CAÇADOR PAUL KIRK | O Arco-Íris da Gravidade de Archie Goodwin e Walt Simonson

Com uma origem ancorada em legados clássicos de heróis anteriores (de ninguém menos de Jack Kirby!), um design de samurai guerrilheiro, armas estilosas e uma trama de espionagem com escopo de James Bond – 007, conspirações, lutas marciais e tiroteio, as HQs do Caçador Paul Kirk feitas nos anos 1970, escritas por um já veterano Archie Goodwin, ainda resistem com roteiros sólidos de poucas páginas, que exige concisão e ação nas medidas certas.

A arte de um jovem artista Walt Simonson, dinâmica e cinematográfica, cria uma imersão narrativa que conquista em poucos quadros, em cenas de ação de alto impacto, uma cinética que ainda parece moderno.

Caçador Paul Kirk
O Caçador encontra o Batman no ápice de sua aventura

O Caçador (Manhunter, no original, e na tradução adotada no mercado de quadrinhos no Brasil, Caçador) Paul Kirk é um dos mais letais lutadores do Universo DC, treinado em várias artes marciais, habilidoso no uso de armas de fogo e facas, e como apenas mais um super-herói dentre os milhares de personagens da editora DC Comics, tinha tudo para ficar no ostracismo conceitual e editorial.

Mas como a recém-lançada coletânea da DC comprova, Manhunter by Archie Goodwin and Walter Simonson: The Deluxe Edition, as histórias do Caçador/Paul Kirk produzidas por Goodwin e Simonson ainda têm fôlego.

O personagem e o arco em questão surgiram em histórias curtas publicadas em Detective Comics #437 (1973) até o #443 (1974), a revista que era a casa de ninguém menos do que o Batman.

O Caçador é uma releitura de um personagem de mesmo nome, Manhunter, e como não poderia deixar de ser, sua origem é extremamente confusa, na melhor das tradições dos quadrinhos de super-heróis.

Mas Archie Goodwin e Walt Simonson souberam capturar o espírito de seu tempo, em 1973, e produzir uma HQ afiada como uma adaga Bundi, que corta fundo assuntos e temas complexos como neurose pós-Segunda Guerra Mundial, políticas mundiais, conspirações secretas e ciência fantástica em uma HQ de ação desenfreada com um personagem (aparentemente) invencível.

Caçador Paul Kirk
Uma das capas alternativas da edição de luxo de Manhunter, de Archie Goodwin e Walt Simonson

Pelos olhos do leitor de hoje, a trama pode parecer básica, como um filme antigo de ação e espionagem dos anos 1970, mas ele fundamenta vários conceitos do que viria depois, como demonstraremos aqui.

O próprio criador, Archie Goodwin, reconhece que o Caçador não carregaria um título nas costas, e a Detective Comics precisava de tapa-buracos, mas o material que produziu ressoaria único nos quadrinhos de super-heróis, um exercício de criatividade que ainda tem impacto até hoje.

A Era de Ouro da Caça

Quando o primeiro Caçador surgiu nas HQs, era a aurora da Era de Ouro dos Quadrinhos, nascida com Action Comics #1, de 1939, com a primeira aparição do Superman, o que levou o surgimento de uma infinidade colorida de outros superseres com cuecas por cima da calças e que decidiram combater o crime.

Mas antes de tudo isso, a cultura pop do mercado americano estava estabelecida há anos em revistas ordinárias de bancas, cheias de literatura pulp — aventuras em texto, de capítulos curtos, sobre tramas detetivescas, histórias de terror, fantasia e ficção científica, caçadas na selva e a criminalidade urbana.

O pulp nasce nos fins do século XVIII e dura até 1955, com seu auge durante a década de 1920 e 1930 — seriam mais de 2 milhões de revistas vendidas nessa época, com cerca de 15% da população americana consumindo revistas pulp.

Foi nesse movimento que nasceram heróis imortais da literatura, como o Tarzan (lançado por Edgar Rice Burroghs em outubro de 1912), O Sombra, Conan e muitos outros. O nome pulp vem de pulpa, o tipo de matéria-prima de que eram feitas as folhas de papel das revistas, mais barata e que amarelavam com facilidade.

O prestígio de quem escrevia pulp era mínimo, com muitas pessoas proibindo os filhos de ler, com os autores mal vistos no mercado. Mas foi nele que Jack London, Agatha Christie, Robert Bloch, Ray Bradbury, Dashiel Hammet e outros grandes nomes da literatura começaram a carreira. Foi ainda sob essa força criativa que o Caçador surgiria.

Em janeiro de 1941, em Adventure Comics #58, da editora DC Comics, estreou o investigador criminal Paul Kirk, em tramas detetivescas.

Ele estrelou vários números da revista, mas nunca usou a alcunha de Manhunter/Caçador, apesar do termo sempre aparecer no título de suas histórias, aventuras pulp criadas por Ed Moore, que escrevia e desenhava.

Esse Paul Kirk jamais usou um uniforme de herói. Moore já fazia o Johnny Quick, um personagem análogo ao Flash, e o artista trabalhou também para a Timely e Atlas (que viriam a ser a Marvel) em títulos de crime,  assim como na EC Comics, a maior editora de terror e horror que já surgiu na indústria de quadrinhos, em HQs de guerra.

 

O investigador criminal Paul Kirk, em aventuras pulp. Criação de Ed Moore

Em março de 1942, surgiu na revista Police Comics #8, publicada pela editora Quality Comics, um herói chamado Caçador (Manhunter).

Os sete números anteriores do título foram estreladas pelo herói mais popular da empresa, o divertido Homem-Borracha.

O Manhunter/Caçador da Quality era Donald “Dan” Richards, um policial que decide combater o crime, criado por Tex Blaisdell e desenhado por Alex Kotzky, e o herói apareceu em aventuras até a Police Comics #101, em 1950.

Em 1956, a editora DC Comics comprou os direitos dos personagens da Quality Comics, de olho no Homem-Borracha e no Blackhawk (o Falcão Negro, o herói — depois grupo — aviador da Segunda Guerra Mundial). Esse Manhunter veio junto. Era um herói de uniforme azul, com um cachorro como parceiro, o Thor, The Thunder Dog, o “Cão-Trovão“.

Manhunter com o Caçador Dan Richards, da Quality Comics

Curiosamente, em abril de 1942, um mês depois da estreia de Manhunter/Caçador da Quality Comics, em Adventure Comics #73, surgiu na DC Comics um personagem chamado Rick Nelson, um personagem que se apresentou com o codinome de…Manhunter/Caçador.

Esse Manhunter foi criação de Joe Simon e Jack Kirby, os dois artistas pais do Capitão América, criado em março de 1941 para Martin Goodman, o dono da editora Timely Comics.

Goodman veio direto do mercado de pulps para tentar sucesso no nascente mercado de HQs. Simon foi o primeiro editor da Timely, a empresa que se tornaria a Marvel Comics.

E futuramente Kirby se tornaria um dos co-criadores de grande parte dos heróis do Universo Marvel, e seria celebrado como o maior artista de HQs de super-heróis de todos os tempos.

A arte do Rei, uma alcunha merecida que Kirby recebeu, ainda não tinha sua principal característica de design poderoso  geométrico quadrado, mas era suficientemente cinético para se destacar de outras artes da época.

Caçador Paul Kirk
Manhunter, com o Caçador Paul Kirk, da DC Comics, que saiu um mês depois da Quality Comics. Arte de Jack Kirby

No número seguinte, Adventure Comics #74, o nome Rick Nelson foi alterado para Paul Kirk, mas não era parecia ser o mesmo personagem de antes, um detetive pulp.

Agora Paul Kirk era um caçador de esporte muito habilidoso, bem treinado fisicamente e especialista de armas de fogo. Seu modo de vida frívola o enchia de tédio, até que um amigo é assassinado por bandidos.

É quando Paul Kirk decide caçar a maior das presas…os criminosos, que também é a deixa para justificar o nome “manhunter“, que numa tradução livre é “caçador de homens” ou “caçador humano“, inclusive reforçado pelo mote “ele persegue a presa mais perigosa do mundo…“, como apresentado no texto de introdução de suas histórias. O Caçador/Paul Kirk usava um uniforme, uma malha vermelha com uma máscara azul.

O Caçador/Manhunter de Jack Kirby foi um dos primeiros trabalhos do artista para a DC Comics. Antes de criar o herói Caçador, ele trabalhou com o super-herói Sandman, na mesma revista Adventure Comics.

Kirby também fazia Boy Commandos (que diziam vender na casa dos milhões, atrás apenas de Superman e Batman). Era uma revista de gangue juvenil em contexto de guerra, e Simon e Kirby também criaram Newsboy Legion, com uma proposta similar.

Em 1943, Kirby, assim como outras centenas de artistas da indústria de quadrinhos dos EUA, foram convocados para a Segunda Guerra Mundial.

O Caçador Paul Kirk apareceu em outras aventuras até Adventure Comics #92, de 1944, sua última aparição na Era de Ouro dos quadrinhos.

Caçador Paul Kirk
A última aventura do Caçador Paul Kirk na Era de Ouro

Caçador Paul Kirk: anos 1970

O Caçador Paul Kirk só seria resgatado em 1973, pelo escritor Archie Goodwin, um veterano na indústria de quadrinhos, com um longo currículo de trabalhos de respeito.

Ele tinha sido o principal redator da revista Creepy da Warren Publishing em 1962, até se tornar editor. A Warren era a herdeira espiritual da EC Comics, duas editoras que tratavam os temas de terror e horror com maturidade e qualidade mais sofisticada, com grandes artistas gráficos e roteiristas no visual das revistas.

Ele subiu de posto até ser editor da Warren, e ajudou dezenas de artistas na carreira, e mesmo quando saiu em 1967, ainda contribuía ocasionalmente para a empresa nos anos seguintes.

