Star Wars, anteriormente conhecido no Brasil como Guerra nas Estrelas, uma das pedras fundamentais da arquitetura da mitologia pop do século XX, é uma franquia originalmente nascida nos cinemas, e que tem em O Império Contra-Ataca seu exemplar de maior excelência.
São 9 filmes em mais de 40 anos. A trilogia clássica, nascida no fim dos anos 1970 e encerrada nos anos 80, é irretocável. Star Wars O Império Contra-Ataca é divertido, sombrio, com grande construção de expectativas e personagens, tem locações e fotografia exuberantes, e não tem medo de expor e destruir seus personagens em reviravoltas.
Sua narrativa comporta paixão, ódio, lealdade, amor, ira — as emoções são senhores do domínio no filme, com resultados trágicos para a maioria. Ainda que ele seja o recheio de uma trilogia por estar no meio, ainda tem qualidades que o tornam interessante por si mesmo.
O cineasta George Lucas já tinha feito Loucuras de Verão (1973), filme de cultura de carro, rock e adolescência, e agora subia num foguete criativo para alcançar a maior saga épica espacial dos cinemas, perdida em um mundo em que ninguém acreditava, nem apostava que daria certo.
Sua gasolina eram produtos díspares como Buck Rogers (de Anthony Rogers, 1928) e Flash Gordon (de Alex Raymond, 1934), tiras em quadrinhos de heróis em aventuras espaciais contra tiranos, filmes japoneses de samurai e filmes americanos de aviação da Segunda Guerra Mundial e quadrinhos europeus cabeçudos como Lone Sloane (de Philippe Druillet, de 1966).
Lucas se isolou quando o filme estreou nos cinemas. Os dias passaram e ele percebeu o que tinha feito só semanas depois. A chegada de Star Wars de George Lucas reordenou as cadeiras na indústria do cinema para todo o sempre.
Agora filmes podiam ser eventos — uma festa que abraça crianças com robôs engraçados, ação cinética para os mais jovens, romance para os adultos, e atores em papéis sérios, como Alec McGuinnes e Peter Cushing para dar mais classe em tudo.
E todos eles alinhados nas músicas trilha sonora de John Williams, um dos maiores compositores do cinema, vindo diretamente da Era de Ouro de Hollywood. Assim, uma história com princesa, monstros, espaçonaves e vilões e outros elementos descartáveis ganharam vida nas telonas e encantaram uma, duas, três gerações até.
A crítica do jornalista Joy Gould Boyum, do The Wall Street Journal, sobre a estreia do filme Star Wars, em 1977, é certeira e valida até hoje.
Há algo deprimente em ver todos esses impressionantes dons cinematográficos e todas essas extraordinárias habilidades tecnológicas esbanjadas em materiais tão pueris. Talvez seja mais importante o que isso parece realizar: a canonização da cultura de quadrinhos que, por sua vez, se torna o triunfo dos artefatos comerciais padronizados, simplistas e produzidos em massa de nosso tempo. É o triunfo do acampamento – esse sentimento que se deleita no terrível simplesmente porque é horrível. Nós gostamos de coisas como crianças, mas se poderia pensar que chegaria um momento em que poderíamos pôr de lado coisas infantis.”
Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança, lançado em 25 de maio de 1977, com direção de George Lucas
Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca, lançado em 21 de maio de 1980, com direção de Irvin Kershner
Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi, lançado em 25 de maio de 1983, com direção de Richard Marquand
Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca foi o filme da saga que mais se aproximou do Oscar. Venceu o Prêmio de 1981 por Melhores Efeitos Visuais (Especial) e Melhor Som. E concorreu nas categorias de Melhor Trilha Sonora (perdeu para Fama, canção do filme de mesmo nome, de Alan Parker) e Melhor Direção de Arte (perdeu para Tess – Uma Lição de Vida, filme de Roman Polanski).
