HULK | Jennifer Connelly e a HQ de Stan Lee pelo cinema de Ang Lee

O Hulk de Stan Lee foi atualizado por Ang Lee no filme do Gigante Esmeralda de 2003, a década de nascimento dos super-heróis do cinema, e Jennifer Connelly, atriz oscarizada, escalada para o papel de Betty Ross, oferece o equilíbrio emocional e psicológico necessário para que o monstro funcione como herói na trama de tragédia grega de pais contra filhos.

Assim como em Uma Mente Brilhante, com a atuação que lhe deu o Oscar, é Jennifer Connelly quem faz muito do Hulk de Ang Lee funcionar, já que o cineasta optou por criar um Bruce Banner ainda mais problemático do que o visto nos quadrinhos.

A origem moderniza a versão das HQs, criada em 1962 por Stan Lee e Jack Kirby no auge da Guerra Fria, e ainda sob a sombra da Era Atômica e o pavor de destruição.

Sai a explosão nuclear no deserto — que faz uma aparição especial no filme — e entra a genética, microbiologia, e o medo da destruição psicológica, elementos que estão presentes em quase todos os cientistas apresentados no longa, quando não são militares loucos para os usarem de alguma maneira.

O complexo industrial-militar é a essência do Hulk, e mesmo nas telas de cinema de Ang Lee, isso não é diferente. A tentação do poder é irresistível, como o próprio Bruce afirma depois de uma de suas transformações no monstro.

O que mais me assusta, é que quando isso acontece, quando essa coisa vem, e eu perco totalmente o controle, eu gosto“.

Jennifer Connelly Ang Lee
Ang Lee dirigindo Eric Bana e Jennifer Connelly em Hulk

Um filme mais falante e pensativo numa adaptação de super-herói foi o que Ang Lee imaginou fazer ao pegar o Hulk de Stan Lee, e o resultado não poderia ter sido mais divisivo.

Ang empregou movimentos de câmera e menos cortes, e dividiu pequenas telas na tela principal, para que os olhos pulassem de painel em painel, exatamente como uma página dos quadrinhos.

A ideia funciona na teoria, mas a cinética do cinema provoca um desconforto visual – não há indicação para onde olhar, e sem saber onde ir, qualquer lugar serve.

É preciso entender que estamos falando de duas linguagens completamente distintas: cinema e quadrinhos.

A cadência nas HQs é controlada pelo leitor, acima do tempo e espaço, dono absoluto deles. O cinema é um produto passivo a gosto do diretor, ele é quem define o que veremos.

Ang Lee teve uma boa sacada, mas a execução não ficou boa, infelizmente.

Jennifer Connelly

Hulk
(Hulk, de 2003, de Ang Lee)

Jennifer Connelly Ang Lee
O Hulk de Ang Lee é corajoso ao ficar à luz do dia, o que representou um enorme desafio ao pessoal da produção gráfica, em torná-lo crível

A análise psicológica de Bruce Banner (vivido por Eric Bana) é bastante pesada no Hulk de Ang Lee, um filme com mais pensamentos e discussões do que ação — o Golias Verde demora mais de 40 minutos para aparecer pela primeira vez.

E Ang ter usado cachorros gigantes gama para enfrentar o Verdão joga muito contra as expectativas dos fãs do herói. Um deles é um poodle (é sério).

A figura paterna em Hulk de Ang Lee é tão forte que até o pai de outros impactam Bruce, como o pai de Betty Ross (Jennifer Connelly), o general Thaddeus Ross (Sam Elliot).

Nas cenas iniciais, Hulk começa com a visão de diversas cenas de HQs no clássico letreiro da Marvel, que logo muda para mostrar materiais biológicos, o que nos indica a importância que isso terá no longa.

Em 8 de fevereiro de 1965, é mostrado David Banner (Paul Kersey jovem / Nick Nolte mais velho, que já tinha contracenado estrelado O Preço da Traição com Jennifer Connelly) fazendo pesquisas genéticas, e em 1966, em sua casa, nos arredores de uma base do deserto do Exército, temos o primeiro momento de tela dividida, quando ele descobre sua esposa Edith Banner (a lindíssima Carla Buono) está grávida.

