Men #300.

Podemos traçar o início dos planos que desembocariam em UXM #300 a partir da UXM #256, com Logan e o Tentáculo. O fator de cura de Wolverine já estava falhando desde a crucificação (UXM #251), então, quando ele sofre a lavagem cerebral, ela na verdade teria funcionado, mas na condição de agente dormente, e não ativo full time.

Cena de UXM #258, com Logan sofrendo lavagem cerebral do Tentáculo

Em seus planos, Claremont faria os X-Men irem atrás dos Carniceiros após a Saga da Ilha Muir (que contaria com a participação do Excalibur, reunindo novamente Lince Negra, Noturno e Rachel Summers aos X-Men, e com Colossus como principal hospedeiro do vilão) onde a Lady Letal mataria Wolverine (!), arrancando seu coração (!!).

O mutante ficaria um ano fora dos gibis, até um apoteótico retorno como vilão, um assassino a serviço do Tentáculo. Ele reviveria graçao ao seu fator de cura, que conseguiria recriar o coração, mas mantendo o corpo e mente em estado catatônico. O seu corpo tanbém começaria a expulsar o adamantium.

Em uma luta contra os X-Men, planejada para Uncanny X-Men #294 (200 edições comemorativas de X-Men), Wolverine retornaria para combater seus amigos. Colossus iria arrancar o resto do adamantium, e com muito custo, em uma batalha mental interna, Logan iria conseguir superar a lavagem cerebral do Tentáculo.

O corpo de Wolverine iria criar garras naturais e até mesmo um reforço no esqueleto. Além disso, saberíamos que de fato Logan seria filho de Dentes de Sabre. Sua mãe era Seraph, a dona do Bar Princesa durante a Segunda Guerra Mundial, e que é na verdade um anjo ~~ serafim ~~. Sim, do Céu.

Chris Claremont e Jim Lee chegaram a mostrar algo disso em 2 edições: em UXM #257 (1989), em Hong Kong, na casa de Rose (que também é um escritório da agência de espionagem Laudau, Luckman e Lake, que Chris apresentou em Wolverine #5, de 1988), Jubileu vê uma foto de Logan e Rose mais jovens e se pergunta onde os dois estavam, “um cenário Blade Runner” segundo ela, mas que seria uma cidade celestial.

A misteriosa cidade “Blade Runner” no qual Wolverine está

E em UXM#268, na clássica aventura de Logan, Capitão América e a jovem Natasha Romanoff, vemos Seraph e Logan interagindo no bar (junto com o líder nazista da Hidra, Barão Von Strucker). Isso explicaria o tamanho de Logan (Seraph era baixinha) e sua longevidade, para além da mutação herdada de Dentes de Sabre.

Após UXM #294, tudo seguiria para o verdadeiro ápice que Chris Claremont planejou para Uncanny X-Men #300, uma batalha sem precedentes entre o Rei das Sombras, Carniceiros e Clube do Inferno contra os X-mutantes na Ilha Muir.

Donald Pierce estaria sob influência do Rei das Sombras, bem como grande parte do Clube do Inferno, organização influenciada pelo próprio vilão centenas de anos atrás.

O Rei das Sombras era tão perigoso que até mesmo o Senhor Sinistro o temia.

Na concepção original de Claremont, Sinistro era a manifestação adulta de um mutante secular que entrou em contato com um Scott Summers ainda criança, em um orfanato onde ambos estavam.

Ele próprio tinha a aparência de uma criança, por isso a necessidade de ter o Sinistro como seu clone-autômato, afinal, como comandar um bando de assassinos loucos como os Carrascos tendo a aparência de um guri? Ele seria o criador de Gambit também, outro clone-autômato seu, pensado para se infiltrar nos X-Men para se esconder do Rei das Sombras, que por alguma razão desejava seu maquinário de engenharia genética e clonagem.

O misterioso Gambit teria sua origem revelada por Chris Claremont

Mística era outro joguete na mão do Rei das Sombras. Claremont estabeleceria de fato que Mística engravidou Irene Adler transformada em homem, e teriam Noturno. As duas seriam bastante velhas, se conhecendo no final dos anos 1800 e chegando a lutar na Segunda Guerra Mundial ao lado de Wolverine.

