Os Caça-Fantasmas é um dos filmes mais legais dos anos 1980, uma mistura adulta de temas de aventura, ficção científica e sobrenatural que opera em cima da comédia.
Os protagonistas não são galãs, são cheios de falha e atuam como funcionários burocráticos no trabalho de caçar fantasmas, assombrações e monstros numa Nova York impiedosa, que não perdoa erros mas que grita por ajuda quando se vê em apuros.
Os personagens de Caça-Fantasmas fumam, fazem piadas inconvenientes e se aproveitam de situações, mas isso é reflexo natural de sua proposta adulta, o que não impediu em nada que o público infantil se apropriasse da obra, que se tornou um marco da cultura pop.
A franquia teve 3 continuações em longa-metragens, duas séries em desenho animado (e uma por fora, bastante oportunista), além de quadrinhos, livros e videogames.
O filme foi dirigido por Ivan Reitman e foi escrito por Harold Ramis e Dan Aykroyd, dois profissionais da comédia nos Estados Unidos e que estrelaram o filme como parte dos protagonistas, junto com Bill Murray, outro ator ouro da comédia americana.
Os três interpretam acadêmicos excêntricos e tem a ajuda de um quarto companheiro na metade do longa, interpretado por Ernie Hudson. O elenco se completa com Sigourney Weaver, Annie Potts e Rick Moranis, outro ator de comédia.
Os Caça-Fantasmas foi distribuído pela Columbia Pictures e lançado nos cinemas dos Estados Unidos em 8 de junho de 1984, e superou o segundo Indiana Jones, perdendo o posto de Top 1 de bilheteria no ano apenas para Um Tira da Pesada, estrelado por Eddie Murphy, que era para estar em Caça-Fantasmas aliás.
O mix de aparato científico-tecnológico em cima de material místico-sobrenatural não era inédito no mundo do entretenimento, mas foi com Os Caça-Fantasmas que isso se tornou um mood popular. Os uniformes dos caça-fantasmas, suas mochilas e canhões de prótons e a armadilha tecnológico de capturar assombrações se tornou icônica.
Eles são bombeiros que apagam o fogo mal-assombrado da cidade grande, uma força burocrática para salvar o homem comum do desconhecido, que pode ser controlado na base da racionalidade e de maquinários.
Mas é o mesmo homem comum que duvida em um primeiro momento, que os detém, que os renega na primeira oportunidade, e o mesmo a quem recorre no último recurso. O perigo do homem comum é sempre a maior ameaça, como fica claro com o burocrata que aparece no filme.
Os Caça-Fantasmas mostram que podemos resolver nossos problemas com esperteza e que o desconhecido pode ser encarado com bom humor, mas que temos que ficar sempre de olho no homem comum ao nosso redor.
Caça-Fantasmas
(Ghostbusters, 1984, de Ivan Reitman)
Os Caça-Fantasmas são os Dr. Peter Venkman (Bill Murray), Dr. Raymond Stantz (Dan Akroyd) e Dr. Egon Spengler (Harold Ramis). No início da trama, os três são professores universitários. Ray e Egon são os mais CDF e Peter é o mais bang — até se insinua para uma moça que estava em um experimento conduzido por ele.
Desde o começo do longa somos apresentados a situações e acontecimentos em que a ciência e o sobrenatural são tratados como trabalho burocrático acadêmico.
Termos técnicos como ectoplásmico, telecinese e taxa de íons são mencionados sempre para falar sobre assombrações e nunca alguma mandinga qualquer. Mas isso não significa que eles estão no controle de tudo.
“Que vamos fazer?” é a primeira pergunta deles quando se deparam um um fantasma real. E falta de controle também se aplica à vida deles. A universidade que os emprega decide cortar todo o financiamento dos experimentos que eles fazem, por acharem inúteis e caros.
“Eu já trabalhei no setor privado, eles querem resultado“, diz Ray, em mais uma prova do humor adulto do longa.
Com os três no olho da rua, Venkman tem uma ideia melhor: montar o próprio negócio. Ele faz Ray hipotecar a casa (modo de financiamento, muito popular nos Estados Unidos, de dar como garantia a casa própria em troco de empréstimos) e partem alugar um local.
Não por acaso, uma sede de bombeiros abandonada numa esquina.
Com Dana Barret (Sigourney Weaver) aparecendo na trama, parece que já se passou um tempo depois da empreitada de Peter, Ray e Egon. Dana é vizinha de Louis Tully (Rick Moranis), um contador baixinho todo problemático, ansioso e hipocondríaco.
