O desenhista Marc Silvestri é um dos mais dinâmicos e cinéticos da indústria americana de quadrinhos de super-heróis.
Sua arte, cheia de poses estilosas e cenas de ação espetaculares, tem uma velocidade e fluidez narrativa, num mood rascunho rápido, que poucos artistas conseguem passar para o papel.
É tudo veloz e urgente, no limite do estilizado das formas humanas, com caras fortes e mulheres top model quando necessário.
Os criativos ângulos e escolhas de espaço e preenchimento de sombras e contrastes contribuem para uma composição que é raro de ser ver numa HQ.
Foram anos de trabalho no começo dos anos 1980 nas editora DC Comics e Marvel Comics, até Marc Silvestri se tornar um superstar em títulos como X-Men e Wolverine na Marvel, de onde saiu para mudar para sempre a indústria de quadrinhos, ao fundar com outros seis colegas artistas a editora Image Comics.
Marc Silvestri nasceu em março de 1958, na cidade de Palm Beach, Florida, Estados Unidos.
Graças a um primo, descobriu ainda garoto os quadrinhos de super-heróis, e tomou gosto pelos desenhos de artistas como Jack Kirby, Bernie Wrightson e John Buscema. Estudando desenho, tentou emular a arte de Wrightson, Buscema e de Frank Frazetta, um dos pintores mais conhecidos da pré-cultura pop (pulps e Conan, por exemplo).
O traço estiloso e dinâmico de Silvestri é muito parecido também com o do artista Walt Simonson, com quem inclusive trabalharia junto.
First Comics
Silvestri começou a carreira como desenhista convidado na DC Comics (casa do Superman, Batman, Mulher-Maravilha e outros) e na First Comics, uma editora menor criada em 1983, casa de diversos artistas conhecidos e de obras de destaque do mercado, como American Flagg!, Grimjack, Nexus, Badger, Dreadstar e Jon Sable. Um de seus fundadores foi Mike Gold, que depois seria editor de grandes títulos e linhas na DC Comics.
Artistas como Frank Brunner, Mike Grell, Howard Chaykin, Joe Staton, Steven Grant, Timothy Truman e Jim Starlin começaram suas carreiras na First.
O título que Marc Silvestri desenhou na editora First Comics foi Warp Special #2 (1984).
DC Comics
Os trabalhos criados por Marc Silvestri (que no início de carreira assinava como Mark Silvestri) foram Ghosts #104 (1981), House of Mystery #292 (1981), The Unexpected #222 (1982) e Weird War Tales #113 (1982). Todas elas eram revistas de antologia de histórias curtas, com temáticas de suspense e terror. A edição de The Unexpected de Silvestri foi a última inclusive.
Silvestri ainda retornaria nos anos 90, na edição #3 de Batman Black and White (1996), o primeiro projeto do Cavaleiro das Trevas com pequenas histórias preto e branco do personagem pelas mãos dos maiores artistas do mercado, que depois seria retomado em outros projetos futuros.
Uma das criações de Marc Silvestri na Image Comics foi o título Darkness, com o criminoso Jackie Estacado como dono de um poder maligno de escuridão, e que fazia tanto sucesso que teve um crossover com o Batman, em uma edição especial publicada em 1999.
Depois, em 2005, houve o crossover da equipe de super-heróis mutantes Cyber Force, criação máxima de Silvestri na Image, com a Liga da Justiça, a maior equipe da DC, em JLA/Cyberforce, uma edição única escrita por Joseph Kelly, com capa de Marc Silvestri e arte interna de Doug Mahnke.
Marvel Comics
O primeiro trabalho de Marc Silvestri na Marvel foi uma edição como desenhista convidado em Master of Kung Fu #119 (1982), mas em alguns anos se tornaria funcionário fixo.
Fez algumas edições de Rei Conan e uma graphic novel (formato de prestígio, maior e com papel de qualidade superior) em Marvel Graphic Novel #17: Revenge of the Living Monolith (“A Vingança do Monolito Vivo“), ambas de 1985; algumas edições de Web of Spider-Man (revista do Homem-Aranha), uma edição de Manto e Adaga e três edições de X-Factor, todas em 1986. Na última, entrou em contato com os mutantes dos X-Men finalmente.
O artista se tornaria um grande narrador visual de ação, aspecto que já podia ser visto no crossover dos X-Men/Vingadores, de 1987.
Junto com o roteirista Chris Claremont, sob o comando da editora Ann Nocenti, Marc Silvestri e o arte-finalista Dan Green fizeram uma das melhores fases dos X-Men no final dos anos 1980.
