Com Homem-Aranha De Volta ao Lar, a Marvel finalmente pode ficar mais perto (mas não muito) de sua principal propriedade intelectual e a mais representativa de seu espírito rebelde, quando o personagem foi criado nos anos 1960 para o mercado de quadrinhos de super-heróis americanos.
Desde que Peter Parker deixou de prender um ladrão que depois mataria seu amado tio Ben Parker, o jovem veste uma roupa vermelha e azul e se tornou um combatente do crime, que se balança em teias pelas cidades de Nova York a procura de fazer justiça ao lema de seu tio: “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades.”
O Homem-Aranha é aquela pessoa que mora em todos nós, que com a máscara certa, se torna intrépido e invencível, que supera todas as dificuldades.
E sem ela, ele também é todos nós: amarrado à família, tem que trabalhar muito para pagar as contas, dificuldades nos relacionamentos e nunca com tempo de divisão certo entre obrigação, deveres e diversão.
Ao deixar o ladrão matar o tio Ben, Peter criou o herói — era sua culpa, só sua. Todos os outros heróis tem alguém a culpar suas tragédias, como Batman e Justiceiro.
Peter Parker é legal, gentil, introvertido, incompreendido, autodepreciativo e neurótico, e ao mesmo tempo engraçado e corajoso.
Parte de tudo isso, criado pela mágica da escrita de Stan Lee e a arte de Steve Ditko, foi aproveitado no filme Homem-Aranha De Volta ao Lar, e os elementos que faltam fazem muita diferença, mas não a ponto de tornar o longa-metragem descartável.
Quando a aranha radioativa picou Peter Parker, em vez dele morrer de envenenamento e morrido em agonia, magro, com dentes e cabelo caindo, por morar no Universo Marvel, o lugar das HQs em que as regras são torcidas para o fantástico, ele se torna um herói — Stan pega o pavor da morte da bomba atômica dos anos 1960 e a transforma em alquimia juvenil para crianças e adolescentes fantasiarem com homens superpoderosos e coloridos. E o mais próximo de você é o Homem-Aranha.
A primeira coisa que ele faz é combater o crime com seus poderes?
Nada, ele quer é ganhar dinheiro. Inventou seu uniforme para aparecer na televisão e derrotar outros caras com sua recém-adquirida “força aranha”.
Ele faz pouco caso de prender um ladrão qualquer, que em breve mataria seu amado tio Ben em um assalto ordinário.
Peter Parker era um genuíno medíocre, e que né forçado pelo destino a se tornar um super-herói, o maior de todos, mesmo todo travado de relutância. O Homem-Aranha se tornaria o maior herói da Marvel Comics.
Homem-Aranha de Volta ao Lar é uma produção conjunta da Sony, dona dos direitos cinematográficos do personagem, e a sua verdadeira dona, a Marvel, que por meio de seu Marvel Studios, finalmente colocou as mãos em seu filho mais querido.
Os 1990, década de explosão, berro, gritaria, dentes cerrados e muitas poses , viram em sua indústria de quadrinhos de super-heróis a chegada de um vilão invencível na forma de uma onda de especulação financeira.
Mas as boas vendas de revistas com desenhistas que eram verdadeiros superstars não significava qualidade em nenhum momento, mesmo com as múltiplas capas alternativas. E por mais que a Marvel tenha vendido muito Homem-Aranha — graças a Todd McFarlane , foram nove milhões de exemplares vendido só da revista que a editora lhe deu, Spider-man, venda nunca antes alcançada desde os anos 60– a editora se viu em grandes dívidas.
Para evitar a bancarrota, vendeu os direitos de seus personagens a estúdios de cinema em contratos ruins, que salvaram a empresa, mas que tornavam seus filhos escravos da Fox, Sony e outros.
A Sony ficou com os direitos cinematográficos do Homem-Aranha, em um acordo muito simples: um filme do personagem tem que estar nas telonas em certa quantidade de tempo, ou então ele retorna à sua casa de origem — a Marvel.
É por isso que desde 2002 vemos regularmente o Cabeça de Teia nas telonas. A Sony fez Homem-Aranha (2002), Homem-Aranha 2 (2004), Homem-Aranha 3 (2007), O Espetacular Homem-Aranha (2012) e O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014).