A moça vê um cenário aterrador dentro de sua geladeira, um castelo e a voz de um monstro, e depois de ver uma propaganda na TV sobre os Caça-Fantasmas e o trabalho que fazem, decide procurá-los.
A sede dos Caça-Fantasmas tem a secretária Janine Melnitz (Annie Potts) atendendo as ligações (que nunca vem), e parece gostar de Egon. Ele pula fora respondendo pra ela quando é perguntado sobre o que gosta de fazer: “colecionar esporos, fungos e bolor“.
Claramente Egon Spendler parece assexuado no filme, o que fica mais claro aqui. Ele também nunca dá risada de nada.
Por isso quando Dana aparece no local, é Peter quem aparece correndo para atendê-la. “Vou examiná-la. Digo, examinar a casa“. Com isso, Dana já tem um vislumbre do que a espera. Quanto mais conversa com o cientista em sua casa, mais Dana fica irritada. “Você não parece cientista, parece mais um apresentador de TV“, aponta ela.
Mas Peter não desiste de paquerar a moça. “Nós dois temos o mesmo problema. Você“, diz ela.
Um dos momentos mais sensacionais do longa é quando Janine atende a primeira chamada e os Caça-Fantasmas entram em ação pela primeira vez: eles vestindo as roupas, ligando o carro caracterizado Ecto-1 (um Cadillac Miller-Meteor 1959, meio ambulância, meio viatura) que corre veloz pelas ruas de Nova York.
Pra variar, os três quase matam uma faxineira, Ray fuma no serviço e o fantasma Geléia faz sua primeira aparição, que deixa Peter todo lambuzado. Egon já alerta aqui para o grande perigo de cruzar os raios de prótons.
É muito legal ver o aparelho de chão que captura os fantasmas, que serve como motivo visual para sabermos que a caça deu certo: se aparece um caça-fantasma correndo com a caixinha fumegando, é porque deu bom.
Com o sucesso da primeira missão, os Caã-Fantasmas ficam extremamente populares. Aparecem na revista Time, são citados no programa 60 minutos, de Larry King (um dos mais famosos entrevistadores da televisão americana, aqui em sua primeira aparição nos cinemas) e muito mais.
Winston Zeddmore (Ernie Hudson) aparece na metade do filme, graças a um anúncio de emprego que os Caça-Fantasmas colocaram nos jornais.
Ray o contrata na hora. Sua introdução também é a deixa para sabermos o que os caça-fantasmas fazem com as armadilhas cheias: os fluidos, fantasmas e entidades presas vão para uma máquina-receptáculo de armazenagem, que suga o conteúdo dos aparelhos.
Os problemas que Dana teve com sua geladeira retornam, mas dessa vez ela é capturada — aparentemente por um gárgula que ganhou vida, que estava no topo de seu prédio. O vizinho Louis também é pego, em uma divertida cena de festa e perseguição.
Calha de Peter ir visitar Dana e temos mais uma cena hilária de possessão, com ele tentando exorcizar a moça.
O nome Gozer é citados pela Dana possuída pela entidade Zuul, e Egon e Ray determinam suas origens em mitologias antigas babilônicas e sumérias, um perigo bem ancestral e maligno paira sobre NY.
Tudo piora quando burocrata municipal, Walter Peck (William Atherton), desliga à força o receptáculo, acusando os Caça-Fantamas de violar leis ambientais, o aparelho explode, liberando os fluidos fantasmagóricos por toda a cidade. E ele prende os Caça-Fantasmas por isso.
O vazamento provoca um aumento de poder maligno, e além dos fantasmas liberados, outras assombrações começam a assolar NY. O prefeito Lenny (David Margulies) tem que ceder e pede ajuda aos Caça-Fantasmas.
Essa parte do filme fica bem interessante visualmente, com a cidade inteira zoada por fantasmas, e o mood místico new wave maluco quando Gozer (Slavitza Jovan) aparece em carne e osso, é muito horror cósmico, outra temática que Caça-Fantasmas trabalha muito bem em cima da comédia.
“Quando alguém perguntar se você é um Deus, você diz sim“, diz Winston quando eles quase morrem depois de Ray responder errado à entidade. Gozer solta raios mas não os mata, um dos poucos furos de roteiro.
