As interações sociais em Clube dos Cinco começam sem nomes, entre alguns jovens estudantes nos Estados Unidos dos anos 1980, onde descobriremos que a estranheza e os problemas da vida são universais, não importa o lugar.
Aos poucos, eles vão se conhecendo e descobrindo que são mais parecidos do que imaginavam.
Dirigido pelo cineasta John Hughes e focado apenas 5 desses jovens, Clube dos Cinco é um dos filmes mais legais da década de 80, e suas complexas dinâmicas sociais operam em cima da comédia, do drama e do romance, um mood com o qual o diretor se notabilizou em sua carreira, cheia de filmes de grande sucesso com esse tema.
Mesmo que a realidade retratada seja uma americana, muitos elementos ainda podem ser transpostas para nossa realidade. Assistir Clube dos Cinco é uma viagem no tempo, quando nossos problemas na escola eram os problemas que a gente pensava ser apenas naquele momento, mas que são para a vida toda.
Tentar resolver com a ajuda de outra pessoa, é um dos primeiros passos para superá-los.
O elenco é composto pela musa adolescente Molly Ringward, Ally Sheedy, Emilio Estevez (o irmão menos bang de Charlie Sheen), Judd Nelson (um dos mais porre de Hollywood na época) e Anthony Michael Hall. Todos figurinhas carimbadíssimas dos filmes juvenis dos anos 1980.
Clube dos Cinco
(The Breakfast Club, 1984, de John Hughes)
O filme Clube dos Cinco começa com a melhor música de abertura — Don’t You (Forget About Me), do Simple Minds –, numa apresentação de créditos em tela preta, só nomes dos atores. O longa-metragem foi produzido, escrito e dirigido por John Hughes. Antes de começar efetivamente, temos uma citação musical de David Bowie que encerra a tela preta, que é esfacelada para o início do longa.
Estamos em 24 de março de 1984, numa escola de ensino médio em Shermer, estado de Illinois, com a narração de um dos protagonistas, ainda desconhecido para nós.
Vamos acompanhar um “cérebro” (nerd), uma esquisitona perdida, um atleta, uma princesa (patricinha) e um “criminoso”, o delinquente que não pode faltar.
Eles estão em detenção, uma forma de punição escolar americana em que os estudantes são obrigados a passar o sábado inteiro na escola em alguma atividade.
O filme de Hughes vai tratar desses cinco estereótipos de estudantes. E as figuras maternas e paternas deles nos dizem muito sobre o que veremos.
Todos vem de carro para deixar os jovens na escola: a mãe do nerd espera que ele use o tempo para estudar mais; o pai do atleta está decepcionado e ordena que ele se comporte mais para não comprometer a bolsa de estudos que ganhará; a patricinha é tratada como a mais fútil das pessoas pelo pai; o delinquente chega sem ninguém (o que diz muito sobre ele) e a esquisitona é deixada por alguém, sendo que nem sabemos se é o pai ou a mãe, já que nem se falam quando ela desembarca.
A “pena” na detenção escolar é estipulada pelo vice-diretor da escola. Eles terão que contar, em mil palavras, uma descrição de quem julgam ser e o que desejam ser. O criminoso, claro, é o bullying da turma, e antagoniza absolutamente com todos.
O vice-diretor é Richard Vernon (Paul Gleason) é o primeiro a ser nomeado no filme, e como a maioria dos filmes de Hughes, exemplifica a problemática dos adultos perante os jovens.
A patricinha e o atleta são os mais incisivos com o delinquente enchendo o saco, e logo a mocinha solta uma no meio dele: “ele é um ninguém, se sumisse, ninguém ia se importar.” Mas quando é ele que vai contra Vernon, que ordenou que deixasse a porta onde estão aberta, ninguém o dedura.
Só aos 17 minutos descobrimos o nome do atleta: Andrew Clark (Emilio Estevez). Quando Vernon o acusa furioso de ter escondido o parafuso da porta (que agora não fechava mais), também nos diz muito sobre como Andy reage aos adultos.
Improvavelmente, o bad boy puxa o assunto para ele, o que lhe resulta mais 8 sábados de castigo numa “luta” de quem “vence uma discussão” com Vernon.
“Devia investir mais em si mesmo do que tentar impressionar os outros“, diz a patricinha.
Como se nota, há uma gangorra emocional de todos os envolvidos, ora ao lado de uns aos outros e ora contra.