Star Wars: O Império Contra-Ataca
(Star Wars: Episode V – The Empire Strikes Back, 1980,
de Irvin Kershner)
Três anos após os eventos de Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança, os Rebeldes foram forçados a fugir de sua base em Yavin e estabelecer uma nova no planeta gelado de Hoth. Darth Vader continua sua busca por Luke Skywalker, enviando milhares de droides sondas de reconhecimento pela galáxia. Uma das sondas chega a Hoth e começa a examinar o planeta.
A primeira visão de Star Wars: O Império Contra-Ataca é um imenso destróier espacial visto de frente, uma imagem de impacto como poucas no cinema. Luke Skywaker (Mark Hammil) é retirado logo de cena, ao ser atacado por um monstro das neves, um wampa, quando patrulhava a área externa da Echo Base, em Hoth.
O ator sofreu um acidente de carro antes das gravações, e que desfigurou o seu rosto.
Devido a uma cirurgia plástica, seu rosto ficou diferente, e então foi criada essa cena de ataque para justificar a mudança de suas feições.
Han Solo (Harrison Ford) está preocupado com um monstruoso senhor do crime em sua cola, Jabba The Hutt (nunca mostrado em tela), e não pretende ficar muito tempo com os rebeldes, o que chateia Leia (Carrie Fischer).
Luke também vai se mandar, quando tem uma visão de Ben (Alec McGuinnes) na neve, depois do ataque do wampa. Seu antigo mestre lhe diz para ir até Dagoba, planeta onde pode encontrar Yoda, seu antigo mestre Jedi, e ter aulas com ele.
Foi em Star Wars: O Império Contra-Ataca que primeiro vemos uma aparição de mortos na Força, como essa cena, e que também qualquer um pode ligar um sabre de luz, como verificamos ao Han Solo estripar um animal morto.
A descoberta e a chegada aos tropeços na base irrita Vader, que mata o Almirante Ozeel à distância colossal de duas naves espaciais — um uso da Força até então nunca imaginado. Temos o primeiro vislumbre de uma câmera de meditação de Vader, e ele chega a ver a Millenium Falcon se mandando da Echo Base, com todos os personagens principais.
Não que isso importe muito, já que grande parte da piada da nave de Solo é que seu módulo de hiperpropulsão está quebrado e vai continuar assim até o fim, permitindo que o Império fique na cola do rabo deles por quase todo o filme.
Há um problema de roteiro e tempo/espaço após a fuga de Hoth. Luke saiu do planeta depois de Han e Leia, e chega primeiro em Dagoba e começa seu treino, enquanto Han ainda está fugindo dos imperiais e se escondendo dentro de um verme gigante espacial (sim).
Em certo momento, vemos Vader de costas na câmara de meditação — foi em Star Wars: O Império Contra-Ataca que Darth Vader apareceu sem máscara pela primeira vez. De costas e meio de longe. Tal fato só se repetiria na morte do personagem.
No treinamento de Luke, Yoda está muito fanfarrão, além de sábio além dos limites. O diretor Irvin não se furta de dar close no personagem a cada fala poderosa. “Ajudá-lo eu posso“, ele diz para Luke, que responde “Acho que não” — seu olhar já diz tudo sobre a prepotência de seu futuro aluno.
“Grande guerreiro? Guerra não fazem ninguém grande.”
“Seu pai? Um poderoso Jedi ele era.”
“Esse rapaz não tem paciência“, diz à Ben.
“Há muita ira nele. Como seu pai.”
Yoda treina há 800 anos os Jedi. E há tempos ele observava Luke. “A vida toda procurou o futuro. Sua mente nunca estava onde ele estava. Aventura. Diversão. Um Jedi, essas coisas não cultiva. Indiferente ele é.“
“Eu não tenho medo“, Luke diz.
“Mas terá. Você terá“, Yoda diz.
Quando na cena da caverna do lado sombrio: “O que há lá dentro?“, pergunta Luke. “Só o que levar com você“, responde Yoda.
Paralelo ao treino, Vader não consegue achar Han, Leia e os outros, por isso contrata caçadores de recompensas para ajudar. Entre eles, Boba Fett.
De volta ao treino, Luke é muito cético quanto a tudo que está aprendendo.
“Muita certeza você tem. Para você, ser feito nunca pode.”
“Aliada minha a Força é.
E poderosa aliada ela é.
A vida a cria.
Ela faz crescer a vida.
Sua energia nos cerca.
E nos une.
Luminosos seres somos nós!
Não essa rude matéria!”
Em meio a tentativa de fuga do Império, Han consegue manobrar a Millenium Falcon em direção a Bespin, a Cidade das Nuvens, onde pode ter abrigo de um aliado, Lando (Billy Dee Williams). Boba Fett ganhou a deixa e parte atrás deles também.
Nisso, Luke tem uma visão em meio ao treinamento, e decide deixar Yoda e o treinamento, a contragosto de seu mestre.
Ele e o fantasma de Ben imploram para Luke ficar, mas não são atendidos. Yoda sacrificaria Han e Leia para deter o inimigo depois, mas Luke não pode aceitar isso. Os dois mestres Jedi temem que o jovem se torne um agente do mal num combate precoce, mas nada podem fazer.
É estabelecido aqui que Ben não pode mais interferir em nada, e um resquício do roteiro antigo de Star Wars: O Império Contra-Ataca aparece, já que depois da partida de Luke, Yoda diz para Ben que ainda há uma outra alternativa: “O rapaz é a nossa única esperança“, diz Ben. “Não. Há outra“, diz Yoda.
É uma referência direta à irmã perdida de Luke, Nellith Skywalker. Ela estava no primeiro roteiro do filme criado por Leigh Brackett. Em vez do fantasma de Ben, teríamos o fantasma de Anakin, o pai de Luke e Nellith, um Jedi honrado e notável.
Apenas depois que George Lucas limaria Nellith do roteiro, criando Leia em seu lugar, e transformaria Anakin na verdade em Darth Vader, criando assim um dos maiores plot twist do cinema.
A chegada em Bespin, cidade idílica no meio das nuvens, em um belo cenário, é o prenúncio da tragédia para todos, assim que C3PO é abatido a tiros e feito em pedaços em uma chocante cena fora das câmeras.
Lando é obrigado a trair seus amigos para não cair nas mãos do Império, que já estava na Cidade das Nuvens antes da chegada dos heróis da Aliança Rebelde.
E não demora nada para Han Solo ser torturado de graça em outra cena. Darth Vader está ciente que Luke vem atrás de seus amigos, e espera ter a oportunidade de capturar o rapaz.
Os últimos 30 minutos de Star Wars: O Império Contra-Ataca são sensacionais, com vários acontecimentos.
Luke não chega a tempo de salvar Han, que é congelado em carbonita, e entregue a Boba Fett, que vai levá-lo para Jabba The Hutt e pegar sua recompensa. A fotografia está em alto contraste neste momento do longa, que mostra Luke tentando salvar Leia, sem sucesso.
Em vez disso, ele vai atrás de seu fatídico destino, ao tentar confrontar Darth Vader, aqui no auge do seu poder. Ele pula, desaparece, flutua, ataca, usa a força, segura raios e tortura mentalmente.
Não há como um Luke verde na Força derrotar um senhor do Lado Sombrio. Literalmente à beira do precipício, Luke Skywalker paga caro pela sua arrogância e imperícia.
Ele tem a mão decepada e perde a arma símbolo do Jedi, seu sabre de luz. Não bastasse isso, seu espírito é destroçado quando Darth Vader lhe revela a verdade, em uma das frases mais famosas do cinema.
