JUSTICEIRO | Jogo da Capcom para a Marvel é a melhor opção de brincar de Frank Castle

Um vigilante armado até os dentes e furioso para acabar com a raça de qualquer criminoso — o antigo soldado americano Frank Castle é o Justiceiro no Universo Marvel,  e foi a estrela do primeiro jogo da Capcom para a editora de quadrinhos.

O Justiceiro foi inicialmente um vilão do Homem-Aranha, em sua estreia nas HQs, nos anos 1970, e depois como anti-herói no decorrer dos anos 80, até atingir o status de superstar no line-up da empresa.

E sim, um dia a Marvel foi apenas isso: uma editora de quadrinhos. O personagem teve um jogo para arcade (ou fliperama, ou máquina, como é conhecido também no Brasil) lançado em 1993 pela softhouse Capcom, e que ainda depois de tantos anos, é a melhor opção para brincar de modo saudável de Frank Castle por aí.

Justiceiro Marvel Capcom
Poster promocional do jogo The Punisher, feito pela Capcom para o personagem Justiceiro, da Marvel Comics

No enredo proposto pelo game da Capcom, The Punisher, além de poder jogar com o Justiceiro, Nick Fury, diretor da S.H.I.E.L.D. (uma agência governamental norte-americana de espionagem, defesa e inteligência no Universo Marvel), é o segundo player disponível para disputar o jogo com um amigo.

Não estranhe se ele não parecer o Samuel L. Jackson, e sim um Clint Eastwood mais bombado, com tapa-olho e fumando charuto. O Nick Fury mostrado no jogo da Capcom é o tradicional das HQs, do Universo Marvel regular desde sempre.

O Nick Fury com visual de Samuel é apenas mais uma versão alternativa do personagem, de uma realidade paralela dos quadrinhos, conhecida como Universo Ultimate.

Ele fez muito sucesso nos anos 2000, e o desenhista Bryan Hitch o desenhou exatamente com as feições do ator. Anos depois, em 2008, com o primeiro filme do Homem de Ferro, quando surge Nick Fury nas cenas pós-créditos, o ator realmente encarnou o personagem.

Nick Fury do Universo Ultimate, no começo dos anos 2000, na Marvel Comics
Nick Fury dos filmes do Marvel Studios nos anos 2010 (na verdade desde a cena pós-créditos de Homem de Ferro, de 2008)
Mas desde 2011, a Marvel Comics deu um jeito de ter um “Nick Fury Ultimate” em seu universo regular — e ele é filho do Nick Fury tradicional

The Punisher marca o começo da parceria da softhouse Capcom com a Marvel Comics, com diversos jogos sendo lançados para arcades e consoles caseiros.

Justiceiro em The Punisher da Capcom

The Punisher é um beat ‘em up, jogo de briga de rua, feito nos mesmos moldes que outros games que a Capcom produzia nos anos 90: alto nível de diversão em modo cooperativo a dois, riqueza de detalhes gráficos, e jogabilidade excelente num side-scrolling 2D, de avanço lateral da esquerda para direita, baseado em porrada mano-a-mano com vários inimigos, e auxílio de armas que encontramos no cenário a medida que progredimos.

O sistema gráfico é feito com a placa CPS-1, tecnologia de som da Q Sound, e oferece 384 x 224 pixels, 4.096 cores e efeitos sonoros estéreo para a diversão do jogo. Controlamos os dois personagens numa luta contra o crime, na mesma fórmula infalível de Final Fight: porrada em todo inimigo que aparecer.

Podemos matar os inimigos com socos, pistolas Ingram, metralhadoras M-16, lança-chamas, martelos, facas, tacos de beisebol e até canos, pedras ou extintores, além de espadas katana e shurikens.

Algumas partes do cenário podem ser destruídas. São dois botões: um para soco e outro para pulo. Há diversas combinações se usados os direcionais na hora do ataque, como agarrar, jogar e arremessar para o lado contrário.

O ataque com dois botões [pulo+ataque] faz o personagem executar seu golpe especial, que, pra variar, consome life. Se feito no ar, libera a granada, poderoso recurso à sua disposição em momentos que se está cercado e levando a pior.

Os personagens tem um pilão especial para esmagar os adversários e há vários elementos característicos de gibis, como onomatopeias de ações.

Podemos ver a palavra ‘BLAM!’ ao se disparar um tiro, por exemplo.

Justiceiro e Nick Fury, um dos maiores espiões na Marvel, estão disponíveis no jogo da Capcom para uma jogatina a dois

A dificuldade de The Punisher é mediana para quem está acostumado com jogos da Capcom.

Para se fazer uma boa pontuação no jogo é necessário finalizar cada Stage em um bom tempo [Time], com o máximo possível de life cheio [Vitality], número de granadas alto [Bombs] e o máximo de itens possíveis obtidos [Itens].

Se conseguir o máximo de pontuação, um aviso de Perfect aparece na contagem disso tudo no final de cada fase.

Capcom variou o line-up de personagens da Marvel no game

Apesar dos milhares de personagens que a Marvel possui em seu catálogo, os inimigos mais comuns para o Justiceiro sentar a mão em The Punisher da Capcom são membros de gangues aleatórios: caratecas, mulheres ninjas, capangas da máfia.

O destaque fica para Pretty Boy, um Carniceiro, ciborgue de um bando inimigo dos X-Men. Pretty Boy é traduzido no Brasil como Lindinho.

A Capcom usou muitos personagens da Marvel para o line-up de inimigos no jogo The Punisher, e não necessariamente são inimigos clássicos do Justiceiro

Os chefes de fase são velhos conhecidos para quem acompanha HQs, e é aí que se encontra alguma familiaridade.

Podemos mandar pra vala Bonebreaker (Esmaga-Ossos, outro Carniceiro), Bushwacker (Guerrilheiro), Jigsaw (Retalho), até chegar Kingpin, conhecido aqui como Rei do Crime.

Os diálogos que Justiceiro e Nick Fury travam com os vilões, e quando estão juntos ou separados no game, são distintos, e é bacana ver como o ponto de vista de cada um deles difere no decorrer da história.

Os continues também mudam: se você capota com Justiceiro, o amigo e parceiro de luta contra o crime na época, o especialista em computação Microchip, tenta revivê-lo numa massagem cardíaca.

Com Nick Fury, um agente da SHIELD tenta o mesmo, sob o olhar de uma outra agente. O agente retratado é Alexander Pierce, e a outra é Kate Neville, dois personagens que aparecem em histórias de Nick Fury.

Justiceiro Marvel Capcom
O Justiceiro da Marvel pela Capcom

A artwork e os gráficos do Justiceiro/Frank Castle e Nick Fury têm uma curiosa relação para quem os conhece dos gibis.

Pela roupa que Frank usa, azul com detalhes e brancos (seu uniforme clássico, visto em sua primeira aparição nas HQs, em uma revista do Homem-Aranha) ele que seria o agente da SHIELD, já que essa combinação e padrão de cores é o uniforme original da organização.

Por sua vez, Nick Fury está paramentado como um militar, que com cores diferentes, poderia se encaixar melhor com a proposta de Frank Castle.

Vale notar também que o charuto não sai da boca do Fury nem levando cacetada.

A trilha incidental é boa, mas não combina muito com o clima urbano e violento do jogo. Ficou um tanto que na linha clássica, meio que medieval. Cortesia da pianista Yoko Shimomura, a compositora do colosso Street Fighter 2.

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São fases e mais fases onde temos que derrotar capangas do Rei do Crime, até chegar e chutar a bunda do gordo. Foi o primeiro game da Capcom após o clássico Cadillac and Dinossaurs, game de briga de rua que também é baseado em histórias em quadrinhos.

A trama do jogo do Justiceiro

“They killed his family. They destroyed his career. Somone’s gonna pay.”

A frase está na arte promocional do game e resume tudo que precisamos saber do jogo.

Tudo começa em Nova York, onde somos apresentados a uma origem rápida do Justiceiro, com imagens paradas mostrando a família dele sendo metralhada e morta num pique-nique, depois de testemunharem sem querer um assassinato da máfia, no local onde estavam passeando no Central Park.

