Se hoje você vê robôs em lutas e destruição geral em vários games por aí, Armored Warriors, jogo da Capcom, foi responsável em parte por introduzir o conceito neste mundo de modo muito especial.
Armored Warriors (no Japão, Powered Gear: Strategic Variant Armor Equipment) é um jogo de plataforma 2D side-scrolling de luta com robôs, com muita pancadaria, um clássico da softhouse Capcom dos anos 90 até então nunca portado para qualquer console.
Lançado em outubro de 1994, ele tem uma estrela na direção, Yoshiki Okamoto, produtor que começou a carreira na Konami, trabalhando em títulos como Gyruss, e fazendo história na Capcom criando os lendários Street Fighter II, Final Fight e Resident Evil. Tentando sair de um mar de porrada que ela mesmo criou, a Capcom produziu, pra variar, mais um bom jogo de beat ´em up, como são chamados os briga de rua na indústria de videogames.
Infelizmente, Armored Warriors ficou afundado no mar de opções em uma época de ondas loucas demais na indústria dos videogames. O que não tira nem um pouco seu brilho e primor gráfico de jogabilidade e diversão, que é o que realmente importa.
Os jogadores
Jeff Perkins “Rash”
Mecha: AEX-10M BLODIA
Ray Turner “Justice”
Mecha: SVA-6L REPTOS
Glenn Reed “Gray”
Mecha: AEX-10H GULDIN
Sarah White “Siren”
Mecha: AEX-12J FORDY
Eles recebem ordens do Comandante Galager
O inimigo a ser vencido é o ditador ciborgue Azrael, que pilota o “mecha” WARLOCK
A mecânica e jogabilidade de Armored Warriors
Três jogadores podem percorrer cenários futuristas de Armored Warriors, produzidos nos gráficos da placa CPS II da Capcom, que oferecia cores potentes e vibrantes, animação fluida e pixels crocantes, sem uma granulação desmedida. Em vez de brigões musculosos, podemos escolher um entre quatro mechas, super robôs gigantes comandados por pilotos.
Com o uso de três botões, pode-se atacar, pular e usar um ataque à distância. A progressão se dá em gráficos muito bonitos, desenhados à mão e adaptados ao 2D pixelizado. À medida que se avança, mais peças podem ser adicionadas ao seu mecha, o que oferece mais opções de ataque, como perfuratrizes e lança-chamas. São 7 missões, alternadas entre localidades entre os planetas Terra e Raia, sendo que a última acontece no espaço sideral.
Os chefões incluem outros mechas como os dos protagonistas, e outros que imitam animais, como um polvo e um escorpião. Outro é um hiper-blindado que ocupa quase meia-tela, e o último chefão é uma aberração cibernética bastante apelona em golpes, tiros e rajadas de energia.
Há itens para se recuperar o life, e um tradicional ataque com dois botões simultâneos, uma apelação para se livrar do perigo em horas extremas, e que logicamente, consome a barra de life. O mais inovador fica por conta de incrementar o seu robô com partes mecânicas deixadas pelos seus inimigos. Quando os robôs inimigos são derrotados, deixam partes do seu maquinário de ataque e movimentação no cenário. Essas partes podem ser coletadas e anexadas ao seu mecha, aumentando o poder de ataque.
Na história do game, a United Earth Government e o Principado de Raia assinam no ano de 2281 um tratado de cessar-fogo, pondo fim a uma guerra que durava meio século que devastava o mundo.
Cerca de um ano depois, um exército desconhecido recomeça as hostilidades na capital do Principado de Raia, Melkide, que manda tropas blindadas de mecha para averiguar a situação e proteger os cidadãos. Em meio a isso, pessoas tentarão usar o fato para ter controle total sobre a Terra. Controlamos um dos quatro soldados de elite da United, cuja missão é derrotar os cyborgs controlados por Azrael, um ex-capitão do Reino de Raia que se transformou em um ciborgue.
Como a Capcom aproveita o
imaginário de futuro japonês
em Armored Warriors
Robôs gigantes na cultura pop japonesa datam da década de 50, com diversos desenhos animados usando desse arquétipo para construir suas narrativas.
O gênero é provavelmente é o mais japonês de todos os gêneros populares de anime. A ideia de robôs e androides não é japonesa, mas já estava presente em Astroboy, só que esse que não era gigante. Quem deu o primeiro pontapé com seu pé mecânico e gigante foi Tetsujin 28-go, de Mitsuteru Yokoyama, em um mangá de 1956. Quatro anos depois, estreou em 13 episódios para a TV. Ele reflete o período pós-Segunda Guerra, com uma abordagem de robôs como armas, e não necessariamente usada para fins bélicos.
Em 1972, estrelando em mangá, Mazinger Z foi o primeiro a ter cabine, e usar o termo “super robot” dentro do próprio desenho.
A composição de tudo é de Go Nagai, um autor de mangá de renome tanto quanto Osamu Tezuka e Shotaro Ishinomori. O troféu de superstar do gênero vai para Mobile Suit Gundam, criado em 1979 por Yoshiyuki Tomino., que virou uma franquia tão potente que gerou dezenas de mangás e animes que são publicados até hoje.
Outras duas obras, que lidam com um lado mais emocional, usando o pano de fundo com robôs, são Macross e Neon Genesis Evangelion. O primeiro é um triângulo amoroso em meio a batalha espaciais. Já Evangelion usa seu nome derivativo bíblico e entrega uma trama apocalíptica e psicológica, pesada e disfuncional.
