Um dos primeiros filmes da Marvel nos cinemas foi O Justiceiro, um dos personagens mais populares no fim dos anos 1980, criação do escritor Gerry Conway, para a galeria de vilões do Homem-Aranha, e que foi interpretado pelo ator de filmes de ação Dolph Loudgren.
Uma produção de baixo custo, cheia de equívocos e erros criativos e comerciais, que mancham a marca de primeiro longa-metragem da editora.
Um filme que tem mais de 30 anos, mas que com alguns apontamentos oportunos, pode gerar ainda algum interesse e curiosidade.
O Justiceiro foi precedido por outros personagens da Marvel no universo de filmes, mas com efeito, ele é o primeiro superstar das HQs com status de cinemão nas telonas, ainda que tenha demorado para aparecer nos Estados Unidos e no resto do mundo.
A jornada do anti-herói Frank Castle finalmente estar em carne e osso para matar a bandidagem foi árdua como sua trajetória.
No filme de 1990 — 1989 em cinemas da Europa –, Frank é um ex-policial em busca de vingança pela morte de sua família pela máfia, e graças a uma edição picotada, isso fica pouco claro.
Há muito pouco do personagem original dos quadrinhos no filme da Marvel: um ex-combatente do Vietnã que tem sua família assassinada ao testemunharem sem querer um assassinato da máfia.
Como único sobrevivente, Frank se impõe a uma única missão na vida: exterminar qualquer criminoso que encontrar pela frente. E essa missão é a mesma no filme.
Em 1986, a Marvel foi comprada pela New World Entertainment, uma empresa comercial agressiva interessada em propriedades intelectuais com potenciais de licenciamento para criar lucros em cima de filmes e brinquedos, e que pouco entendia de quadrinhos.
De acordo com informações do livro Marvel Comics – A História Secreta, de Sean Howe, a New World comprou a Marvel pensando que estava comprando a empresa dona de Superman…
Boaz Yakin, 21 anos, recém-formado em cinema, com um roteiro escrito em 10 dias, conseguiu da New World um sinal verde para o Justiceiro, o que ia de encontro ao que a empresa queria — personagens da segunda e terceira divisões que exigiam menores orçamentos.
Um dos profissionais mais veteranos do cinema foi contratado para dirigir o filme, Mark Goldblatt, editor dos maiores filmes de ação de todos os tempos, como Exterminador do Futuro e Rambo.
Goldblatt tinha acabado de terminar seu primeiro filme em que foi diretor, a comédia de horror Um Tira do Outro Mundo (1988), e ficou impressionado pelo roteiro de Boaz.
No verão de 1988, enquanto as câmeras rodavam O Justiceiro na Austrália, a New World botou a Marvel à venda. O comprador foi Ronald O. Perelman, o dono da Revlon, que usou a Compact Video, ex-divisão da Technicolor, como fachada para a compra.
Empresário astuto e velha raposa de Wall Street, Ron Perelman intrigou o mercado com suas intenções. Ele venceu uma proposta concorrente de U$ 81 milhões de dólares, feita por Steve Massarksy, ex-empresário dos Allman Brothers, e o ex-editor da Marvel, Jim Shooter, ao comprar a Marvel por U$ 82,5 milhões.
Uma matéria de uma revista tentou traçar a estratégia de Perelman da seguinte maneira: “encontre uma empresa subvalorizada, compre-a financiando títulos de alto risco, venda as linhas de produtos que não são fundamentais até reaver o custo de compra e faça os produtos centrais recuperarem a lucratividade.”
Esse pensamento foi o que possibilitou que o filme do Justiceiro ainda enxergasse a luz do dia — até porque, meses depois, Perelman comprou a própria New World.
A Alemanha foi a primeira a ver o filme em 1989, e depois o longa foi para outros países na Europa, como Inglaterra.
Mas problemas com a distribuição fizeram com que o Justiceiro de Dolph Loudgren nunca chegasse aos cinemas norte-americanos, sendo lançado direto para mercado de home-video em 1990 — home-video são as fitas VHS, antiga mídia de venda e aluguel onde se podia ver filmes e séries.
Os estúdios de cinema Artisan e Lionsgate, mais tarde tentaram rebootar o Justiceiro duas vezes, a primeira em 2004 com O Justiceiro, vivido por Thomas Jane, e a segunda em 2008 com Justiceiro: Em Zona de Guerra, dessa vez vivido por Ray Stevenson.
Como o Justiceiro de Dolph Loudgren, esses dois filmes não obtiveram sucesso. A partir de 2011, os direitos do personagem voltaram à Marvel.
