NEIL GAIMAN | O poder incomensurável dos livros

O escritor inglês Neil Gaiman é autor de livros adultos e infantis e um dos maiores escritores de história em quadrinhos de todos os tempos, arquiteto de obras da cultura pop que ajudaram a construir essa mitologia da indústria cultural do século XX.

Um dos profissionais mais talentosos do mercado literário e de HQs, e um dos mais queridos. Ele esteve no começo do ano de 2013 como convidado no segundo encontro da Reading Agency, em Londres, Inglaterra, onde fez um discurso de análise da natureza da leitura e seu incrível poder transformador, além da importância do livro e das bibliotecas em nossas vidas.

Neil Gaiman
Neil Gaiman

É um texto rico que merece ser lido nessa época de esfacelamento de livrarias, queda de venda de livros, baixos índices de leitura.
Gaste alguns minutos do seu dia lendo isso.
Não irá se arrepender.

Neil Gaiman
Destino, criado em Weird Mystery Tales #1 (1972), por Marv Wolfman e Bernie Wrightson, e usado depois por Neil Gaiman em sua obra-prima Sandman
Neil Gaiman
Ele é o mais velho dos Perpétuos, entidades antropomórficas que encarnam os aspectos da existência. Em seu livro, está escrito tudo que já existiu, e ele continuará os registros até o fim dos tempos. O poder de um livro

É importante para as pessoas dizerem de que lado elas estão e porque, e se elas podem ou não ser tendenciosas. Um tipo de declaração de interesse dos membros. Então eu estarei conversando com vocês sobre leitura. Direi à vocês que as bibliotecas são importantes. Vou sugerir que ler ficção, que ler por prazer, é uma das coisas mais importantes que alguém pode fazer. Vou fazer um apelo apaixonado para que as pessoas entendam o que as bibliotecas e os bibliotecários são e para que preservem ambos.

E eu sou óbvio e enormemente tendencioso: eu sou um escritor, muitas vezes um autor de ficção. Escrevo para crianças e adultos. Por cerca de 30 anos eu tenho ganhado a minha vida através das minhas palavras, principalmente por inventar as coisas e escrevê-las. Obviamente está em meu interesse que as pessoas leiam, que elas leiam ficção, que bibliotecas e bibliotecários existam para nutrir amor pela leitura e lugares onde a leitura possa ocorrer.

Então sou tendencioso como escritor. Mas eu sou muito, muito mais tendencioso como leitor. E eu sou ainda mais tendencioso enquanto cidadão britânico.

E estou aqui dando essa palestra hoje a noite sob os auspícios da Reading Agency: uma instituição filantrópica cuja missão é dar a todos as mesmas oportunidades na vida, ajudando as pessoas a se tornarem leitores entusiasmados e confiantes. Que apoia programas de alfabetização, bibliotecas e indivíduos e arbitrária e abertamente incentiva o ato da leitura. Porque, eles nos dizem, tudo muda quando lemos.

E é sobre essa mudança e este ato de leitura que quero falar hoje a noite. Eu quero falar sobre o que a leitura faz. O porquê de ela ser boa.

Uma vez eu estava em Nova York e ouvi uma palestra sobre a construção de prisões particulares – uma ampla indústria em crescimento nos Estados Unidos. A indústria de prisões precisa planejar o seu futuro crescimento – quantas celas precisarão? Quantos prisioneiros teremos daqui 15 anos? E eles descobriram que poderiam prever isso muito facilmente, usando um algoritmo bastante simples, baseado em perguntar a porcentagem de crianças de 10 e 11 anos que não conseguiam ler. E certamente não conseguiam ler por prazer.

Não é um pra um: você não pode dizer que uma sociedade alfabetizada não tenha criminalidade. Mas existem correlações bastante reais.

E eu acho que algumas destas correlações, a mais simples, vem de algo muito simples. As pessoas alfabetizadas leem ficção.

A ficção tem duas utilidades. Primeiramente, é uma droga que é uma porta para leituras. O desejo de saber o que acontece em seguida, de querer virar a página, a necessidade de continuar, mesmo que seja difícil, porque alguém está em perigo e você precisa saber como tudo vai acabar… Este é um desejo muito real. E te força a aprender novos mundos, a pensar novos pensamentos, a continuar. Descobrir que a leitura por si é prazerosa. Uma vez que você aprende isso, você está no caminho para ler de tudo. E a leitura é a chave. Houve um burburinho brevemente há alguns anos atrás sobre a idéia de que estávamos vivendo em um mundo pós-alfabetizado, no qual a habilidade de fazer sentido através de palavras escritas estava de alguma forma redundante, mas esses dias acabaram: as palavras são mais importantes do que jamais foram: nós navegamos o mundo com palavras, e uma vez que o mundo desliza para a web, precisamos seguir, comunicar e compreender o que estamos lendo. As pessoas que não podem entender umas às outras não podem trocar idéias, não podem se comunicar e apenas programas de tradução vão tão longe.

