STAR WARS VISIONS | Uma visão de retorno às origens

Star Wars Visions, nova série lançada pela plataforma Disney+, joga muito seguro no campo de design e estética e narrativa da animação japonesa — os populares animes –, com uma antologia de histórias passadas no universo criado por George Lucas para sua saga cinematográfica de Star Wars.

A força cinética, beleza gráfica e dinamismo inerentes aos animes tornam a maioria dos produtos da cultura pop que se veem representados neles algo singular, e com Star Wars, não foi diferente.

A começar com as forças primevas de yin e yang, preto e branco, ressignificados em Jedi e Sith, o ki/chi com a Força, e um mood de samurais com a imagem de Darth Vader, Star Wars sempre esteve perto do Japão, e com Star Wars Visions, chega o momento disso ficar mais colado ainda.

Star Wars Visions
Um dos posteres da série Star Wars Visions

É a primeira vez na era Star Wars/Disney que um produto mainstream da franquia não faz parte do cânone oficial, o que não impede nada dela alcançar excelência.

Cada episódio de Star Wars Vision tem seu traço e tratamento gráfico, e o mundo do anime, com suas diferentes formas, conteúdos e cores, estão representados com grande beleza e maestria na obra, que dobra e torce as convenções canônicas de modo a servir à história — cores de sabres e kyber e conceitos da Força, Jedi e Sith são bem particulares aqui.

Além de estranhamente focarem no kyber — mineral de energia necessário para criar os sabres — temos várias referências a uma frase clássica da saga espacial: “estou com um mal pressentimento sobre isso”.

Star Wars Visions chega com uma temporada completa, em 9 episódios de uns 20 minutos cada, com começo e fim, e sua proposta de levar fãs a um mergulho no universo da franquia através de diferentes “visões” de anime é bem sucedida.

Todos os episódios funcionam em diferentes níveis de compreensão, e o espetáculo gráfico da riqueza de variedade pode conquistar outros espectadores.

Star Wars Visions – Episódio 1
O Duelo
(Kamikaze Douga)

Star Wars Visions

Star Wars Visions

Usando o design e ambientação de um Japão Feudal, temos um Jedi/Sith (?) ronin em uma vila assolado por bandoleiros Stormtroppers, em um mood muito original de animação mais dura e seca, com grande uso de alto contraste preto e branco, as cores predominantes para criar toda a ambientação.

O clima poético e poeirento é um excelente começo para a série de Star Wars Vision, e honra o título com o qual decidiu começar.

Com uma estética quase de “comics em animação”, mais precisamente chamado no mercado americano de motion comics, a sofisticação e capricho da indústria de animação japonesa se encarregou de elevar o nível de tal trabalho para algo realmente legal.

Não por acaso, lembra também os filmes preto e branco de samurais do cineasta Akira Kurosawa, uma das inspirações de Lucas para seu Star Wars.

O estúdio de animação Kamikaze Douga foi o responsável pela animação desse episódio de estreia de Star Wars Visions. Eles trabalharam também na série Jojo´s Bizarre Adventure (2012-105) e o filme animado Batman Ninja (2018).

Star Wars Visions – Episódio 2
Balada de Tattooine
(estúdio Studio Colorado)

Bem cartoonizado, com o jovem Jay, um padawan, muito provavelmente sobrevivente do massacre Jedi que Anakin Skywalker promoveu em sua queda.

Ele cresceu para se tornar um roqueiro (!), com a banda Star Waver, junto com uma androide na guitarra, um tri-baterista de 6 braços (!!) e Gee, um Hutt nos baixos (!!!).

Mas acontece que o lesmão tinha uma dívida com Jabba The Hutt, um criminoso dos mais perigosos e Star Wars, e ele enviou ninguém menos que Boba Fett, o mais notório e perigoso caçador de recompensas da galáxia, para capturá-lo.

Episódio bem legal e bem feito, e dos mais ousados dessa leva de Star Wars Visions, já que trata de personagens bem conhecidos dos fãs da franquia.

O roteiro improvável surpreende pela coerência, e o mais incrível: Jay consegue contornar a situação de Gee — que foi quem lhe salvou quando criança — e eles conseguem até mesmo “passar a perna” no Jabba.

Star Wars Visions

Ah, e a música da Star Waver (banda de one-hit) é muito boa!

O Studio Colarado foi o responsável por essa animação de Star Wars Visions, e ano passado fez os filmes Burn the Witch e Pokémon: Twilight Wings, além de vários episódios da superpopular My Hero Academia/Boku no Hero Academia (2014-2021).

Star Wars Visions – Episódio 3
Os Gêmeos
(estúdio Trigger)

Star Wars Visions

Star Wars Visions

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Com design pastel em alto contrates e muitas vezes sem contorno, vamos agora para um ambiente espacial, com as imensas naves do Império Galáctico, com dois irmãos gêmeos Sith querendo dominar a galáxia.

A Mestra An está resoluta e confiante que com um determinado cristal kyber, irá ter poder absoluto para fazer o que desejar.

Mas seu irmão, Mestre Karre, improvavelmente, se mostra contrário, e agora alinhado ao caminho do bem, busca impedir a irmã. É com certeza o episódio mais cinético e dinâmico, tal qual os animes shonen (jovem masculino) mais recentes, com ação exagerada e velocidade sem limites em cenas angulosas de luta, chegando ao nível épico em alguns momentos — um corte de sabre de luz em uma nave à alta velocidade? Tem!

Star Wars Visions

Fundado pelos ex-funcionários da Gainax (de Neon Genesis Evangelion), Hiroyuki Imaishi e Masahiko Ohtsuka em 2011, o estúdio Trigger animou esse episódio e tem no currículo obras como os OVAs (produções de quase 1h, para o então mercado de videocassete) Little Witch Academia (2013) e Ninja Slayer (2015), episódios de TV de Kill la Kill (2014), Little Witch Academia (2017) e BNA: Brand New Animal, e filmes como Promare (2019).

Star Wars Visions – Episódio 4
A Noiva Aldeã
(estúdio Kinema Citrus)

Star Wars Visions

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Um dos mais “animes” de Star Wars Visions, traço claro, limpo, estilizado, ambientação calma e ligeira, sem escândalos gráficos.

E também um dos mais bonitos, com uma música cantada linda no começo da trama. O clima onírico desse episódio contrasta com a proposta pesada — uma garota deve ser entregue para um oficial militar em troca de abrandamento de exploração do planeta. O casamento forçado é observado por uma Jedi reclusa no local, que decide interferir.

Há referências à República e os Separatistas, o que pode indicar que se trata de um Visions ambientado na trilogia anos 2000 de Star Wars, pré-Queda dos Jedi.

A nave dos militares tem o mesmo design da Millenium Falcon, a estilosa nova de Han Solo, um dos protagonistas do filme original.

O Kinema Citrus fez o filme Eureka Seven (2009), o OVA The Legend of Heroes: Trails in the Sky (2011) e episódios de TV de séries como Code:Breaker (2012).

Star Wars Visions – Episódio 5
O Nono Jedi
(estúdio Production I.G)

Star Wars Visions

Star Wars Visions

Star Wars Visions

O primeiro episódio de Star Wars Visions com CG (computação gráfica, marca do I.G). Um cara quer restaurar a Ordem Jedi, e envia mensagens para certas pessoas, com o chamariz de ter conseguido reproduzir a arte perdida da fabricação de sabres de luz.

Isso desperta o interesse de vários deles, que se reúnem para ver quem é esse misterioso ser. A premissa imbecil de armadilha óbvia a princípio joga contra, mas depois nos entrega uma inversão de expectativas.

O tal ser cumpre o que promete, mas não é exatamente o que esperamos.

Episódio com cenários muito bem feitos e o mais violento de toda a série: há cortes, amputações e um pobre diabo é carbonizado vivo (!).