Star Wars: O Império Contra-Ataca termina com um dos heróis congelado até os ossos em direção á morte, uma princesa sem seu amor, outro herói mutilado, sem sua arma e com o espírito alquebrado.
E ainda assim somos instigados a acreditar que é possível resistir e virar o jogo. Em uma entrevista ao Cinescape Magazine, o diretor Irvin Kershner disse que inicialmente ele não se interessou pelo filme devido aos exagerados usos de efeitos especiais. Professor acadêmico e profissional do cinema com passagens em seriados de TV e filmes, ele foi convencido por George Lucas, quando esse disse que poderia focar a caracterização dos personagens em detrimento dos efeitos especiais.
Kershner ficou vários meses trabalhando no roteiro de Leigh Brackett, pressionando outros escritores a humanizar o tanto que fosse possível todos os personagens.
O subtítulo Episódio V estava presente já na abertura original, em 1980, mas ausente do material de divulgação, o que confundiu o público porque o filme anterior não recebeu nenhuma numeração. Em 1981, Star Wars (1977) foi relançado como Star Wars: Episode IV – A New Hope, Guerra nas Estrelas – Episódio 1 – Uma Nova esperança.
A Marcha Imperial foi tocada pela primeira vez em Star Wars: O Império Contra-Ataca, na cena em que a base rebelde foi localizada e os destróiers iniciam seu ataque. Neste filme, é a primeira vez que Darth Sidious aparece na saga, ainda como apenas Imperador.
Construção do Império
George Lucas se tornou bilionário com a franquia de Guerra nas Estrelas, e que agora exige seu nome original em qualquer língua: Star Wars (adeus, Guerra nas Estrelas). O cineasta criou uma empresa só para fazer os filmes, a Lucasarts, que também fazia videogames que construíam parte oficial da história dos filmes, em uma narrativa chamada de Universo Expandido.
Livros e revistas em quadrinhos, produzidos por empresas terceirizadas — entre elas a Marvel, por exemplo. Tudo isso provocava um aumento de volume criativo para engordar esse universo.
Houve variados graus de sucesso. O melhor deles, produzido em 1997, com Star Wars – Shadows of The Empire, traduzido aqui como Sombras do Império, um projeto multimídia de livro, HQ, videogame, CD orquestrado, cards e brinquedos.
Todos eles foram coordenados entre si para contar uma grande história, a história oficial da continuação de Star Wars O Império Contra-Ataca. Passado pouco tempos depois do fim do filme, Luke e Leia estavam em perigo mais uma vez, em meio às maquinações do Império, do sindicato do crime Sol Negro, e de políticas de alianças entre rebeldes e aliados por ocasião.
Um mercenário chamado Dash Rendar ajuda os heróis da Aliança Rebelde, e protagonizou o videogame exclusivo lançado para o console Nintendo 64, Star Wars – Shadows of The Empire.
STAR WARS SHADOWS OF THE EMPIRE | A vitória do mediano nos videogames
Em 1997, durante as comemorações pelo 20º aniversário de Star Wars – Episódio IV, foi lançado um box especial (ainda em VHS) com os filmes da trilogia clássica criada por George Lucas, com uma série de modificações em algumas cenas, feitas pelo próprio criador, além de imagem e áudio restaurados.
Foram inseridas modificações principalmente pelo avanço da tecnologia de efeitos especiais, o que permitira a realização de cenas impossíveis de serem feitas na época das filmagens originais, aspecto que George Lucas sempre teve mais em conta do que tudo em sua carreira. Ele ainda incluiu novas cenas e alterou outras.
Novas caras e bocas com maquiagem digitais, com adições desnecessárias, uma situação que parte dos fãs mais puristas renegaram, mas que manteve o interesse comercial da franquia com vida até a chegada de uma nova trilogia.
Nos anos 2000, uma nova trilogia de filmes — a pior de todas, nublada pela fome extrema de novidade, e que enganou bonito todo os fãs.
