O SWU 2011: atrações musicais de peso, briga no palco, muita chuva e lama, (alguns) ótimos shows, outros (muitos) nem tanto, e um público (na época) cada vez mais sedento de eventos musicais.
O segundo festival SWU Music & Arts que aconteceu em Paulínia, em um line-up confuso e misturado em três dias (12, 13 e 14 de novembro), e que, majoritariamente, juntou monstros clássicos do rock dos anos 70, 80 e 90, como Alice in Chains, Stone Temple Pilots, Megadeth, Duran Duran, Lynyrn Skynyrd e Faith No More em um evento que foi marcante no país, que veria em pouco tempo uma explosão de interesse e público por parte desse tipo de festival.
O rock ainda imperava em 2011? Não, mas era assim que era ainda, mesma situação do evento do ano anterior, o SWU 2010.
Sustentar o discurso
A começar, nunca um line-up vai agradar 60 mil pessoas ao mesmo tempo (média do público no SWU 2011), e nunca uma publicidade forçada de sustentabilidade (que o SWU tentou vender em 2010 e 2011) seria comprada pelo público pagante, que, afinal, não desembolsou dinheiro para isso — por mais que a proposta seja válida.
Feito e vendido em segundo plano como uma reunião para discussões sobre sustentabilidade, o SWU com certeza não se notabilizou por isso.
O público estava mais interessado em ouvir e ver de perto suas bandas preferidas e beber a procurar um lixo e jogar os copos plásticos de cerveja para reciclagem.
A atitude dos frequentadores está longe da proposta colocada (como acontece na maioria das vezes no país-Brasil dos habitantes-brasileiros).
Mas sendo fiéis às tradições de festivais de rock, os dias de SWU empoçados de chuva e sujos de lama serviu de bênção para uma celebração de milhares de pessoas que curtiram 73 shows nacionais e internacionais em um espaço que realmente comportou o evento.
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Segundo os organizadores, o público total dos três dias foi de quase 180 mil pessoas. O festival terminou com a promessa de uma nova edição em 2012 (para fugir das chuvas), mas ela nunca aconteceria.
O SWU 2011 rolou em uma área total de 1.700.000 m2 (dos quais 445.000 m2 de arena), no Parque Brasil 500, em Paulínia, cidade do interior de São Paulo.
A estrutura contava com área de camping para 1.500 barracas; 4 praças de alimentação (3 na arena e 1 no camping); estacionamento para 16.500 veículos (sendo 15.000 para o público da arena e 1.500 para os campistas) e 13 postos médicos.
Rural vs urbano
Se o primeiro SWU 2010 em Itu foi mais família — também no interior de SP, no Parque Maeda, um camping para pesca e descanso –, num mood um pouco mais rural e festival mesmo, com muito verde pra lá e pra cá, em chão de terra, grama e árvores, o SWU 2011 de Paulínia estava bem mais urbano, em chão de asfalto e terra batida (que virou lama), mais mauricinho e melhor organizado, uma verdadeira pista de velocidade (o Parque Brasil 500 é para isso).
Parte dessa organização mais funcional se deu com a ideia dos palcos principais um de frente pro outro, uma grande sacada da produção.
E ter apenas um palco secundário “pequeno” para bandas que não aglomeram público em massa — como o Black Rebel Motorcycle Band ou o Sonic Youth — sempre parece errado, dada a (dependendo) importância e prestígio de quem sobe lá, mas é assim que a banda toca, todos sabemos.
O festival SWU 2011
Os palcos principais, chamados pela organização de Consciência e o Energia, ficavam um de frente para o outro, à uma grande distância, muito diferente do SWU 2010, em que os dois principais estavam lado a lado em uma distância muito mais próxima, o que literalmente impedia a movimentação.
O palco New Stage foi dedicado à bandas e artistas “menores”, o que não significava desconhecimento do público — Simple Plan e o Hole da Courtney Love (epa!) se apresentaram nele.
O Heineken Greenspace era o palco destinado ao som eletrônico do SWU 2011, as usual.
A área VIP saiu da frente do palco, como estava no SWU 2010, e foi para a lateral, em uma construção/instalação que devia ser uma das maiores áreas VIP já construídas em festivais.
Os problemas e vantagens da distância
O lugar em si onde aconteceu o festival favoreceu uma divisão mais equilibrada e justa. O Parque Brasil 500 é um descampado enorme quase sem nenhuma sombra, com muitos trechos de terra batida e algum asfalto aqui e ali.
Quem queria se abrigar do sol forte ou da chuva, contava com uma grande arquibancada coberta, de onde podia se ver os shows dos dois palcos principais, Consciência e Energia — de uma grande distância, obviamente.
Isso acarretou um grande problema único e exclusivamente provocado pela organização: a falta de indicação para os palcos, para a lista dos shows e dos horários do SWU 2011.
Isso e o line-up esquizofrênico foram os poucos desacertos do festival. Para quem não queria aglomerar perto das grades para escutar e ver seus artistas preferidos, podia ficar de boa mais longe: praça de alimentação lotada mas bem atendida, e até opções veggie (há dez anos isso ainda era “novidade”), e não havia muitas filas para banheiro e bebida, o que permitiu aproveitar melhor o vai e vem dos palcos para quem decidia fazer isso.
E para quem decidiu ficar em casa, a cobertura do Multishow atendeu bem às expectativas.