Apuro visual e detalhismo técnico
A identidade visual do game é inteiramente cibernética, com usos criativos e inteligentes de design. São personagens gigantes e detalhados, sem sinais de slow motion, correndo, lutando e atirando em cenários complexos.
Podemos apreciar os detalhes mecânicos dos robôs, armações de prédios e humanos torcendo e andando pelos lugares. A animação é muito bonita, e a parte sonora entrega os sons metálicos característicos desse tipo de ambientação. A trilha sonora acompanha a tendência da época, um rock acelerado e batido, riffs de guitarras e idas e voltas de baterias. Os chefes de fase são grandes e difíceis, e os inimigos ordinários tem boa inteligência artificial.
O artwork do game é de Kinu Ishumura, dono de um traço poderoso, musculoso e impactante. Ótimo ilustrador, suas artes passam o poder necessário de cada piloto que controla os mechas. Foi ele quem ilustrou as artes do Street Fighter II. O design dos robôs, igualmente bonitos, é de outro ilustrador, Haruki Suetsugu, que geralmente usa o pseudônimo de Sensei.
A “continuação” de Armored Warriors
Armored Warriors teve uma pseudo-continuação, o game de luta Cyberbots: Fullmetal Madness (1995), que usava as “Variant Armors” como mechas lutadores, com outro line-up de pilotos, e um sucessor espiritual desse, Tech Romancer (2000), também um game de luta.
Cyberbots foi uma tentativa da empresa de usar a recepção de Armored Warriors, que foi fraca, e aproveitar o background já feito, para capitalizar em cima de um game de porrada, que era a febre do momento.
A mais recente aparição de Armored Warriors nos videogames aconteceu em 2018, com Capcom Beat ‘Em Up Bundle, uma coletânea de games clássicos da empresa. A Capcom incluiu no coleção os jogos Final Fight (1989), Captain Commando (1991), The King of Dragons (1991), Knights of the Round (1991), Warriors of Fate (1992), Armored Warriors (1994) e Battle Circuit (1997).
Todos games de beat-em-up baseados em Final Fight. A coletânea está disponível para PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC.
A ficha técnica de Armored Warriors
Planner: Kiyo, T.H.T.Fuji, Tuchihashi Bakabon
Programmer: Y.Tunazaki Forever, Hero Hero, H.HASssssY, Hamachan, Dress
Mechanical Design and Object: Yochabare, E.Kuratani, H.Umemura, N.Fujisawa, Y.Maruno, H.Yoshino, You.Ten Kozow, Igami, Nekokan, U.F.O, N.Fukuda, Bakky
Art Design: Matsumoto, Y.Maruyama, M.Ohshino, T.Mishima, Saru, Akiyama
Sound Compose: Anachey Takapon
Sound Design: T.K,NY
Special Adviser: Poo, Shochan, Kenkun, Meshi, Furoboh
Character Design: T.O.M
Ad Design: Sensei, Sakomizu
Director: Kihaji.O
Special Thanks: Y.Mikami, Shin, and Capcom All Staff
Em nosso tempo e mundo real, robôs gigantes podem substituir com facilidade esportes como NFL, o UFC, rúgbi. E nosso desejo inato por violência, tecnologia, duelo entre nações, guerra montada em ficção científica está prestes a se tornar realidade, com a popularização enorme do uso de drones nas mais variadas atividades. 2281 está muito longe, mas o amanhã está logo aí.
/// AKUMA. O lutador Akuma fez a sua estreia no mundo cibernético graças a Armored Warriors. O jogo Cyberbots, da versão caseira Sega Saturn (console 32-bits da Sega) introduziu Zero-Gouki, a versão ciborgue do personagem. Depois disso, ele torna a aparecer em Marvel Super Heroes X Street Fighter (1997) sob o nome de Mech-Gouki (na versão japonesa) e como Cyber Akuma na versão americana, retornando em
Rash e Jin Saotome
É interessante notar que o mecha Blodia acabou indo de Armored Warriors/Powered Gear para Cyberbots, e quem ficou piloto do mecha foi Jin Saotome, que se tornou popular no game Marvel vs. Capcom (1998), onde Blodia também está presente — e a princesa Devillote, de Cyberbots, numa participação especial também! Algumas pistas de como Blodia foi parar nas mãos de Jin podem ser percebidas em Armored Warriors.
Obrigado por ler até aqui!
O Destrutor é uma publicação online jornalística independente focada na análise do consumo dos produtos e tecnologia da cultura pop: música, cinema, quadrinhos, entretenimento digital (streaming, videogame), mídia e muito mais. Produzir matérias de fôlego e pesquisa como essa, mostrando todas essas informações, dá um trabalhão danado. A ajuda de quem tem interesse é essencial.
Apoie meu trabalho
- Qualquer valor via PIX, a chave é destrutor1981@gmail.com
- Compartilhe essa matéria com seus amigos e nas suas redes sociais se você gostou.
- O Destrutor está disponível para criar um #publi genuíno. Me mande um e-mail!
O Destrutor nas redes: Instagram do Destrutor (siga lá!)
Todas as imagens dessa matéria têm seus direitos reservados
aos seus respectivos proprietários, e são reproduzidas aqui a título de ilustração.
LEIA TAMBÉM: