PORSCHE CHALLENGE | O poder de uma marca na indústria dos games

Porsche Challenge, um game de corrida simples, com 4 opções de pistas em 3D que somam mais de 20 combinações, e carros renderizados com mais de 500 polígonos — um luxo em 1997, ano de lançamento –, tornam o jogo charmoso, bonito e uma boa opção para se divertir no console de videogame 32-bits Playstation da Sony.

Ele foi licenciado diretamente da famosa marca alemã de carros esportivos, e produzido para fazer propaganda de seu Boxter, com cada carro modelado com as especificações exatas dos veículos.

Com possibilidade de gameplay para até dois jogadores, Porsche Challenge é um jogo de corrida típico dos anos 90, e que se não é dos melhores, dá a chance de botar as mãos atrás de um volante de um Porsche, o veículo com design mais anatômico e emocional da indústria automobilística.

Até por isso que nas colisões o veículo não amassa, já que U$ 50 mil doletas era seu preço na época (na vida real, se você pudesse pagar por um, é lógico).

O Playstation começou com um game de corrida — Ridge Racer (1994) — e seu game mais vendido é outro de corrida — Gran Turismo (1997). E Porsche Challenge antecipa certos aspectos desse último.

Porsche Challenge
A capa do jogo para o Playstation da Sony

Pra começar, vamos assumir que a maioria de nós certamente nunca dirigiu um Porsche. Nem nunca irá. Bem, a experiência proporcionada por Porsche Challenge era a mais significativa que se tinha nos anos 90 a respeito de ter o volante de um nas mãos.

Não é nada diferente do que a esmagadora maioria de arcade games de corridas da indústria, com controles limitados e poucas opções, mas como na vida real, é o charme que faz a diferença.

O Boxster da Porsche é um modelo de carro roadster com motor central produzido pela Porsche desde 1996. Ele assumiu o lugar do 968, que até então era o menor e mais acessível modelo da marca.

Roadster é um termo popularizado nos EUA para um carro de dois lugares e sem teto fixo, sem janelas retráteis e com o pára-brisas aparafusado, ao invés de integrado na carroçaria.

Atualmente, o termo é usado para descrever conversíveis de dois lugares sem armação para as janelas.

Porsche Challenge
O Porsche Boxter lançado na segunda metade dos anos 1990

Porsche Challenge foi lançado em junho de 1997 na Europa, e desenvolvida pela softhouse SCEE Internal Development Team e publicada pela própria Sony, sob licença da Porsche. Uma das pistas é a de testes da marca na cidade alemã de Stuttgart.

A tela de opções iniciais, na cara dura, oferece a View Boxter, onde temos acesso a um pequeno vídeo com pouco mais de 2 minutos, onde vemos um pequeno making-of do Porsche Boxter.

O carro chega de 0 a quase 100 quilômetro por hora em meros 6,7 segundos, e pode manter uma performance constante de 150 km/h, chegando até 200 km/h. São 201 cavalos no motor de seis cilindros e 24 válvulas.

O gameplay do jogo Porsche Challenge

Porsche Challenge
Algumas das pistas são largas o suficiente para boas manobras

A inteligência artificial dos competidores faz o desafio de Porsche Challenge ser bastante alto.

É preciso atenção para ficar na pista, não bater em nada e realizar boas curvas para manter a velocidade constante e abrir uma boa vantagem para terminar a corrida e não deixar nenhum inimigo ultrapassar.

Tem um loading muito rápido para os games da época, integrando-o a um mapa de onde iremos correr, uma uma barra de avanço que não dá nem 10 segundos de espera.

O jogador pode escolher entre 6 pilotos, cada qual com seu Boxter, e necessariamente tem que vencer em primeiro lugar em todas elas.

Cada piloto tem suas interações uns com os outros, que provocam diferenças conversas durante a corrida, entre elogios e ofensas.

São apenas 4 pistas, mas elas se modulam de diferentes formas.

Porsche Challenge
Um grande diferencial do jogo era o carro ser aberto, e poder enxergar o piloto ao volante

Há 3 modos distintos no championship (campeonato).

Classic – os jogadores realizam uma partida clássico estilo arcade. Chegue em primeiro durante as 4 corridas e você é o vencedor.