Se liga no release oficial do evento:
“Seguindo o modelo e conceito de grandes festivais internacionais, onde o público acampa e vivencia o evento de maneira integral durante três dias, o SWU terá quatro palcos. São dois principais, o Palco Energia e o Palco Consciência; o palco New Stage, onde se apresentarão novas tendências e bandas alternativas; e a grande tenda de música eletrônica, a Greenspace: depois do sucesso do ano passado, a tenda eletrônica teve este ano sua capacidade ampliada, recebendo um público de 10 mil pessoas durante cada dia (o do SWU 2010 era bem pequeno mesmo).
O SWU é um movimento que convida as pessoas a repensar atitudes, trazendo o debate sobre a sustentabilidade para a esfera individual de ação – demonstrando como as nossas escolhas diárias podem contribuir para um mundo mais equilibrado no âmbito econômico, social e ambiental.”
O line-up do SWU 2011
Sábado, 12 de novembro
Emicida | Consciência
Michael Franti & Spearhead | Energia
SOJA | Consciência
Marcelo D2 | Energia
Damian ‘Jr. Gong’ Marley | Consciência
Snoop Dogg | Energia
Kanye West | Consciência
Black Eyed Peas | Energia
New Stage
TBA
Copacabana Club
Miranda Kassin & Andre Frateschi
Matt & Kim
OFWGKTA
Ghostland Observatory
Heineken Greenspace
Database
Ask to quit
Avicii
DJ Marky & S.P.Y Present Galaxy
Whow made who (Tomas Barfod)
James Murphy (LCG Soundsystem)
Frankie Knuckles
Tiga
Domingo, 13 de novembro
Zé Ramalho | Energia
Ultraje a Rigor | Consciência
Tedeschi Trucks Band | Energia
Chris Cornell | Consciência
Duran Duran | Energia
Peter Gabriel & The New Blood Orchestra | Consciência
Lynyrd Skynyrd | Energia
New Stage
Apolonio
Sabonetes
III!
Is Tropical
Playing For Change
Modest Mouse (que não se apresentou)
Hole
Heineken Greenspace
Raul Boesel
Meme
Gareth Emery
Paulo Boghosian
Booka Shade
John Digweed
Afrojack
Fedde Le Grand
Segunda, 14 de novembro
Raimundos | Energia
Duff McKagan’s Loaded | Consciência
Black Rebel Motorcycle Band | Energia
Down | Consciência
311 | Energia
Sonic Youth | Consciência
Primus | Energia
Megadeth | Consciência
Stone Temple Pilots | Energia
Alice In Chains | Consciência
Faith No More | Energia
New Stage
Medulla
Ash
Pepper
The Black Angels
Bag Raiders
Miyavi
Crystal Castles
Simple Plan
Heineken Greenspace
Dubshape
Damian Lazarus
M.A.N.D.Y.
Jooris Vorn + Nic Fanciulli
Gui Boratto
Layo & Bushwacka
Loco Dice
Sven Vath
DIA 1
HIP-HOP, RAP E ATÉ PAGODE (!?)
No primeiro dia, sábado, dia 12, as atrações de peso ficaram por conta de artista ligados ao reggae, hip hop e rap.
O começo dos destaques foi puxado pelo Emicida (que em pouco tempo se tornaria um dos principais artistas do Brasil). Seu show no SWU 2011 foi um dos primeiros solos de sua carreira.
O rapper fez seu hip hop junto com um DJ, no formato clássico DJ+MC. Mandou 21 músicas, com algumas covers de Xis, Rappin Hood, Racionais MC´s, Thaíde e Sabotage no meio. Leandro Roque de Oliveira, vulgo Emicida, antes do SWU, estava com sua segunda mixtape lançada, Emicídio, e em abril de 2010, era também repórter do programa Manos e Minas, da TV Cultura, onde entrevistou diversas celebridades do mundo musical. Meses antes do evento, estreou um programa próprio na programação da MTV Brasil, chamado Sangue B, onde trazia várias informações relativas ao rap e hip hop nacional e internacional.
Ele foi seguido do SOJA (Soldiers Of Jah Army), banda americana de reggae, e do cantor jamaicano Damian Marley, o sexto filho do Bob Marley, dois artistas que trouxeram o ritmo para SWU.
Marcelo D2 apresentou sua conhecida mistura de samba e hip hop em festa rap. Mandou 21 músicas, com Vai Vendo de começo.
Na metade da apresentação, Fernandinho Beat Box, parceiro de longa data do cantor, fez uma demonstração de seu talento, emitindo uma versão vocal da bateria de Sunday, bloody sunday, do U2, com Marcelo D2 cantando o refrão do clássico.
O rapper norte-americano Snoop Dogg botou todo mundo para cima com uma seleção habitual de suas músicas, a maior de forte apelo sexual — aliás, muitas mulheres no público dançando e cantando Who Am I (What’s My Name).
O sex appeal aumentava com três dançarinas exótica no palco com “muita” pouca roupa e o tradicional mascote cachorro-fantasia do Calvin Cordazar Broadus Jr (esse é o nome do Snoop Dogg).
Ele fez uma entrada dramática ao som de O Fortuna (música da ópera Carmina Burana) O artista terminou seu show com Minha Fantasia, dos pagodeiros do Só Pra Contrariar (!?).
Vale citar que essa é uma versão de It Ain’T Over Til It’s Over, de Lenny Kravitz. Ninguém entendeu nada, mas era isso, foi Snoop tirando onda com umas sambadinhas com seu jeitão despojado. Tocou apenas 11 músicas, e essa foi a última delas aliás.
Depois dele entrou o mito que não é mito, numa apresentação megalomaníaca (e infelizmente comprida), sua majestade de nada, Kanye West.
