Alex Summers, o x-man Destrutor, é um herói da Marvel Comics, surgido na Era de Prata dos quadrinhos de super-heróis nos Estados Unidos, e co-estrela Wolverine e Destrutor – Fusão, uma das melhores HQs dos anos 1980.
Criação do escritor Arnold Drake (Patrulha do Destino, Desafiador, Guardiões da Galáxia) e concepção visual dos desenhistas Don Heck (Homem de Ferro, Viúva Negra, Gavião Arqueiro) e Neal Adams (fases emblemáticas em Lanterna Verde/Arqueiro Verde, Batman, Vingadores), o Destrutor desempenhou vários papéis no Universo Marvel, de membro integrante das principais equipes a líder delas, e até mesmo vilão.
Em Wolverine & Destrutor: Fusão, minissérie de 4 edições em quadrinhos pintados à mão, Destrutor e Wolverine protagonizam uma das melhores histórias da Marvel Comics, um thriller de espionagem de ação com super-herói, que vai do México à União Soviética, de brigas com bêbados em bares do fim do mundo à combates contra super assassinos, espiões e cientistas, em um cenário de fundo geopolítico da Guerra Fria.
Em Fusão, temos a primeira chance de vermos dois x-men quase que pulando da página para ganhar vida, tamanha a qualidade gráfica que os artistas Kent Williams e Jon J. Muth imprimiram na obra.
Destrutor é usado como carta selvagem e imprevisível pelos roteiristas que trabalham com o personagem, especialmente depois da fase dos X-Men escrita por Chris Claremont, com desenhos de Marc Silvestri e arte-final de Dan Green, comandados pela editora Ann Nocenti, na segunda metade da década de 1980.
Quando Destrutor se torna um vilão chamado Príncipe dos Duendes na saga dos X-Men chamada Inferno, ele começou a ser retratado sob o estigma de perturbado mental, com rompantes de descontrole emocional, vítima de lavagem cerebral ou mesmo com inclinações vilanescas.
Mesmo quando estabelecido em posição de liderança sobre outros heróis, essa marca acabou se tornando um recurso criativo usado à exaustão pelos roteiristas da Marvel Comics, e tornado enfadonho quando se trata do Destrutor.
Graças aos deuses do gibi, não é o que acontece em Fusão, onde vemos um Alex Summers muito consciente do que quer e do que pode fazer.
Foi uma surpresa a escolha de Destrutor, dada a sua titularidade de coadjuvante na época em histórias dos X-Men, mas o contexto de Guerra Fria e ameaça nuclear que permeia Fusão, mais a escolha pessoal do artista Jon J. Muth em ter o personagem na trama, fez que Destrutor se tornasse protagonista de uma grande HQ, que merece ser melhor percebida e apreciada.
Fusão está inserida em contextos importantes do mercado, e veremos aqui seu lugar na história dos quadrinhos de super-heróis. Com efeito, Wolverine & Destrutor: Fusão é uma obra-prima dos quadrinhos dos anos 80 da Marvel Comics — e pode tranquilamente concorrer com outras décadas.
Destrutor, Wolverine e uma fusão
na Marvel Comics em seu selo autoral
Fusão foi uma edição especial da editora Marvel Comics em sua mais sofisticada linha de quadrinhos na época, e que privilegiava histórias autorais, que permitiam a seus criadores fazer o que desejavam e mantivessem os direitos da obra.
Esse selo se chamava Epic Comics, e por meio dele, com o avanço de publicações de vários grandes artistas, a própria Marvel começou a produzir trabalhos envolvendo suas principais marcas e personagens, livres das amarras criativas e cronológicas das histórias regulares.
Foi assim que Destrutor foi o co-protagonista de Havok and Wolverine: Meltdown (o nome original de Wolverine e Destrutor – Fusão, e repare que o nome de Destrutor vem primeiro), lançada em dezembro de 1988 em comic book shops pela Marvel Comics, uma minissérie em quatro partes, em formato prestige, escrita por Walt Simonson e Louise Simonson, e com desenhos e pinturas de Kent Williams e Jon J. Muth (com participação em algumas páginas de Sherilyn Van Valkenburgh).
Havok é o nome original do Destrutor nos Estados Unidos nas histórias publicadas pela Marvel Comics. Meltdown (Fusão foi a tradução adotada no Brasil) foi uma das muitas obras-primas do selo Epic Comics da Marvel, em meio a tantas outras.
O formato de tamanho usado foi o mesmo da minissérie do álbum gráfico Nick Fury vs. Shield — publicada meses antes, em junho de 1988, escrita por Bob Harras e desenhada por Paul Neary (artista que se sai bem melhor na arte-final), com capas desenhadas por grandes artistas como Jim Steranko, Joe Jusko e Bill Sienkiewicz, em uma trama de espionagem e ação envolvendo os Deltóides, arco narrativo que ecoou nas histórias regulares de Nick Fury.
Bill Sienkiewicz também foi o artista de Elektra Assassina, publicada em agosto de 1986, pelo selo Epic Comics, escrita por Frank Miller.
Com uma proposta inovadora de desenhos, pinturas e colagens de Sienkiewicz, Miller criou um roteiro que joga a super assassina Elektra contra ciborgues, ninjas, agentes secretos e uma conspiração governamental de um candidato presidencial americano possuído pelo demônio.
A obra é considerada uma das maiores histórias em quadrinhos dos Estados Unidos.
A minissérie de Destrutor e Wolverine foi a primeira com tanto apuro técnico e capricho gráfico em termos de pintura, o que não apaga a importância de outras obras publicadas pela Marvel Comics.
Destrutor dividiu os aposentos da Epic Comics com gigantes das HQs, como Akira, uma das obras máximas do quadrinho japonês, mangá como é mais conhecido — sim, foi a Marvel quem publicou a HQ de Katsuhiro Omoto nos Estados Unidos, em agosto de 1988, sob o selo da Epic.
Outros materiais de qualidade que saíram foram Marshall Law (1987), de Pat Mills e Kevin O’Neill (HQ que a DC Comics relançaria anos depois) e Tenente Blueberry (1989), cowboy criado por Jean-Michel Charlier e ilustrado por Moebius, artista gráfico de enorme prestígio na Europa.
Moebius desenhou também no selo a revista Parábola (1988), história do Surfista Prateado escrita por Stan Lee, co-criador do Universo Marvel, talvez em sua melhor história já publicada.
Wolverine e Destrutor – Fusão:
um thriller de espionagem e super-heróis
em quadrinhos pintados
Antes da saga Inferno acontecer em X-Men, e Alex Summers virar a casaca para a ruiva Madelyne Pryor (mais especificamente na página final de The Uncanny X-Men #242, de março de 1989), Destrutor já teria envolvimento com outra ruiva problemática.
Na história de Fusão, o herói faz uma dupla com seu colega de equipe, Wolverine, o mutante mais popular dos X-Men, que na época já estava em um protagonismo crescente nas revistas X.
Os dois estão aproveitando uma escapada do esconderijo da equipe na Austrália (nessa época, os X-Men estavam dados como mortos para o mundo, e inclusive eram invisíveis a aparelhos eletrônicos e místicos, apenas a olho nu) e enchiam a cara em um boteco qualquer no fim do mundo do México.
Mas sequestradores atacam os mutantes e eles acabam envolvidos em uma trama de espionagem com cientistas e agentes secretos da União Soviética, que precisam de Destrutor e seus poderes em um elaborado plano de dominação política e do mundo.
Uma ruiva fatal femme fatale aparece e torna tudo mais misterioso. Há cenas espetaculares de ação, como Wolverine na matança de dezenas de antagonistas, e Destrutor absorvendo a radiação inteira de um reator nuclear (pense em Chernobyl 10x pior), fora o tiro de plasma dela que deu pra ver até do espaço — literalmente.
Falando em Chernobyl, a história de Fusão começa com uma detalhada e graficamente moderna introdução de 13 páginas, com personagens misteriosos lidando com o acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.
Não demoraremos a associar quem é quem no decorrer da trama, graças ao roteiro esperto de Walt e Louise, que em 4 edições fizeram um grande thriller super-heroístico de espionagem, que se escora nas artes fantásticas de Kent Williams e Jon J. Muth — a cereja do bolo.
Os dois são desenhistas e pintores, donos de traços únicos, e que mostram Wolverine e Destrutor em identidades visuais impactantes, que saltam à vista das aquarelas e tintas.
Jon desenhou Destrutor como James Dean, e Kent fez a melhor reprodução realística de Wolverine mais de uma década antes de Alex Ross, ou Hugh Jackman personificá-lo nos cinemas.
São pinceladas generosas de aquarela, guache, tinta para construir formas e delinear conteúdos expressionistas e noir.
Há referências de Kent e Jon ao mundo da arte e seus realizadores, como trabalhos de Marcel Duchamp, Jacques L. David (Morte de Marat) e Arnold Bocklin. Os antagonistas, General Meltdown (chamado de Fusão, no Brasil), Dr. Neutron e Scarlett McKenzie (codinome Quark) são bem carismáticos — ela é uma verdadeira femme fatale no traço de Muth.
Os cenários mexicanos e soviéticos são convincentes, e os ambientes internos da usina, mostrados em detalhes e com gráficos, ajudam na imersão.
É preciso também entender os grandes acontecimentos políticos da segunda metade da década de 80, que redesenharam o mapa geopolítico do mundo, como a Glasnost e a Perestroika — é narrativa feita por adultos para adultos, sem concessões.
Uma marca do selo Epic Comics.
O editor da linha Epic Comics foi Archie Goodwin, roteirista com passagens marcantes nas duas maiores editoras de HQs de super-heróis e outras fora do mainstream, mas igualmente importantes.
Goodwin, junto com o artista Al Williamson, fez uma das melhores séries em tira e depois na revista em quadrinhos de Star Wars, e reformulou o Agente Secreto X-9 em Secret Agent Corrigan, que se tornou uma sofisticada HQ de espionagem, com roteiros complexos e arte dinâmica de Williamson.
Archie foi editor da Warren, editora de terror que continuou o trabalho da EC Comics, outra editora de terror, emblemática para a indústria de quadrinhos de super-heróis.
Fusão saiu sob a direção de Archie Goodwin, que trabalhou na Marvel com o Homem de Ferro, Namor e Doutor Estranho.
Na DC, além de Batman, criou Manhunter, uma releitura do Caçador, a persona heroica de Paul Kirk, um herói da Era de Ouro da DC Comics. Os desenhos do Caçador/Paul Kirk eram de Walt Simonson, o escritor de Fusão.
Destrutor foi uma escolha pessoal do artista Jon J. Muth.
“Eu acho que ele é um ótimo personagem e muito pouco usado, e que carrega um dilema fantástico. Ele tem um poder imenso que precisa sempre ser controlado. O Destrutor é um tipo solitário, ele não quer muito ser esse lance de super-herói, mas ele não tem escolha. Espero trazê-lo para o estrelato“, afirmou o artista para Peter Sanderson, em uma entrevista publicada em Marvel Age #68, revista própria da Marvel, com reportagens sobre suas publicações.
Na mesma entrevista, Walt Simonson, que é um desenhista de ação revolucionário, dono de grande domínio cinético e de uso criativo de onomatopeias (os sons que as coisas e animais produzem e que aparecem escritos nas cenas dos quadrinhos), disse que a ação final de Fusão era tão boa que ele se lamentou de não estar desenhando.
Destrutor e Polaris, a identidade heroica da x-woman Lorna Dane, namorada de Alex, também já estavam na mira dos Simonson para uma minissérie quando eles retornaram para os X-Men, em um projeto que a Marvel não levou para frente.
Simonson afirmou na entrevista da Marvel Age #68 que usou parte do que pretendia em seu run de Vingadores.
Kent Williams também queria desenhar Wolverine, e foi o desejo dos dois artistas que fizeram Walt e Louise bolar um argumento de aventura que envolvesse os dois. Foi no apartamento de Kent que tiveram a ideia de colocar o Wolverine com o esqueleto de adamantium exposto em meio as perigosas radiações nucleares.
Em 1988, Wolverine já era o x-man mais popular, e caminhava para ser um rockstar dos quadrinhos mundiais.