Os dois primeiros, com Tobey Maguire como Homem-Aranha, e direção de Sam Raimi, foram um enorme sucesso, e estabeleceram para sempre o gênero nos cinemas.
O terceiro, ainda com Tobey e Sam, mostrou fadiga, com ingerência demais da Sony na produção, o que matou o quarto exemplar da franquia — que teria John Malkovich como Abutre. Foi feito um reboot — revisão criativa para zerar a história e começar tudo de novo, sempre na tentativa de renovar interesse público e força comercial — com Andrew Garfield como Homem-Aranha e Mark Webb como diretor.
A cinessérie Espetacular de espetacular não teve nada, e a Sony se viu “forçada” a pedir ajuda aos verdadeiros donos do herói para fazer valer um novo filme.
O acordo entre a Sony e a Marvel Studios, agora num segundo reboot, com Tom Holland como Homem-Aranha e Jon Watts como diretor, desloca o personagem e sua mitologia para dentro do Universo Cinematográfico Marvel, o que resulta em um entrelaçamento do personagem com o resto dos acontecimentos do UCM.
Assim, em fevereiro de 2015, as empresas chegaram a um acordo para compartilhar os direitos de personagem do Homem-Aranha.
A primeira aparição do Aranha acontece em Capitão América 3 – Guerra Civil (2016), como uma estrela em um line-up de muitos outros heróis.
É só em Homem-Aranha De Volta ao Lar que conhecemos mais sobre o personagem, que deixa muito de sua mitologia das HQs para trás, a começar por uma May (Marisa Tomei) bem mais nova, menos fragilizada, que vai de encontro à proposta de deixar tudo com mais cara de jovem.
Queremos mostrar o Homem-Aranha nos tempos do ensino médio porque, francamente houve cinco filmes do Homem-Aranha e… há tantas coisas dos quadrinhos que não foram feitas ainda. Não só personagens e vilões ou personagens secundários, mas outros lados desse personagem. Acho que foi no meio do primeiro filme [de Sam Raimi] que ele se formou no ensino médio. No início do segundo filme de Marc Webb, ele já se formou no ensino médio. Alguns de meus arcos de histórias favoritos do Homem-Aranha ele está no colegial. Queremos explorar isso. Que também o torna muito, muito diferente de qualquer um dos nossos outros personagens no Universo Cinematográfico Marvel.“
Kevin Feige, Presidente da Marvel Studios, em entrevista ao Wall Street Journal
Homem-Aranha De Volta ao Lar
(Spider-Man: Homecoming, 2017,
de Jon Watts)
O primeiro logo que aparece em Homem-Aranha De Volta ao Lar é o da Sony, seguido da Columbia Pictures.
E uma das primeiras cenas é um desenho infantil em papel dos Vingadores, no contexto da ação dos eventos vistas em Vingadores (2012).
Tudo que aconteceu no primeiro filme dos Vingadores é o que permeia a construção de um dos melhores vilões já vistos no UCM: o esperto e afiado Adrian Toomes (Michael Keaton).
Ele trabalha nos escombros e entulhos da Batalha de Nova York, quando os Vingadores impediram a invasão alienígena comandada por Loki e os Chitauris. Toomes e seus homens vasculham a cidade em busca de artefatos alienígenas, graças a um contrato com a prefeitura da cidade.
Mas o Departamento de Controle de Danos, órgão criado por Tony Stark, o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), para reparar todos os danos causados pelas atividades de super-heróis, se sobrepõe na burocracia, e Toomes perde seu trabalho.
A narrativa pula oito anos, e vemos que Adrian Toomes não só continuou o trabalho — à revelia das autoridades — como constituiu um grupo próprio, todos paramentados com tecnologia alienígena.
Ele mesmo desenvolveu um traje de voo completo, com asas e propulsão, que o permite ser um homem alado nos céus. Os negócios vão bem para ele e sua equipe.
E é assim que finalmente somos introduzidos ao logo do Marvel Studios, pela primeira vez em mais de 10 anos de empresa, com seu maior herói aparecendo nas artes das letras que o compõe.
Ainda somos brindados com uma versão do clássico “Spider-Man, Spider-Man, does whatever a spider can”, do desenho animado do herói, de 1967. A trilha sonora de Michael Giacchino para o longa se baseou nos trabalhos originais do tema composto por Bob Harris, com letras de Paul Francis Webster, letrista indicado ao Oscar 16 vezes.