A forma mais simples de ter certeza de que educamos crianças alfabetizadas é ensiná-los a ler, e mostrarmos a eles que a leitura é uma atividade prazerosa. E isso significa, na sua forma mais simples, encontrar livros que eles gostem, dar a eles acesso a estes livros e deixar que eles os leiam.

Eu não acho que exista algo como um livro ruim para crianças. Vez e outra se torna moda entre alguns adultos escolher um subconjunto de livros para crianças, um gênero, talvez, ou um autor e declará-los livros ruins, livros que as crianças devem parar de ler. Eu já vi isso acontecer repetidamente; Enid Blyton foi declarado um autor ruim, RL Stine também, assim como dúzias de outros. Quadrinhos tem sido acusados de promover o analfabetismo.

É tosco. É arrogante e é burro. Não existem autores ruins para crianças, que as crianças gostem e querem ler e buscar, por que cada criança é diferente. Eles podem encontrar as histórias que eles precisam, e eles levam a si mesmos nas histórias. Uma idéia banal e desgastada não é banal nem desgastada para eles. Esta é a primeira vez que a criança a encontrou. Não desencoraje uma criança de ler porque você acha que o que eles estão lendo é errado. A ficção que você não gosta é uma rota para outros livros que você pode preferir. E nem todo mundo tem o mesmo gosto que você.

Adultos bem intencionados podem facilmente destruir o amor de uma criança pela leitura: parar de ler pra eles o que eles gostam, ou dar a eles livros ‘chatos mas que valem a pena’ que você gosta, os equivalentes “melhorados” da literatura Vitoriana do século XXI. Você acabará com uma geração convencida de que ler não é legal e pior ainda, desagradável.

Precisamos que nossas crianças entrem na escada da leitura: qualquer coisa que eles gostarem de ler irá movê-las, degrau por degrau, à alfabetização. (Além disso, não faça o que eu fiz quando a minha filha de 11 anos estava gostando de ler RL Stine, que foi pegar uma cópia de Carrie do Stephen King e dizer que se você gosta deste, adorará isto! Holly não leu nada além de histórias seguras de colonos em pradarias pelo resto de sua adolescência e até hoje me dá olhares tortos quando o nome de Stephen King é mencionado).

E a segunda coisa que a ficção faz é construir empatia. Quando você assiste TV ou vê um filme, você está olhando para coisas acontecendo a outras pessoas. Ficção de prosa é algo que você constrói a partir de 26 letras e um punhado de sinais de pontuação, e você, você sozinho, usando a sua imaginação, cria um mundo e o povoa e olha através dos olhos de outros. Você sente coisas, visita lugares e mundos que você jamais conheceria de outro modo. Você aprende que qualquer outra pessoa lá fora é um eu, também. Você está sendo outra pessoa e quando você volta ao seu próprio mundo, você estará levemente transformado.

Empatia é uma ferramenta para tornar pessoas em grupos, que nos permite que funcionemos como mais do que indivíduos auto-obcecados.

Você também está descobrindo algo enquanto lê que é de vital importância para fazer o seu caminho no mundo. E é isto:

O mundo não precisa ser assim. As coisas podem ser diferentes.

Eu estive na China em 2007 na primeira convenção de ficção científica e fantasia aprovada pelo partido na história da China. E em algum momento eu tomei um alto oficial de lado e perguntei a ele “Por que? A ficção científica foi reprovada por tanto tempo. Por que isso mudou?”. É simples, ele me disse. Os chineses eram brilhantes em fazer coisas se outras pessoas trouxessem os planos para eles. Mas eles não inovavam e não inventavam. Eles não imaginavam. Então eles mandaram uma delegação para os Estados Unidos, para a Apple, para a Microsoft, para o Google, e eles perguntaram às pessoas de lá que estavam inventando seu próprio futuro. E eles descobriram que todos eles leram ficção científica quando eram meninos e meninas. A ficção pode te mostrar um outro mundo. Pode te levar para um lugar que você nunca esteve. E uma vez que você tenha visitado outros mundos, como aqueles que comeram a fruta da fada, você pode nunca mais ficar completamente satisfeito com o mundo no qual você cresceu.

Descontentamento é uma coisa boa: pessoas descontentes podem modificar e melhorar o mundo, deixá-lo melhor, deixá-lo diferente.E enquanto ainda estamos nesse assunto, eu gostaria de dizer algumas palavras sobre escapismo. Eu ouço o termo utilizado por aí como se fosse uma coisa ruim. Como se ficção “escapista” fosse um ópio barato utilizado pelos confusos e pelos tolos e pelos desiludidos e a única ficção que seja válida, para adultos ou crianças é a ficção mimética, espelhando o pior do mundo em que o leitor ou a leitora se encontra.

Se você estivesse preso em uma situação impossível, em um lugar desagradável, com pessoas que te quisessem mal, e alguém te oferecesse um escape temporário, por que você não ia aceitar isso? E ficção escapista é apenas isso: ficção que abre uma porta, mostra o sol lá fora, te dá um lugar para ir onde você esteja no controle, esteja com pessoas com quem você queira estar (e livros são lugares reais, não se enganem sobre isso); e mais importante, durante o seu escape, livros também podem te dar conhecimento sobre o mundo e o seu predicamento, te dar armas, te dar armaduras: coisas reais que você pode levar de volta para a sua prisão. Habilidades e conhecimento e ferramentas que você pode utilizar para escapar de verdade.

