Street Fighter Zero 2 (conhecido como Street Fighter Alpha 2 no mercado ocidental) é um game de luta 2D criado pela softhouse Capcom para os arcades japoneses em 1996, e que depois foi adaptado para um grande número de videogames caseiros, ainda nos anos 1990, se tornando um dos jogos de luta mais populares na época.
Ele é a sequencia/remake de Street Fighter Zero (Street Fighter Alpha: Warriors’ Dreams), de 1995, e conta com mais personagens e cenários, além de refinamentos de jogabilidade e incremento visual.
A polida e a maximização do design de anime e de jogabilidade, aliado a escolhas estéticas que privilegiam velocidade e criatividade com as mecânicas de luta, cheia de combos e golpes especiais de diferentes níveis, tornaram o mood de Street Fighter Zero 2 um exemplo a ser seguido.
Rápido e bonito, com gráficos pixelizados em 2D, sprites com bons quadros de animação, bastante coloridos e enormes, e um volume alto no som provocado pelos impactos de golpes, poderes, agressões e falas dos lutadores, compõe uma diversão sem precedentes na jogatina, que é esticada pela boa e grande barra de life para as surras durarem mais.
Tudo funciona à perfeição em Street Fighter Zero 2, um dos jogos de luta mais completos já feitos. SFZ2 (abreviamos a partir daqui em alguns momentos) “conta” a “história” da confusa cronologia da saga Street Fighter, em eventos passados depois do primeiro Street Fighter (1987).
Os desenhos de Street Fighter Zero eram melhores, o cenário melhor trabalhado, as artes internas, de introdução e de finais eram bem produzidas, a trilha sonora era incrível.
A jogabilidade alcançava níveis de perfeição, com o surgimento de barras de especiais e movimentos para desferir golpes concentrados que alteraram completamente a dinâmica de se jogar.
Agora havia combos para ligar pancadas e contadores nos informavam quantas vezes seguidas o oponente era atingido. Tudo que havia apenas sido rascunhado no game Super Street Fighter II Turbo (1994), foi aprimorado na nova marca Street Fighter Zero.
O sucesso provocado pelo game foi muito maior que os produtores da softhouse imaginavam, e a história do melhor amigo perdido de Guile, Nash (chamado de Charlie na versão ocidental) as origens obscuras dos poderes de Bison e a relação enigmática de Gouki com seu irmão mais velho, Gouken (mestre de Ryu e Ken), conquistou uma audiência gigantesca, o que justificou continuação/revisão desse spin-off (obra paralela) da “infância” e “juventude” dos lutadores de Street Fighter.
Contudo, é bom ressaltar que só o estranho fato do título se chamar Street Fighter “ZERO DOIS” deveria alarmar os jogadores.
Alguns eventos ocorridos em Street Fighter Zero são ignorados, outros são reescritos e outros ainda são válidos.
E, pra variar, em 1998, a Capcom lançou a última atualização, Street Fighter Zero 3, que também é uma sequencia/remake, que faz com SFZ2 o mesmo.
Pra quem ligar muito para a história em um jogo de luta, não é o pior dos mundos, mas é preciso entender que a diversão da porrada se sobressai em Street Fighter Zero 2 acima de qualquer outro aspecto.
SFZ2 seria um dos poucos jogos da série Street Fighter a ter atualizações — na verdade, teve apenas uma, lançada no mesmo ano de 1996, chamada de Street Fighter Zero 2 Alpha.
Mais lutadores é mais
pancadaria e mais diversão
A mecânica de luta ainda é regida por golpes normais e especiais criados pela combinação de botões, mais os Super Combos, executados apenas com a barra correspondente cheia, em até 3 níveis, com diferentes níveis de dano e efeito gráfico, a depender da quantidade de botões usados — um Shinkuu Hadouken do Ryu com apenas um botão é um dano/efeito, o Shinkuu Hadouken do Ryu usado com três botões é outro bem diferente.
Além disso, ainda há os Alpha Counters (contra-golpes, que gastam a barra de Super Combo, com chute ou soco), Air-Blocking (bloqueio no ar) e Tech Hit (cancelamento de jogadas).
A novidade fica por conta dos Custom Combos, que exige o gasto da barra de Super Combo. Nesse modo, o próprio jogador cria seus Super Combos, em um curto espaço de tempo, que diminui a cada segundo do consumo da barra.