A patricinha tem problema com os pais, e deixa escapar isso numa conversa. O delinquente parte para cima de Andy dizendo que ele também não gosta também dos pais, o que mostra um nervo bem exposto do colega.
O nerd tenta parar a briga, mas é rechaçado pelo valentão. Aliás, Brian Johnson (Anthony Michael Hall) é o nome do nerd, revelado aos 25 minutos.
A patricinha se chama Claire Standish (Molly Ringwald) — os nomes saem no meio de outra briga, uma constante na narrativa do filme. O delinquente enche a menina falando de sexo, apostando que ela é virgem.
Também tripudia do faxineiro, Carl (John Kapelos), personagem que é fundamental no conceito que o Clube dos Cinco opera.
Brian sente vergonha por ser virgem. Diz não ligar muito, até que ele aponta para Claire como uma possível conquista, para raiva e decepção de menina, que chega a dizer que não liga para o fato dele ser virgem.
A morena esquisita só abre a boca aos 32 minutos. Quando Andy pergunta o que ela trouxe para beber no almoço, e ela responde “vodka“. Melhor impossível.
Claire come sushi. Andy um monte de alimentos. A morena apenas Coca-cola e um lanchinho com muito…açúcar? Doida.
O delinquente faz uma imitação brutal de Brian com seus pais (inventando tudo da cabeça e acertando na mosca), e quando faz o mesmo com Andy, recomeça outra briga.
Os dois parecem prestes a explodir um confronto brutal, uma das mais tensas do longa-metragem, com a melhor tirada que John Bender (Judd Nelson) faz no filme, com Andy a respeito de cicatrizes.
A gangorra de emoções continua com uma tentativa dos jovens em pegar uma faca no armário de Bender, outra excelente música tocada na cena deles fugindo de Vernon pela escola, e até Bender se “sacrificando” para salvar os outros quatro do monitor.
Também agora sabemos o motivo da detenção do bad boy Bender: disparou o alarme da escola na sexta-feira.
Vernon é muito mais bosta do que parece. Chama Bender para um confronto físico, pois sabe que sua posição de adulto o favorece. Trata o jovem como o mais absoluto lixo.
Bender foge de sala trancada onde Vernon o deixou, e Clube dos Cinco tem uma de suas primeiras cenas que envelheceram bem mal, com o rapaz debaixo da carteira de Molly, se escondendo de Vernon.
Ele vê a calcinha da moça, e fica meio que implícito que ele a tocou inapropriadamente.
Os quatro alunos encobertam Bender, e eles parecem se ligar mais agora. O “bandidão” convida todos a fumarem um cigarro de maconha, e é muito legal a cena deles trocando carteiras de identidade.
Assim, com mais de 1 hora de filme, conhecemos melhor Allison Reynolds (Ally Sheedy). Ela revela que quer fugir dos pais, e parece muito insatisfeita com a vida.
Emilio Estevez doidão de maconha é muito engraçado, suas caras e bocas não negam seu parentesco de irmão com Charlie Sheen. Só a esquisitona que não se enturma na maconhada.
Andy tenta se aproximar dela, também fala dos pais, o que sensibiliza a menina — os pais dela a ignoram, e os pais dele o cobram. Allison demorou a falar e quando fala, fala mais que a boca.
Diz que faz sexo até com psiquiatra, e faz um joguinho para encher o saco de Claire, carimbada como a virjona do grupo.
Mas era mentira da morena, que inventou tudo a respeito de sua vida sexual. Andy colou a bunda de um cara, por isso na detenção. Fez isso para ficar bem com o pai, para mostrar que é durão e não aceitava desaforo.
Ele verdadeiramente se arrepende, e agora pensa no pai do pobre garoto humilhado.
Brian também se revela. Sofre a mesma pressão de Andy nos esportes, mas nas notas. O momento de revelações íntimas é cagado por Bender, ameaçando Claire, mesmo quando ela joga a hipocrisia das conversinhas na cara de todos: que ninguém mais vai se falar na segunda-feira, quando todos vão retomar suas vidas e rotinas de sempre.
Só Brian e Allison parecem de boa com o assunto. Mesmo assim, Claire diz que eles não ligam de manter a amizade porque todos naturalmente devem querer a amizade dela. “Presunçosa“, joga Brian na cara da patricinha.