Long – os jogadores encontram as mesmas pistas, mas com diferenças de atalhos e caminhos. O desenho 3D da pista em si não muda, mas há o acréscimo de barreiras e aberturas e fechamentos de via durante o percurso.

Interactive – os jogadores encontram uma soma das duas anteriores, com mudanças a cada volta pela pista.

Uma bateria completa para finalizar os games envolve fazer essas 12 corridas. Cada corrida tem 3 ou 4 voltas.

Há ainda as tradicionais opções de time trial, para os desafiadores que gostam de correr em menor tempo.

E o practice mode, para praticar um pouco e pegar as manhas do jogo antes de entrar nos finalmentes.

Além é claro do habitual modo multiplayer para dois jogadores, em tela dividida em split-screen, onde podemos optar por entre uma single-race, ou o modo championship. E a opção de ângulo de câmera aqui é restrita a uma.

Como todo jogo de corrida, há a opção de jogar em primeira pessoa. Mas por qual razão alguém faria isso?

Antes de pisar no acelerador, é possível escolher a formatação dos controles, como arcade ou simulação, câmbio automático ou manual, e a dificuldade do computador, que no talo é literalmente “evil!”.

A corrida começa com o piloto escolhido em sexto lugar, e é com você sair dessa posição e conseguir ficar em primeiro.

A interface gráfica independe da escolha de ângulos de câmeras. Na tela, é mostrado sua posição; o tempo total da corrida; o tempo para o próximo checkpoint (29 segundos de renovação, e caso se esgote, já era a corrida); a quantidade de voltas completadas; um pequeno radar circular para identificar a aproximação dos oponentes; e o velocímetro.

Podemos selecionar como piloto Beats, um DJ inglês; Dan, um kickboxer americano; Taka-bo, um jovem hacker japonês; Marco, um mecânico italiano; Rachel, uma modelo sueca; e Nikita, uma jornalista francesa.

De personagem secreto temos o misterioso piloto “test driver“, que aparece de tempos em tempos no ciclo de 20 corridas.

Antes da corrida, outros ângulos nos dão uma boa visão do carro e dos pilotos concorrentes

Todos eles tem seu próprio Porsche Boxster, muito bonito correndo nas pistas. As corridas são locais espalhados pelo mundo: Estados Unidos, Japão, Alpes suíços e Stuttgart, a já mencionada pista oficial da Porsche na Alemanha.

São oferecidos três ângulos de câmera para a pilotagem — primeira pessoa e duas distantes o suficiente para ser ver o veículo.

Cada modelo Boxter é construído com mais de 500 polígonos, fato que era vendido comercialmente na propaganda do game, já que tal quantidade ainda era rara nos jogos 3D, ainda mais nos de corrida.

Realmente, cada modelo dos Porsches são muito bonitos, oferecendo mais detalhes do que outros games da época, e que mesmo hoje resistem a um olhar crítico.

A jogabilidade esbarra na juventude dos jogos 3D. Há pouca sensação de velocidade atrás de um volante de um Porsche como a marca naturalmente exala, e a construção dos cenários em tempo real não colabora muito para uma boa imersão.

Mas é rápido o suficiente para ultrapassar os inimigos. Para se fazer curvas é preciso atenção na velocidade desempenhada e nos freios.

O videogame como peça de marketing

Não há como esconder: Porsche Challenge é uma peça de marketing bem produzida para fazer propaganda do Boxter. Por sorte, o game tem qualidades que o salvam por si só. Ele foi o primeiro lançamento da divisão europeia da Sony.

Com opções de linguagem fora do chavão inglês, dava pra selecionar os idiomas italiano, francês e alemão, o que ajuda a explicar a popularidade e boas vendas que Porsche Challenge teve na Europa.

O apelo do charme de um dos carros mais conceituados do mercado de veículos turbinou as vendas de Porsche Challenge, e ele teve vendas excepcionais na Alemanha, Áustria e Suíça.

Uma versão “platinada” do game chegou a ser lançada em comemoração pela venda de mais de 100 mil unidades do jogo.

A equipe que desenvolveu o jogo foi a Team SoHo, uma empresa da Sony alocada em Londres em 1993, e que se notabilizou em produzir diversos jogos de esporte.