Quando vemos Peter Parker, ele ainda está em Berlim, por conta dos eventos ocorridos em Capitão América 3 – Guerra Civil, emocionado de ter conhecido Tony Stark e confiante que será um Vingador.
Ele retorna aos Estados Unidos, fica com seu traje dado por Stark durante a Guerra Civil, e sua vida se resume a combater ameaças domésticas mesmo, o que ocorre em diversos momentos divertidos — tudo isso com menos de 15 minutos de filme.
Ao impedir um assalto, o Homem-Aranha nota que os bandidos estão com armas high-tech, mas não consegue se fazer valer com seus avisos a Happy Hogan (Jon Fraveau), o contato dele com o Homem de Ferro.
A incapacidade de comunicação do Homem-Aranha é a mesma encontrada com Peter Parker, que sofre bullying de seu colega Flash Thompson e é cheio de insegurança em conseguir chegar em seu interesse romântico, Liz. Ele encontra conforto com sua tia, May e seu melhor amigo, Ned, que não demora muito a descobrir o grande segredo de Peter (que é muito ruim em ser discreto).
Homem-Aranha De Volta ao Lar é um filme de família e relacionamentos, todos procurando fazer o melhor nesses aspectos.
Homem-Aranha De Volta ao Lar,
o filme das adaptações e referências
O filme do Homem-Aranha De Volta ao Lar está cheio de referências a outros filmes da Marvel e personagens clássicos das histórias em quadrinhos, como quando vemos o bando de Toomes negociando um braço de um Ultron destruído na Batalha de Sokovia, conforme vista em Vingadores 2 – Era de Ultron (2015).
A cena também introduz Aaron Davis (Donald Glover), que conversa com Jackson Brice (Logan Marshall-Green), um dos capangas de Toomes. Davis está a fim de uma arma, e se mostra interessado em um aparelho gravitacional de escalada, o que vai de encontro ao que ele é nas HQs: Davis é a identidade civil do vilão Gatuno, um ladrão, inimigo clássico do Homem-Aranha.
Na mesma cena, vemos o “nascimento” do vilão Shocker, quando Jackson acerta o Homem-Aranha com uma arma de raios — o herói passava por perto e tenta prender os bandidos.
Eles conseguem escapar do Aranha, mas Toomes fica muito transtornado com a situação — ele prima pela discrição acima de tudo. Não é o que Jackson acha, pois está empolgado em ser o Shocker e quer mais ação nas abordagens.
É quando vemos até onde vai a gana de Adrian Toomes. Jackson diz que vai pular fora do esquema e que é melhor Toomes aceitar a ideia, caso queira sua família em paz. Adrian não pensa duas vezes e o mata com um tiro desintegrador ao ouvir isso.
O “título” do vilão Shocker passa então para Herman Schultz (Bokkem Woodbine), outro capanga, bem mais maleável.
Aaron Davis reaparece em certo momento, quando o Aranha patrulha o Queens. É a deixa para que ele diga que tem um sobrinho.
Trata-se de ninguém menos Miles Morales, o menino que se torna o segundo Homem-Aranha nas histórias do Universo Ultimate da Marvel. Nas HQs, Aaron é realmente seu tio e se torna o Gatuno.
A decisão da Marvel/Sony em dar um aceno para a possibilidade de Miles nos filmes vai direto à enorme popularidade que o personagem teve nos quadrinhos, a ponto dele ser trazido ao universo regular da Marvel Comics, em 2016.
Miles Morales, aliás, foi criado pelo roteirista Brian Michael Bendis, em Ultimate Fallout #4 (agosto de 2011), após a morte do Peter Parker desse Universo Ultimate. A ideia veio quando Brian viu o ator Donald Glover vestido com um uniforme do Homem-Aranha, em uma época que se discutia a possibilidade do Homem-Aranha ser negro.
E é exatamente por essa inspiração que Glover apareceu no filme, como forma de homenagem. Miles ficou ainda mais popular no filme animado da Sony, lançado nos cinemas em 2018, chamado Homem-Aranha: No Aranha Verso, onde o pequeno herói se encontra com vários outros Homens-Aranha, de outros universos.