É o cerne de Clube dos Cinco. Por um acaso de um dia atípico, cinco jovens almas se conectaram e descobriram mais coisas em comum do que eventuais que as desunem.
Mas o quão isso é sustentável?
O nerd diz que sua vida anda tão pesada que arrumou uma arma para se matar, pois não zerou todas as provas, e seus pais vão ficar loucos.
A tal arma era uma de sinalização, o que não impediu ele de ser mandado para a detenção. Isso faz todos rirem, e aumentar mais um pouco a conexão criada entre eles.
Nessa altura, descobrimos que o narrador do filme desde o começo é Brian, que não foge do clichê americano de nerd que faz todas as tarefas dos outros, bem como ele ficar sozinho, já que Bender fica com Claire e Allison com Andy.
Aliás, a morena não fez nada para estar ali, veio porque quis para a detenção. Claire a “arruma” para um encontro com Andy, outro momento que envelheceu mal.
Sexo, drogas, festas, não são os reis aqui nessa narrativa, que conta com clichês para desconstruir, assim se encaixando em estereótipos completamente diferentes do convencional universo estudantil americano.
A abertura do filme mostra pedaços da vida, natureza morta, cenários da escola. Uma natureza que o faxineiro Carl seguiu. Veja onde ele está agora. É por isso que Hughes o usa para contrapor Vernon, que quase arranca os cabelos com as atitudes dos jovens.
A simplicidade sucinta do filme é percebida pelo fato de Hughes ter escrito o roteiro em apenas 2 dias, fora que ele deu liberdade aos atores improvisarem bastante, incluindo cenas cruciais, como a sequência de diálogos no chão da biblioteca.
A balança entre o drama e a comédia é exata nos diálogos descontraídos.
Mesmo com os erros apontados, como os estereótipos e clichês descosturados sendo novamente sublimados no fim, funciona. Afinal, se é Brian o narrador, se é ele quem batiza o grupo de “The Breakfast Club”, se é ele quem se basta sozinho, é razoável supor que ele é o próprio diretor no longa.
Todos precisamos um pouco desse 5 do Clube do Cinco.
Os conflitos, as diferenças e, no final das contas, as semelhanças entre eles em lidar as diferentes pressões e dificuldade em se encaixar no mundo, são sublimados pela consciência de que não podem escapar dele.
O que não abaixa nada nossas expectativas em querer saber: como foi a segunda-feira deles de novo num dia normal na escola?
A formação do Clube dos Cinco
O filme já entrega spoilers para os mais atentos: dá pra ver a arma sinalizadora de Brian e uma foto de formatura de anos atrás, com um jovem Carl em destaque como “Man of the Year“, “homem do ano“, em tradução livre.
O ator John Candy, um dos atores mais engraçados de todos os tempos, foi considerado para interpretar o zelador. Candy faria 3 grandes filmes com Hughes: Antes Só do que Mal Acompanhado (1987), Quem Vê Cara Não Vê Coração (1989) e Esqueceram de Mim (1990). Ele também tem uma participação rápida em Construindo Uma Carreira (1991), filme que conta com roteiro de Hughes.
O filme foi gravado na sequencia, situação das mais raras do cinema, já que cada ato obedece regras de tempo, de disponibilidade de locações, dos atores, dos equipamentos do set — centenas de fatores influenciam isso.
O que jogou a favor do Clube dos Cinco, já que a evolução dos personagens-atores se deu de maneira mais realística possível. John Hughes escreveu o roteiro nos dias 4 e 5 de julho de 1982, antes de fazer o filme Gatinhas e Gatões (1984).
A cena da dança de Claire na biblioteca seria com ela apenas, mas a Molly Ringwald se sentiu desconfortável em dançar sozinha, então John escalou todo o elenco para fazer cia. para ela.
Esse tipo de coisa, além dos improvisos, enriqueceu de maneira substancial o filme. Foi uma sugestão de Ally que a personagem de Molly comesse sushi, já que na época era uma comida nova ganhando popularidade nos EUA, privilégio de poucos. Isso também explica a reação de Bender quando vê a patricinha comendo.
Como não poderia deixar de ser, a idade dos adolescentes dos filmes em nada correspondiam aos atores que o interpretaram, um mood bastante notório em produções juvenis americanas da época.
Mas não foi muito bem o caso aqui. Judd Nelson já tinha 25 anos de idade quando gravou seu Bender, e Emilio Estevez tinha 23, bem como a Ally Sheedy. Mas Molly Ringwald só tinha 16 anos, idade igual ao Anthony Michael Hall.
Três meses depois das filmagens, Molly fez seu aniversário de 17 anos, idade que em teoria todos têm em Clube dos Cinco.
Emilio, Judd e Ally também fizeram estudantes no ensino médio em outro filme de 1985, O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas, com John Hughes recomendando os atores para o longa, dirigido por Joel Schumacher.
Anthony e John Kapelos ainda filmaram nesse ano Mulher Nota 1000. Os dois e Molly fizeram Gatinhas e Gatões um ano antes de Clube dos Cinco.
Hughes planejou Hall e Molly para A Garota de Rosa-Shocking e Curtindo a Vida Adoidado, ambos de 1986, mas apenas Ringwald fez o primeiro, já que Hall achou o papel muito parecido com o que já tinha feito em Gatinhas e Gatões.
Hughes não gostou e deixou apenas Molly em seu radar, mas Curtindo a Vida Adoidado e até outro longa, Alguém Muito Especial (1987), não teriam a participação da atriz, já que ela também queria outros projetos.
Molly Ringwald estava em ascensão absoluta de popularidade, sendo capa até da Time, revista seminal americana de informação e entretenimento.
Isso causou um estremecimento na relação do diretor com a atriz, com muito mais efeito para ele, que parou de realizar produções focadas tanto nas ansiedades do mundo juvenil.
Durante uma reunião do elenco por conta dos 25 anos de aniversário do filme (2010), Ally Sheedy revelou que há um “Director´s Cut” de Clube dos Cinco, mas que a viúva de Hughes não detalhou mais nada a respeito para ela.
O filme realmente era para ser muito mais longo do que foi, mas John Hughes perdeu grande parte de material gravado e negativos.
Na Première do filme, ele chegou a dizer que tinha uma cópia bruta única da produção em sua casa. O IMDB lista algumas das cenas que poderiam estar no filme.
Entre elas: uma em que o zelador Carl “prevê” o futuro dos jovens (Bender se mataria, Claire se encheria de cirurgias plásticas, Brian morreria do coração antes de se tornar um sucesso, Allison seria uma grande poeta que ninguém conheceria e Andy engordaria depois de casar com uma aeromoça gostosa); esse mood imaginativo também seria visto em uma sequência de sonho de Allison, que veria Andy como um viking, Bender prisioneiro, Claire uma noiva e Brian um astronauta, e ela mesma uma vampira, correndo de uma manada de carros, aviões, ursos, mulheres nuas (!) e até o Godzilla (!!).
O site de cinema ainda indica que Bender originalmente não iria para a detenção por vontade própria, e sim que seu pai o levaria forçado de caminhão até lá, incluindo uma cena de briga entre os dois.
Algumas cenas seriam mais extensas, como a q Andy e Allison bebem refrigerantes sozinhos, com ela puxando um maço de cigarros e acendendo.
Há ainda cenas no banheiro, com Vernon dando um tempo de 3 minutos para os rapazes e 5 para as meninas. Nisso, Bender tira sarro de Brian por ele sentar no vaso para urinar.
Havia mais dois personagens em Clube dos Cinco que foram cortados. O professor de estudos sociais, Dr. Lange, que se vestiria muito mal, e a professora de ginástica, Robin. Inclusive estava prevista uma cena sua nadando nua na piscina da escola, que foi eliminada graças a insistência de Molly Ringwald para Hughes.
Molly Ringwald
De mais relevante e recente a respeito da obra de Clube dos Cinco, temos um artigo recente de Molly Ringwald, publicado na revista The New Yorker, em 2018.
Ela considerou sexistas vários de seus maiores sucessos no cinema, meio que foi uma celebridade nos anos 1980 — Clube dos Cinco foi apenas um deles.
Algumas de suas cenas “não são adequadas nos tempos do #MeToo“, escreveu no texto, onde mostra suas dúvidas sobre a forma como a mulher foi representada nos filmes, embora também reconheça que foram uma referência positiva para toda uma geração.
Molly diz que, ao rever o filme junto com sua filha de 10 anos, alguns anos atrás, começou a se sentir desconfortável com algumas cenas.
“Eu fiz três filmes com John Hughes; quando foram lançados, causaram impacto cultural suficiente para me colocar na capa da revista Time e fazer com que Hughes fosse considerado um gênio“, diz parte do seu artigo.
Molly Ringwald representava a figura adolescente feminina na Hollywood oitentista, um contraponto perfeito para os filmes lixo de comédia rasteira masculina, numa época em que as jovens atrizes não costumavam exercer o papel de protagonista.
Gatinhas e Gatões e A Garota de Rosa Shocking, todos de John Hughes, também foram estrelados por ela.
E claro, como nada é simples, Hughes veio de uma escola desse mesmo lixo, obras que se sustentavam em tópicos de nudez e sexo grosseiro em festas sem limites.
É importante enxergar esses filmes sob a luz de sua época, mas qualquer pessoa que pegue algum deles para assistir hoje em dia, percebe que a sensibilidade e o aumento de informação o fazem animais diferentes do que eram quando lançados.
Isso é reforçado pelo texto de Molly a revista. “É difícil entender como John Hughes era capaz de escrever com tanta sensibilidade e, ao mesmo tempo, ter esses pontos frágeis”.
O trabalho mais recente de Molly é a série de TV Riverdale (2017-2021), onde interpreta Mary Andrews, a mãe de uma das protagonistas.
Ainda que longe de temáticas como valorização de gays ou representatividade de negros, e ainda mais da realidade brasileira, esses filmes de comédia juvenil dos anos 1980 tinham o mérito de mostrar garotos imperfeitos e defeituosos que lutavam para encontrar sua identidade, fora de lugar comum e obrigatório da estrutura social da escola — que nada mais era uma metáfora para a própria vida.
Assuntos sensíveis como pressões familiares e traumas eram trabalhadas de forma bastante humana.
Clube dos Cinco firma as bases do melhor cinema adolescente. É tão bem avaliado que faz parte do Criterion Collection, uma prestigiada coleção de mídia física que só publica títulos que passaram à História (com H maiúsculo mesmo).
O Blu-ray 4K da empresa tem 50 minutos de cenas inéditas e bastante material extra.
Clube de Gerações
O vice-diretor Vernon é a força-motriz da geração baby boomer, que tenta dobrar os jovens força com seu poder conservador, já que eles derrubaram todas as tradições: revolução sexual, integração escolar e avanços sociais numa cultura mais libertinas que a anterior.
É por isso que ele os tranca numa biblioteca, representada aqui como jaula para ess geração, denominada X.
Clube dos Cinco é uma discussão geracional.
Para melhor entender as definições de geração citados no texto:
Baby boomers: nascidos entre 1945 e 1960, quando a taxa de natalidade disparou em vários países após a Segunda Guerra Mundial ter fim.
Geração X: nascidos entre 1960 e 1980, termo cunhado pelo fotógrafo Robert Capa. Ambição na carreira e foco no trabalho — workaholic — são características marcantes.
Millennials / Geração Y: nascidos entre 1980 e 2000, são os nativos digitais, com a tecnologia como parte do dia a dia, a maior parte dele realizado por meio de telas pretas — TV, computador, notebook e o celular. É a única geração nascida entre a época analógica e o mundo digital.
Pós-millennial / Geração Z: nascidos entre 2000 e 2010, chegaram com um tablet e um smartphone debaixo do braço, marcados pela internet desde sempre. Imediatistas, independentes, consumidores exigentes, ocuparão cargos que, atualmente, ainda não existem.
Uma eventual continuação de Clube dos Cinco morreu junto com John Hughes.
John Hughes
O legado de Hughes não foi pouco: protagonistas com espíritos livres e individuais, contestadores de autoridades e costumes, sempre contra o conformista mundo adulto.
Os personagens de seus filmes são pessoas frustadas com suas atuais vidas, e apenas querem quebrar essa rotina enfadonha. Durante boa parte da década de 80, ele solidificou sua posição de contador dessas histórias de jovens no cinema.
O personagem que melhor representa isso é Cameron, de Curtindo A Vida Adoidado. Começa trancado em seu quarto em depressão, e termina com uma luta pela sua personalidade, para não mais se acovardar diante de seu pai.
A cidade de Clube dos Cinco é fictícia. Shermer é o nome de uma estrada na cidade de Northbrook — também em Illinois –, onde Hughes cresceu. Ele começou seu trabalho na área de entretenimento na revista National Lampoon, grande expoente de comédia americana, antes de começar a fazer roteiros de cinema.
Em Hollywood, fez muito trabalho de script-doctor, termo para designar pessoas que aprimoram — ou mesmo melhoram — os textos de roteiros de filmes.
Começou dando forma a A Reunião dos Alunos Loucos, em 1982. Foi um fracasso. No ano seguinte, escreveu o roteiro de Férias Frustradas, estrelado por Chevy Chase.
O longa foi um sucesso, o que alavancou a carreira de Hughes em Hollywood e lhe abriu portas. Também deu um dinheirão para a National Lampoon, cujo editores estava com a Heavy Metal em bancas, revista de histórias em quadrinhos de ficção científica e fantasia adulta, baseada na francesa Métal hurlant. Férias Frustradas foi tão bem que deu grana até para lançarem um filme animado da HQ da Heavy Metal.
Hughes escreveu e dirigiu filmes que marcaram a geração que cresceu nos anos 1980: Gatinhas & Gatões (1984), Clube dos Cinco (1985), Mulher Nota 1000 (1985), Curtindo a Vida Adoidado, Antes Só do que Mal Acompanhado (1987), Ela Vai Ter Um Bebê (1988) e Quem Vê Cara Não Vê Coração (1989).
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Com Esqueceram de Mim, em 1990, levou a maior bilheteria do ano, e a 8ª maior da década.
Após A Malandrinha, de 1991, ele abdicou do cargo de diretor — mesma época que foi lançado Construindo uma Carreira, um dos filmes mais problemáticos da atriz Jennifer Connelly, que conta com roteiro de Hughes.
Ele ainda roteirizou a continuação de Esqueceram de Mim e Beethoven (1992).
Nos últimos tempos, avesso aos holofotes, dava poucas entrevistas . Vivia em uma fazenda no norte do Illinois, EUA.
John Hughes morreu em 2009, aos 59 anos.
Don’t You (Forget About Me)
Don’t You (Forget About Me), a música que toca no início e final do filme, se tornou o maior sucesso da banda escocesa de pós-punk new wave Simple Minds, composta especialmente para o filme pelo produtor musical Keith Forsey, um artista londrino que também fez as trilhas de filmes como Flashdance (1983), Um Tira da Pesada (1984) e Um Tira da Pesada II (1987).
Nem os cara do Minds acreditavam muito no poder da canção, e só descobriram que ela se tornou Top 1 nos EUA depois do lançamento do Clube dos Cinco.
Dizem que Don’t You (Forget About Me) foi recusada por Billy Idol, cantor punk inglês, ex-Generation X, de 1976, uma das bandas pioneiras do punk londrino, e Bryan Ferry, um músico inglês dos mais virtuosos, ex-vocalista do Roxy Music, e dominava como poucos o rock, pop, glam, rockart, new wave e outros estilos de música.
A canção de Forsey, co-escrita por Steve Schiff, guitarrista da cantora alemã punk Nina Hagen, também tinha sido recusada pela Chrissie Hynde, vocalista do The Pretenders, banda americana e inglesa de rock alternativo new wave, que foi quem deu a sugestão do Simple Minds, já que na época era casada com o frontman do Minds, Jim Kerr.
Já o Simple Minds vinha de uma carreira com 5 discos produzidos — Life in a Day (1979), Real to Real Cacophony (1979), Empires and Dance (1980), Sons and Fascination/Sister Feelings Call (1981), New Gold Dream (81/82/83/84) (1982) e Sparkle in the Rain (1984) –, mas não tinham sucesso comercial tocando nas rádios americanas.
Por pressão da gravadora e com o pedido de Chrissie, e a despeito do Simple Minds gostar de fazer apenas suas próprias composições, a banda aceitou executar a música, gravada em menos de 3 horas num estúdio londrino.
Ironia do destino, Don’t You (Forget About Me) seria o maior sucesso do Simple Minds — logo atrás de Alive and Kicking, canção do maior sucesso comercial da banda, o disco Once Upon a Time, lançado no mesmo ano de Clube dos Cinco, em 1985.
A resistência do Minds com a canção-tema de Clube dos Cinco se nota pela ausência dela no álbum — ela só foi aparecer na coletânea Glittering Prize 81/92 (1992).