David já fazia experiências com ele mesmo, e não se furta a fazer também em seu filho.

Alguns anos se passam, e ele é demitido do Exército quando descobrem o que ele fazia escondido nos laboratórios.

Algo terrível acontece na casa dos Banner, e o pequeno Bruce é levado para ser criado por outra família.

Jennifer Connelly Ang Lee
O atormentado Bruce Banner (Eric Bana) cresceu com o psicológico bastante abalado

A ação corta para muitos anos a frente, e vemos um Bruce Krenzler (nome da nova família) meio travadão, ex-namorado de Betty Ross, que lhe deu o chute, mas ainda mantendo um relacionamento de amizade.

Ambos são cientistas genéticos em um laboratório de pesquisas, onde secretamente o pai de Bruce trabalha de faxineiro.

Glenn Talbot (interpretado por Josh Lucas, que contracenou com Jennifer Connelly em Uma Mente Brilhante), clássico antagonista do Verdão, surge na trama, interessado nas pesquisas de Bruce e Betty.

Ele conhece o pai da moça, o general Thaddeus Ross, e parece conhecer Betty de outros carnavais.

Ang também faz questão de mostrar a infância dela, assim como a de Bruce, o que mostra o tamanho da importância dos dois na história.

E é em Betty Ross (Jennifer Connelly) que o Bruce de Ang Lee encontra um porto seguro para curar seus males

Um curto-circuito na máquina gama no laboratório é o que causa o famigerado acidente que irá criar o Hulk, e a explosão nuclear é apenas referenciada na cena.

Finalmente, aos 32 minutos de longa, temos um vislumbre do monstro, e aos 45m, Bruce se transforma de vez no Gigante Esmeralda, destruindo o laboratório.

O contato humano — no caso, sempre da Betty — o faz rever suas lembranças reprimidas, o que se mostrará essencial daqui por diante. David, assim que é descoberto trabalhando secretamente de madrugada no laboratório, onde de certa maneira reproduz as condições do acidente para ganhar poderes também, depois de ser confrontado por Betty, decide matá-la.

É onde somos introduzidos às infames cenas com os cachorros gama.

Ang Lee foi ousado em seu Hulk, e divide a tela de seu cinema em requadros para desdobras diferentes cenas e ações, como em uma HQ — na foto, um exemplo, com a personagem de Jennifer Connelly, Betty Ross

As emoções crescem como reação em cadeia a partir daqui. Betty é salva dos cachorros pelo Hulk, e depois que ele se acalma, convence Bruce a se entregar para o exército — para seu pai especificamente — para logo depois se arrepender amargamente, já que Glenn toma posse do Golias Verde.

Flashbacks da base do deserto, em mais uma cena de confrontação de Betty com David, fazem a trama se tornar finalmente circular.

David Banner  só quer a sua “origem” por direito, o poder que adormecia em seu filho Bruce, ativado pelo acidente.

O pai quer transcender consumindo seu próprio filho para se tornar mais poderoso. Ela diz: “Só o que transcende os limites das pessoas são outras pessoas. E tudo que você deu ao Bruce, foi medo.” David conta então como que matou a esposa sem querer em uma briga de casal, e como o pequeno Bruce presenciou o ato, e eventualmente o bloqueou da memória (motivo dele ter sido adotado).

Ang Lee cria uma excelente dança de câmeras nesse ponto, ao intercalar tudo isso com mais uma transformação de Bruce em Hulk, quando estava sendo quase vivissecado por Glenn em uma instalação secreta no deserto, perto da base onde viveu com seus pais biológicos.

Mais um exemplo de tela dividida, com Bruce Banner e seu pai, David, interpretado por Nick Nolte

A ação é desenfreada a partir desse ponto, e quadros e mais requadros avançam a trama. Com Glenn fora da jogada, o general Ross é quem deve tentar parar o Hulk.

Com 1h37m de filme, temos uma cena espetacular de explosão da antiga casa de Bruce, boas tomadas de perseguição, e em um devaneio de Bruce, temos o Hulk emitindo a única fala do longa: “HUMANO FRACO“.

