RED MORNING LIGHT | O southern rock do Kings of Leon nunca sai deles

A banda de rock americana Kings of Leon lançou seu primeiro álbum, Youth and Young Manhood, em agosto de 2003, e a primeira faixa, Red Morning Light, ainda reflete a sonoridade deles, um punk com influência de rock de garagem ao estilo southern rock, que fez um enorme sucesso na indústria musical dos anos 2000.

O jeitão família rockeira se dá em vários níveis de entendimento, e ajuda a explicar a canção Red Morning Light como reflexo ainda válido da carreira dos caras.

O título do disco de estreia foi retirado da árvore de família de Moisés. O próprio Kings of Leon é família, um grupo formado por irmãos e primo — Caleb Followill, no vocal e guitarra rítmica; Matthew Followill (o primo), guitarra; Jared Followill no baixo; e Nathan Followill, no comando da bateria, percussão e também vocal.

“Leon” é o nome do pai e do avô paterno dos três irmãos e primo, e o nome da banda é uma homenagem ao velho.

Red Morning Light
Kings of Leon

O carisma do quarteto Kings of Leon, com ares de american redneck hipster no primeiro álbum, aliou com o passar dos anos seu southern rock de garagem uma pegada de hard rock com blues e country que funcionou à perfeição com o visual e as letras.

Mesmo com o enorme sucesso no mercado, tocando em grandes festivais, com quarteto cheio de influências do mergulho no mainstream — estilo e imagem de indie rock pop de arena e a passagem obrigatória de mergulho nas drogas e brigas entre os integrantes — não deixaram a caracterização sonora dos caras até hoje soar distante de uma canção como Red Morning Light.

A batida minimalista e suja do Kings em sua primeira canção vem direto das paredes imundas e viciadas do clube punk CBGB (boate rock clássica dos EUA) mas o blues sulista é audível.

Os irmãos e primo foram criados por um pastor pentecostal que pregava nas cidades do sul dos Estados Unidos, a parte mais racista e negra da América, local de nascimento dessa filha da puta chamada rock´n roll, de muitos pais.

Os caras do Kings são de Nashville, Tennessee, uma das cidades mais importantes dessa região no país, que tem o apelido de Music City (“Cidade da Música”, a casa de United Record Pressing, a maior fábrica de produção discográfica nos EUA).

São mais de 20 anos de carreira e sete álbuns na discografia do Kings of Leon. Com Red Morning Light, podemos saber grande parte desse rolê.

Red Morning Light

You know you could’ve been a wonder
Takin’ your circus to the sky
You couldn’t take it on the tight rope
No you had to take it on the side
You always like it undercover
Tucked in between your dirty sheets
But no one’s even done nuttin’ to ya
In between the hollers and the screams

And I said nah nah hey hey
Another dirty bird ain’t givin’ out a taste
In the black of the night till the red morning light

You got your cozy little corner
All night you’re jammin’ on your feet
Hangin’ out just like a street sign
And put a twenty dollar trick
I hear you’re blowin’ like a feather
And then they rub it in your face
Oh once they’ve had all their fun hun
You’re at the bottom of the cage

And I said nah nah hey hey
Another dirty bird ain’t giving out a taste
In the black of the night till the red morning light
And I said nah nah hey hey you’re givin’ all your cinnamon away
That’s not right

Hey hey another dirty bird ain’t givin’ out a taste
Uh hey keep on givin’ away and givin’ it away (givin’ it away)
Hey hey you’re givin’ all your cinnamon away
Hey hey you’re givin’ all your cinnamon away

Red Morning Light não apareceu primeiro em Youth and Young Manhood, mas sim como o single de abertura do primeiro EP do Kings of Leon, What I Saw, um lançamento limitado do mesmo ano, com apenas 5 mil cópias em disco de vinil prensadas.

What I Saw é a letra da música Wasted time do Youth and Young Manhood, um disco com músicas escritas por Caleb Followill, Nathan Followill e Angelo Petraglia.