Não só os vilões sofreram adaptações, mas todos os personagens regulares do círculo social de Peter Parker sofreram alterações significativas no filme Homem-Aranha De Volta ao Lar.
A começar pelo melhor amigo de Peter, Ned. Interpretado por Jacob Batalon, seu nome remete a Ned Leeds, um colega de Peter no trabalho do jornal Clarim Diário, quando os dois são bem mais velhos.
E sua aparência vem diretamente de Ganke Lee, o melhor amigo de Miles Morales, no Universo Ultimate. Liz Allen, interpretada por Laura Harrier, é negra em Homem-Aranha De Volta ao Lar, mas nas HQs tem um visual a lá Marilyn Monroe adolescente.
Foi o primeiro interesse romântico de Peter Parker nas histórias do Homem-Aranha. Nos quadrinhos, ela acaba se casando com Harry Osborn, um dos melhores amigos de Peter, filho de Norman Osborn, secretamente o Duende Verde, um dos maiores vilões do Aranha.
Parker disputava Liz com Flash Thompson na escola, que no filme é interpretado por Tony Revolori, que de jogador de futebol americano loiro e bully nas HQs se tornou um jovem rico e presunçoso (o ator tem descendência guatemalteca).
Nas HQs, Flash se torna o Agente Venom, depois de ter perdido ambas as pernas. Quem ficou com a aparência da Marilyn (e bastante de Gwen Stacy, o maior amor da vida de Peter), foi Betty Brant (Angourie Rice), que nas HQs trabalha no jornal Clarim Diário como secretária pessoal do dono, J.J. Jameson, e se torna a primeira namorada de Peter.
Ela depois se envolveria com Ned Leeds e Flash Thompson.
A maior mudança foi com o grande interesse amoroso final de Peter Parker nas HQs, a ruiva Mary Jane Watson, “MJ“, que se torna sua esposa.
No filme, ela é Michelle Jones, “MJ” papel de Zendaya, e a princípio não demonstra interesse em Peter. Com menções a O Clube dos Cinco e Curtindo a Vida Adoidado e suas complexas relações escolares adolescentes, Peter e seus amigos ganham muito corpo no longa, que mira os pontos positivos desse gênero para criar um bom ponto de vista de um herói jovem com vida dupla no colégio, aspecto que nenhum dos outros cinco filmes do Aranha trabalhou direito.
Não é preciso repetir o esteriótipo dos anos 1980 de bullying de garotos brancos fortes de futebol, então Flash Thompson nessa versão é apenas um moleque mirrado irritante muito rico, e que oferece o mesmo aborrecimento psicológico para Peter, que também passa longe do nerd esquisito e quieto.
Jennifer Connelly e a Marvel
A deixa para a introdução de Jennifer Connelly em Homem-Aranha De Volta ao Lar acontece quando Ned, que se dá muito bem com computação, desabilita algumas travas do traje do Homem-Aranha.
Ao perseguir bandidos que tentavam se apoderar de tecnologia alienígena em direção ao depósito do Departamento de Controle de Danos, o Aranha fica preso no prédio. É quando seu computador vocal do traje é acionado, graças ao destravamento do traje, com a bela voz de Jennifer Connelly.
Ela auxilia, monitora, informa e conversa com Peter, e em alguns momentos mais atrapalha do que ajuda, devido a quantidade de opções oferecidas. Peter fica indeciso em chamá-la de “suit lady” (senhora do traje), até que se decide por simplesmente Karen.
Karen se torna confidente de Peter, e chega a dar conselhos amorosos para ele. Uma inteligência artificial que chega a ser engraçada e espirituosa, e que espelha o mesmo computador auxiliar de Tony Stark em seu traje de Homem de Ferro, conhecido como Jarvis.
E é nisso que está a pegadinha de Jennifer Connelly estar em Homem-Aranha De Volta ao Lar. Jarvis está nos filmes da Marvel desde os três filmes do Homem de Ferro, o primeiro filme dos Vingadores e o segundo.
A voz é do ator Paul Bettany, que na vida real é marido de Jennifer Connelly. A atriz foi chamada por Kevin Feige para interpretar a voz do traje do Homem-Aranha como homenagem e piada interna.