O game de corrida Rapid Racer e o Spice World precederam Porsche Challenge, e os jogos NBA ShootOut ’97 foram os seguintes. Porsche Challenge demorou 2 anos para ser lançado, e estava em desenvolvimento desde 1995, ano de lançamento do console PlayStation.

A trilha sonora ajuda com a tensão, com um ótimo mix de rock, funk e lounge, e continua atual até hoje. Méritos do compositor Jason Page, que alcançaria excelência em Gran Turismo em suas versões europeias e americanas.

Uma das telas iniciais, destacando a marca Porsche

A marca Porsche tem um histórico nos videogames. Um dos mais famosos e polêmicos foi o último licenciado exclusivamente, o Need for Speed Porsche Unleashed, lançado em 2000 – em fevereiro para PlayStation, e em março para PC (houve uma versão para Game Boy, lançada em 2004), pela softhouse Electronic Arts – EA, conhecida mundialmente por produzir jogos de esporte, como o famoso FIFA.

Need For Speed Porsche Unleashed é o quinto game da franquia regular, e o primeiro dedicado inteiramente a uma única fabricante de automóveis, um claro ponto fora da curva do gameplay tradicional do Need For Speed, marcada por jogabilidade arcade com corridas ilegais, perseguições policiais e esportivos variados.

Dessa vez era uma simulação precisa e mecânica realista no comando de um Porsche. A versão para PlayStation tinha uma opção para acompanhar toda a timeline da marca automobilística, do primeiro 356 até o Boxster, passando por todas as gerações do 911, e incluindo carros de competição como o 550 Spyder e o 917.

Estava na cara que a Porsche pediu um produto do seu jeito para a EA. Isso pode servir para explicar por que Gran Turismo, de dezembro de 1997, mesmo ano de lançamento de Porsche Challenge, e Gran Turismo 2, de dezembro de 1999, já não tinham os carros da Porsche.

Bem como todos os outros jogos de corrida lançados a partir do fim dos anos 1990 por outras empresas que não fossem a Electronic Arts.

Porsche Challenge não foi o primeiro game de corrida com licença oficial operando nos games dos anos 90. Ele foi precedido pelo Jaguar XJ220 (tem matéria dele no blog, aqui), o Lotus Esprit Turbo Challenge e a Ferrari F40 que encontramos em OutRun.

JAGUAR XJ220 | A música de jazz eletrônico nos games

Havia carros licenciados da Porsche na série Test Drive, da Accolade; Top Gear Overdrive, lançado pela Kemco para o Nintendo 64; TOCA 2: Touring Cars, da Codemasters.

Hoje em dia, a licença com a Electronic Arts já expirou, e é possível encontrar carros da Porsche em títulos como Gran Turismo Sport, lançado em 2017, e DiRT Rally 2.0, que saiu em fevereiro de 2019.

Uma jóia no tesouro do Playstation

Porsche Challenge
Um jogo perto da meia vida do Playstation, com gráficos honestos para o período e uma jogabilidade competente, Porsche Challenge é um game que merece ser jogado

Por ser novata na indústria, a Sony não contava com games próprios no início do PlayStation, dependendo exclusivamente de estúdios terceiros, as chamadas third parties.

Como forma de atrair softhouses para competir com o Nintendo 64, console de 64-bits, que usava cartuchos, e o Sega Saturn, console de 32-bits da Sega, a Sony desenvolveu seu console para rodar primariamente polígonos, e jogos em formato CD-ROM, uma mídia com maior capacidade do que o cartucho.

Essas duas opções foram para bater o N64 da Nintendo, que armazenava muito menos, e o Saturn, que privilegiava jogos 2D. Também a Sony promovia uma taxa baixa cobrada para permitir o lançamento dos jogos e liberação de temática adulta.

Essas foram algumas das armas para a Sony para lutar na guerra dos videogames na segunda metade dos anos 1990.

As softhouses responderam positivamente, e em alguns anos o Playstation foi palco para atuação de jogos que hoje são verdadeiros clássicos: Resident Evil, Final Fantasy VII, Metal Gear Solid, Castlevania Symphony of the Night, Silent Hill entre outros.