Star Wars Visions

Star Wars Visions

O estúdio de animação que fez esse episódio de Star Wars Visions foi o Production I.G, que produziu vários clássicos da indústria de animes, a começar pela série clássica de TV Zillion (1987), Blue Seed (1994–1995), Medabots Damashii (2000–2001), OVAs como Video Girl Ai (1992), One Piece: Defeat Him! Pirate Ganzack! (1998), 2 episódios de Batman: Gotham Knight (2008), um spin-off do filme do Batman de Christiopher Nolan, especiais como The King of Fighters: Another Day (2005–2006), e filmes como Patlabor 2: The Movie (1993), Ghost in the Shell (1995) e suas séries de TV derivadas, bem como continuações do filme, Neon Genesis Evangelion: Death & Rebirth (1997, junto com a Gainax), Neon Genesis Evangelion: The End of Evangelion (1997, com a Gainax de novo), Blood: The Last Vampire (2000), Sakura Wars: The Movie (2001) e o segmento animado do filme Kill Bill Vol. 1: Chapter 3 – The Origin of O-Ren (2003), de Quentin Tarantino.

Star Wars Visions – Episódio 6
TO-B1
(estúdio Science Saru)

Um dos mais cartoon de Star Wars Visions, com uma óbvia e merecida homenagem ao pai dos animes e mangás, Osamu Tezuka, e um (de dezenas) dos seus maiores clássicos, Astroboy.

Estamos em um planeta devastado e sem vida, com um professor cercado de pequenos robôs, sendo o mais proeminente o pequeno e espivetado TO-B1, que gostamos logo de cara.

Como o Pinóquio robótico de Tezuka, o garoto artificial sonha ser um Jedi e singrar o espaço em busca de aventuras.

Temos mais um episódio com o mineral kyber como parte da narrativa, já que é com ele que se faz um sabre de luz, arma que o professor convence o robôzinho a ter antes de sequer começar a sonhar em ser um Jedi.

Em sua procura inocente, ele inadvertidamente ativa uma nave, que logo é rastreada por oficiais militares (do Império?), e logo TO-B1 vai ter problemas, ainda mais quando descobre a verdadeira natureza do seu criador e a chegada iminente de uma sinistra figura que não deve em nada para Darth Vader.

Um episódio dos mais emocionais, com tristeza, alegria e descoberta, e com uma inserção fantástica no lore de Star Wars: pode um droide usar a Força e ser um Jedi?

Em Visions temos a resposta.

O Science Saru fez as animações de Hora de Aventura: Cadeia Alimentar (2014), Devilman Crybaby (2018) e Kimi to, Nami ni Noretara (2019).

Star Wars Visions – Episódio7
O Ancião
(estúdio Trigger)

Sombrio, antigo e sinistro, como diz o Jedi no começo desse episódio, um dos mais pesados. Estamos em um planeta da Orla Exterior, e um Mestre e Aprendiz acabam atraídos por uma presença misteriosa, que se revela um Sith dos mais perversos.

A animação acompanha a anatomia realística, muito bem produzida, com belas paisagens poéticas.

O velho Sith luta com duas espadas e o combate é dos mais ferrenhos. O final, tão misterioso quanto a identidade do antagonista, nos faz pensar para que rumos a franquia pode tomar se emprestar elementos de Star Wars Visions.

Mais uma vez o estúdio Trigger fez uma animação de Star Wars Visions.

Star Wars Visions – Episódio 8
Lop e Ocho
(estúdio Geno)

Star Wars Visions

Star Wars Visions

O episódio com os melhores cenários e paisagens de Star Wars Visions, e também um dos mais tristes.

Num mundo alá Japão feudal bem anime, temos Lop, uma lindinha menina-coelhinha furry que acaba adotada por um clã, que, a muito contragosto, tolera as tropas imperiais que exploram o local.

O líder, Yazaburo, é pai de uma menina, Ocho, que logo se afeiçoa à garota-coelho Lop, e as duas se tornam inseparáveis.