O artista caprichou na megalomania: foram mais de 2 horas em 23 músicas, com direito à uma Chariots of Fire (do Vangelis) no meio, e West subiu no Palco Consciência acompanhado de 16 bailarinas e seus músicos, sob um pano de fundo que reproduzia estátuas gregas em meio a raios laser e cascata de fogos.
Mais Kanye West, impossível. Em meio às próprias composições, o cantor enfiou canções que faz para outros artistas pop: Run this town (Jay-Z e Rihanna), Homecoming (Chris Martin), All falls down (Syleena Johnson) e E.T. (Katy Perry). Fergie, do Black Eyed Peas, fez uma tímida apresentação em All of the lights (cujo refrão é cantado por Rihanna, na verdade).
Na verdade (2): o público do SWU 2011 estava muito mais interessado em ter o Black Eyed Peas logo no palco.
O Black Eyed Peas fez um show com inacreditáveis 32 músicas, a maioria delas em uma inexplicável discotecagem-linguiça, cheias de hits de outros artistas, no que mais pareceu uma festa da galera de nossos amigos do que uma apresentação de arena em um festival de rock.
Fergie, Will.I.Am e cia. estavam empenhados (na época) em desmentir o fim do grupo, e fizeram questão de levantar um coro de “Black Eyed Peas forever”. Um ano depois, Fergie pulou fora, sendo que isso se tornou oficial só em 2018 (!). O Black estava no topo das paradas desde a segunda metade da década de 2000.
Mas uma estafa podia ser sentida claramente na apresentação deles no SWU 2011. Com um show extenso, a balada já tinha virado o que toda balada vira: fim de festa.
Era a sexta passagem do Black Eyed Peas pelo Brasil, que viu um público cansado, que se dispersou e deixou de cantar junto já no meio da apresentação.
Dentre as firulas, rolou Mas que nada e Chove Chuva (Jorge Ben Jor), Rap das Armas (Cidinho & Doca), Song 2 (Blur), Smells Like Teen Spirit (Nirvana) e até de um “concorrente”, o Party Rock Anthem (LMFAO, bombadíssimo na época).
O show do Black Eyed Peas encerrou a primeira noite do SWU, que contou com 60 mil pessoas, quase às 2 da manhã, ao som do megahit I Gotta Feeling, que, vai saber a razão, a Fergie enfiou parte de With or Without You, do U2, no meio.
Vale destacar um iniciante Avicii na tenda Heineken. Um ano depois do SWU 2011, o DJ lançaria Sunshine, com David Guetta, canção que foi indicada ao Grammy na categoria de Melhor Gravação de Dance do ano.
Tim Bergling, vulgo Avicii, se tornaria figura carimbada em trabalhos de outros artistas pop, com bastante hits nas paradas. Infelizmente, o DJ sueco se matou em 2018.
No New Stage, Matt & Kim era uma boa opção para escutar/ver, com seu indie popdance, dois queridinhos de trilha sonora de videogames e do seriado Gossip Girl.
Também tivemos um James Murphy na tenda da Heineken. Líder da banda LCD Soundsystem, o cara é músico, produtor, DJ e co-fundador da gravadora de dancepunk DFA Records.
Integrou as bandas Falling Man (de 1988 a 1989), Pony (de 1992 a 1994) e Speedking (de 1995 a 1997). Também foi técnico de som da banda Six Finger Satellite. Começou a discotecar em 93, usando o apelido Death from Above, que mais tarde passaria a ser o nome da gravadora fundada por ele e Tim Goldsworthy.
Seu mais conhecido projeto musical é o LCD Soundsystem, que em 2002 ganhou a atenção com o lançamento do single Losing My Edge, antes de lançar o primeiro álbum em 2005. O segundo álbum do LCD, Sounds of Silver, foi lançado em março de 2007, e é um dos mais celebrados discos do meio.
DIA 2
BRIGAS, ATRASO, CHUVA E CLÁSSICOS
O segundo dia de festival, domingo, 13 de novembro, foi marcado pelo início das chuvas e lama no SWU 2011, além de muitas brigas e cancelamentos de apresentações.
Cerca de 45 mil pessoas estiveram nesse dia, que teve sua abertura com o artista Zé Ramalho no Palco Energia.
O adiamento do show do Ultraje a Rigor no Palco Consciência, por conta da forte e torrencial chuva que começou no dia (mais de 2h de atraso), resultou em troca de socos entre roadies da banda com os do cantor Peter Gabriel, que seria ainda só depois de Chris Cornell, o cantor americano que entraria depois de Roger e sua trupe.
Os roadies de Gabriel queriam reduzir o tempo do Ultraje no palco para não atrasar a entrada do britânico.
O desempenho do Ultraje teve boa resposta do público, que pulou muito ao som dos vários sucessos manjados do grupo. Eles tocaram 13 músicas, e na décima quarta, ao tentar encerrar Marilou, os equipamentos do Ultraje foram desligados.
Roger Moreira aproveitou e disse “gringos que pensam que mandam no Brasil“. Peter Gabriel pediu desculpas depois, em nota oficial. Roger ainda conseguiu piorar tudo, ao apelidar um de seus roadies de Chris Cornell, devido à aparência física parecida, e o público entender que o cantor também estava com problemas com a equipe do Ultraje.
Por falar no ex-vocalista do Soundgarden e Audioslave, depois de toda a briga, Chris subiu ao palco para mostrar versões acústicas de músicas de sua carreira solo, das duas bandas citadas e até do Temple of the Dog.
