CONSTRUINDO UMA CARREIRA | O John Hughes de Jennifer Connelly

Construindo Uma Carreira — título icônico e irônico, como logo vamos perceber — é um filme de comédia adolescente estrelado pela Jennifer Connelly, o sétimo filme da carreira da atriz, que conta com roteiro de John Hughes, um dos mais célebres cineastas da década de 1980.

O longa foi lançado em 1991 pela Universal, e repetido muitas vezes na Sessão da Tarde, se tornou mais um clássico de Jennifer no programa. A atriz está no ápice de sua beleza, e a polêmica e mudança de status quo de sua carreira também alcançam isso.

Há uma exploração descarada da sensualidade e a grande beleza da Jennifer Connely, no alto de seus 20 anos. Tempos depois, ela se arrependeria de não ter sido mais madura nas escolhas que fizera na época, como atuar nesse filme.

Construindo Uma Carreira
(Career Opportunities, 1991, de Bruce Gordon)

Construindo Uma Carreira Jennifer Connelly
Jennifer Connelly e Frank Whatley são os protagonistas de Construindo Uma Carreira

Apenas o roteiro do filme é de John Hughes, e esperava-se uma comédia juvenil romântica. A indecisão inerente de quem não sabe o que fazer quando se tem 20 e poucos anos rende boas discussões, mas a narrativa do filme não ajuda a encontrar um rumo certo para isso.

Construindo Uma Carreira também foi um despertar para um novo tipo de olhar para a carreira de atriz de Jennifer, e mais ainda, para John Hughes. Em 1991, foi o ano em que ele dirigiu um filme pela última vez. A partir daí, ele se dedicaria a fazer apenas roteiros, e se desencontrou do sucesso que até então sempre o acompanhava.

A década de 80 foi responsável por inúmeros filmes de jovens em épocas escolares e de faculdade, e que marcariam o cinema e a vida de muitos na Sessão da Tarde.

John Hughes é um dos principais arquitetos de tudo disso.

Construindo um Filme na Carreira

O escolhido para ser o protagonista foi Frank Whaley, que interpreta um pateta mentiroso, Jim Dodge, um jovem de 21 anos, que pula de trabalho em trabalho procurando sucesso. Acabou de ser demitido de um emprego e admitido em outro, uma loja de departamentos.

Isso não foi um assalto, foi um homicídio“, diz em sua primeira fala no filme. E está certo. Hughes erra feio no longa, cometendo vários homicídios no roteiro, em vez de nos assaltar em uma gostosa aventura juvenil, como sempre fez.

Talvez o erro tenha sido a mão de Bryan Gordon, em seu primeiro trabalho de direção.

Ou a culpa seja de Hughes, recém saído do estrondoso sucesso que foi Esqueceram de Mim, e ter entregado um roteiro onde um cara também é esquecido — no caso, o outlet que tem que limpar.

Lá, ele satisfaz todos os seus desejos: comer tudo que tem vontade, usar tudo da loja sem pagar nada, ficar com a linda e rica moça bonita que todos desejam, e derrotar os vilões no final. Infelizmente esse é o roteiro, e é com isso que temos que lidar no filme inteiro.

Jennifer Connely em 1991

Jennifer Connely é Josie McClellan, a filha de um milionário da cidade. Os dois enfrentam graves problemas de relacionamento, e tudo que Josie quer é irritar o velho e cair fora da pequena cidade de Mourne. Quer ir para Los Angeles.

Jim é uma versão mais pobre de Ferris Bueler, de Curtindo a Vida Adoidado, e quando encontra Josie, está de patins vestindo uma grinalda de noiva (?). É aí que ele se encanta pela moça, e decidir ir embora com ela (quem não iria?), depois que ouve belas observações sobre sua precária e deprimente situação de ainda morar com os pais, não ter emprego fixo e não ter privacidade.

O pai de Jim acha que o filho não tem mais jeito, e estava disposto a expulsá-lo de casa caso não arrumasse um emprego. Josie se sente sufocada em seu ambiente familiar e faria qualquer coisa para fugir ou irritar o pai.

Quando o velho a apresenta a alguns amigos, Connelly não tem dúvidas, tira o casaco e tasca uma bitoca em um deles, só para deixar o pai furioso. Jim e Josie possuem percepções diferentes na vida, e os diálogos tentam entrelaçar seus pontos de vista.