De 1967 a 1980, Goodwin escreveu para o King Features Syndicate, a maior empresa de tiras em quadrinhos para jornais impressos da América, e fez as tiras diárias do Agente Secreto X-9, reformulando o personagem para Secret Agent Corrigan.

Junto com o desenhista Al Williamson, um dos maiores desenhistas da indústria, sofisticaram a tira ao ponto de torná-la um thriller gráfico que não deve em nada para os melhores romances e filmes de espionagem do cinema.

Goodwin também escreveu aventuras do Quarteto Fantástico e Homem de Ferro para a Marvel Comics no começo dos anos 70, e quando substituiu rapidamente na DC o editor veterano Julius Schwartz no comando da revista Detective Comics, entre 1973 e 1974, foi a oportunidade de escrever sua visão do Manhunter.

Caçador Paul Kirk
Archie Goodwin & Walt Simonson

Caçador Paul Kirk
A página de abertura da série de Goodwin e Simonson
Caçador Paul Kirk
A arte de capa da edição Detective Comics com essa estreia nem mostrava o Caçador, com apenas uma chamada de texto

Nos anos 1930, o aventureiro Paul Kirk era um combatente do crime nos Estados Unidos, e distribuía justiça com seus próprios punhos como o vigilante mascarado Caçador.

Mas em 1946, Kirk desapareceu sem deixar vestígios. Quase 30 anos depois, uma figura parecida com o Caçador é vista novamente, em vários lugares do mundo, deixando uma lista de cadáveres por onde passa.

E a maioria deles tem a face de Paul Kirk.

A agente da Interpol (agência que funciona como uma polícia internacional), Christine St. Clair, persegue essa misteriosa figura, e tenta entender esse enigmático retorno do Caçador.

Uma sinistra conspiração parece tomar conta de todos os eventos que Christine presencia, e as pistas a levtam até mesmo perto do mais notório vigilante de Gotham City, o Batman, que também acaba investigando os assassinatos.

É difícil falar do Caçador Paul Kirk de Goodwin sem soltar spoilers, então, se quiser ser surpreendido, pule esse tópico inteiro.

Paul Kirk havia sido morto por um elefante nas selvas africanas. Mas seu corpo foi recuperado e preservado por 25 anos via criogenia pelo Conselho, uma misteriosa sociedade secreta que deseja o controle do mundo, por meio do controle dos bastidores da política mundial.

Isso também envolveria outros meios, cuja ajuda de Kirk seria fundamental. Revivido graças às maravilhas científicas da organização, o Dr. Anatol Mykros, chefe da organização, explica para Paul Kirk que, além de ser trazido de volta a vida, foi melhorado.

Ele agora ele tem um fator de cura (um ano antes de Wolverine ficar popular com esse poder na Marvel) e recebeu informações sobre o que acontecia no mundo exterior via máquinas cerebrais para seu subconsciente absorver enquanto estava congelado.

Kirk reconhece Mykros de algum lugar, e o doutor diz que ele o resgatou na Grécia de nazistas, em 1945. Ele e outras pessoas sobreviventes dos conflitos da Segunda Guerra Mundial, horrorizados com a bomba atômica e a divisão política que a Guerra Fria promovia, se uniram e criaram o Conselho, que dedicam conhecimentos e habilidades para impedir que catástrofes como essas aconteçam novamente.

Para ajudar nessa tarefa, o Conselho clonou Paul Kirk enquanto ele estava em sono criogênico, para ter agentes de campo capazes de fazer o que deveriam.

Caçador Paul Kirk
A passagem de seus tempos de super-herói na fase Kirby é referenciada na HQ de Goodwin e Simonson

Surpreso, agradecido e tocado pelas intenções aparentemente nobres do Conselho, Kirk decidiu permanecer com o Conselho.

Ele é apresentado a um mestre ninja, Asano Nitobe, que o começa a treinar. Kirk chega ao ápice da perfeição física humana, até alcançar o ponto que o Conselho desejava. Ele então é designado para o “Setor de Execuções“, e fica contrariado de ter que matar um alvo, um policial da Interpol.

Quando foi falar ao ~~ conselho ~~ do Conselho, descobriu que apenas Mykros estava lá, o resto era mantido em tubos criogênicos — inclusive o médico que o trouxe milagrosamente da morte, o Dr. Oka, criador do fator de cura, e de quem Asano era guarda-costas durante a Guerra.

Mykros trata Kirk rispidamente, dizendo que ele deveria se limitar a obedecer as ordens dadas.

Na missão de batismo, Kirk decide avisar a vítima para fugir, em vez de eliminá-la. Mas tudo era um teste: o policial era na verdade um agente do Conselho.

Mykros percebeu que Kirk não poderia ser usado como um líder assassino, e a organização determina sua morte. Com muito custo, Paul Kirk escapa, e começa uma guerra contra o Conselho, usando suas habilidades recém-adquiridas para destruir o exército-clone e Mykros.

É esse rastro de sangue que a agente Christine acaba esbarrando. Armado com uma pistola Mauser C96, uma adaga Bundi e shurikens, Paul Kirk vai honrar seu codinome de Caçador e ir atrás de todos os responsáveis.

Mas as situações só se complicam, com vários outros agentes escondidos do Conselho espalhados pelos mais variados locais do planeta, inclusive dentro da Interpol, na família dos envolvidos e até perto do Batman (!).

Caçador Paul Kirk
O arsenal do Caçador é um dos pontos altos da série, com designs icônicos de Walt Simonson

Archie Goodwin divide essa história em sete partes, distribuídas em Detective Comics #437-443 (1973-1974) — a seis primeiras com oito páginas, mas com a sétima com 20, com participação especial do Batman.

Simonson trabalha muito bem essa limitação, com ajuda de um roteiro que vai direto ao ponto, em uma surpreendente narrativa não-linear, num vai e vem que a todo momento é temperado com cenas de ação de alto impacto visual.

O Caçador/Paul Kirk e Batman não poderiam ser mais diferentes: se o Batman era sombrio e um vigilante caseiro urbano, o Caçador era colorido e com aventuras espalhadas no mundo todo.

Enquanto o Batman combatia com as mãos (mais ou menos) limpas, o Caçador usava armas de fogo e armas brancas.

O uniforme é datado hoje em dia, mas conversava com todas as linguagens em que foi baseado. De acordo com o próprio Simonson, o aspecto de túnica japonesa e samurai veio do filme Yojimbo (Yojimbo, o Guarda-costas, de 1961, dirigido por Akira Kurosawa), além de mais elementos do leste asiático, como a Índia, deliberadamente inseridos por ele e por Archie.

Aliás, a sinergia entre os dois era bastante forte, e Walt teve mais liberdade do que o comum de criar complementos para o roteiro. 

Caçador Paul Kirk
Rascunhos de Simonson para o Caçador

O curto e rápido mini-mundo das histórias do Caçador exigia esse tipo de criatividade urgente e celeridade.

Essa dicotomia refletia de certa maneira o mundo do ano de 1973, quando Manhunter foi lançada. Ele foi marcado por diversos acontecimentos importantes, que reverberavam (ainda hoje) na cultura pop como um todo.

O ano começou com a Assinatura do Acordo de Paris para o Fim da Guerra e Restauração da Paz no Vietnã, um conflito que dilacerou a perdedora América, física e moralmente, e que marcaria a indústria cultural do país para sempre.

A intenção do acordo era estabelecer a paz no Vietnã e acabar com a guerra. Estes acordos puseram fim à intervenção direta das Forças Armadas dos Estados Unidos no país e estabeleceram uma trégua temporária nos combates entre o Norte e o Sul.

No comando do governo, ainda era Richard Nixon, com seu segundo mandato como Presidente dos Estados Unidos. 

Em 1973, também começou a Guerra do Yom Kippur, onde Síria, Egito e Iraque começaram a atacar Israel, para reivindicar territórios em disputa desde os anos 40.

A Arábia Saudita, maior produtora de petróleo do planeta, retaliou os países que apoiaram Israel fazendo uso de sua maior arma: o petróleo, produto que controlava na maior parte do planeta. Ela fechou a torneira, causando uma crise mundial.

O ano de 1973 viu a crise do petróleo causar o aumento do preço da gasolina na América (o preço aumentou 400% em meses), enquanto as revelações sobre o escândalo político do Caso Watergate, quando partidários de Nixon tentaram incriminar os Democratas, escalonaram.

As acusações de corrupção e revelações sobre seu envolvimento custaram a Nixon boa parte do seu apoio político, quando se tornou o primeiro e único Presidente a renunciar o cargo, um ano depois.

Essas complexas dinâmicas políticas — além da própria Guerra Fria — permeiam todo o objetivo do Conselho, que quer passar por cima de governos e instaurar ordem e lei por métodos escusos.

Caçador Paul Kirk
A arte bélica em Manhunter

O World Trade Center era inaugurado em Nova York, marcando para sempre os céus da cidade, como símbolo do poder capitalista e comercial, identidades inerentes ao EUA.

O dinheiro começava a fluir de modo alternativo para Hollywood também, que via uma nova geração de cineastas criarem longas com temas marginais e longe dos convencionais. Nos cinemas, o público aprendia o que era o verdadeiro horror dentro do escapismo, quando o inacreditável O Exorcista, do diretor William Friedkin, com Jason Miller, Max Von Sydow, Ellen Burstyn, Linda Blair e Lee J. Cobb, fez a platéia literalmente vomitar e sair correndo das salas.

Era também o mesmo ano que o musical Jesus Christ Superstar se tornou filme, nas mãos de Norman Jewison, e que causou enorme polêmica na época, ao narrar uma ópera rock alternativa sobre Jesus.

Ainda nas telonas, o filme Five Fingers of Death é lançado nos EUA, dando início à febre de artes marciais na sétima arte. Infelizmente, foi em 1973 que o astro Bruce Lee morreu, antes mesmo de ver seu primeiro filme ocidental ser lançado, Operação Dragão.