Os filmes não resistem a duas ou três revisões, com a bomba de menor potencial ofensivo sendo Star Wars III – A Vingança dos Sith.
Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma, lançado em 19 de maio de 1999, direção de George Lucas
Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones, lançado em 16 de maio de 2002, direção de George Lucas e Jonathan Hales
Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith, lançado em 19 de maio de 2005, direção de George Lucas
A Queda do Império
A Disney comprou a Lucasarts em 2012. Star Wars vivia desde o Episódio III no Universo Expandido, em séries animadas, livros, gibis e videogames, com variados níveis de qualidade em todas essas obras. Para trabalhar em uma mesa limpa, a Disney optou em transformar tudo isso em material não-canônico.
O que valeria para a história Star Wars/Disney seriam apenas os 6 filmes, além da série em CG Star Wars Clone Wars.
Todo o resto se tornou Legends, um selo criado para carimbar todo o material anterior produzido — décadas de livros, HQs, séries e games, que contavam outras histórias de Star Wars, com os personagens clássicos e novos, em situações inéditas.
Foi uma manobra comercial válida para assegurar terreno seguro para novos pousos e decolagens criativas de máquinas novas para criação de produtos.
Mas muito do Legends ainda tem apelo para os fãs, e até mesmo para a Disney, que vive resgatando algum personagem ou conceito para ser tratado como cânone.
Na tentativa de renovar interesse na franquia Star Wars, a Disney começou a fazer suas próprias séries animadas, gibis e videogames e criar um novo cânone, um novo universo expandido. E claro, fez seus próprios filmes principais da saga.
Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força, lançado em 17 de dezembro de 2015, direção de J. J. Abrams
Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi, lançado em 14 de dezembro de 2017, direção de Rian Johnson
Star Wars: Episódio IX – A Ascensão Skywalker, lançado em 19 de dezembro de 2019, direção de J. J. Abrams
Despertar da Força, apesar de ser praticamente uma refilmagem de Star Wars – Episódio IV, entrega alguma qualidade narrativa, o que desperta interesse suficiente.
Ele honra o primeiro filme, meio sujo, meio perdido, com parafusos a mostra e precisando de manutenção e explicação. É basicamente sobre escolhas: vai sair de onde está? Vai atrás de quem deve ir?
O que fará na hora q encontrar? Quer zona de conforto ou pula fora? Abraça o que sabe fazer ou foge? Enfrenta o medo ou engole e vai em frente mesmo assim?
O que mais vale em Despertar da Força é que os soldados StormTrooper fazem valer seu salário imperial. FINALMENTE eles prestam para alguma coisa e oferecem perigo real de morte.
Os Últimos Jedi foi corajoso em tomar novos rumos — o rumo do banheiro. Relações equivocadas entre os personagens, gorduras de roteiro desnecessárias e um rumo desperdiçado para Luke (até ele reclamou) acusaram o golpe confuso que se deu no longa, tanto que a alta cúpula da Disney demitiu o diretor Ryan Johnson.
É inegável o poder colossal que o Sol-Disney provoca em todas as órbitas de outros planetas-empresas que atrai ao seu centro, e que efetivamente consome.
Quando comprou a Marvel em 2009 — que 1 ano antes já tinha o primeiro Homem de Ferro nos cinemas, um prenúncio de seu domínio absoluto na indústria cinematográfica — ela já estava mirando potenciais propriedades.
Ela comprou a Lucasarts e anunciou a nova trilogia de filmes mirando na fome dos fãs, já que era uma nova trilogia pós-Retorno de Jedi era uma saga muito esperada por parte dos fãs de George Lucas, e que ele mesmo nunca quis levar em frente.
E a Disney realmente conseguiu. Não que fosse difícil estragar uma cinessérie legal que se tornou apenas veículo de venda de hominhos e brinquedos, mas foi isso: Star Wars: Episódio IX – A Ascensão Skywalker é um dos piores filmes da saga e a pior conclusão possível e imaginável.