Em Vingadores 2 – Era de Ultron, Jarvis sofre uma transformação graças a Joia da Mente, e ganha vida própria e corpo, e se torna o androide Visão, também interpretado por Bettany. Kerry Condon, posteriormente, se tornou a voz do computador substituto, chamada de Sexta-feira, já em Vingadores 2.
Ela também aparece em Homem-Aranha De Volta ao Lar.
Não é o primeiro filme de super-herói de Jennifer Connelly, nem mesmo da Marvel. A atriz protagonizou Rocketeer (1991), o primeiro filme de super-herói da Disney, baseado em um herói de quadrinhos independentes, com uma trama pulp pré-Segunda Guerra. O diretor foi Joe Johnston, que 20 anos depois dirigiria Capitão América – O Primeiro Vingador (2011). Em 2003, Jennifer estrelou Hulk, filme de Ang Lee, longa que não faz parte do Universo Cinematográfico da Marvel.
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Jennifer Connelly também foi um ícone dos filmes oitentistas de comédia adolescente que Homem-Aranha De Volta ao Lar bebe tanto — ela estrelou um clássico do gênero, Construindo Uma Carreira (1991)de John Hughes, além de Essas Garotas (1988, o melhor da Connelly nesse gênero) e Sete Minutos Para o Paraíso (1985).
O diretor Jon Watts fez questão de mostrar vários filmes do gênero para seu elenco, que assistiram Clube dos Cinco (1985), Curtindo a Vida Adoidado (1986) e A Garota de Rosa-Shocking (1986), entre outros. Um dos filmes de John Hughes, o Mulher Nota 1000 (1985), tem no elenco um jovem Robert Downey Jr.
Alguns dos atores mais jovens de Homem-Aranha De Volta ao Lar nem tinham nascido quando os filmes clássicos dos anos 80 saíram nos cinemas.
Tom, com 19 anos, é o mais jovem Peter Parker nas telas. Tobey Maguire tinha 25 anos quando fez o seu, e Andrew Garfield já tinha 26 anos.
O melhor vilão do Marvel Studios
e a pior cena do Homem-Aranha
Adrian Toomes não liga para os próprios homens ou pessoas, ele como Abutre se destaca acima dos outros, como seu traje de voo indica.
Por cima dos outros, ele cumpre seus objetivos, custe o que custar. Quando ele tem o primeiro combate com o Homem-Aranha, o herói perde e a situação só o Homem de Ferro consegue resolver — a treta foi tão impactante que eles brigam e Peter Parker perde o traje dado.
Em uma das melhores cenas de todos os filmes da Marvel, Toomes e Parker têm um diálogo tenso e desafiador dentro de um carro, os dois cara a cara, olhos nos olhos. Keaton é um gigante da interpretação, que com olhares e entonação de voz, impõe todo seu poder.
Michael Keaton não hesitou em interpretar outro personagem de quadrinhos, depois de interpretar o Batman no filme de 1989 de Tim Burton e sua sequência de 1992, e fica confortável na pele de Toomes.
Conversa vai, conversa vem, Adrian saca quem é Peter de verdade, e num embate de ideias e ameaças, castra Peter completamente de sua vontade de ficar na festa que ia.
Infelizmente, a excelência da cena é seguida por acontecimento que promove uma das piores já feitas pela Marvel (Sony?), quando o Abutre e o Aranha estão em combate, e o clássico momento de super-herói de superação em uma situação inescapável é movido pela adoração de Peter a Tony, em vez de seu tio Ben ou sua tia May.
A cena é uma referência a um clássico dos quadrinhos, visto em The Amazing Spider-Man #33 (1963). Trata-se do mais grave dos erros do Homem-Aranha da Marvel/Sony, o que tira mais da metade de seu brilho e charme.
É um golpe de morte na mitologia e essência do personagem Peter Parker/Homem-Aranha, e que serve de motivo (muito válido) para que grande parte dos fãs não gostem desse Homem-Aranha.
O Homem-Aranha clássico, criação de Stan Lee e Steve Ditko, é um produto de seu tempo, que mirou em estruturas arquetípicas sociais que não envelhecem, mas que acharam por bem alterar.
Eles quiseram se livrar de décadas de peso de cronologia de um herói criado nos anos 1960 para alterar sua órbita em torno de seu maior produto nos cinemas: o Homem de Ferro.
Foi necessário fazer isso para que o produto parecesse da mesma prateleira — e claro, ninguém é obrigado a aceitar isso.