Antes da luta, é preciso escolher se a defesa será automática (não recomendável) ou manual (facilita a jogabilidade) e o nível de velocidade da luta, de normal e turbo (bem rápido e para quem já está familiarizado com o game).
No modo de um jogador, são oito lutas até o confronto final, com a possibilidade de destravar uma luta secreta no meio contra um “mid-boss“, um personagem rival relacionado ao que escolheu.
O chefão final também depende da escolha do personagem, com cada um tendo o seu por diferentes razões.
O senior planner (diretor geral de desenvolvimento) do jogo, Shinji Mikami (que dirigiu o primeiro game de Resident Evil), procurou ao máximo fazer um bom balanceamento em Street Fighter Zero 2, com destaque para os hits provocados por golpes comuns em detrimento dos especiais, ainda que com o passar do tempo os combos os ligassem em lindas misturas, um aspecto que por mais que a equipe de desenvolvimento tente contornar, não é superada pelo engajamento de gamers entusiasmados em explorar todas as capacidades do jogo e suas mecânicas.
O line-up de lutadores são Ryu, Ken, Birdie, Adon e Sagat, todos personagens originais do primeiro Street Fighter; o ninja heroico Guy e vilão fanático Sodom, ambos do jogo de briga de rua Final Fight (1989); Chun Li, M. Bison e Gouki, de Street Fighter II (e suas trocentas variações); e Nash, Dan e Rose, que fizeram sua estreia no mundo de SF. Todos eles estavam em Street Fighter Zero e foram mantidos em SFZ2, que introduz novos personagens e reabilita antigos. Bison, Gouki e Dan são selecionáveis sem códigos agora, e eles se juntam ao indiano Dhalsim e o soviético Zangief, ambos de Street Fighter II (1991); Gen, o velho mestre assassino chinês, visto em Street Fighter, e dono de dois estilos de luta, cambiável durante a jogantina; Rolento, o militar membro da gangue Mad Gear, de Final Fight; e a novata Sakura, uma estudante colegial, fã de Ryu e que quer se tornar uma lutadora.
Todos tem seus próprios cenários agora, muito bem caracterizados de acordo com as identidades de cada lutador, e que são um show à parte, com grande sprites e detalhamento que nos fazem mergulhar na imersão que Street Fighter Zero 2 provoca com sua estética.
Há movimento e vida em cada cenário, como os elefantes ao lado do rio Ganges, na Índia, de Dhalsim; o avião planando em Detroit, EUA, de Nash; os convidados do iate de Ken, na baía de São Francisco, EUA; ou toda a galeria de personagens de Final Fight no cenário de Guy, em Metro City, EUA.
Destaque especial para os cenários secretos do descampado em meio a uma tempestade noturna na Austrália (vindo diretamente de Street Fighter II – The Animated Movie) e a cachoeira na Venezuela.
Por falar em segredos, um dos personagens secretos é uma versão alternativa (e ultra poderosa) de Gouki (popularmente ele é conhecido como Akuma no Ocidente).
Trata-se de Shin Gouki/Devil Akuma. É preciso dizer que a Capcom tem um longo e confuso histórico de mudar e trocar nomes de personagens em seus jogos.
Sodom, originário da saga Final Fight, teve seu nome modificado para Katana no lançamento americano do game, e em suas aparições na saga Street Fighter Alpha, se chama Katana também.
Shin Gouki/Devil Akuma é o lutador escondido que se apresenta como o chefão final, independente de quem você escolheu, se você vencer várias disputas sem perder nenhum round e finalizar os oponentes com Super Combo.
Ele é como o Akuma, mas muito mais rápido e com golpes ampliados e outros aprimorados.
O anime como base de design
em Street Fighter Zero 2
SFZ2 opera sob a placa gráfica CPS II, o que explica o lindo visual em tela, já que os circuitos e chips desse hardware eram poderosos o suficiente para criar animações e sprites (figuras construídas de pixels, os blocos/bits que formam a imagem no videogame) melhores do que outros da época.
O filme animado Street Fighter II – The Animated Movie (1994), um longa-metragem em anime de enorme sucesso lançado pela Capcom (e que chegou ao Brasil como Street Fighter II – O Filme), foi grande fonte de inspiração para o mood e design anime da saga Street Fighter Zero, que permeou toda a identidade visual e gráfica da série, muito mais do que outros jogos da franquia.