Frank Castle decide nessa tragédia familiar iniciar sua guerra sem fim ao crime, matando todo e qualquer tipo de criminoso. Frank era boina verde, ex-soldado da Guerra do Vietnã, dono de bom coração, marido dedicado e excelente pai.

Ver a mulher Maria, e os filhos Lisa e Frank Jr. mortos o mata também, deixando de resto apenas um homem com vontade de matar.

Uma arte promocional de The Punisher. A Capcom optou por usar desenhos do desenhista superstar da Marvel na época, Jim Lee, para promover o game do Justiceiro

O Stage 1 começa em NY. Em um cassino ilegal da cidade, perseguimos um assassino da Máfia, Bruno Costa (o futuro Retalho), com um confronto final com Chester Scully.

Costa acaba morto quando destruímos o Guardroid que ele ‘veste’ (robôs do Doutor Destino, que o Rei do Crime deve ter conseguido de algum jeito). Scully é morto com um balaço na cara dentro de um ônibus. O personagem apareceu em HQs do Justiceiro.

Estamos dentro d’água e saímos em uma mansão no Stage 2, onde outro Guardroid espera. No Stage 3, cenário onde caminhamos por uma cachoeira e um armazém, aparece o Lindinho e o Esmaga-Ossos, um dos chefes mais difíceis.

Logo depois, há a fase Bônus. Pra variar, a Capcom deve adorar barris. Aqui, eles precisam ser metralhados para se conseguir uma boa pontuação. Deve ser a mesma fábrica que fornece para Street Fighter e Final Fight.

O local seguinte é o Arizona, e em um trem enfrentamos o chefão do Stage 4, o Guerrilheiro.

Esta fase tem uma particularidade, pois há uma continuação direta de cenário dela para o Stage 5, onde um segundo robozão nos espera, o Guardroid 2.

E finalmente chegamos ao Last Stage, o prédio do Rei do Crime, com todos os inimigos em cima de nós, e o Retalho como sub-chefe. Infelizmente, ele parece ter sido sub-utilizado, nada difícil de derrotar. O gordão sim é difícil — até a baforada do charuto dele arranca energia.

Justiceiro Marvel Capcom
Telas do game da Capcom, com mais uma arte do Justiceiro pelo traço de Jim Lee, artista que fazia as vendas da Marvel explodirem nos anos 90

O desfecho do game é o prédio em ruínas e prestes a desabar, e o Rei do Crime perto de uma granada com direito a um “Boa noite, gordão!” do Justiceiro. O final, independentemente de você jogar solo, é com os dois players juntos na ação.

Fury e Castle vão embora numa van que o Justiceiro usa no combate ao crime, e já era. Fim. Nos escritos finais, contudo, é dito que a polícia achou 275 [!] corpos de criminosos nos escombros do prédio, mas nenhum correspondia a um cadáver com características do Rei.

Os créditos finais são bem legais: Justiceiro e o Fury metralham e explodem as letras que nos mostram a equipe de produção do jogo.

 Créditos

Versão Arcade [“The Punisher Team” All Staff]
Planejamento e Visual Design: Akiman
Game Design: Maeda, Jun Keiba, Buchi, Ohn
Design de Programação: K.Nakai, T.Ueno, Y.Kawabata, Mitsu, Y. “ZZR” Mikami
Object Design: Eripyon, Matsunaga, Mayo Seriya, Daniel, Vlad.T, Inukichi, Minobeyan, Yokozo Yokota
Scroll Design: Koizumi, Iwai, Go, T.Tathivana, Mikiman, Marilyn Higuchi, Harusan
Música: “Pi-Bomb” Shimomura, Isao Abe
Design de Som: Toshio Kajino, Syun Nishigaki, Nobu.Oouchi
Direção: Poo
Ilustração: SENSEI

Opções criativas da Capcom em The Punisher

É muito importante salientar que o Justiceiro não costuma ter arqui-inimigos, pois ele MATA todos eles — exceções de sempre para Retalho e o Rei do Crime.

Esse último é importante em diversos backgrounds de outros heróis da Marvel, como Demolidor e Homem-Aranha, e por ser de muito apelo, isso obviamente inviabiliza sua morte definitiva, e consequente inutilização nas histórias. Mas não é por falta de tentar. Frank Castle sempre tenta matar o Rei.

Quanto ao Retalho, esse é o nêmesis do Justiceiro. Ele era da família mafiosa responsável por matar a família de Castle, e teve seu rosto ferrado quando foi jogado através de uma janela de um prédio, quando sofreu a vingança da Frank.

Justiceiro, arte de Jim Lee

Ele não morreu, e ficou com o rosto retalhado. Daí seu nome, Retalho (apesar de ser Jigsaw, no original). Ele nunca foi morto pelo Justiceiro, uma decisão bastante curiosa de vários roteiristas ao longo dos anos — seria imposição de algum editor?

O Retalho foi utilizado em várias ocasiões, inclusive num encontro do Justiceiro com o Batman, onde o bandido se alia ao Coringa, e no terceiro filme de Frank nos cinemas.

Ele também aparece na série da Netflix, como inimigo principal, mas pouco lembra as HQs, já que o Frank Castle interpretado por Jon Bernthall é bem diferente dos quadrinhos.

Os outros inimigos são casos ainda mais curiosos. Bushwacker (Guerrilheiro) é inimigo usual do Demolidor. Tem o poder de transformar qualquer parte de seu corpo em arma, preferencialmente os braços, que usa como canhão. Ele se encontrou com o Justiceiro em The Punisher #12 e #13, de 1989, história de Carl Potts com arte de Jim Lee.

Arte do desenhista Akiman, da Capcom, para o game do Justiceiro

Bonebreaker (Esmaga-ossos) faz parte dos Carniceiros, bando de ciborgues inimigos dos X-Men. Pretty Boy (Lindinho), o ciborgue com nome ridículo que aparece em diversas fases, é do mesmo grupo, e sabe-se lá porque os dois aparecem com peso no contexto de simples capangas.

A estreia dos Carniceiros, em The Uncanny X-Men #229 (1988)

Talvez o visual de Bonebreaker explique: tem a metade de baixo do corpo como um mini blindado de guerra, com lagarta e tudo.

O mais provável é que a saga Atos de Vingança (1989-1990) que permeava todas as publicações da Marvel Comics na época, influenciou de modo direto o line-up da Capcom para seu The Punisher.

A saga Atos de Vingança jogava vilões para combater heróis que nunca haviam enfrentado, em um plano arquitetado por Loki (sim, esse mesmo dos filmes do Thor e dos Vingadores).

Os Carniceiros lutaram com o Justiceiro em The Punisher #34 e #35, de 1990.

No mesmo contexto desses Atos, Frank Castle teve que se virar com o Doutor Destino, que estava metido no meio da bagaça também, o que talvez ‘explique’ a presença de um inimigo chamado Guardroid no jogo, uma armadura / robô que o Doutor usa no exército de seu país, a Latveria, mais um elemento que a Capcom insere das revistas da Marvel no lore do Justiceiro.

O Justiceiro na saga Atos de Vingança

De relevante mesmo em todas as histórias de Atos de Vingança, a Marvel nos deu a Psylocke que todos conhecemos: antes ela era uma inglesinha sem graça num uniforme rosa e cinza, e depois virou uma ninja chinesa supergostosa fodona num collant repicado.

Psylocke na arte de Jim Lee

A personagem fez enorme sucesso nesse mood,. e não sem razão a Capcom a usou em seu segundo game em parceria com a Marvel: o jogo de luta X-Men Children of The Atom.

X-Men Children of The Atom

O Justiceiro no Mega Drive

O Justiceiro da Marvel e Capcom só apareceu nos lares dos gamers com The Punisher e sua versão caseira, lançada em 1 de junho de 1994, a cargo da Sculptured Software, para o Mega Drive, console de 16-bits da Sega, e é o único port fora dos arcades do jogo.

Como de costume, ainda mais por ser lançado na América do Norte (lá os caras chamam o Mega Drive de Genesis), o jogo veio todo censurado, com as minas ninjas mais cobertas, e o primeiro boss, Scully, se livrando do balaço depois do interrogatório.

Além, é claro, dos cortes em gráficos e animações, devido as limitações do cartucho. Ah! E o Nick Fury não acende nem fuma charutos aqui.

Justiceiro Marvel Capcom
Só o Mega Drive / Genesis era a opção dada pela Capcom para brincar de Justiceiro da Marvel dentro de casa. A softhouse nunca mais disponibilizou o game The Punisher em qualquer outra plataforma

O Justiceiro da Netflix

O serviço de streaming fez o Justiceiro mais popular, com um seriado disponibilizado em sua plataforma em 6 de novembro de 2017. Frank já tinha aparecido na segunda temporada do Demolidor, que estreou na mesma plataforma em 18 de março de 2016.

Justiceiro Netflix Marvel
Como o Justiceiro influencia as camadas morais do Demolidor na série? Descubra em 13 horas de episódios

Os dois caras compartilham da mesma continuidade do universo cinematográfico dos outros super-heróis frequentes da Marvel nos filmes, como Homem de Ferro e Hulk, mas como o ritmo de filmagens e as empresas são diferentes, um encontro sempre teve empecilhos logísticos como desculpa para não interagirem.

O velho Frank mesmo já teve casa nos cinemas, com três longa-metragens que não fizeram justiça (viram o que fiz aqui?) à sua importância. Confira na matéria abaixo:

DEMOLIDOR | O melhor legado da Netflix para a Marvel é a segunda temporada

Jim Lee e Capcom

A Capcom e Marvel, junto com o desenhista Jim Lee, formaram uma tríade vitoriosa como poucas nos anos 90, década das maiores mudanças na história dos videogames, como o reposicionamento de grandes empresas como Nintendo, Sega e Sony; mudanças de formato de entrega do produto final, como o fim dos cartuchos e a introdução definitiva dos CDs; a morte do arcade e aparição de novos gêneros de games, como o survival horror.

Jim Lee de certa maneira participou disso também. O cara é considerado um dos maiores desenhistas do mundo, detalhista, dinâmico, dono de um traço muito característico e inventivo em seus designs quando assumiu X-Men.

Mas antes ele fez outros títulos na Marvel, e especialmente na revista do Justiceiro, consolidou seu traço.

O Justiceiro em diversos momentos, na arte de Jim Lee
Em X-Men, Jim Lee chegaria ao seu ápice como artista

Foi graças ao sucesso da revista dos X-Men com os desenhos de Lee que a Fox produziu a série de desenho animado que embalava as manhãs da TV Globo nos anos 90.

X-Men desenho animado

X-Men desenho animado
Apresentação do desenho animado dos X-Men pela Fox

X-MEN | Como a série policial Hill Streets Blues criou o desenho animado

Há uma menção do Justiceiro no desenho dos X-Men, quando aparece essa cena, em referência a um videogame chamado Assassin (assassino)

E foram esses mesmos desenhos que a Capcom usou para fazer seu game de luta X-Men Children of The Atom, jogo de luta entre os heróis e seus inimigos, produzido menos de um ano depois de The Punisher. A Capcom usou até mesmo os dubladores do desenho animado para o jogo.

Esse X-Men da Capcom forneceu mecânicas e jogabilidades que até hoje são padrão da indústria de videogames quando se fala em games de luta.

Arte promocional da Capcom para o X-Men Children of The Atom
Arte da Capcom para o game

O game saiu depois de The Punisher, e deu início a uma série de ‘versus‘ que ofereceu jogos excelentes como Marvel Super Heroes, X-Men versus Street Fighter, Marvel Super Heroes versus Street Fighter, Marvel versus Capcom 1, 2 e 3.

Arte promocional de Marvel Super Heroes
Marvel Super Heroes vs. Street Fighter
Marvel vs. Capcom

Justiceiro, fascismo e a a falência do sistema

Uma das artes promocionais de Justiceiro, que ganhou diversos títulos com o sucesso crescente após sua estreia em uma HQ do Homem-Aranha. Arte de Klaus Janson

Sobre o Justiceiro, ninguém melhor que o próprio criador do personagem, Gerry Conway, para falar a respeito de como e o que ele representa, em um entrevista cedida ao SyFy em janeiro de 2019, por conta do lançamento ano passado da segunda temporada do Justiceiro na Netflix:

Ele foi originalmente concebido, no gibi The Amazing Spider-Man #129 (fevereiro de 1974) como um criminoso. A ideia não era que ele fosse um anti-herói. Mas conforme estava escrevendo a primeira história, percebi que era isso que ele era, um anti-herói. Ele tem um código moral que eu poderia usar para resolver determinados pontos da história”.

Conway lembra que aqueles eram tempos mais simples, anos 1970, um cenário dicotômico no qual as histórias ainda não se aprofundavam psicologicamente com força nos personagens.

Hoje em dia, com tudo que sabemos sobre PTSD (Post-Traumatic Stress Disorder ou Transtorno de Estresse Pós-Traumático), com tudo que entendemos sobre como os soldados são afetados pelas guerras multigeracionais em lugares como o Afeganistão, um personagem como o Justiceiro pode falar sobre algo que é importante abordar para nós enquanto roteiristas e desenhistas”.

A polêmica sempre cercou o personagem, e com a vitrine popular que a Netflix oferece, Frank Castler ficou em evidência.

O que leva muitos fãs que não entendem completamente o personagem a achar que ele é uma coisa que ele não é. Como policiais, por exemplo.

Eles estão abraçando a mentalidade de um fora da lei. Não importa que você ache que o comportamento dele tem ou não justificativa, não importa se você admira seu código de ética. Ele é um criminoso. E policiais não deveriam abraçar um criminoso como seu símbolo”. Gerry ainda complementa: “Se um homem da lei, representando o nosso departamento de Justiça, o sistema, coloca o símbolo de um criminoso em seu carro, ele está dando uma declaração sobre o seu entendimento do que é a lei para ele”.

Nascido em Homem-Aranha

O design original do personagem foi criado por John Romita Sr., desenhista que era também Diretor de Arte da Marvel

Foi em fevereiro de 1974 que Gerry Conway e John Romita Sr., dupla responsável pelo título do Homem-Aranha, a principal revista do Homem-Aranha, trouxeram a vida um ex-combatente do Vietnã com arma em punho e uma grande caveira em seu peito em The Amazing Spider-Man #129.

Amazing Spider-Man #129 (1974), a estreia do Justiceiro nas HQs da Marvel, em Homem-Aranha. Arte de capa de Gil Kane, John Romita e Gaspar Saladino
Justiceiro, arte interna da revista, por Ross Andru

Estava criado o melhor anti-herói e matador de criminosos que o mundo das HQ veria: The Punisher, o Justiceiro, na tradução adotada aqui.

Na história, persuadido pelo Chacal, inimigo do Homem-Aranha, Frank Castle, o Justiceiro, sai à caça do cabeça de teia, e tem início uma grande corrida de gato e rato, até o Aranha conseguir provar sua inocência.

Conway é uma lenda da indústria. Trabalhou, ao longo de seus 50 anos de carreira, com todos os principais personagens tanto da Marvel quanto da DC.

Além de inventar o Justiceiro, matou a namorada de Peter Parker, Gwen Stacy, assassinando também a inocência que quadrinhos de super-heróis tinham.

Ele foi o autor do primeiro crossover das editoras, e escreveu nada mais nada menos que o encontro do Homem-Aranha com o Superman.

Nick Fury

Condessa Valentina e Nick Fury. Arte de Phil Noto

Nicholas Joseph Fury Sr., mais conhecido como Nick Fury, foi criado por Stan Lee e Jack Kirby nas revistas da Marvel Comics em Sgt. Fury #1 (1963), em aventuras durante a Segunda Guerra Mundial, quando ele era sargento do Exército e liderava o Comando Selvagem.

Depois da guerra, em mais uma missão militar, Fury foi inoculado com a Fórmula Infinito, que retardou seu envelhecimento, conforme uma aventura vista em Marvel Spotlight #31 (1976), escrita por Jim Starlin e desenhada por Howard Chaykin.