E ela os cedeu para a Netflix. E finalmente, na segunda temporada de Demolidor, seriado da Netflix, o Justiceiro teve o destaque e a fama que merecia, dessa vez interpretado por Jon Bernthal.
Foi tão bem que abriu espaço para um seriado solo do personagem, Punisher, com duas temporadas que a plataforma de streaming soltou em 2017 e 2019.
O acordo com a Netflix expirou e o Justiceiro está com a Marvel de novo, o que gera rumores frequentes de quando o vigilante armado retornará.
Justiceiro
(The Punisher, 1990,
de Mark Goldblatt)
Como você chama 125 assassinatos em 5 anos?”
“Trabalho em andamento”
O prólogo filmado (e cortado do filme) mostrava Frank Castle (Frank Castle) como o policial que matou o chefão do crime Dino Moretti (Bryan Marshall), mas a edição confusa espalhou isso em cenas de flashbacks pelo longa.
Com um ótimo design de apresentação, a direção de Mark Goldblatt, de modo não-linear, mostra Frank Castle atuando como vigilante há pelo menos 5 anos, e uma introdução explica a relação com a máfia e o Justiceiro, que já tem 125 mortes nas costas.
Um dos “tenentes” de Dino Moretti assume a família e o comando do crime, Gianni Franco (Jeroen Krabbé), e boa parte do contexto do assassinato da família de Frank, assassinada pela família Moretti, é mostrada por meio de flashbacks e outra pela imprensa.
O policial Jake Berkowitz (Louis Gossett Jr.) não está muito preocupado em parar a matança de Frank, seu ex-parceiro, que agora é chamado de Justiceiro pela imprensa.
O anti-herói usa recursos infantis como caminhõezinhos de brinquedo em algumas cenas para executar suas mortes, em várias decisões criativas muito discutíveis por parte de Goldblatt.
O Justiceiro de Dolph Loudgren é o cara certo, com a postura certa, mas com péssimos diálogos. Outros aspectos se salvam, como o jeito do Justiceiro matar os criminosos.
Ele mata esfaqueado, enforcado, baleado, empalado (com espada), jogado, de muitas maneiras. O vigilante deixa uma faca com caveira como assinatura nos assassinatos que comete, o que ajuda a polícia a identificar suas ações.
E isso se mostra um problema logístico para Frank, ou não, já que nunca é mostrado onde e como ele faz e tem tais facas. Castle vive nos esgotos para escapar da máfia e das autoridades, e a direção e roteiro segue isso.
Inclusive, uma das cenas mais confusas é a da matança de outras famílias criminosas em certa parte do longa.
Também temos elementos da máfia japonesa, com a aparição da Lady Idiko Tanaka (Kim Miyori), líder da Yakuza no fime.
É por conta dela que temos um dos dilemas mais interessantes em O Justiceiro, quando ela rapta os filhos dos chefões da máfia da cidade, o que rende boas cenas de violência infantil (ah, os anos 90…).
Uma cena imperdível é a de Castle atirando por mais mais de um minuto seguido em …caça-níquéis.
Forçado a ajudar as crianças inocentes, Justiceiro é espancado por ninjas — um deles é uma loira americana muda. Capturado e torturado, tem uma ótima linha de conversa com Idiko, quando ela diz que teve um prejuízo de U$ 2 milhões de dólares.
“Quanta dor isso compra?” ela pergunta. “Sim ou não, ou isso é questão de múltipla escolha?“, ele responde.
Pouco antes do encerramento do filme de Goldblatt, temos uma cena de perseguição com um ônibus cheio de crianças e o Justiceiro como motorista, e um impasse mexicano ao deixar Frank Castle com uma terrível escolha: salvar Tommy Franco, o pequeno filho de Gianni, seu maior inimigo, ou Jake Berkowitz, seu antigo parceiro, e única pessoa que ainda acredita nele.
Um mestre campeão carateca
doutor em química
como Justiceiro
De acordo com uma reportagem na época do lançamento de O Justiceiro, publicada na revista Cinefantastique, em março de 1989, uma das mais prestigiadas sobre cinema de ficção, Dolph Loudgren estava muito feliz de não ser um “alien ou russo“, e de “vestir jeans e roupas de coro, como um americano sofisticado“.
Ele mesmo descreveu o filme do Justiceiro como uma mistura de Máquina Mortífera com Robocop, e que trabalhou na longa por causa da experiência de contracenar com Gosset Jr. e Jeroen Krabbé, além de acreditar no projeto de Robert Kamen, o roteirista que lapidou o trabalho de Boaz depois que ele foi aceito pelo New World.