Mística teria contato com o Rei das Sombras tempos depois e sua sanidade seria seriamente abalada, inclusive sendo forçada a abandonar o bebê Noturno, ocasião em que se torna uma terrorista.

Mística, arte de Jim Lee

O Rei das Sombras queria uma guerra total entre humanos e mutantes, e na grande batalha que se seguiria, Xavier morreria e Magneto assumiria a Escola (de novo), fechando em definitivo o loop iniciado em UXM #200.

Nos planos de Claremont, o Rei das Sombras também queria acesso ao Teleporter, para ter um canal direto ao Dreamworld, um lugar onírico astral fonte de imenso poder psíquico para o vilão.

O próprio Tentáculo estaria sob influência do Rei das Sombras, com ambos usando o Wolverine agente assassino como chamariz para que Jean Grey viesse resgatá-lo. Ambos queriam o poder da Fênix, algo que ia de encontro a planos ainda maiores do escritor.

Jean Grey, arte de Marc Silvestri

O épico de Chris Claremont alcançaria até o fim dos tempos, com Jean Grey sendo a Fênix, ficando com Ciclope até ele morrer, e Logan como Wolverine, ficando com Mariko até ela morrer. E seriam Jean e Logan, vivos até o fim dos tempos, que dariam nova vida ao universo em seu fatídico fim.

Wolverine, arte de Marc Silvestri. O que poderia ter sido do herói caso Chris Claremont ficasse nos roteiros?

Há muitos artigos de fãs pela internet que compilam entrevistas de Chris Claremont a respeito de todos esses planos. Você pode ler aqui e aqui. Reunimos abaixo parte de um resumo de como poderiam ocorrer os planos originais de Chris Claremont para os X-Men.

X-Men #1 (1991): Ciclope e Tempestade treinam novamente para determinar as dinâmicas das novas equipes The X-Men, formada por Ciclope, Wolverine, Vampira Psylocke, Fera e Gambit, e The Uncanny X-Men, com Tempestade, Jean Grey, Arcanjo, Homem de Gelo, Colossus e Bishop, todos ajudados de perto por Banshee, Forge e o Professor X. Magneto debate com Xavier suas filosofias a respeito da sobrevivência dos mutantes.

X-Men #2 (1991): Wolverine e os X-Men enfrentam Ômega Vermelho e o Tentáculo

Arte de um preview do que viria depois de X-Men #1, desenhos de Jim Lee. Em destaque, Matsuo Tsurayba, do Tentáculo, e o Ômega Vermelho, que Chris Claremont não chegou a escrever

X-Men #3 (1991): Wolverine morre nas mãos de Lady Letal

X-Men #5 (1992): Gambit se revela um traidor trabalhando para o Sr. Sinistro

Uncanny X-Men #281-283 (1991) – Estreia os Wild Boys, pretendentes muitos mais cruéis ao Clube do Inferno

Uncanny X-Men #286-289 (1992) – Wolverine é ressuscitado e transformado em um assassino pelo Tentáculo

Uncanny X-Men #290-293 (1992) – Jean Grey começa a procurar por Wolverine; os X-Men entram em confronto com ele; Colossus destrói suas garras; o Tentáculo dá novas garras artificiais para Logan; ele expurga o resto de adamantium que ainda tem e novas garras naturais crescem; o triângulo amoroso de Wolverine, Ciclope e Jean vem à tona

Uncanny X-Men #294 (1992) – Wolverine retorna aos X-Men (edição comemorativa de número 200)

Uncanny X-Men #300 (1993) – Batalha final contra o Rei das Sombras. Começa a guerra de mutantes e humanos, Xavier morre e Magneto assume a Escola X

Algo de tudo isso chegou a ser considerado de fato pela Marvel, conforme pode ser visto em um único documento publicado em Marvel Age Preview #1 (1990), que faz referência a um evento chamado Mutant Wars.

A revista de previews, matérias e notícias dos gibis da Marvel dizia que o Clube do Inferno, os Carrascos, as forças de Apocalipse, os X-Men, X-Factor e Novos Mutantes iriam bater de frente com o Rei das Sombras, sob a forma de Legião.

