Arquivo X resume todas as características de quando foi feita nos anos 1990 para a TV americana, década esquizofrênica de liberação desenfreada aliada a fortalecimento de movimentos sociais e a transição definitiva do analógico pro digital, física e filosoficamente, o que ofereceu inovações que permeiam até hoje diversos produtos da cultura pop, como representatividade e papéis de mulheres em universos masculinos, como o policial criminal.
A força imensa de uma das protagonistas de Arquivo X, Dana Scully (Gillian Anderson), que continua o legado de Clarice Starling (Jodie Foster) do filme O Silêncio dos Inocentes, de maneira implacável e interessante no meio audiovisual, no que resulta em uma das personagens mais legais de se acompanhar na série até hoje — uma agente do FBI inteligente, sagaz, corajosa e independente.
Isso é amplificado com uma voz equilibrada e que não é mais alta do que a dela, vinda do outro protagonista, Fox Mulder (David Duchovny), que deixa espaço para ela crescer, e nunca a diminuí de nenhuma maneira.
Isso por si só é uma qualidade tão inerente e marcante ao produto Arquivo X que apenas isso merecia a vista de qualquer um que goste de ver séries, ainda que hoje possa soar como obrigatório e lugar comum.
Ter investigadores na tela, em um gênero tão explorado no cinema como dupla de tiras e as aventuras em busca de assassinos e criminosos, nunca foi novidade.
Mas criar uma divisão especializada em casos sobrenaturais e inexplicáveis era realmente genial.
Twin Peaks (1990), de David Lynch, serviu de base — série que David Duchovny participou como um agente do FBI que mudava de sexo.
O seriado do Arquivo X também foi genial ao costurar uma narrativa de mistério dentre as investigações criminais, que nos faz acompanhar uma grande conspiração do complexo industrial militar nos Estados Unidos envolvendo alienígenas, e exatamente nisso (passado meses e meses de uma maratona feita por quem escreve este texto, com 1, no máximo 2 episódios por dia), reside uma das maiores forças de AX (tomo a liberdade de abreviar em muitos momentos o seriado assim), um buraco negro de mistérios tão magnéticos que é impossível escapar de sua gravidade.
A série marca com fogo do céu sua história na mitologia da cultura pop do século XX, e o combustível desse fogo é essa tal conspiração, e claro, a química inacreditavelmente gostosa dos agentes Fox Mulder e Dana Scully.
O que acontecia nos episódios de Arquivo X fugia do padrão de qualquer outra coisa feita na TV, a exemplo da britânica série e imbatível O Prisioneiro (1967) e o inesquecível e inspirador Além da Imaginação (1964), que inclusive serve de base para o seriado.
Arquivo X foi criada por Chris Carter para a emissora de TV americana Fox, e estreou nos EUA em 10 de setembro de 1993.
A série acompanha Dana Scully (Gillian Anderson) e Fox Mulder (David Duchovny), dois agentes do FBI que investigam casos não-solucionados, estranhos e inexplicáveis.
O programa misturava o formato seriado e o de antologia, e lidava com diversos temas considerados sobrenaturais, tendo como fio condutor cronológico uma conspiração do(s) governo(s) que acobertava(m) a verdade sobre a presença/visita alienígena no planeta Terra.
A série foi um marco na TV americana e mundial, e ensinou a indústria que seriados televisivos podiam ter pegada cinematográfica, enredo longo, referências literárias, cinematográficas e cult, com chancelas de mostrar tudo que quisesse, como sangue, violência, temas sociais e psicológicos pesados.
Ela ainda põe em evidência a cultura nerd / geek, e inaugura algo nem sempre visto com bons olhos pelos defensores de nicho: a popularização da cultura pop.
Nos tempos de hoje, o hype conta muito, ainda mais se azeitado com a força incomensurável da nostalgia.
Não foi o caso com as duas últimas temporadas do seriado, recentemente trazidas de volta a vida dos anos 90, para 2016 e 2018 — o novo Arquivo X dificilmente criou novos marcos na mitologia do século XXI como fez anteriormente.
Mas a série até a sexta temporada — mesmo até o final da oitava — vale a investida, com uma jornada inacreditável pelo desconhecido. Promove desafios intelectuais, de reavaliação de crenças e mitos, modos de repensar o religioso e moral, na melhor mistura de ciência, teoria e ficção. A verdade é essa.
Arquivo X
(The X-Files)
“The Truth is Out There”
ou “A Verdade Está Lá Fora” no Brasil, a tagline que se tornou histórica na introdução de Arquivo X
O FBI (agência da polícia federal americana) mantém um departamento responsável por todos os casos sem solução ocorridos na América, como crimes inexplicáveis, fenômenos paranormais, contatos imediatos de primeiro, segundo e terceiro grau, e outras situações.
Todo tipo de ocorrência cuja resposta desafia os limites da compreensão humana, são encaminhados para o Arquivo X (ao que parece, o N de “não-solucionado” não estava disponível).
No começo dos anos 90, os Arquivos X estavam sob a responsabilidade do agente Fox Mulder. O setor, como era de se esperar, é tratado como piada e desperdício de recursos, mas de fato funciona, e opera sob supervisão do diretor Walter Skinner (Mitch Pileggi).
No episódio piloto, acompanhamos a chegada da agente Dana Scully, destacada para ser parceira de Fox, e num primeiro momento, com a missão de validar as atividades da seção.
Com forte formação católica, a médica e cientista Dana é séria, cética e cerebral, e é o oposto de Fox, que também é erudito à sua maneira, incrivelmente esperto e observador, bem-humorado, e dono de uma determinação que o faz superar qualquer obstáculo.
E é aparentemente desencanado com a vida, ainda que carregue crenças em explicações mirabolantes em muitas das vezes. Com os dois juntos, cria-se uma dinâmica irresistível: ele acreditava em tudo e ela só no que a ciência podia provar.
O óbvio seria acompanhar o desvendar de crimes em cada um dos episódios de 45 minutos do seriado, mas a produção ficou conhecida por ter sido a primeira a estabelecer uma mitologia que se estendia ao longo das temporadas – e, eventualmente, ao longo de toda a série.