A Disney fez do nono filme de Guerra nas Estrelas a versão live-action de suas conhecidas animações infantis, simples e que exigem atenção de uma criança de 4 anos.
O roteiro é inexistente, já se começa numa correria danada em busca de coisas que no segundo seguinte perdem a importância, personagens morrem e são apagados para no take seguinte reaparecerem, vilões mudam de lado com as desculpas maus pueris e cretinas possíveis, o tempo e espaço dos acontecimentos se torcem ao bel prazer da trama, para se acomodar onde for mais conveniente, e lógico, os diálogos são de peça escolar ginasial.
A ‘continuação’ de 3 filmes Star Wars/Disney não fez mais do que copiar tudo dos anteriores. Não há avanço nenhum de história, não há originalidade.
Tudo se repetiu — a ameaça de um exército, uma arma indestrutível, a queda e redenção de personagens. O que foi feito de diferente foi pegar os antigos personagens e torcê-los dramaticamente em direções completamente equivocadas, o que mostra que seus realizadores não entenderam nada de Star Wars desde o início.
Viram que estavam morrendo na praia, e apelaram para um recurso que absolutamente não estava nos planos da empresa nos 2 longas anteriores, ao trazer como Deus (Diabo?) Ex Machina o Imperador Palpatine para resolver a parada toda.
A trilogia Star Wars da Disney é uma atualização para os mais jovens de uma história já contada anteriormente, com a rapidez e imediatismo e pouca complicação que a Geração Z exige.
É uma das piores realizações da empresa na tentativa de atingir mais público. É melhor plantar batatas na fazenda Skywalker. Para não ser injusto com a casa do rato, a Disney consegue se sair bem em outras mídias ao fazer novos produtos criativos da franquia.
A maioria das novas HQs feitas pela Marvel tem uma qualidade exorbitante, é obrigatório para os fãs. E a série de TV por streaming The Mandalorian teve uma excelente primeira temporada.
E na verdade, o segundo melhor filme de toda a franquia Star Wars foi feito pela Disney — o spin-off chamado Rogue One (2016), que conta uma história que precede Uma Nova Esperança.
Com efeito, a verdadeira continuação de Star Wars – O Retorno de Jedi são os três livros dos anos 1990 escritos por Timothy Zahn.
É uma trilogia que narra as histórias dos heróis pós-Retorno de Jedi. Hoje em dia eles não são mais considerados canônicos, são Legends.
E, ironia das ironias, uma lenda é quase sempre mais legal do que a realidade. Vamos à ela então.
A Lenda do Império
George Lucas optou pelo escritor Timothy Zahn para continuar a saga que Mark Hamill, Carrie Fisher, Harrison Ford e a música de John Williams promoveram na vida real nas telas do cinema.
Herdeiros do Império, lançado em 1991, escrito por Timothy Zahn
O Despertar da Força Negra, lançado em 1992, escrito por Timothy Zahn
A Última Ordem, lançado em 1993, escrito por Timothy Zahn
Zahn foi escolhido pela Força para dar continuidade a saga da Guerra Nas Estrelas, narrando o que houve depois de Star Wars Episódio VI – O Retorno de Jedi. A história se passa cinco anos após a grande batalha final vista na segunda Estrela da Morte.
A República tenta montar o novo governo, e o Império, ainda que em pedaços, teima em não desistir de seus planos, e tenta se reerguer. Thrawn, um Grão-Almirante do Império, um dos últimos altos oficiais militares, junta o que de bom sobrou e dá um trabalho danado para os heróis.
Nos livros, são estabelecidos vários fatos, nomes e locais que ainda são canônicos, mesmo pós-Disney. Coruscant, planeta-cidade-capital do Império (agora República, né); Kashyyyk, planeta lar dos Wookies, e outras coisinhas mais. Mara Jade é apresentada aqui, a Mão Invisível do Imperador Palpatine, assassina das mais habilidosas, que no fim das contas acaba virando parceira e amante do Luke.
