EQUAÇÃO ANTI-VIDA | “Se alguém possui o controle absoluto sobre você – você não está realmente vivo”

A democratização dos meios de produção e circulação, tema comum nas discussões que envolvem a internet, os softwares, o streaming e os seus agregados, trouxe simultaneamente novas possibilidades e novos paradigmas, e aqui vamos co-relacionar isso a um conceito das HQs da editora DC Comics: a Equação Anti-Vida.

Na música, a nova configuração ofereceu a mais gente a capacidade de criação e de reverberação, ao mesmo tempo em que desordenou consideravelmente a balança da oferta e da procura: saímos de um passado recente onde as gravadoras mantinham essa equação sob mão de ferro para um livre arbítrio onde a liberdade de enforcar-se ocorre da maneira que quiser.

Equação Anti-Vida
  Darkseid, o maior vilão da editora DC Comics. Arte de Walt Simonson

É uma situação distópica/apocalíptica para alguns (e entende-se a razão), mas vista por outros como um estado de desajuste muito comum ao início de novas eras.

De qualquer maneira, o resultado é líquido e certo: chegamos a um status quo onde aparentemente há muito mais produção sendo feita do que gente para ouvir o que é produzido.

Falei de música, mas isso se aplica a qualquer outro conteúdo.
Não tem como acompanhar tudo, seja mainstream ou underground, quanto mais os ordinários e simples.

Como notícias na nossa atual sociedade.

É tragicômico perceber que somos apenas espectadores do final da década 2010, e começo dos 20. Somos passivos opinantes que apenas servem de público-motor de fake news e informações que convém, presenciando as atrocidades que fazem no país e no mundo.

Não se escapa dessa forma, não há luta que consiga derrubar, a não ser de forma violenta e revolucionária — aspecto que ninguém parece querer, nem tem coragem de o fazê-lo.

A gana se restringe a xingar muito no Facebook e Twitter.

Importamos a grande fórmula prosaica do modus operandi USA:

A – políticos são denunciados por crimes;
B – eles negam e dizem que jornalistas e opositores políticos mentem;
C – O público fica sem sabem em quem acreditar;

Os arautos do caos, seres etéreos sem forma e voz do resultado dessa simples equação (A+B+C), são completa e absolutamente influenciadores, e se encarregam instaurar o medo e a inanição na população.

Há uma equação nos quadrinhos que também traz desespero e privação de liberdade.

Nasceu nos quadrinhos de super-heróis americanos nos anos 70.

A arma definitiva de controle absoluto, o E=mc2 do desespero.

A Equação Anti-Vida.

Equação Anti-Vida
Arte promocional de Crise Final, uma das incontáveis sagas do Universo DC, com a Equação Anti-Vida em destaque

Equação Anti-Vida

loneliness + alienation + fear + despair + self-worth ÷ mockery ÷ condemnation ÷ misunderstanding x guilt x shame x failure x judgment n=y where y=hope and n=folly, love=lies, life=death, self=dark side

Solidão + Alienação + Medo + Desespero + Autoestima ÷ Zombaria ÷ Condenação ÷ Mal-Entendido × Culpa × Vergonha × Falha × Julgamento

n = y, onde ‘y’ = Esperança, ‘n’ = Loucura, Amor = Mentiras, Vida = Morte, Ser = Darkseid

Trata-se de um recurso narrativo criado pelo roteirista e desenhista Jack Kirby para a editora americana DC Comics.

Apareceu nas revistas do chamado Quarto Mundo, um conjunto de quatro revistas que mostravam Os Novos Deuses, seres acima da divindade convencional da Terra, e que acabam se envolvendo com os super-heróis terrestres, como o Superman.

A Equação Anti-Vida é uma fórmula que tira das criaturas o seu livre arbítrio, por meio de uma fórmula matemática que torna a vida, esperança e liberdade irrefutavelmente inúteis.

É mencionada pela primeira vez na primeira edição da revista The New Gods #1, em março de 1971. Na história, ocorre uma batalha épica entre os deuses antigos, que resulta na completa destruição de seu reino.

O novo deus maligno chamado Darkseid é o maior interessado em encontrar a fórmula matemática.

Kirby estabeleceu o conceito da Equação Anti-Vida como algo que daria ao ser que a aprende o poder de dominar a vontade de todas as raças sencientes e sapientes.

De acordo com o artista, ela é chamada de Equação Anti-Vida, porque “se alguém possui o controle absoluto sobre você – você não está realmente vivo“. Mas Kirby encerrou sua passagem na DC sem fechar a saga, e sem mostrar efetivamente o que pretendia com a equação.

A maior ambição de Darkseid é eliminar todo o livre-arbítrio do universo e remodelá-lo a sua própria imagem.

Ele tem um interesse especial na Terra, pois acredita que os seres humanos possuem coletivamente dentro de suas mentes os fragmentos da Equação Anti-Vida.

Uma vez que alguém tem contato com a equação, perde todo o livre arbítrio e se tornar um escravo obediente.

Na longa tapeçaria narrativa que centenas de criadores de quadrinhos executaram nos quadrinhos da DC, a equação foi usada por diversos outros autores, mesmo que esses estivessem anos-luz da ficção científica maluca que Kirby concebera.

Em uma história do Monstro do Pântano (The Swamp Thing #62, de 1987), Darkseid descobre que parte da fórmula é algo que lhe escapa — o amor. Roteiro de Rick Veitch, desenhos dele e arte-final de Alfredo Alcala.

Equação Anti-Vida

Na mini-série Odisséia Cósmica (1988), escrita por Jim Starlin e ilustrada por Mike Mignola, a Equação Anti-Vida é revelada como um ser senciente, uma sombra maligna que corrompe e destrói tudo o que toca.

Equação Anti-Vida

Darkseid é pego tão de surpresa que tem que se unir aos Novos Deuses e a um grupo de super-heróis da Terra para parar a entidade.

Na saga Invasão (1989), o deus maligno impede que a Terra seja destruída por completo, e alerta para que a Aliança Alienígena não mate toda a humanidade, pois parte da equação está com ela de alguma maneira.

Na revista Martian Manhunter #33, de 2001, é revelado que há 300 anos, quando havia uma civilização ainda viva em Marte, Darkseid estava por lá, e teve contato com a filosofia marciana.

Ela dizia que o livre-arbítrio e o propósito espiritual poderiam ser definidos por uma “equação de vida”. Assim, o novo deus postulou que deveria existir um equivalente do outro lado.

Jim Starlin voltou a escrever os Novos Deuses na mini-série Morte dos Novos Deuses (2007). Aqui, a entidade Equação Anti-Vida é na verdade metade de um ser cósmico que foi dividido em dois pelo guerra dos velhos deuses (a outra metade da entidade cósmica é a Fonte, o limite do universo conhecido da DC Comics).

Nessa saga, os Novos Deuses morrem, e caem no mundo material que é a Terra (eventualmente, retornam incorporados em alguns seres e super-seres terrestres).

O escritor Grant Morrison também fez uso do dispositivo narrativo da Equação Anti-Vida. Em 2005, citou a fórmula em diversas edições da maxi-série Os Sete Soldados da Vitória, que tem participação de alguns dos Novos Deuses.

Na mega-saga Crise Final (2008), Grant faz os Novos Deuses mortos por Starlin retornarem na história. Nela, a fórmula é finalmente revelada como uma mágica que escava sua cabeça até você se tornar um escravo sem vontade.

Darkseid em Crise Final

Funciona na forma de som, imagens e dados digitais — Darkseid usa a internet para espalhar a Equação Anti-Vida, e assim controla bilhões de pessoas.

Usando a tecnologia de um dos inimigos do Batman, o Chapeleiro Louco, Darkseid provoca um loop infinito na mente da população, que ao serem forçadas e usar capacetes, se tornam os chamados justificadores, soldados-escravos do vilão.