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Marc começou em Uncanny X-Men #220 (1987), onde desenhou diversos arcos clássicos e importantes, como a saga Queda de Mutantes; a fase dos X-Men “Austrália” (onde passaram a viver como “fantasmas vivos” após morrerem na saga anterior); um arco da Ninhada (os Alien da Marvel); a primeira aparição da nação escravagista de mutantes Genosha e seus Magistrados; a impactante Inferno, que afetou inclusive outros títulos da Marvel, e que revelou os segredos de Madelyne Pryor e reuniu depois de anos os X-Men com o X-Factor (os X-Men originais); além das “novas mortes” dos X-Men e parte de sua reconstrução.
Silvestri encerrou sua passagem no título com Uncanny X-Men #261 (1989).
O desenhista Jim Lee assumiu a revista depois dele, conseguindo o inimaginável: deixar ainda mais dinâmico e popular os mutantes, em um design e mood que ditaria os rumos do mercado para toda a década de 90 praticamente.
Em 1990, Marc Silvestri assumiu a arte de Wolverine, um dos mais populares X-Men.
Ele começou — graças ao deuses do gibi de novo com o arte-finalista Dan Green, que complementa seu trabalho com perfeição — em Wolverine #31.
Ilustrando os roteiros de Larry Hama, Silvesti fez histórias de temática urbana, ninjas, monstros, androides, viagem no tempo com a Guerra Civil Espanhola, insuspeitos parentescos com Dentes de Sabre (argh!), agentes secretos, o passado de Logan como Arma X, o diabólico gordo alien Mojo e a dramática morte de Mariko Yashida, um dos grandes amores da vida de Wolverine.
Silvestri ficou até o número #57 de Wolverine, de 1992, quando saiu da Marvel para fundar a Image Comics.
Mas Silvestri retornaria em ocasiões pontuais. Como em 1996, quando desenhou um crossover dos X-Men com Star Trek (Jornada nas Estrelas). Ele retornou também após os anos 2000, como o fechamento da saga de Grant Morrison com os mutantes em New X-Men #151–154 (2004).
No anos seguinte, ele fez as capas da minisserie X-Men: Deadly Genesis, escrita por Ed Brubaker e desenhada por Trevor Hairsine.
Em 2007, anos depois de sua Cyberforce ter sido finalizada na Image, ele fez um crossover com os mutantes da Marvel, em Cyberforce/X-Men, com roteiros de Ron Marz e as arte de Pat Lee — Silvestri optou por fazer apenas uma capa variante.
Ele ainda ilustrou a edição especial X-Men: Messiah Complex no mesmo ano, além de fazer Civil War: The Initiative. Em 2009, Marc desenhou a edição especial Uncanny X-Men/Dark Avengers.
Nos X-Men, ele co-criou personagens importantes, como a inesquecível Jubileu (a Kitty Pryde dos anos 90), o Senhor Sinistro (um dos mais perigosos inimigos dos mutantes, um cientista aprimorado, vivo desde a época da Era Vitoriana), os Carniceiros (ciborgues assassinos), Teleporter, um mutante aborígene, entre outros. Ele também co-criou o soldado antiterrorista Solo (James Bourne, sim, mesmo nome do agente secreto desmemoriado de Robert Ludlum).
Image Comics
Como dito, em 1992 Marc Silvestri saiu da Marvel no auge de sua popularidade, e junto com Jim Lee, Todd McFarlane, Rob Liefeld, Whilce Portacio, Erik Larsen e Jim Valentino, todos grandes artistas, criaram uma editora própria, a Image Comics.
“Imagem é tudo“, dizia uma propaganda da Canon (marca de máquinas fotográficas) de 1990, com o tenista André Agassi, e que serviu de lema para a nova editora, onde a imagem seria rei. A ideia veio do desenhista Rob Liefeld, que também desenhou o logo da empresa.
Enfant terrible, Rob era o mais enérgico e voluntarioso dos sete fundadores, ele próprio um garoto de propaganda, com trabalhos para a marca de jeans YCK´S.
Na nova empresa, Marc Silvestri poderia fazer seus próprios super-heróis. Ele podia fazer seu Cyber Force.
Cyber Force, de Marc Silvestri, eram mutantes aprimorados ciberneticamente, com personagens que espelhavam os X-Men: o líder de campo era Termal (Ciclope/Destrutor), o grandalhão forte era o Impacto (Colossus), a lutadora letal era Cyblade (Psylocke) e claro, tinha um louco com garras, Ripclaw (Wolverine).
Quem encabeçava a Cyber Force era Stryker, um homem armado até os dentes com TRÊS braços ciborgues do lado direito do corpo, com metade do rosto coberto com uma chapa de metal e um olho biônico — era o Cable vezes 3.
Ao menos a trama era diferente do mood X-Men, com a equipe fugindo de uma corporação maligna que buscava aprimorar e escravizar mutantes. Silvestri criou ao menos uma personagem “original”, a encantadora e jovem Velocidade, uma mutante velocista (Mercúrio), que se provou ser a alma da equipe.
