SONG 2 | Woo-hoooooooooo, when I feel heavy metal! (and play FIFA 98)

FIFA: Road to World Cup 98, ou simplesmente FIFA 98, é um videogame de futebol, licenciado diretamente da FIFA, a entidade máxima do esporte mais popular do mundo, e Song 2, uma música da banda britânica de rock Blur, é a trilha sonora de abertura do game.

Curta, acelerada, suja e explosiva, em uma apresentação bem dinâmica (a despeito dos gráficos datados hoje em dia), ela combinou muito bem com o jogo. Não que ela precisasse estar aqui para estourar, mas é mais uma das provas de seu poder.

Esse game, produzido pela EA Sports, foi inspirado na Copa do Mundo de 1998 e foi lançado para os consoles PlayStation (na estreia da Sony no mundo dos 32-bits), Sega Saturn (o 32-bits da casa do Sonic) e o Nintendo 64 (console de iguais bits da dona do Mario), além de outras versões para computadores Windows e adaptações para Super Nintendo, Game Boy (ambos da Big N) e Mega Drive (da Sega). Apesar do nome FIFA 98, o jogo foi lançado em 1997.

Capa de FIFA 98 para o PlayStation

Pelo fato do N64 ser em cartucho, tal qual seus irmãos mais velhos e menores SNES e Mega (ambos de 16-bits) e o GameBoy ter menos ainda capacidade sonora, não há Song 2 na abertura. Por sua vez, PS1 e Saturn (e a versão de PC) trazem todo o impacto sônico que uma música como essa proporciona.

Arte promocional da Nintendo para o seu FIFA 98

O Blur sempre orbitou o mundo do britpop e rock alternativo. Formada em 1989, em Londres, o grupo é formado pelo vocalista Damon Albarn, o guitarrista Graham Coxon, o baixista Alex James e o baterista Dave Rowntree.

A década de 1990 testemunhou uma explosão de bandas britânicas que celebravam a cultura e a identidade do Reino Unido através da música. E o Blur foi um dos principais expoentes desse movimento.

A banda lançou uma série de álbuns que culminou em 1997 com o lançamento de um chamado simplesmente Blur (também conhecido como “The Blur Album“). Caracterizado por uma abordagem mais experimental e madura, o disco marcou uma mudança na sonoridade da banda, afastando-se do som puramente britpop. A Song 2 caracteriza isso muito bem.

Song 2

Woo-hoo
Woo-hoo
Woo-hoo
Woo-hoo
I got my head checked
By a jumbo jet
It wasn’t easy
But nothing is
No
When I feel heavy metal
(Woo-hoo) And I’m pins and I’m needles
(Woo-hoo) Well, I lie and I’m easy
All of the time but I’m never sure why I need you
Pleased to meet you
I got my head done
When I was young
It’s not my problem
It’s not my problem
When I feel heavy metal
(Woo-hoo) And I’m pins and I’m needles
(Woo-hoo) Well, I lie and I’m easy
All of the time but I’m never sure why I need you
Pleased to meet you
Yeah, yeah
Yeah, yeah
Yeah, yeah
Oh, yeah

A discografia do Blur

Leisure (1991)
Modern Life Is Rubbish (1993)
Parklife (1994)
The Great Escape (1995)
Blur (1997)
13 (1999)
Think Tank (2003)
The Magic Whip (2015)
The Ballad of Darren (2023)

Em junho de 1996, o Blur tocava em Dublin, na Irlanda, ainda com músicas do disco The Great Escape, onde apresentaram pela primeira vez Song 2 (além de Chinese Bombs). Ambas foram compostas após um encontro entre Damon e Stephen Malkmus, da banda Pavement. Vale dizer, a letra do hit do Blur nunca fez muito sentido. Ela tem o clássico senso de humor da banda, que utiliza elementos da música grunge quase como uma sátira, em uma parede sonora rápida de instrumentos duplicados e distorcidos.

Song 2
Blur no videoclipe de Song 2

Embora o Blur não fosse originalmente associado ao gênero do grunge, Song 2 incorporou esses elementos de distorção de guitarra, vocais emotivos e uma atitude punk que se alinhava com os temas do grunge e do rock alternativo.

No entanto, tudo poderia ter sido diferente. No podcast Sodajerker, Damon revelou que a demo original de Song 2 era uma bossa nova (!). A versão que ganhou o mundo surgiu de uma ideia do Coxon, que sugeriu as mudanças estéticas de velocidade e de som.

Ela foi lançada originalmente como o 2º single do disco, em 7 de abril de 1997, há 25 anos. A faixa foi originalmente apelidada de “Song 2” como um título provisório que representava sua posição na lista de faixas do Blur, e o nome acabou por permanecer, já que a canção tem 2 minutos e 2 segundos de duração, além de se apresentar com 2 versos e 2 refrões.

Song 2
A capa do single de Song 2

Sua curta duração foi uma resposta irônica e encurtada ao padrão das músicas de sucesso da época. Sendo tão curta, Song 2 desafiou a tendência de faixas mais longas e elaboradas, oferecendo uma alternativa mais direta e energética. Isso influenciou uma abordagem mais despojada e acessível em muitas músicas subsequentes.

E foi um sucesso. Levou quase uma década (e 5 álbuns) para fazer com que um single do Blur atravessasse o Oceano Atlântico e arrebentasse no mercado americano. Embora o Blur já fosse conhecido antes do lançamento de Song 2, a música atraiu uma nova base de fãs devido à sua acessibilidade e apelo mais amplo. Isso ajudou a expandir a audiência da banda e aumentou sua visibilidade global.