Não agradou. Cornell estava meio desafinado e o público não estava ali para acústicos no meio da chuva, coisa que num show de arena ninguém queria ver. Se tinha algum grunge da velha guarda no público, deve ter gostado de algo, mas foi com certeza um dos pontos fracos do SWU 2011.
Ninguém merece num festival em que o alto volume é rei, ser recebido por voz, o violão e um cara sentando num banquinho. Ops, ponto positivo: pelo menos não tinha banquinho.
Logo, Chris padeceu de pé. Para um festival, ficou bizarro. O Cornell mesmo disse isso no show. Não foi à toa que foram apenas 12 músicas. A performance e potência de voz e talento do artista são inegáveis, ele era famoso por sua extensão vocal de quatro oitavas.
Chris Cornell foi ganhador de 3 Prêmios Grammy ao longo de sua carreira, com 16 indicações no total. Ele ganhou notoriedade com sua banda Soundgarden com o lançamento do álbum Badmotorfinger, e a banda alcançou fama mundial com o hit Black Hole Sun do álbum Superunknown (1994).
Com o single You Know My Name, música tema do filme 007 – Cassino Royale (2006), tornou-se o primeiro cantor americano a gravar a música-tema de um filme da série 007.
Em 2017, depois de se apresentar com o Soundgarden em Detroit, EUA, Chris retornou ao quarto de hotel onde estava hospedado e se enforcou. Tinha 52 anos.
No Palco Energia, os maiores representantes do soft rock new wave faziam um show bem redondinho.
O Duran Duran foi bem recebido pelo público, já que muitas clássicos de seu repertório estão no imaginário coletivo dos amantes da música — quem nunca ouviu uma delas em uma rádio FM Antena 1 ou Alpha style da vida está mentindo.
Essa é a força de uma celebração nostálgica: todo mundo sabia cantar tudo, e há anos.
A banda está em atividade desde 1978, e no SWU 2011, celebrou 30 anos, já que o primeiro disco, também chamado Duran Duran, foi lançado em 1981.
E foi com a segunda faixa dela, Planet Earth, que os caras abriram seu show no festival, que não podia ter outra para servir de encerramento: Rio, do álbum homônimo seguinte, de 1982, e que leva esse título pelo fascínio que o país provocava nos integrantes ingleses da banda.
O Duran Duran foi a mais bem-sucedida banda do estilo new romantic, sendo uma das mais importantes da década de 1980.
Vale citar todas as músicas tocadas:
Planet Earth
A View to a Kill
All You Need Is Now
Safe (In the Heat of the Moment)
Come Undone
The Reflex
Girl Panic!
The Chauffeur
Ordinary World
Notorious
Hungry Like the Wolf
(Reach Up for the) Sunrise
The Wild Boys
Rio
De volta ao Palco Consciência, era a vez de Peter Gabriel se apresentar. Sua performance foi marcada por ativismo e discursos em português, acompanhando da The New Blood Orchestra, com versões, claro, orquestradas de suas músicas.
O cantor também fez uma homenagem comovente ao pai, que completaria 100 anos de idade em abril de 2012. O ex-Genesis teve plateia cheia, e fez um show sóbrio, em um repertório quase totalmente formado por faixas de seu projeto atual na época, Scratch My Back (2010).
Uma boa estreia em solo brasileiro, onde executou 15 músicas — apenas a primeira não era dele, Heroes, do David Bowie. O músico inglês Peter Gabriel começou como vocalista, flautista e líder da banda de rock progressivo Genesis (1967-1975), e se notabilizou por ser um notório ativista dos direitos humanos.
Mas colocar ele antes do Lynyrd Skynyrd, banda clássica de southern rock americana dos anos 70, realmente não dá para entender.
O Skynyrd foi o headliner do segundo dia, e mesmo com apenas com um integrante original — Johnny Van Zant — o grupo fez um dos melhores shows do SWU 2011.
A história do Lynyrd Skynyrd é uma das mais inacreditáveis do rock.
Banda do sul dos Estados Unidos, desde 1964 faziam um rock rural bem característico, e nos anos 1970 começaram a fazer um enorme sucesso, interrompidos por uma história incrível e trágica de acidente de avião, ocorrido em 1977 nas proximidades de Gillsburg, no Mississipi.
Na queda, morreram várias pessoas da tripulação, da produção e da banda, incluindo o principal compositor, Ronnie Van Zant.
Quem sobreviveu e se arrastou para fora dos escombros para conseguir ajuda, ainda levou tiros de caipiras burros rednecks do local, que não entenderam nada do que estava acontecendo.
A banda só retornaria em 1987, tendo como líder Johnny Van Zant (irmão mais novo de Ronnie).
O Lynyrd Skynyrd tocou 14 músicas em sua apresentação no SWU 2011 (foi a primeira vez que eles vieram ao Brasil), sendo que as duas últimas foram as esperadas Sweet Home Alabama e Free Bird, dois dos maiores hits da banda.
A Simple man, outro sucesso, apareceu no meio do show, junto com uma bonita homenagem aos integrantes mortos no acidente de avião, com direito a fotos antigas no telão. “Dedico essa música aos companheiros que estão no firmamento do rock, olhando e cuidando de nós“, comentou o cantor Johnny.
Vale citar três situações no Palco New Stage.
Primeiro o show do !!!, banda de indie rock/dance-punk norte-americana que fazia bastante sucesso na época, graças a suas músicas no game Fifa 2008 e o disco Stranger Weather, Isn´t It (2010).
