IT IS NOT MEANT TO BE | Tame Impala e o rock psicodélico dos anos 2010

It Is Not Meant To Be é a primeira faixa do primeiro álbum do Innerspeaker (2012), do Tame Impala, uma música de rock psicodélico pela qual a banda AKA Kevin Parker ficaria famosa na cena musical mundial.

Na música, Kevin canta as contradições de gostar de uma garota que é o oposto do que ele é, já que seu jeito largadão é o contrário do que ela quer, do bom e do melhor. E como essa dualidade amaldiçoa o relacionamento dos dois.

O mood sombrio da letra de It Is Not Meant To Be não seria o padrão que Kevin imprimiria rotineiramente no seu trabalho, mas o recorte da sonoridade instrumental com certeza.

Os sintetizadores e pedais distorcidos cobrem as guitarras, e o vocal característico de Kevin, que canta como se estivesse numa sala e não em um show, seria a marca do Tame Impala, uma das bandas de rock mais legais e cool dos anos 2010.

I wanted her, I wanted her
But she doesn’t like the life that I lead
She doesn’t like the life that I lead
Doesn’t like sand stuck on her feet
Or sitting around smoking weed
I must seem more like a friend in need
And I boast that it is meant to be
But, in all honesty, I don’t have a hope in hell
I’m happy just to watch her move
And in all honesty, I don’t have a hope in hell
I’m happy just to watch her move
And she doesn’t like the friends that I make
Doesn’t make friends for friendship’s sake
She just gets bored sitting by the lake
Her soul won’t surface and her heart won’t ache
And I boast that it is meant to be
But, in all honesty, I don’t have a hope in hell
I’m happy just to watch her move
And I thought they could cure his disease
But, in all honesty, he didn’t have a hope in hell
Now we’ll never see him move

Tame Impala e a música psicodélica

E o rock psicodélico é apenas um braço de uma corpo/movimento muito maior, o da psicodelia.

No começo dos anos 1960 nos Estados Unidos, temas como dissociação do corpo, drogas alucinógenas (como o LSDdietilamida do ácido lisérgico, ou simplesmente “ácido”), expansão da mente e alterações do espaço-tempo na mente era praticamente o estilo de vida de uma grande parte das pessoas, e isso influenciou diretamente as artes e o cenário musical como um todo.

Tame Impala
Kevin Parker, vocalista e multi instrumental, o cabeça por trás do Tame Impala

Com o Woodstock, festival de música realizado entre os dia 15 e 17 de agosto de 1969 — um dos primeiros festivais de rock e com certeza o mais famoso –, artistas como Ravi Shankar, Mountain, Sly & the Family Stone, Grateful Dead, Jefferson Airplane e Jimi Hendrix deram o passo além do que Beach Boys, The Byrds, Cream e outras já tinham feito anos antes.

No Brasil, um dos maiores representantes foi Os Mutantes, formada durante o Movimento Tropicalista no ano de 1966, em São Paulo, por Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias (também participaram do grupo Liminha e Dinho Leme).

Os Mutantes era reconhecido internacionalmente como uma das maiores bandas de rock psicodélicas da indústria da música, e uma das bandas mais apreciadas por artistas estrangeiros.

Tame Impala/Kevin Parker e Australia

Kevin Parker

Kevin Parker é multi instrumentista. Ele toca todos os instrumentos no Tame Impala e produz os discos.

É uma banda de um homem só nos bastidores, mas em apresentações ao vivo o músico australiano, que assume uma das guitarras e o vocal principal, toca com velhos camaradas, como Dominic Simper (a outra guitarra e sintetizadores), Jay Watson (outro sintetizador, mais uma guitarra e também vocal, de apoio no caso), Cam Avery (baixo e também vocal de apoio) e Julien Barbagallo (é o batera, que também ajuda em alguns vocais).

Parte deles é da banda australiana de rock psicodélico Pond, cujo disco Tazmania (2009), foi produzido por Parker.