Josie queria roubar uma saia no outlet, e assim ser presa, e encontrar uma maneira de constranger ainda mais seu pai para “fugir” dele. Não à toa, ela até confessa para Jim agressões físicas por parte do velho milionário.

Construindo Uma Carreira Jennifer Connelly

Ambos estudaram juntos no colegial, mas raramente se falavam. Enquanto Josie era popular e respeitada, Jim era um fracassado, sempre feito de idiota por todo mundo. Isso não impede o estabelecimento de um vínculo.

Josie se compadece e pergunta o que ela pode fazer para compensar o rapaz por não ter notado sua presença durante os anos escolares. Jim pede uma dança completa, pois quando eram menores, no colégio, eles dançaram mas não terminaram.

A moça espantada diz “esperava algo diferente”. Jim responde “vamos começar pela ordem certa”. A conexão de dualidade se dá aí e temos nosso casal. O envolvimento dos dois se concretiza antes do fim do filme, num beijo que termina em amassos dentro de uma barraca.

Construindo Uma Carreira Jennifer Connelly

Perto do fim do filme, dois ladrões invadem a loja de departamentos: Nestor Pyle e Gil Kinney, interpretados pelos irmãos Dermot e Kieran Mulroney, respectivamente (Dermot contracenaria com Jennifer um ano depois, em O Coração da Justiça, filme para TV dirigido pelo brasileiro Bruno Barreto).

Jim usa suas mentiras bem elaboradas e convence os criminosos a largarem suas armas em uma cena muito bem construída, aumentando o interesse de Josie nele, que nota sua audácia e coragem. Mas no fim, as coisas dão errado de novo. A morena decide ela mesma usar um xaveco mentiroso nos bandidos, com seu sex appeal, para tentar escapar deles.

A cena no cavalo mecânico de brinquedo sintetiza essa cena.

A performance de Jennifer Connelly está boa em Construindo Uma Carreira, mas um tanto que automática, ferida pela desenvolvimento primário de sua personagem. Há uma recompensa predatória sexual para a audiência em sua cena no cavalinho mecânico.

Nos sentimos exatamente como Jim e os dois bandidos vendo a cena. Longe de querer dar uma patada irônica na classe média consumidora, já que se passa em um outlet, o filme termina com um grotesco encerramento, rápido e ligeiro, sem falas, com os protagonistas em um clip musical de final feliz, sem vergonha até de dar uma olhadinha direto para a câmera.

Jim e Josie conseguem se livrar dos bandidos, com direito até ao garotão preguiçoso prender os dois bandidos em cadeiras para que a polícia os apanhasse. O casal foge para Los Angeles, com 52 mil dólares que ela afanou do pai, e terminam na beira de uma piscina em um hotel, sorrindo para as câmeras.

Passa O Monstro de Frankenstein numa TV da loja em determinado momento do filme, dedurando o retalho da confusão do roteiro.

O nome do outlet é Target – alvo em inglês. Tá, tudo bem, quem é seu alvo, Jim? O que você quer? O que quer realmente?

Qual é o alvo em Construindo Uma Carreira?

O inesquecível John Candy faz uma ponta, como o dono do outlet que contrata Jim. A cena é hilária, pois Candy pensava que ele tinha vindo se candidatar ao cargo de gerente sênior.

John Candy em Construindo Uma Carreira, amigo pessoal de John Hughes

Jennifer Connely construindo uma carreira e John Hughes encerrando a sua

Se você foi pré-adolescente, adolescente, ou simplesmente ficava em casa durante as tardes dos anos 90, você provavelmente assistiu Construindo Uma Carreira. E qualquer um que foi jovem nos anos 80 assistiu a algum filme de Hughes.

O legado de Hughes não foi pouco: protagonistas com espíritos livres e individuais, contestadores de autoridades e costumes, sempre contra o conformista mundo adulto.

Os personagens de Hughes são pessoas frustadas com suas atuais vidas, e apenas querem quebrar essa rotina enfadonha. Durante boa parte da década de 80, ele solidificou sua posição de contador de histórias de jovens no cinema.

O personagem que melhor representa isso é Cameron, de Curtindo A Vida Adoidado (1986). Começa trancado em seu quarto em depressão, e termina com uma luta pela sua personalidade, para não mais se acovardar diante de seu pai.