Homem-Aranha De Volta ao Lar finaliza com Peter Parker em crescimento de responsabilidade, ao recusar um novo traje de Stark e mirar pequeno, nos problemas domésticos do Queens, onde vive, em Nova York.
A última cena é embalada por um dos melhores ganchos, ao Peter mais uma vez ser descuidado com sua identidade secreta.
A primeira cena pós-créditos mostra Mac Gargan, que já tinha aparecido antes na cena de confronto da balsa, recebendo Adrian Toomes na prisão. Gargan, que nas HQs é o vilão Escorpião, pergunta sobre a identidade secreta do Homem-Aranha, mas Toomes desconversa por alguma razão.
Adrian não é verdadeiramente um homem mal, disposto a cometer atrocidades em vão, como vilões clichê, mas sabemos que é frio e calculista.
E quando ele escolhe ser criminoso, é por vontade própria — a maioria dos inimigos do Aranha são homens que sofreram algum tipo de acidente, que os deixou transtornados ou mentalmente alterados: Duende Verde, Octopus, Homem-Areia, Electro. Adrian não é chamado de Abutre (Vulture) no filme em nenhum momento, mas se referem à ele como “vulture guy“.
A referência mais óbvia de Keaton como Abutre remete diretamente ao seu papel em Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), longa de 2014 que ganhou o Oscar de Melhor Filme.
A Abutre é o quarto membro do Sexteto Sinistro a aparecer nos cinemas. O grupo é um clássico das HQs, formado por vilões do Aranha que se juntam para tentar matar o Teioso. Doutor Octopus apareceu em Homem-Aranha 2 (Tobey/Raimi, 2004), Homem-Areia em Homem-Aranha 3 (Tobey/Raimi, 2007)) e Electro em O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (Garfield/Webb, 2014)).
Apenas Kraven, o Caçador, ainda não fez sua aparição. Abutre, Doutor Octopus, Mysterio e Kraven estavam previstos para aparecerem nos filmes de Garfield/Webb antes da Sony cancelar o projeto.
Homem-Aranha De Volta ao Lar foi o segundo reboot do Homem-Aranha no cinema e o décimo sexto filme do Universo Cinematográfico Marvel.
Sua sequência foi Spider-Man: Far From Home (2019), traduzido aqui como Longe de Casa. Watts voltou a dirigir, e Holland, Zendaya, Tomei e Batalon reprisaram seus papéis, com Jake Gyllenhaal como Mysterio, o vilão da vez. Samuel L. Jackson e Cobie Smulders também reprisaram seus papéis como Nick Fury e Maria Hill. Foi o último filme da Marvel nos cinemas, pós- Vingadores 4 – Ultimato.
Em setembro de 2019, a Marvel Studios e a Sony Pictures anunciaram a produção de um terceiro filme, após um impasse entre as duas empresas durante as negociações. O terceiro filme está programado para ser lançado em 16 de julho de 2021, com Holland voltando a estrelar.
41º filme de Jennifer Connelly
Homem-Aranha: De Volta ao Lar
Estados Unidos
/ STAN LEE. O co-criador do Homem-Aranha, Stan Lee, faz uma aparição cameo como Gary, residente de um apartamento em Nova York, que testemunha o confronto de Parker com um vizinho.
Apesar do longa não mostrar a origem do Aranha, em uma conversa com Ned, Parker diz que foi mordido por uma aranha e que ela acabou morrendo depois. Isso indica que a origem criada por Stan foi respeitada.
O que não fica claro é o que aconteceu com o personagem do tio Ben, inexistente em Homem-Aranha De Volta ao Lar. Peter em certo momento do filme diz “tudo pelo que a tia May passou”, e fica nisso.
/ HULK. O ator Martin Starr interpreta em Homem-Aranha De Volta ao Lar o professor Harrington, que leciona para Peter e seu amigos, além de ser treinador acadêmico de Decathlon.
Mas no filme O Incrível Hulk (2008), de Louis Leterrier, que pertence ao Universo Cinematográfico da Marvel, Martin também interpretou um personagem, não-creditado, chamado apenas de “nerd do computador”. O Hulk desse filme é Edward Norton.