O que não impediu de AX ter o conceito de elemento procedural que era a principal base de todos os programas da época, com episódios isolado em temas que não eram da mitologia, como os “monstros da semana“, ou com foco em algum personagem em específico e seus problemas.
Com uma média de 20 capítulos na maioria de suas 11 temporadas, era complicado preencher todas essas horas somente com uma trama contínua, mas Arquivo X conseguia oferecer um equilíbrio criativo notável com tudo isso.
O cerne da questão nesta matéria é defender um ponto de vista em que a “verdadeira” mitologia construída é encerrada no meio da sexta temporada, e suas consequentes continuações ficam aquém do esperado, o que determina um marco divisivo para quem acompanhou toda a trajetória dos agentes e da conspiração.
Com muito esforço se chegou a uma sétima temporada, com um desfecho interessante e funcional para todos os envolvidos, mas Arquivo X era uma máquina de dinheiro para a Fox.
Ela forçou a mão em cima dos realizadores e atores, e conseguiu mais duas temporadas, que mais cansam a antiga audiência do que arruma novas.
Aliás, mesmo parte do trabalho é erodido — Arquivo X, nas temporadas 8 e 9, contou com os agentes John Doggett (Robert Patrick) e Mônica Reyes (Annabeth Gish), que se integraram às fileiras de protagonistas, muito mais por vontade dos atores David e Gillian estarem a fim de fazer outras coisas e largarem logo o osso do seriado.
Ao falar do sobrenatural, Arquivo X buscava uma contrapartida científica, séria, que chocava o espectador ao fazê-lo pensar que aquilo poderia ser possível.
Ele ia na contramão do mercado de entretenimento dos anos 1990, que mirava o burlesco e a gritaria em todas as formas de gênero: se era terror, era Sexta-feira 13 (Jason Vai para o Inferno: A Última Sexta-Feira, 1993, de Adam Marcus) ou Pânico (1993, de Wes Craven). Se era fantasmas, era It (1990, de Tommy Lee Wallace).
Se eram vampiros, era Um Drink no Inferno (1996, de Robert Rodriguez). Se eram monstros, era O Ataque dos Vermes Malditos (1990, de Ron Underwood).
E claro, se era uma invasão alienígena, teria que ser Independence Day (1996, de Roland Emmerich).
A série trava todos esses temas de maneira sóbria, e salvo exceções, as regras eram dobradas para servirem ao contexto, como em episódios mais desencanados e humorísticos para a alegria dos atores e envolvidos.
A América é rica naturalmente em conspirações, desde a fundação do país. A colônia de Roanoke, na atual Carolina do Norte, foi um empreendimento financiado e organizado por Sir Walter Raleigh no século XVI para estabelecer um assentamento inglês permanente na Colônia da Virgínia.
Entre 1585 e 1587, grupos de colonos foram deixados ali, todos os quais ou abandonaram a colônia ou desapareceram.
O último grupo sumiu depois de três anos passado sem suprimentos vindos da Inglaterra, o que levou ao surgimento de um mistério que perdura até os dias de hoje, conhecido como “The Lost Colony“, “A Colônia Perdida“, em tradução livre.
Em períodos mais recentes, uma cidade nos EUA chamada Roswell, no Estado do Novo México, se tornou célebre depois da suposta queda de um OVNI, em julho de 1947, o que serviu para alimentar um monstro gigantesco de paranoia e fake news a respeito do fato no país.
E foi em torno dessas teorias de conspiração envolvendo extraterrestres, inflamadas pela cultura pop americana, de cinemas a seriados e livros a HQs, que Chris Carter criou sua série.
O episódio-piloto de Arquivo X começa exatamente com foco em abdução, mas ele foi capaz de dar verniz de autoridade policial e científica ao absurdo, ao sobrenatural, ao inexplicável, o que ninguém mais conseguiria.
Carter fundamenta sua série sobre as bases do raciocínio lógico e o imponderável, entre novas teorias científicas e psicológicas, sem perder o entretenimento de vista para a audiência.
São esses fatores de tratar assuntos malucos de maneira séria e um bom desenvolvimento de personagens que fez as pessoas fisgarem a isca de “to be continued” em cada episódio de Arquivo X.
Era impossível não querer saber mais passos da conspiração do Sindicato ou o que Fox e Dana iriam fazer em determinado caso — ou mesmo se teriam um caso, já que foi em AX que o termo shipper nasceu, devido a vontade de muitos fãs que os agentes ficassem juntos.
A moda de “personagens sem nome” e protagonistas misteriosos também ficou popular graças a Arquivo X. O Canceroso, Garganta Profunda e X não tinham nome e era assim a vida, e ela era mais interessante do que nunca.
A riqueza deles, com desenvolvimento tridimensional (tá bom, o X nem tanto), foi outra cartada de truco genial em Arquivo X.
O que vale em Arquivo X
(spoilers)
Uma das principais atrações e mistérios da série é a existência do Sindicato, um conluio de homens poderosos dos Estados Unidos e do mundo que detém informações e cargos executivos essenciais em posições estratégicas no completo industrial militar, para preparar a Terra na chegada e/ou combate a uma raça alienígena invasora.
A principal figura antagônica, vista desde o primeiro episódio da série, é um misterioso homem de social, do alto escalão do FBI, sempre fumando um cigarro, a quem conhecemos como Canceroso (William B. Davis).
O Sindicato é formado no fim da Segunda Guerra Mundial, depois do incidente de Roswell. Garganta Profunda (Deep Throat, no original, e primeiro informante de Mulder no seriado sobre a conspiração), afirmou que uma conferência com militares poderosos e políticos dos Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido, China, França, Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental resultou em um tratado que após a eventual queda de uma nave extraterrestre em seus territórios, qualquer sobrevivente teria que ser exterminado.
Num primeiro momento, os homens ameaçaram destruir a Terra com bombas nucleares para não deixar nada para os aliens invasores, mas acabaram por entrar em acordo, com uma parte desses homens ao lado dos alienígenas.
Cientistas da antiga Alemanha Nazista foram trazidos para a América para trabalhar em corpos alienígenas e desenvolver um híbrido humano-alien, com a ajuda de um misterioso tipo de óleo negro, descoberto no submarino Piper Maru.