Como JRR Tolkien nos lembrou, as únicas pessoas que fazem injúrias contra o escape são prisioneiros.

Outra forma de destruir o amor de uma criança pela leitura, claro, é se assegurar de que não existam livros de nenhum tipo por perto. E não dar a elas nenhum lugar para que leiam estes livros. Eu tive sorte. Eu tive uma biblioteca local excelente enquanto eu cresci. Eu tive o tipo de pais que podiam ser persuadidos a me deixar na biblioteca no caminho do trabalho deles nas férias de verão, e o tipo de bibliotecários que não se importavam que um menino pequeno e desacompanhado ficasse na biblioteca das crianças todas as manhãs e ficasse mexendo no catálogo de cartões, procurando por livros com fantasmas ou mágica ou foguetes neles, procurando por vampiros ou detetives ou bruxas ou fantasias. E quando eu terminei de ler a biblioteca de crianças eu comecei a de adultos.

Eles eram ótimos bibliotecários. Eles gostavam de livros e eles gostavam dos livros que estavam sendo lidos. Eles me ensinaram como pedir livros das outras bibliotecas em empréstimo inter-bibliotecas. Eles não eram arrogantes em relação a nada que eu lesse. Eles pareciam apenas gostar do fato de existir esse menininho de olhos arregalados que amava ler, e conversariam comigo sobre os livros que eu estava lendo, achariam pra mim outros livros em uma série, eles ajudariam. Eles me tratavam como outro leitor – nem mais, nem menos – o que significa que eles me tratavam com respeito. Eu não estava acostumado a ser tratado com respeito aos oito anos de idade.

Mas as bibliotecas tem a ver com liberdade. A liberdade de ler, a liberdade de ideias, a liberdade de comunicação. Elas tem a ver com educação (que não é um processo que termina no dia que deixamos a escola ou a universidade), com entretenimento, tem a ver com criar espaços seguros e com o acesso à informação.

Eu me preocupo que no século XXI as pessoas entendam errado o que são bibliotecas e qual é o propósito delas. Se você perceber uma biblioteca como estantes com livros, pode parecer antiquado e datado em um mundo no qual a maioria, mas não todos, os livros impressos existem digitalmente. Mas pensar assim é errar o ponto fundamentalmente.

Eu acho que tem a ver com a natureza da informação. A informação tem valor, e a informação certa tem um enorme valor. Por toda a história humana, nós vivemos em escassez de informação e ter a informação desejada era sempre importante, e sempre valia alguma coisa: quando plantar sementes, onde achar as coisas, mapas e histórias e estórias – eles eram sempre bons para uma refeição e companhia. Informação era uma coisa valorosa, e aqueles que a tinham ou podiam obtê-la podiam cobrar por este serviço.

Nos últimos anos, nos mudamos de uma economia de escassez da informação para uma dirigida por um excesso de informação. De acordo com o Eric Schmidt do Google, a cada dois dias agora a raça humana cria tanta informação quanto criávamos desde o início da civilização até 2003. Isto é cerca de cinco exobytes de dados por dia, para vocês que mantém a contagem. O desafio se torna não encontrar aquela planta escassa crescendo no deserto, mas encontrar uma planta específica crescendo em uma floresta. Precisaremos de ajuda para navegar nesta informação e achar a coisa que precisamos de verdade.

Bibliotecas são lugares que pessoas vão para obter informação. Livros são apenas a ponta do iceberg da informação: eles estão lá, e bibliotecas podem fornecer livros gratuitamente e legalmente. Crianças estão emprestando livros de bibliotecas hoje mais do que nunca – livros de todos os tipos: de papel e digital e em áudio. Mas as bibliotecas também são, por exemplo, lugares onde pessoas que não tem computadores, que podem não ter conexão à internet, podem ficar online sem pagar nada: o que é imensamente importante quando a forma que você procura empregos, se candidata para entrevistas ou aplica para benefícios está cada vez mais migrando para o ambiente exclusivamente online. Bibliotecários podem ajudar estas pessoas a navegar neste mundo.

Eu não acredito que todos os livros irão ou devam migrar para as telas: como Douglas Adams uma vez me falou, mais de 20 anos antes do Kindle aparecer, um livro físico é como um tubarão. Tubarões são velhos: existiam tubarões nos oceanos antes dos dinossauros. E a razão de ainda existirem tubarões é que tubarões são melhores em serem tubarões do que qualquer outra coisa que exista. Livros físicos são durões, difíceis de destruir, resistentes à banhos, operam a luz do sol, ficam bem na sua mão: eles são bons em serem livros, e sempre existirá um lugar para eles. Eles pertencem às bibliotecas, bem como as bibliotecas já se tornaram lugares que você pode ir para ter acesso à ebooks, e audio-livros e DVDs e conteúdo na web.