Até que elas crescem. Até que tudo muda. Revoltado com as ameaças e exploração dos imperiais, Yazaburo quer ir contra eles, o que Ocho desaprova.

Tamanha sua gana, que ela troca de lado em certo momento, o que causa um inevitável embate de de irmã contra irmã. Discussões muito pertinentes sobre legado e família, num episódio dos mais densos da série.

O estúdio Geno foi o responsável por essa animação, e também fez episódios de TV de Golden Kamuy (2018) e o filme animado Genocidal Organ (2017).

Star Wars Visions – Episódio 9
Akakiri
(estúdio Science Saru)

Star Wars Visions

Star Wars Visions

O episódio mais trágico encerra a primeira temporada de Star Wars Visions. Com uma bela animação tradicional/alternativa, de novo com elementos orientais e de faroeste, temos belas imagens e uma trama de cortar o coração, quando um Cavaleiro Jedi retorna para ajudar uma princesa exilada por uma Sith conquistadora.

O final nos leva para um caminho, e de repente nos vemos em outro, com a tragédia como senhora de tudo. De cortar o coração o final. A animação mais uma vez fica por conta do Science Saru.

As origens de Star Wars:
de filmes de Akira Kurosawa à HQs francesas

Com o lançamento de Star Wars Visions, temos um retorno às origens da franquia cinematográfica criada por George Lucas com Star Wars – Uma Nova Esperança (1977), que empresta diversos elementos da cultura oriental, e bebe diretamente de outros clássicos do cinema, como A Fortaleza Escondida (1958), de Akira Kurosawa.

A história de dois camponeses, Tahei e Matashichi (Minoru Chiaki e Kamatari Fujiwara), que fogem da destruição causada por uma batalha, muda para sempre quando cruzam caminho com o general Rokurota Makabe (Toshiro Mifune).

O militar está escoltando a princesa de uma família nobre e suas riquezas para um lugar seguro, e Tahei e Matashichi passam a acompanhar o general e a princesa, pensando em roubar o ouro.

Várias histórias em quadrinhos também serviram para sustentar a base criativa de Lucas com o plot de Fortaleza: Lone Sloane, criada pelo francês Philippe Druillet, em 5 obras: Les 6 Voyages de Lone Sloane (1972), Delirius (1973), Gail (1978), Chaos (2000) e Delirius 2 (2012).

É uma ficção científica psicodélica sobre um solitário explorador interestelar, imbuído de poderes místicos por tramoias de deuses ancestrais.

Agora ele singra os mares galácticos à moda de um Ulisses cósmico, em uma trama que envolve tiranos despóticos, piratas espaciais, dragões e criaturas alienígenas, em mundos hostis e opressores, onde todos querem manipulá-lo e tomar seus poderes.

A obra é seminal: um mix sinergético da viagem cósmica de Jack Kirby, co-criador do Universo Marvel com Stan Lee (dono de um traço poderoso, explosivo e cinético, que ditou o mood de comics super-heróis), a viagem lisérgica e onírica do desenhista francês Moebius, que influenciou uma geração de artistas por todo o mundo com seu traço claro, preciso e etéreo, e o universo de horror sideral e mecânico de pesadelos do escritor americano de pulps H.P. Lovecraft.

Isso se traduz em uma HQ de desenho único de barroco, art nouveau e art-déco.

Uma das grandes obras-primas dos quadrinhos: Lone Sloane

A outra HQ foi Valérian, agente espácio-temporal, uma série de história em quadrinhos franco-belga de ficção científica criada pelos franceses Pierre Christin e Jean-Claude Mézières.

A obra de space opera com viagens no tempo, temperada de humor e ação, surgiu no número #420 da revista Pilote (1967), uma das mais prestigiadas revistas de HQ da Europa (onde também surgiu o Asterix de Goscinny e Uderzo).

Os autores beberam de Time Patrol (1955), livro pulp de Poul Anderson, sobre um grupo de homens e mulheres que protegem o fluxo do tempo de fanáticos e terroristas.