Membros do Sindicato entregaram familiares em troca de serem salvos da colonização, e de um feto alienígena para estudos.
Parte dos planos era: os aliens cuidavam das abduções das vítimas, e o Sindicato cuidava dos testes, na tentativa de criar uma raça híbrida-escrava para depois da colonização.
Desde então, o grupo se esforçou para acelerar os processos que os alienígenas desejavam: criar um apocalipse virótico com o óleo negro, a partir da difusão via abelhas por todo o globo, e ter um híbrido alien-humano para que esses fossem os sobreviventes e escravos da raça extraterrestre.
O Sindicato também operava secretamente contra eles, tentando uma vacina contra o vírus, em uma cartada dupla contra os aliens.
Perto do auge do plano, aparecem alienígenas rebeldes, grotescos seres de aparência humana, mas com os orifícios cobertos por pele (para impedir a infecção pelo óleo negro).
O objetivo deles é impedir a colonização da Terra, e para isso, atacam os ajudantes da raça invasora no planeta — o Sindicato.
Uma instalação do grupo é atacada no Cazaquistão, e a personagem Marita Covarrubias (Laura Holden), ao investigar dezenas de corpos incinerados, é infectada pelo óleo negro.
Os aliens rebeldes matam pessoas do Sindicato, e pessoas sem ligação que foram abduzidas, fazendo pouca distinção de culpados e inocentes.
Quando um trem do Sindicato é abordado — dentro estavam o dr. Eugene Openshaw e outros médicos, junto com Cassandra Spender (Veronica Cartwright), a primeira híbrida alien-humana bem-sucedida — os rebeldes atacam e matam todos, menos Cassandra, deixada viva para expor o Sindicato, e assim destruir o plano de colonização.
Um dos rebeldes inclusive chega a assumir o lugar (e forma) de um dos integrantes do Sindicato, mas Canceroso descobre a tempo, e desconfiado, escapa do terrível fim — o lugar para onde os homens mais poderosos da Terra pudessem ser recolhidos pelos aliens antes da invasão e colonização, e entregar Cassandra, a figura-chave para que a colonização começasse, estava comprometido. Os aliens rebeldes aparecem e matam todos.
Era o fim do Sindicato e da grande conspiração que permeou 6 temporadas de Arquivo X.
A descrição de todos os fatos acima pode levar a pensar em pirotecnia, ação desenfreada e um carnaval de explosões, raios e cores. Não poderia ser mais diferente disso.
É dark, é noir, é escuro, é sombrio e perigoso.
Tudo em AX acontece de cima para baixo, o tamanho e a força de Fox e Dana a todo momento é reforçado, e mesmo em posições de autoridades como agentes policiais federais, ficam de mãos amarradas ao mexer no vespeiro da trama mais perigosa já feita nas sombras, por homens tão poderosos que torcem leis a seu favor.
É o charme de toda a questão da mitologia, saber que algo no escuro trabalhava contra você, e que você tinha poucos recursos disponíveis para escapar.
Acontece que Fox e Dana não eram qualquer um, e graças a esperteza, vontade e parceria dos agentes, é incrível ver que isso tudo funciona de modo orgânico e respeitoso.
A palavra “Sindicato” (syndicate, no original) foi usada apenas três vezes em Arquivo X. No episódio Two Fathers (06×11), o Canceroso diz “I’ve called an emergency meeting of the Syndicate.“
No episódio The Sixth Extinction II: Amor Fati (07×02), Canceroso diz a Mulder em um sonho: “At some point, I realized that if the Syndicate didn’t kill you, the FBI would.“
E no episódio The Truth (09×19), Marita Covarrubias diz “…to further the interests of a secretive group of men who called themselves the Syndicate.“
Na mesma cena, Skinner cita a palavra mais duas vezes. O personagem de John Neville no seriado (chamado informalmente de Well-Manicured Man, no original), diz no episódio The Blessing Way (03×01) que “I’m a member of a kind of consortium. We represent certain global interests.”
É a única vez que o Sindicato é mencionado como um consórcio.
Como muitos outros eventos do mundo real, Chris Carter baseou essa organização no grupo Majestic 12, que segundo rumores, realmente existiu, com os mesmos interesses inclusive.
O que conta em Arquivo X
212 episódios do seriado regular em 11 temporadas, com 45 minutos cada — alguns um pouco mais (1993 a 2002)
2 longa-metragens (um de 1998, que faz a ligação da quinta pra sexta temporada, e outro de 2009, sem ligação com a mitologia)
Há 6 videogames, mas apenas dois são importantes: The X-Files Game (1998, para Microsoft Windows, Mac OS e PlayStation), jogo de adventure point-and-click em live action, no contexto da terceira temporada, com a participação de todos os atores principais em seus papéis; e The X-Files: Resist or Serve (2004), jogo de aventura em terceira pessoa para Playstation 2, com “três episódios perdidos” da sétima temporada.
E uma infinidade de livros e HQs expandem o seriado.
As revistas em quadrinhos de Arquivo X foram originalmente publicadas de janeiro de 1995 a setembro de 1998, pela editora Topps Comics, em 41 números, quando a terceira e quarta temporada estavam no ar.
Uma minissérie de 4 edições chamada Ground Zero também foi publicada, além de outras edição únicas e uma graphic novel chamada Afterlife.
Em 2008, por conta do lançamento do segundo filme, a editora DC Comics, pelo selo da Wildstorm, publicou uma HQ chamada The X-Files Special, seguida de outra minissérie em 6 edições.
Em 2010, mais uma minissérie de 6 edições, The X-Files/30 Days of Night, um crossover com a série de mesmo nome, criada por Steve Niles e Adam Jones (ele também é guitarrista da banda de rock pesado Tool).
Com efeito, para provar o poder incomensurável dos quadrinhos, em 2013, três anos antes da estreia da décima temporada na TV, é publicado The X-Files Season 10, que reúne Mulder e Scully em uma décima temporada direta nos quadrinhos, escrita por ninguém menos que o próprio Chris Carter.