/ SILK. Homem-Aranha De Volta ao Lar promove a primeira aparição de Cindy Moon (Tiffany Espensen), colega de escola de Peter. Nas HQs, ela é mais conhecida como Silk, a contraparte feminina do Homem-Aranha, que foi picada pela mesma aranha radioativa.
A personagem apareceu pela primeira vez em The Amazing Spider-Man #1 (abril de 2014). Há inclusive projetos e rumores sobre produções sobre a personagem fora das HQs.
/// CASAMENTO? Para não ficar sem graça com seu anúncio furado no final, quando esperava que Peter Parker aceitasse o novo traje e fosse apresentado à imprensa, Tony saca de um anel, em um pretenso pedido de casamento para Peper Potts, feito fora das câmeras. É a única aparição de Gwyneth Paltrow em Homem-Aranha De Volta ao Lar.
/ CAPITÃO AMÉRICA E O COMANDO SELVAGEM. Chris Evans apareceu em alguns anúncios de serviço público escolares, e na sensacional segunda cena pós-créditos, uma inversão de expectativas, desde que a Marvel começou com essa moda em seu primeiro filme, Homem de Ferro (2008).
Ela mostra o Capitão América tirando um sarro de quem esperou por todo esse tempo por algo bombástico, ao dar um recado sobre as “virtudes de ter paciência“. O ator Kenneth Choi interpretou Jim Morita em Capitão América – O Primeiro Vingador, como soldado do Comando Selvagem, o grupo de apoio do Capitão América na Segunda Guerra Mundial.
O ator retorna em Homem-Aranha De Volta ao Lar como o diretor Morita, da escola onde Peter estuda.
/ DC COMICS. Michael Keaton é o terceiro ator da franquia do Batman, da DC Comics, a estrelar um filme do Homem-Aranha, da Marvel. Cliff Robertson estrelou o clássico seriado camp de Batman e Robin em 1966/1968, como Shame, em vários episódios, e depois foi o tio Ben nos três filmes do Aranha de Tobey/Raimi. J.K. Simmons interpretou J. Jonah Jameson também nos três filmes de Tobey/Raimi, e depois interpretou o Comissário Gordon em Liga da Justiça (2017).
Em 2019, Simmons retornou no final de Homem-Aranha: Longe de Casa como J.J. Jameson, em um papel ligeiramente diferente daquele de editor-chefe de um jornal impresso, mídia que é, infelizmente, um cadáver insepulto.
/ CONEXÕES ENTRE OS ATORES. Marisa e Robert Downey Jr. são amigos de longa data e tiveram até um caso. Eles trabalharam juntos em Chaplin (1992), Só Você (1994) e Capitão América: Guerra Civil (2016), primeira aparição de May e Peter no Universo Cinematográfico da Marvel.
Ela e Michael Keaton trabalharam juntos em O Jornal (1994), filme que também tem Glenn Close, que interpreta Nova Prime em Guardiões da Galáxia (2014). O Jornal tem roteiro de David Koepp, o mesmo que escreveu Homem-Aranha (2002), e foi dirigido por Ron Howard.
A filha do cineasta, Bryce Dallas Howard, apareceu como Gwen Stacy em Homem-Aranha 3 (2007). Ron Howard dirigiu Jennifer Connelly em dois filmes: o oscarizado Uma Mente Brilhante (2001) e O Dilema (2011). Quando Keaton trabalhou em Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (2014), ele contracenou com Emma Stone e Edward Norton. Emma fez Gwen Stacy em O Espetacular Homem-Aranha (2012) e O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014), e Norton foi Bruce Banner/Hulk em O Incrível Hulk (2008), que pertence ao UCM. Por divergências criativas, ele saiu e entrou em seu lugar Mark Ruffallo, que é dono do papel desde Os Vingadores (2012).
Keaton e Downey Jr trabalharam juntos em Desafiando o Perigo (2005). Keaton e Jon Favreau aparecem em filmes do Batman — Keaton como estrela em Batman (1989) e Batman: O Retorno (1992), e Favreau em Batman Eternamente (1995).
Tommy Lee Jones também aparece em Batman Eternamente, e interpretou o mentor militar de Steve Rogers em Capitão América: O Primeiro Vingador. Marisa Tomei e Alfred Molina estão em Tudo por um Sonho (1995) e O Amor é Estranho (2014). Molina interpretou o Dr. Octopus em Homem-Aranha 2 (2004).