EP What I Saw

1. “Red Morning Light”
2. “Wicker Chair”
3. “Talihina Sky”

LP Youth and Young Manhood

1. “Red Morning Light”
2. “Happy Alone”
3. “Wasted Time”
4. “Joe’s Head”
5. “Trani”
6. “California Waiting”
7. “Spiral Staircase”
8. “Molly’s Chambers”
9. “Genius”
10. “Dusty”
11. “Holy Roller Novocaine” (essa canção termina em 4m, e depois tem uma faixa escondida, “Talihina Sky“, que começa em 8m21s)

Red Morning Light
Youth and Young Manhood

A canção Red Morning Light apareceu ainda como parte da trilha sonora do jogo de videogame de futebol FIFA Football 2004.

Entre as outras músicas da trilha, podemos achar Os Tribalistas com Já Sei Namorar, Zeca Pagodinho com Deixa A Vida Me Levar, Radiohead com Myxomatosis, The Jam com a Town Called Malice, Kasabian com a L.S.F e Asian Dub Foundation com Rise To The Challenge.

O ano 2000, começo do novo milênio, veio junto com uma mudança de paradigma na indústria fonográfica. O CD (“compact disc“) foi um resultado colaborativo das empresas de tecnologia Philips e Sony em 1982, e foi a mídia padrão da indústria da música por mais de 20 anos.

Ele substituiu o LP, o disco de vinil, como formato físico dos álbuns dos artistas da música, até perder popularidade no começo dos anos 2000, com a inserção no mercado dos caros iPods (da Apple) e MP3 players genéricos, ao alcance de qualquer um.

A inserção dos serviços de streaming nos anos 2010 ainda é o formato predominante até hoje.

Em 2000, o cenário musical era marcado pelos lançamentos de Lost Souls do Doves; o Air fez a trilha sonora do primeiro filme da Sofia Coppola, The Virgins Suicide; o Radiohead (o Coldplay triste) apareceu com Kid A e o Coldplay (o Radiohead alegre) com Parachutes; Linkin Park e Limp Bizkit definiriam o nu metal com Hybrid Theory, e Chocolate Starfish…de um lado e o Eminem com The Marshall Mathers LP com outro; e Madonna, sempre relevante, estava com Music nas prateleiras.

No ano de lançamento de Youth and Young Manhood, 2003, o Kings of Leon estava nas prateleiras junto com Forever to Tell do Yeah Yeah Yeahs; o Elephant do White Stripes; o De-loused in The Comatorium do The Mars Volta.

Gradualmente, o Kings Of Leon passou a se encaixar como rock alternativo. Eles já eram esquisitos o suficiente nos anos 2000, habitando em lugares diferentes do que Strokes — que com Is This It (2001), provocou uma das primeiras explosões do indie rock pop –, The Killers, White Stripes, Yeah Yeah Yeahs e Franz Ferdinand ocupavam.

Mas discos como Because of The Times (2007), Only By The Night (2008) e Mechanical Bull (2013) apresentaram mais do rock alternativo com o qual o KoL seria enfileirado com os outros, todos com músicas de refrão fácil.

O caso de Only By The Night é emblemático, pois é um dos grandes discos dos anos 2000. As duas primeiras já são matadoras — Closer (a melhor música que o Kings of Leon já fez) e Crawl.

Aclamado pela crítica e público, o disco ganhou diversos prêmios e fez um sucesso internacional imenso com os singles Sex On Fire e Use Somebody (ambos ganharam Grammy), que tocou tanto nas rádios e baladas de rock que chegava a enjoar (só que não).

Only By the Night entrou na primeira posição para o top do Reino Unido e tornou-se o álbum britânico mais vendido em 2008, país onde o Kings of Leon mais fez sucesso, mais até do que nos EUA.

Kings of Leon no SWU em Itu, 2010. Tocaram 20 músicas e nenhuma delas foi Red Morning Light

Agora, o KoL tinha repertório suficiente para se manter no topo das paradas e nas melhores posições dos festivais das quais era chamado, e muitos deles foram como headliners, caso do Brasil, no festival SWU 2010, em Itu-SP (eles não tocaram Red Morning Light, mesmo num show com 20 músicas).

