EXPRESSO DO AMANHÃ | O otimismo infundado dos condenados

No mundo do Expresso do Amanhã, em 2014, depois de um experimento fracassado de um esforço conjunto de cientistas de todos os países, na tentativa de parar o aquecimento global, o mundo foi destruído.

As temperaturas abaixaram tanto depois de um produto jogado na atmosfera que isso inviabilizou a vida em todo o globo. Todo ser humano não tinha como se esconder do frio assassino, assim como nenhum animal e vegetal tinham condições de sobreviver.

A pouca gente que restou juntou o que podiam e se enfiaram dentro de um trem transcontinental, que percorre todos os países do mundo, sem parar.

O Snowpiercer (“perfura-neve“) é uma Arca de Noé expressa, com os poucos seres de uma raça que um dia dominou o planeta Terra. Dezessete anos depois, o Snowpiercer ainda percorre o que sobrou da civilização.

Ela está morta, assim como também está morta dentro do trem, que reproduz o nosso mundo enquanto sociedade e suas camadas e divisões, e problemas e soluções erráticas. É nisso que reside a tragédia do Expresso do Amanha, o belo e criativo filme de Bong Joon-ho.

Expresso do Amanhã
No fundo do mundo, a pobreza dos descartados

Baseada em uma história em quadrinhos francesa dos anos 1980, a graphic novel Le Transperceneige (publicada no Brasil com o título literal O Perfuraneve), Expresso do Amanhã se torna um louvor e elegia ao ser humano social.

Sua estrutura narrativa gira em torno da disrupção que é criada quando mais de um ser humano existe ao redor de algo ou alguém, o trem do Expresso do Amanhã é um tubo de ensaio para analisar a humanidade, onde são testadas suas capacidades de organização, justiça e relacionamento.

Quando o protagonista Curtis, interpretado por Chris Evans, passa vagão por vagão, o que vemos é um desfile com pinturas reais da sociedade estratificada.

Expresso do Amanhã é instigante e violento, repleto de ação e escárnio, e o diretor sul-coreano Bong Joon-ho, que se provaria um mestre da discussão social com seu filmes oscarizado Parasita (2018), elenca e monta um belo longa-metragem para contar uma história fantástica.

Expresso do Amanhã
Na frente do mundo, as riquezas dos privilegiados

Nessa eterna Era do Gelo encapsulada em um trem neonoir pós-apocalíptico, a convivência se torna o grande desafio para os últimos representantes da espécie, que rapidamente se adaptam e organizam a vida nesse novo habitat mecânico.

Nesse momento, os velhos mecanismos sociais são postos em funcionamento de novo, com a velha divisão de classes: os passageiros são divididos em “castas”, cada uma em um vagão, ficando os pobres no fundo e os ricos na frente, onde vivem suas vidas cheias de amor e ódio, racismo e preconceito, religião e alienação.

A fotografia de Kyung-pyo Hong, parceiro de Joon Ho em Mother – A Busca Pela Verdade (2009), é praticamente um personagem à parte no filme, que exige desprendimento de realidade. A ficção científica aqui serve de roupa sofisticada para as discussões sociais — que, uma vez nu, se sustenta sozinho.

Expresso do Amanhã
(Snowpiercer, 2013,
de Bong Joon-ho)

um trem de spoilers

Expresso do Amanhã
Apenas o trem Snowpiercer pode perfurar a verdade que mantém essa sociedade coesa

Desde 2014, o trem Snowpiercer trafega ao redor do mundo pela força de um moto-contínuo quase mágico, feito com o derretimento de gelo à frente da locomotiva que puxa a composição (de mais de 500 metros), que alimenta motores que transformam essa energia cinética em força elétrica para manter as centenas de vagões da composição.

Foi construído antes da destruição da Terra, e usado para salvação depois do fim dela, graças aos esforços do empresário e construtor do trem, Wilford.

Na frente do trem, vivem os mais abastados, uma classe rica que não trabalha, em luxo absoluto, com restaurantes, bares, escolas, saunas, boates e espaço. Quanto mais se vai para trás, encontramos mais pessoas pobres, vestidas com trapos, amontoadas em locais sujos, fedorentos e sem ventilação, e que se alimentam única e exclusivamente de uma barra de proteína.