Segundo, a não-presença do Modest Mouse, banda americana de indie rock que vinha de um bem sucedido disco, o We Were Dead Before the Ship Even Sank (2007). A empresa que eles contrataram para trazer o equipamento e instrumentos não o fez a tempo de se apresentarem no SWU 2011.
Com certeza (se for essa a verdade mesmo), o mico do ano no mercado musical.
Terceiro: quem se apresentaria depois deles (e se apresentou) foi o Hole, a banda de Courtney Love, a sempre imprevisível rainha do rock grunge, eterna viúva de Kurt Cobain.
Courtney comandou um show que marcou muito mais pelos seus atos do que pelas músicas. Entrou com (aparentes) dançarinas brasileiras, pagou peitinho (como sempre), fez piadas, brigou com uma pessoa da plateia, usou um batom que pediu emprestado ao público, exigiu que a galera dissesse que Dave Grohl (Foo Fighters) e Billy Corgan (Smashing Pumpkins) fossem gays e usou uma camiseta de um fã com os dizeres “Courtney Be My Bitch”.
Ah, e claro, cantou mal as músicas — quem queria ouvir Malibu, não escutou nada. Um show bem bagaceira, como ela. Só vendo pra acreditar.
O Hole foi formado em Los Angeles por Courtney (vocal, guitarra) e Eric Erlandson (guitarra) em 1989.
A banda teve diversas formações diferentes, a mais conhecida contando com a baterista Patty Schemel a as baixistas Kristen Pfaff (falecida em 1994, por overdose de heroína, meses depois do suicídio de Kurt Cobain) e Melissa Auf der Maur.
Seu rock alternativo a fez uma das bandas mais bem sucedidas comercialmente formada por mulheres, e uma das primeiras a falar de feminismo e protagonismo da mulher. A cantora Lana Del Rey é grande fã da banda.
O Tenho Mais Discos que Amigos! fez uma matéria só da despirocada da Courtney no SWU 2011.
“Eu não preciso ver uma foto de Kurt, seu babaca. E eu vou pedir para os seguranças te expulsarem se você continuar mostrando. Eu não sou o Kurt. Eu tenho que viver com suas merdas, seu fantasma e sua filha todos os dias. Mostrar isso é estúpido, rude e eu vou te encher de porrada se você fizer isso de novo. Não foi você quem casou com ele. Fui eu. Você não foi expulso de uma banda por ele como o Dave – ele foi. Vá ver a merda do Foo Fighters e faça esse tipo de merda. Ótimo, agora nós vamos embora. Vá se foder“, disse ela, que abandonou o palco, e só retornou quando exigiu que a plateia gritasse “Foo Fighters é gay!” (?!).
Senhoras e senhores…Courtney Love.
DIA 3
ROCK ANOS 90
O terceiro dia de festival, 14 de novembro, uma segunda-feira, teve 70 mil pessoas, e foi ainda mais chuvoso que o domingo, e foi encerrado por uma apresentação insana do Faith no More, um dos shows mais emblemáticos do SWU 2011.
Primeiro, anos 1980: os caras do trash metal do Megadeth e o pós-punk alternativo do Sonic Youth. Depois, uma trinca imbatível anos 1990: Alice in Chains, Stone Temple Pilots e o Faith no More — e o rock psicodélico do Black Rebel Motorcycle Club.
Também rolou Primus, Down, Ash, Duff McKagan’s Loaded, Sven Vath e Simple Plan. O melhor line-up de todos os dias de festival, sem dúvidas.
Quem abriu primeiro o último dia no Palco Energia foram os Raimundos, ainda tentando juntar cacos do traumático abandono do ex-vocalista Rodolfo.
O guitarrista Digão tentava levar a banda, em cima dos sucessos antigos. No começo de 2010, Tico Santa Cruz, vocalista da banda Detonautas, assumiu os vocais do grupo por um certo período.
Os Raimundos participaram do SWU 2011 graças a uma votação pela internet no site do festival para a escolha de uma banda nacional. Eles foram uma das maiores bandas de rock do Brasil, que só foi ter um novo trabalho 12 anos depois de KavooKavala (2002, feito com o fígado pelas viúvas do Rodolfo), o ótimo disco Cantigas de Roda, de 2014, o sexto disco do grupo. Billy Graziadei, líder do Biohazard, banda americana de hardcore metal, foi o produtor do álbum feito por financiamento coletivo.
Quem entrou depois deles foi o Black Rebel Motorcycle Band, músicos californianos que fazem um rock psicodélico de garagem pós-punk.
Eles tinham lançado o disco Beat The Devil’s Tattoo (2010) e estavam bem conhecidos na época. Foi uma das melhores apresentações do SWU 2011, cru e sombrio. As 13 músicas apresentadas, de início de modo soturno e depois mais orgânica — um power trio baixo-guitarra-baterias — exemplifica bem como fazer rock.
O nome da banda foi tirado do filme O Selvagem (The Wild One, 1953), onde o ator Marlon Brando interpreta o líder de um bando de motoqueiros rebeldes. Os caras inclusive usam a mesma caveira pirata com dois pistões no lugar dos ossos em suas jaqueta.
A banda ficou bem popular depois de participar da trilha sonora do filme Lua Nova (2009), da saga Crepúsculo (credo).
Enquanto isso, no Palco Consciência, era o Duff McKagan’s Loaded que abria os trabalhos.
Grupo americano de hard rock formado em Seattle, Washington, em 1999, liderado pelo vocalista, compositor e baixista Duff McKagan, antigo Guns N´Roses e Velvet Revolver, banda que tinha Scott Weilando no vocal.