Parker sempre foi introspectivo quando criança, preferindo ficar me casa jogando videogame ou andando de bicicleta sozinho.

No colégio, começou a se interessar por música, ao mesmo tempo que começou a passear por diferentes moods da adolescência: de maconheiro a marginal de bairro, o que talvez explique a pegada eclética do músico ao fazer suas parcerias pós-Tame Impala.

Tame Impala
Show do Tame Impala

Parker já produziu com artistas como Travis Scott, Lady Gaga, Mark Ronson, SZA, Kayne West e Daft Punk.

Aliás, Parker já disse em algumas entrevista que só produz quando está mal, se sentindo desvalorizado.

EPs e singles do Tame Impala

Parker nasceu na cidade australiana de Perth, e foi por lá mesmo que começou a tocar em clubes noturnos, antes de estourar no show business e ser headliner de festivais de arena como o Coachella.

Uma de suas primeiras bandas foi o Dee Dee Dums, um duo de rock no qual era o guitarrista, junto com Luke Epstein (bateria) — escutem Lonely Words.

Com algumas músicas próprias postadas no MySpace (rede social de música bastante famosa nos anos 2000), Parker chamou a atenção de pessoas importantes na gravadora independente Modular Recordings.

E um EP chamado Tame Impala nasceu em 2008. Para tocar as músicas ao vivo, Parker chamou Dominic e Watson.

O EP foi um sucesso na Australia, e trazia três canções: Desire Be, Desire Go, Half Full Glass of Wine e Skeleton Tiger. No ano seguinte, em 2009, o Tame Impala apareceu com o primeiro single, Sundown Syndrome.

A música foi incluída na trilha sonora do filme Minhas Mães e Meu Pai (2011), que concorreu em algumas categorias de Oscar de atuação.

A música Half Full Glass of Wine foi usada pela HBO para a música de encerramento do episódio #3 da sétima temporada do seriado Entourage, em 2010.

Nessa época, o Tame Impala já tocava em festivais como banda de apoio para outras já estabelecidas, como Muse, The Mars Volta, Kasabian e Rise Against.

The Mars Volta no SWU 2010, em Itu, São Paulo

Leia mais

SWU 2010, um line-up incrível num festival neohippie que não se sustentou

SWU 2010 | Dez anos de um dos melhores line-ups do Brasil

Innerspeaker (2010)

InnerSpeaker foi lançado em 21 de maio de 2010 e foi a grande estreia do Tame Impala.

A banda ficou conhecida e se tornou um sucesso, uma das grandes bandas de rock psicodélico do nosso tempo. Na data em que fez dez anos, Parker também postou uma capa alternativa e falou sobre a memória afetiva que esse trabalho tem para ele:

Meu primeiro álbum faz 10 anos hoje. Esta versão da capa não foi a versão final, mas eu a encontrei outro dia, pela primeira vez desde 2010, e me deixa muito emocionado só de olhar, porque me lembra o que eu estava passando a cerca de uma semana de terminar e assinar o álbum inteiro, o que me assustou pra caralho e, na época, parecia uma tarefa impossível.”

Innerspeaker foi um trabalho psicodélico mas muito mais palatável ao público em geral, o que permitiu que o estilo se tornasse conhecido para uma grande parcela de ouvintes. Innerspeaker foi bem de crítica e público.

Influências

O Tame Impala/Parker já estava craque no uso de delay, reverb e fuzz com efeitos de pedaleira, todos eles bebendo do suco do rock psicodélico dos anos 1960 e 1970, com algo diluído do pop açúcar anos 90 de artistas como Britney Spears e Kylie Minogue, de quem Parker é grande fã — Rihanna curte bastante o Tame Impala, e em seu disco Anti (2016), tem uma cover de New Person Same Old Mistakes (chamada de Same Ol´Mistakes).

