JAGUAR XJ220 | A música de jazz eletrônico nos games

O game Jaguar XJ220, jogo de corrida lançado em 1993 para console caseiro Sega CD, é um bom exemplo do uso de jazz na música ambiente para os jogadores de videogames terem a imersão necessária para jogar.

São músicas de uma trilha sonora baseada em club music, que dominava os games em geral nos anos 90, uma espécie de house com um toque deep, resultando em jazz modernoso — um ambient competente que funciona até como lounge para visitas sociais, ou almoços e jantares despretensiosos com amigos.

Os computadores Amiga tiveram a primeira versão do game, em 1992, mas a versão de Sega CD é a que tem melhor qualidade sonora, e a que trataremos aqui.

Jaguar XJ220 música

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Jaguar XJ220 música
Telas de introdução, opções de início e jogabilidade de Jaguar XJ220, para o console Sega CD

A música de Jaguar XJ220
(1992, da Core Design)

00:00 Title Screen
06:02 Country Select
08:39 Shop
11:41 Results Screen
13:42 Course Info
15:28 Unused Track
17:38 Game Over
20:15 Speed E Boy
24:39 Funky Fever
29:59 Moody Breeze
34:41 Indego
38:23 Groovy Havok

Martin Iveson é o compositor das músicas da trilha sonora de Jaguar XJ220.

Em 1993, nos videogames, apareciam ícones eternos como Sonic The Hedgehog, Mortal Kombat 2, Daytona USA, Street Fighter II Turbo, Super Mario All-Stars, Rock’n’Roll Racing, Top Gear 2, Samurai Shodown.

Todos jogos com trilhas sonoras inventivas e marcantes, com compositores ainda na pré-história da programação de chips sonoros, mas com competência de prêmio Nobel em criar músicas eletrizantes e memoráveis.

No mundo da música “tradicional”, em 1993, nasciam o Backstreet Boys, Laura Pausini e o System of a Down.

O primeiro acústico com artistas — sem ser de língua inglesa — era lançado com a marca MTV, e foi dos suecos do Roxette.

No Brasil, no cenário de rock, o evento Juntatribo é criado em Campinas. Bruce Dickinson deixa o Iron Maiden para o Blaze Bailey assumir. Michael Kinske faz seu último show com o Helloween, e o Nirvana comete seu acústico também (deve ser por isso que o Kurt se matou). Sepultura lançou seu Chaos A.D., o Pearl Jam seu Vs., o Titãs seu Titanomaquia e Guns ´N Roses o The Spaghetti Incident.

No ambiente do jazz, rolou o décimo quarto Montreal International Jazz Festival.

Morriam Dizzy Gillespie e Frank Zappa.

Whitney Houston alcançava o topo com sua canção I Will Always Love You na Inglaterra.

Quem estava em segundo lugar era o 2 Unlimited, que é quem importa para a gente agora. Eles eram um grupo de eurodance e techno — os belgas Jean Paul de Coster e Phil Wilde, e os holandeses Ray Slijngaard e Anita Doth — que dominavam a cena eletrônica com um som que se tornou bastante característico na época.

Começaram em 1991 com o disco Get Ready. No segundo álbum, o single No Limit, música lançada em janeiro de 1993, foi a 1° em mais de 42 países.

Ficou mais de cinco meses nos tops e mais de seis semanas em 1º lugar no Reino Unido. Esta é a canção mais tocada dos caras, um clássico e um hino de dança para todos os DJ’s.

As influências deles em Jaguar não são as predominantes, mas suas feições podem ser percebidas com clareza.

No Limit

O som de músicas como No Limit ditou muitos ritmos de sons a se seguir no mundo dos videogames de corrida, e ambientações sonoras de techno, eurodance, house, pop e rave promoveram influências duradouras até os dias de hoje.

Jogos de corrida seguiam invariavelmente uma sopa jazz desses ritmos, e com Martin Iveson na trilha sonora de Jaguar XJ220, não foi diferente.

As exceções de sempre na música

Há de se ressaltar as belas exceções desse estilo de som em jogos de corrida, como Road Rash, série de videogames de corrida em motos, da Electronic Arts, com o primeiro sendo lançado em 1991.

A trilha sonora desse jogo nos consoles 3DO, Sega CD, PlayStation, Sega Saturn e computadores com Microsoft Windows continha 14 faixas de músicas de artistas da A&M Records, como Soundgarden, Paw, Hammerbox, Therapy, Monster Magnet e Swervedriver.

O port para o Sega CD é o único na série que reproduz as trilhas sonoras dos artistas durante as corridas, assim como durante todo o jogo.

Os ports de 3DO, PlayStation, Sega Saturn e Microsoft Windows voltaram a usar música sintetizada genérica durante as corridas, e as trilhas sonoras dos artistas nos menus e introduções.

Interface gráfica de Jaguar XJ220 para o jogador poder selecionar a música durante as corridas

Outro exemplo, bem mais conhecido do público em geral, foi o primeiro Crazy Taxi, jogo de corrida feito em 1999 para arcade pela Sega no sistema Sega NAOMI.

O game possui versões para Dreamcast (2000), Playstation 2 (2001), PSP, GameCube (2001), PC (2002), Xbox 360, PlayStation 3 e Zeebo (2009). Bandas como Bad Religion e The Offspring têm suas canções mais famosas nas trilhas das versões arcade, Dreamcast, PlayStation 2 e GameCube.