É no mesmo ano de Wolverine e Destrutor – Fusão que Wolverine participou da revista Marvel Comics Presents, publicação quinzenal que trazia quatro histórias de heróis da Marvel. O primeiro arco do mutante canadense foi escrito por Chris Claremont e ilustrado por John Buscema, e serviu de prólogo para a revista própria do personagem, que estrou um mês antes de Fusão.
A mesma revista traria em 1989, um ano depois de Fusão, nos números #24 a #31, mais uma trama de aventuras com Destrutor e Wolverine, escrita por Howard Mackie e desenhada por Rich Buckler.
Kent Williams desenharia mais uma vez seu mutante favorito em setembro de 1993, na edição especial Wolverine Killings, escrita por John Ney Rieber.
A Epic Comics da Marvel
O line-up de Wolverine & Destrutor: Fusão foi um dos mais estelares da Marvel Comics. O desenhista e escritor Walt Simonson fez uma das fases definitivas do Thor, com passagens marcantes em outros títulos, como Vingadores, Quarteto Fantástico e o X-Factor, o grupo dos X-Men originais, no qual desenhava os roteiros de sua esposa Louise.
Ela também fez trabalhos com outra franquia X, os X-Terminators, derivado do X-Factor, que logo se juntariam aos Novos Mutantes.
Louise, junto com Ann Nocenti, foi uma das grandes (e poucas) mulheres em cargo de comando de edição de revistas na editora.
O artista Jon J. Muth, antes de fazer Fusão, já tinha pintado Moonshadow, uma história épica de fantasia emocional, feita em parceria com o escritor J.M. DeMatteis, em março de 1985, uma HQ que foi celebrada no meio como um conto de fadas para adultos.
Se tornou um clássico instantâneo. Ele também produziu ilustrações para uma graphic novel do Drácula.
Muth também fez capas em edições de títulos regulares da Marvel e na revista Epic Illustrated.
A Epic Illustrated era uma revista da Marvel em formato magazine que teve 34 edições publicadas de 1980 a 1986.
Eram histórias sofisticadas com desenhos mais elaborados e tramas mais adultas, em uma proposta muito parecida com a Metal Hurlant, publicação europeia, a primeira do gênero no mercado de quadrinhos.
A Marvel a lançou para pegar carona com a Heavy Metal, a versão americana da Hurlant, que já estava nas bancas.
Epic Illustrated tinha arte preto e branco, pintura e quadrinhos de artistas como Frank Frazetta, Richard Corben e Bernie Wrightson. E foi a partir dela que a Epic Comics foi criada.
Proposta adulta é tudo que a arte de Kent Williams é. O Wolverine dele, torto e rápido como um borrão, é um golpe em movimento que parece estar sempre a desferir um ataque fatal.
Kent Williams já tinha feito Blood – Uma História de Sangue, em janeiro de 1987, também escrita por J.M. DeMatteis, e com a participação de outros artistas no desenho, inclusive Jon J. Muth, sobre um vampiro em uma história onírica.
Também como Muth, Kent fez trabalhos pontuais em revistas da Marvel. Blood e Moonshadow seriam consideradas grandes trabalhos dos quadrinhos, e são das poucas HQs que já saíram pelo selo Epic Comics, da Marvel, e pelo selo Vertigo, da DC Comics.
Mas a Vertigo era uma proposta editorial da empresa concorrente que ainda demoraria aparecer.
O editor-chefe da Marvel, Jim Shooter, criou o selo Epic Comics em 1982, dois anos depois de Epic Illustrated estar estabelecida no mercado.
Shooter fez a Epic Comics para ter obras criadas pelos autores, que seriam donos dos direitos das HQs, além de porcentagem de vendas dos exemplares. O “culpado”, de certa maneira, foi o roteirista e desenhista superstar Frank Miller, que vinha de uma longa e premiada fase em Demolidor.
Miller tinha criado Elektra e estava muito aborrecido com as dinâmicas comerciais da Marvel em só ela “ter” a personagem, e assim não receber mais dinheiro por direito autoral por isso, e nem porcentagem de vendas.
Quando conversou com Jenette Khan, a publisher (cargo sem paralelos no mercado brasileiro, mas é uma posição acima do editor-chefe) da DC Comics, sobre publicar a série de um samurai futurista chamado Ronin, e chefona da Distinta Concorrência ofereceu royalties maiores do que a Marvel.
Miller pulou do barco sem nem pensar duas vezes, e Shooter teve que redobrar seus esforços na Marvel em atender os pedidos de mais profissionais que desejavam criar e produzir títulos fora do esquema convencional.
Entre eles, Walt Simonson, que acabaria escrevendo Fusão pelo selo Epic. Até Frank Miller voltaria anos depois, com o já comentado Elektra Assassina. Ele ainda faria mais uma: Elektra Vive, que escreveu e desenhou, em março de 1990.
O primeiro título da Epic Comics foi Dreadstar, de Jim Starlin, em novembro de 1982, outro artista que já pedia para Shooter mais liberdade no trabalho.
Ele já imprimia um forte e alto impacto com Warlock, personagem cósmico da Marvel que Dreadstar teria bastante similaridades.
O selo Epic Comics acabou em 1994, em plena expansão dos comics americanos, antes de de ser implodida pelo crash do mercado dos anos 90.
Ela voltou brevemente em 1995 e 1996 para finalizar as edições de Akira, que ainda estavam com alguns números faltando para fechar a coleção. Em 2003, a linha foi revivida, somente em trabalhos de personagens Marvel.
Durou um ano, e rendeu um trabalho solo chamado Epic Anthology, em 2004.
A Vertigo da DC Comics
A criação da Epic precede de certa maneira a Vertigo em anos, ainda que a proposta dos dois selos não apresentem resultados muito similares.
Se a DC criou um selo para publicar o que queria chamar de “suspense sofisticado” e “sugerido para leitores maduros“, como descreviam a publicação do Monstro do Pântano, escrita por Alan Moore, um dos roteiristas que seria o mais celebrado da indústria, a Marvel já estava na frente com a Epic Comics há uns 5 anos, ao mostrar HQs autorais com mais liberdade do que o convencional.
A responsável pela criação do selo Vertigo foi Karen Berger, que entrou na DC Comics em 1979 como editora-assistente de Paul Levitz, editor e escritor de HQs, que se tornaria Presidente da DC Comics no futuro.
Com Karen, finalmente os EUA e o mundo puderam ter HQs com outras temáticas que não a de super heróis, sob as asas de uma máquina colossal do mainstream.
Karen não gostava muito do material convencional de super-heróis, mas começou a tomar gosto por edição, até começar na revista House of Mistery, publicação de suspense e terror da DC, por indicação de seu chefe Levitz.
O sucesso de Alan Moore com Monstro do Pântano fez Karen ir para a Inglaterra buscar mais talentos britânicos.
Jenette Khan, nessa altura Presidente da DC Comics, deu luz verde para Karen, que trouxe uma leva de grandes criadores que fizeram trabalhos dos mais significativos para as HQs.
O selo Vertigo oferecia o melhor material de drama, horror, ficção científica, romance, terror, ação, mistério, magia, crime — tudo que você poderia imaginar que o ser humano pode criar (e ainda nem criou).
É graças a Karen que vemos Neil Gaiman, Garth Ennis, Grant Morrison, Peter Milligan, Jaime Delano e muitos outros entrarem para o mercado de quadrinhos.
Pagamentos antecipados, lucro de revistas vendidas, direitos dos personagens dos autores, histórias com começo, meio e fim (aspecto completamente ausente na indústria de quadrinhos mainstream), todos dispositivos criados por Karen.
Monstro do Pântano, Sandman, Patrulha do Destino, Homem-Animal, Preacher, 100 Balas, Hellblazer (título das aventuras de John Constantine), tudo nasceu sob o comando de Berger. Revistas regulares, one-shots, minisséries, todos os formatos eram permitidos. Gente que nunca leu quadrinhos começou a ler.
O público feminino começou a aumentar. O selo Vertigo foi oficializado em 1993, mas desde o final dos anos 1980, as revistas Monstro do Pântano, Sandman, Patrulha do Destino e outras já estavam sendo criadas sob esse contexto de liberdade criativa. Tanto que elas recebem o selo nas republicações.
A Vertigo chegou em um nível de complexidade e prestígio que a Epic Comics jamais alcançou. Um prenúncio da qualidade do material foi quando uma resenha favorável publicada no jornal Washington Examiner se referiu ao selo como “Vertigo is by far the HBO of the comic-book world“.
A frase foi extraída e posicionada em artes promocionais da DC Comics como carimbo de excelência, já que a HBO trabalha com a nata de produções sofisticadas de produções televisivas americanas.
Eles simplesmente criaram os melhores seriados de TV de todos os tempos, como Sopranos, OZ e The Wire, e a mais popular dos últimos tempos, Game of Thrones.
A Vertigo começou atrás da Epic, mas ganhou a corrida.
“O selo Vertigo de Karen Berger foi apresentado e cresceu como um nicho para ‘leitores maduros’ separado do Universo DC ‘censura livre’. Os contratos da Vertigo davam aos autores uma porcentagem de suas criações e a possibilidade de lucrar com sua exploração de formas que Siegel e Shuster (os criadores de Superman) ou Jack Kirby (o co-criador do Universo Marvel) não poderiam ter sonhado“, diz Grant Morrison em seu livro Superdeuses.
Grant foi trazido por ela para escrever Homem-Animal e se tornou um dos grandes roteiristas do mercado. “(Karen) fora recompensada com seu próprio selo, em que conteúdos e novas ideias mais contemporaneas podiam ser gerados à distância do Universo DC, com sua continuidade monolítica e seus personagens encapuzados que remontavam à uma época e atitudes que quase nenhuma pessoa viva conseguia lembrar ou entender. Fantasia, sci-fi, gótico e político era in, os super-heróis estavam out“, diz em outro trecho.
Depois de 33 anos de trabalho ininterruptos na editora DC Comics, Karen Berger deixou o selo Vertigo em dezembro de 2012, após a reformulação criativa, editorial e técnica da editora, que saiu da costa leste para a costa oeste dos EUA, em uma grande mudança feita em 2011, chamado Novos 52.
Em junho de 2019, foi anunciado oficialmente o encerramento do selo Vertigo, devido a mais uma reformulação na organização das publicações da DC Comics por faixas etárias.
Atualmente, Karen gerencia a Berger Books, seu próprio selo dentro da editora Dark Horse.
/ CHERNOBYL. O acidente nuclear de Chernobyl foi uma consequência do acidente ocorrido em Chernobyl, Ucrânia, em um reator RBMK que usava grafite ao redor do urânio, resfriado por água. Por uma série de erros humanos e testes de segurança falhos, a água de resfriamento ferveu, e o reator 4 entrou atingiu a criticalidade. O vapor detonou o reator, o teto e boa parte do prédio, lançando toneladas de material radiativo no ar, além do urânio e o moderador de grafite.
Chumbo, boro, arei e argila foram jogados em cima de tudo para tentar deter o vazamento. Mas o urânio se aqueceu nessa tentativa de abafamento. Ele derreteu a areia, o grafite e o concreto — e criou o que se chamou de pata de elefante, uma lava radioativa tão forte que matava pessoas em 5 minutos. Morreram mais de 50 pessoas diretamente, um número debatido por especialistas da área até hoje, que pode passar de 3 mil. Mais de 100 mil pessoas tiveram que ser evacuadas, e 500 mil pessoas tiveram que criar uma espécie de sarcófago de concreto para cobrir a usina.
Foram os finlandeses que avisaram o mundo sobre o desastre de Chernobyl, que também ficaram cientes da detecção na Suécia. Os soviéticos tentaram minimizar o acidente de todas as maneiras, mas quando foi descoberto, se tornou uma das maiores tragédias ambientais da humanidade. A explosão em Chernobyl aconteceu em 26 de abril de 1986.
/ DESTRUTOR NA TV DO BRASIL. Para encerrar, é preciso dizer que poucas HQs aparecem em matéria de TV. O vídeo abaixo é uma reportagem do Jornal de Vanguarda, da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, em 1989. Além de Wolverine e Destrutor – Fusão, a jornalista comenta também sobre a graphic novel de Rocketeer, HQ autoral de Dave Stevens, que se tornou um dos quadrinhos independentes americanos de maior sucesso do mercado. Virou filme da Disney em 1991, o primeiro longa de super-herói da empresa, estrelado por Jennifer Connelly.
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