Isso também é reflexo de outras produções da Capcom na época, como o game de luta X-Men Children of The Atom, segundo jogo da parceria com a Marvel (o primeiro foi The Punisher, um game de briga de rua com o Justiceiro) e o primeiro Darkstalkers (Vampire: The Night Warriors, no Japão), o jogo de luta de personagens fantásticos/mitológicos da Capcom.
Ambos foram lançados para arcades em 1994, e foram feitos com base em animações e jogabilidade que lembravam animes, o que se tornou uma marca duradoura nos crossovers da Marvel e Capcom ao longo dos anos — até Marvel vs. Capcom 2, de 2000 — e a marca visual mais forte de Darkstalkers, que teria mais sequências devido ao sucesso que obteve.
Quando os arcades do primeiro Street Fighter Zero estavam nas lojas, outro anime da Capcom passava na TV, a série Street Fighter II – Victory, que também tinha a mesma premissa de SFZ: apresentar os anos iniciais dos lutadores da saga Street Fighter, mas que caminhava com uma cronologia toda particular e diferente da original da Capcom.
Então, juntando tudo, não é surpresa que essa estética anime reine em Street Fighter Zero, e tenha seu ápice em Street Fighter Zero 2.
Em 1996, os animes estavam em alta na indústria. As séries Samurai X (ação e aventura histórica), Slayers (ação e aventura medieval), Caçadores de Elfas (desafia descrições, risos), Saber Marionette J (comédia romântica) estreavam na TV, o filme animado Tenchi Muyo! In Love (comédia romântica) expandia a história de Tenchi, X/1999 (ação e aventura) era lançado pelo Studio Clamp (grupo autoral só de mulheres, um dos mais celebrados do Japão), Sailor Moon Sailor Stars com sua temporada final da franquia das meninas guerreiras, e ainda tínhamos Dragon Ball Z (ação e porrada), que ainda estava tão no auge que ainda tinha fôlego para mais uma série, a Dragon Ball GT.
No Brasil, o anime era uma bomba atômica na cultura pop, e a onda de explosão, que começou em dezembro de 1994 com a estreia de Cavaleiros do Zodíaco (ação e porrada), estava nas alturas.
Em 1996, a extinta Rede Manchete era a casa desses desenhos animados, a maioria datados dos anos 1980. Os Cavaleiros do Zodíaco eram tão populares que a Manchete trouxe também Shurato e Samurai Warriors (os dois de ação e porrada, também com guerreiros em armaduras), que fariam cia. também para a primeira temporada Sailor Moon. Tinha até uma seção mais “adulta” à noite, com animes sci-fi mais violentos como Detonator Orgun, Zeorymer, Genocyber e até um Fatal Fury (ação e porrada) no meio, que passavam no programa U.S. Mangá.
No SBT, passava a primeiríssima temporada de Dragon Ball, com Goku criança descobrindo as Esferas do Dragão; Aventuras do Fly (a franquia Dragon Quest, um famoso RPG nos videogames); As Guerreiras Mágica de Rayearth, em enorme sucesso do Studio Clamp; e o divertido Street Fighter II – Victory, com uma das dublagens mais icônicas que os profissionais brasileiros já fizeram, cortesia da Master Sound, de São Paulo (“Nós Vamos ao Encontro do Mais Forte!“).
Era também o ano que estreou o canal a cabo Locomotion, que passaria 24h por dia animes — literalmente sem parar.
O sucesso que a Capcom teve com Street Fighter II – The Animated Movie justificou a estética de anime que imperou em Street Fighter Zero.
O character design (desenhista responsável pela criação visual dos personagens) foi Shuko Murase, profissional veterano do mercado, com trabalhos em Samurai Warriors (1988), vários Gundam, inclusive no grande sucesso Gundam Wing (1995), Night Warriors: Darkstalkers’ Revenge (1997), Argento Soma (2000), Samurai Champloo (2004), Ergo Proxy (2006), Blade Runner: Black Out 2022 (2017) e dezenas de outros.
Quem também estava na produção do filme animado de SF foi Akira Kano, artista que depois seria o character design do Street Fighter II – Victory. Sano trabalhou em Tenchi Muyô! In Love (1996), Bubblegum Crisis: Tokyo 2040 (1998), Dragon Ball Z: A Batalha dos Deuses (2013), Os Cavaleiros do Zodíaco: Alma de Ouro, Dragon Ball Z: O Renascimento de Freeza e Dragon Ball Super, todas de 2015.