Ele começou o projeto em 2008, e no ano seguinte lançaram o álbum Sick, que teve turnê no Brasil na época, no festival Maquinaria. Em 2011, era o disco The Taking, com que trabalharam em sua apresentação no SWU.
Eles também passaram por Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Duff tocou 14 músicas, e 5 delas foram cover: New Rose, do The Damned; Attitude, do Misfits; e So Fine, Dust n’ Bones e It’s So Easy, do Guns, com a qual encerrou seu show. Foi o pontapé inicial do hard rock no dia “memória anos 90” do SWU 2011.
O Down entrou depois. É a banda de metal formada em 1991 pelo Phil Anselmo (ex-vocalista do Pantera e do Superjoint Ritual), e eles apresentaram trabalhos do terceiro (e último) disco da banda, Down III: Over the Under (2007).
Tocaram 10 músicas, e claro, uma delas foi Walk, clássico do Pantera, bem mais trash que o trabalho que Phil faz no Down. Na verdade foram pouco mais de 30 segundos, mas bastou para satisfazer a plateia.
A banda terminou a apresentação no fim da tarde desse SWU ao som de Burry me in smoke, com a presença de Duff McKagan nos baixos.
O Sonic Youth fez seu último show como banda no SWU 2011, já que os integrantes principais, Thurston Moore e Kim Gordon, anunciaram em outubro do mesmo ano, que estavam se divorciando, após 27 anos de casamento.
A despeito dos bastidores, toda a piração sonora característica foi entregue como se deveria. A apresentação teve o experimentalismo de sempre dos caras, com os maiores hits da banda sendo tocados.
O destaque ficou para o final apoteótico e emocionado proporcionado pelo mar de distorção dos elementos que o Sonic Youth trabalha: rock alternativo, elementos de noise, post-punk, hardcore e composições avant garde.
O Sonic Youth foi uma banda de rock alternativo norte-americana, formada no ano de 1981, em Nova Iorque.
Sua última formação foi Thurston Moore (vocais e guitarra), Lee Ranaldo (vocais e guitarra), Kim Gordon (baixo, guitarra e vocais), Mark Ibold (baixo) e Steve Shelley (bateria). Se tornaram um ícone underground da música e da cultura alternativa norte-americana.
Lançaram 15 discos desde a estreia com Confusion Is Sex (1983). O último foi The Eternal (2009). Em Goo (1990), a banda chegou ao ápice do seu polimento de som, evoluindo o experimentalismo do estilo livre para uma estrutura mais focada, um exemplo de como executar o salto de banda de rock underground para um grande selo major e sobreviver intacto. O disco não vendeu bem, mas raramente o que é bom vende mesmo.
De volta ao SWU 2011. Rolou até uma cena “simbólica” das guitarras e baixo do Sonic Youth no palco, no final do show. No final da banda.
O fim do Sonic Youth.
O último setlist:
Brave Men Run (In My Family)
Death Valley ’69
Sacred Trickster
Calming the Snake
Mote
‘Cross the Breeze
Schizophrenia
Drunken Butterfly
Starfield Road
Flower
Sugar Kane
Teen Age Riot
Provando que a esquizofrenia do SWU ainda imperava mesmo no melhor dia, quem entrou logo em seguido do Sonic foi o Megadeth, banda americana de thrash metal liderada por seu fundador, o vocalista e guitarrista Dave Mustaine, famoso no mundo do metal por ter sido demitido do Metallica, cuja rivalidade seria perene.
Liderados por Mustaine, os cara do Megadeth só tocaram 8 músicas — Trust, In My Darkest Hour, Hangar 18, Wake Up Dead, Head Crusher, Symphony of Destruction, Peace Sells e Holy Wars… The Punishment Due — o que representou um pocket show heavy metal de 50 minutos nesse SWU.
Não houve surpresas para quem esperava o alto volume sonoro pesado do trash metal característico da banda.
Para quem acompanhou a história do Megadeth no Brasil — começou em 1991, quando o grupo tocou na segunda edição do Rock In Rio — foi o esperado.
Quando o show deles acabou, foi a hora de começar a tríade final noventista.
No Palco Energia, entrava o Stone Temple Pilots. Eles ocuparam o palco com uma performance mais cadenciada de suas músicas, que por ser um rock alternativo grunge, poderia ser mais alto e sujo, mas que funcionou mais límpido. Seria por causa da chuva?
Até o nem sempre simpático Scott Weiland, o vocalista da banda, estava ameno. “Obrigado por passarem tanto tempo na chuva para ouvir nossas músicas“. E até elogiou o evento: “É um festival adorável, bonito”. Nem parecia o Pilots de sempre.
setlist:
Crackerman
Wicked Garden
Vasoline
Heaven and Hot Rods
Between the Lines
Big Empty
Silvergun Superman
Plush
Interstate Love Song
Big Bang Baby
Sex Type Thing
Trippin’ on a Hole in a Paper Heart
A maior parte das 12 canções apresentadas representam muito a sonoridade rock dos anos 90, e conferir de perto a performance de Weiland — que não estava nos melhores dias, usando um megafone — em se entregar tanto à elas, foi bem legal.
Não foi o melhor show da noite, mas foi bem recebido e bem feito. Na época, o Stone Temple Pilots estava com seu sexto álbum lançado, que atingiu no seu lançamento o segundo lugar no top-200 da Billboard, inclusive com uma turnê mundial, com passagens no Brasil.
Anos depois da apresentação do SWU, Weiland tinha brigado com os colegas do STP, com um processando o resto pelo uso do nome da banda (!).