Kamen já tinha escrito os três filmes do Karatê Kid (1984, 1986 e 1989) e faria Máquina Mortífera 3 (1992), O Quinto Elemento (1997), O Beijo do Dragão (2001) e os três filmes da franquia Carga Explosiva (2002, 2005 e 2008). E foi em 2008 que Kamen escreveu seu maior sucesso, Busca Implacável, com Liam Neeson.
Apesar da figura monocromática construída em filmes de ação, Loudgren tem um background dos mais interessantes.
Dolph nasceu Hans Lundgren, em 3 de novembro de 1957, em Estocolmo, na Suécia. Ele foi líder do time olímpico americano de pentatlo nos Jogos Olímpicos de Verão de 1996.
Ele é doutor em engenharia química pelo MIT, uma das mais prestigiosas universidades de tecnologia dos Estados Unidos, e fala três línguas: sueco, inglês e alemão. Ele também foi campeão peso-pesado de karatê na Europa e Austrália, de 1980 a 1982, arte marcial na qual é terceiro dan (classificação de conhecimento e habilidade).
No começo de sua carreira no mundo do entretenimento, foi guarda-costas da modelo, atriz e cantora Grace Jones, que seria a figura original na qual a personagem Cristal, dos X-Men, seria baseada — essa história é contada em detalhes nesta matéria do blog.
Loiro, Dolph pintou os cabelos para o filme do Justiceiro, e só para mais dois outros em sua longa carreira de quase 100 filmes (!): O Grande Anjo Negro (1990) e Inquilino Desajeitado (2012).
Antes de estrelar O Justiceiro, Dolph Loudgren tinha feito Escorpião Vermelho (1988), excelente filme de ação descerebrado em que interpreta Nikolai Rachenko, um soldado soviético, desertor depois de um confronto na África, onde ganha uma tatuagem tribal, e que decide combater seus ex-compatriotas.
Um ano antes, ele estava na pele de outro personagem da cultura pop, ao interpretar ninguém menos do que o He-man em Mestres do Universo (1987), baseado nos brinquedos da Mattel, que se tornaram populares graças a um desenho animado.
O filme anterior não foi menos famoso: Rocky 4 (1985), onde fez Ivan Drago, o boxeador russo que Rocky/Sylvester Stallone tem que derrubar no filme da vez da franquia.
Junto com Peter Stomare, Dolph é um dos poucos atores suecos que sempre interpretam personagens russos. Stomare fez o cosmonauta russo Lev Andropov em Armageddon (1997), e é mais conhecido como o demônio Lúcifer no filme Constantine (2005).
No mesmo ano de Rocky, Dolph interpretou um vilão em 007 – Na Mira dos Assassinos. O vilão do filme do Justiceiro, Gianni Franco, interpretado por Jeroen Krabbé, também interpretou um vilão em um filme de James Bond: 007 Marcado para a Morte (1987).
Krabbé fez também o vilão de Carga Explosiva 3 (2008), estrelado por Jason Statham. Dolph Lundgren e Statham — capitaneados por Stallone — estrelaram juntos os três filmes dos Os Mercenários (2010, 2012 e 2014).
No segundo filme, Dolph e cia enfrentaram um vilão interpretado por Jean-Claude Van Damme. Os dois estrelaram em 1992 o filme Soldado Universal, uma das bagaceiras mais divertidas do cinema de ação noventista.
No mesmo ano (original) de O Justiceiro, Van Damme estrelava Cyborg: O Dragão do Futuro (1989), uma tranqueira de filme de ação da maior produtora de filmes B do cinema, a Cannon, com premissas similares do filme de Frank Castle: um homem em busca de vingança depois de perder sua família assassinada por gangues.
Dolph Loudgren inseriu uma referência da maior concorrente da Marvel no filme do Justiceiro.
Quando ele está sendo interrogado por Lady Tanaka, ele tripudia na tortura que está sendo submetido, e diz que quem o enviou foi o Batman, um dos maiores heróis da DC Comics.
Aliás, o Homem-Morcego divide uma origem parecida com o Justiceiro: ambos perderam toda a família assassinada em eventos corriqueiros, e decidiram combater o crime depois disso. Aliás 2: O Justiceiro de Dolph Loudgren estrelou no mesmo ano do filme Batman de Michael Keaton, dirigido por Tim Burton, e marco do cinema de super-herói na indústria do entretenimento.
Dolph voltaria a encarnar Ivan Drago em Creed II (2018), mesmo ano em que interpretou outro personagem dos quadrinhos, mas da DC, como o Rei Nereus, no filme do Aquaman.
Antes mesmo dessa aventura aquática ele já estava envolvido com a DC, ao interpretar o vilão Konstantin Kovar no seriado Arrow (2012), que adapta as aventuras do herói Arqueiro Verde.
O Justiceiro de Dolph Loudgren foi o segundo filme dirigido por Mark Goldblatt, e também foi seu último.
Na indústria do cinema, ele se notabilizou como editor, e anotou trabalhos nos mais famosos clássicos de ação de todos os tempos, como Rambo, Exterminador do Futuro e Predador. Mark editou filmes como Planeta dos Macacos: A Origem (2011), O Homem sem Sombra (2000), Tropas Estelares (1997), O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991), O Predador 2: A Caçada Continua (1990), Comando para Matar (1985), Rambo II: A Missão (1985), O Exterminador do Futuro (1984), Halloween 2: O Pesadelo Continua! (1981), Ninja, a Máquina Assassina (1981) e dezenas de outros.
A Marvel no cinema e
filmes antes do
Justiceiro de Dolph Lundgren
Em 1986, ocorreu a primeiríssima experiência da editora em quadrinhos com o cinema, pelas mãos de um de seus maiores cineastas, George Lucas, o pai de Star Wars.
Lucas havia tentado adaptar a história em quadrinhos de Howard The Duck , uma série cômica e histriônica em quadrinhos de um Pato Donald lisérgico da Marvel, criado pelo escritor Steve Gerber.
Isso aconteceu na época logo após Loucuras de Verão (1973), mas Lucas estava com Star Wars na cabeça desde essa época. Quando deixou o cargo de presidente da Lucasfilm, e se voltou novamente para Howard com o objetivo de adaptar a HQ.
E desde o começo da produção, a bizarrice do personagem se traduziu na vida real, a começar pela decisão de fazer um live-action ao invés de uma animação, como era o planejado. Com direção de Willard Hyuck, o filme absurdo se tornou um amontoado de equívocos e erros.
Críticos detestaram o filme Howard, o Super-Herói, como ficou conhecido por aqui no Brasil, exibido à exaustão na Sessão da Tarde, e ele flopou feio nas bilheterias.
De acordo com o livro Pancadaria (Reed Tucker), dois executivos da Universal chegaram a trocar socos em acusações mútuas sobre a culpa do fracasso — gastaram U$ 36 milhões de dólares para fazer o filme, e faturaram apenas U$ 16 milhões.
Experiências posteriores a essa foram anuladas, e a Marvel se viu obrigada a investir em filmes para televisão.
A Marvel decidiu fazer filmes para televisão de uma de suas séries de maior sucesso. Assim, surgiram A Volta do Incrível Hulk (1988) e O Julgamento do Incrível Hulk (1989). Os filmes continuavam as aventuras David Banner/Hulk, vividos pelos atores Bill Bixby e Lou Ferrigno, respectivamente.
Junto com a intenção de retomar algo nos cinemas depois do fracasso de Howard, era a chance de dar nova vida ao Gigante Esmeralda, que teve a série cancelada seis anos antes.
De modo notável, foi nesses dois telefilmes que a Marvel imprimiu pela primeira vez a marca com que ficaria conhecida anos mais tarde na indústria do cinema, ao misturar marcas e propriedades em um crossover.
A Volta e O Julgamento do Incrível Hulk apresentaram, além do Golias Verde, o deus nórdico Thor e o advogado herói Demolidor. A aparição do vigilante cego inclusive tinha pretensões de torná-lo viável como piloto de uma futura série do personagem.
Também em O Julgamento do Incrível Hulk aconteceu uma marca especial: Stan Lee começa a fazer cameos nas produções audiovisuais da editora.
Fazendo (só que não) a caveira do Justiceiro
O Justiceiro teve sua primeira aparição nos quadrinhos em The Amazing Spider-Man #129, datada de fevereiro de 1974.
Na cena de flashback, inclusive, as filhas de Frank com Julie, as meninas Annie e Felice, estão usando pijamas com desenhos do Homem-Aranha. Nos quadrinhos, a esposa de Frank se chama Maria, e eles têm um casal de filhos: Mark e Francine.
Na época que o Justiceiro de Dolph Loundgren saiu, a Marvel publicava The Punisher, revista escrita inicialmente por Mike Baron e o artista Klaus Janson, em novembro de 1988, que se estendeu até julho de 1995, totalizando 104 edições.
Stan Lee (um dos co-criadores do Universo Marvel, escritor e editor), o escritor Carl Potts, que fazia a revista do Justiceiro, e o editor-chefe da empresa, Tom DeFalco, serviram de consultores para o longa, e mesmo assim, isso não garantiu a marca mais conhecida da identidade visual do Justiceiro no filme: não há caveira no peito do uniforme de Frank Castle.
O diretor Mark Goldblatt assumiu isso para si, ao procurar se distanciar do universo de super-heróis ao realizar seu filme, tirando de propósito elementos como uniformes colantes.
Ele via a caveira como resquício desse recurso, e conscientemente o vetou, para criar um produto que pudesse ter uma amplitude maior de público que não só os fãs de quadrinhos.
Ele atribuí isso inclusive ter a chance de O Justiceiro ter saído nos cinemas, em vez de direto em mercado de home-video.
Justiceiro e a falência do sistema
Sobre o Justiceiro, ninguém melhor que o próprio criador do personagem, Gerry Conway, para falar a respeito de como e o que ele representa, em um entrevista cedida ao SyFy em janeiro de 2019, por conta do lançamento ano passado da segunda temporada do Justiceiro na Netflix:
Ele foi originalmente concebido, no gibi The Amazing Spider-Man #129 (fevereiro de 1974) como um criminoso. A ideia não era que ele fosse um anti-herói. Mas conforme estava escrevendo a primeira história, percebi que era isso que ele era, um anti-herói. Ele tem um código moral que eu poderia usar para resolver determinados pontos da história”.
Conway lembra que aqueles eram tempos mais simples, anos 1970, um cenário dicotômico no qual as histórias ainda não se aprofundavam psicologicamente com força nos personagens.
Hoje em dia, com tudo que sabemos sobre PTSD (Post-Traumatic Stress Disorder ou Transtorno de Estresse Pós-Traumático), com tudo que entendemos sobre como os soldados são afetados pelas guerras multigeracionais em lugares como o Afeganistão, um personagem como o Justiceiro pode falar sobre algo que é importante abordar para nós enquanto roteiristas e desenhistas”.
A polêmica sempre cercou o personagem, e com a vitrine popular que a Netflix oferece, Frank Castle ficou em evidência.
O que leva muitos fãs que não entendem completamente o personagem a achar que ele é uma coisa que ele não é. Como policiais, por exemplo.
Eles estão abraçando a mentalidade de um fora da lei. Não importa que você ache que o comportamento dele tem ou não justificativa, não importa se você admira seu código de ética. Ele é um criminoso. E policiais não deveriam abraçar um criminoso como seu símbolo”. Gerry ainda complementa: “Se um homem da lei, representando o nosso departamento de Justiça, o sistema, coloca o símbolo de um criminoso em seu carro, ele está dando uma declaração sobre o seu entendimento do que é a lei para ele”.
Nascido em Homem-Aranha
Foi em fevereiro de 1974 que Gerry Conway e John Romita Sr., dupla responsável pelo título do Homem-Aranha, a principal revista do Homem-Aranha, trouxeram a vida um ex-combatente do Vietnã com arma em punho e uma grande caveira em seu peito em The Amazing Spider-Man #129.
Estava criado o melhor anti-herói e matador de criminosos que o mundo das HQ veria: The Punisher, o Justiceiro, na tradução adotada aqui.
Na história, persuadido pelo Chacal, inimigo do Homem-Aranha, Frank Castle, o Justiceiro, sai à caça do cabeça de teia, e tem início uma grande corrida de gato e rato, até o Aranha conseguir provar sua inocência.
Conway é uma lenda da indústria. Trabalhou, ao longo de seus 50 anos de carreira, com todos os principais personagens tanto da Marvel quanto da DC.
Além de inventar o Justiceiro, matou a namorada de Peter Parker, Gwen Stacy, assassinando também a inocência que quadrinhos de super-heróis tinham.
Ele foi o autor do primeiro crossover das editoras, e escreveu nada mais nada menos que o encontro do Homem-Aranha com o Superman.
Ei, eu tenho algo a dizer”
“O quê?”
“Sayonara”
/// CONTAGEM DE CORPOS. São 185 mortes no filme O Justiceiro de Dolph Loudgren, e 91 delas são mostradas individualmente na tela.
/// VIDEOGAME DO JUSTICEIRO. Com o sucesso da revista, a editora ainda publicou The Punisher War Journal, em 1988, uma revista que contava com a arte do desenhista Jim Lee, ainda em começo de carreira, mas com já com um enorme talento gráfico e de design. Quando a Marvel firmou uma parceria com a Capcom, o primeiro jogo produzido foi do Justiceiro, o briga de rua The Punisher, que trabalha exatamente sob o impacto visual dessa fase. Confira abaixo.
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