ONASSIS | O homem mais rico e a viúva mais famosa

Onassis: The Richest Man in the World (1988) é um telefilme que dramatiza os anos mais iluminados pelos holofotes das fofocas de Aristóteles Onassis (1906 — 1975), o bilionário grego que podia comprar absolutamente tudo, inclusive a viúva mais famosa do mundo, Jacqueline Kennedy, uma das mais célebres ex-primeira dama dos Estados Unidos da América.

O filme é um pequeno passeio no universo inacessível dos poderosos podres de ricos, muito distante do atual mood cinematográfico cheio de clichês dramáticos que tenta beber dessa fonte exclusivíssima.

O detalhamento da ascenção de Onassis ao poder máximo do comércio marítimo, seus casamentos infelizes e sucessão de tragédias familiares deixa um gosto de bile na boca para quem assiste Onassis: The Richest Man in the World. Mas a atmosfera é tão alienígena que nada parece estar acontecendo com seres humanos. Mas está. E Onassis e Jacqueline eram demasiadamente humanos, como podemos ver pela trajetória deles.

O longa para televisão tem Raul Julia como seu protagonista, Aristóteles Onassis, em uma atuação poderosa do ator porto-riquenho, e é complementado à perfeição com Jane Seymour como Maria Callas, sua primeira esposa, e Francesca Annis como Jacqueline Kennedy Onassis, duas mulheres que fizeram a vida o bilionário.

Não há nenhum outro filme de Raul Julia como Onassis: The Richest Man in the World, parte da Maratona Cinematográfica Raul Julia que estamos fazendo aqui no blog Destrutor.

Onassis

A direção do longa, que é uma produção americana e espanhola pela rede de TV ABC, foi de Waris Hussein, em cima do roteiro de Peter Evans, Jacqueline Feather e David Seidler — este último seria o mais famoso, dono de um script vencedor do Oscar, anos depois, por O Discurso do Rei (2010).

No filme de Onassis, o trio fez um roteiro baseado no livro Ari: The Life and Times of Aristotle Onassis (1986), escrito por Evans.

O filme é baseado em um livro de Peter Evans sobre a vida de Onassis

Onassis: The Richest Man in the World deu para a atriz Jane Seymour um Emmy (o “Oscar” da TV americana) pela sua atuação de Maria. Também estão no elenco Elias Koteas como o jovem Onassis, e Anthony Quinn como Socrates, pai do magnata. Quinn, um dos maiores atores que Hollywood, já tinha interpretado uma versão de Aristóteles no filme O Magnata Grego (1978).

Nosso filme começa com vários depoimentos a respeito de Onassis, naquela que é a segunda vez que Raul Julia interpreta um grego — ele foi Kalibanos em Tempestade. Sua atuação performa o magnetismo do homem mais rico de seu tempo muito bem, parecendo o próprio Onassis nisto.

No “começo de carreira”, ele se casa com Maria Callas, uma garota de apenas 17 anos, papel de Jane Seymour, lindíssima em tela (um papel semelhante ao que ela tinha feito no longa Em Algum Lugar do Passado, de 1980).

Uma pena que seu desinteresse por Maria e o surgimento de Jacquie na vida do milionário é muito mal construído, bem como sua entourage Kennedyana. O diretor faz uso de imagens reais dos acontecimentos posteriores do assassinato de John Kennedy, incluindo o enterro, evento no qual Onassis está presente.

Quando Bobby Kennedy, irmão de John, também sofre um atentado, Jacquie tem que fugir, o que faz ela precisar mais do que nunca de Onassis. Isso acaba com o coração de Maria, provavelmente a mulher que mais amou o bilionário em sua vida. É essa teia de relacionamentos frustrados e tragédia que faz o contrapeso do dinheiro e poder nas mãos de quem não precisaria se preocupar com nenhuma outra coisa no mundo, a não ser…viver.

A vida de Aristotle Socrates Onassis

Nascido Aristotle Socrates Onassis em 20 de janeiro de 1906 na Turquia (então Império Otomano), em uma família grega, Ari fez sua fortuna no setor da marinha mercante e foi o empresário mais famoso do seu ramo no século XX.

Diferente de grande parte dos milionários, Aristóteles se fez. Começou com um telefonista ordinário em Buenos Aires, na Argentina, para onde foi com apenas 21 anos. Era nas horas vagas que estudava o mercado financeiro, por conta própria.