O terceiro ato é o confronto definitivo de Bruce com seu pai, a conclusão dessa tragédia grega.

David emula diversos poderes de vários inimigos do Hulk, em uma bela homenagem rasteira aos quadrinhos, e acaba se tornando uma massa amorfa de lembranças, até ser explodido por um míssil gama.

Jennifer Connelly Ang Lee
Uma das cenas mais emblemáticas do longa

Ang Lee, a partir desse ponto, cria a cena mais estranha do longa, com Betty colocando a mão no ombro de seu pai depois do final, consolando-o, em vez do contrário, que seria o óbvio.

Para piorar, a história avança um ano após os acontecimentos, e o general liga para a filha perguntando se não tinha novidades a respeito de Bruce, que sumiu após a explosão do míssil.

Talvez o diretor quisesse mostrar a cumplicidade de Betty com Bruce, mas ela fica mal ajambrada do jeito que foi executada.

Ang Lee não fez um filme de super-herói com Jennifer Connelly

O que acalma o Hulk?

Ang Lee escreveu e dirigiu o filme Hulk sob as influências diretas de filmes de monstros como King Kong (1933) e Frankenstein (1931), clássicos como Dr. Jekyll e Mr. Hyde, Bela e Fera, Fausto, e mais particularmente, as tragédias da mitologia grega.

Lee entrega uma atualização para os jovens fãs dos quadrinhos e ao público em geral que foram ao cinema ver seu Hulk, de todos esses elementos.

Eles são o cerne cerebral da criação de Hulk nos quadrinhos, a sua melhor comparação.

Lee procura a exploração de ângulos mais profundos e fascinantes do personagem sob os prismas dessas obras literárias e cinematográficas, o que deixaria a condição de mito contemporâneo com o qual os quadrinhos estão sempre flertando bem próximos de sua obra cinematográfica e audiência que a consumiria.

A explosão atômica que cria o Hulk nos quadrinhos é apenas referenciada no filme de Ang Lee

Muitos elementos me interessaram nesta história, uma vez que superei o temor de trabalhar com material muito maior e mais complicado do que eu jamais tinha abordado. A amoralidade do personagem. Sua conexão com o Id, com o inconsciente. O fato de que ele não era um herói que andava pelo mundo querendo impor justiça. Não existe justiça. O verde é o yin absoluto, o feminino, a morte. É curioso que este herói, aparentemente supermacho, seja verde

Essa declaração é do diretor a jornalista especializada em cinema Ana Maria Bahiana, na época do lançamento do filme, para a BBC.

O cinema é, para mim, a menos desenvolvida das artes porque impõe ao espectador como olhar. Os quadrinhos têm essa liberdade. Numa página de quadrinhos, o olhar pode ir para qualquer lugar. Tentei aproximar a linguagem do filme a essa liberdade narrativa dos quadrinhos“, afirmou Lee na mesma entrevista.

O cineasta é premiado. Seus filmes Banquete de Casamento (1993), Comer Beber Viver (1994) e O Tigre e o Dragão (2000) foram nomeados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Tigre venceu.

Dirigiu 5 atores que foram nomeados ao Oscar sob seu trabalho: Emma Thompson, Kate Winslet, Heath Ledger, Jake Gyllenhaal e Michelle Williams.

E, neste caso do filme do Hulk, ele dirigiu a própria vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante do ano anterior: Jennifer Connelly.

Ang Lee foi bastante ousado ao criar uma nova linguagem visual para contar sua história do Hulk, mas ela teve diferentes resultados no produto final

O roteiro de um filme do Hulk estava nas gavetas dos estúdios de Hollywood desde os anos 90, e foi reescrito muitas vezes.

Aspectos de vilões clássicos do Verdão, como Homem-Absorvente, Zzzax e até mesmo o Homem-Hidríco, tradicional inimigo do Homem-Aranha, foram incorporados pelo roteirista James Schamus ao pai de Bruce, para que cenas de ação e lutas ocorressem no terceiro ato. Adaptação é a palavra que rege toda a produção.

O lance de ter muito trabalho de microbiologia entre os personagens no longa pode ser creditado diretamente a esposa de Ang Lee, que trabalha nessa área.