No mesmo ano, filmes produzidos pela companhia Shaw Brothers, baseada em Hong-Kong, uma das maiores produtoras orientais de cinema de ação e artes marciais,  abasteceriam o mercado americano por um longo tempo.

Operação Dragão, produzido pela Warner, realizado por Robert Clouse, foi o filme da consagração suprema das artes marciais em Hollywood, um filme de kung-fu com trama de James Bond – 007, com um herói chinês (Bruce Lee) contracenando com um carateca branco (John Saxon) e outro negro (a estrela do gênero blaxploitation Jim Kelly, uma onda cinematográfica em que o negro era o protagonista, tão potente que até o 007 desse ano foi nesse estilo: Viva e Deixe Morrer, com Roger Moore e Yaphet Kotto).

A morte prematura de Bruce Lee, em 20 de julho de 1973, fez dele uma lenda. Ele completou apenas quatro filmes antes da sua morte, aos 32 anos: The Big Boss (1971), Fist of Fury e Way of the Dragon (ambos de 1972) e Operação Dragão.

Caçador Paul Kirk
As artes marciais em Manhunter

Os paralelos entre os filmes de artes marciais e Manhunter de Goodwin/Simonson, em sua ambientação oriental e marcial de lutas, salta aos olhos — há até mesmo momentos silenciosos, com cinética de storyboard de cinema, muito antes disso ser um recurso comum nas HQs americanas.

Sem utilizar os 8 painéis fixos por página comuns nos quadrinhos da época, tendo desenhos que fogem aos quadros, Simonson estava naquele momento anos a frente de seu tempo.

Aliás, o Caçador Paul Kirk precede em meses o Mestre do Kung-Fu, da Marvel Comics, que viria a ser o maior expoente das artes marciais e background de espionagem nas HQs da cultura pop.

Outros filmes também podem ser paralelos à Manhunter de Goodwin/Simonson. Foi em 1973 que foi lançado O Dia do Chacal, um longa-metragem dirigido por Fred Zinnemann, com roteiro baseado no romance homônimo de Frederick Forsyth, baseado em fatos reais ocorridos em 1963.

Militares renegados querem assassinar o presidente da França, o General Charles de Gaulle, por conta das mudanças de políticas de independência da antiga colônia francesa Argélia.

Um assassino infalível é contratado, que se apresenta como Chacal, e um inspetor de polícia de Paris, Lebel, é encarregado de buscar a identidade do criminoso e impedir o assassinato. Livro e filme são grandes obras, e a trajetória de Christine St.Clair em Manhunter é muito parecida com o trabalho que o inspetor Lebel faz.

Não apenas o entretenimento escapista era alterado pelas dinâmicas de 1973, mas também nas áreas de música e na literatura.

Foi nesse ano que a banda de rock progressivo Pink Floyd lançou The Dark Side of the Moon. Era a trilha sonora de uma era de cinismo, quando o caso Watergate e a Guerra do Vietnã mataram o que havia sobrado do espírito dos anos 1960 depois de Altamont — cidade onde rolou um festival de rock em 1969, famoso principalmente pelo alto grau de violência, incluindo o assassinato por esfaqueamento de Meredith Hunter e outras mortes, além de roubos e destruição de propriedade, no momento em que o Rolling Stones fazia um show.

Tempo, dinheiro, loucura e morte são alguns dos temas trabalhados pelo Pink Floyd em Dark Side, que tem uma das capas mais míticas do rock.

A dualidade cínica do Conselho, o espírito caçador de um Paul Kirk forçado e cansado da vida, versa sobre esses temas. O quadro final com a agente Christine é emblemático: “Paul disse que o Conselho tinha roubado a única paz que teve na vida. Acho que, a seu próprio modo, ele a recuperou“.

Caçador Paul Kirk
A tensão entre o heroísmo do Batman e o modo de ser do Caçador Paul Kirk, que viria a se tornar padrão no mercado de super-herói

E para quem ler a obra, saber que o Caçador encontrou seu fim ao destruir Mykros, é outra prova do ponto de ebulição que os anos 1970 promovia na cultura pop.

O Caçador Paul Kirk morre no fim da história, um recurso que nunca era usado com frequência nos quadrinhos de super-heróis, mas que já estava no espírito da época, e sendo percebida por outros players do mercado, como a Marvel, que matou Gwen Stacy, a meiga e charmosa namorada de Peter Parker, o pobre Homem-Aranha, no mesmo ano.

No mundo da literatura, Thomas Pynchon publicou O Arco-Íris da Gravidade, uma obra que desafia descrições e compreensões imediatas.

A história (parte) se passa principalmente na Europa no final da Segunda Guerra Mundial, e se concentra no design, produção e envio de foguetes V-2 pelos militares alemães.

Mas a linguagem e a técnica de Pynchon entregam o clima da contracultura americana dos anos 60 e 70 – drogas, rebelião, oposição à guerra do Vietnã, o fim da época paz e amor.

Seu estilo caracteriza-se pelo uso da cultura de massas — o desenho animado, o filme B, as história em quadrinhos, o livro pornográfico — ancorados por discursos bem construídos em uma narrativa pós-modernista de mais de mil páginas.

O Arco-íris da Gravidade é uma das maiores obras de ficção em língua inglesa da segunda metade de nosso século.

Caçador Paul Kirk
A última aparição do Caçador Paul Kirk na capa de Detective Comics. Arte de Jim Aparo

As superestruturas complexas que operam no livro vão de encontro a outra obra maior da DC, Watchmen (1986), mas é trazida aqui a título (e no título da matéria) a fim de ilustrar o quanto que Manhunter de Goodwin/Simonson entrega em sobreposições de assuntos, o quanto que que ela faz gravitar sob esse peso — mentiras e morte — e a variedade de linguagens que entrega.

Há momentos de traição, de humor, de mortes, de perigo e de camaradagem. Tudo isso em meio a uma história de neurose pós-Guerra, com um Paul Kirk enjoado de suas missões secretas e papel de super-herói, partindo para matar a natureza (animais), quando na verdade erra tiros de propósito.

Talvez o que desejava era se matar, e o Conselho emergindo dos escombros humanos que a guerra deixou, com seus integrantes fraturados mentalmente por seus horrores, com desejos de um mundo perfeito inalcançável. o trazem para a vida novamente, cerca de mais mortes de novo.

Essas histórias tinha tudo para ser maçante, mas nas mãos de Goodwin e Simonson, se tornou uma HQ de ação pop que entretém até o último momento, com um desfecho que não poderia se outro.

A comparação com o livro pode soar injusta. Goodwin afirma que o publisher da DC Carmine Infantino (criador o Flash que deu início à Era de Prata, período de reinvenção dos heróis da Era de Ouro, e da Liga da Justiça) lhe designou a Detective Comics, que ia mal de vendas, para tentar revitalizar o título.

Archie dividia o Batmam da revista com outros dois títulos, e não podia tentar nenhuma invencionice radical, como fazê-lo abandonar o manto ou criar um novo super poder.

Como uma tempestade que parece obscurecer tudo, foi nesse mesmo cenário que ela passaria, criando as condições para que algo novo emergisse. Algo colorido como um arco-íris e espalhafatoso como um super-herói.

De acordo com um texto de sua autoria, na apresentação de um encadernado de Manhunter, de 1984, Archie não se lembrava do Caçador/Paul Kirk de Jack Kirby, mas quando o Rei retornou para a DC, houve reimpressões da história do herói em alguns números do título Os Novos Deuses.

Foi quando Archie leu e achou o primeiro cara que precisava, alguém que não precisaria de crescimento, já consolidado. Ele gostou particularmente do fato de Kirk caçar os criminosos, e considerar isso um jogo perigoso.

Archie cita especificamente a novela curta The Most Dangerous Game (também publicada como The Hounds of Zaroff), criada por Richard Connell em 1924, como lembrança mais vívida a respeito do mote do Caçador Paul Kirk caçar homens como o “jogo mais perigoso“.

O livro é exatamente sobre um caçador esportista que cai em uma ilha do Caribe, e é caçado impiedosamente por um aristocrata russo, o Conde Zaroff.

Caçador Paul Kirk
A página da reapresentação do Caçador Paul Kirk de Jack Kirby, dentro da revista Novos Deuses #4, onde Archie Goodwin (re) conheceu o personagem

Junto com o esporte da caça, esse “jogo perigoso”, e aliado ao seu gosto pessoal por quadrinhos (mangá) japoneses de samurais e ninjas e o estouro na cultura pop das artes marciais, Goodwin tinha uma vaga de onde queria ir e incorporar ao seu personagem que pretendia construir.

Mas não tinha um artista. Até chegar o jovem Walt Simonson. Seu material mais proeminente era a HQ sci-fi Star Slammers, uma produção independente, e a princípio o escritor ficou relutante com a capacidade do jovem em criar figuras humanas em um mundo real.

Mas quando viu três páginas do artista em uma revista que mostrava a Batalha do Álamo (um dos eventos cruciais da Revolução do Texas, em 1836, quando colonos e mexicanos travaram guerra), mudou de ideia de imediato, e viu que tinha encontrado o segundo cara que precisava.

Goodwin afirma que a colaboração ativa de Walt na história só a enriqueceu, e que ele se entregava 110% ao trabalho.

Com o pedido que o Caçador — que nem tinha esse nome ainda — fosse um ninja dos dias modernos, a arma ia e voltava do design (“Walt desenhava a Mauser tão bem“, dizia Archie), bem como outros detalhes do traje, até que o escritor se deu conta que pouco importava manter o mood super-herói tradicional na obra tapa-buraco que fazia.

Os dois concordaram que Paul Kirk seria a melhor escolha para manter o nome do título, que seria mesmo Manhunter, e que de fato seria o mesmo personagem, reabilitado para a história em questão.