Ele e Keaton trabalharam em The Company (2007) ao lado de Chris O’Donnell, que fez Dick Grayson/Robin em Batman Eternamente (1995) e Batman & Robin (1997), o parceiro mirim do Homem-Morcego, que Keaton não teve em seus dois filmes.
/ OSCAR. Homem-Aranha De Volta ao Lar está cheio de Oscar no elenco. A começar por Jennifer Connelly, vencedora de Melhor Atriz Coadjuvante por Uma Mente Brilhante em 2002. Marisa Tomei, ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por Meu Primo Vinny (1992), foi nomeada em 2002 por Entre Quatro Paredes (2001) — quando perdeu para Connelly — e O Lutador (2008).
Jennifer Connelly e Marisa Tomei trabalharam juntas em E…Que Deus nos Ajude!!! (2012). Gwyneth Paltrow ganhou o prêmio de Melhor Atriz por Shakespeare Apaixonado (1998). Robert Downey Jr, foi indicado ao Oscar de Melhor Ator por Chaplin (1992) e Melhor Ator Coadjuvante por Trovão Tropical (2008).
Michael Keaton também foi indicado ao Oscar de Melhor Ator por sua atuação em Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (2014).
/ 2017. Nos cinemas passavam filmes como Moana – Um Mar de Aventuras, Assassin’s Creed – O Filme, Cabin Fever, La La Land – Cantando Estações, A Bailarina, Resident Evil 6: O Capítulo Final, O Chamado 3, Cinquenta Tons Mais Escuros, Eu Não Sou Seu Negro, John Wick – Um Novo Dia Para Matar, Moonlight – Sob a Luz do Luar, Logan, Kong: A Ilha da Caveira, A Bela e a Fera, Fragmentado, T2 Trainspotting, Velozes e Furiosos 8, Alien: Covenant, Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar, Transformers: O Último Cavaleiro, Dunkirk, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, It: A Coisa, Mãe!, Pokémon: Eu Escolho Você, Assassinato no Expresso Oriente, Star Wars: Os Últimos Jedi e muitos outros.
/ OS FILMES DE JENNIFER CONNELLY.
1- Era Uma Vez na América (1984)
2- Phenomena (1985)
3- Sete Minutos Para o Paraíso (1985)
4- Labirinto – A Magia do Tempo (1986)
5- Essas Garotas (1988)
6- Etoile (1989)
7- Hot Spot – Um Local Muito Quente (1990)
8- Construindo Uma Carreira (1991)
9- Rocketeer (1991)
10- O Coração da Justiça (1992)
11- Do Amor e de Sombras (1994)
12- Duro Aprendizado (1994)
13- O Preço da Traição (1996)
14- Círculo das Vaidades (1996)
15- Círculo das Paixões (1997)
16- Cidade das Sombras (1998)
17- Amor Maior que a Vida (2000)
18- Réquiem Para um Sonho (2000)
19- Pollock (2000)
20- Uma Mente Brilhante (2001)
21- Hulk (2003)
22- A Casa de Areia e Névoa (2003)
23- Água Negra (2005)
24- Pecados Íntimos (2006)
25- Diamante de Sangue (2006)
26- Traídos pelo Destino (2007)
27- O Dia em que a Terra Parou (2008)
28- Coração de Tinta (2008)
29- Ele Não Está Tão a Fim de Você (2009)
30- 9 – A Salvação (2009)
31- Criação (2009)
32- Virginia (2010)
33- O Dilema (2011)
34- E…que Deus nos Ajude!!! (2011)
35- Ligados pelo Amor (2012)
36- Um Conto do Destino (2014)
37- Marcas do Passado (2014)
38- Noé (2014)
39- Viver Sem Endereço (2014)
40- Pastoral Americana (2016)
41- Homem-Aranha De Volta ao Lar (2017)
42- Homens de Coragem (2018)
43- Alita – Anjo de Batalha (2019)
44- Top Gun – Maverick (2022)
45- Bad Behaviour (2023)
/ AS SÉRIES DE JENNIFER CONNELLY.
1- The $treet (2000)
2- O Expresso do Amanhã/Snowpiercer (2020-2024)
3- Matéria Escura (2024)
Jennifer Connelly e seu Instagram: https://www.instagram.com/jennifer.connelly/
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