Em seus estúdios de criação de videogame, a Capcom decidiu por dois responsáveis em criar visualmente Street Fighter Zero.
Akiman (que se chama Akira Yasuda, geralmente os desenhistas escolhem pseudônimos e nomes engraçadinhos na produção), que começou na Capcom em 1985, foi um dos responsáveis pelo character design — ele inclusive foi do primeiro Street Fighter.
Outro character design de SFZ foi Bengus (nome desconhecido, também se apresenta como Mido Shiito, CRMK, Holy Homerun). Quando ajudou a criar Street Fighter Zero 2, a Sakura se tornou sua personagem preferida.
Vinte anos depois, seria ele o responsável por fazer o redesign dela, em Street Fighter V (2016).
SFZ2 no mundo de games de luta
Street Fighter Zero 2 teve a primeira revelação ao público em fevereiro de 1996 no evento AOU, uma feira de eletrônicos em Tokyo, e no mesmo mês já estava nas lojas de diversão de arcades japoneses.
E o ano de 1996 foi particularmente rico no mundo dos videogames, que ainda via vida vibrante e cheia de energia nos arcades, onde as superproduções de jogos de luta estreavam primeiro.
Era o ano de The King of Fighters 96, o meio da saga de Orochi, o grande vilão da franquia, um jogo de luta arrasador de trio vs trio, produzido pela SNK, a grande rival da Capcom pela preferências dos gamers da época.
A SNK lançou Samurai Shodown 4, o ápice de seu game de luta de época, com a ressurreição de Shiro Tokisada Amakusa, o grande vilão da série, e Art of Fighting 3, que refinou a jogabilidade da franquia, com gráficos e fluidez superiores a outros títulos da época, mas que com um novo line-up de lutadores, não despertaria tanto interesse assim, ainda mais em uma história original que fugia muito ao que foi apresentado nos dois games anteriores.
A SNK ainda lançou Real Bout Fatal Fury, o quarto game de Fatal Fury, a “verdadeira” sequência de Street Fighter, já que o diretor original do game da Capcom, Takashi Nishiyama, saiu da empresa antes de começar um eventual SF II, e entrou na SNK, criando então Fatal Fury e Art of Fighting.
Outro game da SNK foi Kizuna Encounter, menos conhecido do grande público, mas apreciado por gamers por oferecer uma jogabilidade inovadora de duplas, meses antes da Capcom lançar seu X-Men vs Street Fighter.
A Capcom estava com Street Fighter Zero 2 nos arcades em 1996, mas atacava em várias outras frentes. Expandindo os conceitos ultrarrápidos, explosivos e urgentes apresentados nos games de luta X-Men: Children of the Atom (1994) e Marvel Super Heroes (1995), com seus super-pulos e poderes de tela inteira, a Capcom fez o crossover de luta X-Men vs Street Fighter.
Ciclope, Wolverine, Tempestade, Fanático e Magneto retornaram de X-Men: Children of The Atom, e juntos com Vampira, Gambit e Dentes de Sabre, estão com Ryu, Ken, Chun-li (em sua roupa de SF II), Dhalsim, Nash, Zangief e Bison contra o vilão Apocalipse, que quer capturar e destruir todos eles.
Os personagens de Street Fighter estão todos como os apresentados em Street Fighter Zero e Zero 2, com poderes ampliados e jogabilidade alteradas, para competir com os X-Men em pé de igualdade.
Cammy White, a lutadora militar apresentada em Super Street Fighter II, também está no line-up, com sprite refeito para o jogo. O único personagem secreto é Gouki.
A Capcom também investia na novidade da época, o estilo 3D nos jogos de luta. Para sua maior marca comercial, Street Fighter, contratou uma softhouse subsidiária, a Arika, para fazer Street Fighter EX, com vários lutadores clássicos e muitos novos.
O resultado foi surpreendentemente bom, e garantiu uma boa base de fãs.
Ao mesmo tempo, a própria Capcom arriscava criar gráficos poligonais em um título de luta inédito, Star Gladiator, com lutadores futuristas em uma guerra espalhada pela galáxia.
A Rare tinha em 1996 o Killer Instinct 2 rolando nas máquinas, um jogo de luta sci-fi com fantasia, a lá Mortal Kombat, com gráficos impressionantes para época, em uma mistura bonita de 2D com renderização 3D que não veríamos nem depois no mundo dos games.
A Sega tentava emplacar de novo seu jogo de luta, Virtua Fighter 3, a última tentativa de vencer a franquia Tekken, da Namco, que viria com tudo com seu Tekken 3 no ano seguinte.
Enquanto esse título (que seria arrasador de bom) não chegava, a Namco estava com Soul Edge nas máquinas, o primeiro capítulo de sua saga de luta de época, com vários guerreiros atrás de uma espada que pode ser a salvação para alguns e a destruição para outros — a franquia seria mais conhecida pelo nome da sequencia, Soul Calibur.
Ele tomou o lugar de Battle Arena Toshinden, um dos primeiros jogos 3D de luta do mercado com lutadores armados. Toshinden foi ponta de lança do Playstation, e em 1996 já estava em sua terceira versão, um game que elevava muito a mecânica, poderes e personagens, para competir com a cinética oferecida pela concorrência.
Ainda no mundo 3D, a Tecmo lançou Dead or Alive, jogo de luta com várias lutadoras, em um mood tão noventista de sexualização que chocava até na época.
Battle Arena Tohshinden 3 não era o único a fazer sucesso no mundo dos consoles. A Bandai apostava alto nesse mercado até para o já defasado Super Nintendo, console de 16-bits da Nintendo.
Dragon Ball Z: Hyper Dimension foi lançado em 1996 e é um dos melhores títulos da plataforma, com gráficos de qualidade e jogabilidade intensa para o nome que carrega.
O cenário de jogos de luta era tão favorável que até softhouses sem tradição nesse nicho do mercado arriscaram alguns títulos, como Tobal No. 1, um game da Square, famosa por seus RPGs de Final Fantasy.
A Treasure também tentou um jogo parecido com game de luta em Guardian Heroes, que junta elementos de briga de rua ao combate, um título obrigatório para quem tem um Sega Saturn.
Outro game de luta para quem tinha videogame em casa era a versão dos consoles de Ultimate Mortal Kombat 3, jogo de luta da Midway, que era um sucesso avassalador nas locadoras, praticamente impossível de ficar disponível para alugar. Saiu para Saturn, Mega Drive e SNES.
O mundo de 1996 nos videogames era uma luta, e isso era bom demais.
ULTIMATE MORTAL KOMBAT 3 | Um dos jogos definitivos de luta nos videogames
Os segredos de
Street Fighter Zero 2
Entre outros segredos que descobriríamos dentro game, em meio a muita pancadaria, há a possibilidade de escolher Chun-Li com a sua roupa de Street Fighter II.
Street Fighter Zero 2 se chama assim no Japão, Asia e alguns países da América do Sul. Nos EUA e Europa, como já dito, o jogo se chama Street Fighter Alpha 2, mas as diferenças não ficam apenas no nome.
Nele, é possível também jogar com as versões clássicas de Dhalsim e Zangief. Mas diferente de Chun-Li, que muda apenas a roupa, os dois lutadores e ela ficam com a jogabilidade exata de Street Fighter II – Champion Edition (uma atualização do jogo com refinamento de golpes e velocidade, de 1992), sem barra de Super Combo e alguns golpes.
Mais que isso, Street Fighter Alpha 2 tem um personagem exclusivo: o secreto Evil Ryu, surgido nas páginas do mangá Street Fighter Zero, criado por Masahiko Nakahira e publicado pela Gamest, uma revista dedicada a arcades, de propriedade da Shueisha, uma das maiores editoras de mangá do Japão.
O Evil Ryu é o personagem dominado pelo espírito assassino do Satsui no Hadou, e que tem jogabilidade e golpes bem parecidos com os de Gouki.
Os três personagens foram incluídos a pedido da Capcom americana.
Nos meses finais de 1996, a Capcom japonesa lançaria essas adições americanas em uma atualização para os arcades, chamada Street Fighter Zero 2 Alpha.
Além de trazer Evil Ryu e as versões clássicas de Dhalsim e Zangief, a produtora também permitiu o acesso a versões clássicas de SF Champion Edition de Ryu, Ken, Sagat, Bison e Chun-Li (e não apenas a roupa).