Em 2015, saiu The X-Files Season 11, com a mesma proposta.
Todas essas revistas foram publicadas pela editora IDW Publishing. No fim de 2016, a mesma empresa começou a relançar em formato coleção as edições da Topps.
Arquivo X ainda gerou produtos derivados na TV.
The Lone Gunmen foi uma tentativa de dar um seriado aos Pistoleiros Solitários, os hackers que são aliados de todas as horas de Mulder. Foram produzidos 13 episódios em 2001, que não tiveram lá muito sucesso.
Um episódio especial da nona temporada de AX serve de desfecho para o gancho da série, e conta com um fim indigno para os Pistoleiros Solitários, em uma decisão muito inútil de Chris Carter.
Byers (Bruce Harwood), Frohike (Tom Braidwood), Langly (Dean Hanglund) são os pistoleiros. Eles formam um grupo que produz o “jornal” Pistoleiro Solitário, que trata a respeito de conspirações governamentais e acobertamentos do mesmo governo.
São teóricos da paranoia e sabem de muitas conspirações. E logicamente, são amigos de longa data de Mulder.
Millennium também foi criada por Chris Carter e passou de 1996 a 1999, com 3 temporadas, onde acompanhamos o ex-agente do FBI Frank Black (Lance Henriksen) em meio a uma misteriosa organização que busca o fim do mundo na virada do milênio (era o must das tramas da cultura pop no fim dos anos 90 achar que a passagem 1999-2000 seria relevante pro apocalipse).
A série não fez muito sucesso, e por se passar no mesmo universo de AX, teve um encerramento dentro do seriado de Fox e Dana, em um episódio especial na sétima temporada, Millenium (07×04), que por sinal teve o primeiro beijo (de fato) de Mulder e Scully.
Há ainda dezenas de livros, com romantizações de episódios, filmes e tramas inéditas.
As temporadas de Arquivo X
Então, Scully, quem foi que você ofendeu para vir parar aqui?”
1.ª temporada, 24 episódios, 1993/1994
O final da primeira temporada de Arquivo X foi preparado para ser o final de Arquivo X, pois ninguém poderia adivinhar o sucesso do seriado.
É a primeira vez que a tagline de abertura muda: de “The Truth is Out There” para “Trust no One” (“Não Confie em Ninguém” no Brasil) no último episódio. Os acontecimentos são sensacionais, como Scully achar fetos alienígenas, o informante Garganta Profunda se revelar parte da conspiração governamental, o que o lhe permitiu salvar a vida de Mulder, mas morrer nos braços de Scully.
O escritório do Arquivo X é fechado, mas a emissora abriu o cofre pra sedimentar o seriado na TV.
O terceiro episódio, Squeeze (01×03), é obrigatório e funcional até para quem nunca viu AX. Os agentes tem que lidar com um mutante elástico que come fígados e hiberna a cada 30 anos. Não assista de noite.
2.ª temporada, 25 episódios, 1994/1995
A surpresa maior aqui foi a gravidez da atriz Gillian Anderson. O fato foi incorporado ao seriado, mas de outra maneira: Dana Scully é abduzida e some por alguns episódios, pra deixar a atriz livre em seus compromissos médicos.
Na ficção, a abdução traria um caminhão de problemas futuros. Isso ajudou a desenhar o futuro de sucesso da série, pois o formato de focar na mitologia da conspiração governamental se torna pontual somente em alguns episódios, e que deixava o resto da trama leve e livre para a construção da identidade de Arquivo X.
O segundo ano marca a entrada de personagens como X (Steven Williams), que faz as vezes de substituto do Garganta Profunda; o agente Alex Krycek (Nicholas Lea), que se revela um nemesis para Fox e Dana, vital e mortal em momentos-chave; e os caçadores alienígenas (quase sempre interpretados pelo ator Brian Thompson).
O aumento da participação de Canceroso (William B. Davis) se dá por conta de mais relevações a respeito da conspiração.
Com Anasazi (02×25), pela primeira vez, Chris Carter cria um elo entre o último episódio e o primeiro da temporada seguinte.
Mulder está com provas da conspiração, na forma de arquivos escritos na língua navajo (nativos da América pré-Colombo). Mulder agride Skinner na ânsia de busca pelas repostas, que talvez ele não queira saber: seu pai, William Mulder, tem aparentes ligações com o Canceroso, e perto do fim é assassinado por Krycek.
Fox Mulder, no meio do deserto do oeste americano, entra em um vagão de trem enterrado na areia, e vê ali dentro dezenas de corpos não-humanos. Uma explosão ocorre com ele ali, em um desfecho agonizante. Também acontece a primeira reunião oficial do Sindicato.
3.ª temporada, 24 episódios, 1995/1996
Logicamente, Mulder não morreu na explosão do vagão, e é salvo pelos índios navajos. Em The Blessing Way (03×01), aparece pela primeira vez o personagem de John Neville (nunca com nome mencionado), um dos cabeças mais antigos da conspiração, que estranhamente avisa Dana Scully, no funeral do pai de Mulder, que ela corre perigo.
É quando a agente descobre um chip eletrônico na nuca, um “presente” da abdução. Ela perde a irmã, Melissa, assassinada por Krycek.
Só em Paper Clip (03×02), temos Roswell, referências a Operação Paper Clip real (experiência alemãs com supostas entidades extraterrestres) e segredos da família Mulder.
No episódio Piper Maru (03×15), um mergulhador que participa do resgate de um avião da Segunda Guerra entra em contato com uma estranha membrana negra que cobre os olhos de um cadáver.
É a introdução em Arquivo X do famigerado óleo negro, a força vital dos alienígenas invasores. No último episódio, após uma discussão com o Canceroso, a mãe de Mulder sofre um derrame.
Jeremiah Smith estreia em AX, um homem com poderes de cura milagrosa com apenas com o toque das mãos.
É ele quem Mulder tenta encontrar para que salve sua mãe. Também é sugerido que a mãe de Mulder e o Canceroso tiveram um caso no passado.