O evento afetaria de modo profundo todos os mutantes do Universo Marvel por um longo tempo, e muitos morreriam no meio do caminho. Cada facção mutante iria lutar por si mesma para sobreviver, mas antes de tudo, os X-Men precisavam ser reunidos novamente.

Mutant Wars passaria por um arco de 3 meses nas revistas dos X-Men, X-Factor, Novos Mutantes e Excalibur, a saber: UXM #267-269, New Mutants #95-97, Excalibur #28-30 e X-Factor #60-62.

Chris Claremont já estava desenvolvendo esse conceito de guerra e facções desde a saga Massacre de Mutantes.

Em UXM #210, Claremont já falava de um conflito entre facções mutantes, na ocasião do convite de Sebastian Shaw a Magneto para ser parte do Clube do Inferno
Em UXM #219 Magneto fala para Destrutor que a guerra já tinha começado em Massacre de Mutantes
Em New Mutants #75, escrito por Louise Simonson, com arte de John Byrne., vemos Magneto e Shaw lutando e discutindo sobre o futuro. Ambos já vêem as facções prontas e a guerra mais perto do que nunca
Claremont continua desenvolvendo politicamente a análise e construção da guerra em UXM #263, por meio de Alexei Vazhin, que sabe que não importa qual facção ganhe, a humanidade irá perder

Por algum motivo nunca revelado, a Marvel impediu qualquer plano disso acontecer, e o que restou desse planejamento foi diluído nas sagas Programa de Extermínio e Saga da Ilha Muir.

Uma pena, pois tudo isso tinha um bom potencial para ser uma grande saga para mudar o status quo mutante no Universo Marvel.

A Uncanny X-Men #300 oficial da Marvel, uma edição pouco inspirada, escrita por Scott Lobdell
Arte de Joe Quesada para Marvel Age #122 para o aniversário de 30 anos dos X-Men

X-Men Pós-Chris Claremont

Uma das artes mais icônicas dos X-Men de Jim Lee

A divisão de Equipe Azul e Equipe Dourada permaneceu por um longo tempo nos X-Men. Jim Lee continuou nos roteiros e contou com a ajuda de, ora vejam, John Byrne, que agora se viu reservado ao papel que ele próprio tinha dado a Chris Claremont: preencher os diálogos de cenas construídas por outros.

Jim Lee, um artista de impacto visual e design marcante, estava longe do poder de síntese e narrativa quadrinística de um John Byrne. E ele frequentemente atrasava as páginas. Mesma situação de Whilce Portacio. O metódo não deu bom.

Byrne escreveu os X-Men de novo em Uncanny X-Men #281 a 286, mas ele já escrevia a revista do Homem de Ferro, além de escrever e desenhar as revistas de Namor e Mulher-Hulk. Ao cobrar mais disciplina em cima dos atrasos constantes de Lee e Portacio, falou com o editor-chefe Bob Harras para tentar ajustar o cronograma. Ou que ele mesmo começasse a escrever os roteiros. Harras fez o mais fácil: demitiu Byrne.

E contratou um novo roteirista que trabalhasse nesse ritmo. É assim que temos Scott Lobdell entrando para os X-Men, a partir de UXM#287, sendo creditado totalmente a partir do UXM#289.

Com Scott Lobdell, todos os vícios de grandes arcos — agora megassagas megaligadas — e moods de novelas melodramáticas e exageros de romance foram multiplicados por X — em todas as revistas derivadas inclusive, como X-Factor, Excalibur, X-Force e outras.

A Canção do Carrasco foi uma megassaga que envolveu os X-títulos por meses no outono de 1992, que revelou a origem de Cable (era o Nathan Christopher Summers do futuro) e que resultou diretamente no Vírus Legado, uma praga que perdurou no Universo Marvel por toda a década noventista e até mesmo no começo de 2000.

Atrações Fatais foi a megassaga de 1993, que trouxe uma terrível batalha contra Magneto, onde o vilão arranca o adamantium dos ossos de Wolverine; seguida de Aliança Falange, de 1994, que trouxe a ameaça de vilões infectados com o virus tecnorgânico alienígena da raça Falange (Steven Lang retornou aqui), e que também promoveu a estreia da Geração X, os “Novos Mutantes” dos anos 90; em 1995, tivemos a Era do Apocalipse, que revolucionou até editorialmente os títulos X — revistas como Uncanny X-Men e Wolverine se tornaram Astonishing X-Men e Weapon X por exemplo.

Lobdell ficou em X-Men até o UXM#350 (1997), quando foi substituído por Steven T. Seagle e Joe Kelly, iniciando uma dança de cadeiras terrível para os roteiros X, que demoraria anos a ficarem estavéis e interessantes.

Editores pouco habilidosos e pressões comerciais vindas de diferentes braços da empresa Marvel Comics — que cada vez menos era quadrinhos e era muito mais entretenimento licenciado — colaboraram para o cenário de pouca criatividade.

Seagle ficou até UXM#366 (1999), quando o desenhista Alan Davis assumiu os roteiros de X-Men. Dono de um dos grandes traços dos quadrinhos, o inglês é um artista de mão cheia, mas de roteiro nem tanto.

Por pressão dos editores, juntou peças deixadas anteriormente por outros roteiristas e desenvolveu a pouco inspirada Saga dos Doze em UXM#370-375. Na trama, o vilão Apocalipse junta 12 mutantes (os tais dos Doze do Molde Mestre), e decide usar a força deles para destruir a realidade (ou algo assim). Ciclope dá a sua vida para impedir o vilão, que também acaba morto.

É nesse cenário que Chris Claremont retorna aos X-Men.

E era melhor que nem tivesse tentado. Na verdade, Chris Claremont estava de volta à Marvel Comics desde 1998. Ele escrevia o título do Quarteto Fantástico, em um run pouco criativo, com desenhos de Salvador Larroca (que se tornaria seu desenhista favorito). Ele também escreveu um arco de Wolverine na revista própria do baixinho (#125-128, 1998), até que no ano 2000, a Marvel promoveu o evento Revolution nos X-Men, que trouxe Chris Claremont de volta ao comando dos X-Men.

O pobre retorno de Chris Claremont aos X-Men

Não foi bom. Claremont não acompanhou as diversas tendências da indústria, e seu estilo verborrágico e lento, somado a uma arte pasteurizada do impacto visual que a Image Comics promoveu nos anos 90, entregou um material datado e de design pouco chamativo. Ele começou a escrever em Uncanny X-Men #381 e X-Men #100, mas não avançou muito.

Claremont volta a usar Alexei Vazhin nas histórias dos X-Men

E ele acabou por ganhar um novo título, X-Treme X-Men, com arte de Larroca. Aqui o trabalho de Claremont ganhou um pouco mais de qualidade, oferecendo novas ideias para o status mutante do Universo Marvel, como a busca de X-Men “renegados” pelos diários perdidos de Sina e a implementação de uma “polícia mutante”, sancionados pelas autoridades (quais?) para prender mutantes criminosos.

O retorno de Chris Claremont também sofreu com uma tentativa canhestra da Marvel em reformatar os mutantes. Deixaram de lado o logo clássico criado por Jim Steranko e tentaram pegar carona no filme dos X-Men da Fox, mas com designs ainda lembrando demais os coloridos super-heróis.

Chris se manteve irredutível em certas coisas, como ignorar por completo o que tinham feito com Kitty Pryde, e a escreveu como se ainda fosse menor de idade (e não uma moça com 20 e poucos anos). Ele ainda pulou 6 meses na cronologia e nunca a explicou. Criou novos inimigos para os mutantes, como os Neos, que não alcançaram força suficiente para serem interessantes.

Apenas a vinda de Grant Morrison, um escritor superstar da DC Comics, dono de algumas das maiores obras dos quadrinhos americanos, como o Homem-Animal, Patrulha do Destino, Os Invisíveis e outros, trouxe a imagética e narrativa cinematográfica do filme para as HQs na forma de um novo título, o New X-Men.

