NÊMESIS | O agente secreto super espião da DC Comics

Nêmesis foi criado para surfar a onda cinematográfica de filmes de espionagem dos cinemas dos anos 1970 nas páginas de quadrinhos da editora DC Comics dos anos 1980, como um James Bond loiro, esperto e ágil, habilidoso no combate corpo a corpo e armas de fogo.

Nêmesis estreou em tramas próprias, foi aproveitado no Esquadrão Suicida e em tempos mais recentes, foi amarrado em aventuras da Mulher-Maravilha.

Ele é o mestre dos disfarces do universo DC Comics, um agente secreto das profundezas das sombras da espionagem desse mundo cheio de super-heróis coloridos — como a Mulher-Maravilha (e que ele conheceria intimamente) e o Batman (que seria seu “parceiro” em sua estreia nas HQs e no trabalho de herói), além de colega de criminosos meta-humanos, como os vilões do Esquadrão.

Nêmesis era um dos poucos heróis da equipe de vilões do Esquadrão sem necessidades de redenção, nem pagamentos de crimes anteriores, como deixa bem claro nas primeiras aparições na equipe e nas conversas que tem com a líder da equipe, a implacável Amanda Waller.

Nêmesis DC Comics
Nêmesis, o agente secreto no mundo dos super-heróis da DC Comics

Nêmesis DC Comics

Nêmesis DC Comics

Sua maior projeção nos quadrinhos foi integrar o renovado Esquadrão, que estreava no Universo DC pós-Crise nas Infinitas Terras (1986), a mãe de todas as mega sagas dos quadrinhos de super-heróis, que promoveu uma renovação/revolução criativa e comercial para zerar histórias canônicas de personagens e reiniciar o produto para novas audiências.

Na indústria dos quadrinhos de super-heróis, isso se convencionou chamar de reboot, na tentativa de garantir um artificial gosto de novidade e aumento de vendas.

Mas a história de Nêmesis começa bem antes. Ele surgiu em uma série de histórias publicadas em uma das revistas mais nobres da editora DC Comics, a The Brave and The Bold #166, de setembro de 1980.

Nêmesis DC Comics
Página de Nêmesis em Who’s Who: The Definitive Directory of the DC Universe, um dos diversos guias de personagens do Universo DC, publicado em junho de 1986. Arte de Dan Spiegle, o co-criador do personagem

O contexto de histórias de espionagem estava em alta durante os anos 1970 e 1980, e a direção da DC seguiu essa tendência.

The Brave and The Bold começou como uma série de antologia com contos de aventura, e se tornou um título de teste para novos personagens e conceitos, geralmente apoiados com a participação de personagens mais famosos — Nêmesis teve a ajuda de Batman no final de suas histórias, por exemplo.

É sob esse prisma que o escritor Cary Burkett e o desenhista Dan Spiegle criaram Nêmesis. Suas aventuras seguem o estilo James Bond — como um agente atrelado a uma agência mas independente, contra sindicatos dos crime a nível internacional, em uma situação parecida (mas de menor alcance) com a de Nick Fury, da editora concorrente Marvel Comics.

A revista-local de nascimento de Nêmesis é um clássico da DC Comics. O grupo clássico do Esquadrão Suicida também surgiu na revista, em The Brave and The Bold #25, de setembro de 1959.

Já a A Liga da Justiça, a equipe que reúne os maiores heróis do Universo DC, só foi surgir três números depois, em The Brave and the Bold #28, de março de 1960.

Nêmesis primeira aparição
Capa de The Brave and The Bold #166, estreia de Nêmesis no Universo da DC Comics. Ele não aparece na capa, que oferece apenas uma chamada da história. A revista trazia aventuras duplas, e Nêmesis a divide com Batman e Canário Negro, que pela ilustração, estavam em apuros contra o Pinguim

DC Comics: Nêmesis, Esquadrão Suicida, Mulher-Maravilha

Não é por acaso que o primeiro encontro/confronto do Esquadrão Suicida com a Liga da Justiça, a maior equipe de heróis da DC, acontece exatamente por conta de Nêmesis.

Ironicamente, décadas depois, Tom Tresser estaria também na Liga da Justiça, ao ser integrante do grupo na versão apresentada na animação Liga da Justiça Sem Limites, aparecendo em alguns episódios.

Nos quadrinhos, depois de ser um dos poucos a peitar Amanda Waller, a chefona do Esquadrão Suicida e abandonar o grupo, foi pouco aproveitado até se tornar companheiro de aventuras e amante da Mulher-Maravilha.

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Nêmesis na capa de Esquadrão Suicida

Nêmesis não estava estava no filme do Esquadrão Suicida, escrito e dirigido por David Ayer em 2016 — graças aos Deuses da DC. Mas com sorte, podia ter sido aproveitado no novo filme da morena maravilhosa, Mulher-Maravilha 1984.

Uma vez bem apresentado, Nêmesis podia ter sido até mesmo o fio condutor do Esquadrão Suicida com esse segundo filme da Mulher-Maravilha, e até mesmo em um futuro Liga da Justiça vs. Esquadrão Suicida.

É no rastro dessas elaborações que o blog Destrutor apresenta a trajetória desse personagem pouco conhecido do Universo DC. Nêmesis é um personagem menor no escalão de brilho da editora DC Comics, mas que curiosamente tem uma riqueza singular nas narrativas em que foi inserido, e que vale a pena serem contadas e pormenorizadas.

A origem secreta nos anos 80

Nêmesis DC Comics
Uma das poucas aparições de Nêmesis na capa de The Brave and The Bold

A criação de Nêmesis foi a maior contribuição que o roteirista Cary Burkett fez para a DC, que deu o nome Thomas Tresser ao personagem em homenagem a um colega de quarto que teve na época da faculdade.

Burkett também fez histórias do Batman, House of Mistery, Detective Comics, House of Secrets, Lanterna Verde, Liga da Justiça, Superman, Soldado Desconhecido, Guerreiro, entre outros.

Na Marvel, Cary Burkett escreveu Marvel Team-up, a revista de crossovers do Homem-Aranha e tem uma graphic novel, uma adaptação em quadrinhos do filme Sheena, com arte de Gray Morrow, em Marvel Comics Super Special #34 (1984).

Em 1985, quando finalizou as histórias de Guerreiro da DC, Cary se retirou da indústria. Virou radialista e poeta, com um programa de músicas clássicas.