O intérprete de Jeremiah é Roy Thinnes, da série Os Invasores (The Invaders), uma trama ficção científica criada por Larry Cohen e exibida nos Estados Unidos pela rede ABC, por uma temporada e meia, entre 1967 e 1968.
Thinnes era o arquiteto David Vincent, que descobrira uma invasão alienígena em andamento e tentava frustrar seus planos dos alienígenas e alertar a Terra do perigo.
4.ª temporada, 24 episódios, 1996/1997
Depois de três temporadas de enorme sucesso na TV, a Fox planeja o próximo passo para os cinemas.
Assim, o criador Chris Carter desenvolveu a quarta e a quinta temporada já mirando o longa-metragem, e a trama das duas se dobram a isso.
Jeremiah apresenta a Mulder uma colônia formada por clones de crianças, entre elas, Samantha, a irmã de Mulder, abduzida ainda criança. O personagem X é morto logo no primeiro episódio, e é substituído por Marita Covarrubia (Laurie Holden), que serve muito mal a Mulder como informante.
A abdução de Scully continua rendendo problemas, agora com um câncer na agente.
É nesta temporada que temos Home (04×02), um dos episódios mais assustadores de Arquivo X, com os agentes envolvidos com uma perturbadora família de deformados, resultado de anos de incesto, que vive isolada da sociedade.
Um antropólogo descobre o que poderiam ser os restos congelados de uma vida extraterrestre, e a conspiração aperta tanto as garras na dupla, que aparentemente Fox Mulder se mata no último episódio, que nem contou com o tradicional “to be continued“.
Emoções a nível intergaláctico insuperáveis.
5.ª temporada, 20 episódios, 1997/1998
O Canceroso se torna a figura chave em diversos momentos a partir de agora.
Mulder consegue salvar Dana do câncer ao custo de sua crença na conspiração — há realmente uma?
Não seria a primeira vez que Chris Carter jogaria a cartada de complexo industrial militar operando às margens de uma mentira fantasiosa de invasão extraterrestre para dominar o mundo.
O agente especial do FBI, Jeffrey Spender (Chris Owens), é introduzido. Ele é filho de Cassandra e do Canceroso (mas o agente não sabia disso). O Sindicato luta para descobrir uma vacina para o óleo negro, agora objeto principal da conspiração, consequência do longa-metragem, filmado no hiato entre a quarta temporada e esta.
Nesta temporada, o Canceroso “morre”, uma situação que iria se repetir muitas vezes.
Em The Unusual Suspects (05×03), temos a primeira aventura solo dos Pistoleiros Solitários.
A história começa em 1989, quando os pistoleiros se encontram pela primeira vez, ao ajudar uma mulher que alega que o governo planeja usar civis como cobaias em uma experiência secreta. Fox Mulder conhece os caras aqui.
Em The Post-Modern Prometheus (05×05), Arquivo X se permite uma liberdade criativa sem igual, ao por a dupla em uma investigação nada usual de monstro, que se revela um dos melhores e mais gostosos episódios desencanados da série.
Foi indicado sete vezes ao Emmy Awards (o Oscar da TV), e ganhou de Direção de Arte.
Em Travelers (05×15), Fox Mulder faz uma visita à Arthur Dales, um ex-agente que trabalhou em um caso insolúvel na década de 50, para tentar resolver um caso. Dales é interpretado por Darren McGavin, ator que estrelou Kolchak e os Demônios da Noite, mais uma das séries favoritas de Chris Carter.
Série de televisão americana exibida em 1974-1975, contava as investigações do repórter Carl Kolchak que vai atrás de casos misteriosos, geralmente envolvendo assassinos monstruosos e sobrenaturais.
O episódio também é importante ao revelar alguns acontecimentos na vida de William Mulder e sua relação com o Canceroso e o Garganta Profunda.
Em The End (05×20), aparece o jovem Gibson, gênio do xadrez que pode ler mentes, e uma das provas genéticas da ligação do homem com seres alienígenas. Ele pode ser a chave para desvendar os mistérios dos Arquivos X.
Pra variar, os escritórios do Arquivo X são fechados e Mulder e Scully são jogados para outras funções.
Arquivo X – O Filme
(The X-Files: Fight the Future, 1998,
de Chris Carter)
O temido óleo negro é o protagonista aqui, em uma cena espetacular de abertura.
Fechado em si, para deleite dos fãs e problemas de entendimento total para o grande público, o filme do Arquivo X tem excelentes momentos e escorregadas em outras, e opta por “cinematizar” demais os agentes, que se tornam os heróis padrões dos longas de baile funk de ação, com gritaria, explosões, correria e cenas de suspensão de descrença gigantescas — sério que vocês estão sozinhos na Antártida? Que a cética da Scully perde de ver a maior nave espacial já mostrada na série?
É importante dizer que há uma mudança crucial (e lamentável) da mitologia neste primeiro filme, pois o óleo negro ganhou características novas como vírus fertilizador — isso incluiu homens ficarem grávidos. Pois é.
No filme também é revelado que o Sindicato tem uma espécie de líder, Conrad Strughold, um industrial alemão que atualmente comanda pesquisas com abelhas no norte da África.
É por meio delas, criadas junto a plantações de milho, infectados com o óleo negro, que o vírus deverá ser espalhado pelo planeta.
A vacina que o Sindicato fez a revelia dos alieníginas, mostrada em Patient X (05×13), é dada a Scully pelo personagem de John Neville, que tentava salvar seus netos, ao custo de sua vida. O primeiro filme de Arquivo X conta com uma excelente trilha sonora, e vale o play.
6.ª temporada, 22 episódios, 1998/1999
Aqui entramos em terreno perigoso, instável e espetacular, pois é a melhor temporada da série. No primeiro episódio, Mulder e Scully tentam voltar ao Arquivo X, e encontram Gibson com o cérebro operado e com o vírus no sangue. Prenúncios nada animadores.
Em Drive (06×02), proibidos de investigar os casos da conspiração, os agentes são designados para investigar compras de adubo, aparentemente sem importância.
Mas Mulder se vê preso dentro de um carro, na mira de um revólver do Patrick Crump, que não pode diminuir a velocidade ou parar o veiculo, em uma louca corrida pelas estradas da América para escapar de ondas mortais de uma estação de rádio naval, sob o risco de terem as cabeças explodidas — literalmente.