Expresso do Amanhã
Edgar, salvo de canibais quando neném, e seu melhor amigo Curtis, que irá liderar uma revolução no trem

Em 2031, Curtis (Chris Evans) decide liderar uma revolução dentro do trem Snowpiercer, seguindo as orientações de Gilliam (Sir John Hurt), um dos homens mais velhos do trem. Juntos e com outros, eles vão tentar melhorar a precária, sofrida e breve vida de mais de mil pessoas que vivem no fundo do longo trem salvador da humanidade.

Privados de luz externa, comida e água em quantidade suficiente para todos, a vida ali é terrível, e não dá mais para aguentar.

Soldados armados cuidam de manter todo o fundo em ordem, para a sociedade do trem funcionar.

Soldados e pessoas de “castas” superiores tratam a classe do fundo como qualquer coisa, menos como humanos, como separar um violinista de sua esposa para as classes mais abastadas terem música em seus jantares fartos. Já ocorreram evoluções anteriores, mas de acordo com Curtis, não deu foram para frente porque não tomaram a locomotiva da composição, lugar onde se encontra Wilford, o dono do trem, o homem quem construiu o trem, que deixou todos os passageiros entrarem no trem.

Wilford é Deus no mundo-trem de Snowpiercer.

Timmy, o pequeno filhinho de Andrew (Ewen Bremner) e Tanya (Octavia Spencer), é levado à força para viver na frente e abastada classe social mais rica, e os passageiros se revoltam. É quando aprendemos mais sobre esse mundo mecanizado de privilégios.

Uma autoridade do trem aparece em meio aos guardas e soldados, Mason (Tilda Swinton), uma mulher raivosa e de fala técnica, que chama a atenção dos passageiros da classe mais baixa e pobre: “Eu sou o chapéu. Vocês são o sapato.”

Curtis literalmente paga para ver ao se revoltar sob a mira de metralhadoras dos soldados — ele acredita que há muito tempo não há mais balas no trem, depois de tantas revoluções e tiros disparados.

O diretor Joon-ho faz de modo magistral todo esse ato, e finalmente nós iremos acompanhar mais sobre esse estranho mundo do trem.

Namgoong Minsoo (Kang-ho Song), um chaveiro viciado em kronon, uma droga ilegal que existe no trem, pode abrir todos os portões, e tem que ser acordado de sua sono-prisão para isso. Ele só aceita trabalhar quando sua filha, Yona (Asung Ko), também é libertada.

Curtis é acompanhado de perto por Edgar (Jamie Bell), garoto que é seu melhor amigo, bem mais voluntarioso e desejoso de conhecer outra vida que não aquela miserável do fundo do trem.

Por Andrew ter perdido seu braço na punição por não permitir o rapto de seu filho, quem acompanha Curtis na rebelião é Tanya, que mais do que tudo, quer seu filho de volta.

Gilliam é servido de perto por Grey (Luke Pasqualino), um jovem calado e muito ágil, um elemento parkour dentro do apertado trem Snowpiercer.

O mundo morto e gelado lá fora reflete os corações de quem está dentro do trem

Todos juntos avançam então para cima dos soldados, tendo sucesso em sobrepujá-los.

Quando passam para outro vagão, é a primeira vez que muitos veem uma janela — nós também, enquanto espectadores, isso com mais de 30 minutos de longa-metragem –, e percebemos o mundo branco e gelado de fora do Snowpiercer.

No primeiro vagão tomado, é dado o conhecimento para todos de como e do que é feita a barra de comida que serve de alimentação única para a classe baixa.

O segundo vagão mostrado é terrível, com guardas bem preparados com muita proteção e empunhando com machados, prontos para despedaçar qualquer esperança.

Na luta que se segue, o trem passa pela ponte Yekiaterina (não é dito o local exato), que marca a passagem do Ano Novo para os passageiros do Snowpiercer esse é o modo como os passageiros contam o tempo em um calendário próprio.

Uma emoção a mais durante a luta é perceber que além de seus conflitos internos, o trem tem que vencer o gelo acumulado dos trilhos, que parecem aumentar de ano em ano. Depois da ponte, entramos em um longo túnel escuro, ainda durante a luta.