Há uma adaptação criativa por Ang no filme, com a mudança de nome do pai de Bruce. Nos quadrinhos, ele se chama Brian Banner.

No filme, Nick Nolte é David Banner, de modo a homenagear a série clássica dos anos 70 do Hulk, onde Bruce se chamava David Banner. E a mãe de Bruce se chama Rebecca nos quadrinhos, e não Edith.

Jennifer Connelly já estava com o Hulk de Ang Lee em vista mesmo na época do Oscar de 2001. “Eu já tinha me encontrado com Ang Lee e eu amo o seu trabalho. Li 50 páginas do roteiro e já tinha aceitado participar“, disse em entrevista.

Jennifer afirmou que o que a atraiu no papel de Betty Ross foi a interessante visão que Ang tinha do Hulk. “Ele não estava falando sobre um filme fútil, engraçado e infantil sobre um cara verde correndo por aí destruindo as coisas. Ele falava sobre linhas de tragédias se cruzando em um psicodrama, concentrados em um monstro verde de raiva, ira, ciúme e medo.”

A entrevista é da BBC.

Bruce revê diferentes fotos de Betty quando eles ainda eram namorados, condição em que não estão mais no começo do filme

A atriz estrelou Rocketeer, o primeiro filme de super-herói da Disney, em 1991, anos antes da Casa do Mickey ter comprado a Marvel.

O filme foi dirigido por Joe Johnston, e adapta um quadrinho independente americano baseado em pulps, uma divertida aventura pré-Segunda Guerra Mundial com um aviador que encontra um foguete portátil, artefato que o faz mergulhar em uma trama cheia de mafiosos, nazistas e estrelas de cinema da Hollywood dos anos 30.

Portanto, a empreitada de Ang Lee com super-heróis no cinema não foi a primeira experiência de Jennifer Connelly no gênero.

Edward Norton chegou a ser considerado para o papel de Bruce Banner, mas ele declinou, pois não gostou do roteiro, mesmo sendo grande fã do personagem.

Cinco anos depois, ele mesmo escreveria um roteiro e teria grande controle sobre a próxima produção de cinema do Gigante Esmeralda, O Incrível Hulk, filme de Louis Leterrier, e que faz parte do cânone do Universo Cinematográfico da Marvel, ainda que depois o ator tenha sido dispensado em um acordo de ambas as partes, e a empresa tenha colocado Mark Ruffallo em seu lugar.

Robert Downey Jr. / Tony Stark / Homem de Ferro aparece nas cenas pós-créditos desse Hulk, e William Hurt / General Thaddeus Ross retorna em Capitão América 3 – Guerra Civil (2016) e Vingadores 4 – Ultimato (2019).

Billy Crudup era a primeira escolha de Ang para ser o protagonista, mas ele também declinou da proposta.

Tom Cruise, Johnny Depp, Jeff Goldblum, David Duchovny e Steve Buscemi também foram visados, e alguns até fizeram teste. Billy Crudup já fez dois filmes com Jennifer Connelly: Círculos de Paixões e Amor Maior Que a Vida, que inclusive protagoniza com a morena.

Betty Ross foi interpretada por Jennifer Connelly em Hulk, mas em O Incrível Hulk, o papel ficou com Liv Tyler. Ela também fez Círculo de Paixões com Billy Crudup e Jennifer Connelly. As duas são irmãs na trama.

Eric Bana também comentou em entrevistas que ele ficava com um humor ridiculamente sério e mórbido durante as gravações, para mergulhar no personagem.

O ator estava muito feliz de trabalhar com Nick Nolte, e considerava essa a melhor parte do filme. Ela não era um fã de quadrinhos do Hulk, mas gostava muito do seriado de 1977.

Sam Elliot como o general Thaddeus Ross, um dos principais inimigos do Hulk

Sam Elliot aceitou o papel do general Ross sem nem ao menos ler o roteiro — ele queria muito trabalhar com Lee.

Quatro anos depois, Sam faria Motoqueiro Fantasma (2007), outro filme de super-herói da Marvel, com produção da Fox, anos antes dela ser adquirida pela Disney / Marvel.