O Caçador Paul Kirk de Goodwin e Simonson foi criado no “método Marvel” que Goodwin promoveu, em que descrevia o que acontecia na página, e Walt a compunha visualmente como desejava, para depois Archie inserir os diálogos.

Foi essa liberdade que permitiu o dinamismo gráfico dos grids de quadros e ações cinematográficas da HQ.

Archie Goodwin revela também que a HQ quase nem saiu. Além de uma falta de papel de qualidade na época, o que fez Detective Comics sair com um padrão abaixo do normal, a dupla fez a obra doente: Walt estava com pneumonia e mononucleose, e Archie estava com “greener pastures syndrome“, uma doença renal autoimune, e quando Julius voltou ao cargo do comando da Detective Comics, com a dupla ainda fazendo o capítulo 5, o Caçador quase dançou.

Archie estava livre para voltar para a Warren, mas ele e Walt pediram para a DC ao menos terminar a HQ. Archie Goodwin, em seu fantástico texto, afirma que teve muita sorte, e que publicar um obscuro herói da Era de Ouro dos quadrinhos e ser reconhecido pela qualidade ímpar do resultado, lhe enchia de felicidade.

Com Manhunter, Goodwin e Simonson ganharam vários Shazam Awards, um dos mais prestigiados prêmios do mercado na época, dado pela The Academy of Comic Book Arts (ACBA), e Alley Award, dado pela Academy of Comic Book Arts and Sciences, e considerado um pré-Eisner, o “Oscar” das HQs nos Estados Unidos.

Os prêmios de Manhunter de Archie Goodwin e Walt Simonson

A caçada continua

Ainda na década de 1970, na revista 1st Issue Special #5, de agosto de 1975, o escritor e artista Jack Kirby, já um gigante das HQs, retomou o conceito do Caçador.

O Rei já tinha ajudado a criar mais da metade dos heróis do Universo Marvel, e agora na concorrente DC, com status de rockstar, criou um extenso material sob o editorial de Carmine Infantino.

Seu maior trabalho foi o chamado Quarto Mundo: quatro títulos que tratavam sobre novas divindades entrando em contato com a Terra e a mudando para sempre: Os Novos Deuses e Senhor Milagre, ambos de 1971, O Povo da Eternidade (1972) e Superman’s Pal, Jimmy Olsen (1974).

Foram nessas revistas que a DC ganhou o seu maior vilão: o diabólico Darkseid. E, como já dito, foi em Novos Deuses que Goodwin viu uma reimpressão de Adventure Comics com o Caçador Paul Kirk de Jack Kirby dos anos 40.

Aliás, é bom destacar que Manhunter de Goodwin/Simonson saiu na DC enquanto Kirby estava na editora.

Jack Kirby retoma o conceito do Caçador, mas agora com um novo personagem, Mark Shaw

Kirby tentou retomar o conceito do Manhunter criando Mark Shaw, um defensor público que assume o manto do herói ao ter contato com um artefato chamado Medalhão do Leão, o que o leva ao Himalaia, onde conhece o estranho Culto de Caçadores (chamado de The Manhunters), que se dedica ao combate contra o crime, sob a tutela de um Grande Mestre.

O título 1st Issue Special era uma série de antologia em que personagens eram apresentados em aventuras únicas, e Mark não voltou para outra.

Além de revitalizar o Caçador, Kirby tentou uma nova pegada super-heroística em Sandman (1974), criou Etrigan, O Demônio (1972), um diabo rimador da época de Camelot; Kamandi (1972), a sua visão sobre o Planeta dos Macacos (filme que a DC acabou perdendo o direito de adaptar, e que transformou nessa nova série), OMAC (1974), uma sensacional proposta futurista de ação com guerras corporativas e conceitos orwellianos com satélites e robôs assassinos, com direito a um Big Brother; Kobra (1976), sobre terrorismo internacional; entre outros trabalhos.

Em Secret Society of Super-Villains #1, em 1976, um clone do Caçador Paul Kirk, que aparentemente escapou dos eventos contra o Conselho, lidera uma galeria de super-vilões, em um plano secreto para frustrar um plano de invasão da Terra por Darkseid.

O título apresentava os vilões com uma pegada revanchista contra os heróis, mas frequentemente colocava vilão contra vilão.

Esse Caçador Paul Kirk clone morre na edição #5 tentando destruir Darkseid, que tentava controlar o grupo em certa parte da história.

Um dos clones sobreviventes de Paul Kirk encontra seu destino final tentando matar Darkseid

Mark Shaw retornou em março de 1977, na revista da Liga da Justiça, em Justice League of America #140, em uma história de 2 partes, escrita por Steve Englehart e desenhada por Dick Dillin e Frank McLaughlin, onde o Culto dos Caçadores apresentado por Kirby foi atrelado a um culto robótico intergaláctico, os Caçadores Cósmicos (The Manhunters, no original), ligados diretamente à mitologia do Lanterna Verde.

Em junho do mesmo ano, Shaw assume a identidade de Privateer e aparece como herói em Justice League of America #143, mas isso não durou muito, já que ele estava sob influência do Culto dos Caçadores.

Ele se assume agora como o vilão Star- Tsar e luta contra a Liga (junto com um vilão clássico da equipe, o Chave) em Justice League of America #149 – #150. O super-herói androide Tornado Vermelho descobre as reais intenções de Shaw, e ele é preso.

Anos 1980: Os Caçadores Cósmicos
e uma nova chance para Mark Shaw

Os Caçadores Cósmicos

No começo dos anos 1980, houve várias revisões criativas com o enorme catálogo de personagens que a DC tinha.

Na realidade do universo DC, nos esforços de guerra por conta dos Estados Unidos ter entrado na Segunda Guerra Mundial, é definido que todos seus heróis se juntaram nos conflitos relacionados aos combates militares na Europa.

O Caçador é recrutado pela Sociedade da Justiça da América, a primeira equipe de super-heróis do mundo, e depois para outro que reunia TODOS os super-heróis da DC, o All-Star Squadron (chamado no Brasil de Comando Invencível).

Esse foi o nome do título lançado em 1981, que mostrava aventuras dessa equipe na época da guerra. Ficou estabelecido que o Caçador/Paul participou desse grupo muitas vezes, onde foi companheiro até mesmo do Caçador/Dan Richards, já que o personagem também fazia parte da DC agora.

Posteriormente, Richards se tornou um membro dos Combatentes da Liberdade, outra equipe de heróis do período.

A DC juntou todos seus super-heróis retroativamente para lutar na Segunda Guerra Mundial. Você pode achar o Caçador aí também

O Caçador/Paul Kirk participou de 7 edições de All-Star Squadron. O sucesso da revista levou à criação de um derivado com a mesma proposta, Young All-Stars, onde Paul apareceu em 8 números.

Foi graças a essas revistas que o sumiço do personagem foi melhor explicado: após a guerra, Paul foi recrutado pela agência secreta americana O.S.S. (a antecessora da CIA) e realizou várias missões sujas atrás das linhas inimigas, um aspecto que ele começou a odiar.

Ele deixa o manto de super-heróis e parte sozinho para uma grande caçada na África, onde é mortalmente ferido por um elefante. Paul Kirk some nas selvas em 1946, até ser encontrado pelo Conselho.

Em 1986 acontece a Crise nas Infinitas Terras, uma megassaga em 12 edições, um movimento editorial e comercial da DC Comics para juntar todos os seus milhares de personagens em uma única Terra, e relançar títulos zerados, com uma nova cronologia — esse é um resumo do que se chama reboot no mercado, palavra que se repetirá ao longo da matéria.

A fim de despertar interesse em novos leitores, diversos personagens tiveram novas chances de vida. Superman e Mulher-Maravilha tiveram suas vidas reiniciadas, por exemplo, mesmo caso do Batman (de certa maneira). Muitos outros personagens foram relançados em tábula rasa, e o Caçador também teria sua vez.

Crise nas Infinitas Terras, a mãe de todas as megassagas dos quadrinhos de super-herói

A saga posterior de Crise foi Millennium, um evento semanal de 8 edições publicado em 1987 pela DC, escrita por Steve Englehart, com ilustrações de Joe Staton, uma das sagas mais fracas que a editora DC Comics já fez, com seres alienígenas escolhendo 10 pessoas na Terra para evoluir a raça humana.

Parte da trama envolvia a primeira “polícia” que o Universo teve, os robôs Caçadores Cósmicos (apresentados por Steve na já citada Justice League of America #140), criados pelos Guardiões do Universo, uma raça preocupada em manter o bem e a ordem, bilhões de anos atrás.

Em dado momento, os Caçadores saíram do controle e foram banidos, com a Tropa das Lanternas Verdes ocupando seu lugar. Os Caçadores Cósmicos decidem arquitetar um plano de vingança e posicionar um Caçador em cada planeta que existia vida, disfarçado das formas dominantes desses mundos.

É preciso reconhecer que essa parte de Millenium foi muito legal, com cada herói que tinha uma revista na DC descobrindo que um personagem de seu núcleo próximo era um Caçador Cósmico disfarçado.

Na revista do Batman, por exemplo, descobrimos que o Comissário Gordon era um Caçador Cósmico disfarçado. Também fica estabelecido — retroativamente — que o culto apresentado por Kirby em sua história com o Caçador/Mark Shaw, era na verdade parte desse plano de dominação dos Caçadores Cósmicos.

Essa costura narrativa acabou sendo usada para explicar TODOS os heróis que usaram a alcunha Caçadores na DC, em muitas revisões retroativas para acomodar tudo.

Nisso, até o pobre Thor, o Cão-Trovão do Caçador Dan Richards, se tornou um robô do mal dos Caçadores Cósmicos (é, pois é).

Na revista Secret Origins #22 (1988), a edição inteira foi dedicada ao line-up dos Caçadores da DC com essa trama de fundo.