Gozer precisa se materializar na Terra por completo, e sonda as mentes dos caça-fantasmas para encontrar o que eles mais temem. Todos conseguem não pensar em nada, menos Ray.
O cientista pensou em um mascote de uma marca de marshmallow, o Stay Puft. E assim a sétima arte entrega uma das cenas mais emblemáticas do cinema, o enorme monstro caminhando pelas ruas de NY. É épico.
“Até o outro mundo, Ray“, diz Peter no clímax, quando os Caça-Fantasmas são obrigados e cruzar os raios de prótons para ver se conseguem derrotar Gozer.
O divertido e esperado final acontece em meio aos créditos do filme, que teve sua primeira dublagem no Brasil feita pelo estúdio paulista BKS, naquela que é uma das melhores já feitas no mercado.
Caça-Fantasmas 2
Uma continuação de Caça-Fantasmas live-action saiu apenas em 1989, e a despeito de ter sido escrito por Dan Akroyd e dirigido por Ivan Reitman, o longa está a uma vida além de ser tão legal quanto o primeiro.
O filme acontece 5 anos depois do fim do primeiro filme, mostrando que a ideia dos Caça-Fantasmas esbarrou na próprio ato de salvação que eles fizeram ao livrar NY de Gozer, já que eles foram processados pelas autoridades públicas pelos danos na cidade e não receberam o combinado do prefeito Lenny.
Dana teve um filho com outro cara (o qual nem está mais junto), e o garoto se vê em meio a uma tentativa de possessão por conta de um antigo general maligno, Vigo (Wilhem von Homburg).
Ray e Winston animam festinhas infantis onde são defenestrados pelas crianças e Venkman é um apresentador de TV, em um programa sobre paranormalidade. Egon é o único que ainda está em pesquisas, não ficando claro se retornou à universidade.
Há bons momentos, como uma sensacional tirada de Venkman em cima dos assessores do prefeito, quando lhe pergunta sobre o dinheiro que devem à eles. “Ei, eu sou eleitor, você não deveria me adular e mentir para mim?”
Ray vende livros sobre ocultismo em uma livraria, onde todos acabam se encontrando, e decidem ajudar Dana com o caso de seu filhinho. Eles perfuram sem permissão uma rua para investigar um estranho sinal fantasmagórico detectado ali, e causam um blecaute em toda Nova York.
No julgamento, fantasmas de criminosos eletrocutados aparecem diante do Juiz Stephen Wexler (que os condenou), o que faz ele pensar melhor sobre a utilidade dos Caça-Fantasmas.
No pandemônio que se segue no longa, Winston é atropelado por um trem fantasma, o Titanic e todos seus fantasmas aportam na cidade (!) e temos uma Estátua da Liberdade animada (!!), que é “dirigida” pelos Caça-fantasmas (!!!).
Aliás, de novo eles são desacreditados e presos, de novo um burocrata faz isso, interpretado dessa vez por Kurt Fuller, a maioria dos personagens não tomam atitudes racionais e o final é quase o mesmo do filme original.
Os Caça-Fantasmas 2 não é uma boa continuação e não precisaria ter sido feita, com até os envolvidos, incluindo os atores, também pensando o mesmo.
A construção de Caça-Fantasmas
A ideia do filme surgiu da fascinação de Dan Aykroyd por assuntos paranormais, e foi concebida para ser estrelada por ele mesmo e seu melhor amigo na época, John Belushi, ambos atores do programa de TV Saturday Night Live, um dos maiores expoentes de humor dos EUA.
Mas a história original escrita por Aykroyd era bem diferente do que vemos na tela. Os Caça-Fantasmas se passaria num futuro próximo, onde o trabalho de caça fantasmas era lugar comum, tal qual policiais da SWAT, bombeiros ou exterminadores de pragas.
Dan e Belushi seriam apenas dois desses trabalhadores, que teriam um trabalhão danado quando 50 monstros gigantes aparecem para detonar várias cidades, inclusive em outras dimensões do tempo e espaço.
O Monstro de Marshmallow seria um desses monstros. Havia um papel também para Eddie Murphy, que seria um ex-militar e que ficaria lambuzado por causa do Geleia na primeira missão dos Caça-Fantasmas.
O roteiro de Akroyd seria caríssimo de filmar, mas quando Ivan Reitman aceitou dirigir o filme para a Columbia Pictures, que ia produzir o filme, Harold Ramis, também escritor, deu as aparadas necessárias para que fosse um produto filmável.