O intérprete de Patrick é ninguém menos que Bryan Cranston, em um papel que lhe renderia crédito com o escritor Vince Gilligan. Anos antes de criar a história de Walter White em Breaking Bad, Vince era um dos roteiristas das aventuras de Mulder e Scully.
Ao longo de sua carreira em AX, ele escreveu 29 episódios, foi co-produtor executivo de outros 44, produtor executivo de 40 e supervisionou a produção de 20 capítulos.
Vince ficou tão impressionado com a performance de Cranston que, quando foi fazer Breaking Bad, convenceu os executivos a darem o papel de Walter White a Cranston mostrando esse episódio.
Em Triangle (06×03), mais uma liberdade criativa, com um belo plano-sequência em AX, com Fox e Dana e muitos personagens em performances hilárias e diversas em outros contextos, graças a uma trama que brinca com a realidade e as leis do tempo e espaço.
Os segredos da mitologia, amarrados com coesão, são descortinados em Two Fathers (06×11) e One Son (06×12), que encerram a conspiração do Sindicato.
O Canceroso revela que todo o objetivo do projeto em que ele esteve envolvido há 50 anos, sendo que Cassandra Spender (Veronica Cartwright), sua ex-mulher, é peça chave para o plano dos alienígenas de dominarem a Terra.
Ela é a primeira híbrida humano-alienígena perfeita, e com ela entregue aos ETs, a invasão e colonização começa.
Acontece que os homens mais poderosos da Terra não contavam com os rebeldes alienígenas, que se antecipam e matam todos os envolvidos, incluindo a pobre Cassandra.
É o fim do Sindicato como o conhecemos, e o fim da trama mais interessante já contada em Arquivo X.
Mas Chris Carter ainda tinha boas histórias individuais para contar. Em Arcadia (06×13), depois de retornarem ao Arquivo X, Mulder e Scully vão com nomes diferentes morar em uma comunidade chamada Falls na Arcadia, na Califórnia, onde três casais desapareceram misteriosamente.
Foi a oportunidade perfeita para que a dupla fosse mostrada na intimidade de casal, ainda que forçado pelo ofício do trabalho.
Um dos melhores episódios de toda a série, que se alinha a Milagro (06×18), episódio focado em Dana Scully e um escritor, que improvavelmente se conectam de maneira singular, em uma bela trama intimista da agente.
Em Biogenesis (06×22), Skinner chama Mulder e Scully para resolver o caso de um assassinato de um professor de biologia, o que descamba para a inacreditável descoberta de um artefato africano com letras indígenas da América, com textos sobre o genoma humano e passagens do livro judaico-cristão bíblico do Gênesis.
O final, para garantir mais emoções e ineditismo, ainda que rocambolesco, é nada menos que uma nave espacial enterrada na costa do Marfim, África, e Fox Mulder com graves problemas neurológicos causados pelo artefato.
7.ª temporada, 22 episódios, 1999/2000
As alterações sofridas por Mulder foram profundas, e Scully se desdobra para desvendar os segredos do artefato.
O sétimo ano de Arquivo X foi garantido e prometido como último para os realizadores, e com efeito, o paradeiro de Samantha Mulder era o último mistério da série a ser respondido.
Em Sein und Zeit (07×10) e Closure (07×11), um dos mais bonitos e tocantes da série — e polêmico — Mulder e Scully investigam o desaparecimento de uma garotinha e acabam descobrindo que outras crianças foram raptadas da mesma forma, inclusive a irmã de Mulder.
Juntos, eles chegam a uma base militar onde Mulder descobre que Samantha esteve aos 14 anos. Ela morou no local com o Canceroso e seu filho, Jeffrey Spender.
Um diário da menina revela para Mulder que ela era vítima de experiências, relacionadas a conspiração do Sindicato, já que todos os envolvidos tinham que entregar algum familiar próximo para os ETs, como garantia do serviço a ser realizado.
E William Mulder escolheu Samantha. Mas Carter sai pela tangente ao determinar um fim mais lírico para a menina, traçando algo mais esotérico e místico ao seu desfecho, o que o torna mais poético e bonito do que se imagina.
No final da temporada, em Requiem (07×22), os agentes retornam ao cenário de sua primeira investigação de sete anos atrás.
Mulder e Scully encontram um alienígena que lhes dizem que a parceria deles chegará ao fim, e um marco ocorre na série, com a abdução de Mulder.
Tanto que procurou a sua verdade, que conseguiu. E uma cena gravada de última hora, com a gravidez de Dana Scully (dessa vez real na série) se encarrega de estragar para sempre Arquivo X.
8.ª temporada, 21 episódios, 2000/2001
Como não tinha mais mitologia nenhuma pra explorar, Carter preparou uma abdução para Mulder e a gravidez de Scully, o que serviu também para o ator David Duchovny, que queria fazer outros trabalhos fora de AX.
Um novo parceiro cético é inserido para fazer par com Dana, o insosso agente John Doggett (Robert Patrick).
A mitologia se tornava o problema em vez do prato principal da cozinha da série, e os ingredientes à disposição em um novo cardápio eram poucos.
Somem as sombras e sutilezas dos temperos de uma conspiração, entram a gordura dos efeitos especiais e o arroz com feijão do maniqueísmo.
Nessa panela, decide-se destruir todas as evidências de experimentos feitos com bebês alienígenas, e Scully torna-se alvo a ser morto. Carter retoma o personagem Billy Miles, visto no primeiro episódio, e o usa como ponta de lança de mais uma onda invasora.
Os aliens querem o bebê de Scully a todo custo, e grande parte da série gira em torno dessa questão. Mulder retorna em um contexto canhestro demais, e ele, Doggett e Skinner procuram um meio de colocar Dana em segurança.
Em determinado momento, são obrigados a confiar em Alex Krycek para ajudá-los nessa tarefa, o que no fim representa a morte de um dos personagens mais legais — e agora sem função nenhuma — de Arquivo X.