Zahn mostra que é forte na Força e escreve uma narrativa empolgante no primeiro livro; uma OK no segundo, com um gancho sensacional; e um terceiro fulminante, com final apressado, mas que não desmerece o valor total da obra.
Você sente a urgência de ler rápido e quer saber de tudo no mesmo momento. É preciso talento para segurar o leitor em 1.488 páginas, e Zahn faz isso com folga.
Ele não deixa tempo para respirar, e suas descrições nos colocam em cada cena de modo crível e interessante.
Por muito tempo, Star Wars – Herdeiro do Império era considerada a continuação oficial, até a Disney botar nos cinemas Star Wars – Episódio VIII – O Despertar da Força.
Alguns podem achar que ele é uma lenda. Mas é real que sua qualidade é superior.
Zhan criou um grande vilão com Thrawn, o único alienígena nas fileiras de altas patentes do Império, dono de enorme inteligência e sagacidade, capaz de prever o movimento dos inimigos e povos por meio de seus objetos de arte, um ladino mental e estrategista maquiavélico sem igual na franquia.
Tamanho seu poder, que a Disney não demorou a torná-lo cânone, primeiro na série de TV em CG, Star Wars Rebels, e depois em livros. A única diferença fica por conta de seu aparecimento bem antes dos eventos de Retorno de Jedi.
/ FILMES ORIGINAIS. Os filmes originais, sem alterações, eram propriedade da Fox, em uma daquelas costuras comerciais que ninguém entende direito. Mesmo quando a Disney comprou a Lucasarts em 2012, os direitos dos filmes originais não estavam nas mãos de George Lucas.
Só quando a casa do rato comprou a Fox, em um longo processo que só acabou em 2019, que todos os filmes estão finalmente na mesma gaveta. Então é esperado em certo momento uma edição com os filmes como vieram aos cinemas da época.
/ O IMPERADOR QUE VALE. Por conta de mais uma remasterização feita por George Lucas em Star Wars – Episódio V – O Império Contra-Ataca, dessa vez na versão de DVD em 2004, a cena em que Darth Vader e o Imperador dialogam foi alterada. Originalmente, no filme de 1980, Lucas usou a atriz Marjorie Eaton (não-creditada) e imagens sobrepostas de chimpanzés para criar o visual macabro do Imperador — que nem estava perto de ser identificado como Palpatine –, além de ter voz de Clive Revill.
O ator Ian McDiarmid foi contratado depois para performar o Imperador pelo resto de todos os filmes, e Lucas redublou as cenas e descartou as gravações antigas para fazer uma nova, inclusive com adições de James Earl Jones/Darth Vader.
/ BOBA FETT. O mais notório e infame caçador de recompensas da galáxia tem somente cinco linhas de fala durante o longa, e foi interpretado por Jeremy Bulloch em cena, com voz de Jason Wingreen. Boba Fett nunca é chamado pelo nome em Star Wars – Episódio V – O Império Contra-Ataca, o primeiro filme em que apareceu na saga.
Ele só é referenciado como “o caçador de recompensas” pelos outros personagens. Seu nome ficou perdido na sala de edição do filme, em uma cena deletada que mostrava Leia dizendo seu nome — é apenas em Retorno de Jedi que ouvimos o nome Boba Fett pela primeira vez.
O caçador de recompensas se tornou um dos personagens de maior apelo dentre os fãs, muito devido ao seu visual e design, com uma armadura e capacete estilosos, com capa e metralhadora a tira-colo, e que realmente chamam a atenção.
Ele teve um crescimento narrativo muito grande no Universo Expandido, e com efeito, sua morte foi “anulada” em Retorno de Jedi, pra se tornar um coadjuvante de luxo, muito usado em quadrinhos e videogames.
