Akira Yamaoka é o responsável em criar novas atmosferas sombrias para o medo na indústria de videogames nos anos 90, e com Silent Hill um novo patamar do medo foi atingido na elaboração de trilhas sonoras dos games.
E se não fosse uma mistura rica e bem elaborada de influências de cineastas e longa-metragens de terror e suspense, Yamaoka ainda poderia estar cuidando de design de interiores e decoração. A música que abre o game Silent Hill, de 1999, para o PlayStation, de autoria de Akira Yamaoka, e o clipe de apresentação desse game de terror, é esta:
Resident Evil foi o game inaugurou o gênero survival horror na indústria de jogos eletrônicos para consoles em 1996, e a softhouse Konami logo produziu um para chamar de seu.
Conseguiu até mais, criando um monstro tal qual os inimigos que enfrentamos no título: os games de Silent Hill são jogos obrigatórios para se ter em qualquer biblioteca.
São narrativas de combate de seres humanos contra criaturas demoníacas, quebra-cabeças, terror psicológico pesado, e medos antigos da humanidade.
Quem compôs a parte sonora toda foi Akira Yamaoka, e essa música aí em cima é intitulada simplesmente “Silent Hill“.
Ela evoca ambientes escuros com seus sons industriais e trip hop, na melodia cada vez mais crescente que culmina epicamente. O resto do game segue nessa cavalgada espiritual de som.
O primeiro Silent Hill de Yamaoka não é o exemplo máximo de sua força criativa, pois o segundo jogo tem mais qualidade, mas isso em nada diminui a importância de sua contribuição na origem de tudo.
Como Akira usou filmes clássicos
na composição de Silent Hill
Os grandes clássicos do terror, como Psicose e Halloween, demonstram a importância de uma qualidade sonora bem cuidada para criar um ambiente mais tenso e perturbador para a audiência.
Akira se focou no que importa no game: criar atmosfera. Sua visão (e ouvido) singular é decisiva nesse direcionamento criativo.
Mostra inventividade em nos deixar apreensivos apenas com acordes e batidas pontuais. Em vez de usar músicas pesadas em cenas de ataque, compõe melodias suaves que crescem perto do momento fatídico.
Tira do usuário sua capacidade de tentar antecipar sustos e surpresas, e entrega algo mais original.
Quando faz músicas para Silent Hill, diz Akira em uma entrevista famosa ao site Spel Musik , ele tenta também convencer os jogadores daquilo que estão jogando, usando a música como instrumento dessa mensagem.
E assim Yamaoka compôs algumas das músicas mais assustadoras da história dos games.
Suspiria, um clássico do terror italiano do mestre Dario Argento, filmado em 1977, é o filme favorito de Akira, e ajuda a explicar a fascinação dele pelo sombrio som que o horror pode oferecer.
Goblin é uma banda italiana de rock progressivo e é o apoio de Argento na maioria de seus filmes, e foi a principal inspiração do japonês.
Ele também já revelou em entrevistas o gosto especial que tem por Angelo Badalamenti, o compositor das trilhas sonoras dos filmes de David Lynch; do Metallica; do Depeche Mode; e do Nine Inch Nails, banda americana de rock industrial, liderada por Trent Reznor.
Yamaoka começou como designer de produtos e de interiores, e conseguiu entrar na Konami como compositor musical freelancer.
Usando guitarra, teclado, piano, caixa de ritmos e sampler, compôs as trilhas sonoras de diversos videogames clássicos.
Seu primeiro trabalho foi para Sparkster: Rocket Knight Adventures. Em seguida, o mega sucesso International Superstar Soccer, o melhor jogo de futebol para consoles na época. Snatcher, o Blade Runner próprio da Konami, teve composições suas.
Castlevania: Symphony of the Night, um dos mais fantásticos jogo 2D da indústria, teve seu toque. E Dance Dance Revolution, precursor de jogos musicais de dança, também registra trabalhos de Yamaoka.
A morte em Silent Hill
é a inércia da Konami
Desde Silent Hill 3, Akira Yamaoka passou a atuar também como produtor da série, mas ainda continuou a compor as músicas dos jogos.
Atualmente, a equipe responsável pela criação da franquia, o Team Silent, estão trabalhando em outros lugares, já que a Konami passa por uma fase de desmonte de focos de produção de jogos AAA, deixando seu catálogo imenso e de qualidade pegando poeira.
Jogos AAA é um termo do mercado para os maiorais na indústria de videogames, e por definição, são os rockstars dos games, com prestígio e popularidade suficientes para garantirem vendas apenas com o nome, já que suas bases foram estabelecidas em notórios games bons e de ótimas vendagens.
O jogo Silent Hill foi lançado em janeiro de 1999, e a trilha sonora estava disponível em LP e CD, dois meses depois, apenas no Japão e na Europa.
Em 2017, saiu uma edição em vinil novamente pela Mondo Tees. Para quem gosta de eletrônico, jazz, rock, algo mais abstrato e alternativo desses gêneros, fica a dica de um excelente álbum a ser ouvido.
A única faixa do game Silent Hill que não foi feita por Akira é a penúltima, Esperandote, curiosamente a única que tem canto.
Ela é feita por Rika Murakana, compositora de várias músicas de Metal Gear Solid, outro game AAA da Konami. É comum atribuir essa canção como uma homenagem ao diretor de cinema David Lynch, que frequentemente insere músicas em espanhol em seus filmes em momentos inusitados de tensão.
Twin Peaks e o filme Alucinações do Passado, duas obras de Lynch, foram influências diretas no game de Silent Hill.
Não há perspectivas de novos games da franquia, então, trilha sonora tampouco.