E a bem da verdade, a cena final do último episódio com Fox, Dana e o bebê William poderia servir de encerramento definitivo, mas não foi isso que aconteceu. A tagline “The Truth is Out There” não mudou nenhuma vez na oitava temporada.
A verdade estava lá fora ainda, com a Fox, que não queria largar o osso há muito roído do seriado.
9.ª temporada, 20 episódios, 2001/2002
Arranhado na temporada anterior, temos agora o conceito de supersoldados bem ao gosto de séries de ação convencionais, com militares com super poderes que fazem o mal. Mulder sumiu completamente do seriado, nem pra dizer tchau.
A agente Monica Reyes (Annabeth Gish) é introduzida nos escritórios do Arquivo X, e parte do eixo narrativo é com ela e John, a despeito de Dana ainda aparecer ocasionalmente.
Não é o caso de personagens ruins, mas a carisma para concorrer era desigual demais. A conspiração continuou com outros humanos ajudando os aliens.
Esses passaram a utilizar supersoldados – humanos abduzidos e submetidos a terríveis experimentos para se tornarem indestrutíveis e cheio de poderes. Eles matavam quem tentava impedir a colonização, que sem razão aparente, mudou de data e foi deslocada para 2012.
O bebê William tem q ser levado à adoção para ser protegido, os Pistoleiros Solitários são mortos, Mulder volta no final, dá um beijo decente em Dana, e ambos assistem Canceroso morrer mais uma vez.
E numa conversa casual em um motelzinho barato qualquer à beira de uma estrada Y de uma cidade X da América, é o fim das aventuras de Dana e Scully nos Arquivos X.
Um gancho foi deixado — a colonização (ela não foi desmantelada?) começaria em 22 de dezembro de 2012, muito antes do fim do calendário maia ser sinônimo de apocalipse, o que reforça que mesmo ruim, AX ainda era visionário.
Arquivo X – Eu Quero Acreditar
(The X-Files: I Want to Believe, 2008,
de Chris Carter)
Metade do orçamento do filme de 11 anos atrás, e sob o peso das tramas idiotas de supersoldados, a proximidade da data da colonização e a sombra nunca superada de William não ajudaram Chris Carter a fazer um bom filme.
Ele e a produção escolheram criar um episódio de “monstro da semana” com quase 2 horas de duração, longe da mitologia e de tudo mais.
O X entra nos anos 2010, a década do erro
Depois de 14 anos de hiato, Arquivo X retornou em 2016. Foram 4.997 dias. Quase 5 mil. É isso que separou o último episódio de Arquivo X, exibido em maio de 2002, e o seu retorno à TV, que aconteceu na madrugada de 25 de janeiro de 2016.
O criador Chris Carter conseguiu renovar sua série e mexer com a mitologia do seriado, ao custo dela própria. Na ânsia de se destacar no mar interminável de concorrência na cultura pop atual, Carter mutilou sua própria obra e estraga de personagens clássicos a tramas e sub-tramas, jogadas no lixo a favor de choques inúteis e quebras de expectativas que ninguém queria ver.
Ele é correto em integrar assuntos reais e atuais no contexto, como políticos de direita, Edward Snowden, drones, novas tecnologias de comunicação, burocracia e algemas de liberdade pós-11 de setembro, mas a amarração com a mitologia foi pro vinagre.
Tudo que sabemos, como a queda do OVNI na cidade de Roswell, o que fez com que o governo americano descobrisse a existência de extraterrestres, e posteriormente com aliens capturados da nave revelando a existência de um plano de extinção da humanidade e colonização da Terra, com uma reação humana de formar um grupo supersecreto com braços em vários países chamado de Sindicato, é mexida com a delicadeza de um coice de mula.
Agora, o mote é que o governo dos EUA mantinha em segredo as visitas alienígenas para roubar sua tecnologia via engenharia reversa.
Scully agora é médica-cirurgiã no renomado hospital Our Lady of Sorrows em Washington (como mostrado no filme de 2009, até então o produto cronológico mais recente da franquia), enquanto Mulder está aparentemente desempregado, depressivo e paranoico.
A introdução de Tad O’Malley (Joel McHale), um famoso jornalista político de direita na internet, é o pontapé para que os agentes entrem em ação novamente.
Foram 6 episódios da décima temporada em 2016, com um gancho gritante, e mais 10 episódios em 2018 para a décima primeira temporada, que desfazem parte do choque anterior, para substituir por outro completamente desnecessário.
Os anos 90 tinham um andar diferente, um pé analógico e outro digital que deixavam as coisas um pouco mais morosas.
O novo Arquivo X caiu muito mal dentro do novo contexto ultra-rápido e líquido dos anos 2010, e não entrega um bom produto de entretenimento para quem está chegando, muito menos para fãs mais ferrenhos agarrados a mitologia.
Pode ter agradado fã mais mansos da franquia, desejosos de ver a maravilhosa química entre os atores, que não perdeu um pingo de seu charme.
Além da queda de audiência da décima primeira temporada, tentativas de mais uma temporada esbarram na má vontade de Gillian Anderson de voltar ao papel de Dana Scully, que já disse que não queria mais interpretar a agente.
“Há buracos onde se pode cair e você precisa evitá-los a cada passo do caminho. E posso te dizer: com programas de mitologia, você tropeça, você cai.“
Chris Carter, ao jornal Chicago Tribune
Há uma entrevista do Chris Carter que o pessoal do Omelete fez, e você pode conferir aqui. Algumas passagens dela: “Eu achava que não tinha nada assustador na TV dos EUA à época. Esse foi meu maior incentivo, pegar um gênero que havia sido tão importante na minha infância e tentar trazer esse gênero de volta à vida.“
Dentre os nomes dos roteiristas de Arquivo X, estão Vince Gilligan, “que é uma estrela“, Frank Spotnitz, “que foi de extrema importância para o sucesso e longevidade da série“, John Shiban, Glen Morgan, James Wong, Darin Morgan, Howard Gordon e Alex Gansa, “que seguiram para criar Homeland“.
Humilde, ao ser questionado sobre o legado de Arquivo X e suas possíveis influências em séries sucessoras, Carter explica que “é um contínuo. Espero que tenhamos sido bem sucedidos o suficiente para influenciar e inspirar outras pessoas. Eu definitivamente tive inspirações de outras séries também.”