No rock, Parker curte bandas como o Supertramp e Flaming Lips. O Lips faz rock psicodélico desde 1983, na qual Parker até colaborou com a faixa Children of the Moon, do disco The Flaming Lips and Heady Fwends (2012).

Aliás, parte da mixagem do Innerspeaker foi feita pelo produtor Dave Fridmann, do Flaming Lips.

Também vale citar a coleção de sons que o My Bloody Valentine fazia em seus discos, outra grande influência para Parker.

Do eletrônico, Kevin Parker já citou em entrevistas influências do Aphex Twin e Squarepusher, e o estilo musical sonoro millenial lo-fi, já presente no EP da banda.

LO-FI HIP-HOP | O flow e design do rolê com Nujabes, MF Doom e J Dilla

A arte de capa de Innerspeaker é do artista australiano Leif Podhajsky, uma foto das grandes montanhas do Parque Nacional da Carolina do Norte, EUA, em um efeito psicodélico parecido com o visto no disco Ummagumma (1969), do Pink Floyd.

O primeiro single de Innerspeaker foi Solitude Is Bliss, seguido de Lucidity e Expectation — todos ganharam videoclipes também. Why Won’t You Make Up Your Mind? foi o quarto e último single lançado, meses antes do álbum estar nas prateleiras.

No relançamento de Innerspeaker em 2020, o álbum chegou nas plataformas digitais com versões alternativas de duas canções: Alter Ego – 2020 Mix e Runaway Houses City Clouds – 2020 Mix.

Lonerism (2012)

O segundo disco era muito aguardado, por isso Kevin não mudou muito o que seria oferecido. Kevin deu prioridade aos refrões fáceis, e o Lonerism se tornou ainda mais conhecida, como a música Feels Like We Only Go Backwards.

Currents (2016)

Muito mais pop do que qualquer outro trabalho, Currents — uma das melhores capas de todos os tempos — também veio cheio de hits, com destaque para The Less I Know The Better e Let it Happen, grudadas em todas as paredes de cada casa noturna de rock alternativo por aí.

Tame Impala
Arte de capa do Currents

Currents foi feito depois que o artista terminou com Melody Prochett, que tem uma banda de dream pop chamado Melody´s Echo Chamber — que Parker também produziu.

Slow Rush (2020)

Tame Impala

Kevin Parker ao que parece reutilizou muito de seus trabalhos anteriores nesse que é o disco mais recente do Tame Impala. Criatividade e inventividade passam longe daqui. It Is Not Meant to Be nunca esteve tão distante.

Vale destacar que o Tame Impala foi headliner do Coachella Valley Music and Arts Festival em 2019, um dos últimos eventos de arena antes da pandemia ter varrido o mundo do entretenimento musical.

Tame Impala

Formas de apoiar o Destrutor

Todo dia eu, Tom Rocha, tô por aqui (e aqui: Twitter e Instagram)
Quer apoiar o Destrutor? tem um jeito simples de fazer isso – é só deixar uma contribuição (ou duas, ou quantas mais quiser)

A chave PIX é destrutor1981@gmail.com

O Destrutor é uma publicação online jornalística independente focada na análise do consumo dos produtos e tecnologia da cultura pop: música, cinema, quadrinhos, entretenimento digital (streaming, videogame), mídia e muito mais. Nosso principal canal de financiamento é o apoio direto dos leitores. E produzir matérias de fôlego e pesquisa como essa, mostrando todas essas informações, dá um trabalhão danado.

Ajude o Destrutor a crescer, compartilhe essa matéria com seus amigos e nas suas redes sociais se você gostar! Se você gostou desse post, considere compartilhar com quem você acha que vai gostar de ler também. Você pode indicar os posts para seus amigos, seus conhecidos, seus crushes, seus colegas.

E obrigado por ler até o final =)

* Todas as imagens dessa matéria têm seus direitos
reservados aos seus respectivos proprietários, e são
reproduzidas aqui a título de ilustração

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *