Um Conto do Destino conta a história de um Colin Farrel semi-imortal, que cavalga um Pégaso pela Nova York dos anos 1910, e com um Will Smith como Lúcifer.
Não conhece, né?
É um dos muitos filmes acometidos pelo que se convencionou chamar nos cinemas dos anos 2010 de “flopado” — termo em inglês, relacionado à programação de computadores, que com o advento das redes sociais na década passada, se popularizou para referenciar situações, produtos, atitudes — e até pessoas — em contexto de fracasso.
E, infelizmente, Um Conto do Destino, mesmo com um elenco oscarizado, dirigido por Akiva Goldsman, responsável por grandes filmes nos cinemas, e dono de um Oscar de Melhor Roteiro Adaptado (por Uma Mente Brilhante, que deu um também para Jennifer Connelly), não conseguiu furar o muro das expectativas e entregar um bom filme.
No longa acompanhamos a jornada de amor de um casal através dos anos, que supera as leis mundanas para além do tempo e os limites do fantástico.
Akiva Goldsman leu o livro Winter’s Tale, escrito em 1983 por Mark Helprin, e ficou em perseguição dele nos corredores cinematográficos por quase 30 anos, com a intenção de transformar o romance em filme.
Quando os direitos retornaram ao autor, depois de décadas circulando por Hollywood, Akiva teve sua chance.
A exemplo do filme anterior de Jennifer Connelly, Ligados pelo Amor, Um Conto do Destino é um drama romântico.
O filme foi coproduzido, dirigido e escrito por Akiva Goldsman, que trouxe um line-up estelar no elenco e produção.
A trilha sonora é do compositor Hans Zimmer em parceria com Rupert Gregson-Williams. O filme é estrelado por Colin Farrell, Jessica Brown Findlay, Jennifer Connelly, William Hurt, Eva Marie Saint, Russell Crowe e Will Smith.
Um grande exemplo do velho ditado: “Cuidado com o que deseja; você pode conseguir“.
Um Conto do Destino
(Winter’s Tale, 2014,
de Akiva Goldsman)
Nova York, 2014
Nova York, 1895
Nova York, 1916
A trama de Um Conto do Destino (a tradução literal seria mais poética e com apelo: um conto de inverno) se passa nesses três períodos de tempo, com foco especial em 1916, quando Peter Lake (Colin Farrell), desejoso de escapar de sua vida de crimes na gangue de Pearly Soames (Russell Crowe).
A narrativa perpassa essa situação com a lastimável condição médica de Beverly Penn (Jessica Brown Findlay), que improvavelmente (em uma cena bem mal-ajambrada) se apaixonam.
A jornada de Peter para tentar ficar com Beverly e escapar de seu destino pelas mãos do maquiavélico Perly, que responde a uma autoridade tão maior que é simplesmente Satã (Will Smith, tratado pela alcunha de Juiz no longa) nos faz criar ansiedade pelo desfecho.
Mas, assim como a construção da relação de Peter e Beverly é bem rápida, será em ocasiões nada convencionais que eles se ligarão.
O pulo do cavalo no começo do filme já entrega que temos algo fantástico em vista em Um Conto do Destino, e quando vemos Pearly com sangue subindo à cabeça — literalmente –, entendemos que estamos em uma Nova York que se dobra à força do roteiro.
Isaac Penn (William Hurt) é o pai de Beverly, e aceita Peter com ressalvas, assim como a jovem Willa Penn (Mckayla Twiggs), irmãzinha da moça, que se mostraria indispensável futuramente.
spoilers
Os clichês apresentados não permitem ambiguidades. Em 1895, é mostrado um jovem casal imigrante, que é impedido de adentrar Manhattan por terem contraído tuberculose.
Quando seu filho pequeno é impedido de entrar no país sem eles, o casal o coloca em um pequeno barco chamado “City of Justice” — cidade da justiça, em português.