Sua fase se tornaria um dos grandes marcos da mitologia mutante, aprofundando conceitos como a segunda mutação, drogas, humanos tentando evoluir na marra, criação de personagens icônicos — Pó, Quentin Quire, Irmãs Cuco, Cassandra Nova, Xorn e muitos outros — em aventuras divertidas e inovadoras — o Império Shiar ser salvo por um bando de mutantes de refugo ao melhor estilo Morlocks é sensacional.

O conceito dos filmes, mais toda a pirada de sempre da pegada quadrinística de Grant Morrison, funcionou muito bem em New X-Men
Dan Green volta na fase Grant Morrison dos X-Men
Marc Silvestri retorna para o arco final de Grant Morrison

Uma doença cardíaca forçou Claremont a encurtar seus planos para o que planejava para outras duas revistas que escrevia, Exilados e GeNext (mutantes em um futuro alternativo), seus últimos trabalhos nesse run dos anos 2000. Os roteiristas Tony Bedard e Frank Tieri (argh!) continuaram as revistas. Chris se recuperou no ano seguinte, e veio com New Excalibur, que também não teve vida longa.

Lobdell também fez um breve retorno em 2001, e os escritores Joe Casey e Chuck Austen tiveram a chance de fazer os X-Men também. Em 2004, um novo relançamento da linha de revistas mutantes: X-Men Reload, ainda com as propostas apresentadas por Grant Morrison.

Uma das piores fases dos X-Men é a com roteiros de Austen

Chris Claremont retornou em UXM#444 e ficou até o UXM#473. Sua história final envolve Rachel Grey (ela deixou o sobrenome Summers de lado, pois desaprovava o envolvimento de Ciclope com Emma Frost, um casal criado por Morrison) no final da saga Dizimação, que por sua vez foi consequência de Dinastia M, onde a Feiticeira Escarlate eliminou praticamente toda a raça mutante, retirando os poderes de todos deles — apenas 198 mantiveram.

Quem tomou o lugar de Claremont foi Ed Brubaker, vindo diretamente do enorme sucesso de público e crítica do Capitão América e HQs independentes de temática policial e de crimes. Ele escreveu 12 números de uma nova space opera dos X-Men, envolvendo o Império Shiar e Gabriel Summers, o Vulcano, o terceiro irmão perdido da família, que o escritor introduziu em X-Men: Deadly Genesis (2006), minisserie especial que é uma prequel de Giant Size X-Men de 1975.

Arte de Marc Silvestri para a primeira capa de Deadly Genesis

A megassaga seguinte foi Complexo de Messias, marcando o primeiro nascimento de um mutante após os eventos de Dizimação, a bebê Hope (depois de adotada por Cable, assume o sobrenome Summers). Matt Fraction assume em UXM #500 e desloca os mutantes para a cidade de São Francisco, e posteriormente para a ilha de Utopia.

Cable e Hope Summers

É nessa época que Norman Osborn se torna o “novo Nick Fury” do Universo Marvel, e como não poderia deixar de ser, dedica especial atenção aos mutantes. Ele chega até a criar uma equipe própria, os Dark X-Men.

Os Vingadores Sombrios e os X-Men, arte de Marc Silvestri

Em 2006, o roteirista Mike Carey assumiu a revista X-Men a partir da edição #188. Depois de 20 edições, a revista muda o nome para X-Men Legacy no #208, e ele continua por mais 53 edições dos X-Men até 2012, se tornando o segundo roteirista com mais trabalhos nos X-Men, logo depois de Chris Claremont.

O roteirista (e jornalista especializado em games) Kieron Gillen assume UXM #531 e faz um grande especial chamado Cisma, que põe em lados opostos Wolverine e Ciclope, e com eles todos os X-Men. Logan retorna a Westchester e reabre a escola, agora chamada Escola Jean Grey, enquanto que Ciclope monta sua Equipe de Extinção, que busca eliminar todas as ameaças possíveis aos mutantes antes deles acontecerem.

A Marvel decide promover um megacrossover em 2012, chamado X-Men vs. Vingadores, com derrotas significativas para os mutantes. Ciclope, dominado pela Força Fênix, mata o Professor Xavier. Em 2013, mais um evento, o Marvel NOW!, que entrega um novo volume do título de Uncanny X-Men, além de outro chamado All New X-Men, que trazia os X-Men originais, da época de Lee e Kirby, para o presente, todos escritos por Brian Michael Bendis. As 36 edições de cada título somadas na cabeça da Marvel chegou na conta de Uncanny X-Men #600.