Em 1935, Onassis iniciou-se no ramo dos navios-tanque, e faturou milhões no transporte para os Aliados durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Onassis com Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido de 1940 a 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, e novamente de 1951 a 1955

Com o fim dos conflitos, casou-se com Athina Mary Livanos, filha de Stavros Livanos, outro empresário grego do setor de marinha mercante.

Mudou-se para os Estados Unidos, onde ganhou espaço no mercado de petroleiros e baleeiros. Em 1959, Onassis iniciou um longo romance com a soprano americana Maria Callas, e se divorciou de Athina. Mas quando a mais famosa viúva do mundo ficou na mira de Onassis, Callas também foi deixada.

Jacqueline Kennedy, viúva do ex-presidente americano John F. Kennedy, assassinado em novembro de 1963, em Dallas, EUA, começou a sair com Onassis em 1968. E se casaram no fim do mesmo ano, na ilha grega particular de Onassis, chamada Skorpios.

Onassis
Onassis e Jacquie

E juntos, em seu tempo, deram ao mundo o romance do século. É preciso uma boa dose de sobriedade e um entorpor de conspiracionismo agora, já que entraremos mais fundo nesse mundo das fofocas de celebridades. “Trato toda mulher como uma amante em potencial”, dizia Onassis.

Dizem que Jacquie já via Onassis enquanto ainda era casada com John. Dizem também que ela frequentava até mesmo a cama do irmão mais novo de John, o Bobby Kennedy. Oh-oh.

E o livro Nêmesis – Onassis, Jackie e o Triângulo Amoroso que Derrubou os Kennedy (2015), escrito pelo mesmo Peter Evans de Ari: The Life and Times of Aristotle Onassis, entrega detalhes e minúcias dessa trama.

Nas páginas do livro estão os pormenores de um dos maiores escândalos conjugais, envolvendo os três e revelando o grande segredo que levou um dos homens mais ricos da época a querer se livrar de um dos americanos mais poderosos de seu tempo, o que mudou radicalmente os rumos da política mundial.

Mais um livro de Peter Evans sobre Onassis, dessa vez bem mais pesado

Evans, que foi repórter investigativo do jornal The New York Times, relata os bastidores amorosos e comerciais de Aristóteles Onassis e senador Bobby Kennedy. “Se é para ser uma mulher de má reputação sem ganhar dinheiro com isso, é melhor ser honesta”, era uma das frases registradas de Onassis sobre mulheres.

De assassino freelancer contratado, ex-Fatah (“Movimento de Libertação Nacional da Palestina”, organização política e militar fundada em 1959) a eventos como Setembro Negro (conflito armado entre o exército da Jordânia e guerrilheiros da Organização para a Libertação da Palestina – OLP, no final de 1970), Evans descontrói o trio em uma série de acontecimentos que levam a crer que Bobby Kennedy foi assassinado em 1968 a mando de Onassis, já que ele representava um obstáculo ao casamento com Jackie, realizado 4 meses depois da morte dele.

No dia 5 de junho de 1968, Robert Kennedy, senador e pai de 10 filhos (sua mulher Ethel estava grávida do 11º), foi baleado na cabeça no Ambassador Hotel, em Los Angeles, onde comemorava os resultados das eleições da prévia dos Democratas. O assassino foi Sirhan Bishara Sirhan, considerado um terrorista palestino. O motivo teria sido uma retaliação ao apoio incondicional dos EUA a Israel durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Na década de 1970, o jornal britânico The Times considerou a fortuna de Onassis “incomensurável” e Onassis tornou-se o homem mais rico do mundo. Até hoje, foi o que mais tempo permaneceu nessa posição.

E nem todo o dinheiro do mundo impediu uma sucessão de tragédias para a família Onassis. “A partir de um certo ponto, o dinheiro deixa de ser o objetivo. O interessante é o jogo“, costumava dizer.

Com a morte de seu filho Alexander Onassis (com Athina) num acidente aéreo em 1974, aos 24 anos, Aristóteles ficou sem seu sucessor direto.

A saúde do bilionário deteriorava rápido, e ele faleceu em 15 de março de 1975 em Neuilly-sur-Seine, França, devido a complicações após uma cirurgia para tratar uma pneumonia, decorrente de sua miastenia grave. Ele tinha 69 anos, e foi sepultado em sua ilha Skorpios, na Grécia.

Onassis
Onassis

Jacqueline retornou à companhia dos filhos nos EUA, onde ficou reservada dos holofotes da mídia. Morreu de câncer em 1994, aos 64 anos.

A fortuna de Onassis foi herdada por Christina Onassis, filha dele com Athina, uma moça que infelizmente sucumbiu ao vício em drogas. Ela morreu muito jovem, em Buenos Aires, em 1988. Tinha 28 anos.

O dinheiro então foi para a neta de Onassis, Athina Roussel, filha de Christina, então com 3 anos de idade. A fortuna ficou sob controle de um fundo fiduciário escolhido pela mãe até a menina fazer 18 anos.

O nosso país entra nessa equação com o casamento de Athina com o cavaleiro brasileiro Álvaro Affonso de Miranda Neto, em 2005 — o casal chegou a morar em São Paulo, em um duplex na Nova Conceição.

Álvaro, mais conhecido como Doda, famoso como atleta olímpico, era instrutor de hipismo de Athina, já que os cavalos eram uma grande paixão da única herdeira dos Onassis. Eles se divorciaram em 2017, por conta de casos de infidelidade do brasileiro.

Corações Trocados

O ano de 1988 marcou a carreira de Raul Julia pelo lançamento de 5 obras audiovisuais, sendo que Onassis: The Richest Man in the World foi o único telefime. Os outros longa-metragens foram lançados todos depois que Raul filmou a vida de Onassis.

O primeiro deles já podemos adiantar aqui: Corações Trocados, ou A Garota Esperta, de nome original Trading Hearts, obra pouco conhecida do ator por aqui, e que foi veiculada na época em emissoras de TV com pouco alarde, tanto que é praticamente inexistente material sobre o filme. Nem um trailer de terceiros tem por aí em serviços de vídeo da internet.

Poster do filme Corações Trocados

Com direção de Neil Leifer e roteiro de Frank Deford, Trading Hearts é uma comédia romântica que mostra uma adolescente apaixonada por beisebol que tenta fazer seu jogador favorito e a mãe dela, uma cantora de bar, se apaixonarem um pelo outro.

Raul Julia é o ex-atleta Vinnie Lacona, outrora bastante popular, e agora perigosamente perto de virar um alcoolatra, e Jenny Lewis faz a jovem Yvonne Rhonda Nottingham, uma garota de 11 anos apaixonada pelo esporte de bastão e bolinha. A atriz Beverly D’Angelo interpreta a cantora Donna, recém-divorciada.

Os dois precisam recomeçar a vida para encontrar a felicidade, em uma trama que se passa em 1957, na Flórida, EUA, e que apesar de parecer se focar no casal, na verdade é a narrativa de uma menina em demonstrar sua determinação em fazer o que acha correto, em dar segundas chances e, claro, mostrar a magia do beisebol.

Raul Julia

Os outros filmes de Raul Julia lançados em 1988 foram o drama O Penitente, a comédia dramática Luar Sobre Parador e o thriller Conspiração Tequila.

Com a resenha de Onassis: The Richest Man in the World (e esse breve comentário a respeito de Trading Hearts), damos início ao ano de 2024 na Maratona Cinematográfica Raul Julia, com resenhas de todos seus filmes e obras audiovisuais (ou quase).

Confira também a Maratona Cinematográfica Jennifer Connelly no blog — são mais de 50 obras que ajudam a explicar o panorama do cinema dos anos 1980 até hoje.

De acordo com o Internet Movie Database de Raul Julia, o ator começou no audiovisual em um episódio de TV da série dramática Love of Life (1951-1980). Em 1968 fez uma participação na série policial N.Y.P.D. (1967-1699), e enfim estreou no cinema com o filme policial Stiletto (1969), em uma participação não-creditada.

Nos anos 1970, teve 12 trabalhos entre TV e filmes. Nos anos 1980, esse número aumentou para 23. O ator morreu em 1994, aos 54 anos, mas fez alguns de seus filmes mais conhecidos foram lançados nessa década. Continue acompanhando o Destrutor para saber mais sobre todos eles.

Abaixo, um vídeo produzido pelo American Masters, que destaca profissionais da arte e cultura nos Estados Unidos. E a rendição deles para o talento de Raul Julia.

Como disse a Helen Fernanda em seu blog Meu Tédio, por sua vez reproduzindo o Vinnie de Raul Julia: “Amanhã é o primeiro dia do resto da sua vida” (uma frase do jogador para a menina). Aliás, o post a respeito do filme que a Helen fez é única que encontrei na internet a respeito do filme, ao menos em PT-BR.

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