Também houve algumas mudanças técnicas no Custom Combo e novo arranjo em músicas, SFZ2A trouxe novos movimentos e golpes para alguns personagens, como Ryu e Dhalsim, além de um modo survivor e um modo chamado de “Dramatic Battle“, que já estava presente em Street Fighter Zero, de 1995.
O “Dramatic Battle” é uma luta de 3 personagens: 2 amigos contra o Bison, em uma disputa simultânea na tela.
Os amigos dividem a mesma barra de energia e tem que acabar com o líder da Shadaloo. Isso vem diretamente do filme Street Fighter II – The Animated Movie e seu final, com a luta de Ken e Ryu contra Bison.
Mas se em Street Fighter Zero era possível apenas jogar com Ryu e Ken vs Bison, em Street Fighter Zero 2 a Capcom permite escolher qualquer lutador.
Street Fighter Zero 2
nos videogames
Os primeiros consoles a receber Street Fighter Zero 2 foram as plataformas de 32-bits PlayStation, da Sony, e o Sega Saturn, da Sega, ainda em 1996.
Graficamente, eles não alcançam o poderio gráfico dos arcades, mas a conversão do Saturn é uma das mais competentes disponíveis, com opções de um survivor mode e até de ver uma galeria de arte com ilustrações do jogo.
As músicas tiveram arranjos diferentes, e o personagem Shin Gouki/Devil Akuma disponível para seleção via código secreto, além das edições feitas em Street Fighter Alpha 2, que estão presentes nas versões americana e japonesa de Street Fighter Zero 2.
Em uma das maiores obras de engenharia técnica da história dos videogames, Street Fighter Zero 2 saiu para o console 16-bits da Nintendo, o Super Nintendo, no mesmo ano. Graças a vários chips de descompressão, o game roda em cartucho em uma conversão aceitável de gráficos e sons, bastante inferiores ao original dos arcades, mas ainda com design e jogabilidade competente para oferecer diversão.
É um dos poucos jogos em fita do SNES que “carrega” em certos momentos, como depois do anúncio de “Round 1, fight!“.
A versão de SFZ2 de Super Nintendo tem apenas Chun-Li com sua roupa de SFII como personagem secreta, mas agora, 25 anos depois, alguém descobriu como jogar com Shin Gouki/Devil Akuma.
Enquanto tentava melhorar a qualidade de Street Fighter Zero 2, via engenharia reversa, o programador Gizaha descobriu um código de trapaça para desbloquear o personagem no SNES.
O código exige que o jogador conclua o modo Arcade do SFZ2 com uma pontuação máxima, e insira as iniciais “KAJ” como nome da pontuação.
Depois, na tela principal, no segundo controle, deve pressionar os botões L,X,Y e Start ao mesmo tempo em que no primeiro controle você vai até o modo versus.
Quando clicar no modo, basta pressionar o botão Start e qualquer um dos jogadores poderá jogar com Shin Gouki/Devil Akuma.
A redução drástica de qualidade de Street Fighter Zero 2 para SNES também alterou outros aspectos do jogo.
O final de Nash, por exemplo, teve que ser alterado, já que o cenário da cachoeira na Venezuela não existe no SNES. Ele foi substituído pelo cenário do Bison mesmo, em uma base na selva amazônica brasileira.
Parte do final de Rose, que mostra ela no banho, foi cortada também, em um característico método Nintendo de censura.
Street Fighter Zero 2 se junta aos jogos Star Ocean (1996, da Enix) e Tengai Makyo Zero (1995, da Red Company e Hudson), ambos RPGs, como as grandes realizações técnicas do Super Nintendo.
Em 1997, um ano depois do lançamento do jogo, uma versão de SFZ2 foi disponibilizada para PCs Windows (no Japão, o pacote ainda incluía o primeiro Street Fighter Zero).
No mesmo ano, para o Playstation e Sega Saturn, a Capcom lançou uma coletânea chamada Street Fighter Collection, que continha dois discos: um era o Super Street Fighter II e Super Street Fighter II Turbo (Super Street Fighter II X: Grand Master Challenge, no Japão), a atualização mais recente de Street Fighter II, que marcou a estreia de Gouki e o começo de sua popularidade, e o outro disco tinha o Street Fighter Zero 2 Alpha.