Adolescentes de classe média entediados em casa, que se envolvem em dramas e comédias com colegas que não lhe dão bola ou interesses amorosos difíceis de conquistar.

Hughes trabalhou na revista National Lampoon, grande expoente de comédia americana, antes de começar a fazer roteiros de cinema. Fez muito trabalho de script-doctor, termo de Hollywood para designar pessoas que aprimoram — ou mesmo melhoram — os textos de roteiros de filmes.

Começou dando forma a A Reunião dos Alunos Loucos, em 1982. Foi um fracasso. No ano seguinte, escreveu o roteiro de Férias Frustradas, estrelado por Chevy Chase. O longa foi recebido com entusiasmo, o que alavancou a carreira de Hughes em Hollywood e abriu portas.

Hughes escreveu e dirigiu filmes que marcaram a geração que cresceu nos anos 80, como Gatinhas & Gatões (1984), Clube dos Cinco (1985), Mulher Nota 1000 (1985), Curtindo a Vida Adoidado, Antes Só do que Mal Acompanhado (1987), Ela Vai Ter Um Bebê (1988) e Quem Vê Cara Não Vê Coração (1989). Com Esqueceram de Mim, em 1990, levou a maior bilheteria do ano, e a 8ª maior da década.

Após A Malandrinha, de 1991, ele abdicou do cargo de diretor — mesma época de Construindo uma Carreira de Jennifer Connelly.

Mas nem por isso deixou de colaborar com Hollywood, tendo roteirizado a continuação de Esqueceram de Mim e Beethoven (1992).

Nas últimas duas décadas, avesso aos holofotes, vivia em uma fazenda no norte do Illinois, EUA.

Morreu em 2009, com 59 anos. Raramente dava entrevistas, emulando uma atitude de JD Salinger.

Jeniffer Connelly estava no ápice de sua beleza estonteante. E ela já tinha feito uma cena de topless no seu filme anterior, The Hot Spot – Um Local Muito Quente.

E ela só foi entender como foi usada nas cenas anos depois, quando deu um tempo na atuação, e foi estudar em Yale e Stamford. Professores da universidade alertaram-na, e ela entendeu então como nem se preocupava direito com seu trabalho de atriz, se limitando a ser uma operadora de fala e movimento em cena.

Sua imagem no cavalinho foi usada em materiais promocionais como posteres e trailers.

Jennifer Connelly em Construindo Uma Carreira, com a própria atriz vendo em retrospecto, não foi uma decisão consciente de escolha

Connelly em uma entrevista para a revista Rolling Stone, afirma que se arrependeria de ter sido tola nessa época, ao mesmo tempo que também se diz arrependida de ter enfiado a cara nos estudos, e não procurar fazer outras coisas, ser mais sociável.

Ela se dedicaria mais ao seu trabalho de atriz e tipos de atuação. Seus filmes seguintes sugerem fortes provas disso, com escolhas mais sofisticadas de trabalhos. Inclusive, com sua atuação seguinte, em Rocketeer, ela teria a primeira nomeação a um prêmio de melhor atriz.

Todavia, esta não seria a última vez Jennifer Connelly teria sua sensualidade e beleza exploradas em filmes.

Construindo Uma Carreira fez um sucesso modesto nas bilheterias, e Hughes posteriormente reclamaria que teve pouco controle criativo no longa, ficando com uma sensação de desapontamento ao final.

Ele até mesmo pediu que retirassem seus créditos de roteirista do filme, pedido que não foi atendido.

Quando Josie está olhando a prateleira de fitas cassetes, é possível ver o K7 da trilha sonora do Clube dos Cinco (1985), um dos melhores filmes de Hughes.

E é com música que podemos encerrar essa matéria. O link abaixo é um clip famoso que roda pelo YouTube, um clip do filme com a canção Space Age Love Song, da banda britânica pós-punk new wave A Flock of Seagulls (não faz parte da trilha sonora, que pouco se destaca no longa), e reúne diversas imagens do filme.