O neném era Peter Lake, então é claro que ele estaria sob esse signo justiceiro até o fim de sua vida. Depois que conseguiu escapar do demoníaco Pearly, Peter planeja mudar-se para a Flórida e retornar no verão, mas o cavalo mágico que o salvou, o encoraja a assaltar pela última vez, agora uma mansão.
É a mansão habitada por Bervely Penn, uma jovem acometida por, claro, tuberculose. Então, também é claro que o ladrão será perdoado mesmo em flagrante, e que o amor nasce nos dois no mesmo momento.
O ambiente do filme é tão mágico, e a situação de Beverly é tão singular, que podemos achar que se trata de uma anja. Com efeito, por algum motivo, nem essa Nova York fantástica ela pode deixar para viver seu amor impossível com o ladrão órfão Peter Lake.
Beverly morre depois de fazer amor na cama de princesa que sua irmã acha que cura todos os males. Nós, que estamos assistindo, quase que acreditamos nisso também. Por fim, a solução encontrada para o desfecho é rasa, e também não acreditamos quando ela finalmente acontece.
Um Conto de Busca
Em 2010, enquanto escrevia o roteiro, Akiva ficou viúvo, quando sua esposa, a produtora Rebecca Spikings-Goldsman, morreu repentinamente. “É um conto de fadas para um certo tipo de adulto”, explicou o roteirista, segundo uma reportagem do Omelete na época.
“Uma história para quem, como ele, precisou lidar com a morte de alguém querido. Esse caráter peculiar, contudo, condicionado pela natureza complexa do realismo fantástico do livro de Helprin, precisava de um certo distanciamento para funcionar no cinema. A dor real impossibilitou o autoquestionamento necessário para tornar o universo mítico verossímil e seus personagens tridimensionais“, complementa o texto do crítico Marcelo Hessel.
Um Conto do Destino estava há anos na mira de muitos diretores consagrados do cinema, e todos desejavam fazer a adaptação. Steven Spielberg já o queria fazê-lo em 1983, pois logo quando o livro foi lançado, ele adquiriu os direitos de filmagens.
Martin Scorsese também se interessou, mas depois que tomou mais contato com a obra, achou que era “infilmável“. Quando os direitos saíram de Spielberg e retornaram ao autor, foi Akiva Goldsman quem colocou as mãos nele, e o experimentou em sua primeira empreitada na cadeira de direção.
Produzido pela Warner Bros., Um Conto do Destino custou US$ 60 milhões e arrecadou US$ 31 milhões.
Depois desse filme, Akiva ainda apareceu nos cinemas nos créditos de roteiro de Insurgente, lançado em 2015. Não fez mais nada desde então.
A carreira de Akiva no cinema é bem variada, do sublime ao ridículo. Ele começou na indústria em roteiros.
E escreveu grandes filmes dos anos 90, como O Cliente (1994), Batman Eternamente (1995), Tempo de Matar e Batman e Robin (ambos de 1996, e indicados ao Framboesa de Ouro, o Oscar dos filmes ruins), Da Magia à Sedução (1997) e Do Fundo do Mar (1999).
No século 21, Akiva escreveu Uma Mente Brilhante (2001), filme que ganhou vários prêmios, e começou a produzir também, filmes como Starsky & Hutch – Justiça em Dobro (2004), Caçadores de mentes (2005), Constantine (2005) e Poseidon (2006). Akiva também escreveu nesse período, filmes como Eu, Robô (2004), O Código Da Vinci (2006), Eu Sou a Lenda (2007) e Anjos e Demônios (2009).
Nos anos 2010, foi o produtor executivo da franquia Atividade Paranormal, tendo feito o 2, 3 e 4.
Ele também trabalhou como produtor, roteirista e diretor na série de televisão Fringe (2008/2013).
A maioria dos atores de Um Conto do Destino era conhecida intimamente de Akiva, e compareceram em peso para ajudar na construção do longa.
A segunda parte da narrativa de Um Conto do Destino acontece em 2014 e é a mais corrida do filme, momento em que percebemos que a adaptação do livro tem que correr.
É quando a personagem de Jennifer Connelly é introduzida, a 1h18m de filme.
De novo, a morena interpreta uma moça chamada Virginia, como o filme homônimo de 2010. É a segunda vez que Jennifer interpreta uma personagem com o mesmo nome. Ela foi Sarah Williams em Labirinto – A Magia do Tempo, e Sarah Williams em Amor Maior que a Vida.
Bella Heathcote, Lily Collins (que trabalhou com Jennifer Connelly um ano antes em Ligados pelo Amor), Sarah Gadon, Gabriella Wilde e Elizabeth Olsen tentaram o papel de Beverly Penn.
Tom Hiddleston, Garrett Hedlund, Aaron Taylor-Johnson, Luke Evans, Liam Hemsworth e Benjamin Walker estavam no páreo para interpretarem Peter Lake. Will Smith só interagiu com o personagem de Russel Crowe no filme — e nas filmagens, pois Akiva vetou a interação dele com o resto do elenco, que não o viram um único dia de gravação.
36º filme de Jennifer Connelly
Um Conto do Destino
Estados Unidos
/ OSCAR. Nem um elenco oscarizado salvou Um Conto do Destino. A começar pelo próprio Akiva Goldsman, que tem um Oscar em casa, de Melhor Roteiro Adaptado por Uma Mente Brilhante (2001).
Foi nesse filme que Jennifer Connelly ganhou seu Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Russel Crowe teve uma sequencia incrível: foi indicado para Melhor Ator por O Informante (1999), e ganhou o prêmio, na mesma categoria, em Gladiador (2000), e voltou a ser indicado em Uma Mente Brilhante. William Hurt também teve uma boa sequência.
Ganhou o Oscar de Melhor Ator em 1986 por O Beijo da Mulher-Aranha (1985), e foi indicado na mesma categoria por Filhos do Silêncio (1986) e Nos Bastidores da Notícia (1987). Marcas da Violência (2005) também deu a Hurt uma indicação ao Oscar, por Melhor Ator Coadjuvante. Eva Marie Saint ganhou o Oscar de Melhor Atriz em 1955 por Sindicato de Ladrões (1954).
Há ainda dois nomeados: Graham Greene foi nomeado a Melhor Ator Coadjuvante por Dança com Lobos (1990), e Will Smith, nomeado duas vezes a Melhor Ator, por Ali (2001) e A Procura da Felicidade (2006).
/ MARVEL. Jennifer Connelly e William Hurt estão em filmes do Marvel Studios nos cinemas. Jennifer Connelly foi a Betty Ross, o interesse amoroso de Bruce Banner / Hulk, interpretado por Eric Bana, no filme Hulk (2003), de Ang Lee. Quem fez o General Thaddeus Ross, pai de Betty, foi o ator Sam Elliot. Em 2008, a Marvel fez um reboot do filme com O Incrível Hulk, de Louis Leterrier, com Edward Norton no papel de Bruce e Liv Tyler no papel de Betty.
Quem fez o General Thaddeus Ross dessa vez foi William Hurt, que trabalhou com Jennifer em Cidade das Sombras. Jennifer e William voltaram a trabalhar juntos em Traídos pelo Destino. Colin Farrel interpretou o Mercenário no filme Demolidor, lançado nos cinemas em 2003 pela Fox, na época, sem ligações com a Marvel. Pelo lado da Distinta Concorrência, Russel Crowe interpretou Jor-El, o pai do Superman, no filme Homem de Aço (2013), de Zack Snyder, , e Will Smith interpretou o Pistoleiro em Esquadrão Suicida (2016), de David Ayer.
/ ROTTEN TOMATOES. Um Conto de Destino é um dos filmes de pontuação mais baixa da carreira de Jennifer Connelly — 13% no Rotten Tomatoes, o maior site agregador de críticas da internet. A plataforma e sua proposta já foi discutida no blog na resenha do filme de Jennifer Connelly chamado Virginia, outro filme com pontuações baixíssimas no site.