Os Caçadores Cósmicos entram na mitologia de todos os Caçadores da DC. Arte de Walt Simonson

Os Caçadores Cósmicos só foram destruídos por um esforço conjunto dos heróis da DC, com o Senhor Destino derrotando o Grande Mestre, líder dos robôs, em outra dimensão, e o Besouro Azul descobrindo a base secreta deles na Terra.

A título de curiosidade, a neta do Caçador Dan Richards viria a se tornar a terceira Arlequina na confusa cronologia da DC. Ela é Marcie Cooper, e que também estava ligada ao Culto dos Caçadores. Ela surgiu em Infinity Inc. #14, de maio de 1985, criada por Roy Thomas e Todd McFarlane.

Era a revista da Corporação Infinito, o grupo juvenil dos filhos dos heróis da Sociedade da Justiça. Mas a Arlequina era do lado dos vilões, e fazia parte da Sociedade da Injustiça. Ela nunca mais foi vista no pós-Crise.

O Mosqueteiro no Esquadrão Suicida. Aqui, dando uma surra em Rick Flag, líder da equipe

Ao mesmo tempo que Millenium era publicada em 1987, o extraordinário escritor John Ostrander, criador do novo Esquadrão Suicida (também pós-Crise, o grupo black ops do governo americano, que usa vilões em missões secretas em troca de redução de pena), redime Mark Shaw.

Ele usa o personagem como Privateer (na tradução brasileira é Mosqueteiro) a partir de Suicide Squad #8 até o #10, com o psiquiatra Simon LaGrieve ajudando Shaw a restabelecer sua sanidade, ao mesmo tempo que ele cumpre as missões do Esquadrão para pagar por seus crimes e ser libertado.

Até que em julho de 1988, a DC finalmente lança o primeiro título chamado Manhunter, também escrita por John Ostrander, junto com Kim Yale.

O Caçador Mark Shaw tentava agora ser um super-herói de aluguel, que caça criminosos em troca de recompensas. Essa revista durou 24 edições, e teve fim em abril de 1990. O primeiro número já estabelece seu primeiro e maior antagonista, Dumas, um assassino de aluguel transmorfo, e a opinião pública tentando relacionar o personagem à Paul Kirk, que ficou conhecido graças à publicação de um livro de Christine, “A Máscara do Caçador“.

Arte promocional para o novo Caçador da DC Comics, Mark Shaw, que agora estrelaria título próprio
O primeiro título do Manhunter foi do Caçador Mark Shaw
Além de suas aventuras próprias, o Caçador Mark Shaw também participava do Esquadrão Suicida

Anos 1990:
Uma das melhores HQs e a
última história do
Caçador Paul Kirk

O Caçador Paul Kirk está em A Era de Ouro, uma das melhores HQs de super-heróis de todos os tempos, publicada em agosto de 1993 pela DC.

Ela foi criada pelo escritor James Robinson (que se notabilizaria em setembro do mesmo ano, junto com o desenhista Tony Harris, no excelente resgate feito com a nova revista do herói Starman, outro trabalho que pode pegar para si a frase de melhor título de super-herói dos anos 90), e o desenhista Paul Smith (artista talentoso vindo da indústria de animação, uma das estrelas das várias fases clássicas dos X-Men da Marvel, nos anos 80).

A Era de Ouro foi uma minissérie que ainda hoje é muito subestimada, e que carece de ser melhor posicionada nas listas de 10 Mais por aí, mesmo que covardemente depois a DC tenha considerado a HQ fora da cronologia.

Caçador Paul Kirk
O Caçador Paul Kirk na capa da edição 3 de A Era de Ouro

Robinson fez uma ponte criativa com o mundo real e fictício, ao usar o termo Era de Ouro, o período “dourado” das HQs de super-heróis quando eles foram criados, e batizar sua história com o mesmo nome, que mostrava os heróis americanos tendo que se retirar de suas atividades de vigilante, quando a política contra a Rússia Comunista ocupa o espaço de “vilania” deixado pelo nazismo pós-Segunda Guerra Mundial.

Delírio, paranoia e sombras perigosas pairam sobre o colorido mundo dos heróis da DC, em uma proposta literária e visual muito bem construídos por Robinson e Smith.

E Paul Kirk é um dos personagens principais dessa história, mostrado em todo seu poder mortífero de caçador e combatente, pirado depois de uma missão na Europa, ainda na época da guerra, e que guarda em seu subconsciente um segredo terrível que podem destruir não apenas os EUA mas o mundo inteiro.

O Caçador Paul Kirk em meio aos super-heróis no pós-Guerra
Caçador Paul Kirk
O Caçador Paul Kirk está mortífero na premiada HQ, e é o homem mais letal da Terra, sem arma alguma

Na edição de luxo encadernada, o artista Howard Chaykin, mais um dos grandes escritores e desenhistas do mercado, fez o posfácio.

Esse trecho é emblemático:

(…) uma dissecação muito espirituosa da paranóia pós-Segunda Guerra Mundial, usando aquelas mesmas criações adolescentes, os homens mascarados da Era de Ouro, como o ponto crucial da história. (…) Em vez disso, as diversas alegrias, tristezas, prazeres e desesperos vividos por esses inocentes homens mascarados parece um paralelo perfeito da crescente época de ansiedade em que eles viveram.”

James Robinson concorreu ao Eisner, o “Oscar” das HQs, com A Era de Ouro, que teve como editor Archie Goodwin, a quem James sempre considerou sua maior influência — e mentor.

A HQ foi finalizada no mesmo ano de morte de Jack Kirby, o criador do Caçador Paul Kirk, que faleceu em fevereiro de 1994.

A despeito de seu sucesso e covardia da DC, A Era de Ouro fez parte de um antigo selo da DC fora da cronologia, chamado Elseworlds, conhecido como Túnel do Tempo no Brasil.

O Caçador dos anos 90 foi Chase Lawyer

Em setembro de 1994, a DC lançou a saga Zero Hora, mais um reboot estilo Crise, com a mesma proposta: zerar tudo, arrumar a casa, lançar novas revistas.

Com uma minissérie de número regressivo, a edição #4 saiu em setembro de 1994, e a #0 em fevereiro de 1995. Archie Goodwin estava na DC de novo, e era editor de vários títulos.

E um mês depois de Zero Hora ser lançada, ajudou o escritor Steve Grant e o desenhista Vince Giarrano a relançar o Caçador, no título Manhunter — que inclusive também teve uma edição #0. O Caçador/Chase Lawyer fez sua primeira aparição em Zero #1, de agosto de 1994, antes de ganhar seu título próprio, que durou 13 edições.

Com uma proposta radicalmente diferente, Chase está ligado à psicopatas, magia (!), invocações demoníacas (!!), músicas rock´roll (!!!) e até mesmo uma banda, chamada Chase and The Manhunters (!?!).

Em 1999, foi lançada uma edição especial, Manhunter: The Special Edition, que reuniu todas as histórias do Caçador/Paul Kirk publicadas em Detective Comics #437 – #443, com uma inédita no final, com o Batman, Asano e Christine St. Clair caçando um clone fugitivo, desenhada por Simonson.

O episódio não tem diálogos, por isso a história não tem balões de fala, o que destaca ainda mais a arte de Simonson, que aqui está no auge do dinamismo que sempre marcou sua arte.

No texto que acompanha a edição, Walt diz que o final de sua saga realiza os desejos de Paul Kirk enquanto personagem, e que uma continuação sempre esbarrou nisso, com ideias dele e de Archie não funcionando.

Caçador Paul Kirk
Walt Simonson retorna para o personagem depois de 26 anos, e desenha uma sensacional história muda

Até que um dia, Goodwin o chamou para seu escritório. Enfim, ele tinha encontrado algum jeito de trazer o Caçador, de maneira a deixar a obra original intocada, mas mesmo assim ecoar elementos dela em mais uma HQ.

Walt saiu de lá com uma página e meia de ideias rabiscadas e fez muitos rascunhos antes de Archie Goodwin falecer, aos 70 anos, de câncer.

A mulher de Walt, Louise, disse que ele poderia deixar a história silenciosa, como uma homenagem, e James Robinson ajudou Walt a finalizar a obra.

O texto de Walt na edição é emocionante no final, onde pede desculpas por todos os outros trabalhos que já fez, ao dizer que seu Caçador com Archie Goodwin ainda é o melhor material que já produziu na vida.

Anos 2000: As mulheres
assumem o manto do Caçador

Soseh Mykros fez sua primeira aparição em Justice Society Annual #1, em outubro de 2000, criada por David S. Goyer e Uriel Caton.

E se você estranha o sobrenome dela, tem razão, pois ela é filha de Anatol Mykros, o líder do Conselho, que sobreviveu aos eventos finais de Manhunter de Goodwin/Simonson.

Soseh foi criada geneticamente pelos cientistas da organização, com DNA do pai e até mesmo de Paul Kirk, e ela tinha uma irmã, Elianna, criada da mesma maneira, e que o pai incentiva a ser rival por melhores posições no Conselho.

Eventualmente, ela descobre sua origem, sua ligação com Paul Kirk, fica enojada do Conselho e se rebela.

Suas aventuras a conectam às heroínas Canário Negro e Mulher-Maravilha, que prometem ajuda contra o Conselho. Elas a convidam para Sociedade da Justiça, e ela permanece na equipe por um longo tempo, sempre buscando destruir seu pai e a organização.

Soseh Mykros retoma os conceitos apresentados em Manhunter de Goodwin e Simonson

Mas com a aproximação do Adão Negro da equipe, o vilão do Capitão Marvel/Shazam, que se torna uma espécie de anti-herói, Soseh perde as referências heroicas.

Adão Negro antecipa a vingança desejada por Soseh, e ele mesmo entrega a cabeça de Anatol Mykros para ela. A moça fica sem rumo, mas percebe que se identifica muito mais com a violência que Adão oferece.