Fury se tornou agente da CIA em uma aventura mostrada em Nick Fury, Agent of S.H.I.E.L.D. #38 (1992), escrita por Eliot Brown e Bob Sharp, com arte de Jerry DeCaire. Suas atividades chamaram a atenção de um grupo de oficiais do governo americano e de outros países, bem como de empresários e políticos ao redor do mundo.

E ele recebeu e aceitou o convite para se tornar diretor da SHIELD, conforme mostrado por John Byrne na revista Marvel: The Lost Generation #10 (2000).

Sua atuação como agente da SHIELD começa em Strange Tales #135 (1965), por Lee e Kirby novamente. A partir do número #151 (1966), o desenhista Jim Steranko entra na revista, e seu traço inovador, dinâmico e cinematográfico, muda a revista para sempre.

As aventuras foram mostradas até o número #168 (1968), quando Steranko cria a nova revista Nick Fury – Agent of S.H.I.E.L.D, onde suas pirações gráficas alcançam o ápice, num dos melhores quadrinhos de super-heróis de todos os tempos. A revista durou 18 edições, mas Jim escreveu e desenhou apenas 5 delas.

A arte cinematográfica e revolucionária (pra época, sem balões de fala), de Jim Steranko

Nick Fury manteve o status de Diretor da SHIELD por anos na Marvel, e assim ele participou da maioria das sagas da editora.

Nick Fury com os agentes Alexander Pierce e Kate Neville

Nos anos 90, ele estrelaria uma graphic novel com o Justiceiro, mas isso não chegou a ser lançado. Mas há artes de Jim Lee, o artista escolhido para ilustrar, para nos dar alguma ideia de como seria.

Nick Fury em uma história de X-Men #1, de 1991

Fury perdeu seu status militar e de espião quando foi o ponto central da saga Pecado Original (2014). Ele matou o Vigia Uatu (!), tomou seus olhos (!!), assim tendo conhecimento ilimitado não só da Terra desde tempos imemoriais, como grande parte do Universo Marvel em si (!!!).

Ele foi punido por outros Vigias a tomar o lugar de Uatu como Vigia no setor espacial que a Terra está, e ele se tornou The Unseen, “acorrentado” para sempre na Lua.

Em Fantastic Four #25 (2020), escrita por Dan Slott e desenhada por Paco Medina, Uatu rescussita e o status de Nick Fury é alterado mais uma vez, com ele sendo agora um agente de campo do Vigia para a vinda da “Primeira Guerra”, que ainda não foi mais detalhada.

O Justiceiro ficou tão popular que teve várias revistas, uma delas era apenas sobre o seu arsenal contra o crime, com desenhos esquemáticos das armas
Dolph Loudgren como Frank Castle em o Justiceiro (1989)
Thomas Jane como Frank Castle em O Justiceiro (2004)
Ray Stevenson como Frank Castle em Justiceiro – Zona de Guerra (2008)
Jon Bernthal na segunda temporada de Demolidor, da Netflix, em 2016
Justiceiro Netflix Marvel
Jon Bernthal no seriado do Justiceiro da Netflix, de 2017

/// ROBERT REDFORD. Alexander Pierce foi adaptado no segundo filme do Capitão América, Capitão América 2 – Soldado Invernal, de 2014, numa reinterpretação completamente diferente, feita pelo Robert Redford, um dos atores mais prestigiados de Hollywood.

/// MICROCHIP. O personagem Microchip apareceu na série do Justiceiro da Netflix, onde sofreu severa mudança visual e de origem. Foi interpretado pelo ator Emon Moss-Bachrach. O personagem também apareceu no terceiro longa-metragem de Frank Castle nos cinemas, Justiceiro Zona de Guerra, dirigido pela Lexi Alexander, em 2008, onde foi interpretado por Wayne Knight. O gordinho é famoso por ter feito Newman em Seinfeld, uma das melhores séries de comédia de todos os tempos, e Dennis Nedry, o nerd que causa todo o caos no primeiro filme de Jurassic Park.

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