Os músicos escolheram um novo vocalista em 2013, Chester Bennington, do Linkin Park, que ficou até 2015.
Em 3 de dezembro, Scott Weiland foi encontrado morto dentro do ônibus de sua banda, a Scott Weiland & the Wildabouts, no estado de Minnesota, nos Estados Unidos. De acordo com exames toxicológicos, havia cocaína, ecstasy e álcool em grandes quantidades no corpo do artista, que sofria de asma e problemas cardíacos.
Em 20 de julho de 2017, Bennington foi encontrado morto em sua residência em Palos Verdes Estates, no sul da Califórnia. A causa da morte foi suicídio por enforcamento.
Mortes e rock, tudo a ver.
Depois do término do show, do outro lado do terreno do SWU 2011, a última apresentação no Palco Consciência ia rolar.
O Alice in Chains, um dos tripés sebentos do grunge de Seattle, que sempre teve uma pegada mais alternativa e pesada — no começo da carreira abriam shows do Van Halen e Poison, subiu ao palco.
Criada em 1987 pelo guitarrista e vocalista Jerry Cantrell e pelo baterista Sean Kinney, junto com o baixista Mike Starr e o vocalista Layne Staley logo depois, o Alice in Chains com essa formação lançou 3 discaços: Facelift (1990), Dirt (1992) e Alice in Chains (1995).
Representaram bem a cena de Seattle com suas guitarras cheias de distorção e as letras melancólicas. Com Dirt, o Alice sedimentou o grunge como gênero musical de fato.
Em meados de 1996, Staley sumiu dos holofotes do estrelato e mídia. Era um usuário full time de drogas, e nunca mais se apresentou ao vivo.
Lutou por muitos anos contra a dependência química, o que resultou em uma depressão profunda. Teve uma overdose de speedball, uma mistura de heroína e cocaína, e morreu em abril de 2002.
Substituir Layne Staley era tarefa difícil, mas os integrantes encontraram em William DuVall uma figura que atendesse às expectativas.
DuVall, que já fazia parte da cena grunge de Seattle desde o começo dos anos 1980, ficou amigo do Cantrell em 2000. Foi chamado para a turnê solo do fundador do Alice chamada Degradation Trip, que rolou entre 2001 e 2002, tocando guitarra e fazendo backing vocals.
Em 2009, um novo Alice in Chains terminou a gravação de seu primeiro álbum de estúdio depois de 14 anos, Black Gives Way to Blue, com William DuVall como o novo vocalista e também guitarrista base, dividindo os vocais com Jerry Cantrell (que é o vocalista principal da maioria das canções do álbum).
Foi nessa pegada que a banda veio para o SWU 2011.
O guitarrista Jerry se mostrou emocionado com a receptividade do público brasileiro — era meia-noite já, entrando na terça-feira (15 de novembro, o feriado).
Entre a galera, Lais Lima, 23 anos, assistente de publicidade na época, moradora de Sorocaba, fã da banda que conseguiu realizar seu sonho.
Viu eles de perto e ainda conseguiu pegar uma das palhetas que o guitarrista Jerry jogou para a plateia. “Fiquei na primeira fileira na frente do palco. E ao término do show, Jerry olhou diretamente para mim, pois eu gritava muito o nome dele. Foi quando ele jogou várias palhetas para o público e eu não consegui pegar, mas depois ele beijou outras palhetas e jogou bem na minha direção e eu peguei e me emocionei demais“, conta ela.
No show em si, após duas canções lentas e um sentido esvaziamento do público, o frontman Jerry perguntou se a plateia estava dormindo. Após tocar Man In The Box, mandou, “ah, tomaram um café?”
o setlist do Alice in Chains (18 músicas!)
Them Bones
Dam That River
Rain When I Die
Again
Check My Brain
It Ain’t Like That
Your Decision
Got Me Wrong
We Die Young
Last of My Kind
Down in a Hole
Nutshell
Acid Bubble
Angry Chair
Man in the Box
Rooster
No Excuses
Would?
O encerramento do SWU 2011 ficou a cargo do Faith no More, banda californiana metal alternativo dos anos 90, uma das mais cáusticas e autênticas do rock.
O vocalista e frontman Mike Patton fez um show intensamente maluco: falou em português vários palavrões — e corrigiu o baixista Billy Gould quando este se referiu a São Paulo como a cidade do evento, “Não é São Paulo, é Paulínia, porra!” –, operou uma câmera de TV, pediu e tomou banho de cerveja, regeu um coral de criancinhas (!), tudo sob um signo visual de candomblé (!!) — vestido de branco, em meio a mesa branca e flores, um verdadeiro terreiro em palco.
A loucura tomou conta do público logo From Out of Nowhere e não parou mais. Já era pra lá de 1 hora da madrugada e ainda chovia muito, mas as 2h de apresentação com 17 músicas esquentou o fim do festival.
Patton fez valer a frase “PORRA CARALHO” (que inclusive estava estampado em algumas camisetas à venda do merchan oficial).
A apresentação do FnM teve duas participações especiais: do poeta e educador pernambucano Cacau Gomes (em King For a Day… Fool For a Lifetime) e do Coral de Heliópolis (em Just a Man).
O último dia de SWU 2011 foi encerrado com uma música até então inédita do FnM (depois descobriríamos que era a Matador) e This Guy’s in Love With You (outra cover tradicional da banda, do Burt Bacharach).