Ela se junta a ele, e com outros heróis renegados, destronam o ditador da terra natal de Adão, o Kahndaq, e tornaram-se os heróis da nação.

A Sociedade da Justiça parte para interferir, e em JSA #58, de abril de 2004, ela é morta por Eclipso, um supervilão que tinha dominado vários personagens.

Soseh, a despeito do legado que carrega, não tinha o codinome de Manhunter, e se apresentava como Nemesis, um nome ligado a outro personagem da DC envolvido no mundo da espionagem, o agente secreto e mestre dos disfarces Tom Tresser.

Curiosamente, o Nemesis/Tom Tresser também lutava em suas histórias contra uma organização chamada Conselho.

Aparentemente, a DC nunca identificou as duas como a mesma, com esse Conselho inimigo de Tresser como muito mais um sindicato do crime do que uma organização de dominação mundial com toques sci-fi.

Soseh Mykros/Nemesis  e Tom Tresser/Nemesis  nunca se encontraram nos quadrinhos, mas ele foi companheiro do Caçador Mark Shaw no Esquadrão Suicida.

No primeiro quadro, o Caçador e Nêmesis recebendo uma missão de Amanda Waller no Esquadrão — mas Mark Shae era o único que podia rejeitar

NÊMESIS | O agente secreto super espião da DC Comics

Em março de 2002, o escritor Kurt Busiek e o desenhista Dan Jurgens foram responsáveis por lançar a revista Power Company, um grupo de heróis renegados da DC.

Um deles era um clone do Caçador/Paul Kirk, que escapou dos eventos ocorridos entre Kirk e o Conselho.

Ele assume o nome Kirk DePaul e decide levar uma nova vida, mas acaba retornando às atividades de herói no grupo. Seu design, parcialmente baseado no original de Simonson, foi criado pelo desenhista Tom Grummet.

O Caçador/Kirk DePaul teve várias aventuras com outros heróis do Universo DC, mas a proposta de Busiek não teve sucesso, com 18 números lançados de Power Company.

De outubro de 2004 a março de 2009, a DC publicou mais um título chamado Manhunter, dessa vez estrelado pela promotora pública Kate Spencer, que assume o manto de heroína e o nome Manhunter, mas no Brasil a personagem foi batizada de Justiceira.

Ela se apropria de um uniforme modificado dos Darkstars (outra polícia espacial da DC), as luvas do Azrael, o “Batman dos anos 1990”, e antigo bastão do Caçador/Mark Shaw.

Escrita por Marc Andreyko e desenhada por Jesus Saiz, a proposta de retomar a pegada urbana e crime nas ruas funcionou muito bem, com o título durando 38 edições. 

Caçador Mark Shaw foi o que mais apareceu, em uma das melhores tramas da HQ.  Um serial killer de Caçadores começa a assassinar um por um que tenha relação com esse manto: o pobre e idoso Dan Richards é morto; Chase Lawyer é morto; o arrogante Kirk dePaul é morto; e tudo leva a crer que o assassino deixou Spencer por último.

E a revelação da identidade dele é chocante: Mark Shaw, dominado mentalmente pela persona de Dumas, seu antigo inimigo.

A saga estabelece retroativamente que Shaw sofreu lavagem cerebral em determinando momento pelo governo americano, (provavelmente em sua época com o Esquadrão Suicida), que lhe injetou nanitas (computadores microscópicos que alteram corpo e mente), para se tornar um agente assassino “adormecido”. Essa personalidade de Dumas é parte disso.

O Caçador Dan Richards e o Caçador Chase Lawyer são assassinados por Dumas/Mark Shaw

Kirk dePaul encontra seu fim também nas mãos de Dumas/Mark Shaw

Chase Lawyer também teria sofrido o mesmo procedimento, e suas aventuras e combates contra demônios seriam fruto dessa paranoia (!).

Até mesmo os fatos revelados na revista de Shaw, com N´Lasa, um alien leonino contemporâneo dos Caçadores Cósmicos, que está há milhares de anos na Terra, e que ajudou a fundar o Culto dos Caçadores por aqui, e deu origem a outras seitas de assassinos (!!), seriam alucinações dessas experiências clandestinas (!!!).

Kate Spencer foi muito popular nessa época nos gibis. Spencer é neta da Sandra Knight, a Lady Fantasma, uma heroína clássica da Quality Comics (a editora que criou o primeiro Caçador/Dan Richards, lembram?) e Iron Munro, um super-herói que fez parte do Young All-Stars, grupo onde conheceu os Caçadores Paul Kirk e Richards.

Kate trabalhava em Gotham City, onde atuou em seus primeiros meses como heroína com a galera do Batman, e foi convidada até mesmo para ser integrante da Aves de Rapina e da Sociedade da Justiça da América.

Anos 2010:
Novos 52, Renascimento e Doomsday Clock

No começo da nova década, em 2011, a DC Comics fez mais um reboot, chamado Os Novos 52, bem mais radical do que ocorrido em Zero Hora.

Com efeito, a editora se livrou de todo o universo pós-Crise na Infinitas Terras, e grande parte (se não todo ele) do background histórico de TODOS os Caçadores foi jogado fora. Nessa nova revisão, apenas Mark Shaw tornou a aparecer.

Ele é mostrado agora como um agente secreto do governo americano, com a tarefa de caçar Barbara Minerva, a Mulher-Leopardo, inimiga da Mulher-Maravilha.

Mark Shaw no Novos 52 é um agente federal

Em 2016, a DC fez outro reboot (um pouco mais leve), o Renascimento, o que de novo deixou todo o line-up dos Caçadores em branco.

Em 2017, saiu Manhunter Special, uma edição única escrita por Dan DiDio e desenhada por Keith Giffen e Sam Humphries, com uma aventura despretensiosa do Caçador Paul Kirk passada nos anos 1940.

Caçador Paul Kirk
Uma edição especial com o Caçador Paul Kirk, passada nos anos 40

Em agosto de 2019, a DC promoveu a saga Evento Leviatã, descrito como “um thriller de mistério que se estende ao longo do Universo DC e atinge todos os personagens”.

Era a oportunidade perfeita de apresentar com qualidade os personagens relacionados ao mundo da espionagem da editora, junto com os super-heróis urbanos.

O roteirista Brian Michael Bendis, vindo de anos de trabalho na Marvel, com status de rockstar agora na DC, bem que tentou, mas não conseguiu.

Sua história mistura conspiração e espionagem e reúne algumas das mentes investigativas mais brilhantes da DC, mas desperdiça personagens importantes — como o Nemesis/Tom Tresser –, ainda que tenha colocado em destaque Kate Spencer, a Justiceira/Manhunter, que aparentemente sobreviveu intacta ao Novos 52 e Renascimento.

Os heróis tentam encontrar o responsável por destruir todas as agências secretas dos governos para criar uma nova ordem mundial, e a chave é Kate. No final, é revelado que o líder, chamado de Leviatã, é ninguém menos do que Mark Shaw.

A Justiceira/Kate Spencer/Manhunter retorna para a DC pós-Renascimento
O Caçador Mark Shaw agora é um dos maiores vilões da editora DC Comics

É preciso ignorar várias questões cronológicas nessa saga de Bendis, que passa por cima de vários conceitos já estabelecidos.

A começar por trazer uma Justiceira intacta de reboots, sem explicação alguma, Bendis ainda “recanoniza” o passado de Shaw como Caçador em seu título dos anos 1980, eventos que não podem ser encaixados na nova cronologia.

Não bastante isso, o roteirista ressuscitou o Questão/Vic Sage — um bem vindo e desejado retorno, na verdade.

No fim de 2019, quando Evento Leviatã já tinha sido concluído, ainda saía a megassaga Doomsday Clock, que a DC tentava colar como um novo (de novo!) pretenso reboot e direcionamento criativo.

Por vários problemas, erros e atrasos do criador, Geoff Johns, a saga, que também integra a obra seminal Watchmen ao Universo DC regular, começou em 2017 e só terminou em dezembro de 2019, sem maiores efeitos na continuidade.

Nas duas últimas edições, ao lado de Adão Negro e de outros vilões, podemos ver um Caçador, com um design bem próximo de um Caçador Cósmico. E, logicamente, isso também nunca foi explicado. Apenas um relance de toda a lambança que foram os anos 2010 no editorial da DC Comics.

Um Caçador (qual?) ao lado de Adão Negro em Doomsday Clock

Em fevereiro de 2020, a DC anunciou Manhunters: The Secret History #1, escrita por Marc Andreyko e desenhada pelo artista brasileiro Renato Guedes.

Saberíamos mais a respeito do retorno de Kate, suas investigações sobre a organização Leviatã, e pelo que o Renato desenhou na capa, até com o Caçador Paul Kirk como parte de trama. Mas a pandemia de Covid-19 alterou todo o planejamento, e a revista nunca foi lançada.

A Justiceira/Kate Spencer/Manhunter retornaria em uma edição especial, no começo de 2020. Na arte de capa, o desenhista brasileiro Renato Guedes também fez o Caçador Paul Kirk. A revista foi cancelada devido ao Covid-19

A caça em outras mídias

Em 2001, na primeira temporada do desenho Liga da Justiça — o ápice do universo do desenho animado apresentado pela animação dos anos 90 do Batman –, os Caçadores Cósmicos foram os principais inimigos dos heróis no quarto e quinto episódio, chamado In Blackest Night, especialmente focado no Lanterna Verde/John Stewart.

No episódio Damaged (01×05, de 2012) de Arrow, o seriado do Arqueiro Verde, a atriz Chelah Horsdal interpretou Kate Spencer, que retornou em outros episódios, como advogada de Oliver Queen, o herói da série.