A última notícia relacionada é de anos atrás, quando a Konami produziu um teaser de um game que lançaria, chamado Silent Hills.
Seria o nono jogo da série principal, se passando logo após Silent Hill: Downpour. Yamaoka disse que ficaria feliz de fazer o som.
A empresa criou uma demo chamada Playable Teaser, mais conhecida como P.T., uma pequena joia moderna dos games, passada em alguns corredores e cômodos de uma casa desconhecida, e assombrada por uma mulher horrivelmente aterrorizante.
Controlávamos um personagem com as feições do ator Norman Reedus, famoso pelo personagem Daryl, da série de zumbis Walking Dead.
A produção tinha o nome de Guilhermo Del Toro, conhecido cineasta e fã de terror, e o diretor Hideo Kojima, o gênio por trás da série Metal Gear, outro petardo da softhouse, e com quem Akira trabalhara em Snatcher.
Seria a produtora de Kojima que faria P.T., e a Konami distribuiria. Em 12 de agosto de 2014, a Sony anunciou o teaser interativo, disponibilizado na PlayStation Store exclusivamente para PlayStation 4.
O projeto foi cancelado sem nenhuma explicação, sumiu como se fosse uma aparição, e se foi apenas para nos surpreender.
Psicologicamente maluco e visualmente pesado, P.T. se tornou um clássico instantâneo, mesmo durando menos que um preparo de miojo. Nada disso importou.
A briga foi tão feia para a Konami que ela apagou até dos servidores online a demo. Quem a baixou, e ainda a mantém no HD interno do console, tem um ouro nas mãos. A lenda macabra de Silent Hill é tão forte que até mesmo seu último não-jogo se torna lenda.
Os mais recentes rumores sombrios da franquia datam de janeiro de 2020. “Não podemos compartilhar nada no momento, mas estamos ouvindo os jogadores e considerando maneiras de fazer um novo game“, afirmou a empresa ao PCGamesN.
A indústria musical em 1998
Em 1998, Akira Yamaoka fazia as composições do jogo Silent Hill, que seria lançado apenas em 31 de janeiro de 1999.
Em 98, Shakira e Alanis Morissette lançavam seus segundos álbuns; o Queens of The Stone Ages e o System of Down estreavam seus primeiros discos; Mark Lanegan, ex-membro da banda grunge Screaming Trees, lançava seu terceiro disco solo; Rob Zombie iniciou sua carreira solo com o lançamento do disco Hellbilly Deluxe; Max Cavalera iniciou sua nova banda após a saída do Sepultura, o Soulfly; o Kiss lançou o álbum Psycho Circus, o primeiro álbum com a formação original desde Unmasked; Mastodon, Strokes e Avenged Sevenfold eram formados; Blaze Bailey deixava o Iron Maiden e Bruce Dickinson retornava aos vocais, assim como Adrian Smith para as guitarras; Tommy Lee abandonava o Motley Crue, e Madonna mandava com Ray of Light e Britney Spears aparecia nas paradas. E no Brasil, o grupo Fat Family vendia mais de um milhão de discos.
Estas são as músicas do primeiro Silent Hill.
Logo abaixo, um link com toda a OST.
01 – Silent Hill (2:51)
02 – All (2:07)
03 – The Wait (0:09)
04 – Until Death (0:51)
05 – Over (2:04)
06 – Devil’s Lyric (1:26)
07 – Rising Sun (0:57)
08 – For All (2:39)
09 – Follow The Leader (0:52)
10 – Claw Finger (1:32)
11 – Hear Nothing (1:33)
12 – Children Kill (0:19)
13 – Killed By Death (1:25)
14 – Don’t Cry (1:29)
15 – The Bitter Season (1:26)
16 – Moonchild (2:48)
17 – Never Again (0:45)
18 – Fear Of The Dark (1:13)
19 – Half Day (0:39)
20 – Heaven Give Me Say (1:47)
21 – Far (1:14)
22 – I’ll Kill You (2:52)
23 – My Justice For You (1:21)
24 – Devil’s Lyric 2 (0:25)
25 – Dead End (0:17)
26 – Ain’t Gonna Rain (1:12)
27 – Nothing Else (0:51)
28 – Alive (0:33)
29 – Never Again (1:01)
30 – Die (0:56)
31 – Never End, Never End, Never End (0:46)
32 – Down Time (1:38)
33 – Kill Angels (1:16)
34 – Only You (1:16)
35 – Not Tomorrow 1 (0:48)
36 – Not Tomorrow 2 (1:38)
37 – My Heaven (3:17)
38 – Tears Of… (3:16)
39 – Killing Time (2:54)
40 – She (2:36)
41 – Esperandote (6:26)
42 – Silent Hill (Otherside) (6:23)
Akira hoje trabalha com o produtor Suda51 na Grasshopper Manufacture, outra softhouse de games. Yamaoka tem um álbum próprio chamado iFuturelist, lançado em 2006 — um disco com muito eletrônico e versões de músicas de outros jogos que produziu para a Konami.
/// REDES. Akira Yamaoka tem perfil no Twitter e no Instagram, e também tem um site próprio, todo estiloso e característico.
/// TRÍADE. Junto com Yoko Shimomura e Yuzo Koshiro, Akira Yamaoka fazem uma tríade poderosa de compositores de trilhas sonoras de videogames.
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O Destrutor é uma publicação online jornalística independente focada na análise do consumo dos produtos e tecnologia da cultura pop: música, cinema, quadrinhos, entretenimento digital (streaming, videogame), mídia e muito mais. Produzir matérias de fôlego e pesquisa como essa, mostrando todas essas informações, dá um trabalhão danado. A ajuda de quem tem interesse é essencial.
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