Em 2003, a Fox tinha dois filmes de super-heróis para competir com o Hulk nos cinemas: estava com X-Men 2, direção de Bryan Singer, um dos melhores longas do mercado e do gênero até hoje, e Demolidor, estrelado por Ben Affleck, que anos depois seria o Batman de Zack Snyder.

O diretor do filme do Homem sem Medo foi Mark Steven Johnson, que também dirigiu o Motoqueiro Fantasma em que Elliot trabalhou.

Por fim, que quem performou o Golias Verde no filme de Ang Lee foi o próprio, com a manjada tecnologia de motion capture. A palavra Hulk é usada apenas uma vez no filme.

A aurora dos super-heróis no cinema

O Hulk de 2003 é reflexo direto do cinema de super-heróis, nascido oficialmente no começo do milênio com X-Men (2000), dirigido por Bryan Singer.

Os efeitos visuais, a caracterização mais sóbria de motoqueiro militarizado e menos cartunesco de roupa colorida, e a adoção de um tom mais “realista” e sombrio foram a luz guia para muitas produções da década de 00.

O ápice é a obra prima de Christopher Nolan, Batman O Cavaleiro das Trevas, de 2008. O longa é tão poderoso em sua tendência estilística dita os padrões até hoje — se tornou o Watchmen do cinema de HQs, que, por sinal, também foi adaptado pelo maior expoente do sombrio e realista anabolizado no rolê: Zack Snyder

Hulk ganha pontos por ter sido feito por um cineasta plural e talentoso, sem nenhuma intimidade com as histórias em quadrinhos ou apego ferrenho e castrador a mudar ideias concretas das origens de HQs, mas sóbrio o suficiente para entender o que funciona em seu cerne.

É a intimidade com o pensamento do cinema de Ang Lee que faz seu filme funcionar em diversas aspectos, e falhar em outros. O lado autoral deixa marcas fortes em Hulk, e isso muitas vezes joga contra o espetáculo esperado, o que mata a proposta esperada pelo grande público e os fãs mais ferrenhos: a diversão.

O Hulk de Ang Lee é sério, trágico, sisudo, sem nenhum senso de humor. Um pouco de escapismo pop e consciência da cafonice do absurdo de ser um monstro verde de calças roxas pulando por aí seria o tempero ideal nessa sopa cinematográfica que Ang Lee fez.

Anos depois, o próprio diretor disse que deveria ter feito um filme mais divertido.

Stan Lee, criador do personagem nas revistas da Marvel no começo dos anos 60, e o ator Lou Ferrigno, o intérprete do Hulk no seriado no final dos anos 70, em uma cena de homenagem no filme

Bastante datado se visto hoje em um olhar técnico, o Hulk foi um monumento ao trabalho na época. Foi uma das tarefas mais complexas que a Industrial Light & Magic teve até aquele momento: 69 artistas técnicos, 41 animadores, 10 animadores de músculos, 9 modeladores de CG, 8 supervisores, 6 pintadores de pele e 5 argumentadores de captura de movimento.

Milhares de horas e um ano e meio foram necessários para efetivamente criar e retratar o Hulk no filme.

A ILM é simplesmente a melhor empresa de efeitos especiais na indústria do cinema.  Mesmo com todo o trabalho, o público disse que o Hulk parecia ser “muito falso”, o comparando ao Shrek.

A versatilidade das mutações de Ang Lee

Ang Lee

O cineasta Ang Lee tem uma carreira plural e rica no cinema, bastante diversa, assim como a de Jennifer Connelly.

Há sensibilidade estética peculiar, atenção a detalhes e elaboração de texturas cuidadosas em seus filmes.

É um romântico camaleão cinematográfico. Amor, perda, honra e destino são temas frequentes em seus trabalhos.

Ang Lee nasceu em 1954 na cidade de Pingtung, Taiwan. Estudou cinema na Faculdade de Artes do país, e foi para a América.