Mark Shaw também apareceu em Arrow, interpretado por David Cubitt, e é apresentado como um ex-operativo da A.R.G.U.S. (Advanced Research Group United Support), uma organização de operações militares secretas do governo americano, comandada por Amanda Waller.

A relação dela com Shaw na série é um aceno à passagem dos dois personagens no Esquadrão Suicida de John Ostrander.

A A.R.G.U.S. surgiu na nas HQs da DC, na revista Justice League #7, de maio de 2012, após Os Novos 52, de 2011. O episódio que aparece Mark Shaw em Arrow é Corto Maltese (03×03), de 2014.

Kate Spencer (Chelah Horsdal) em Arrow
Mark Shaw (David Cubitt) em Arrow

Também em 2014, a DC estava com a série em CG (computer graphics) chamada Beware The Batman no ar, e trazida ao Brasil como A Sombra do Batman.

Mesmo com uma proposta mais cartoon e estilizada, a série tinha um ar maduro e atmosfera sombria. Mostrava as aventuras de Batman, que se junta a espadachim Katana (heroína japonesa nas HQs, companheira do Morcego no grupo Renegados) e ao seu mordomo e agente secreto (!) Alfred Pennyworth para enfrentar o submundo do crime.

No episódio Unique (01×21), somos apresentados à ninguém menos do que o Caçador/Paul Kirk em pessoa.

Amigo de longa data do pai do Batman (!!), Thomas Wayne, a trama explica que Paul era um agente secreto do governo, e que numa missão que deu errado, é capturado pelo Conselho, que o usou para criar uma série de clones (feitos de material não-orgânico).

O Caçador Paul Kirk animado em uma das várias séries do Batman, lutando contra o Homem Morcego e Katana ao mesmo tempo

Nos tempos atuais, ele consegue se libertar de um sono criogênico de 20 anos e tenta desmantelar a organização. Detalhe especial para Bruce Wayne tendo envolvimento com Ava Kirk, a filha perdida de Paul — poderíamos ter o Caçador Paul Kirk como genro do Batman (!!!).

Paul Kirk em Beware The Batman teve voz do ator Xander Berkeley, conhecido por papéis menores em filmes como Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991), Força Aérea Um (1997) e Bater ou Correr (2000). Talvez ele seja mais conhecido por interpretar George Mason, o chefe de Jack Bauer no seriado 24 Horas, em 2001 a 2003. Seu trabalho mais recente foi como Gregory, em The Walking Dead (2018).

A Lenda de Archie Goodwin

Archie Goodwin nasceu em Kansas City, Missouri. Embora tenha atuado mais como roteirista e editor, também foi desenhista no começo de sua carreira. Ele começou como assistente de Leonard Starr na tira em quadrinhos Mary Perkins (1959).

Também desenhou para a revista Fishing World e trabalhou como editor-chefe da Redbook, revista americana dedicada às mulheres, editada desde 1903, e finalizada apenas em janeiro de 2019.

Foi nessa revista que ele disse não ao portfólio de Andy Warhol, além de chamar sua atenção quanto ao plágio característico em seus trabalhos. Warhol foi um dos mais notórios artistas plásticos da cena americana nos anos 60/70.

Depois de fazer o Caçador Paul Kirk na DC Comics, Archie Goodwin continuou na editora, desenvolvendo outros trabalhos.

Ele fez uma longa carreira no Batman no título Detective Comics. Em 1976, Goodwin aceitou substituir Gerry Conway como editor-chefe da Marvel Comics.

O começo dessa passagem foi marcada por adaptações em quadrinhos da saga cinematográfica Star Wars e a criação da Mulher-Aranha (1977), junto com a desenhista Marie Severin (uma das poucas artistas mulheres da época).

O gigantesco sucesso da adaptação em quadrinhos de Guerra nas Estrelas feita pela Marvel, em seis edições ao longo de 1977, uma concepção trazida pelo editor Roy Thomas, promoveu a continuação direta nos trabalhos, com Goodwin assumindo o comando, como editor e escritor dos roteiros.

Foram anos de sucesso no título, com HQs publicadas até alcançar os outros filmes, Star Wars – O Império Contra-ataca! (1980) e Star Wars – O Retorno de Jedi (1983). Os números que adaptam Império Contra-ataca tem arte de Al Williamson — a dupla era responsáveis também por grande parte das tiras em quadrinhos da saga.

Criador de personagens como Luke Cage (fez do herói o primeiro super-herói negro a ter seu próprio título); o Samurai de Prata; Rachel Von Helsing, uma das personagens de apoio em Tumba de Drácula (que também escreveu e editou, um dos melhores títulos de terror das HQs); uma enorme galeria de vilões para o Homem de Ferro (que aparecem por aí até hoje); e grande parte do rol do Novo Universo; um projeto editorial de novos personagens e novas revistas que comemoravam os 25 anos da Marvel, Archie Goodwin teve seu grande momento na editora quando foi editor da Epic Comics.

A Epic Illustrated era uma revista da Marvel em formato magazine que teve 34 edições publicadas de 1980 a 1986.

Eram histórias sofisticadas com desenhos mais elaborados e tramas mais adultas, em uma proposta muito parecida com a Metal Hurlant, publicação europeia, a primeira do gênero no mercado de quadrinhos.

A Marvel a lançou para pegar carona com a Heavy Metal, a versão americana da Hurlant, que já estava nas bancas. Aliás, pela Heavy Metal, Archie lançou uma adaptação em HQ do filme Alien, em 1979, mesmo ano de lançamento do longa de Ridley Scott, com arte de Walt Simonson.

A Epic Illustrated tinha arte preto e branco, pintura e quadrinhos de artistas como Frank Frazetta, Richard Corben e Bernie Wrightson. E foi a partir dela que a Epic Comics foi criada, com Archie Goodwin como editor do selo.

A Epic Comics de Archie Goodwin era a mais sofisticada linha de quadrinhos de sua época, e que privilegiava histórias autorais, que permitiam a seus criadores fazer o que desejavam e mantivessem os direitos da obra.

O primeiro título da Epic foi Dreadstar, de Jim Starlin, em novembro de 1982. O autor já imprimia um forte e alto impacto com Warlock, personagem cósmico da Marvel que Dreadstar teria bastante similaridades.

Aliás, por meio do selo, com o avanço de publicações de vários grandes artistas, a própria Marvel começou a produzir trabalhos envolvendo suas principais marcas e personagens, livres das amarras criativas e cronológicas das histórias regulares.

Akira foi trazido para os EUA pela Marvel Comics no selo Epic. É um dos mangá mais importante e famoso do mercado

Archie trouxe gigantes das HQs para os EUA, como Akira, uma das obras máximas do mangá — sim, foi a Marvel quem publicou a HQ de Katsuhiro Omoto nos Estados Unidos, em agosto de 1988.

Outros materiais de qualidade que saíram foram Marshall Law (1987), de Pat Mills e Kevin O’Neill (HQ que a DC Comics relançaria anos depois) e Tenente Blueberry (1989), cowboy criado por Jean-Michel Charlier e ilustrado por Moebius, artista gráfico de enorme prestígio na Europa.

Moebius desenhou também no selo a revista Parábola (1988), história do Surfista Prateado escrita por Stan Lee, co-criador do Universo Marvel, talvez em sua melhor história já publicada.

Foi na Epic Comics que foi publicada uma das melhores HQs dos anos 1980: Wolverine e Destrutor – Fusão, um thriller de espionagem de ação com super-herói, que vai do México à União Soviética, de brigas com bêbados em bares do fim do mundo à combates contra super assassinos, espiões e cientistas, em um cenário de fundo geopolítico da Guerra Fria.

Em Fusão, temos a primeira chance de vermos dois x-men quase que pulando da página para ganhar vida, tamanha a qualidade gráfica que os artistas Kent Williams e Jon J. Muth imprimiram na obra. A HQ foi escrita por Walt Simonson e sua mulher, Louise, sob edição de Archie Goodwin.

A Epic Comics acabou em 1994, em plena expansão dos comics americanos, antes de de ser implodida pelo crash do mercado dos anos 90.

Ela voltou brevemente em 1995 e 1996 para finalizar as edições de Akira, que ainda estavam com alguns números faltando para fechar a coleção.

A criação da Epic precede de certa maneira do selo Vertigo, da DC em anos, ainda que a proposta dos dois selos não apresentem resultados muito similares.

Se a DC criou Vertigo para publicar o que queria chamar de “suspense sofisticado” e “sugerido para leitores maduros“, como descreviam a publicação do Monstro do Pântano, escrita por Alan Moore, um dos roteiristas que seria o mais celebrado da indústria, a Marvel já estava na frente com a Epic Comics de Archie Goodwin há uns 5 anos, ao mostrar HQs autorais com mais liberdade do que o convencional. 

No final dos anos 80, Goodwin retornou para a DC, onde atuou como editor e escritor. Ele escreveu a elogiada graphic novel Batman: Night Cries, ilustrada por Scott Hampton e publicada em 1992, editou o Starman de James Robinson de 1994, e Batman: O Longo Dia das Bruxas, de Tim Sale e Jeph Loeb (1996), ambas ganhadoras de vários prêmios do mercado.

Archie Goodwin tinha 70 anos quando morreu de câncer, em 1998, e atuou por mais de 30 anos no mercado. Ele é frequentemente citado como um dos mais queridos profissionais que já passaram pela indústria de quadrinhos.

A arte cinética de Walt Simonson

Walter Simonson nasceu em setembro de 1946, em Knoxville, Tennessee. Um dos primeiros trabalhos nos quadrinhos do artista Walt Simonson foi nos quadrinhos da DC, por isso sua carreira está atrelada com o Caçador desde o início.

Um ano antes de fazê-la, ele já produzia artes para a revista Weird War, em 1972, em histórias de Len Wein. Depois do Caçador Paul Kirk, fez histórias dos Homens Metálicos e co-criou o Doutor Fósforo com o roteirista Steve Englehart.