Construindo Uma Carreira Jennifer Connelly

8º filme da Jennifer Connelly
Construindo Uma Carreira
Estados Unidos

/// 1991. Nos cinemas passavam filmes como Predador 2 – A Caçada Continua, Dança com Lobos, As Tartarugas Ninja II – O Segredo do Ooze, Olha Quem Está Falando Também, O Silêncio dos Inocentes, Cortina de Fogo, Corra Que a Polícia Vem Aí 2 1/2, Hamlet, Hudson Hawk – O Falcão Está à Solta, Encontro com Venus, Ligações Perigosas, Cabo do Medo, O Pescador de Ilusões, A Família Addams, O Pai da Noiva, Top Gang! – Ases Muito Loucos, entre outros.

Jennifer Connelly e sua beleza estonteante são um dos poucos predicados de Construindo Uma Carreira

/// EM BAIXA. Construindo uma Carreira pontua 38% no Rotten Tomatoes.

/// A MARATONA JENNIFER CONNELLY.

1- Era Uma Vez na América (1984)
2- Phenomena (1985)
3- Sete Minutos Para o Paraíso (1985)
4- Labirinto – A Magia do Tempo (1986) 
5- Essas Garotas (1988) 
6- Etoile (1989)
7- Hot Spot – Um Local Muito Quente (1990)
8- Construindo Uma Carreira (1991)
9- Rocketeer (1991)
10- O Coração da Justiça (1992)
11- Do Amor e de Sombras (1994)
12- Duro Aprendizado (1994)
13- O Preço da Traição (1996) 
14- Círculo das Vaidades (1996) 
15- Círculo das Paixões (1997)
16- Cidade das Sombras (1998)
17- Amor Maior que a Vida (2000)
18- Réquiem Para um Sonho (2000) 
19- Pollock (2000)
20- Uma Mente Brilhante (2001)
21- Hulk (2003)
22- A Casa de Areia e Névoa (2003)
23- Água Negra (2005)
24- Pecados Íntimos (2006)
25- Diamante de Sangue (2006)
26- Traídos pelo Destino (2007) 
27- O Dia em que a Terra Parou (2008)
28- Coração de Tinta (2008)
29- Ele Não Está Tão a Fim de Você (2009)
30- 9 – A Salvação (2009)
31- Criação (2009)
32- Virginia (2010) 
33- O Dilema (2011)
34- E…que Deus nos Ajude!!! (2011)
35- Ligados pelo Amor (2012)
36- Um Conto do Destino (2014)
37- Marcas do Passado (2014)
38- Noé (2014)
39- Viver Sem Endereço (2014)
40- Pastoral Americana (2016)
41- Homem-Aranha De Volta ao Lar (2017)
42- Homens de Coragem (2018)
43- Alita – Anjo de Batalha (2019)

A idade de Jennifer Connelly em Construindo Uma Carreira é 21 anos.

Jennifer Connelly não tem Instagram ou perfis em redes sociais.

THE HOT SPOT | Jennifer Connelly em um neonoir muito quente

O filme posterior de Jennifer Connelly:

ROCKETEER | Jennifer Connelly e o primeiro filme de super-herói da Disney

Obrigado por ler até aqui!

O Destrutor é uma publicação online jornalística independente focada na análise do consumo dos produtos e tecnologia da cultura pop: música, cinema, quadrinhos, entretenimento digital (streaming, videogame), mídia e muito mais. Produzir matérias de fôlego e pesquisa como essa, mostrando todas essas informações, dá um trabalhão danado. A ajuda de quem tem interesse é essencial.

Apoie meu trabalho

  • Qualquer valor via PIX, a chave é destrutor1981@gmail.com
  • Compartilhe essa matéria com seus amigos e nas suas redes sociais se você gostou.
  • O Destrutor está disponível para criar um #publi genuíno. Me mande um e-mail!

Programação:

  • Segunda – post no blog
  • Terça – Uma informação exclusiva da matéria no Instagram do Destrutor (siga lá!)
  • Quarta – Uma thread exclusiva da matéria do blog no meu Twitter (siga lá!)
  • Quinta – Um #tbt de nosso conteúdo (são centenas de matérias) no Instagram do Destrutor
  • Sexta, sábado e domingo – Imagens preview da próxima matéria do blog e outras no Instagram do Destrutor

* Todas as imagens dessa matéria têm seus direitos
reservados aos seus respectivos proprietários, e são
reproduzidas aqui a título de ilustração.