Um videoclipe de 5 minutos foi feito para a música, lançado no mesmo ano do filme, dirigido por Daniel Kleinman. Se passa numa pista de dança em um quarto escuro, onde entre vários objetos está uma TV da Sony, que mostra cenas do filme Clube dos Cinco.
Jim Kerr aparece dançando em diversas cenas. Kleinman dirigiu clipes para diversos artistas, como Madonna, ZZ Top, Van Halen, The Pretenders, e segundo o IMDB, tem vários créditos em produções da franquia 007.
Won’t you come see about me
I’ll be alone dancing, you know it, baby
Tell me your troubles and doubts
Giving me everything inside and out
And love’s strange: So real in the dark
Think of the tender things
That we were working on
Slow change may pull us apart
When the light gets into your heart, baby
Don’t you forget about me
Don’t, don’t, don’t, don’t
Don’t you forget about me
Will you stand above me
Look my way, never love me
Rain keeps falling
Rain keeps falling
Down, down, down
Will you recognize me
Call my name or walk on by
Rain keeps falling
Rain keeps falling
Down, down, down, down
Hey, hey, hey, hey
Ooh whoa
Don’t you try and pretend
It’s my feeling
We’ll win in the end
I won’t harm you
Or touch your defenses
Vanity, insecurity
Don’t you forget about me
I’ll be alone dancing, you know it, baby
Going to take you apart
I’ll build us back together at heart, baby
Don’t you forget about me
Don’t, don’t, don’t, don’t
Don’t you forget about me
As you walk on by
Will you call my name
As you walk on by
Will you call my name
When you walk away
Or will you walk away
Will you walk on by
Come on, call my name
Will you call my name
I say, la, la-la-la-la, la-la-la-la
La-la-la-la-la-la-la-la-la-la
La-la-la-la, la-la-la-la
La-la-la-la-la-la-la-la-la-la
La-la-la-la, la-la-la-la
La-la-la-la-la-la-la-la-la-la
When you walk on by
And you call my name
When you walk on by
Billy Idol, em 2001, gravou uma versão de Don’t You (Forget About Me) para seu álbum Greatest Hits.
Ainda falando de música, a citação que encerra a abertura de créditos foi sugestão da atriz Ally Sheedy, grande fã de David Bowie.
…and these children that you spit on as they try to change their worlds are immune to your consultations. They’re quite aware of what they’re going through…”
Em tradução livre: “e essas crianças nas quais vocês cospem enquanto tentam mudar seus mundos são imunes aos seus conselhos. Elas sabem muito bem por aquilo que passam”.
A citação é da música Changes, presente no álbum Hunky Dory (1971).
Outra música relevante para a trama é We Are Not Alone, a canção da dancinha dos estudantes no filme, cantada pela atriz Karla DeVito. Um dos escritores da canção é Robby Benson, marido de Karla na época. Ele tinha sido outro famoso ator adolescente, em filmes como A Ponte do Desejo (1976), Castelos de Gelo (1978) e A Escolha (1981).
As outras canções do filme são: Didn’t I Tell You, de Laurie Forsey; Fire in the Twilight, do Wang Chung; Heart Too Hot To Hold, do Jesse Johnson e Stephanie Spruill; Waiting, do E.G. Daily; Didn’t I Tell You, de Joyce Kennedy; I’m the Dude, Dream Montage e The Reggae, do Keith Forsey.
O que cada um fez para estar na detenção:
Claire Standish: matou aula para ir ao shopping.
Andrew Clark: colou a bunda de um cara na cadeira.
Brian Johnson: levou uma arma para escola (na verdade um sinalizador)
John Bender: acionou o alarme da escola.
Allison Reynolds: não fez nada, foi porque quis.
O cada um comeu na detenção:
Andrew: um saco de salgadinhos chips, biscoito de chocolate, três sanduíches, leite, banana e uma maça.
Claire: sushi
Allison: um sanduíche com açúcar e cereal
Brian: suco de maça, bolo e sanduíche de geleia e manteira de amendoim
Bender: não levou nada
No artigo da New Yorker, Ringwald destaca a resposta de Hughes, quando lhe perguntou na época se acreditava que os jovens eram cada vez mais mal retratados no cinema e na televisão:
Minha geração (a do baby boom) teve de ser levada a sério porque éramos muitos. Quando nos mexíamos, tudo se mexia com a gente”
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