FIFA 98

No game você escolhe um time para disputar a fase classificatória para uma tão sonhada vaga para a Copa da França. São 172 times, em 6 zonas diferentes. No final apenas 30 serão classificados (obedecendo à regra das Eliminatórias na época, o Brasil, campeão, e a França, país-sede, estavam dispensados de disputar as eliminatórias).

O jogo possui 5 modalidades diferentes: Copa do Mundo de 98, Amistosos, Liga, Pênalti e Treino. Assim como seu antecessor (FIFA 97), ele também trouxe a modalidade Indoor Soccer Mode (tipo futebol de salão/futsal, com algumas regras diferentes. Aliás, última vez que a franquia teve esse modo).

Contracapa do game para PS1

FIFA 98 também foi o primeiro jogo da série a possuir trilha sonora licenciada — por isso a Song 2 e as outras presentes. Aliás, ela não é a única música presente no jogo. Há 4 do The Crystal Method: More, Now Is the Time, Keep Hope Alive e Busy Child. O Method é um grupo americano de música eletrônica formado por Ken Jordan e Scott Kirkland (junto com Underworld, Orbital, The Prodigy e The Chemical Brothers, foram os pioneiros da música eletrônica big beat). FIFA 98 também tem a Hugga Bear, uma música do Electric Skychurch, banda de trance eletrônico/ácido de Los Angeles.

Desde então, a franquia da EA Sports começou a sempre utilizar músicas em seus jogos. A sequência, FIFA 99, trouxe a The Rockafeller Skank, do Fatboy Slim, e até brasileiros entraram: FIFA Football 2004 teve Deixa a Vida Me Levar, do Zeca Pagodinho (1ª vez que entrou artistas nacionais). Song 2 chegou até mesmo a retornar, quando apareceu no trailer de FIFA 17 divulgado durante a Gamescom (feira de games na Alemanha), revivida em um remix do DJ Madeon.

Ao remeter a aspectos como energia, vitalidade, velocidade e emoção, Song 2 se tornou perfeita para uma série de produtos relacionados, não apenas ao FIFA 98. Ela foi amplamente licenciada para uso em filmes, programas de TV, comerciais e videogames. Sua batida cativante e estilo enérgico a tornaram uma escolha popular para criar impacto em várias formas de mídia, o que ajudou a solidificar sua posição na cultura popular. Fabricantes como Nissan, Toyota e Mercedez-Benz usaram a música do Blur como forma de atribuir a seus veículos uma atmosfera sofisticada e radical.

Song 2, Blur, 1997

A indústria fonográfica é conhecida por sua constante evolução e adaptação às mudanças culturais, tecnológicas e artísticas. O ano de 1997, com Song 2 correndo solta pelo mercado, não foi exceção, trazendo uma série de novidades e impactos que moldariam a música nas décadas seguintes.

Blur

O álbum Blur ajudou a cena britânica de modo a influenciar a diversificação da música alternativa. O “concorrente” do Blur se chamava Oasis, que em 1997 estava com Be Here Now nas prateleiras. Os irmãos Gallagher e cia. mantiveram sua aura de rock britânico raiz. Ironicamente, o Oasis passou a superar o sucesso do Blur não só na Inglaterra mas no mundo inteiro. Isso em parte empurrou o Blur a desvincular do britpop, algo que o Graham Coxon apoiou e inclusive inspirou o álbum Blur e Song 2.

Outro que vinha em osmose criativa visual do britpop do Blur e Oasis era o The Verve, que com seu Urban Hymns, incorporou elementos de rock, britpop e música experimental. Sua abordagem influenciou a busca por sons mais ricos e atmosféricos no rock.

OK Computer, do Radiohead, expandiu os limites do rock alternativo, e as experimentações sonoras da banda liderada por Thom Yorke influenciaram uma abordagem mais artística e conceitual dentro do gênero, inspirando várias bandas subsequentes.

A Song 2 se caracteriza por uma leve pegada eletrônica, e o já citado The Prodigy lançou em 1997 The Fat of the Land, que trouxe o movimento da música eletrônica para o mainstream. As batidas frenéticas e a fusão de gêneros inspiraram a evolução da música eletrônica nas décadas seguintes. O (também já citado) The Chemical Brothers apresentou com Dig Your Own Hole uma abordagem eletrônica mais voltada para a pista de dança. As influências do techno e do house moldaram a cena da música eletrônica e da dance music.

Após o lançamento de Blur, a banda passou por uma fase de reavaliação e mudança criativa. Seu próximo álbum, 13 (1999), trouxe uma sonoridade mais experimental, incorporando elementos eletrônicos e influências do rock alternativo.

Esse álbum marcou uma transformação significativa na abordagem musical da banda. Nos anos seguintes, o Blur continuou a explorar novos territórios sonoros. Think Tank (2003) incorporou ainda mais influências eletrônicas e experimentais, e foi o último álbum a contar com a participação ativa do guitarrista Graham Coxon, que deixou a banda pouco depois.

Song 2

Esta matéria sobre Song 2 pode ser considerada a continuação espiritual de outra música analisada aqui no blog, a Tubthumping, do Chumbawamba, canção-irmã da Song 2 nos videogames, já que foi a trilha de abertura do game World Cup 98.

Obrigado por ler até aqui!

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Song 2

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