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Uma arte interna das histórias de Nêmesis em The Brave and The Bold. Os desenhos são de Dan Spiegle, e o roteiro é de Cary Burkett

O desenhista Dan Spiegle era um veterano da indústria quando trabalhou na criação de Nêmesis.

Em 1949, o ator William Boyd estava procurando um desenhista para uma série de tiras em quadrinhos para jornais impressos, sobre um cowboy dos cinemas, chamado Hopalong Cassidy. Spiegle era cartunista na imprensa, e topou pegar a série, permanecendo nela por 10 anos.

Ele fez diversas adaptações de televisão, de desenhos animados e séries de TV, como Maverick e Perdidos no Espaço, para diversas editoras, como Gold Key, Western e Dell Publications.

Junto com Russ Manning, desenhista americano que continuou os trabalhos dos lendários Harold Foster e Burne Hogarth nas tiras de Tarzan, ajudou a criar Magnus, Robot Fighter, um super-herói de ficção científica, em 1963, e Korak, o filho de Tarzan.

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Também foi o autor da quadrinização do filme Uma Cilada Para Roger Rabbit. Quando entrou na DC Comics, Dan trabalhou em revistas como Batman,Tomahawk, Jonah Hex e Novos Titãs. Fez Falcão Negro com Mark Evanier, e criou o personagem Mister E em Secrets of Haunted House #31.

Vingança em Gotham City

A história criada por Burkett e Spiegle tem como início uma nova vida para o policial Thomas Tresser, que se junta ao FBI, a agência policial federal dos Estados Unidos, ainda bastante jovem, junto com seu irmão, Craig Tresser.

A principal influência para isso foi um amigo do pai deles, Ben Marshall, um veterano da agência. Os irmãos desenvolveram habilidades específicas, com Craig se tornando um agente de campo talentoso, enquanto Tom se focou em invenções na divisão de equipamentos.

Muito criativo, conseguiu criar disfarces incríveis, que se tornariam sua marca registrada quando virasse um super-herói.

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Mais uma arte interna de The Brave and The Bold, revista regular da DC Comics para seus heróis estreantes, com Nêmesis. No caso, uma arte de abertura. Desenhos de Dan Spiegle

Ben cresce na carreira e se torna um dos chefões da agência. No dia da cerimônia, Craig, sem explicação alguma, mata Ben a tiros.

Na confusão que se segue, o rapaz também foi baleado e morre. A situação toda parecia irreal, pois os dois não tinham nenhum problema um com o outro.

Ver o nome desgraçado pela tragédia, e o sentimento de ressentimento contra quem quer se seja o responsável por essa desgraça, faz com que Tom Tresser busque vingança e justiça pelas próprias mãos. Ele se torna um vigilante e assume o nome de Nêmesis.

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A iconografia dada ao personagem pelo desenhista Dan Spiegle remete ao poder da lei — uma balança da justiça, frequentemente usada como imaginário do Poder Judiciário em muitos lugares.

Assim, Tom usa uniforme preto com o desenho dessa balança vermelha no peito, para se destacar no contraste. Ele é um ser humano comum, sem super poderes, mas altamente treinado em artes marciais e manuseio de armamentos, além de estar em boa forma — o que é basicamente o pacote completo de todos os heróis que se prezam.

Usa revólveres e pistolas, algumas delas com projéteis paralisantes no lugar de balas. A referência do codinome é por conta da deusa grega da retribuição e da vingança.

Nêmesis Batman DC Comics
Quando teve chance de estrelar uma capa, Nêmesis teve direito até a um logo próprio com o nome, ainda que dividindo com Batman, com quem cria fortes ligações que duram até hoje. A arte é de Jim Aparo

No decorrer da trama, Tom descobre que uma organização chamada The Council (O Conselho, uma espécie de sindicato do crime global, bem aos moldes dos inimigos do James Bond) raptou e fez uma lavagem cerebral em Craig.

Foi isso a causa do rapaz matar Ben Marshall, que estava perigosamente próximo de descobrir as atividades escusas do Conselho. Quando descobre toda a verdade, Tom parte para cima deles .

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Nêmesis e Batman

A rota o leva até Gotham City, território do Batman, ocasionando aí o primeiro encontro de Tresser com o Morcego. Na cidade, Tom acaba sofrendo o mesmo tipo de lavagem cerebral, e luta contra o Cavaleiro das Trevas, mas consegue resistir e escapar do controle do Conselho.

Ao final de tudo, os responsáveis pela organização são mortos e o quartel-general vai pelos ares graças a um helicóptero carregado de explosivos — com Tom Tresser lá dentro.

E Nêmesis aparentemente morre, com o Batman lamentando a perda de seu amigo.

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A última história de Nêmesis em The Brave and The Bold da DC Comics. Arte de Jim Aparo

Era muito comum no expediente da DC Comics dos anos 80, e na indústria de HQs de modo geral, até nos dias de hoje, promover novos personagens usando figuras de maior destaque e vendas, e com o espião loiro não foi diferente.

Colocar o Batman na história de encerramento garantia visibilidade ao personagem, fosse quem fosse. As primeiras histórias de Nêmesis na DC Comics começaram em setembro de 1980 e acabaram em dezembro de 1982.

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Pouco atrativo, mas ainda interessante como material de época, as histórias de Cary em The Brave and The Bold são fluidas e despertam interesse o suficiente para se manterem, em uma trama não-linear muito ousada para a época em quem foi feita.

Os desenhos de Dan são clássicos, respeitando formas e anatomias, distante da estilização dinâmica convencional dos super heróis. Seus traços lembram sketches de animações e tudo é muito bem caracterizado, no melhor estilo de Alex Toth, um dos maiores artistas dos EUA, criador de quadrinhos, character designer e animação.

Nêmesis estrelou 24 edições de The Brave and The Bold: 167-178, 180-185, 187-193, a maior parte delas nas últimas histórias de cada revista.

Na época, a DC usava o título para apresentar o Batman em aventuras com outros heróis.

