SEXTA-FEIRA 13 | Todo dia é sexta-feira em Crystal Lake

Bem-vindo a Crystal Lake, onde todo dia é sexta-feira 13.

Jason Voorhees, o assassino da máscara de hockey, o superzumbi definitivo, o verdadeiro imortal morto-vivo fodão mais encardido de todos os tempos na cultura pop.

A sexta-feira 13 está encalacrada em nosso imaginário popular, uma data qualquer com tradição cretina de azar que vem de tempos imemoriais, que vão de Frigga, mulher de Odin, na mitologia nórdica, a Santa Ceia de Jesus Cristo, alcança o número de bruxas em um clã típico do fim do século XVIII, e transpassa mitos e histórias de sem-número de diversas outras referências de variadas culturas.

Sexta-feira 13

Vamos focar na mais legal, aqui, a cinessérie Sexta-feira 13, que em 9 de maio, completou 40 anos de mortes sanguinárias, que pavimentaram seu prestígio no gênero de slasher na indústria do cinema.

A historiografia americana de psicopatas com faca que matam qualquer um que cruzem seu caminho nas telonas é rica e variada, e Jason é mais um bom exemplar.

Sexta-Feira 13 – que conta com dez filmes, um crossover, um reboot e uma série de TV – foi criada na intenção de pegar carona no sucesso que o filme Halloween, de John Carpenter, de 1978.

Assassinos seriais matando geral se tornaram tão febre que criou um gênero à parte no cinema, e que leva o nome de slasher. Jason se tornou um dos expoentes máximos da cultura pop nesse estilo.

 

Qual será que foi a bruxaria que a senhora Pamela Voorhees jogou no filhote, hein? Foi poderosa, se levarmos em conta que um exemplar do Necronomicon, livro escrito pelo árabe louco Abdul Alhazared, cheio de escritos e feitiços satânicos, foi achado na casa deles, e que Jason sobrevive a todo tipo de ferimento e todo tipo de filme com roteiro fuleiro lançado com ele.

O livro fictício aparece com frequência em diversos produtos de horror da cultura pop, e tem origem nobre nos livros de H.P. Lovecraft, o escritor-ícone do estilo.

Sexta-feira 13
(Friday the 13th, 1980,
de Sean S. Cunningham)

O primeiro filme, contribuição do cineasta Sean S. Cunningham para a humanidade, começa em 1958, num acampamento de férias chamado Crystal Lake, com a voz do Seu Madruga (Carlos Seidl) fazendo as honras de apresentação na versão dublada clássica.

A primeira morte é hilária, com a menina fazendo caras e bocas. Sério, a cena de close em seu rosto pouco antes de surgir o logo do filme é de matar…de rir.

O filme avança e estamos em 1980, numa sexta-feira, 13 de junho.

Jovens monitores estão no acampamento, que está sendo reaberto após as mortes em 58, e eles – adivinhem só – começam a ser assassinados. Vários trechos do filme são visualizados do ponto de vista do assassino, revelado apenas na parte final do filme, numa tentativa de criar ainda mais suspense.

Aqui se estabelecem diversos aspectos recorrentes na cinessérie do Jason e no gênero slasher: o local da matança sempre estar rodeado de garotas e uma/várias delas sempre querer bang; fazer sexo e morrer; dizer que vai sair e já volta e morrer; carros que nunca dão a partida quando precisam; e claro, o acessório “criativo” mais usado do estilo: peitinhos, peitinhos e mais peitinhos balançando — e nunca um equivalente para o público feminino.

A primeira pelada do filme é a Marcie (Jeaninne Taylor). Ela é namorada de de um carinha, interpretado por um jovem ator Kevin Bacon.

Ele ainda teve tempo de transar com ela antes de morrer pelas mãos do monstro — a temível….Pamela. Sim, o primeiro assassino do primeiro filme Sexta-Feira 13, de 1980, é Pamela Voorhees (Betsy Palmer), a mãe de Jason, uma velha psicopata que quer vingar o filho morto anos atrás.

Sexta-feira 13
O primeiro filme de Sexta-feira 13 tem a mãe de Jason, Pamela, como a assassina protagonista da trama

Neste primeiro filme, Jason era deformado por nascença e morreu afogado ainda menino no lago do acampamento.