Uma biblioteca é um lugar que é um repositório de informação e dá a cada cidadão acesso igualitário a ele. Isso inclui informação sobre saúde. E informação sobre saúde mental. É um espaço comunitário. É um lugar de segurança, um refúgio do mundo. É um lugar com bibliotecários. Como as bibliotecas do futuro serão é algo que deveríamos estar imaginando agora.

Alfabetização é mais importante do que nunca, nesse mundo de mensagens e e-mail, um mundo de informação escrita. Precisamos ler e escrever, precisamos de cidadãos globais que possam ler confortavelmente, compreender o que estão lendo, entender as nuances e se fazer entender.

As bibliotecas realmente são os portais para o futuro. É tão lamentável que, ao redor do mundo, nós observemos autoridades locais apropriarem-se da oportunidade de fechar bibliotecas como uma maneira fácil de poupar dinheiro, sem perceber que eles estão roubando do futuro para serem pagos hoje. Eles estão fechando os portões que deveriam ser abertos.

De acordo com um estudo recente feito pela Organisation for Economic Cooperation and Development, a Inglaterra é o “único país onde o grupo de mais idade tem mais proficiência tanto em alfabetização quanto em capacidade de usar ou entender as técnicas numéricas da matemática do que o grupo mais jovem, depois de outros fatores, tais como gênero, perfis sócio-econômicos e tipo de ocupações levados em consideração”.

Colocando de outro modo, nossas crianças e netos são menos alfabetizados e menos capazes de utilizar técnicas de matemática do que nós. Eles são menos capazes de navegar o mundo, de entendê-lo e de resolver problemas. Eles podem ser mais facilmente enganados e iludidos, serão menos capazes de mudar o mundo em que se encontram, ser menos empregáveis. Todas essas coisas. E como um país, a Inglaterra ficará para trás em relação a outras nações desenvolvidas porque faltará mão de obra especializada.

Livros são a forma com a qual nós nos comunicamos com os mortos. A forma que aprendemos lições com aqueles que não estão mais entre nós, que a humanidade se construiu, progrediu, fez com que o conhecimento fosse incremental ao invés de algo que precise ser reaprendido, de novo e de novo. Existem contos que são mais velhos que alguns países, contos que sobreviveram às culturas e aos prédios nos quais eles foram contados pela primeira vez.

Eu acho que nós temos responsabilidades com o futuro. Responsabilidades e obrigações com as crianças, com os adultos que essas crianças se tornarão, com o mundo que eles habitarão. Todos nós – enquanto leitores, escritores, cidadãos – temos obrigações. Pensei em tentar explicitar algumas dessas obrigações aqui.

Eu acredito que temos uma obrigação de ler por prazer, em lugares públicos e privados. Se lermos por prazer, se outros nos verem lendo, então nós aprendemos, exercitamos nossas imaginações. Mostramos aos outros que ler é uma coisa boa.

Temos a obrigação de apoiar bibliotecas. De usar bibliotecas, de encorajar outras pessoas a utilizarem bibliotecas, de protestar contra o fechamento de bibliotecas. Se você não valoriza bibliotecas então você não valoriza informação ou cultura ou sabedoria. Você está silenciando as vozes do passado e você está prejudicando o futuro.

Temos a obrigação de ler em voz alta para nossas crianças. De ler pra elas coisas que elas gostem. De ler pra elas histórias das quais já estamos cansados. Fazer as vozes, fazer com que seja interessante e não parar de ler pra elas apenas porque elas já aprenderam a ler sozinhas. Use o tempo de leitura em voz alta para um momento de aproximação, como um tempo onde não se fique checando o telefone, quando as distrações do mundo são postas de lado.

Temos a obrigação de usar a linguagem. De nos esforçarmos: descobrir o que as palavras significam e como empregá-las, nos comunicarmos claramente, de dizer o que estamos querendo dizer. Não devemos tentar congelar a linguagem, ou fingir que é uma coisa morta que deve ser reverenciada, mas devemos usá-la como algo vivo, que flui, que empresta palavras, que permite que significados e pronúncias mudem com o tempo.

Nós escritores – e especialmente escritores para crianças, mas todos os escritores – temos uma obrigação com nossos leitores: é a obrigação de escrever coisas verdadeiras, especialmente importantes quando estamos criando contos de pessoas que não existem em lugares que nunca existiram – entender que a verdade não está no que acontece mas no que ela nos diz sobre quem somos. A ficção é a mentira que diz a verdade, afinal. Temos a obrigação de não entediar nossos leitores, mas fazê-los sentir a necessidade de virar as páginas. Uma das melhores curas para um leitor relutante, afinal, é uma estória que eles não são capazes de parar de ler. E enquanto nós precisamos contar a nossos leitores coisas verdadeiras e dar a ele armas e dar a eles armaduras e passar a eles qualquer sabedoria que recolhemos em nossa curta estadia nesse mundo verde, nós temos a obrigação de não pregar, não ensinar, não forçar mensagens e morais pré-digeridas goela abaixo em nossos leitores como pássaros adultos alimentando seus bebês com vermes pré-mastigados; e nós temos a obrigação de nunca, em nenhuma circunstância, escrever nada para crianças que nós mesmos não gostaríamos de ler.