Conseguiu um trabalho de destaque ao servir de diretor assistente de Spike Lee em seu filme ainda como estudante: Joe’s Bed-Stuy Barbershop: We Cut Heads (1983). A Arte de Viver (1991) foi seu primeiro longa-metragem de destaque, uma comédia dramática de conflito de gerações; Banquete de Casamento (1993), um choque de culturas ao mostrar o amor de dois homens em meio a obrigações familiares em Taiwan, e que ganhou o Golden Bear no Festival de Cinema de Berlin e foi nomeado ao Globo de Ouro e o Oscar. Seu Comer Beber Viver (1994), uma espécie de sequencia do anterior, também foi nomeado a Melhor Filme Estrangeiro.

Em 1995, ele adaptou o grande romance de Jane Austen, Razão e Sensibilidade, com um grande elenco, seu primeiro filme mainstream em Hollywood.

Foi nomeado ao Oscar de Melhor Filme, e venceu o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, que a atriz e uma das protagonistas, Emma Thompson, também escreveu.

Jennifer Connelly e Ang Lee nas filmagens de Hulk

James Schamus, roteirista de Hulk, é colaborador frequente de Ang. Escreveu seu Tempestade de Gelo (1997), uma adaptação de um romance de Rick Moody sobre o subúrbio da Nova Inglaterra nos anos 1970.

Ganhou Melhor Roteiro em Cannes. Um drama da Guerra Civil Americana foi o tema de Cavalgada com o Diabo (1999), seguido pelo grande O Tigre e o Dragão (2000), uma de suas obras-primas.

A história da Destino de Jade, uma espada que percorre as vidas de vários personagens da trama, envolvem amor, traição, artes marciais em um épico sem igual na China Antiga.

Foi nomeado para um monte de Oscar, e venceu o de Melhor Filme Estrangeiro, sendo o filme em língua não-inglesa mais visto nos Estados Unidos.

Também ganhou os prêmios de Melhor Música e Melhor Direção de Arte. Em 2005, Ang Lee chegou ao topo com O Segredo de Brokeback Mountain (2005), ao ganhar o Oscar de Melhor Diretor, um filme baseado em uma história curta de Annie Proulx.

Quase todos os protagonistas foram nomeados para prêmios de atuação no evento.

Em 2012, dirigiu A Vida de Pi, um de seus últimos grandes filmes, nomeado 11 vezes em categorias diversas do Oscar, baseado no romance de Yann Martel, vencedor do Prêmio Booker.

Não fosse por Hulk, diz Ang Lee em entrevistas, ele jamais teria o conhecimento necessário para fazer o trabalho em computação gráfica que esse filme exigiu.

Desde 2013, Ang Lee é membro do júri do Festival de Cannes.

Jennifer Connelly Ang Lee

Ang Lee foi o primeiro diretor asiático a ganhar o prêmio de Melhor Diretor no Oscar.

Ele também foi o primeiro asiático a dirigir um filme de adaptação de histórias em quadrinhos de super-heróis — uma marca tão americana quanto a bandeira dos EUA.

Apenas James Wan e seu Aquaman (2018) e Cathy Yan com Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (2020) repetiram a dose.

Jennifer Connelly Ang Lee

21º filme de Jennifer Connelly
Hulk
Estados Unidos

/ A MARATONA JENNIFER CONNELLY.

1- Era Uma Vez na América (1984)
2- Phenomena (1985)
3- Sete Minutos Para o Paraíso (1985)
4- Labirinto – A Magia do Tempo (1986) 
5- Essas Garotas (1988) 
6- Etoile (1989)
7- Hot Spot – Um Local Muito Quente (1990)
8- Construindo Uma Carreira (1991)
9- Rocketeer (1991)
10- O Coração da Justiça (1992)
11- Do Amor e de Sombras (1994)
12- Duro Aprendizado (1994)
13- O Preço da Traição (1996) 
14- Círculo das Vaidades (1996) 
15- Círculo das Paixões (1997)
16- Cidade das Sombras (1998)
17- Amor Maior que a Vida (2000)
18- Réquiem Para um Sonho (2000) 
19- Pollock (2000)
20- Uma Mente Brilhante (2001)
21- Hulk (2003)
22- A Casa de Areia e Névoa (2003)
23- Água Negra (2005)
24- Pecados Íntimos (2006)
25- Diamante de Sangue (2006)
26- Traídos pelo Destino (2007) 
27- O Dia em que a Terra Parou (2008)
28- Coração de Tinta (2008)
29- Ele Não Está Tão a Fim de Você (2009)
30- 9 – A Salvação (2009)
31- Criação (2009)
32- Virginia (2010) 
33- O Dilema (2011)
34- E…que Deus nos Ajude!!! (2011)
35- Ligados pelo Amor (2012)
36- Um Conto do Destino (2014)
37- Marcas do Passado (2014)
38- Noé (2014)
39- Viver Sem Endereço (2014)
40- Pastoral Americana (2016)
41- Homem-Aranha De Volta ao Lar (2017)
42- Homens de Coragem (2018)
43- Alita – Anjo de Batalha (2019)

