MAGIC MIRROR | Pearl Charles e o poder cósmico do rock anos 70 e da disco music

A cantora americana Pearl Charles lançou um dos melhores discos de 2021, o cósmico Magic Mirror, obra que reverencia a disco music com o poder sonoro que rocks setentistas como The Carpenters e ABBA promoviam em sua época, tudo sob camadas de atmosferas pop que poucas vezes o mercado estava conseguindo entregar.

As canções de Magic Mirror, na voz da californiana Pearl Charles, nos deixa íntimos de sua vida, já que o disco é um passeio pelas festas e elaborações intimistas dela, como a música Only For Tonight versa na letra.

Ecos melódicos de Fleetwood Mac e o lance íntimo da cantora trazem algo de Lana Del Rey para perto de Pearl Charles também, o que só enriquece o Magic Mirror.

Pearl Charles Magic Mirror

Pearl brinca de viver uma época distante em Magic Mirror, uma máquina do tempo que nos transporta para uma linda boate com ecos dos sons que bandas como ABBA faziam, e a ingenuidade natural de Charles joga a favor aqui, com sentimentos mais sublimados como amor e esperança misturadas com confissões íntimas (Lana Del Rey aqui de novo).

A faixa de abertura de Magic Mirror, Only for Tonight, deixa aberta a vulnerabilidade de Pearl Charles, ao narrar uma história sobre se apaixonar acidentalmente quando a ideia era viver apenas uma noite, e nossas lembranças inerentes de uma Dancing Queen do ABBA da vida nos fazem mergulhar no embalo da canção, que tem um clima easy listening, riffs simples e dançante.

Pearl Charles Magic Mirror

O piano, o baixo e a bateria com inspirações retrô escorrem de todo o disco, que está embebido de uma qualidade dos arranjos e de produção que se fazem notar, o que justifica posicionar Magic Mirror como um dos melhores discos de 2021.

Ao ir na contramão de toda sonoridade contemporânea, seria fácil de supor que a linguagem atemporal nos fará esquecer de tudo em tempos de tela preta social media 220v a 100 km/h 7 dias por semana, mas não é o caso.

Da construção dos arranjos ao uso das vozes — que Pearl Charles faz muito bem — tudo soa como uma criativa reciclagem de tendências, obras e resgates das obras que fizeram o ABBA, Carpenters e Fleetwood executaram em seu tempo.

Magic Mirror cresce como uma obra em equilíbrio, ainda que muitas das canções pareçam umas com as outras. Mas essa continuidade é como um convite a se perder pela mente da própria artista e sua proposta.

Pearl Charles, Magic Mirror

“Espelho mágico, o que posso fazer? / Eu estive perdido dentro de você / Eu sou um ímã para o seu ponto de vista distorcido / Meus olhos são vermelhos, meu coração é azul“

Pearl Charles Magic Mirror
Pearl Charles e o disco Magic Mirror

Nas palavras da própria artista, em seu perfil do Spotify:

Some say life only makes sense in reverse, from the vantage point of your rear view – ? Magic Mirror is a looking glass of sorts. Like a modern day Alice in Wonderland, Pearl beckons you to slip and fall into her world. You’ll find yourself drifting with the tide – the ups, downs, and all-arounds of a life well-lived and well-loved. ? From start to finish you float along a reflective river, dancing in the private Studio 54 of your living room, decked out in sequins or nothing at all. It’s a feel good album that asks us to actually take the time to feel good. Magic Mirror follows the cartography of a girl, growing into a woman, as she moves through life from single-dom, to the expansive space of self-reflection, and the newly appreciated perspective of coming back together again and finding yourself, this time with someone new. ? A love letter to the self, a dance party for life, and at times as introspective as your best trip, Pearl takes us on a journey that, like life & love, has the tendency to surprise, delight, and leave you breathless. All you have to do is let yourself enjoy it.”

Em tradução livre de algumas partes:

(…) como uma Alice no país das maravilhas dos dias modernos (…) você se verá à deriva com a maré – os altos, baixos e tudo em volta de uma vida bem vivida e amada. Do início ao fim, você flutua ao longo de um rio reflexivo, dançando no Studio 54 (famosa boate americana disco dos anos 1970) privado de sua sala de estar, enfeitado com lantejoulas ou nada. É um álbum agradável que nos pede para realmente dedicar um tempo para nos sentirmos bem… (…) (o disco) segue a cartografia de uma garota, crescendo em uma mulher, conforme ela se move através da vida de solteira, para o espaço expansivo de autorreflexão, e a perspectiva de voltar a ficar juntos novamente e encontrar a si mesmo, desta vez com alguém inédito. Uma carta de amor para si mesma, uma festa para toda a vida e às vezes tão introspectiva quanto sua melhor viagem, Pearl nos leva a uma jornada que, como a vida e o amor, tem a tendência de surpreender, encantar e deixar você sem fôlego. Tudo o que você precisa fazer é se aproveitar.”