Temos a obrigação de entender e reconhecer que enquanto escritores para crianças nós estamos fazendo um trabalho importante, porque se nós estragarmos isso e escrevermos livros chatos que distanciam as crianças da leitura e de livros, nós estaremos menosprezando o nosso próprio futuro e diminuindo o deles.

Todos nós – adultos e crianças, escritores e leitores – temos a obrigação de sonhar acordado. Temos a obrigação de imaginar. É fácil fingir que ninguém pode mudar coisa alguma, que estamos num mundo no qual a sociedade é enorme e que o indivíduo é menos que nada: um átomo numa parede, um grão de arroz num arrozal. Mas a verdade é que indivíduos mudam o seu próprio mundo de novo e de novo, indivíduos fazem o futuro e eles fazem isso porque imaginam que as coisas podem ser diferentes.

Olhe à sua volta: eu falo sério. Pare por um momento e olhe em volta da sala em que você está. Eu vou dizer algo tão óbvio que a tendência é que seja esquecido. É isto: que tudo o que você vê, incluindo as paredes, foi, em algum momento, imaginado. Alguém decidiu que era mais fácil sentar numa cadeira do que no chão e imaginou a cadeira. Alguém tinha que imaginar uma forma que eu pudesse falar com vocês em Londres agora mesmo sem que todos ficássemos tomando uma chuva. Este quarto e as coisas nele, e todas as outras coisas nesse prédio, esta cidade, existem porque, de novo e de novo e de novo as pessoas imaginaram coisas.

Temos a obrigação de fazer com que as coisas sejam belas. Não de deixar o mundo mais feio do que já encontramos, não de esvaziar os oceanos, não de deixar nossos problemas para a próxima geração. Temos a obrigação de limpar tudo o que sujamos, e não deixar nossas crianças com um mundo que nós desarrumamos, vilipendiamos e aleijamos de forma míope.

Temos a obrigação de dizer aos nossos políticos o que queremos, votar contra políticos ou quaisquer partidos que não compreendem o valor da leitura na criação de cidadãos decentes, que não querem agir para preservar e proteger o conhecimento e encorajar a alfabetização. Esta não é uma questão de partidos políticos. Esta é uma questão de humanidade em comum.

Uma vez perguntaram a Albert Einstein como ele poderia tornar nossas crianças inteligentes. A resposta dele foi simples e sábia. “Se você quer que crianças sejam inteligentes”, ele disse, “leiam contos de fadas para elas. Se você quer que elas sejam mais inteligentes, leia mais contos de fadas para elas”. Ele entendeu o valor da leitura e da imaginação. Eu espero que possamos dar às nossas crianças um mundo no qual elas possam ler, e que leiam para elas, e imaginar e compreender.”

O texto veio do sensacional blog Index-a-Dora, que você pode conferir no original aqui.

E você pode treinar o inglês e ver o discurso de Neil Gaiman abaixo:

Não existe nada mais poderoso do que a palavra.
Ela é capaz de construir e derrubar reinados e governos, criar e matar, acalmar ou agitar.
E a palavra escrita, mais do que a falada, tem, ainda, o poder de perpetuar-se, de acumular-se, de servir como registro, de arcabouço histórico para mudanças, sejam negativas ou positivas. E é por essas e outra razões que a palavra escrita é tão cara e tão temida.

Quando Johannes Gutenberg desenvolveu a mais poderosa arma da Humanidade – a prensa móvel -, dando início à chamada Revolução da Imprensa, o mundo de conhecimento compartimentalizado acabou, ao mesmo tempo que os detentores do poder passaram a realmente querer controlar a difusão da palavra, agora escrita e amplamente disponível.

Há uma diferença fundamental de se abastecer de pequenas frases no Twitter e post de Facebook, e encarar a leitura de um livro de 500 páginas.

É nessa diferença que está a explicação de onde estamos e para onde iremos.

A maior obra de Neil Gaiman:
Sandman

Neil Gaiman
Arte original de Dave McKean para o primeiro número de Sandman, escrito por Neil Gaiman

Após a megassaga Crise nas Infinitas Terras (1985-1986), um movimento editorial e comercial da DC Comics que condensou 50 anos de cronologia de suas revistas em quadrinhos, e promoveu o relançamento de histórias “zeradas” de personagens, em um dos primeiros reboots do mercado, como é chamado esse artifício criativo para despertar renovação de público e vendas.

Superman (1986) seria refeito por John Byrne, Mulher-Maravilha (1987) por George Perez e Batman teve uma nova origem contada por Frank Miller e David Mazzuchelli, Batman – Ano Um (1987).

Crise nas Infinitas Terras, a mãe de todas as megassagas das HQs de super-heróis do mercado

Devido ao sucesso do título Monstro do Pântano, escrito pelo inglês Alan Moore desde 1982, e que atravessou sem maiores impactos as reformulações vistas em Crise, os editores da DC prestaram mais atenção no material produzido pelo escritor.

Monstro do Pântano

Era sofisticado, com temas sombrios e pesados como terror, sexo e violência, e discussões mais elaboradas de problemas sociais e ecologia.