O Efeito Scully
Não é certo terminar esta matéria de Arquivo X sem demonstrar a força que Gillian Anderson / Dana Scully promoveu com Arquivo X.
Em 2018, um estudo feito pelo Geena Davis Institute on Gender in Media, apontou que que muitas mulheres assistiam ao programa, com regularidade, de um universo de 2.000 mulheres entrevistadas, com mais de 25 anos e trajetórias profissionais e acadêmicas. De todas elas, 61% eram espectadoras ocasionais, e 39% assistiam com frequência.
Para 91% delas, Dana Scully era um modelo a ser seguido. Para 63% das entrevistadas, foi Dana quem as inspirou a seguir carreiras biológicas e exatas. E 50% delas disseram que pensaram na possibilidade de seguir a área de ciência, tecnologia, engenharia ou tecnologia depois de ver um episódio de AX.
O instituto usou estudos da Fox também, que já mostrava em uma pesquisa interna que pára 63% das mulheres, o papel de Dana Scully melhorou a percepção delas em relação a essas áreas científicas. É uma das melhores análises sistemáticas de influência de personagem da ficção sobre meninas e mulheres, em um assunto visto predominantemente masculino, com homens brancos velhos com jaleco.
/ DANA NO TWITTER. Gillian Anderson é deliciosamente desbocada. Você pode acompanhar as estripulias delas aqui. Ah, é, o David também tem.
/// ESTRELAS DO CINEMA. Uma constelação de atores famosos hoje em dia passaram por Arquivo X: Giovanni Ribisi, Jack Black, Lucy Liu, Ryan Reynolds, Luke Wilson, Aaron Paul, Seth Green, Felicity Huffman, Michael Bublé, Terry O’Quinn, Bryan Cranston e Willie Garson.
A série tinha qualidade até para atraiar atores e atrizes consagrados na época: Jodie Foster, Cary Elwes, Robert Patrick, John Neville, Peter Boyle, Burt Reynolds, Frances Fisher, Roy Thinnes, Minnie Driver, Garry Shandling, Lance Henriksen, Lily Tomlin, Edward Asner, Lily Taylor, Mimi Rogers e Kurtwood Smith.
/ BREAKING BAD. As ligações de Arquivo X com Breaking Bad ultrapassam os limites de Vince Gilligan ser escritor da série e Bryan Cranston ter participado de um episódio. Aaron Paul também participou da série.
Em Lord of the Flies (09×05), interpretou David Winkle, que foi escrito por Thomas Schnauz, também roteirista de Breaking Bad. Não sem surpresas, Aaron fez um adolescente estúpido como Jesse Pinkman. Uma das referências mais fortes é com um dos melhores vilões de Breaking Bad: Tuco Salamanca, interpretado pelo ator latino Raymond Cruz, com uma vasta carreira de estrela coadjuvante, no geral como criminoso, policial ou militar, em seriados e diversos filmes de primeira grandeza.
Em Arquivo X, ele interpretou um personagem chamado Eladio Buente. Em Breaking Bad, no 05×04, é revelado que Tuco Salamanca também usava o nome de Eladio Buente. Dean Norris (Hank Schrader), Michael Shamus Wiles, Danny Trejo, Dale Dickey, Dan Desmond, John Koyama, Michael Bowen e Adam Godley são outros atores bastante conhecidos que aparecem nas duas séries.
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O principal vilão de Arquivo X, Cigarette Smoking Man, ou CSM (Canceroso) é eventualmente apelidado de Cancer Man por alguns dos personagens em AX, e é esse o nome do episódio 01×04 de Breaking Bad.
A marca de cigarro que o vilão fuma, Morley, aliás, aparece na boca do personagem Emilio Koyama, amigo de Jesse, em uma cena no trailer da dupla. Cradock Marine Bank é o nome fictício de uma agência bancária de Arquivo X, e Fox Mulder a usa em três episódios.
Em Breaking Bad, o advogado Dan Wachsberger deposita o dinheiro de Gus Fring nesse banco. Lariat Rent-A-Car é a companhia em que Mulder e Scully alugam carros em sua série. Em Breaking Bad, é Patrick Kuby quem aluga uma van para colocar o dinheiro de Walter no episódio 05×10.
/ ARQUIVO X NO CANADÁ. Na sexta temporada, as gravações de Arquivo X deixaram a cidade de Vancouver, Canadá, e começaram a ser realizadas em Los Angeles, na costa oeste americana. Parece que a troca não fez bem para a série, que começou a sofrer queda de audiência e também a se perder um pouco em alguns episódios.
/ DANA E FOX NAS CÂMERAS. David Duchovny roteirizou nada menos que oito episódios e atuou como diretor em três: The Unnatural (06×19), Hollywood A.D. (07×19) e William (09×16). Já Gillian Anderson dirigiu e roteirizou apenas um episódio, o All Things (07×17).
/// AS MUDANÇAS DE TAGLINE. Essas foram as mudanças de tagline das aberturas de Arquivo X, no lugar de The Truth is Out There
01×24 Trust no One
02×06 Deny Everything
03×10 Apology is Policy
03×25 Éí´Aanígóóá Ahoot (The Truth is No One em navajo)
04×01 Everything Dies
04×04 Deceive, Inveigue, Obsfucate
04×10 E Pur se Move
04×24 Believe The Lie
05×02 All Lies Lead The Truth
05×14 Resist or Serve
05×20 The End
06×03 Die Wahr Heit Ist Irgendwoda Draussen
06×19 In The Big Inning
07×02 Amor Fati
07×11 Believe to Understand
09×02 Nothing Important Happened Today
09×04 Ereht tuo si Hturt Eht
09×06 They´re Watching
09×13 Dio ti Ama
10×06 This is The End
11×01 I Want to Believe I Want to Lie
11×05 You See I Want You to See
11×06 The War is Never Over
11×07 VGhlIFRydXRoIGlzIE91dCBUaGVyZQ=
11X09 I Want to Beautiful
11×10 Salvator Mundi
Obrigado por ler até aqui!
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