Já passava das 3h da madrugada, e como os roadies voltaram para ajeitar os instrumentos, ficou a impressão que rolaria bis (o setlist original indicava Stripsearch e We Care a Lot), mas uma queima de fogos e um aviso de encerramento nos telões indicou o fim do evento.
o setlist do FnM no SWU 2011
Woodpecker From Mars (uma brincadeira musical com a trilha do desenho animado do Pica-Pau)
From Out of Nowhere
Last Cup of Sorrow
Caffeine
Evidence (com algumas partes em português)
Midlife Crisis
Cuckoo for Caca
Easy
Surprise! You’re Dead!
Ashes to Ashes
The Gentle Art of Making Enemies
King for a Day
Epic
Just a Man
Matador
Digging the Grave
This Guy’s in Love With You
Mike Patton se tornou integrante do Faith No More antes da banda gravar seu terceiro disco de estúdio, o clássico The Real Thing (1989), mas foi dele a voz nos maiores sucessos da banda, como From Out Of Nowhere, Epic, Falling To Pieces, Midlife Crisis, Evidence, Last Cup Of Sorrow e Stripsearch, além da inesquecível versão para Easy.
O último disco da banda, até então, era o Album of the Year (1997), mas a banda retomou as atividades em maio de 2009, com shows marcados na Europa — o primeiro show da turnê aconteceu na Brixton Academy, mesmo local onde foi gravado o álbum ao vivo do Faith no More em 1990 (disco obrigatório em qualquer biblioteca de discos).
O FnM veio nesse mood para cá, em apresentações em Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.
No final de 2010, eles anunciaram definitivamente o fim da banda (!) fazendo três apresentações em Santiago no Chile.
Mas em julho de 2011 o grupo confirmou presença no SWU 2011…onde tocaram a inédita música Matador. Não demorou muito para o quinteto revelar um single, Motherfucker. E um novo disco, Sol Invictus, foi lançado em maio de 2015, o sétimo álbum de estúdio da banda.
SWU 2012, só que não
Os organizadores Eduardo Fischer e Caco Lopes chegaram a comentar sobre um eventual SWU 2012, que deveria acontecer em setembro e outubro do ano em questão, mas como bem sabemos, isso não se concretizou.
Algumas notícias a respeito do cancelamento na imprensa especializada podem ser encontradas no site Popload, que noticiou informações de bastidores do Lollapalooza Chicago, “em meio a conversas de agentes de bandas e produtores de shows, atingiram o Brasil no começo da madrugada confirmando o que estava meio se desenhando: que o festival da sustentabilidade neste ano (2012) não vai se sustentar“.
Segundo o site, produtores do SWU estavam ainda em Los Angeles no ano de 2012 costurando patrocínios e pacote de bandas.
A exemplo de Itu, que não quis mais o festival na Fazenda Maeda, Paulínia também não queria mais o SWU no Parque Brasil 500, e a ecoproposta de ter o campo, o verde no festival (a Heineken não conta) ficou bastante comprometida. Será que o evento aconteceria na Arena Anhembi, na capital de concreto e cinzas, ao lado de um puta rio poluído?
O contexto de um possível SWU 2012 também estava em paralelo a outros acontecimentos da cena musical.
Semanas antes do SWU 2011, teve um Rock in Rio também.
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O Rock in Rio “4” teve grandes bandas de rock e heavy metal, como os irascíveis caras do Motorhead, Metallica e Slipknot, além do Red Hot Chilli Peppers, com seu recente álbum I’m With You e seus vários hits.
O evento rolou em 23, 24, 25, 29 e 30 de setembro e nos dias 1 e 2 de outubro de 2011, no Parque Olímpico Cidade do Rock, Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Não teve um Rock in Rio em 2012, mas logo no começo de 2012, o Brasil recebeu seu primeiro Lollapalooza (no Jockey Club, em São Paulo capital, dias 7 e 8 de abril), que trouxe o Foo Fighters e o Arctic Monkeys como headliners, e mais de 130 mil pessoas foram assistir.
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/ FAITH NO MORE. Um dos maiores méritos do SWU 2011 foi ter trazido Mike Patton para o Brasil. Infelizmente, o artista é mais uma das vítimas que os novos tempos de pandemia trouxeram para o âmbito mental das pessoas. O artista se pronunciou em suas redes sociais em agosto de 2021 e informou que os dois shows que faria com sua banda pessoal, o Mr. Bungle, em setembro também foram cancelados. “Lamento informar que, devido a razões de saúde mental, não posso continuar com as datas atualmente agendadas para Faith No More e Mr. Bungle. Tenho problemas que foram agravados pela pandemia que estão me desafiando agora. Não sinto que posso dar o que devo (entregar) neste momento e não vou dar nada menos do que 100 por cento. Lamento pelos nossos fãs e espero compensar em breve. As bandas me apoiam nessa decisão e estamos ansiosos para trabalhar nisso de uma maneira saudável“.
/ NEIL YOUNG NO SWU, SÓ QUE NÃO. Uma das lendas do rock, o canadense Neil Young, também estava presente no SWU 2011, mas não se apresentou (!). No ano em questão, ele pretendia percorrer a América do Norte com um Cadillac construído com motor elétrico, e incluiu o Brasil no seu roteiro para contar sua experiência em uma palestra do Fórum Global de Sustentabilidade, evento que acontecia paralelamente ao festival. Ele trouxe junto sua esposa, a atriz Daryl Hannah. Young é um músico e compositor de origem canadense, um grande guitarrista que fez sua carreira nos Estados Unidos, ao misturar letras pungentes em canções de hard rock cheias de guitarras sujas influenciadas pelo country americano. Seus shows sempre tem a banda Crazy Horse, que estão junto do cantor desde o início da carreira.
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