Marc ainda criou o Codename: Stryke Force, equipe de mercenários liderada por Stryker, com arte de Brandon Petterson.
O artista escreveu Cyber Force o gibi com seu irmão, Eric Silvestri. Saiu primeiro uma minissérie de 4 edições (mais uma 0) em 1992, e depois veio o título regular, que durou 35 edições, até 1997.
A Cyber Force depois disso ficou em idas e vindas: outras séries foram lançadas em 2006 e em 2009, quando a Image lançou a minissérie Image United, onde Marc Silvestri desenhou todos os seus personagens da Cyber Force, assim como os outros artistas com seus personagens, em uma grande HQ-festa dos autores.
Houve outros projetos de Cyber Force em 2012 e 2015. Atualmente, Marc Silvestri tem um projeto via financiamento coletivo para mais um projeto da Cyber Force, por conta da comemoração de 30 anos da equipe em 2022.
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Dentro da Image Comics, o selo próprio de publicação de Silvestri era o Top Cow Productions (“vacona”, em tradução livre — melhor nome), e o artista não se deteve apenas em criar super-heróis.
Outras criações de Marc Silvestri pela Top Cow incluíram a trama policial e mística de Witchblade (1995); o já citado Darkness (1996); uma HQ-thriller de assassinos superpoderosos chamada Hunter-Killer (2005) e diversos outros projetos, como Fathom (1998), criado com o desenhista Michael Turner.
Mas diferente de outras revistas da Image Comics dos outros fundadores, Cyber Force não saiu das páginas de suas revistas para outra mídia, como foi o caso dos Wild C.A.T.S do Jim Lee por exemplo, que teve desenho animado e videogame.
O mais perto que a criação de Marc Silvestri chegou de um produto audiovisual foi um possível desenho animado para substituir o dos X-Men, que estava nas suas últimas entre 1995 e 1996. A intenção era um programa de 1 hora, com a outra meia hora destinada ao Youngblood, equipe de super-heróis do Rob Liefeld. Não foi pra frente.
De videogame, Marc Silvestri fez o character design dos personagens do Fighting Force, um jogo de briga de rua desenvolvido pela Core Design e publicada pela Eidos para o console de 32-bits da Sony, o então estreante PlayStation, em 1997.
A Eidos era dona de Tomb Raider, jogo de aventura protagonizado pela incrível Lara Croft num mood Indiana Jones, e vários quadrinhos da personagem foram lançadas pela Top Cow, incluindo um crossover com a Witchblade. Essa obra sim teve sucesso, com uma série filme para TV em 2001, um mangá em 2004 e um anime (desenho animado japonês) em 2006. A personagem nunca encontrou a Cyber Force, a não ser em edições mais que especiais, como Image United.
Cyber Force de Marc Silvestri no Brasil
A Cyber Force saiu no Brasil, pela editora Globo, em uma massiva campanha de marketing da empresa, que era sustentada pela revista Wizard, uma publicação jornalística especializada de quadrinhos dos EUA, e que foi licenciada para uma versão brasileira.
A Wizard saiu em agosto de 1996 e em setembro a Cyber Force já estava nas bancas — não apenas ela, mas Codinome: Stryke Force, e também Gen 13 e Wild C.A.T.S. (ambos do selo Homage, de Jim Lee).
Mesmo com a propaganda da casa — a Wizard foi um enorme sucesso editorial — as revistas não decolaram. E Cyber Force foi cancelada no número 15. Pelo menos quase coincidiu com os materiais que apenas Marc Silvestri desenhou…
A arte de Marc Silvestri
Uncanny X-Men: 218, 220–222, 224–227, 229, 230, 232–234, 236, 238–244, 246, 247, 249–251, 253–255, 259–261 (1987–90)
Wolverine: 31–43, 45, 46, 48–50, 52, 53, 55–57 (1990–92)
“Foi uma coisa que me fascinou de início porque sou fã antigo de Jornada, e obviamente, tenho um envolvimento com os X-Men. Bob Harras me procurou com a proposta e achei que seria ótimo“, disse Silvestri em uma entrevista para a revista Wizard.
A trama mostra Proteus (inimigo dos X-Men), que é enviado para um plano extradimensional e encontra Gary Mitchell, o ex-melhor amigo do Capitão James Kirk, da série clássica de Star Trek. Proteus, que tem o poder mutante de possuir corpos e distorcer a realidade, toma conta de Gary e funde os dois mundos da franquia.
“Ele (Marc) foi chamado de o sujeito mais talentoso da Image. Em termos de habilidade pura, realmente está bem lá em cima. A dinâmica que traz a um trabalho sempre foi seu ponto forte“, disse Jim Lee em uma entrevista para a revista Wizard.
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