Ciclope e Maria Hill, diretora da SHIELD

A Marvel veio em 2015 com o evento All-New, All-Different Marvel, com o relançamento de Uncanny X-Men, escrita por Cullen Bunn, e Extraordinary X-Men, de Jeff Lemire. Cicolpe morre de M-Pox, a doença que acomete mutantes expostos às Névoas Terrígenas, dos Inumanos, raça de superseres criados como supersoldados pela raça alien Kree e que conviveram escondidos da humanidade centenas de anos atrás, desenvolvendo uma sociedade própria.

A Marvel, desde 2009 como subsidiária da Disney, tentando anular a enorme popularidade da onda cinematográfica dos filmes dos X-Men, da Fox, estúdio que lucra com a franquia sozinho nas telonas, tentou elevar a importância e destaque dos Inumanos, outra equipe de superseres diversos, sem sucesso algum.

X-Men, arte de Clay Mann

Os X-Men eram só ladeira abaixo, com o último tombo em 2018, quando tivemos X-Men: Disassembled, em histórias pouco criativas (com arte de Salvador Larroca e Greg Land).

Até que a Marvel realmente acordou.

A editora cancelou todos os títulos X e promoveu em 2019 apenas 2 minisséries interligadas: House of X/Powers of X, criada pelo roteirista Jonathan Hickman, que fez mais do que revolucionar o mundo mutante: ele criou o magnum opus dos X-Men para o século 21 de fato.

Os X-Men agora eram uma potência a ser respeitada e temida a partir de Krakoa, a ilha-nação viva mutante, o mais novo país do mundo. Todos os mutantes, heróis ou vilões, eram bem vindos nesta nova terra prometida, localizada no Oceano Atlântico se seguissem sua leis: respeitar Krakoa, não matar humanos e fazer mais mutantes.

Hickman criou uma das mais poderosas ficções científicas dos quadrinhos, com geopolítica, ação, aventura, romance, espionagem, desejo, sexo e até religião — os mutantes driblaram a morte, podendo ressuscitar seus mortos por meio de um processo envolvendo outros 5 mutantes.

Arte promocional de House of X / Powers of X
Os X-Men em seu ápice criativo
Uma nova leva de vilões para essa nova era. Nimrod é a peça chave

Parte central do plot geral é a iminência criação de Nimrod nos dias atuais, e de como isso leva ao apocalipse humano-mutante com a adição inevitável da inteligência artificial, que chega a acontecer em algum momento ou outro.

Depois da saga, várias revistas foram lançadas, algumas escritas pelo próprio Hickman, como X-Men e New Mutants. HoX/PoX foi seguida de várias outras fases, como Dawn of X, Reign of X, Inferno (a despedida de Hickman como head desse projeto grandioso) e Destiny of X.

A saga Inferno revela muitos segredos a respeito da construção dessa nova fase, dos heróis e vilões
Magneto vs. Nimrod e Sentinela Ômega
Destiny of X, a saga seguinte de Inferno

A mais nova saga que se aproxima é Fall of X, que remete visualmente a Queda de Mutantes, que, como dito antes, foi o pontapé para a melhor fase dos mutantes nos quadrinhos.

Ficamos na expectativa do que vem por aí!

/ X-MEN FOREVER. Chris Claremont retornou aos X-Men no final da década de 2000 pegan a continuidade regular do Universo Marvel, mas de maio de 2009 a março de 2011, ele escreveu 38 edições de um título chamado X-Men Forever (dividida em 2 fases). A revista continua do ponto narrativo que Claremont deixou os X-Men nos anos 90, em especial depois das 3 primeiras edições de X-Men.

Mas não espere nada do que foi abordado com os planos que ele desenvolveu na época. Passado 18 anos, Claremont desenvolveu outra coisa na sua cabeça, e não corresponde exatamente a algo memorável. Dentre as várias e polêmicas mudanças, ele faz de Nick Fury, ex-líder da SHIELD, a ligação oficial da equipe com o governo, muda o nome e design de Gambit (é Remy Picard aqui), mata Wolverine (!), torna Tempestade uma vilã (!!), faz Fênix se envolver com Fera (!!!), torna Dentes de Sabre cego e do bem (???), entre outras claremontices. A arte da maioria das edições é de Tom Grummet.