É mais uma boa oportunidade de ver o belo exercício cinematográfico de Joon. Logo a escuridão é destruída graças a tochas acendidas pelos rebeldes, com os poucos palitos de fósforos restantes.

A força autoritária que mantém em rédeas curtas qualquer motim

A luta é vencida por Curtis e sua revolução, com um alto preço. É nessa hora que Curtis perde Edgar, morto a sangue-frio por Franco (Vlad Ivanov), um homem loiro implacável que comanda os soldados.

Curtis vê seu jovem melhor amigo morrer, tudo para manter uma poderosa moeda de troca — Mason, feira refém.

Pouco antes, Franco viu seu irmão mais novo (Adnan Haskovic) morrer, fato que o incendeia como gasolina atrás de vingança, e que se mostraria letal para todos. Curtis e seu exército dormem pela primeira vez “livres”, mas com um amargo gosto na boca.

Mason se mostra muito hábil em se manter viva, e na base do papo, consegue se manter respirando. Giliam dá um bom conselho para Curtis ao dizer para não dar ouvidos a Wilford, de nenhuma maneira. O terceiro vagão mostrado é uma floresta, destinada ao cultivo de vegetais.

O quarto mostrado é um vagão-aquário — até um sushi bar tem lá. O quinto vagão é um abatedouro de carne, e o sexto vagão mostrado é uma sala escolar infantil, onde aprendemos com a professorinha (interpretada por Alison Pill) um pouco mais sobre a história e a trajetória do trem.

Por exemplo, quando o Snowpiercer passa pelos trilhos localizados no Brasil, é o “feriado de verão” no trem. Além do nosso país, o trem passa pelo resto das Américas, Rússia, países do sul da Ásia e alguns do Oriente Médio, países da costa africana no Mar Índico, em 437 mil quilômetros de trilhos espalhados pelo mundo.

Também ficamos a par dos “sete condenados” — há 15 anos, no terceiro ano de funcionamento do trem, sete passageiros tentaram parar o trem e sair.

Eles andaram poucos metros e morreram congelados na caminhada. Isso ficou conhecido no trem como “A Revolta dos Sete“, e os corpos congelados ainda podem ser vistos no mesmo local.

Com muito custo, Curtis e seus revolucionários conseguem tomar vagões, e o escolar infantil dos ricos é emblemático: é possível reconhecer você em outro completamente diferente?

Em certo momento, Curtis recebe um ovo, o símbolo de uma promessa morta de vida, e que é a deixa de uso de metralhadoras por parte dos soldados do trem, artefatos até então inexistentes dentro do trem, mas que estavam escondidos dentro dos carrinhos de comida que traziam os ovos.

Assim, os soldados conseguem debandar parte da rebelião, com muitas mortes à chumbo grosso. Franco consegue chegar no líder, Gilliam, e o mata.

E a morte dele é o nascimento de Curtis como líder. O sétimo vagão mostrado é como o de um trem clássico: com cômodos, restaurantes, consultório dentário, alfaiate e salão de beleza. mas Curtis ainda prossegue sua luta para tomar a locomotiva, e Franco vai em seu encalço, matando passageiros e soldados no processo.

O diretor Bong Joon-ho cria em Franco um dos mais implacáveis e odiados vilões do cinema

Franco mata Grey, mata Tanya, e sobra para Goong Minjoo a enorme responsabilidade de pará-lo. O próximo vagão é de balada, o lugar do hedonismo no mundo-trem de Snowpiercer.

O vagão seguinte é o tecnológico, com as CPUs e o monitoramento dos sistemas de todo o trem. Ele prenuncia o fatídico destino de Curtis, quando finalmente consegue se encontrar perto de Deus: Wilford (Ed Harris), o engenheiro-magnata que criou o Snowpiercer.

O texto expresso do filme
não é sobre o amanhã,
é de hoje, aqui e agora

Expresso do Amanhã
Até onde Curtis tem que ir pela revolução?

Mas nessa altura, Curtis está destroçado, física e psicologicamente. E talvez seja por isso que ele decide contar para Namgoong Minsoo coisas que desafiam os limites.

Eram mil pessoas numa caixa de ferro sem água e sem comida, e Curtis diz aos prantos como era ser um canibal, e saber que bebês são mais gostosos.