Nas edições que tinham o Nêmesis, o Batman atuou junto com o Falcão Negro, Arqueiro Verde, Zatanna, o Caçador de Escalpos, o Nuclear, os Guardiões do Universo, Lanterna Verde, Lois Lane, Monstro do Pântano, Espectro, Rastejante, Rapina e Columba, Charada, Coringa, Robin, Caçadora, Homens-Metálicos, Rosa e Espinho, Adam Strange, Superboy e, é claro, o próprio Nêmesis, em duas aventuras desenhadas por Jim Aparo, mesmo artista da maioria dos crossovers.

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AMANDA WALLER | O poder da política em Esquadrão Suicida

SUICIDE BLONDE: As missões de Nêmesis pelo Esquadrão Suicida

Don’t you know what you’re doing
You’ve got a death wish

Suicide blonde
Suicide blonde
Suicide blonde
Suicide blonde

Depois de sua passagem em The Brave and The Bold, Nêmesis ficou cinco anos de molho editorial.

No reboot (reorganização editorial e criativa a fim de despertar interesse do público e renovar as vendas) de Crise nas Infinitas Terras, a editora DC criou outra saga para mostrar o status quo da cronologia: Lendas, escrita por John Ostrander (com Lein Wein à revelia) e desenhada por John Byrne, que entre entre muitas coisas, mostra a primeira aparição da Mulher-Maravilha na nova cronologia pós-Crise.

Lendas, a primeira saga da DC pós-Crise nas Infinitas Terras

Na história, Godfrey, um maligno deus espacial, disfarçado de apresentador de TV sensacionalista (!) incita os americanos a renegarem os heróis, o que resulta numa paralisação temporária da Liga da Justiça.

É a deixa para o surgimento de Amanda Waller e seu Esquadrão Suicida, que ditariam os rumos do envolvimento do Governo com a comunidade de super-heróis. Amanda é uma política casca grossa, que obriga super-vilões a trabalharem pra ela em missões secretas black-ops em troca de redução de pena. Para mantê-los na linha, instala bombas em suas cabeças.

Seu Esquadrão é formado por criminosos e eles ajudam a salvar os Estados Unidos no lugar dos heróis, que no final da saga, acabam desmascarando Godfrey e retomam as atividades de vigilantismo.

Logo após a estreia em Lendas, o Esquadrão Suicida ganhou seu título próprio

Junto com o Esquadrão Suicida, foi criado o Xeque-mate, uma equipe para atuar em operações militares, baseadas em peças do xadrez — os líderes são bispos e os agentes de campo são cavalos, por exemplo.

As duas organizações ficam sob o comando da Força Tarefa X, o nome dado para o escritório político governamental chefiado por Amanda Waller.

E o roteirista contratado para escrever as histórias da equipe, John Ostrander, escolheu Nêmesis para compor o elenco, a despeito dele não ser um vilão.

Nêmesis Esquadrão Suicida
Arte promocional do novo Esquadrão Suicida da DC Comics no final dos anos 80. Arte de Luke McDonnel

Assim, em junho de 1987, Tresser retorna ao mundo dos quadrinhos DC. É estabelecido que o cara sobreviveu a explosão do helicóptero onde estava, ficou boiando à beira da morte, até ser resgatado por agentes do FBI, que já o conheciam dos velhos tempos, e que estavam perto da mansão do Conselho.

Nêmesis DC Comics
Thomas Tresser foi resgatado à beira da morte, e tratado pela Força Tarefa X, entra para o Esquadrão como forma de agradecimento

Representantes da Força Tarefa X se aproximam dele em seu tempo de recuperação, e o ajudam a se recompor. E, por gratidão, Nêmesis aceita se juntar ao Esquadrão Suicida, que é uma equipe de vilões em serviço secreto aos EUA por redução de pena. Vale citar o Xeque-Mate, outra organização secreta sob comando da Força Tarefa X.

Mais uma arte promocional de Esquadrão Suicida. Arte de Luke McDonnel

Depois de Lendas, uma nova Liga da Justiça é criada, e no número #9 da nova revista, ganha status internacional, vindo a se chamar Liga da Justiça Internacional.

Escrita por Keith Giffen e J.M. de Matteis, a Liga da Justiça Internacional é marcada pelo bom humor e piadas no meio da ação e aventura

Nêmesis e Sombra da Noite

No Esquadrão Suicida, Nêmesis desenvolveu um elo mais forte com Rick Flag, já que ambos dividiam um passado de serviço militar.

A primeira missão mostrada no título é desmantelar um grupo terrorista, a Jihad, do Qurac, país fictício da DC Comics situado no Oriente Médio. Nêmesis, com seus disfarces, estava infiltrado como um coronel do lado inimigo, e ajuda a equipe quando Plastique, uma das integrantes do Esquadrão, tenta traí-los.

Outra parceira sua, Eve Eden, a Sombra da Noite (Nightshade), também infiltrada, teve que matar civis para manter o disfarce. A missão é um sucesso, mas a matança a deixa completamente transtornada. Ela e Tom ficam bem próximos, e na verdade ele tenta engatar um romance com a moça, sem sucesso. Ela mesmo não sabe direito quem quer, já que se divide entre Tom, Rick Flag e até o Capitão Átomo.

Sombra da Noite

A personagem originalmente veio da editora Charlton Comics, criada em Captain Atom #82 (1966), pelo escritor David Kaler e o desenhista Steve Ditko. A DC comprou a empresa no começo dos anos 1980, e na Crise, inseriu os personagens na saga. E a introdução da moça se dá exatamente em Esquadrão Suicida.

Quando o escritor Alan Moore pensou a trama de Watchmen, ele quis usar os personagens da Charlton, mas como ele iria matar e alterar os personagens, a DC decidiu vetar o uso deles. Assim, Moore criou personagens análogos ao que queria. É por isso que em vez de Sombra da Noite em Watchmen, temos a Espectral.

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O crush dela com o já citado Capitão Átomo vem dos tempos da Charlton, e foi mantido na DC, bem como por Moore em Watchemn, já que a Espectral se envolve com o Dr. Manhattan, o análogo do Capitão Átomo na história.

Outra curiosidade de personagens nas relações de Watchmen e Esquadrão Suicida é o uso de Pierrô (também chamado de Arlequim) e Columbina, dois vilões menores da Charlton, e reaproveitados pela DC nas fileiras do  Esquadrão. Seus nomes originais são Punch e Jewelee, e eram inimigos do Capitão Átomo e Sombra da Noite em HQs da Charlton.

Pierrô e Columbina antecedem as participações amalucadas e psicopatas que Arlequina, famosa parceira e amante do Coringa, só faria décadas depois no Esquadrão Suicida.

Na HQ Doomsday Clock, que finalmente ligou Watchmen ao Universo DC tradicional, o novo Rorschach busca na trama a ajuda de dois detentos: Erika Manson, codinome Marionette, e Marcos Maez, The Mime (Mímico). Eles são as mais novas versões de Punch e Jewelle: Geoff Johns e Gary Frank, autores de Doomsday Clock, retomaram o recurso que Moore fez de criar análogos, e adaptaram Marionette e Mime, que tinham ficado de fora de Watchmen. 

Geopolítica e violência em quadrinhos juvenis de heróis

Tresser sempre batia de frente com a Amanda Waller, o que não era pouca coisa, e questionava muitas das missões e decisões tomadas.

Em diversas ocasiões, o roteirista John Ostrander usou Tresser como contraponto de visões e atitudes para Amanda Waller. Acompanhar a trajetória dos personagens é empolgante nos primeiros números da revista. 

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Nêmesis com Sombra da Noite e Amanda Waller

As histórias de Ostrander em Esquadrão Suicida precedem muitos temas adultos que nas HQs de hoje são arroz com feijão.

Era algo inédito de se ver um grupo de criminosos fazendo black ops para o governo americano, com sanção para atuar e assassinar pessoas no complexo industrial-militar e cenário geopolítico dos anos 80, do Oriente Médio a União Soviética, de países do Terceiro Mundo da América Latina a congressistas em Nova Orleans.

O Esquadrão Suicida de Nêmesis versus A Liga da Justiça de Batman

Uma das melhores histórias do Esquadrão Suicida

Nêmesis foi o pivô do confronto da Liga da Justiça Internacional com o Esquadrão Suicida. Trata-se de um evento histórico, pois foi o primeiro encontro das duas equipes na história da DC Comics,  mostradas nas revistas Suicide Squad #13 e Justice League International #13, ambas de maio 1988.

A equipe de trabalho das duas revistas colaboraram entre si, e é uma pena que o artista Kevin Maguire, desenhista regular da Liga, não tenha produzido as artes do Esquadrão.

No roteiro, uma missão secreta desastrosa de resgate na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas obriga o Esquadrão a deixar Nêmesis para trás. Eles tentavam salvar uma escritora russa dita subversiva, mas que ninguém se assegurou de saber se queria realmente ser salva.

Nêmesis fica tão puto com a situação que decide que não quer mais ficar na equipe, e avisa que vai pular fora. Aqui, ele soca o Pistoleiro

O conflito internacional de uma invasão/resgate secreto que deu errado — a morte da jovem e a prisão de Nêmesis — levam os Estados Unidos e URSS a se pressionarem diplomática e secretamente.

Amanda Waller se vê em uma situação extremamente sensível, já que foi usada como joguete político em uma missão sem todos os dados disponíveis por um político inescrupuloso de Washington, e proíbe o grupo de tentar resgatar Tresser.

Nessa época, a Liga tinha o status quo de internacional justamente por responder ao governo e a ONU. Batman fazia parte da equipe, fica sabendo da situação de Nêmesis, e decide ajudar seu amigo, mesmo contra a decisão das autoridades — nas dinâmicas de diplomacia que acontecem, fica estabelecido que a Liga não deve interferir no assunto. 

Cativo na prisão soviética, Tresser estava prestes a ser executado.

Rick Flag também desobedece as ordens diretas de Amanda Waller para não se envolver, e leva o Esquadrão para salvar Nêmesis, e não resta alternativa para o próprio presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, pedir que a Liga da Justiça impeça o Esquadrão de resgatar Tresser.

As duas equipes inevitavelmente se encontram. O embate entre Batman e Flag é particularmente especial e brutal, e também temos o encontro do Capitão Átomo e Sombra da Noite, onde ficamos sabendo que ambos atuam como uma espécie de espiões dentro de suas respectivas equipes.

Antes que as coisas ficassem fora de controle, Soviete Supremo, o herói russo integrante da Liga, consegue armar uma execução falsa, e Tresser consegue escapar da situação com vida, junto com o Esquadrão.

Vale a pena ver imagens desse luta épica entre os dois grupos:

Nêmesis preso na União Soviética
Batman tomando ciência da prisão de Nêmesis
Rick Flag desobedece ordens diretas de Amanda Waller para tentar resgatar seu companheiro de equipe
O Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, pede para Amanda que impeça o resgate de Nêmesis
Batman está tão obcecado em resgatar Nêmesis que desafia até mesmo o líder da Liga da Justiça, p Caçador de Marte (Ajax, o Marciano, posteriormente tratado como Jon Jonnz, em diversos momentos da tradução brasileira)
A Liga encontra o Esquadrão no fim da edição
E o pau pega no começo da edição do Esquadrão
A espionagem estava em alta em todos os lugares mesmo: Sombra da Noite diz que trabalha para o governo espionando o Esquadrão e o Capitão Átomo também faz o mesmo na Liga

 

Esse episódio é marcante por rachar os dois grupos.

Depois do pega pra capar com Flag, em uma luta sanguinária e pesada como poucas vezes se viu, o Morcego fica puto da vida com seus amigos da Liga, e abandona a equipe.

E Nêmesis faz o mesmo pouco tempo depois. Desafia Amanda Waller e se manda do Esquadrão Suicida — um dos poucos seres que fez isso e saiu com vida.

Nêmesis Amanda Waller
A sequência em que Nêmesis desiste do Esquadrão Suicida e peita até Amanda Waller, uma mulher capaz de mete medo até no Batman
Nêmesis Amanda Waller
Apesar do artista Like McDonnel ser criticado algumas vezes por seu estilo de arte, aqui ele dá um show de narrativa visual para mostrar o embate de Nêmesis e Amanda
Nêmesis saiu do Esquadrão Suicida e viveu para contar a história

As participações de Nêmesis no Esquadrão Suicida se deram em 20 revistas — #1-4,5-7,11-14,19-24,50 (uma edição especial com mais páginas, com ele na capa inclusive), 51,59-61.

Ele ainda ajudou a equipe a impedir Rick Flag de matar um senador corrupto, voltou como um…zumbi?! (leia a HQ), ajudou a encontrar o filho perdido de Rick Flag e Karin Grace, a pedido de Sombra da Noite, e chegou a atuar até ao lado do Batman e Superman em uma missão.

