CINEMA COVID-19 | Como será a edição de Cannes 2020

A pandemia do coronavírus tem afetado a agenda da indústria de cinema por todo o globo, e com Cannes, um dos mais importantes festivais do mundo, não é diferente.

Muitas filmagens estão paralisadas e o calendário desse anos e dos que estão por vir estão comprometidos, e precisarão de revisão por parte de seus realizadores.

Os festivais estão juntos nesse pacote, pois estão atrelados em dinâmica de sobrevivência com toda essa miríade de obras audiovisuais.

O primeiro semestre inteiro de 2020 está perdido, e o que pode-se tentar é salvar o que resta. O Festival de Cannes é um dos mais prestigiados eventos de cinema do mundo (acontece na cidade de mesmo nome, na França), e seu prêmio Palma de Ouro é um dos mais cobiçados do mercado.

E ele terá que se dobrar também à força do Covid-19, e tentar contornar os desafios para ainda se manter em atividade.

O festival, um dos maiores do mundo, inicialmente deveria ocorrer entre 12 e 23 de maio, mas foi adiado. Os organizadores planejavam a realização entre junho e julho. O presidente francês Emmanuel Macron anunciou no metade do mês de maio, que prorrogaria o isolamento, e que eventos públicos como festivais não podem ser realizados até meados de julho.

Após o comunicado do presidente francês… reconhecemos que o adiamento do 73º Festival Internacional de Cinema de Cannes, inicialmente cogitado entre o final de junho e o início de julho, não é mais uma opção“, informou um comunicado de Cannes.

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Fargo, dos Irmãos Coen, ganhador da Palma de Ouro em Cannes 1996. O distanciamento social já estava presente, como se vê na foto

O Festival de Cannes então anunciou que no próximo dia 3 de junho (quarta-feira) deve colocar nas telinhas de celulares e computadores de todo o mundo seu projeto de seleção oficial para destacar ao circuito todas as produções que estavam previstas para participar da edição deste ano.

Por imposição do corona vírus e suas medidas de quarentena que tentam frear seu avanço, filmes de cineastas como David Fincher, Charlie Kaufman e Ron Howard vão seguir o exemplo de Destacamento Blood de Spike Lee, e sair direto em serviços de streaming.

O júri de Cannes de 2020, inclusive, seria presidido pelo diretor americano Spike Lee.

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Uma das ruas de Cannes

Os filmes não serão diferenciados por categorias — não haverá competição oficial. Ou seja, não existirão vencedores ou perdedores, e nenhum filme ganhará a Palma de Ouro.

Apenas os filmes programados para serem lançados este ano serão incluídos, e essa é a principal razão de premiados cineastas lançarem seus filmes em streaming.

De acordo com jornalistas de entretenimento do site americano da Variety, serão 50 títulos anunciados na iniciativa e escolhidos inicialmente para participar da mostra principal e as paralelas Um Certo Olhar e a Semana da Crítica.

Os filmes também estarão em festivais parceiros, como o Festival de Veneza, programado (se o Covid-19 deixar) para setembro.

Para acompanhar como que será Cannes 2020, fique ligado no perfil do Twitter do evento: https://twitter.com/Festival_Cannes

Os vários lados do cinema em Cannes

Poster do Festival de Cinema de Cannes em 2014

Netflix, a mais famosa empresa de streaming de filmes e séries de mercado, irá na contramão do negócio, e não vai esperar o circuito para lançar suas obras.

Informações de jornalistas do site americano da Indiewire indicam quem a empresa não enviaria suas obras para serem avaliadas a qualquer evento previsto para o resto do ano.

No ano passado, Parasita, do sul-coreano Bong Joon-ho, levou a Palma de Ouro em Cannes — o primeiro vencedor da Palma de Ouro em 64 anos a também conquistar o Oscar de Melhor Filme.

A Palma de Ouro, que desde 1955 é o principal prêmio do festival francês, é um dos mais disputados da indústria.

De todos os filmes brasileiros da história, apenas O Pagador de Promessas (1962), dirigido por Anselmo Duarte, ganhou o prêmio, em mais de 70 anos de existência do festival.

A distância que o Covid-19 provocou, e a distância de Parasita, ganhador da Palma de Ouro em 2019

Muitos outros festivais também estão sendo afetados. Grandes blockbusters hollywoodianos tiveram suas estreias canceladas ou adiadas em virtude da crise mundial com o Covid-19.

O SXSW (famoso por juntar tecnologia, cinema, música e inovação), por exemplo, também teve sua edição de 2020 cancelada a pedido da cidade americana de Austin, o que resultou na não-exibição pública dos filmes da mostra cinematográfica do evento.

Outros diferentes processos acontecem com o maior prêmio do cinema, o Oscar. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, pela primeira vez na história, vai permitir a premiação maior de Hollywood para filmes lançados diretamente no streaming.

A decisão é temporária, entretanto, com validade apenas para a edição 2021. A indicação a estas produções é possível em todas as categorias, desde que os projetos se enquadrem nos critérios de elegibilidade do Oscar e sejam disponibilizados no streaming da Academia em até 60 dias após o debute nas plataformas. A 93° cerimônia do Oscar acontece no dia 28 de fevereiro de 2021.

É claro, se o Covid-19 permitir.

Mas Cannes importa porque, por trás de todas as poses para fotos, festas em iates e procissões pelo tapete vermelho, há uma devoção quase religiosa ao cinema e um ardor pela arte que nada tem de esnobe ou cínico. Todo tipo de filme é exibido na mostra principal e nos diversos eventos paralelos, e ainda que alguns estejam destinados a conquistar prêmios e a atrair a atenção da imprensa, todos têm ao menos um momento de glória no festival.” – A.O. Scott

Manohla Dargis e A.O. Scott, críticos de cinema do The New York Times, e o colunista de premiações do jornal, Kyle Buchanan, todos veteranos do festival, em entrevista para a Folha de S Paulo.

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Taxi Driver, de Martin Scorsese, ganhador da Palma de Ouro de 1976

Nos dois últimos anos, a querela entre Cannes e a Netflix serviu como um microcosmo picante para as tensões mais amplas dentro da indústria mundial do cinema. A tradição francesa de subsidiar e defender o patrimônio cultural do país costuma ser alvo de zombarias americanas, no setor de cinema e fora dele, mas se eu tiver que escolher entre a França e as companhias de tecnologia americanas com sua vontade de criar monopólios, escolherei a França toda vez. Mas não existe dúvida de que o streaming como força econômica e cultural foi reforçado pelo coronavírus, e que a questão de se Cannes retornará envolve incertezas e ansiedades maiores sobre o futuro do cinema.”

A.O. Scott, na mesma entrevista

Kagemusha, de Akira Kurosawa, ganhador da Palma de Ouro de 1980

> ATUALIZADO

Eis a lista divulgada:

“Ammonite”, de Francis Lee
“Aya and the Witch”, de Goro Miyazaki
“Broken Keys”, de Jimmy Keyrouz
“Casa de Antiguidades”, de João Paulo Miranda Maria
“Cévennes”, de Caroline Vignal
“Des Hommes”, de Lucas Belvaux
“DNA”, de Maïwenn
“Druk (Another Round)”, de Thomas Vinterberg
“Eight and a Half”, de Ann Hui, Sammo Kam-Bo Hung, Ringo Lam, Patrick Tam, Johnnie To, Tsui Hark, John Woo e Woo-Ping Yuen
“El olvido que seremos”, de Fernando Trueba
“Enfant Terrible”, de Oskar Roehler
“Falling”, de Viggo Mortensen
“Flee”, de Jonas Poher Rasmussen
“The French Dispatch”, de Wes Anderson
“French Tench”, de Bruno Podalydès
“Gagarine”, de Fanny Liatard e Jérémy Trouilh
“Garçon chiffon”, de Nicolas Maury
“Good Man”, de Marie-Castille Mention Schaar
“Heaven”, de Im Sang-soo
“Here We Are”, de Nir Bergman
“Ibrahim”, de Samuel Gueismi
“Invasão Zumbi 2”, de Sang-ho Yeun
“John and the Hole”, de Pascual Sisto
“La mort du cinema et de mon pere aussi”, de Daniel Rosenberg
“Last Words”, de Jonathan Nossiter
“Le Discours”, de Laurent Tirard
“Limbo”, de Ben Sharrock
“Mangrove” e “Lover’s Rock”, de Steve McQueen (e parte da série “Small Axe”)
“Nadia, Butterfly”, de Pascal Plante
“9 Days at Raqqa”, de Xavier de Lauzanne
“On the Way to the Billion”, de Dieudo Hamadi
“L’Origine du Monde”, de Laurent Lafitte
“Passion Simple”, de Danielle Arbid
“Pleasure”, de Ninja Thyberg
“Rouge”, de Farid Bentoumi
“16 Printemps”, de Suzanne Lindon
“Si Le Vent Tombe”, de Nora Martirosyan
“Slalom”, de Charlène Favier
“Soul”, de Pete Docter
“Summer of ’85”, de François Ozon
“Sweat”, de Magnus von Horn
“Teddy”, de Ludovic e Zoran Boukherma
“The Things We Say, The Things We Do”, de Emmanuel Mouret
“True Mothers”, de Naomi Kawase
“The Truffle Hunters”, de Michael Dweck e Gregory Kershaw
“Un médecin de nuit”, de Elle Wajeman
“Un Triomphe”, de Emmanuel Courcol
“Vaurien”, de Peter Dourountzis

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> Destaques:

O longa brasileiro “Casa de Antiguidades”, de João Paulo Miranda; “The French Dispatch”, o novo projeto de Wes Anderson; as animações “Soul”, da Pixar, dirigido por Pete Docter, que fez “Divertida Mente” e “Aya and the Witch”, a primeira produção em 3D do Studio Ghibli; a sequência de “Invasão Zumbi”, sucesso mundial de zumbis do cinema coreano de horror; “Falling”, a estreia na direção do ator Viggo Mortensen.

COVID-19 E O IMPACTO NA CULTURA. Fiz uma matéria explicando como eventos de profundas mudanças mundiais alteram a dinâmica de produção de obras culturais — como filmes. Usei o mangá e o anime/movie de Ghost in The Shell para isso.

curadoria e textos: tomrocha (twitter e instagram)
jornalista, estrategista de conteúdo e escrevedor de coisas escritas.

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