O design do personagem é criação de Joe Johnston, profissional de efeitos especiais do filme, e que depois se tornaria cineasta. Ele dirigiu Rocketeer (1991), o primeiro filme de super-herói da Disney, com Jennifer Connelly no elenco, Jurassic Park III (2001) e Capitão América: O Primeiro Vingador, entre outros. Ele fez uma aparição especial em Império Contra-Ataca, como um soldado rebelde correndo pela Echo Base antes da evacuação. Pra variar, a remasterização que Lucas fez nos filmes antigos mutilou o Boba Fett original.
Parte de seu visual vem diretamente do filme Josey Wales – O Fora da Lei (1976).
Temuera Morrison, o ator que interpretou Jango Fett em Star Wars – Episódio II: Ataque dos Clones (2002), redublou Fett no lugar de Bulloch. O fato se deu por conta de Boba Fett na verdade ser um clone de Jango.
/ QUADRINHOS. Star Wars – Episódio V – O Império Contra-Ataca teve uma adaptação em quadrinhos pela Marvel, a editora que George Lucas conseguiu que publicasse HQs da saga, para gerar mais impacto comercial e criativo no mercado, além dos filmes. A história foi publicada originalmente em 1980, entre os números # 39 e # 44 da revista mensal Star Wars, que estavam nas bancas americanas desde o lançamento do primeiro filme.
O roteiro é de Archie Goodwin, com desenhos de Al Williamson e Carlos Garzon. Archie e Al são dois grandes mestres dos quadrinhos mundiais. Foi nos quadrinhos que Boba Fett foi mais usado no Universo Expandido pré-Disney. E mesmo no novo cânone, foram nos quadrinhos que Boba Fett cresceu ainda mais em importância.
Nas revistas em quadrinhos da Disney de Star Wars publicadas pela Marvel, é relevado que foi Boba Fett quem conseguiu informações sobre jovem piloto que destruiu a Estrela da Morte em Uma Nova Esperança, em uma missão contratada por ninguém menos do que Darth Vader.
Ele volta sem o jovem, mas com um nome para dar: Skywalker. É por isso que no filme Império Contra-Ataca o vilão já conhece a identidade de Luke como seu filho.
THE MANDALORIAN | Como Boba Fett salvou a franquia Star Wars/Disney
/ ILUSTRAÇÃO. O ilustrador Ralph McQuarrie foi a primeira pessoa contratada pelo diretor George Lucas, em 1975, para trabalhar no filme Guerra nas Estrelas. É de sua autoria dezenas de desenhos e pinturas conceituais que ajudaram a dar vida a saga espacial. Ele foi o responsável pelo design de personagens como Darth Vader, C3-P0, R2-D2, Chewbacca e pelo visual de diversos planetas.
O artista também produziu artes para O Império Contra-Ataca, no qual ele faz uma aparição como o general Pharl McQuarrie. Após Star Wars, McQuarrie criou visuais para a série de TV Battlestar Galactica (a versão original, o produto mais próximo de Star Wars na indústria) e para filmes como E.T., Contatos Imediatos do Terceiro Grau, Caçadores da Arca Perdida, Cocoon (pelo qual ganhou um Oscar de efeitos visuais) e Jurassic Park.
Ele faleceu aos 82 anos, em 3 de março de 2012, em Berkeley, na Califórnia, nos Estados Unidos.
/ DÁ UMA MÃO AQUI. No Universo Expandido pré-Disney, a mão perdida de Luke daria um trabalhão para os heróis. Além da mão ter sido perdida, foi-se o sabre de luz, originalmente usado por Anakin Skywalker em sua juventude.
O sabre foi recuperado e mantido como troféu pelo Imperador. Ele também se apossou da mão, usada para criar um clone maligno de Luke. No fim, o clone é morto e o sabre de luz vai para as mãos de Mara Jade, dado pessoalmente por Luke, num primeiro passo do romance dos dois.
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