Franquias como Metal Gear e Final Fantasy inclusive fizeram sua transição para o mundo dos polígonos no Playstation. Tempos depois, a própria Sony passou a investir em games próprios, e em até franquias próprias, como Crash Bandicoot, PaRappa The Rapper, Syphon Filter, Spyro The Dragon.

Porsche Challenge
O CD de Porsche Challenge

O Playstation começou a carreira com o Ridge Racer e outros games que, pra ser sincero, faziam um line-up de lançamento bem medíocre.

O game de corrida Ridge Racer, direto dos arcades da Namco, usava polígonos e era a grande novidade da época.

Mas ele perdia em muito para seu concorrente, Daytona USA, a ponta de lança da Sega nos arcades e também no Sega Saturn: os gráficos, jogabilidade e sensação de velocidade eram muito superiores no Daytona.

Os outros games do line-up incluíam mais esportes, como NBA Jam Tournament Edition, um jogo de basquete, um port de um jogo que o Mega Drive (Genesis nos EUA) e Game Boy conseguiam fazer. A Sony trouxe Rayman, que mudou de casa, já que era da Atari, em seu projeto maluco de 64-bits chamado Jaguar. Havia também um dos piores games de luta do mercado, o Street Fighter: The Movie, jogo baseado no filme de mesmo nome, e diferente da versão de arcade. Parte do time de desenvolvimento era o mesmo de Mortal Kombat, por isso a semelhança de gráficos, gameplay e proposta.

O game mais importante foi sem dúvida Battle Arena Toshinden, um dos primeiros jogos de luta 3D da indústria, com cavaleiro medieval, guerreiros de tacape, ninjas, samurais e demônios se enfrentando em arenas circulares com movimentação livre para ataques, defesas e golpes especiais em todos os ângulos.

Foi o pré-Soul Edge e morreu quando outros games como ele e Tekken (ambos da Namco) emergiram com jogabilidades melhores. Saiu um port desse game também para o concorrente Sega Saturn, chamado Tohshinden S.

Porsche Challenge
A tela de abertura do game

Porsche Challenge é uma das jóias perdidas do primeiro videogame da Sony, um console que contou com uma biblioteca gigantesca.

A Sony encerrou a produção do PlayStation (que também era conhecido pela sigla PSX, e que teve uma segunda versão, chamada Playstation One) apenas no fim de 2004, 10 anos após o lançamento do videogame, um fato que demonstrou o sucesso do videogame da softhouse japonesa.

A produção de jogos continuou até março de 2006, quase 12 anos após a estreia,e alguns meses antes do lançamento do PlayStation 3.

O videogame recebeu 7.918 games no total. Dados do site VGChartz indicam vendas de 962,01 milhões de unidades de jogos. Foi Gran Turismo que levou o gênero de jogos de corrida em consoles para um novo patamar.

É dele o recorde de vendas do console: atingiu a marca de 10,95 milhões de unidades. Atrás dele ficou Final Fantasy VII, com 9,72 milhões, seguido de Gran Turismo 2, com 9,49 milhões; Final Fantasy VIII com 7,86 milhões.

Formas de apoiar o Destrutor

Todo dia eu, Tom Rocha, tô por aqui (e aqui: Twitter e Instagram)
Quer apoiar o Destrutor? tem um jeito simples de fazer isso – é só deixar uma contribuição (ou duas, ou quantas mais quiser)

A chave PIX é destrutor1981@gmail.com

O Destrutor é uma publicação online jornalística independente focada na análise do consumo dos produtos e tecnologia da cultura pop: música, cinema, quadrinhos, entretenimento digital (streaming, videogame), mídia e muito mais. Nosso principal canal de financiamento é o apoio direto dos leitores. E produzir matérias de fôlego e pesquisa como essa, mostrando todas essas informações, dá um trabalhão danado.

Ajude o Destrutor a crescer, compartilhe essa matéria com seus amigos e nas suas redes sociais se você gostar! Se você gostou desse post, considere compartilhar com quem você acha que vai gostar de ler também. Você pode indicar os posts para seus amigos, seus conhecidos, seus crushes, seus colegas.

E obrigado por ler o blog até o final =)

* Todas as imagens dessa matéria têm seus direitos
reservados aos seus respectivos proprietários, e são
reproduzidas aqui a título de ilustração