Momento sublime do diretor Joon e do ator Chris Evans, que conseguem criar uma envergadura dramática à altura na cena. Curtis ainda diz que Edgar era um desses bebês, e que Gilliam não tem um braço porque ele mesmo o cortou para dar de comer aos canibais.

Curtis era um deles. Era ele com uma faca pronto para matar o bebê Edgar. Era ele quem momentos antes matou a mãe dele. Curtis era o assassino da mãe de Edgar.

Edgar, mais ligado à Curtis do que parece 

O coreano ouve tudo com atenção, mas o que ele quer mesmo é sair do trem, e não abrir a porta onde se esconde Deus.

Há 10 anos, o chaveiro viu um avião enterrado na neve em certo momento no percurso do trem, quando ele passava por cima das montanhas, e notou que ele aparecia cada vez mais a cada ano.

Nesse momento, Claude (Emma Levie), a assistente de Wilford, aparece, dá um tiro no coreano, e enfia Curtis para dentro da locomotiva.

Ele finalmente encontra Wilford, o dono do trem, que tem uma retórica e lábia incríveis, e o diretor Bong Joon-ho não economiza isso ao criar o personagem. Não há espaço para a seleção natural dentro do trem, por isso Wilford fomenta rebeliões de tempos em tempos. Um acordo que previa Gilliam ser uma figura que inspirasse outros em mais rebeliões.

E agora que ele está morto, Wilford quer que Curtis ocupe esse lugar, que ainda descobre a razão da necessidade de crianças raptadas no trem: elas são escravizadas e aprisionadas em compartimentos de mecanismos e engrenagens, para fazer o Snowpiercer funcionar.

Então não é sem surpresas que Curtis resgate Timmy exatamente de um local como esse, sacrificando seu braço no processo.

Curtis encontra “Deus” no trem

Não bastasse isso, Bong Joon-ho ainda intercala cenas com Franco AINDA vivo. Ele e uma horda de clubbers psicóticos assassinos partem pra cima de Minsoo, que ainda estava vivo, e de Yona, que estava escondida.

E é ela, com o último palito de fósforo do mundo, que provoca uma explosão no Snowpiercer na porta de saída do trem.

A explosão descarrilha o trem, e Bong Joon-ho não se importa de mostrar o que aconteceu com os passageiros (mais de 3 mil), muito menos com Curtis e Wilford. O que se vê é apenas Yona e Timmy, ainda vivos, e todo o resto presumivelmente mortos.

Os dois saem e enxergam um urso polar. Há vida fora do Snowpiercer. E uma promessa de libertação para os mais novos.

 

Promessa de nova vida

A construção desse trem

Expresso do Amanhã foi o primeiro filme em inglês do diretor e escritor Bong Joon Ho, que ficariam mundialmente conhecido em 2019 ao ganhar vários Oscar por seu Parasita.

A história de Expresso do Amanhã é baseada na HQ francesa Le Transperceneige, e Ho a descobriu no final de 2004, durante a pós-produção de seu filme O Hospedeiro (2006). Para o desenho do fundo do trem, onde moram os protagonistas do longa,ele chamou Jean-Marc Rochette, o desenhista original da HQ, para fazer as artes que aparecem em tela.

Em um primeiro momento, Ho pensou em um homem para o papel de Mason, e o ator que ele queria era John C. Reilly. Mas a vinda de Tilda Swinton mudou isso, e ele adaptou certos trechos, ao mesmo tempo que deixou outros de propósito.

O diretor Bong Joon-ho e sua equipe

Ho teve muitas reservas para aceitar Chris Evans no papel principal — foi ele mesmo quem ligou para o diretor se oferecendo ao papel — pois o protagonista teria que ser alguém exaurido fisicamente pelas privações de comida e bem-estar, e Evans vinha diretamente de um papel onde interpretou ninguém menos que o Capitão América, um herói no auge da perfeição física.

Um jogo de cenas e câmeras e roupas se encarregou de esconder o físico do ator. Aliás, Expresso do Amanhã foi o segundo filme de Evans em um futuro congelado, pois ele já tinha feito Sunshine – Alerta Solar (2007).

Para Sir John Hurt, o Expresso do Amanhã foi o terceiro filme de distopia sci-fi em sua carreira: 1984 (1984) e V de Vingança (2005).

O nome de seu personagem, Gilliam, foi uma homenagem de Joon Ho para Terry Gilliam, o ex-Monty Python que se tornou cineasta, e que fez vários filmes distópicos, como Brazil: O Filme (1985), Os 12 Macacos (1995) e Teorema Zero (2013).

Jamie Bell e Chris Evans interpretaram em momentos distintos os primeiros heróis da Marvel Comics nos cinemas, o Quarteto Fantástico, quando a marca ainda estava sob licença da Fox

 Evans foi o Tocha Humana em Quarteto Fantástico (2005) e Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (2007), e Bell fez o Coisa em Quarteto Fantástico (2015), o reboot da franquia, que conseguiu ser um fracasso ainda maior que os dois filmes de Evans.

Chris Evans e Alison Pill também apareceram em outra adaptação de quadrinhos no cinema, quando fizeram Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010).

Apesar de bem-sucedida na Coréia do Sul, Expresso do Amanhã sofreu gigantescos atrasos na distribuição nos EUA e outros importantes territórios, tudo “graças” a Harvey Weinstein, que exigiu um corte de 20 minutos na duração e inserção de narrações de abertura e encerramento, algo veementemente rejeitado pelo diretor Ho.

Os quadrinhos do
Expresso do Amanhã

Expresso do Amanhã
O quadrinho do Expresso do Amanhã no Brasil se chama O Perfuraneve

O francês Jacques Lob foi quadrinista desde o começo dos anos 1960, e realizou trabalhos para as maiores publicações de quadrinhos europeias, como Pilote, Spirou e Record.

Começou nos desenhos e depois nos roteiros, tendo trabalhado em conjunto com artistas como Jean-Michel Charlier, Jean-Claude Mézières, Pierre Guilmard, Jo-El Azara, Jijé, Jerry Spring, Georges Pichard, Gotlib, entre outros ilustres. Seus trabalhos mais famosos são a sensual e azarada Blanche Épiphanie e Superdupont, uma paródia das atitudes nacionais do Superman e da França.

Lob começou sua carreira como ilustrador de desenhos animados humorísticos que foram publicados em várias revistas, até que ele foi aconselhado a focar em sua escrita por Jean-Michel Charlier. Em 1982, Lob criou Le Transperceneige, o nome original dos quadrinhos no qual Snowpiercer foi baseado, publicada pela editora Casterman, sob o formato de graphic novel.

Esse é o nome dado ao modelo de mais prestígio e sofisticação de uma publicação em HQ, com maiores dimensões, capa dura, papel de mais qualidade e melhor impressão. Lob criou a história com os desenhos de Jean-Marc Rochette.

O desenhista publicou seus primeiros trabalhos na Actuel em 1974 e, em seguida, colaborou com o Mandryka (Anodin et Inodor) e com Martin Veyron (Edmond le cochon) em L’Écho des savanes.

Em 1982, depois de Expresso do Amanhã, veio Requiem blanc, em 1986, com roteiro de Benjamin Legrand. Entre 2002 e 2009, Rochette assinou histórias em quadrinhos com René Pétillon e Fred Bernard.

Além disso, ele ilustrou vários clássicos da literatura, como A Odisseia, Pinóquio, Cândido, O Pequeno Polegar, bem como vários outros livros infanto-juvenis. Desde 2009, ele vive e pinta em Berlim.

Depois da morte de Lob em 1990, Rochette continuou a trama de Expresso do Amanhã em The Explorers (1999) e The Crossing (2000), com Benjamin Legrand, editor do material original de Lob, que pegou para si a missão de continuar a narrativa dele.

Um quarto volume foi criado em 2015, chamado Terminus, escrito por Olivier Bocquet, e que serve de conclusão para a série.

Todos os trabalhos foram traduzidos para o inglês pela editora Titan Comics em 2014 sob o nome de Snowpierecer: The Escape e Snowpiercer: The Explorers.

Quando Bong Joon-ho adaptou a HQ para o cinema em 2013 como um longa-metragem, o sucesso foi enorme.

Esse sucesso levou a obra de HQ também para o formato televisivo de seriados. Josh Friedman escreveu e Bong serviu de produtor executivo para 10 episódios da série Snowpiercer, feitas para o canal americano TNT, e depois disponibilizados para o serviço de streaming Netflix.