O cara só surge no fim do filme, ainda menino, numa cena sem pé nem cabeça. Por falar em cabeça, a Pamela morre decapitada pela única sobrevivente, a certinha Alice (Adrienne King), a qualidade inerente para escapar com vida dessa cinessérie.

Depois, a moça fica à deriva no lago do campo. É aí que Jason aparece, puxando ela para o fundo do lago.

Mas depois Alice acorda no hospital, deixando em dúvida se o ataque de Jason foi mesmo um sonho ou realmente aconteceu.

A cena final é um close no lago e a música clássica do filme. Detalhe interessante é que Pamela diz que aquele dia — 13 de junho — seria o aniversário de Jason. Sexta-feira 13 foi lançado nos cinemas em 9 de maio de 1980, com roteiro de Victor Miller e Ron Kurz.

Miller batizou o filho de Pamela em homenagem a seus dois filhos Josh e Ian. No roteiro, o nome original seria Josh, e não Jason. Melhor prova que o nome certo faz toda a diferença.

Sexta-feira 13 foi lançado nos cinemas ao mesmo tempo que a obra-prima do horror O Iluminado, dirigido pelo mestre do cinema Stanley Kubrick, a partir do livro de outro escritor-ícone do terror, Stephen King.

Sexta-Feira 13 – Parte 2
(Friday the 13th Part II, 1981,
de Steve Miner)

Jason se torna um ícone do terror slasher neste filme, que estabelece o padrão a ser repetido em todos os próximos longas.

Jason “volta do mundo dos mortos” e começa a matar todo mundo que quer dar uma trepada. Está com um saco na cabeça e é mostrado como adulto.

Aparentemente, ele não morreu afogado criança, e vivia todo esse tempo numa cabana perto do acampamento de Crystal Lake.

Sexta-feira 13
Kirsten Baker, em Sexta-Feira 13 – Parte 2

Sexta-Feira 13 – Parte 3
(Friday the 13th Part III, 1982,
de Steve Miner)

Longa-metragem originalmente filmado em 3D (e você aí pensando que foi Avatar que começou isso em 2009, hein?).É

aqui que Jason arruma sua máscara de hockey, depois de matar um gordo pra lá de idiota. Como ele voltou da ‘morte’ do segundo? Ninguém sabe nem explica.

O ícone gráfico surgiu a partir da máscara de goleiro do antigo time de hockey Detroid Red Wings, e muda constantemente durante os longa-metragens.

Sexta-Feira 13 – O Capítulo Final
(Friday the 13th: The Final Chapter, 1984,
de Joseph Zito)

Steve Miner pula fora antes de “concluir” a saga. O filme conta com participação do ator Crispin Glover (que depois faria o McFly pai no De Volta Para o Futuro).

Um garotinho famoso mata o Jason, que volta sem nenhuma explicação da morte que sofreu no anterior. Quem é o garotinho? Corey Feldman, figurinha carimbada em filmes-molecada dos anos 80 que alimentavam a Sessão da Tarde.

O quarto filme tem o subtítulo de Capítulo Final para enganar quem? Lógico que não acaba aqui, apesar do nosso zumbi favorito morrer de novo aqui.

Sexta-Feira 13 Parte V – Um Novo Começo
(Friday the 13th: A New Beginning, 1985,
de Danny Steinmann)

O garoto que ‘matou’ Jason no filme anterior cresceu e está internado numa instituição de tratamento mental, onde tem que lidar com um assassino “inspirado” por Jason. O Jason Vorhees de verdade? Nem aparece. Vai entender esses produtores malucos…

Sexta-Feira 13 Parte VI – Jason Vive
(Friday the 13th Part VI: Jason Lives, 1986,
de Tom McLoughlin)

O mortão Jason ganha vida com um raio, no melhor estilo Monstro de Frankenstein, graças ao moleque do filme anterior, que teve a ideia genial de desenterrar o cadáver para dar fim (já não era um fim?) ao corpo.

Acontece que chove e cai o tal raio na cova de Jason, revivendo o nosso querido zumbi assassino maluco, que sai matando todo mundo que encontra.