Take Your Time

Pearl Charles

I hear your star is on the rise
Don’t you let it pass you by
You were busy getting high
Why don’t you open up your eyes

Take your time
You’re alright
It’s gonna be just fine

Clouds will keep on rushing by
Nothing ahead, nothing behind
You know the sun still loves the sky
When she opens up to cry

Take your time
You’re alright
It’s gonna be just fine

Pearl Charles fez 30 anos em 11 de maio de 1991. Quando ela era bebê, a disco music já tinha morrido há mais de 10 anos.

Não que isso importe para Pearl, que captura com maestria os tons e melodia necessários para sobrevoar esses anos todos e aterrissar com um belo disco.

Aos 18 anos, Pearl já estava no rolê da música, com um duo de country com a cantora Christian Lee Hutson, chamado Driftwood Singers. Depois, quis ser baterista, e integrou uma banda de rock de garagem, a Blank Tapes (com a qual colaboraria outras vezes).

Até que em 2012 ela quis alçar voos solos. Em 2015, Pearl Charles lançou um EP com o próprio nome, pela Burger Records.

Dois anos depois, estava com o single Night Tides (2017), que antecipou seu primeiro álbum, Sleepless Dreamer (2018), um disco que mistura de country e pop psicodélico, mas já com um quê de Lana Del Rey.

Pearl Charles

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Pearl Charles

A música disco, também chamada de disco music ou discothèque (francês), é um gênero de música de dança que foi muito popular durante os anos 1970.

Suas origens podem ser traçadas desde os clubes americanos de dança para negros e latino-americanos localizados em Nova York e Filadélfia, com alguma influência de música psicodélica dos anos 1960.

Fez tanto sucesso que as casas de dança começaram a se chamar discotecas.

As principais influências musicais incluem o funk, a música latina, psicodélica e a soul music. Cordas, metais, pianos elétricos e (poucas) guitarras fazem a base do som.

Quando a gravadora Motown entrou no estilo, houve a introdução de arranjos orquestrais, mais linhas de baixo elétrico (do funk) e os artistas começaram a usar cantos em falsete.

A Motown é uma gravadora americana de Detroit, fundada por Berry Good Jr. em 12 de janeiro de 1959, e responsável por fazer explodir o soul e o rhythm and blues na indústria da música.

Nos anos 1970, os maiores artistas da disco music eram Donna Summer, Bee Gees, KC and the Sunshine Band, ABBA, Chic e The Jacksons.

O ABBA dispensa apresentações. O grupo pop sueco de disco music deve ser a mais famosa do planeta, formada em Estocolmo em 1972 por Agnetha Fältskog, Björn Ulvaeus, Benny Andersson, e Anni-Frid Lyngstad.

O grupo é um dos mais bem-sucedidos da história da música pop e influenciou praticamente toda a música comercial das últimas cinco décadas. Será que alguém da geração baby boomer, X e millenial nunca ouviu a já citada Dancing Queen?

Dancing Queen, do álbum Arrival (1976), uma das canções mais famosas da banda, e inspirada por um clássico da discoteca, Rock Your Baby (1974), de George McRae

Os outros artistas citados na matéria foram os The Carpenters, também californianos como a Pearl. Trata-se de um duo musical composto pelos irmãos Karen (1950–1983) e Richard Carpenter (1946-), dois gigantes que sedimentaram parte do que se convencionou dizer soft rock, grande parte construída nos anos 1970, e que ficou pau a pau em vendagens com estilos muito mais pesados e crus, como punk rock, pós-punk e até heavy metal.

We’ve Only Just Begun, canção do disco Close to You (1970)

Já o Fleetwood Mac é uma banda anglo-americana de soft rock, formado em Londres, no ano de 1967, com dezenas de discos de sucesso, graças aos talentos de músicos de enorme talento, com destaque para a formação mais famosa do grupo, em 1974, quando o baterista Mick Fleetwood conheceu um duo de folk rock formado por Lindsey Buckingham e Stevie Nicks. Os dois novos integrantes, juntamente com Christine McVie, estruturaram em definitivo o pop rock como principal gênero do grupo.

The Chain, canção do álbum Rumours (1977), a única música do álbum creditada a todos os cinco membros (Stevie Nicks, Lindsey Buckingham, Christine McVie, John McVie e Mick Fleetwood)The Chain, canção do álbum Rumours (1977), a única música do álbum creditada a todos os cinco membros (Stevie Nicks, Lindsey Buckingham, Christine McVie, John McVie e Mick Fleetwood)

Lana Del Rey é Elizabeth Woolridge Grant, apenas seis anos mais velha que Pearl. É de Nova York, onde se fez cantora, compositora e poetisa. Fez sucesso na indústria musical com álbuns cheios de canções que versam sobre romances trágicos, glamour e melancolia, carregadas de referências culturais americanas dos anos 1950 e 1960, em um indie pop rock bem potente.

Summertime Madness, canção do álbum Born to Die (2012)

O lançamento mais recente de Pearl Charles é o single Deja Vu

Pearl Charles Magic Mirror
Pearl Charles fará uma turnê mundial do Magic Mirror já em janeiro de 2022, mas o Brasil não está na mira

Pearl Charles Magic Mirror

Pearl Charles Magic Mirror

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