Em 1979, Simonson e Goodwin repetiram a parceira na adaptação do filme Alien, da Heavy Metal.

Um dos primeiros trabalhos de Walt Simonson na DC Comics para Weird War, de 1972

A incrível quadrinização de Alien, por Archie e Walt

Em 1982, Simonson e o roteirista Chris Claremont produziram o melhor crossover já feito pela Marvel e DC: The Uncanny X-Men e The New Teen Titans, que juntou os heróis mutantes com os Novos Titãs, jamais republicada.

É na Marvel (onde chegou a fazer a HQ de Star Wars, de novo com Archie), que Walt teve uma fase elogiada com Thor, para o qual começou a escrever e desenhar com a edição #337, de novembro de 1983.

Ele criou o Sapo do Trovão, Bill Raio Beta, Lorelei, Malekith e uma infinidade de personagens para a galeria do herói.

Thor, o Sapo do Trovão
Bill Raio Beta

Em 1986, Simonson se junta a sua esposa Louise na série X-Factor na edição # 10, em uma fase sensacional.

O casal criou a nova identidade do Anjo, o temível Arcanjo, o mutante com poderes de terremoto Rictor e vários outros mutantes.

A fase de Simonson pegou as três maiores sagas dos mutantes na época, Massacre de Mutantes (primeira vez que uma saga se espalhava por diversas revistas no mercado de HQs), A Queda de Mutantes e Inferno. Em 1998, ele escreveu a já citada minissérie Fusão, com Wolverine e Destrutor.

Wolverine e Destrutor: Fusão, escrita por Walt Simonson, com arte de Kent Williams e Jon J. Muth

WOLVERINE & DESTRUTOR: FUSÃO | O selo Epic Comics da Marvel

Nos anos 90, Walt teria uma fase marcante no Quarteto Fantástico da Marvel e Órion da DC, onde em 1999 criaria o episódio silencioso do Caçador Paul Kirk.

Walt ainda teve diversas passagens pelas duas editoras e outras independentes. Atualmente, ele produz Ragnarök, sua própria versão do Thor, pela editora IDW Publishing. O artista é gente boa, e interage com frequência com os fãs em seu perfil no Twitter — várias informações da matéria e artes foram postados por ele lá. Em um deles, o artista levanta a bola que seus designs do Caçador — a túnica branca e a pistola sempre em punho — vieram muito tempo antes de Luke Skywalker e Han Solo aparecerem em Star Wars – Uma Nova Esperança, de 1977.

Um dos primeiros conceitos visuais do Caçador Paul Kirk, feito no lápis. Ele fez outros 6 desenhos, com variações a partir desse

Em 2014, a editora IDW Publishing publicou (sob demanda) a edição Walter Simonson’s Manhunter and Other Stories Artist’s Edition, com as sete histórias do Caçador Paul Kirk impressas dos arquivos originais das páginas de trabalho interno de Simonson, em formato maior do que o tradicional americano.

Você pode conferir mais dessa edição especial aqui. Walt Simonson sempre foi agradecido por trabalhar em Caçador, e considera um ponto de virada em sua carreira, quando deixou de ser um jovem artista para se tornar um profissional do mercado.

Eu estava trabalhando com quadrinhos como artista há cerca de seis meses, começando em 1972. Eu estava desenhando principalmente histórias secundárias nos quadrinhos de guerra da DC e algumas histórias curtas de ficção científica, a maioria delas para o editor Archie Goodwin. Archie também era o editor de Detective Comics naquela época e estava trabalhando para criar uma nova história secundária para rodar na revista, depois da história principal do Batman. Ele me pediu para desenhar a série que ele iria escrever. Essa série acabou sendo Manhunter.

Walt ao ao CBR, por conta do lançamento da edição da IDW.

Uma das páginas de Manhunter na edição especial de artista, pela IDW Publishing

O Caçador Paul Kirk no Brasil

O Manhunter de Goodwin/Simonson saiu 3 vezes no Brasil, por 3 editoras diferentes ao longo dos anos.

Historicamente, Paul Kirk, ainda como o investigador criminal de Ed Moore, saiu na revista Almanaque de O Lobinho n° 1, em dezembro de 1942, da editora Grande Consórcio Suplementos Nacionais, que mostra uma aventura publicada em Adventure Comics #68, de acordo com dados do Guia dos Quadrinhos.

Segundo o site, que é o maior repositório de informações privilegiadas de quadrinhos no Brasil, Paul Kirk era chamado na tradução de Paulo Grandalhão.

No final dos anos 50 e começo dos 50, quem foi publicado nas revistas do Lobinho foi o Caçador Dan Richards (!), que foi traduzido como Sansão (!!) no Brasil.

Ele apareceu em 13 números da revista, que adaptou aventuras publicadas pela Quality em Police Comics.

A editora Ebal, em fevereiro de 1977, publicou duas histórias do Caçador Paul Kirk de Jack Kirby, uma aventura em Batman Bi #60 (1ª Série), de Adventure Comics #79, e outra em Batman #64 (3ª Série), de Adventure Comics #80. No número seguinte, em Batman #65, chegou finalmente ao Brasil o Manhunter de Goodwin/Simonson, que se estendeu até o #70.

Somente em junho de 1984 ela seria republicada, dessa vez na editora Abril, na primeira encarnação da revista do Batman, do #1 ao #7.

Em 1989, parte da revista Secret Origins #22 saiu no Brasil, em Superpowers #14, que reunia várias histórias da saga Millenium.

Como dito antes, Secret mostrava a ligação dos Caçadores Cósmicos com todos os Caçadores da DC, e explica bem o destino de Richards, que se aposentou em 1950 após ser ferido em uma luta, e uma recapitulação da trajetória de Paul Kirk contra o Conselho. Essa seria a última vez que o personagem seria visto na Abril.

Em 1998, a editora Metal Pesado publicou a minissérie A Era de Ouro, quando vimos de novo Paul Kirk como o Caçador.

Em junho de 2018, a editora Panini republicou essa saga com o nome Sociedade da Justiça: A Era de Ouro. Um ano depois, a editora Eaglemoss publicou a mesma saga em DC Comics – Coleção de Graphic Novels #97.

Caçador Pauk Kirk
Capa da coletânea que reúne as histórias de Archie Goodwin com o Batman — e o Caçador Paul Kirk. Arte de Walt Simonson

Lendas Do Cavaleiro Das Trevas: Archie Goodwin Vol. 1 saiu em setembro de 2019, pela editora Panini, e é o primeiro volume de uma coletânea de revistas do Homem-Morcego, com foco em roteiristas e desenhistas.

Essa tem foco (claro) em Archie Goodwin e seus trabalhos em Detective Comics, onde escreveu várias histórias clássicas do Morcego, na companhia de lendas da arte, como Alex Toth, Jim Aparo e Howard Chaykin — inclusive são esses desenhistas e outros que aparecem na revista. E Manhunter de Goodwin/Simonson também está nesse material.

Essa foi a aparição mais recente da obra no Brasil, pela primeira vez publicada na íntegra, inclusive com a edição extra de 1999.

Caçador Paul Kirk
Uma biografia do Caçador Paul Kirk publicada em Who´s Who #14, a revista enciclopédica da DC Comics

Desde que o Manhunter de Goodwin/Simonson apareceu em Detective Comics, a obra de 1973–74 é republicada com frequência.

Em 1979, ela foi republicada em preto e branco em um formato de prestígio pela Excalibur Enterprises, sob licença da DC Comics.

Saiu em cores depois, em 1984, pela própria DC. E como citado no texto, em 1999 saiu uma encadernação com uma história extra criada por Walt Simonson e Goodwin.

E agora em janeiro de 2020, uma edição de luxo foi lançada, com vários extras como textos introdutórios e artes conceituais.

Capa da edição encadernada de luxo de 2021

A imagem abaixo é a arte original de um poster incluído na edição de luxo da publicação The History of the DC Universe, lançada em 1988.

É uma das imagens mais famosas do mercado de quadrinhos. Um painel com os personagens da editora, 53 heróis da DC, com design do artista Joe Kubert e ilustrados por 54 desenhistas, os maiores artistas da indústria — Jack Kirby e Mike Royer no Darkseid e Bob Kane no Batman e Robin, por exemplo.

Só os melhores pelos melhores.

O Caçador Paul Kirk de Archie Goodwin e Walt Simonson está aí — desenhado por Walt.

/ O CAÇADOR DE 2070. Para finalmente encerrar, e não deixar faltar nada, Starker, um caçador de recompensas do futuro, apareceu em uma história sci-fi chamada Manhunter 2070.

Essa série da DC foi criada, escrita e desenhada por Mike Sekowsky, e aparece em Showcase #91 – 93 (junho-setembro de 1970). Apesar do título, esse Manhunter não tem nada a ver com os outros Manhunter.

Caçador Paul Kirk
Arte do Caçador Paul Kirk feira por Walt Simonson em uma edição do The Comic Reader, um fanzines de quadrinhos dos anos 80 nos EUA
Caçador Paul Kirk
Capa da edição encadernada de 1984
Caçador Paul Kirk
O Caçador Paul Kirk em A História do Universo DC, um resumo da editora no seu universo pós-Crise
O Caçador Paul Kirk na capa de Who´s Who #14
No título Power Company, de 2002, é estabelecido que os eventos do Caçador Paul Kirk com o Conselho, ocorrido em 1973, aconteceu “há 8 anos”, em 1994 (ano de Zero Hora)
Caçador Paul Kirk
O Caçador Paul Kirk na arte de Alex Ross
Batman e o Caçador, arte de Walt Simonson
Caçador Paul Kirk
O Caçador Paul Kirk na arte de seu criador, Jack Kirby
Caçador Paul Kirk
O Caçador e as caricaturas de Goodwin e Walt, na arte desse mesmo

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