Não apenas interferência em países do Terceiro Mundo, URSS e países da Arábia Saudita, mas dentro dos EUA. É assim o Esquadrão Suicida de John Ostrander
Nêmesis na capa do Esquadrão Suicida. Ele e os outros se tornaram…zumbis?!
Nêmesis deixa o Esquadrão, mas Amanda o procura para mais mais uma missão. Ele estava como agente solo agora, sempre em busca de equilíbrio na justiça
Sombra da Noite também reaparece para convencer Tom a realizar a missão: resgatar o filho perdido de Rick Flag
E é exatamente ele quem consegue resolver tudo, depois que um cyborg putrefato, antigo colega de Rick, desiste de sua vingança após Tresser lhe abrir os olhos
Nêmesis vai embora de novo, mas ainda sente algo por Eve, assim como ela. Um dos raros momentos românticos (e bonito sem ser piegas) do Esquadrão Suicida de John Ostrander
Na última missão, ele ajuda o Esquadrão e outros heróis, como Superman e Batman, mais uma vez contra a Jihad

Antes de sair do Esquadrão, Nêmesis ainda participou da saga Invasão! (1989), quando a Aliança Alienígena invadiu a Terra para acabar com os heróis.

A saga é canonicamente importante para a DC pois é nela que os superseres ganham uma explicação para os poderes fantásticos que possuem: o metagene, um gene escondido que é ativado sob estresse –de ordem psicológica, química, radioativa, mágica etc — e que faz o ser humano ganhar poderes.

O termo metahumano também nasce em Invasão!.

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Editorialmente, o personagem foi deixado de lado e teve participações esporádicas nos anos 90 em diversos títulos menores da empresa.

Em setembro de 1993, Nêmesis retorna nas páginas da revista do vilão Eclipso, um demônio milenar em forma de diamante que controla mentes e que quer, adivinha só, acabar com o mundo.

Amanda Waller requisita novamente os serviços de Tresser para se juntar ao Shadow Fighters, uma equipe especial criada para deter o diabão.

O roteirista Robert Loren Fleming juntou vários personagens inusitados para essa revista, como o Rastejante e Pacificador. São narrativas típicas dos anos 90, cheias de ação e artes grandes e de lto impacto. Foram oito número com Nêmesis participando da revista.

Nêmesis Mulher Gato
Mais uma morena na vida do espião: a Mulher-Gato. Nessa época, a DC Comics não sabia muito bem o que fazer com Nêmesis.

Em 1998, Nêmesis aparece no número 62 da revista da Mulher-Gato, em meio a uma trama de roubo que a vilã planejava. Selina Kyle flerta com Tresser, e seria a segunda morena que o loiro ia ter nas mãos.

Mas ele aparentemente morre baleado no fim da história. A moça chora no fim, lamentando a morte do único cara que realmente estava gostando nos últimos tempos. Nêmesis permanece desaparecido até conseguir seu maior destaque entre os filés da casa, isso pra lá dos anos 2000: ser “consorte” da Mulher Maravilha.

A Mulher-Maravilha entra em cena

Mulher-Maravilha. Arte de Terry Dodson

Em agosto de 2006, Nêmesis é resgatado para a nova revista (terceira série regular) da Mulher-Maravilha. Tresser estava como agente secreto do Departamento de Assuntos Metahumanos, um dos muitos órgãos do governo que trabalham com seres superpoderosos, comandado por Sargento Steel, também original da editora Charlton Comics, criado por Pat Masulli em Sarge Steel #1 (1964), e inserido na DC em Lendas #3, junto com Amanda Waller e o Esquadrão Suicida.

A nova parceira de Nêmesis no serviço secreto: a agente Diana Prince
E juntos eles tem de caçar a Mulher-Maravilha!

Nessa época, a Mulher-Maravilha tinha acabado de matar Maxwell Lord, outra grande figura da DC, promovido de empresário burrão da Liga da Justiça Internacional a chefão sanguinário no obscuro mundo da espionagem.

Os fatos se deram pouco antes da Crise Infinita, uma saga que é continuação de Crise Nas Infinitas Terras. A Mulher-Maravilha teve muitos problemas com esse assassinato, cometido para salvar a vida de Superman, mas televisionada para o mundo inteiro.

Ao fim da saga, a morena não podia mais agir livremente em público, mas Batman providencia uma nova identidade para a amazona como agente secreta, e é com essa nova identidade com que a Mulher-Maravilha tromba com Nêmesis.

Esse mood de agente secreta de Diana Prince/Mulher-Maravilha foi recuperado de antigas histórias (ruins) dos anos 1970, mas que foram bem colocadas aqui.

Os dois, ironicamente, tem a missão de capturar a…Mulher-Maravilha.

 

Nêmesis Mulher-Maravilha anos 80
Nêmesis vive grandes aventuras ao lado da Mulher-Maravilha no traço incrível de Terry Dodson

Os dois demoram a se conectar, mas eventualmente se tornam uma boa dupla em ação, e começam a se envolver intimamente.

Eles engatam um relacionamento, com direito até a Tom Tresser ser nomeado “amazono” na Ilha Paraíso. O crédito da dupla amorosa é da roteirista Gail Simone, que cuidava das histórias da personagem na época.

Nêmesis se torna um “amazono”

Nêmesis DC Comics

Nêmesis DC Comics
Um dos primeiros inimigos a serem enfrentados foi Circe, a bruxa grega mitológica. Que aqui já assanha (e se assanha) para cima de Tom Tresser
Diana entrega uma prova de verdadeiro amor a lá amazona de Themyscera para Tom
Na construção narrativa de Gail Simone, a relação dos dois é bem natural

Em uma batalha, a morena maravilhosa fica em uma sinuca com Tom sendo feito refém. Uma vila casca-crossa, Genocida, obriga Diana a dizer que na verdade o que ela queria do relacionamento com Tom era uma criança, ser uma mãe, e não construir uma vida a dois.

Ela deseja repovoar Themyscira, o lar das amazonas, e nada mais. Tresser acabou se decepcionando com tudo isso, e os dois rompem.

Genocida, além de massacrar fisicamente Diana, ainda destroça a moral dela, ao expor as verdades íntimas de seu coração para Tresser
Tom rompe com Diana
A intenção de Diana não era baseada no amor, e sim procriação (!). Até mesmo vemos o fruto futuro desse amor, a pequena Polly (de Polliana?), filha do casal
Thomas Tresser nunca pensou em ser pai, pois a vida que ele leva de agente secreto e vigilantismo é incompatível com isso

Foram 31 números em que Nêmesis apareceu na revista da Mulher-Maravilha, fora os especiais da morena — apareceu também em 15 números da revista Trindade, HQ com histórias da Mulher-Maravilha junto com o Batman e o Superman.

Tresser se via às voltas em obedecer as ordens de Steel, encobrir Diana — por quem desenvolvia um interesse — e as aventuras da Mulher-Maravilha em si, que tinha que lidar com o fato das amazonas estarem ativas demais militarmente e até se envolvendo em guerra com os EUA (!), como visto na saga Ataque Amazona.

Na verdade, tudo não passava de um plano elaborado de Circe, que chegou a sequestrar Steel e colocar em seu lugar um sósia, o Everyman — e foi esse “Steel” quem provocou as amazonas.

Seu tempo cativo também foi manipulado, já que o Dr. Psycho alterou sua mente, aumentando sua paranoia natural sobre a comunidade de meta-humanos.

No fim, a Mulher-Maravilha e a Canário Negro conseguem contornar a situação, e ajudam Steel a se libertar, graças ao Laço da Verdade da amazona. Apesar disso, Steel ainda figura como a pessoa-chave do governo para assuntos envolvendo os seres superpoderosos, e tal qual Amanda Waller, não tem muito escrúpulos ao tomar decisões que vão contra o interesse dos heróis.

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Uma das várias vezes que Nêmesis foi contra seu chefe, Sargento Steel
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Steel contratou Tresser pois ele é o melhor agente que já viu na vida
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Mas mesmo isso não o impede de prender Nêmesis quando ele mais atrapalha que executa bem os serviços que é obrigado a fazer

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SARGENTO STEEL | No centro da espionagem da DC Comics

Nêmesis e Jack Kirby

Outras histórias de Nêmesis, após seu envolvimento com a Mulher-Maravilha, incluem mergulhar mais fundo em segredos de espionagem, e que se revelam mais tarde em um escopo inimaginável, como sua estadia forçada na chamada Cidade Elétrica, um plano de realidade alienígena que é o nexo de intersecções de núcleos dimensionais de mundos do Universo DC.

A Cidade Elétrica é o esconderijo da Agência de Paz Global, é criação de ninguém mais ninguém menos que o roteirista e desenhista Jack Kirby, que o apresentou em OMAC #1, de outubro de 1974.

Trata-se de uma agência de espionagem e manutenção da leia que tenta prevenir crises em escala cósmica. Na história densa e maluca de Birby, estamos em um futuro distópico onde Buddy Blank, um cara comum, é transformado em um superguerreiro pelo satélite espião Irmão-Olho.

A sigla OMAC significa One Man Army Corps (em português, “exército de um homem só”), e quem controla o satélite é a Agência de Paz Global.

Na trama de Crise Final, a saga que sucedeu Crise Infinita, o conceito da agência é trazido ao presente regular dos heróis,em Final Crisis #7, de março de 2009. A organização, no caso, está sequestrando agentes envolvidos com seres superpoderosos, para deles extraírem seus segredos.

Essas histórias acontecem na minissérie Final Crisis Aftermath: Escape, em seis edições publicadas em 2009.

 

É notável que justo Nêmesis tenha ganho uma revista própria nesta época — a Crise Final pretendia continuar Crise nas Infinitas Terras e reapresentar todos os heróis da editora.

A DC é dona de um catálogo com mais de 10 mil personagens como propriedades intelectuais. Se 20 deles ganharam títulos relacionados com a saga foi muito, mas Nêmesis ganhou um para chamar de seu.

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Nêmesis sem saída na Cidade Elétrica do Fim do Mundo. Arte de Cliff Richards

É uma revista difícil, baseada em argumentos muitas vezes já vistos nos seriados O Prisioneiro e Lost, como loops mentais, torturas psicológicas inescapáveis, não-linearidade de narrativas e muito mistério não-solucionado.

A história se passa pós-Crise Final, e tem dedo do Grant Morrison, roteirista escocês grande fã de tramas complicadas e cabeçudas: o final de Final Crisis Aftermath: Escape dá a entender um desfecho épico, uma redenção a Buddy Blank, o OMAC, em um lugar idílico que pode ser a salvação e todas as crises que o Universo DC sofre.

Nêmesis Crise Final DC Comics
Nêmesis testemunha eventos e processos do fim do multiverso e as crises sem fim no Universo DC. Arte de Cliff Richards

Nêmesis é um impostor dentro da DC Comics?

Nemesis: The Imposters foi mais uma minissérie do personagem, quatro edições publicadas em 2010.

 

 

É a primeira vez que Nêmesis tem seu nome no título de uma capa de HQ da DC. Passaram-se meses que Tresser escapou da Cidade Elétrica, mas o Irmão Olho, o OMAC, volta para atazanar o herói.

Não só isso, há novas aparições do Coringa; do Conselho (aquela organização terrorista que foi o primeiro antagonista do personagem); e como não poderia deixar de ser, o Batman (que aqui é Dick Grayson, o antigo Robin, que assumiu o manto do morcego, pois Bruce Wayne “morreu” em Crise Final). Mulher-Maravilha, a ex que qualquer um iria querer de volta, também está de volta.

Mas nada é o que parece ser, e Nêmesis parece estar alucinando, e um senador americano cooptado pelo Conselho parece estar por trás de tudo. Ou não?

É um fim melancólico para o personagem, que é implicado na morte do senador, e ele prefere ficar preso, pois sabe que a conspiração ainda em cima dele está para pegá-lo.

As histórias de Aftermath: Escape e The Impostors foram escritas pelo roteirista Ivan Brandon, descendente de cubanos que reside em Nova York, e autor de várias histórias de heróis da DC e da Marvel.

Escape tem um narrador onisciente que direciona o mistério da trama, o que ajuda a deixar tudo mais complexo e arrastado do jeito que é executada.

The Impostors é Thomas Tresser narrando a história, muito mais pessoal e crível, dinâmica e mais rápida.

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Um Coringa no meio do caminho para matar Tresser. Será mesmo? Arte de Cliff Richards
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Batman com um Coringa morto pelo Nêmesis. Mas será mesmo? Arte de Cliff Richards

Os Novos 52: reboot e o fim de Nêmesis (e a DC Comics) como a conhecemos

No reboot da editora DC Comics feito em 2011,Os Novos 52, Thomas Tresser, o Nêmesis, foi literalmente apagado da existência das histórias, junto com mais de 80 anos de cronologia da maior parte dos milhares de personagens da editora.

Há uma pequena referência feita em agosto de 2015, um “segundo encontro” dele com Dick Grayson. Ela ocorreu no número 9 da revista Grayson, uma HQ de espionagem estrelada por Dick Grayson, o ex-Robin, quando este era dado como morto na época.

O cara enfrenta um criminoso careca de meia-idade, que muda sua aparência do mesmo jeito que Tom Tresser fazia: uma fumaça no rosto para desfazer a face falsa.

Momentos depois, é dito que o codinome desse mercenário era Nêmesis. E fica nisso. Interessante citar o roteirista da HQ: Tom King, xará do personagem e na profissão — o escritor é um ex-agente da CIA, a Central de Inteligência Americana (!).

O agente careca feioso de nome Nêmesis inclusive usa o mesmo artifício de mudança de disfarce via gás no rosto para alterar seu disfarce. O próprio título dessa história da DC Comics é…Nêmesis.
Importante citar que o tal agente morreu na missão. Nas sombras, entre grandes figurões do mundo da espionagem da DC, podemos ver o Sargento Steel, antigo chefe de Tresser no D.A.M. O personagem já tinha aparecido nos Novos 52, mas de outro jeito (pra variar)

Em 2016, a DC promoveu mais um reboot, o Renascimento. Nêmesis de novo foi usado por Tom King, dessa vez em sua mal-fadada saga Heroes in Crisis, de 2019, uma história de assassinato envolvendo o Flash em um santuário secreto para que heróis possam se recuperar de stress pós-traumáticos de suas missões e rotinas de vigilância contra o crime. Tresser aparece como figurante em algumas das edições, e ficou nisso.

Ele mantém sua aparência pré-Novos 52, mas nada é explicado por King, que ignora o mostrado em Grayson #9.

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Tom Tresser, o Nêmesis, em Heroes in Crisis

Mais recentemente, Nêmesis tornou a ser figurante de luxo em quadrinho de uma página ao surgir aparentemente morto (!), em Action Comics #2010, de 2019, por conta da saga Evento Leviatã, a maior chance do personagem ter sido utilizado, já que se trata de tramas de espionagem por todo o Universo DC. O vilão é ninguém menos que o Caçador Mark Shaw.

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Ele está com sua aparência de pré-Novos 52, e foi tratado como um “Bispo Branco”, uma posição de hierarquia dentro do Xeque-Mate.

O roteirista Brian Michael Bendis, criador da saga, optou por matá-lo fora das páginas, e ele não foi mais visto.

Vale destacar que Bendis, aproveitando a zona cronológica do status atual da DC, faz o que bem entende a favor da história que quer contar, ignorando contradições e erros.

Por enquanto.

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A mais recente aparição de Nêmesis no Universo DC. Morto. Pra variar

Nêmesis em Liga da Justiça Sem Limites

Em sua participação no desenho animado da Liga da Justiça, Tresser claramente faz parte da equipe, mas em episódios em que ele apenas figura como coadjuvante de cenas, sem ao menos falas ou ações individuais.

Há uma adaptação do grupo Esquadrão Suicida no episódio chamado Força Tarefa X. Rick Flag lidera uma missão de infiltração no satélite da Liga, com a ajuda do Pistoleiro, Capitão Bumerangue e Plastique.

Fica implícito que há um infiltrado dentro do local que facilita a entrada deles, e é uma pena que Nêmesis seja mencionado diretamente como esse infiltrado.

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Nêmesis na animação da Liga da Justiça Sem Limites, um dos melhores produtos da DC Comics fora do papel

Os episódios que contam com sua participação são: “Initiation“, “Ultimatum“, “Dark Heart“, “Hunter’s Moon“, “Question Authority“, “Flashpoint” e “Divided We Fall.”

O mais relevante é Dark Heart, episódio escrito por Warren Ellis, escritor inglês com um excelente currículo de histórias e títulos em HQs da Marvel e da DC, e claro, responsável por um dos episódios mais interessantes da animação.

Uma ameaça alienígena em forma de insetóides robóticos ameaça o Planeta Terra — bem ao gosto do autor — e apenas a Liga pode impedir o fim do mundo. Nêmesis é visto em diversas cenas ajudando seus companheiros.

O episódio marca também a estreia do canhão atômico que o grupo mantém no satélite, fato extremamente significativo para o desenho, um elemento que conduz a trama das duas temporadas.

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Se você prestar MUITA atenção, é capaz de achar o Nêmesis nessa imagem do episódio Dark Heart, em que quase todos da Liga da Justiça precisaram atuar

Nêmesis apareceu em Liga da Justiça Sem Limites devido a algo que se convencionou chamar de “bat-embargo“.

Diversos personagens relacionados ao Batman não eram permitidos aparecer no desenho, pois a Warner Bros tinha outros planos para eles, e não queria que o público se “confundisse” com as aparições múltiplas.

Isso explica, por exemplo, a ausência do Coringa na grade de vilões da série Sem Limites. Houve diversos outros casos envolvendo vilões e personagens, até mesmo de outros heróis, como Mulher-Maravilha e Aquaman.

Tom Tresser, segundo o próprio Bruce Timm, o produtor do desenho, surgiu mais por necessidade de elenco e disponibilidade de uso, do que por mérito de importância.

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O maior destaque que Nêmesis teve em sua vida fora das HQs da DC Comics de papel. Você consegue achar Nêmesis nessa imagem?

Nêmesis e o cinema da DC Comics

O fato de Thomas Tresser ter ficado de fora do filme do Esquadrão Suicida explica muito como esse longa foi feito.

O clima de traição e conspiração, e de ninguém confiar em ninguém, podia ser melhor explorado se Nêmesis tivesse sido usado por David Ayer.