O diretor Scott Derrickson , que fez filmes como O Exorcismo de Emily Rose (2005), O Dia em que a Terra Parou (2008) e Doutor Estranho (2016), dirigiu o piloto da série, e também foi o produtor executivo da série.

Mas o pedido de regravações massivas do piloto, com alterações profundas nos roteiros e caracterização de personagens, fez Scott pular fora desse trem.

A estrela principal do seriado de Snowpiercer é Jennifer Connelly, atriz consagrada dos cinemas, dona de um Oscar, e que já tinha trabalhado com Scott em O Dia em que a Terra Parou.

O seriado tem outro mote para os passageiros do Snowpiercer, e Jennifer Connelly desempenha um papel central e bombástico na trama.

No Brasil, a editora Aleph trouxe a obra integral de Lot e Benjamim em edição única em 2015. A história em quadrinhos de Expresso do Amanhã — que aqui foi chamado de O Perfuraneve, nome mais próximo do que significa Snowpiercer –, segue algumas coisas do filme, mas a obra original tem muitos elementos que não foram trazidos para as telonas.

Nas HQs, o Snowpiercer é formado por 1.001 vagões, e o personagem principal é Perloff, pobre do fundo, que junto com Adeline Belleau, uma “classe média pobre” do meio, começam a integrar uma rebelião.

O Coronel Krimson é um dos que mandam no trem, e ao notar que ele está começando a ficar lento, o que iria atrapalhar a geração de energia por cinética, a fonte de energia, toma como única medida possível se livrar dos vagões onde há gente pobre.

Também há um vírus perigoso em circulação, e Perloff conhece o engenheiro Alec Forrester, que cuida de “Olga“, o motor que dá vida a locomotiva.

Nas continuações feitas por Benjamim, ele manteve intacto o que Lob estabeleceu, mas precisou expandir a mitologia para criar uma história que se sustentasse sozinha. Sendo assim, as HQs seguintes mostram a existência de outro trem em circulação pelos trilhos, o chamado Icebreaker (Desbrava-Gelo), que tem outros personagens em diversas tramas, alguns anos a frente da atual cronologia.

Também ficamos sabendo da existência de um sinal de rádio em meio a um oceano congelado, e que o trem pode avançar em caminhos onde não há trilhos.

A distopia alcança níveis inimagináveis quando uma estação de trem é localizada, e que emite sinais de vida. O Icebreaker chega até lá, apenas para descobrir que os seres humanos ali residentes, debaixo da aparente normalidade de uma sociedade que consegue se manter no frio, e de boas-vindas, doação de comidas e exames médicos, são na verdade loucos que prologam suas vidas com sangue de bebês, e que de 10 trens de motor-perpétuo construídos, o Icebreaker é o sétimo a ser capturado por eles.

Expresso do Amanhã

Expresso do Amanhã
O quadrinho original de Expresso do Amanhã

Obrigado por ler até aqui!

O Destrutor é uma publicação online jornalística independente focada na análise do consumo dos produtos e tecnologia da cultura pop: música, cinema, quadrinhos, entretenimento digital (streaming, videogame), mídia e muito mais. Produzir matérias de fôlego e pesquisa como essa, mostrando todas essas informações, dá um trabalhão danado. A ajuda de quem tem interesse é essencial.

Apoie meu trabalho

  • Qualquer valor via PIX, a chave é destrutor1981@gmail.com
  • Compartilhe essa matéria com seus amigos e nas suas redes sociais se você gostou.
  • O Destrutor está disponível para criar um #publi genuíno. Me mande um e-mail!

O Destrutor nas redes: Instagram do Destrutor (siga lá!)

Todas as imagens dessa matéria têm seus direitos reservados
aos seus respectivos proprietários, e são
reproduzidas aqui a título de ilustração.

LEIA TAMBÉM:

SNOWPIERCER, O EXPRESSO DO AMANHÃ | “Todos pelo Trem” e pela série de Jennifer Connelly

SNOWPIERCER SEGUNDA TEMPORADA | O fundo é a nova fronteira na guerra fria

SNOWPIERCER TERCEIRA TEMPORADA| Destino manifesto do Expresso do Amanhã