/ NO BRASIL. O que o crítico de Sérgio Dávila disse sobre o Hulk de Ang Lee no lançamento dos cinemas brasileiros, no caderno Ilustrada, da Folha.

/ NO BRASIL 2. O reboot no Hulk de Louis apagou por completo o Hulk de Ang, mas o filme dá uma piscadela para a produção anterior, em uma curiosa ligação do final de uma com o começo de outra. Ang deixa seu Eric Bana / Hulk em uma selva não-identificada na América do Sul no final do longa, e Louis começa com seu Edward Norton / Hulk escondido nas favelas do Rio de Janeiro.

A principal razão para o recomeço foi para que novos conceitos apresentados encaixassem dentro do Universo Cinematográfico da Marvel. O Hulk de Ang Lee foi produzido por Stan Lee e Kevin Feige. Mas só com Homem de Ferro (2008), primeiro filme do Marvel Studios e ponto zero do UCM, Kevin seria o grande executivo da empresa no comando das produções de cinema.

Quem distribui as obras relacionadas ao verdão é a Universal Pictures, que tem primazia sobre qualquer produção feita — inclusive da Marvel / Disney.

Jennifer Connelly Ang Lee
A cena final do Hulk de Ang Lee, com Bruce em uma selva ignorada na América do Sul

/// ROGER EBERT. O maior crítico de cinema dos Estados, e o que ele achou do filme, aqui.

/// ROTTEN TOMATOES. O site agregador de críticas mais famoso da internet dá 62% de aprovação para o longa de Ang Lee.

/// HQS. O Hulk surgiu no título Incredible Hulk #1 (1962), escrito por Stan Lee e desenhado por Jack Kirby. Como se nota abaixo, ele era cinza em sua origem, antes de ser verde, muito mais por força de bastidores burocráticos de impressão e tinta do que por força criativa de seus idealizadores.

Capa de Incredible Hulk #1

 

Página de introdução com a te do Hulk, desenhos de Jack Kirby
Na primeiríssima aparição do personagem nas HQs, o Hulk era cinza
Arte de John Byrne
Arte de John Byrne
Arte promocional da Marvel do Hulk com vários artistas
Arte de Bruce Timm
Arte de Alex Ross

/// 2003. Os filmes que passavam nos cinemas eram 007 – Um Novo Dia Para Morrer, Deus É Brasileiro, O Chamado, Gangues de Nova York, Adaptação, Prenda-me Se For Capaz, As Horas, Chicago, Demolidor – O Homem Sem Medo, 8 Mile – Rua das Ilusões, As Confissões de Schmidt, Durval Discos, A Casa dos 1000 Corpos, Carandiru, X-Men 2, Tiros em Columbine, Matrix Reloaded, +Velozes +Furiosos, Procurando Nemo, O Exterminador do Futuro 3 – A Rebelião das Máquinas, Lara Croft: Tomb Raider – A Origem da Vida, Extermínio, Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra, Donnie Darko, Uma Saída de Mestre, Era Uma Vez no México, Matrix Revolutions, Oldboy, Sobre Meninos e Lobos, Meninos Não Choram, Adeus, Lenin!, Entre o Céu e a Terra, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, entre outros.

A idade de Jennifer Connelly em Hulk é de 33 anos.

curadoria e textos: tomrocha (twitter e instagram)
jornalista, estrategista de conteúdo e escrevedor de coisas escritas.

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Jennifer Connelly Ang Lee

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