Pra variar, a Capcom mudou os nomes: no Japão ele é Street Fighter Zero 2 Dash, e nos EUA ele é Street Fighter Alpha 2 Gold.
Esse “novo” Street Fighter Zero 2 Dash/Gold trouxe novas cores para alguns personagens, um modo chamado “Akuma Mode“, em que é possível lutar na hora contra Shin Gouki/Devil Akuma, além da possibilidade de selecionar o personagem, via código secreto.
Também tivemos a inclusão de uma nova lutadora, uma velha conhecida dos gamers, Cammy White, que tinha feito sua “estreia” em “sprite versão anime SFZ” em X-Men vs Street Fighter.
Cammy teria seu background bastante desenvolvido na saga Street Fighter Zero, com toda sua origem militar relacionada a experiências de clonagem da Shadaloo.
Ela está selecionável apenas nos modos Versus e Training (esse último só no Saturn), em uma versão bem menos “turbinada” do que na série Vs da Capcom/Marvel.
O modo Dramatic Battle não está mais presente em Street Fighter Zero 2 Dash/Gold.
SFZ2: anos 2000 e 2010
Em 2006, a Capcom lançou uma coletânea para o Playstation 2 chamada Street Fighter Alpha Anthology, com diversos jogos da franquia Zero.
Entre eles, Street Fighter Alpha/Zero 2 e Street Fighter Alpha/Zero 2 Gold/Dash, com uma Cammy agora selecionável no modo arcade, com direito até a final próprio.
No Japão, o game se chama Street Fighter Zero: Fighters’ Generation.
A coletânea, além de SFZ1, SFZ2 e SFZ3 e as versões Gold/Dash, tem Super Gem Fighter Mini Mix, de 1997, um jogo de luta da Capcom com seus personagens em SD, “superdeformed“, o estilo cartoon dos animes.
A versão Street Fighter Zero 2 do Playstation foi relançada na PSN (a rede digital interna da Sony) para os usuários baixarem e jogarem no portátil PSP e console Playstation 3, em 2009.
Em 2012, na mesma rede, quem tinha um portátil PS Vita também podia baixar o jogo.
Em 2009, no serviço da Nintendo, o Virtual Console, a adaptação sofrível de SFZ2 para Super Nintendo estava disponível para os usuários do Nintendo Wii, até 2010. Ele reapareceu em 2014 para Nintendo Wii U, e em 2016 para o portátil New Nintendo 3DS.
A mais recente aparição de Street Fighter Zero 2 no mundo dos videogames aconteceu em 2019, com o lançamento da coletânea Street Fighter 30th Anniversary Collection, com versões para PlayStation 4 (Sony), Xbox One (Microsoft), Steam (rede digital popular em PCs) e Nintendo Switch.
É a versão mais fiel e pura dos arcades de 1996, sem nenhuma das adições feitas nos consoles.
Apesar de não ter o melhor Street Fighter Zero 2 do mercado, essa coletânea é o melhor produto atualmente do mercado com a marca Street Fighter. Ele contém Street Fighter, Street Fighter II, Street Fighter II: Champion Edition, Street Fighter II: Hyper Fighting, Super Street Fighter II, Super Street Fighter II: Turbo, Street Fighter Alpha, Street Fighter Alpha 2, Street Fighter Alpha 3, Street Fighter III, Street Fighter III: 2nd Impact e Street Fighter III: Third Strike.
Para Gustavo Martins, que tem um canal de lutas de videogame no Youtube, Street Fighter Zero 2 é o mais balanceado da série.
“Pra mim é que mais marcou e o meu favorito. Pra época foi bem inovador, disparado foi muito mais jogado e comentado com relação aos demais jogos. O KOF (The King of Fighters) mesmo explodiu mesmo a partir da 97, e o MKT (Mortal Kombat Trilogy) só jogava quem tinha o console. No caso do SFZ2, eu lembro da turma fazer fila nas máquinas de fliperama pra jogar, foi uma febre, até mais do que o seu antecessor, o Zero“, comenta o gamer.
“Com relação ao sistema de jogo, os produtores balançaram o jogo removendo os chain combos, tornando algo exclusivo apenas para o Guy e o Gen. Esses combos de ligação, igual que tem em Darkstalkers e na série VS, a Capcom substituiu pelos Custom Combos, que também é uma alternativa aos especiais, onde você aperta uma combinação de botões, fazendo com que o lutador avance automaticamente em cima do oponente, podendo cancelar qualquer ataque um em cima do outro, por tempo limitado. Quanto mais cheia estiver a barra de especial, maior será a duração do Custom Combos. Um Custom Combo bem executado pode tirar até 100% da barra de life, se estiver com a barra de especial no máximo, dependendo do personagem. Com relação a trilha sonora pra mim é o melhor dos 3, principalmente as versões de arranjo que tem pros consoles. Outra coisa que acho legal no SFZ2 é o jogo não possui um Boss fixo, cada lutador tem o seu mid-boss e chefão final“, finaliza. Os vídeos de luta apresentados na matéria são do canal do Gustavo, e foram extraídos de Street Fighter Zero 2 Dash, da coletânea Street Fighter Alpha Anthology, que ele considera a melhor versão disponível.
O anime de Street Fighter Zero (2)
Em 1999, saiu o anime Street Fighter Zero no Japão, em formato OVA (Original Video Animation, modelo popular com duração menos do que um filme).
Conhecido como Street Fighter Alpha: The Animation nos EUA, ele foi dirigido por Shigeyasu Yamauchi, com character design de Yoshihiko Umakoshi, e é baseado diretamente em eventos que Street Fighter Zero 2 começou, como a possessão demoníaca de Ryu pelo Satsui no Hadou, e sua relação com Gouki.
Aparecem vários lutadores do line-up de SFZ2, como Ken, Sakura, Chun-Li, Birdie, Adon, Sodom, Guy, Rose, Rolento, Dhalsim e Dan.
Os vilões são personagens da Shadaloo, a organização criminosa comandada por Bison, nas figuras de Sadler e Rosanov, criados especialmente para esse anime.
A produção gerou outro anime spin-off chamado Street Fighter Alpha: Generations, de 2005, dirigido por Ikuo Kuwana e produzido pela Capcom, especialmente para o mercado americano, e trata apenas de Ryu, Akuma, Gouken, Ken e Sakura, e suas descobertas a respeito do Satsui no Hadou.
O mangá de Street Fighter Zero (2)
O mangá escrito por Masahiko Nakahira para Street Fighter Zero, e de onde veio o Evil Ryu, saiu na revista Gamest entre 1995 e 1996.
A série gerou dois volumes encadernados e foi sucedida por Street Fighter: Sakura Ganbaru!, também fechada em dois volumes. Ambas as obras de Nakahira foram lançadas no Brasil pela editora NewPOP, em 2013.
O mangá de Sakura apresentou Karin Kanzuki, uma lutadora ricaça rival de Sakura, e assim como Evil Ryu, levada para série Street Fighter, fazendo sua estreia em Street Fighter Zero 3.
/ GOUKEN NO SFZ. O primeiro Street Fighter Zero, de 1995, foi o responsável por finalmente introduzir o tão falado mestre de Ryu e Ken, Gouken, no mundo dos videogames.
Ele aparece em uma imagem no final de Gouki, que, além de ter Bison, mostra Goutetsu, mestre de Gouken e Gouki. É ele o criador do Ansatsuken, o estilo de luta karatê shotokan de Gouken, Akuma, Ryu e Ken, e quem primeiro identificou o Satsui no Hadou nas técnicas.
O nome Goutetsu foi originalmente designado para o mestre de Ryu e Ken em sua aparição fora de tela (apenas a voz) no filme animado Street Fighter II – The Animated Movie, mas depois a Capcom o deixaria com o nome Gouken mesmo.
Gouken nunca mais apareceria nos games, até o lançamento de Street Fighter IV, de 2008, onde se tornou até personagem jogável.
A primeira aparição dele, contudo, aconteceu mesmo no mangá de Masaomi Kanzaki, publicado de 1993 a 1994, chamado simplesmente de Street Fighter II no Japão, mas também conhecido como Street Fighter II: RYU.
O mangá conta a história de Ryu e suas lutas em andanças pelo mundo. Em um flashback, é revelado que Bison, antes de ser um lorde do crime, em um design bem diferente, se encontrou com Gouken para uma luta, deixando implícito que foi ele quem matou o mentor de Ryu e Ken.
Quanto a Goutetsu, ele nunca mais foi referenciado visualmente nos games pela Capcom, mas aparece no anime Street Fighter Alpha: Generations.
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