Ramis reduziu o escopo, centrou a ação apenas em NY, fez uma história de origem e desenvolveu outro personagem, Egon Splenger, que sacou na hora que apenas ele poderia interpretar.
Reitman já tinha vários trabalhos no cinema. Ele tinha sido produtor de filmes como Clube dos Cafajestes (1978), Recrutas da Pesada (1981) — que também dirigiu –, e Heavy Metal – Universo em Fantasia (1981).
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Infelizmente, John Belushi morreu de overdose em 1982, antes de Caça-Fantasmas ser filmado, e ele nunca pode interpretar Peter Venkman. Eddie Murphy já tinha assinado para fazer Um Tira da Pesada.
John Candy chegou a ser considerado para o papel de Louis, mas não rolou também. Apesar dele não ter aparecido no filme, o ator está no videoclipe da canção-tema, Ghostbusters. Candy é amigo de longa data de Rick Moranis e Hamis, com os três tendo trabalhado juntos em Second City TV (1976), popular programa de humor do Canadá.
Candy também trabalhou junto com Bill Murray e Harold Ramis em Recrutas da Pesada (1981), com Dan Aykroyd em As Grandes Férias (1988), Os Irmãos Cara de Pau (1980) — e que tem o John Belushi –, e 1941: Uma Guerra Muito Louca (1979), e com Annie Potts em Quem é Harry Crumb? (1989).
Durante toda a produção de Caça-Fantasmas, os envolvidos estavam com um pé atrás com o nome. Ghostbusters era o título final, com o que seguiam e desejavam, mas era sabido por todos que já havia um produto audiovisual com esse nome, um seriado live-action lançado na TV americana em 1977, The Ghost Busters, chamado no Brasil de Trio Calafrio, uma produção dos estúdios Filmation, que pertencia ao estúdio de cinema Universal Pictures.
Frank Price era o presidente da Columbia Pictures quando Os Caça-Fantasmas estava sendo filmado, e antes dele ser lançado nas telonas, o velho tinha deixado a empresa e se tornado presidente da Universal.
E apesar do filme Ghostbusters e o seriado Ghost Busters não terem exatamente as mesmas grafias, foi apenas a presença de Price na cadeia de comando que permitiu que o nome original do filme de Dan Akroyd e Ivan Reitman visse a luz do dia com o nome Ghostbusters, e não Ghostbreakers, que era a alternativa que ninguém queria ter que usar.
O final do longa, com o cruzamento de raios, foi decidido de última hora, na parte do desfecho, que ainda não tinha sido escrito. A conversa de Egon no início do filme sobre o perigo de cruzar os raios de prótons foi feito depois, para que se encaixasse naturalmente na trama.
O personagem de Winston, por não ter mais Eddie Murphy escalado, teve sua participação bastante reduzida. É por isso que ele entra apenas na metade do filme. Isso sempre foi motivo para que os fãs de Winston ficassem chateados por Ernie Hudson não ter tanto destaque quanto seus colegas.
A voz demoníaca de Dana quando está possuída por Zuul é do diretor Ivan Reitman, e para a atriz que interpretou Gozer, a voz foi de Paddi Edwards.
Mesmo o tom adulto com que Caça-Fantasmas saiu, podia ter sido mais pesado. A porta de Venkman estava cheia de obscenidades escritas, mas ela foi limada por Reitman, que preferiu “Venkman vá pro inferno!”.
Ghostbusters, a trilha sonora
A trilha sonora incidental do filme foi composta por Elmer Bernstein, mas foi a canção-tema Ghostbusters que fez sucesso. “Who you gonna call? Ghostbusters!” (“Quem você irá chamar? Caça-Fantasmas!“, em tradução livre) e “I ain’t ‘fraid of no ghosts” (“Eu não tenho medo de fantasmas“), duas frases marcantes na música, interpretada por Ray Parker Jr., foi um dos maiores hits do mercado na época.
Ghostbusters, a música, ficou no número 1 na parada da Billboard por três semanas e Ray Parker Jr. teve uma nomeação ao Oscar na categoria de Melhor Canção Original.
O vencedor foi I Just Called to Say I Love You, canção do filme A Dama de Vermelho, uma comédia romântica escrita, dirigida e estrelada por Gene Wilder, com Kelly LeBrock. Os Caça-Fantasmas também concorreram no Oscar de Efeitos Especiais, mas Indiana Jones e o Templo da Perdição ganharam essa.