O público que esse tipo de quadrinho pegava era mais amplo, de leitores mais maduros e adultos consumindo as revistas.

Com efeito, Alan Moore se tornaria um gigante nos quadrinhos com esse trabalho, que abriria portas para muitas obras-primas do autor, como Do Inferno, V de Vingança e Watchmen, esse para a própria DC.

Alan Moore
V de Vingança

Depois de Crise, a editora Karen Berger vai para a Inglaterra atrás de outros talentos como Moore, crente que o raio poderia cair de novo no mesmo lugar, com as bençãos da Presidente da DC na época, Jenette Khan, duas mulheres de enorme importância para o mercado de quadrinhos.

Ela estava acompanhada de Dick Giordano, outro gigante das HQs — desenhista, arte-finalista e agora editor na DC.

Gaiman tinha 26 anos, e junto com um estudante de arte de 22 anos, Dave McKean, criou Violent Cases (1987), publicado pela editora Scape Books. Ele descobriu que Karen estava no país, e descolou um encontro com ela.

Anos antes de ter contato com Karen, ele tinha lido uma edição do Monstro do Pântano de Alan Moore, que caiu por acaso em suas mãos, e ele entendeu a potência da mídia.

Ele era jornalista na época, com alguns livros publicados, como uma biografia do Duran Duran, banda inglesa de rock new wave.

Decidiu procurar Alan em pessoa, e os dois ficaram amigos. E Neil Gaiman aprendeu a arte de roteirizar HQ com ele.

Indicado pelo próprio Moore, Karen aceitou encontrar com Gaiman.

E ele viria a trabalhar na DC junto com os roteiristas Grant Morrison, Peter Milligan e Jaime Delano (outro amigo de Moore, que na época era motorista de ônibus), na chamada “invasão britânica” nos quadrinhos americanos de super-heróis.

Gaiman tinha feito alguns trabalhos pontuais nas duas maiores revistas de HQs da Inglaterra: 2000 A.D. e a Warrior.

Mas era um desconhecido no mercado americano. O escritor queria trabalhar com o Vingador Fantasma, mas ele já estava encaminhado em outro projeto (que nunca viu a luz do dia no pós-Crise; Grant Morrison também o queria, mas ficou mesmo com o Homem-Animal).

Neil Gaiman levantou outros nomes. Falou do Etrigan, mas Matt Wagner iria trabalhar com ele. Perguntou do Arqueiro Verde, mas Mike Grell iria reformulá-lo. Até Canário Negro, Klarion e Povo da Eternidade estavam ocupados.

Então Neil Gaiman foi mais fundo, e escolheu uma personagem das mais obscuras da DC: Orquídea Negra, no original, Black Orchid, heroína criada por Sheldon Mayer e o desenhista filipino Tony DeZuniga em Adventure Comics #428 (1973).

Quando Karen viu os roteiros e os desenhos de Dave McKean dessa inusitada HQ da Orquídea Negra, decidiu que era tão bom que a obra sairia em formato prestige, como graphic novel, tal qual Watchmen (1986), de Alan Moore e Dave Gibbons e Batman – Cavaleiro das Trevas (1986), de Frank Miller (roteiro e arte).

Mas como Gaiman ainda era um novato no mercado, precisava de outro material para que desse estofo a esse pulo editorial, para ser mais conhecido — o mesmo ocorreu com McKean, que acabou ilustrando Asilo Arkham, de Grant Morrison.

Karen pediu que Neil escolhesse mais um personagem para recriar. No meio de tantos, o escritor optou por Sandman, criado originalmente como Wesley Doods, um vigilante de máscara, escrito por Gardner Fox e desenhado por Bert Christman, que estreou em New York World’s Fair Comics #1 (1939), e depois reformulado por Joe Simon e Jack Kirby (os pais do Capitão América da Marvel Comics) em The Sandman #1 (1974), em uma pegada bem mais super-herói.

O primeiro Sandman, no mood detetive pulp
O segundo Sandman, reformulado como um super-herói, por Jack Kirby

Seguindo as orientações de Karen, que queria mais um título de terror, tal qual o Monstro do Pântano de Moore, Neil Gaiman radicalizou e começou tudo do zero, com apenas o nome do personagem.

Neil Gaiman
Arte promocional de Sandman

Sua história começa em 1916, quando uma entidade conhecida como Sonho é capturado e encarcerado por um grupo de ocultistas para fazer parte de um ritual, conduzido pelo mago inglês Roderick Burgess, que desejava a vida eterna.

A arte interna foi de Sam Kieth

Sandman foi um sucesso gigantesco de vendas.

O escritor pensou em finalizar a história em 4 edições, mas deixou tudo preparado para esticar até a oitava, onde apresentou a mais cativante personagem desse universo: a Morte.

Durou 75 edições.

O título de Sandman (1989-1996) conta a história de Morpheus, conhecido por uma infinidade de outros nomes, e o seu reino, o Sonhar. Sandman (ou Sonho) e seus irmãos – Morte, Destino, Destruição, Desejo, Desespero e Delírio – são conhecidos como Perpétuos, entidades antropomórficas abstratas acima das divindades, que representam conceitos abstratos da existência dos seres vivos.