/ FLOP. Flops nada mais é do que um acrônimo para o termo floating point operations per second, ou seja, operações de ponto flutuante por segundo. Eles são usados como uma unidade de medida por programadores, e serve para mensurar a capacidade de processamento de um computador — no caso, a quantidade de operações de ponto flutuante.
E também se tornou um termo bastante utilizado na linguagem da internet, principalmente nas redes sociais, que se popularizaram nos anos 2010, como sinônimo de fracasso em tentar algo. No Brasil, o flop ganhou variações de acordo com a conjugação do verbo “flopar” na língua portuguesa, como: “flopou”, “flopada”, “flopado” e etc.
Na indústria cinematográfica, a gíria mais aproximada para algo como flop era box office bomb, pouco usado por aqui. Geralmente, qualquer filme cujo custo de produção e comercialização exceda a receita combinada recuperada após o lançamento é considerado um fracasso de bilheteria.
/// 2014. Nos cinemas passavam filmes como Frozen: Uma Aventura Congelante, Ninfomaníaca – Volume 1, O Lobo de Wall Street, 47 Ronins, A Menina que Roubava Livros, Operação Sombra – Jack Ryan, Caçadores de Obras-Primas, Clube de Compras Dallas, Tudo Por Um Furo, Noé, Capitão América 2: O Soldado Invernal, O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro, Godzilla, Sob a Pele, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, No Limite do Amanhã, A Culpa é das Estrelas, Oldboy – Dias de Vingança, O Homem Duplicado, Transformers 4: A Era da Extinção, Planeta dos Macacos: O Confronto, Guardiões da Galáxia, The Rover – A Caçada, Os Mercenários 3, Lucy, A Bela e a Fera, O Protetor, Sin City 2: A Dama Fatal, Garota Exemplar, Libertem Angela Davis, O Homem Mais Procurado, Relatos Selvagens, O Que Fazemos Nas Sombras, O Abutre e outros.
/ OS FILMES DE JENNIFER CONNELLY.
1- Era Uma Vez na América (1984)
2- Phenomena (1985)
3- Sete Minutos Para o Paraíso (1985)
4- Labirinto – A Magia do Tempo (1986)
5- Essas Garotas (1988)
6- Etoile (1989)
7- Hot Spot – Um Local Muito Quente (1990)
8- Construindo Uma Carreira (1991)
9- Rocketeer (1991)
10- O Coração da Justiça (1992)
11- Do Amor e de Sombras (1994)
12- Duro Aprendizado (1994)
13- O Preço da Traição (1996)
14- Círculo das Vaidades (1996)
15- Círculo das Paixões (1997)
16- Cidade das Sombras (1998)
17- Amor Maior que a Vida (2000)
18- Réquiem Para um Sonho (2000)
19- Pollock (2000)
20- Uma Mente Brilhante (2001)
21- Hulk (2003)
22- A Casa de Areia e Névoa (2003)
23- Água Negra (2005)
24- Pecados Íntimos (2006)
25- Diamante de Sangue (2006)
26- Traídos pelo Destino (2007)
27- O Dia em que a Terra Parou (2008)
28- Coração de Tinta (2008)
29- Ele Não Está Tão a Fim de Você (2009)
30- 9 – A Salvação (2009)
31- Criação (2009)
32- Virginia (2010)
33- O Dilema (2011)
34- E…que Deus nos Ajude!!! (2011)
35- Ligados pelo Amor (2012)
36- Um Conto do Destino (2014)
37- Marcas do Passado (2014)
38- Noé (2014)
39- Viver Sem Endereço (2014)
40- Pastoral Americana (2016)
41- Homem-Aranha De Volta ao Lar (2017)
42- Homens de Coragem (2018)
43- Alita – Anjo de Batalha (2019)
44- Top Gun – Maverick (2022)
45- Bad Behaviour (2023)
/ AS SÉRIES DE JENNIFER CONNELLY.
1- The $treet (2000)
2- O Expresso do Amanhã/Snowpiercer (2020-2024)
3- Matéria Escura (2024)
Jennifer Connelly e seu Instagram: https://www.instagram.com/jennifer.connelly/
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