Valerian

Mas a influência mais longeva de George Lucas para criar seu Star Wars vem de sua infância, das tiras em quadrinhos do Flash Gordon, herói de uma tira de jornal de aventura e ficção científica criada pelo artista Alex Raymond em 1934.

Um herói em aventuras em meio a naves espaciais, mundos fantásticas, um imperador maligno e muitos outros elementos de sci-fi. Ah, essa tira também previu a…minissaia (!).

De onde essa parte de uma tira em quadrinhos de Flash Gordon pode ser encaixada em O Império Contra-ataca?

Pulps e animes

Voltando aos animes: é bom frisar que a cultura pop japonesa já tinha sua própria space opera, com o incrível Space Battleship Yamato (Patrulha Estelar no Brasil), lançado cinco antes de Star Wars. Concebido pelo produtor Yoshinobu Nishizaki em 1973, o projeto passou por diversas revisões, até Leiji Matsumoto se juntar à produção.

A série deu origem a um mangá chamado Cosmoship Yamato, a diversos filmes de animação, séries spin-offs, OVAs e um filme live-action. Leiji Matsumoto é escritor e artista, uma verdadeira lenda na indústria, criador também de outros pesos pesados do sci-fi espacial, como Galaxy Express 999 (1977-1981) e Captain Harlock (1977-1979), ambos contemporâneos de Star Wars.

A série é conhecida como Patrulha Estelar no Brasil

Patrulha Estelar conta as aventuras da tripulação do encouraçado espacial Yamato, antigo navio japonês afundado na Segunda Guerra Mundial, adaptado para viagens espaciais no ano de 2199 para ser a última esperança da Terra na resistência contra os ataques do planeta Gamilon.

O Yamato foi o maior navio de sua época, e foi usado na Operação Ten-Go, a última ação do Japão na guerra. Partiu do país sem combustível para voltar e iria combater até ser afundado, ou conseguir ser encalhado nas ilhas de Okinawa, onde serviria de ponte de guerra.

O gigante foi interceptado por aviões americanos, que levaram 3 horas para afundá-lo. Morreram mais de 4 mil japoneses, contra apenas 97 americanos.

Galaxy Express 999 é um set de elementos espaciais, com viagens, naves e discussões acerca da imortalidade obtida pelo avanço da tecnologia em corpos cibernéticos.

Já Harlock é um capitão renegado de uma nave que singra o espaço em meio a uma guerra civil, com uma narrativa que vai e volta na genealogia do personagem.

Capa de Astounding com uma arte do pulp Lensman

A proposta de space opera em si já era vista nos pulps americanos — revistas de papel de qualidade baixa com contos e histórias sobre ficção científica, terror, aventura e mistério.

E essas obras muitas vezes encontraram adaptações japonesas em anime bem antes de Star Wars Visions, muito antes até de George Lucas estar nas telonas com  seu filme em 1977. É o caso de Lensman, publicada entre 1934 e 1948 nas revistas pulp Amazing Stories e Astounding Stories, criada por E.E. Doc Smith, considerado um dos “pais” do gênero space opera.

A série foi indicada para o prêmio Hugo de Melhor Série de Todos os Tempos, e perdeu só porque concorreu com a série Fundação, de Isaac Asimov — o que equivale dizer que você perdeu numa partida de futebol para o Pelé.

Foi a primeira vez que a cultura pop viu algo como uma “patrulha galáctica”, com oficiais que portam poderosas armas (lentes) e que combatem a vilania.

As artes japonesas da edição japonesa do pulp
Bem melhores do que as capas originais dos pulps americanos

Em 1956, o escritor e editor da DC Comics, Julius Schwartz, criou um personagem bem parecido com a proposta: o Lanterna Verde Hal Jordan, reinvenção de outro super-herói de mesmo nome.

Até a Marvel Comics entrou no mood, com a criação da Tropa Nova em 1979, pelo escritor Marv Wolfman.