Em uma página de texto publicada na revista Final Crisis: Secret Files, Grant Morrison tenta juntar sua visão da Equação Anti-Vida com a de Jim Starlin, criada um ano antes. Ele sugere que a Equação é realmente senciente, mas que Darkseid ainda não entende a verdadeira natureza, e não toma conhecimento disso, mesmo usando a fórmula.

Equação Anti-Vida

No reboot chamado Novos 52, feito em 2011, o conceito da equação é novamente usado.

Em 2012, a fórmula aparece na saga Terra 2, que tem envolvimento de Darkseid. E em 2017, na saga A Guerra de Darkseid, na revista da Liga da Justiça, descobrimos que a Equação Anti-Vida foi a fonte da criação do Universo Anti-Matéria.

Mobius, um cientista desse universo, ao ser tocado pela fórmula em determinado momento, é transformado no ser chamado Anti-Monitor, uma espécie de encarnação viva da Equação Anti-Vida.

O Anti-Monitor é responsável por uma das maiores e melhores sagas de quadrinhos de super-heróis já feitos, a Crise na Infinitas Terras, a mãe de todas as sagas. Trata-se de uma onda de anti-matéria que oblitera mundos, sua população e toda sua história em totalidade — passado e futuro.

Darkseid contra o Anti-Monitor. As tramas da DC pós-Flashpoint usam de outra maneira a Equação Anti-Vida

A Equação em audiovisual

No último episódio da série de desenho animado Liga da Justiça Sem Limites (2006), Darkseid se lança a uma invasão a Terra para escravizar a raça humana.

Isso obrigado heróis e vilões se unirem para tentar derrotar o novo deus. Lex Luthor acaba ultrapassando a Fonte, e renascido, surge nos momentos finais, de posse da Equação Anti-Vida.

Aqui ela é uma luz, na palma de sua mão, e a oferece para Darkseid, encerrando o conflito. Suas últimas palavras antes de sumir em um clarão ao pegá-la das mãos de Luthor é dizer que ela é linda.

Equação Anti-Vida
A Equação Anti-Vida em Liga da Justiça Sem Limites

Uma onda semelhante que parece agora tomar nosso mundo.

O pior de tudo é ver a consternação fake de jornalistas tidos como mais bem informados e conhecedores dos bastidores do Brasil, se espantando com o que os partidos políticos são capazes de fazer nos bastidores na condução do país e sua nova política de recuperação.

E nada pior do que ver 7 de 10 pessoas da base da pirâmide social, que nunca alcançarão a estratosfera onde políticos negociam cifras de R$ 500 mil semanais para um cala-boca, comprando a ideia de que tudo estava indo bem no Brasil.

O jornalismo passa por crise, e apenas mais dados podem dar um gás no motor para que não morra no meio do caminho, como já comentei neste artigo.

O que o futuro reserva? Na DC, um deles pertence ao Darkseid

/// REBOOT. Trata-se de uma reformulação criativa, feita de tempos em tempos por editoras de quadrinhos de super-heróis, onde anos de histórias e cronologia são apagadas ou simplificadas para dar início a novas histórias e direções, geralmente feitas comercialmente para atrair leitores novatos.

Obrigado por ler até aqui!

O Destrutor é uma publicação online jornalística independente focada na análise do consumo dos produtos e tecnologia da cultura pop: música, cinema, quadrinhos, entretenimento digital (streaming, videogame), mídia e muito mais. Produzir matérias de fôlego e pesquisa como essa, mostrando todas essas informações, dá um trabalhão danado. A ajuda de quem tem interesse é essencial.

Apoie meu trabalho

  • Qualquer valor via PIX, a chave é destrutor1981@gmail.com
  • Compartilhe essa matéria com seus amigos e nas suas redes sociais se você gostou.
  • O Destrutor está disponível para criar um #publi genuíno. Me mande um e-mail!

O Destrutor nas redes: Instagram do Destrutor (siga lá!)

Todas as imagens dessa matéria têm seus direitos reservados
aos seus respectivos proprietários, e são
reproduzidas aqui a título de ilustração.

LEIA TAMBÉM:

AGÊNCIA GLOBAL DA PAZ | O Grande Desastre na mitologia da DC Comics