Sexta-Feira 13 Parte VII – A Matança Continua
(Friday the 13th Part VII: The New Blood, 1988,
de John Carl Buechler)

Melhor subtítulo da cinessérie. Aqui, Jason enfrenta uma garota com poderes psíquicos (!), que tem mais destaque no filme que o Jason (!!).

Inclusive, a garota recebe mais atenção no quesito desenvolvimento de personagens, a ponto dela liquidar Jason, ao usar seu poder mental em todo o lago de Crystal Lake, misturando lembranças, seu pai morto e o próprio Jason (!!!).

Sexta-Feira 13 Parte VIII – Jason Ataca Nova York
(Friday the 13th Part VIII: Jason Takes Manhattan, 1989,
de Rob Hedden)

Um dos piores filmes do Jason. Descobrimos que Crystal Lake tem ligação com o Oceano Atlântico (!?).

Descobrimos que Jason nada mais que um tubarão e sabe se agarrar em âncoras em viagens longas.

Descobrimos que um navio é mais fácil de se guiar do que jogar Mario Kart 64.

Descobrimos que Jason salva donzelas em perigo de estupro de bandidos da cidade grande.

Descobrimos que Jason só quer matar quem quer, e não quem atravessa seu caminho, o que, no caso, estando em Nova York, maior cidade do planeta, é um tremendo de um azar.

Jason Vai Para o Inferno – A Última Sexta-Feira
(Jason Goes to Hell: The Final Friday, 1993,
de Adam Marcus)

O nono filme assume um teor de comédia, ignorando por completo o final do filme anterior. Temos a famosa cena em que a luva de Freddy Krueger carrega a máscara de Jason para o inferno, o que deixou os fãs ansiosos para Freddy Vs. Jason desde aquela época.

Mas foi aqui que resolveram criar uma família para o Jason. Sim, ele tem irmã. Sim, ela é ‘normal’.

E aqui, o Jason, o maior assassino serial sobrenatural da face do Planeta Terra, é apenas um lagartinho, um calango, uma larva. Jason, uma larva-lagarto (hey, isso é um trava-língua! repita rápido!).

Jason X
(Jason X, 2001,
de James Isaac)

Quase 10 anos depois, foi lançado um novo Sexta-Feira. No espaço. Sim, o espaço sideral. Tem até uma ponta do diretor David Cronenberg, diretor de A Mosca, Naked Lunch, Marcas da Violência e diversos outros.

O longa passa longe de passar a ideia de um terror slasher-space. Com personagens rasos, a pior androide da história e soldados mais panacas que os Bananas de Pijama, o Jason X é um horror. De ruim. Deviam é ter feito a continuação com Freddy de uma vez mesmo.

Freddy X Jason
(Freddy vs. Jason, 2003,
de Ronny Yu)

Jason finalmente retorna para um filme, dessa vez em um crossover com outro ícone do cinema de terror: Freddy Krueger.

Este filme continua os eventos de Jason Vai Para o Inferno – A Última Sexta-Feira, e é considerado como a décima-primeira sequência da franquia Sexta-Feira 13 e a oitava de A Hora do Pesadelo.

E se tornou o último de ambas as franquias, antes de elas serem reiniciadas em reboots em 2009 e 2010, respectivamente.

O roteiro privilegia as artimanhas e esperteza de Freddy em cima de Jason, que claramente é intelectualmente inferior ao seu “inimigo”. A expectativa para esse filme foi grande, e a decepção também.

A coesão de Sexta-feira 13

É interessante notar a completa falta de coesão dos roteiros, que ignoram, mudam e reinventam a mitologia do zumbi mais querido de todos os tempos.

Não procure explicação lógica para os acontecimentos lineares dos filmes. Nunca dá pra saber o que levar em consideração.

Vamos lá: tem Jason criança deformada saltando do lago para agarrar a personagem Alice no filme original; tem Jason adulto horroroso pulando pela janela para pegar a mocinha Ginny no segundo filme; tem Jason (finalmente com máscara de hockey) com resistência sobre-humana no terceiro filme e sobrevivendo a ferimentos fatais; tem o Jason manézão que morre para uma criancinha no quarto filme; tem o, quer dizer, no quinto nem tem ele!; tem o Jason verdadeiramente sendo revivido no sexto filme (ué, como ele voltou no quarto?!); tem o sétimo que o Jason afunda de novo em Crystal Lake; tem o Jason que morre nos esgotos de Nova York regredindo a sua forma de menino (não deformado) no oitavo filme; e tem o nono, que o Jason vira um calango possuidor de corpos.