Neil Gaiman
O Sonhar, o domínio de Sandman

Apresentada com elementos de horror e fantasia, inserida no universo ficcional das HQs regulares da DC, não demorou para Sandman de Neil Gaiman tomar caminhos ousados, ainda pouco explorados da imaginação de roteiristas ocidentais na indústria de quadrinhos.

 

Em sua longa jornada ao reino etéreo da ficção, Sandman discute temas de aventuras em cima de literatura fantásticas a William Shakespeare, de eventos reais como a Revolução Francesa a interações com personas e conceitos fantásticos retrabalhados de várias religiões, e mais importante, dos anseios e angústias que nos tornam humanos, refletidos especialmente na família de Morpheus, os Perpétuos, que assim como todos, são disfuncionais e cheios de problemas.

Neil Gaiman
As capas são literalmente obras de arte

Neil Gaiman
Coríntio, um dos inimigos mais perigosos de Sandman

Ao longo de 75 edições da série mensal, somos apresentados aos mais variados assuntos abordados de maneiras criativas, numa narrativa que realmente transcende gêneros e definições.

 

Dramas e aventuras com personagens de qualquer época, tramas de romance e uma visão social-filosófica crítica, com grandes diálogos criados por Neil Gaiman, e o talento de grandes desenhistas, tornam todos os adjetivos aqui usados que Sandman ganha mais do que merecido.

Neil Gaiman
Sonho com sua irmã Morte

Neil Gaiman

As histórias concorriam e ganhavam os maiores prêmios de sua época. A edição #19 abordou Sonho de uma noite de Verão e A Tempestade (de Shakespeare), com desenhos de Charles Vess, e foi a primeira revista em quadrinhos a levar o mais importante prêmio de literatura dedicado a obras fantásticas, o World Fantasy Award, além de mais de 26 Eisner Awards (o “Oscar” das HQs americanas) e um Hugo Award em 2016, maior prêmio da ficção científica dos EUA.

O trabalho que os ingleses desenvolveriam se tornaria um nicho próprio, comandado pela edição primorosa de Karen, e ela seria a poderosa dona do selo Vertigo, onde a DC publicaria histórias fora do padrão super-herói de cuecas.

Neil Gaiman e Karen Berger

Algumas das maiores obras-primas das HQs saíram por esse selo, que pela sofisticação, era chamada de “HBO das HQs“, referência ao canal de TV que passou alguns dos melhores do gênero, como OZ, Sopranos, The Wire e Game of Thrones.

Uma revista com previews das obras que seriam apresentadas e outros adicionadas ao selo Vertigo, caso do Sandman de Neil Gaiman
O editorial de Karen Berger sobre a Vertigo
Arte promocional da DC Comics para o selo Vertigo. Auto-explicativo

Ao longo de sua carreira no mercado de entretenimento, Neil Gaiman escreveu romances, roteiros de TV e cinema, além de livros de referência sobre cinema e literatura, músicas e peças de teatro.

Arte do próprio Gaiman para a concepção visual de seu Sandman
Gaiman usou como base Peter Murphy, vocalista da banda de pós-punk Bauhaus

Muitas vezes faz parcerias, como o romance Belas Maldições (1990), com o escritor Terry Pratchett.

Muitos de seus trabalhos literários ultrapassaram as fronteiras e viraram cinema e seriado: Stardust – O Mistério da Estrela, livro em 1999 e filme em 2007; Coraline e o Mundo Secreto, livro em 2002 e filme em 2009; e Deuses Americanos, livro em 2001 e seriado em 2017-2021.

Após o encerramento da revista principal, entre poucos spin-offs e títulos derivados de Sandman ao longo dos anos , a DC só foi retomar a “marca” em 2018, quando a editora anunciou uma nova linha de quadrinhos baseada na série clássica, por conta dos 30 anos do lançamento da primeira edição, ocorrido em outubro de 1988.

Foram quatro novas séries, todas supervisionadas pelo próprio Neil Gaiman.

O especial The Sandman Universe, escrito por Gaiman, Nalo Hopkinson, Kat Howard, Si Spurrier e Dan Watters, com desenhos da artista brasileira Bilquis Evely e capa de Jae Lee, apresentou os conceitos abordados nas revistas House of Whisperes, Books of Magic, The Dreaming e Lucifer.

 

Arte da brasileira Bilquis Evely

O universo de Sandman é uma grande caixa de areia com brinquedos maravilhosos que ninguém estava brincando. Comecei a me sentir culpado por isso. Gosto da ideia de brincarem novamente com esses brinquedos, e lembrar às pessoas o quanto eles são divertidos. Além disso, terei a oportunidade de trabalhar com escritores fantásticos“, explicou Gaiman no comunicado da DC Comics a respeito do relançamento.

Ainda em 2018, a figurinista Cinamon Hadley, que serviu de inspiração para a criação do visual da personagem Morte, faleceu no dia 6 de janeiro, aos 48 anos de idade, após uma longa batalha contra um câncer de cólon.