O videoclipe da música, lançado na recém-criada MTV, se tornou uma das mais poderosas armas da indústria musical para sedimentar o formato. Ele também foi dirigido por Ivan Reitman, e mostra uma bela jovem (Cindy Harrell) assombrada por um fantasma-cantor, interpretado por Parker.
Grande parte se dá em um quarto neon com temas industriais, mas há cenas do filme, Ray com os 4 Caça-Fantasmas andando pelo Times Squar, e participações especiais de outros artistas, como Chevy Chase, Irene Cara, John Candy, Nickolas Ashford, Melissa Gilbert, Jeffrey Tambor, George Wendt, Al Franken, Danny DeVito, Carly Simon, Peter Falk e Teri Garr, todos falando a palavra “ghostbusters!”.
Importante dizer que o cantor Huey Lewis moveu um processo contra Ray Parker Jr. por plágio, alegando que a canção fora roubada de I Want a New Drug, hit do artista em 1983.
E não foi à toa que Parker teve que fazer um acordo extra-judicial com Lewis. As músicas se parecem mesmo.
Ironicamente, Lewis foi sondado para fazer parte da trilha sonora e compor a canção-tema para o filme, mas recusou por compromissos com outro filmasso dos anos 80, De Volta para o Futuro.
Outro processo de plágio envolvendo o filme do Caça-Fantasmas também envolveu o icônico logo. A editora Harvey Comics, dona do fantasminha camarada Gasparzinho, afirma que o logo se parece demais com um de seus personagens, Fatso. Eles perderam o processo.
Caça-Fantasmas, os desenhos animados
O fato das crianças amarem um grupo de cientistas normais e atrapalhados lutando contra ameaças sobrenaturais fez os produtores da Columbia executarem os planos seguintes pensando no público infantil. É por isso que os produtos seguintes apresentam uma mudança de tom e tema.
O primeiro que foi lançado após o filme original foi uma série de desenho animado, Os Caça-Fantasmas (1986-1991), chamado originalmente de The Real Ghostbusters.
O desenho foi produzido pela Sony Pictures Television, DiC Entertainment e Coca-Cola, e foi exibido originalmente pela ABC. No Brasil, foi exibido pela Rede Globo, e foi um sucesso.
Foram 7 temporadas com 147 episódios. Todos os personagens retornaram — Peter, Egon, Ray e Winston, mais a secretária Janine. Os brinquedos foram lançados pela Kenner e foram também um sucesso de vendas.
Inclusive o fantasminha verde Geléia (Slimer no original) se tornou fixo no programa, e ficou tão popular que seu nome foi incorporado ao desenho: Slimer and The Real Ghostbusters.
O motivo do “The Real” (“Os Verdadeiros“) no título é salutar. Ele foi adicionado depois de um briga judicial com a Filmation, que por conta do sucesso do filme Os Caça-Fantasmas (1984), correu produzir uma série animada para aproveitar o nome The Ghost Busters de seu seriado setentista, que no fim ficou grafado igual ao filme da Columbia, Ghostbusters mesmo.
Foram 65 episódios, lançados entre 1986 e 1988, e ela é uma continuação direta do seriado live-action Ghost Busters/Trio Calafrio, já citado. Eles mostravam as aventuras dos filhos dos protagonistas originais.
Jake, Eddie e o gorila Tracy eram “Os Exterminadores de Fantasmas” e lutam contra uma horda de fantasmas e assombrações liderada pelo terrível Líder Mau.
A Filmation é a mesma produtora que criou os desenhos animados do He-Man e She-Ra, e Ghostbusters, traduzido aqui como Os Fantasmas, foi transmitido no Brasil em TV aberta pelo SBT entre os anos de 1988 e 1994.
O fato de ter dois desenhos animados com o mesmo nome deve ter causado alguma confusão entre a audiência, mas a molecada deve ter adorado os dois.
Muito do que foi apresentado no desenho animado dos Caça-Fantasmas foi usado para o segundo filme live-action lançado em 1989, como o novo jeitão perua de Janine e o Geléia aparecer com mais destaque. Como Louis ainda teve destaque no segundo longa, ele foi incorporado depois também no desenho animado.
Mais de 10 anos depois, houve mais um desenho animado dos Caça-Fantasmas, Extreme Ghostbusters (no Brasil, Os Novos Caça-Fantasmas), lançado em 1997, com 40 episódios.