No mesmo ano de Jaguar XV220, era lançado Rock N’ Roll Racing, jogo de corrida e de combate de carros, desenvolvido pela Blizzard Entertainment (que na época se chamava Silicon & Synapse) e publicado pela Interplay para os consoles Super Nintendo e Mega Drive.

A trilha sonora (obviamente adaptada em formato Midi) tem Emerson, Lake & Palmer, Black Sabbath, Steppenwolf, George Thorogood and the Destroyers e Deep Purple.

O poder do marketing aliado da música na hora das vendas

Fotografia real de um Jaguar XJ220, usado na arte de capa do game para Sega CD

Entender o poder do marketing também ajuda a compreender melhor como que funciona a máquina azeitada desse pequeno parafuso de cultura pop de games.

Jaguar XV220 é uma peça de publicidade muito competente feita para a empresa de carros Jaguar, usada para o supercarro mais rápido do mundo dos anos 90, até o Bugatti EB110 tirar o seu título, e esse perder o cinturão para o McLaren F1.

O veículo em questão — Jaguar XJ220, mesmo nome do título do game — é um superesportivo criado pelo chamado Saturday Club, o grupo que reunia engenheiros da marca britânica em torno de novos projetos.

Disso, saiu um veículo que teria todas as tecnologias de ponta que estavam sendo instaladas nos modelos de alto desempenho na época.

O cupê do Jaguar XJ220 tinha estilo baixo e motor V6 3.5 biturbo instalado na posição central-traseira. Alcançava até os 100 km/h em cerca de 4 segundos, e concorria direto com a Ferrari F40 e Porsche 959, dois must que todo ricaço era obrigado a ter nos anos 90.

O jogo foi produzido pela Core Design, que adquiriu a licença da marca, e usou sua experiência de games como Lotus para produzir Jaguar XJ220. Elementos de Top Gear, Outrun e Test Drive II: The Duel — os melhores games de corrida do mercado — podem ser vistos em Jaguar.

O jogo no computador Amiga

O único carro controlável no jogo é o que dá título ao game. São 12 corridas em um campeonato que passa por 12 diferentes países.

Há várias inovações no game, como editor de pistas; escolha de nacionalidade de seu piloto, com a corrida começando no país correspondente; 32 pistas, um número grande para a época; cenários variados como uma Inglaterra nublada, uma Suíça com neve ou as empoeiradas ruas do Egito; danos nos carros; dinheiro para melhorias; e a escolha da trilha sonora direto em uma interface no rádio do carro.

Se for atrás de um exemplar, prefira a versão do Sega CD, que entrega sprites grandes e música com qualidade de CD.

O jogo no Sega CD

Para a versão do Amiga, a Core usou como oponentes os supercarros Porsche 911, Lamborghini Countach, Ferrari F40 e Nissan Skyline, todos bem visíveis, e sem licença provavelmente. Todo esse conteúdo foi retirado para a versão de Sega CD.

Usando um recurso criativo da indústria de games, a softhouse usou nomes alterados, como Ferrino (Ferrari), Bezantti (Bugatti), Sktuck e Felini.

A empresa britânica Core Design foi fundada em 1988, e um ano depois de lançar Jaguar XJ220, foi adquirida pela Eidos Interactive.

Foi o início dos trabalhos com a série Tomb Raider, um game de aventura que se tornou um megasucesso de vendas e crítica, com a heroína e exploradora Lara Croft deixando qualquer lembrança de Indiana Jones para trás.

Ela se tornou um ícone do poder feminino nos games, território até então praticamente exclusivo de meninos. Os profissionais da Core executaram a produção de todos os títulos da Lara até 2003, no Tomb Raider: Angel of Darkness.

A música de Martin Ivenson nos videogames

Jaguar XJ220 música
O compositor Martin Iveson, responsável pela música em Jaguar XJ220

O compositor britânico Martin Iveson trabalhou em muitos jogos na indústria de videogames, mas também desenvolveu obras no mercado tradicional da música. Ele fez canções de house music, deep house, hip-hop e nu jazz para sua própria empresa, a Atjazz Record Company. Este site reúne alguns de seus trabalhos fora da área de games.

Alguns jogos famosos que tem o talento de Martin Ivenson:

Shellshock 2: Blood Trails (2009)
GTI Club: Rally Côte d’Azur (2008)
Lara Croft: Tomb Raider – The Angel of Darkness (2003)
Project Eden (2001)
Tomb Raider: Chronicles (2000)
Tomb Raider: The Lost Artifact (2000)
Fighting Force 2 (1999)
Ninja: Shadow of Darkness (1998)
Tomb Raider: Gold (1998)
Tomb Raider III: Adventures of Lara Croft (1998)
Fighting Force (1997)
Swagman (1997)
Shellshock (1996)
Tomb Raider (1996)
Thunderstrike 2 (1995)
Battlecorps (1994)
Blastar (1993)
Chuck Rock II: Son of Chuck (1993)
Chuck Rock (1992)

Arte promocional da Sega, com destaque para Jaguar XJ220, ao lado de um clássico dos games, The Secret of Monkey Island
O Game Over de Jaguar XJ220 no Sega CD tem uma tele especial, acompanhado, claro, de uma música exclusiva

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