Lensman ganhou uma adaptação em anime em seriado de TV, com 24 episódios lançados entre 1984 e 1984. O obra chegou a passar no Brasil na forma de uma colagem de episódios para um “filme”, lançado como Lensman – O Poder Cristal.

O anime de Lensman

Outra obra relevante é Captain Future, um cientista e aventureiro espacial criado em um pulp de mesmo nome em 1940, por Mort Weisinger (que se tornaria um dos escritores mais prolíficos da DC Comics, co-criador do Aquaman, Arqueiro Verde, Johnny Quick e o Vigilante/Greg Saunders — e Leo Margulies.

O principal escritor da série foi Edmond Hamilton, também um prolífico escritor de ficção científica e roteirista da DC, com histórias de Batman, Superman e Legião dos Super-Heróis.

Uma das capas do pulp Captain Future

Em 1967, a Toei, uma das maiores produtoras de desenhos e séries do Japão, fez 24 episódios live-action de uma série chamada Captain Ultra, levemente baseada na obra.

Em 1978, um ano depois de Star Wars – Uma Nova Esperança ter sido lançado,  Toei lançou o anime de Captain Future, uma série de TV com 53 episódios, dessa vez com material mais fiel ao pulp.

Edmond foi casado com a também escritora de ficção científica, Leigh Brackett, que foi nada mais nada menos que co-roteirista de Star Wars – O Império Contra-Ataca (1980), e embora George Lucas tenha alterado o roteiro ao lado de Lawrence Kasdan, decidiu manter o nome de Brackett nos créditos. 

Star Wars – O Império Contra-ataca, de 1980, o melhor produto da saga

Publicado em 1959, na revista The Magazine of Fantasy & Science Fiction, Tropas Estelares (Starship Troopers no original), de Robert Heinlen, é um romance que pode ser encarado como space opera militar.

Uma das capas de Tropas Estelares

Ele narra a história do conflito de humanos contra alienígenas insectóides, com os soldados usando exo-armaduras, conceito já abordado por Doc Smith em Lensman.

O filme de Paul Verhoeven, lançado nos cinemas em 1997, adapta a obra com grande liberdade criativa, e que de certo modo até hoje não é muito bem entendida.

Em entrevista ao jornal The A.V. Club, Verhoeven revelou que o seu uso satírico de ironia e hipérbole é como “brincar com o fascismo, ou a imagem fascista, para fazer realçar certos aspectos da sociedade norte-americana. Claro, o filme é sobre ‘vamos todos para a guerra e vamos todos morrer.'”

O filme de 1997 de Paul Verhoeven para o Tropas Estelares, que difere bem da obra original

Em 1979, surge a franquia de mechas (robôs gigantes) Mobile Suit Gundam, história de mechas pilotáveis inspirados nos exoesqueletos de Tropas Estelares em guerras estelares pelo universo — a inspiração é declarada pelos criadores.

A série japonesa é o marco do gênero Real Robots, termo criado para diferenciar dos Super Robots, gênero criado por Go Nagai em Mazinger Z, de 1972). Aliens (1986), filme de James Cameron, que continua a obra Alien, de 1979, incorporou vários temas e frases do romance, tais como os termos “the drop” e “bug hunt“, assim como a empilhadeira exoesqueleto.

Um ano depois, em 1988, os estúdios de animação Sunrise e a Bandai Visual produziram um OVA de Tropas Estelares, chamada Uchu no Senshi.

Mazinger Z
Gundam Wing, uma das séries mais famosas da franquia

Tropas Estelares, o anime
Arte de Ed Emshwiller para a capa da revista The Magazine of Fantasy & Science Fiction, novembro de 1959, para Tropas Estelares
O primeiro filme da franquia ganhou uma novelização em edições de bolso, ao melhor estilo pulp

Star Wars Visions

Star Wars já tinha trabalhado um “Visions” nesse livro de Timothy Zhan, que continua os eventos de O Retorno de Jedi

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