COVID-19 E A MÚSICA | Como o ecossistema se comporta na pandemia

Os resultados da pesquisa do DATA SIM sobre os impactos da Covid-19 no mercado de música do Brasil, realizada por questionário online entre 17 e 23 de março, estão disponíveis em relatório para download gratuito.

É um documento rico, e mostra como o ecossistema da música está se comportando nessa pandemia.

Há dados esclarecedores sobre a situação: o baixo associativismo (77% não tem representação de classe) é problema antigo, e que tem impacto em um momento de crise. Alguns países têm anunciado medidas de recuperação, por meio de entidades nacionais representativas dos diversos setores do ecossistema da música.

No Brasil a falta de uma entidade de âmbito nacional que dialogue com todos os segmentos produtivos, somada à fragilidade institucional das instâncias governamentais, tem impedido que ações sistêmicas e efetivas sejam encaminhadas com a urgência necessária.

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Como que ouviremos música ao vivo agora? Emicida no show de encerramento do SIM 2019, em 8 de dezembro, na Praça da Luz, SP. Foto de Hannah Carvalho

Os cancelamentos (77,4%) e adiamentos (81,2%) de eventos de música geraram a paralisação total e por tempo indefinido das atividades com presença de público, implicando numa reação imediata do setor, com significativo aumento na disponibilização de conteúdo on-line (em termos de número de horas transmitidas pelas redes sociais e outras plataformas).

A monetização desses conteúdos é crucial e ainda é um ponto crítico do ecossistema da música.

Os dados apresentam um panorama do setor a partir de 536 de empresas de diversas áreas como produtoras de festivais, agências de booking, casas de show, além de fornecedores e parceiros, que vão do aluguel de equipamentos à logística de transporte e hospedagem, envolvendo milhares de profissionais em suas operações.

Como o Covid-19 afetou as empresas envolvidas com música

Esses números ajudam a pensar em ações concretas para o setor, composto por muitos interesses, a maioria sem uma representação ou associação de classe. É hora de pensarmos coletivamente para identificarmos interesses comuns e nos organizarmos, de maneira orgânica. Não há espaço para pensarmos que uma única iniciativa vai liderar esse processo de cima pra baixo. É hora de aproveitarmos as iniciativas que surgiram autonomamente em diversas partes do país para repensar toda a organização política do setor”, explica Dani Ribas, diretora de pesquisas do DATA SIM.

Dos empreendedores que responderam a pesquisa, 53,2% são MEI.

A maioria deles estão em São Paulo, com quase metade das operações dessas empresas — 45,5%, mostrando mais uma vez o clichê de eixo principal que o estado paulista tem no cenário. Nem o Rio de Janeiro chega perto, com apenas 11,7%.

Foram 81,2% de adiamentos de atividades, com 8.141 eventos de música cancelados no Brasil, por conta do Covid-19.

O prejuízo alcança as cifras de R$ 483.214.006,00.

O estrago do Covid-19 nas dinâmicas que envolvem o consumo da música

Como o coronavírus afeta o mundo musical e como irá mudá-lo

A diversidade de áreas de atuação das empresas e o enorme percentual de fornecedores e terceirizados implicados na cadeia produtiva da música demonstram que a organização produtiva é complexa e requer medidas diversificadas, amplas e estruturantes, pensadas coletivamente, e que não se restrinjam a segmentos específicos da extensa cadeia produtiva da música.

O tempo livre, essencial à fruição cultural, foi obrigatoriamente redimensionado pelo isolamento. Isso poderá afetar o consumo cultural doméstico e os hábitos de escuta musical.

Só o tempo poderá dizer se tais mudanças serão duradouras e significativas para o mercado da música, e como exatamente elas contribuirão na reestruturação do setor. Certamente os grandes players do ecossistema (gravadoras, editoras, plataformas digitais) deverão lidar com tais mudanças para que possam estar up-to-date em relação às tendências do consumidor.

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Público em um show do SIM 2019, na Praça da Luz. Dia 8 de dezembro. Foto de Hannah Carvalho

Realizar uma pesquisa simultaneamente aos primeiros impactos da crise é uma tarefa árdua. Entretanto, a urgência na coleta destes dados primários se faz necessária por conta das milhares de pessoas desamparadas nesse momento. Nesse sentido os resultados da pesquisa podem ajudar a ampliar o diálogo e proposições do poder público e iniciativa privada”, comenta Renata Gomes, pesquisadora e analista de dados do DATA SIM.

O estudo também apresenta um diagnóstico dos principais desafios que a indústria da música precisa enfrentar para lidar com a crise que abala toda a cadeia produtiva do setor, mas também abre possibilidades para que as estruturas e relações do mercado sejam repensadas coletivamente em novos caminhos.

Vai ser preciso recomeçar, reinventar a música ao vivo”, afirma Pena Schmidt consultor especial do projeto.

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Público em um show do SIM 2019, na Praça da Luz. Dia 8 de dezembro. Foto de Hannah Carvalho

O documento é gratuito e pode ser baixado gratuitamente aqui.

A Semana Internacional de Música – SIM de São Paulo é uma das maiores iniciativas de música e de estudo da área no Brasil. As informações foram obtidas pelo Núcleo de pesquisa da organização. Produziram dados e análises que subsidiam a elaboração de estratégias de ação para o setor musical, com o objetivo de incrementar e tornar mensuráveis seus benefícios econômicos e sociais.

/ INTERNET. O Covid-19 será um teste para a infraestrutura dos operadores rede como jamais visto. Países com backbones resilientes da Internet e uma abundância de redes de fibra óptica de alta qualidade podem estar em uma posição muito mais segura.

Por outro lado, aqueles que ainda dependem muito de conexões de banda larga à base de cobre, como o Reino Unido, podem ter dificuldades com as pessoas confinadas em suas casas.

Alguns dos maiores hubs de interconexão da Internet do mundo estão relatando tráfego recorde. Seja para home office, troca de informações, streaming de filmes, jogos on-line, a situação excepcional que as pessoas estão enfrentando atualmente com o distanciamento social forçado pelo Covid-19 já está obrigando os operadores de rede a trabalhar dobrado para garantir uma infraestrutura de Internet estável e segura.

/ MUDANÇA DE PLANOS. O SIM chegou a fazer um levantamento da maioria dos festivais que aconteceriam em 2020. Foi num distante e imaginário janeiro de 2020. Matéria do blog aqui.

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