Isso os ajudou a sedimentar essa posição, e os caras começaram seus  trabalhos posteriores no piloto automático.

Se eles cantavam indie rock pop, a atitude blasé e de esquisitões do começo da carreira se mantinham com zero carisma e sorrisos nas apresentações, a despeito do talento entregue nos shows.

Em diversos momentos, os caras do Kings revisitavam o southern rock de nascimento, mas os tiros certeiros no rock alternativo eram tentadores demais.

SWU 2010 | Dez anos de um dos melhores line-ups do Brasil

O Kings of Leon veio cinco vezes ao Brasil. Em 2005, tocaram no Tim Festival, onde se apresentaram nos dias 21 e 22 de outubro no Rio de Janeiro,  e dia 23 em São Paulo.

Depois vieram para o já citado SWU em 2010 — 10 de outubro, onde foram headliner no segundo dia.

Em 2012, retornaram para o Festival Planeta Terra, em 20 de outubro. Em 2014, fizeram uma apresentação no Circuito Cultural do Banco do Brasil: em SP no dia 1 de novembro e em RJ no dia 8 de novembro. Em 6 de abril de 2019, tocaram no Lollapalooza (de novo foram headliner).

De acordo com o site Setlist FM, que elenca (quase) todas as canções apresentadas por (quase) todos os artistas do (quase) mundo todo, o Kings of Leon nunca tocou Red Morning Light no Brasil.

LOLLAPALOOZA | O festival de música que começou como despedida

Em Walls, disco de 2016, o Kings of Leon experimentou um som mais pop e se distanciou da identidade musical, que parece “recuperada” no álbum mais recente, When You See Yourself (2021), só que não.

Com 5 anos sem lançar nada, o Kings of Leon queria até mudar o nome da banda nessa retomada.

O disco na verdade estava pronto desde janeiro de 2020, mas a pandemia alterou todos os planos. De um início pobre a rockstar, os irmãos e primo aproveitaram muito a tríade sexo, drogas e rock ´n roll.

Mas essa rotina e hábitos, aliados a álcool, estádio e turnê sem fins provocava brigas tão feias que os integrantes começaram a viajar em ônibus separados (!) para fazer as apresentações.

Com esse disco, parecem querer voltar às raízes, das quais nunca ficaram tão longe assim. É o mais pessoal dos discos do Kings of Leon.

Não apenas com o lançamento do disco, o Kings of Leon voltaram a ficar no holofotes na onda do momento, o NFT, a nova modalidade de monetização na indústria cultural — sigla para “token não fungível”, um lastro único e não divisível, autenticado digitalmente como produto oficial e único, com uso da tecnologia blockchain (a mesma usada em bitcoins).

Os noticiários mostraram com assombro os valores exorbitantes obtido com os tokens, desde o meme do Nyan Cat (comprado por R$ 3,1 milhões) ao primeiro tweet da história do Twitter, vendido pelo CEO Jack Dorsey por inacreditáveis R$ 16 milhões.

O KoL aproveitou isso, e no dia 5 de março, lançou When You See Yourself em NFT, em três tipos de tokens como parte de uma série chamada “NFT Yourself”, que inclui uma versão especial do álbum, acesso a artes exclusivas e vantagens em shows da banda num possível futuro pós-Covid-19. Preço: US$ 50,00.

Segundo informações da Rolling Stone, o projeto conta com o suporte técnico da startup de blockchain YellowHeart.

When You See Yourself está disponível nas plataformas de streaming, como Spotify e Apple Music, mas a versão NFT disponível é a única com as vantagens especiais.

O Kol não é a primeira banda a usar dos NFTs, com Grimes, Portugal. The Man e Shawn Mendes já nesse rolê.

Confira a crítica da época do Youth and Young Manhood (e da Red Morning Light) na Pitchfork, o veículo de mídia mais desejado pela indiezera nos anos 2000 — na verdade, até hoje…

Esta matéria faz parte do Firstliner, a parte do blog dedicada à análise da primeira faixa do primeiro álbum de um artista da música.

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