/ X-MEN HIDDEN YEARS. John Byrne também retornou aos X-Men (curiosamente pouco depois que Claremont retornou). E ele escreveu e desenhou X-Men Hidden Years (1999-2001), um título que continuava as histórias dos X-Men no ponto que a revista foi descontinuada lá no final dos anos 1960, com aventuras que seguiam o ponto narrativo deixado em Uncanny X-Men #66. Inclusive John conseguiu que o mesmo arte-finalista de Neal Adams trabalhasse com ele, o artista Tom Palmer.

Byrne escreveu 22 edições da revista, que foi cancelada pela editora. A razão? Muitas e até hoje não-sabida: baixas vendas, temperamento do autor ou decisão editorial da linha de títulos X, quem sabe?

/ X-MEN ELSEWHEN. John Byrne começou a publicar em 2019 na sua página pessoal Byrne Robotics uma série de páginas em que continua as aventuras dos X-Men pós-Saga da Fênix Negra. Obviamente, é um material à parte da Marvel Comics, mas é uma oportunidade única e rica de ter a visão de um dos maiores criadores dos X-Men, e sua proposta de como as histórias poderiam terem sido.

Byrne particularmente trabalha muito com Noturno, Magneto e Wolverine, e faz o baixinho passar por uma via crucis terrível, revelando até mesmo a origem dele. Claro, diversos outros personagens do Universo Marvel fazem participação especial aqui, como a galera do Quarteto Fantástico e Homem-Aranha. Já foram publicados 31 números, com o último sendo lançado no final de 2022.

Byrne começa exatamente depois de X-Men – The Untold Story, tal qual como planejou o fim da saga com Claremont
Wolverine tem sua origem revelada por John Byrne

/ X-MEN E NOVOS TITÃS. Chris Claremont também foi o escritor de um dos melhores crossovers entre a Marvel e DC Comics, a história que juntou os X-Men com os Novos Titãs: Marvel and DC Present featuring The Uncanny X-Men and The New Teen Titans. Com arte de Walt Simonson, vemos as duas equipes tendo que enfrentar o temível Darkseid, que recussita a Fênix Negra, para conquistar todo o universo. A arte impactante de Walt foi perfeita, e mostrou pela primeira vez a Muralha, o limite do universo conhecido na DC Comics, e um dos melhores combates dos quadrinhos de super-heróis: Wolverine vs. Exterminador.

/ LARRY HAMA. Depois da primeira fase de Chris Claremont com desenhos de John Buscema, a série solo de Wolverine ficou sem equipe criativa oficial por várias edições. Mas tudo mudou quando Larry Hama a assumiu, na edição #31 (1990). Larry era veterano do Vietnã, e além de escritor, também editava, desenhava e fazia arte-final (!). Ele vinha diretamente do sucesso dos quadrinhos baseados em Comandos em Ação, a série G.I. Joe, licenciados pela Marvel (a qual comandou por anos). Hama, junto com o desenhista Marc Silvestri (que deixou os X-Men de Claremont para assumir a revista do baixinho), transformou a HQ em uma aventura divertida sem precedentes, um dos grandes sucesso de venda da Marvel dos anos 90. Era ele quem deveria se virar com o Wolverine morto se os planos de Claremont fossem em frente.

O Wolverine que sabia aproveitar a vida, nas mãos de Larry Hama

/ INIMIGO DO ESTADO. O roteirista Mark Millar e John Romita Jr. fizeram um run de 12 edições de Wolverine entre 2004 e 2006, e parte da trama de Logan se tornar um assassino do Tentáculo, que Chris Claremont usaria, aparece aqui. O arco Inimigo de Estado, de Wolverine #20-31, jogou Wolverine num blockbuster de aventura da qual participou boa parte do Universo Marvel.

Logan como agente assassino do Tentáculo, que se aliou à Hidra, comandada pelo Barão Von Strucker

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