Dessa maneira, não há outra conclusão a não ser de que muitos levam a história pelo aspecto de que o início de um novo capítulo cancela o final do anterior.

REBOOT / REMAKE/ RESTOLHO

Um novo Sexta-feira 13 apareceu nos cinemas em 2009. O filme ficou por conta de Marcus Nispel.

A história começa com o confronto entre Alice e Pamela, mãe de Jason, adicionando um detalhe que não havia no primeiro filme – Jason presenciou a decapitação da sua genitora. Seguimos depois para o ‘presente’, onde um grupo de jovens vão para Crystal Lake.

Eles morrem, e depois um outro grupo surge. É nesse que tem a presença do protagonista, interpretado pelo ator Jared Palacecki (o Sam, da série interminável Sobrenatural, que estava bombando na época), que procura o paradeiro da irmã, que estava no primeiro grupo.

Os produtores afirmaram na época que o filme não estaria recontando a história do original, mas sim juntando as histórias do quatro primeiros filmes em um só.

Nispel filma várias homenagens a mortes já conhecidas nos filmes anteriores. Não fez o sucesso esperado, e a franquia morreu que nem as vítimas de Jason.

Sexta-feira na TV

A franquia do cinema cresceu tanto que gerou uma série de TV. E que não tinha o Jason. Tinha uma loja de antiguidades como protagonista.

Sério, não dá vontade do Jason existir de verdade só para matar quem teve esse ideia? A desgraça se chamava Sexta-Feira 13 – O Legado, de 1987, e teve inacreditáveis 72 episódios. Chegou a passar por aqui como Loja do Terror, entre 1988 e 1991 na Rede Globo, e depois reprisado na TV Gazeta entre 1990 e 1992, e em VHS pela CIC Vídeo.

Como qualquer produto da cultura pop, Sexta-Feira 13 gerou outras formas de conteúdo, como livros e HQs, e até mesmo videogames, com muitas diferenças de qualidade. Há várias histórias paralelas que enriquecem o pano de fundo, o passado de personagens e resoluções dos longas, expandindo o entendimento.

Assim como fodendo ainda mais as ilógicas tramas que Jason vive. A mitologia é expandida com esses produtos, e ajudam a manter viva a chama da morte que Jason provoca.

Em 2017, rolou boatos sobre um novo projeto. Até com o uso do formato found-footage, aquele mesmo de A Bruxa de Blair. Mas morreu também.

Enquanto isso, Jason espera.

Espera retornar, e matar mais imbecis desavisados e roteiristas cretinos de desgosto.

Oremos.

Sexta-feira 13

/ LIVRO. A editora Darkside lançou um livro essencial para quem é fã da franquia Sexta-Feira 13 : “Sexta-feira 13 [Arquivos de Crystal Lake] – Bloody Edition: Jason Voorhees está de volta, mais cheio de sangue de que nunca“, que disseca os segredos por trás do filme de 1980, que deu origem ao assassino com a maior contagem de corpos do cinema. O livro traz fotos inéditas e centenas de depoimentos dos atores, membros da equipe e de fãs que também se destacaram no mundo do terror. Há entrevistas com Kevin Bacon, o diretor Sean S. Cunningham, a donzela Adrienne King, mamãe Betsy Palmer e os rivais Wes Craven e Robert Englund têm a dizer sobre esse clássico. O prefácio é assinado pelo mestre Tom Savini, responsável pela maquiagem e os efeitos especiais de qualquer bom filme sanguinolento que se preze.

De acordo com o site IMDb, Jason matou 167 pessoas em seus 12 filmes.
O segundo longa SÓ tem 10 vítimas.
Mas ele massacrou 28 azarados e azaradas em Jason-X

/// TODAS AS MORTES. No vídeo abaixo, você pode ver todas as mortes compiladas.

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