A informação da criação consta da contracapa da revista Death – Gallery (1994), onde Neil Gaiman explicou que a Morte é a única personagem cujo visual ele não concebeu — o criador foi o desenhista Mike Dringenberg.

Cinamon Hadley

A intenção de Gaiman era que a irmã de Sonho se parecesse com a cantora Nico, tal qual mostrada na capa do álbum Chelsea Girl (1967).

Mas Dringenberg e Cinamon eram amigos, e o artista baseou o visual da personagem nela. Cinamon tinha 19 anos quando saiu Sandman # 8, a edição de estreia da Morte.

Na época, em seu perfil do Twitter, Neil Gaiman fez um tributo a Hadley: “Descanse em paz ou se encaminhe para a sua próxima aventura, Cinamon Hadley. Você deu a Morte dos Perpétuos, seu rosto e seu sorriso”.

Aliás, o autor é bem ativo nessa rede social. Você pode conferir o que ele publica aqui.

Como era para ser
Como ficou

 

A primeira aparição de Morte em Sandman

 

O mais recente movimento envolvendo a obra de Sandman é o seriado da Netflix que adapta o trabalho de Neil Gaiman, com 11 episódios previstos para entrarem na plataforma ainda em 2021.

Nas HQs, no total, são 13 arcos originais que contam a história de Sandman em 75 números.
Os artistas das edições: Dave McKean, Sam Kieth, Mike Dringenberg, Malcolm Jones III, Kelley Jones, Jill Thompson, Marc Hempel, Michael Zulli e Charles Vess

Sandman: Prelúdios e noturnos (1 a 8)
Sandman: A casa de bonecas (9 a 16)
Sandman: Terra dos Sonhos (17 a 20)
Sandman: Estação das brumas (21 a 28)
Sandman: Espelhos distantes (29 a 31 e 50)
Sandman: Um jogo de Você (32 a 37)
Sandman: Convergência (38 a 40)
Sandman: Vidas breves (41 a 49)
Sandman: Fim dos mundos (51 a 56)
Sandman: Entes queridos (57 a 69)
Sandman: Despertar (70 a 73)
Sandman: Exílio (74)
Sandman: A tempestade (75)

Arte de Kelley Jones
Sandman na arte de Mike Mignola, um dos artistas mais pop do terror nas HQs
Sandman Wesley Doods e Sandman Morpheus. Arte de Alex Ross
O Sandman Wesley Dodds de Gardner Fox e Bert Christman encontra o Sandman Morpheus de Neil Gaiman
O Sandman Garret Sanford de Joe Simon e Jack Kirby encontra Sandman Morpheus de Neil Gaiman
Os Perpétuos. No original, Endless. Neil Gaiman os criou com nomes que começam com D: Dream (aqui no Brasil, vai destoar, pois ficou Sonho); Destruction (Destruição); Desire (Desejo); Delirium (Delírio); Despair (Desespero); Death (outro que destoa, é Morte); e Destiny (Destino)
Uma rápida explicação da razão de ser de cada um dos Perpétuos, pelo próprio Neil Gaiman

Neil Gaiman

Neil Gaiman
Arte de Jim Lee, um dos desenhista popstar dos anos 90 nos quadrinhos de super-heróis, e hoje em posição executiva na DC Comics
Neil Gaiman
Arte de Bilquis Evely
Arte de Dave Gibbons, o desenhista de Watchmen

 

 

 

O ator Tom Sturridge como Sandman da Netflix
Neil Gaiman
Frank Miller, Neil Gaiman, Bill Sienkiewicz, Bernie Wrightson e Dave Gibbons

Para encerrar o tema quadrinhos, Neil Gaiman disse isso para o Universo HQ (melhor site sobre quadrinhos do Brasil):

Na sua opinião, qual a solução para a atual crise no mercado de quadrinhos? (ano: 2001)

Neil Gaiman: Opa, essa é fácil! (risos)

Minha única solução para a crise nos quadrinhos é: vou escrever uma boa história, que seres humanos – e não colecionadores – irão ler e gostar. É como eu faço. Isso funcionou para mim por sete anos. Quando eu fiz Sandman #75, as edições estavam esgotando nas lojas, mais que Batman e Super-Homem. Tínhamos 100 mil leitores. Nós conseguimos isso, numa época em que as revistas mais vendidas atingiam a marca de um milhão, porque eram vendidas de “baciada” para crianças ingênuas.

Você pode conferir muito mais na entrevista completa aqui

Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução
NIETZCHE

A Vertigo foi o aperfeiçoamento de uma iniciativa que a Marvel já promovia nos anos 1980, como você pode conferir nesta matéria:

WOLVERINE & DESTRUTOR: FUSÃO | O selo Epic Comics da Marvel

Neil Gaiman
Arte de Kent Williams para o Sandman, um doa artistas de Wolverine e Destrutor: Fusão

Neil Gaiman

fontes das imagens:

Sandman (1989-1996)
The Sandman: A Gallery Of Dreams (1994)
The Sandman: Endless Nights (2003)
The Sandman: Overture (2013)
The Sandman Universe (2018)

Obrigado por ler até aqui!

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