Nêmesis também podia ter sido usado no segundo filme da Mulher-Maravilha no contexto dos anos 80, já que com seu background militar, ele serviria talvez como um “novo Steve Trevor” para a personagem de Gal Gadot, uma vez que emula diversas características do primeiro amor da morena. Isso daria a ele potencial gigantesco de se tornar um novo parceiro.

Tudo isso deve ser ignorado, já que o ator Chris Pine, que interpretou Steve Trevor, está de volta ao filme, a despeito do desfecho que teve no primeiro longa.

Nem mesmo na nova versão, O Esquadrão Suicida (2021), de James Gunn, o Nêmesis apareceu

Até mesmo o fato de ter sido nas HQs a causa do confronto da Liga com o Esquadrão podia ter sido usado de alguma maneira no universo cinematográfico da Warner, mas Zack Snyder estava longe de pensar em algo sequer perto disso para seu filme da Liga da Justiça, lançado e devidamente fracassado nos cinemas de 2017.

Isso mostra com clareza a falta de visão da companhia dos irmãos Warner em conectar seu universo de maneira mais concisa usando conceitos prontos — o trabalho seria mínimo.

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Nas últimas edições de The Brave and The Bold com Nêmesis, o desenhista Jim Aparo fez os desenhos. Ele é um artista veterano dos quadrinhos e produziu histórias de vários personagens por muitos anos
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É possível perceber a divulgação do personagem Nêmesis nessa arte promocional da DC Comics antes do lançamento de The Brave and The Bold
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Em History of The Universe DC, a bíblia da DC Comics no fim dos anos 80, temos uma aparição de Nêmesis, junto ao Esquadrão Suicida
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Nêmesis na capa do guia Who´s Who da DC Comics
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Mais uma vez na capa de outra Who´s Who da DC Comics, e Nêmesis está na capa

/// NÊMESIS  NO BRASIL. De acordo com dados do Guia dos Quadrinhos, o Nêmesis/Tom Trasser apareceu em 54 gibis publicados no Brasil. Mas uma de suas primeiras aventuras apenas recentemente chegou por aqui.

Essa edição de Batman – Lendas do Cavaleiro das Trevas: Jim Aparo #9, publicado pela editora Panini em agosto de 2018, mostra a edição Brave and The Bold #170, com uma aventura de Nêmesis/Tom Tresser contra o Conselho, no material original de Burkett, com arte de Jim Aparo.

/// ORIGEM GREGA. A origem do nome Nêmesis é grego. Nêmesis (português brasileiro) é a deusa grega que personifica o destino, equilíbrio e vingança divina. Ela é uma das filhas da deusa Nix, a Deusa da Noite. Também pode ser filha dos titãs Oceano e Tétis.

Outros autores a posicionam como filha de Zeus e de Têmis. Ela é a vingança divina, por vezes chamada de “a inevitável”, e era representada como uma bela mulher alada. A raiz do nome é indo-europeia, e foi usado com o significado de “desdém”, “indignação”, “vingança”, “justiça distributiva”.

Originalmente, a deusa grega infligia dor ou concedia felicidade segundo o que era justo. Em português, a palavra designa ‘alguém que exige ou inflige retaliação‘. Na cultura inglesa moderna, o termo assumiu o significado de ‘inimigo‘ ou o pior inimigo de uma pessoa.

/// SOSEH MYKROS. A DC Comics tem outra personagem chamada Nêmesis: trata-se de Soseh Mykros, personagem ligada à mitologia do Caçador/Paul Kirk, personagem da Era de Ouro da DC Comics, e reutilizado em diversos outros contextos, em um longo line-up de outros heróis, e de modo especial em uma série de grandes histórias dos anos 1970 pelo editor e roteirista Archie Goodwin e o desenhista Walt Simonson, material que figura entre os melhores do gênero (link logo abaixo).

O Caçador/Paul Kirk também é envolvido em espionagem e dominação espacial secreta, como o Nêmesis/Tom Tresser.

Não há nenhuma ligação entre Kirk e Soseh com Tresser, além do fato dos três combaterem organizações criminosas chamadas O Conselho (que aparentemente nada tem a ver uma com a outra, o que parece bem estúpido por parte da DC).

Na DC, além de Tom e Soshe usaram essa alcunha, também temos o Nemesis Kid, um clássico vilão da Legião de Super-Vilões, em histórias que se passam no futuro do Universo DC.

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Arte de The DC Comics Encyclopedia, de 2004, com as menções de Tom Tresser como Nêmesis e da Soseh como Nêmesis II

CAÇADOR PAUL KIRK | O Arco-Íris da Gravidade de Archie Goodwin e Walt Simonson

/// NÊMESIS DO APOCALIPSE. A Marvel Comics também tem seus Nêmesis, e não são poucos. Nêmesis é filho do primeiro mutante da história, Apocalipse, inimigo dos X-Men.

Ele usava esse nome antes de virar um ciborgue-fornalha visto nas histórias da Era do Apocalipse, onde se torna Holocausto. Há também a Nemesis da equipe de super-heróis canadenses Tropa Alfa — uma mulher vestida de vermelha e preto, que usa uma espada capaz de cortar até um átomo ao meio.

/// NÊMESIS DOS X-MEN. Também tem por lá na Marvel o Doutor Nemesis, personagem da Segunda Guerra Mundial que teve envolvimento com os X-Men. O doutor James Bradley é uma criação de retcon da Era de Ouro da Marvel, feita pelo roteirista Roy Thomas.

Mutante com poder de inteligência elevada, cientista especialista em diversas áreas, conseguiu obter vida prolongada com seus experimentos. Iniciou uma carreira de combatente ao crime, fez parte de um grupo de vilões nazistas, mas depois se redimiu, e se tornou caçador de nazistas após a guerra.

Foi recuperado na época atual como consultor científico dos X-Men e agente de campo de Wakanda, trabalhando atualmente para o Pantera Negra. Como Tom Tresser, usa duas armas de fogo automáticas nas batalhas.

/// NÊMESIS DO INFINITO. O Nêmesis mais poderoso sem sombras de dúvidas é o ser original que vivia antes do Big Bang em uma das realidades do Universo Marvel.

No nascimento de toda a existência, Nemesis, mostrada como um ser de silhueta feminina, morre, dando origem com seu cadáver às Jóias do Infinito, artefatos que podem ser vistos em quase todos os 22 filmes da Marvel Studios nos cinemas, mais especificamente em Vingadores Guerra Infinita e Vingadores Ultimato.

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