Já na onda dos anos 90 de ser mais radical, a trama trazia apenas Egon, que liderava novos jovens que assumiram os macacões e as armas de prótons dos Caça-Fantasmas.
Caça-Fantasmas e o videogame que é o “terceiro filme”
Houve também dezenas de histórias em quadrinhos por diversas editoras, incluindo a Marvel, e crossovers com séries como Arquivo X (!) e Tartarugas Ninjas (!!).
No mundo dos videogames, a softhouse Activision lançou Ghostbusters, um jogo de ação/estratégia para os computadores Commodore 64, ZX Spectrum e depois para o console de 8-bits da Nintendo, o NES, chamado no Brasil de Nintendinho. O jogo saiu no mesmo ano do filme, e replica as principais cenas do filme.
Em 1990, um ano depois de Caça-Fantasmas 2, a Sega lançou Ghostbusters, jogo de aventura e shoot ‘em up exclusivo para seu console de 16-bits Mega Drive.
A história é original, e envolve fantasmas aterrorizando uma cidade após um terremoto. Apenas três dos caça-fantasmas podem ser selecionados: Peter, Egon e Ray, e alguns monstros dos filmes estão presentes, como o Stay Puft.
O videogame — e produto em si — mais proeminente da franquia Caça-Fantasmas foi Ghostbusters: The Video Game, jogo de ação lançado em 2009 para os consoles Nintendo DS, PC, PlayStation 2, PlayStation 3, Wii, Xbox 360 e PSP pela Atari, e que também tem versões para PC, PlayStation 3 e Xbox 360 pela Terminal Reality.
O jogo tem elementos dos dois filmes, os personagens Ray, Egon, Peter e Winston (visual capturado dos atores originais), cenários e aparelhos vistos nos longas, consultoria de Dan Akroyd e Harold Ramis no roteiro, vozes de vários atores originais e até a possibilidade de criar um caça-fantasma próprio.
Akroyd afirma que o jogo Ghostbusters: The Video Game é, com efeito, o terceiro filme dos Caça-Fantasmas.
O game foi um sucesso e teve uma versão remasterizada lançada em 2019, lançada para computadores Microsoft Windows, Nintendo Switch, PlayStation 4 e X-Box One.
Vale destacar que as séries de desenho animado também tiveram seus videogames próprios.
Reboot e mais um terceiro filme
Em 2016, a franquia Caça-Fantasmas retornou ao cinema, no filme Caça-Fantasmas (Ghostbusters, também chamado de Ghostbusters: Answer the Call), exatamente como o primeiro filme, pois foi um reboot — manobra comercial para recomeçar uma marca do zero, a fim de despertar novos interesses de público e venda.
Dirigido por Paul Feig, escrito por ele com Katie Dippolde, e estrelado pelas atrizes Leslie Jones, Melissa McCarthy, Kate McKinnon e Kristen Wiig, acompanhamos as aventuras dessas mulheres como Caça-Fantasmas durante uma invasão de assombrações em Manhattan.
Sem ligações com os produtos anteriores, com apenas algumas homenagens aos atores antigos e uma referência aqui e ali, ele não se sustentou, e foi um fracasso.
Em 2020, ano da pandemia de covid-19, era para ter sido lançado o filme mais recente da franquia Caça-Fantasmas, mas apenas no segundo semestre de 2021 que ele saiu.
Caça-Fantasmas: Mais Além (Ghostbusters: Afterlife) tem uma nova turminha de jovens que descobrem o Ecto-1 abandonado em uma cidade rural, e que acabam entrando em contato com os Caça-Fantasmas originais.
O filme é dirigido por Jason Reitman, o filho do diretor original, e contou com o retorno de todos os personagens e seus atores: Bill Murray como Peter, Dan Akroyd como Ray, Ernie como Winston e Annie como Janine.
Menos Harold Ramis, que morreu em 2014. Mas mesmo seu Egon Spengler está no filme, em uma participação pra lá de especial. Rick Moranis também não retornou, já que ele está aposentado da atuação.
Até mesmo Gozer retornou, a velha nova ameaça que todos tem que enfrentar. Dessa vez o demônio é interpretado pelas atrizes Emma Portner (espírito) e Olivia Wilde (carne e osso), com vozes da Shohreh Aghdashloo. Até mesmo o videogame Ghostbusters: The Video Game é referenciado, já que Winston agora também é um doutor PhD, condição citada no jogo.
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