ÔMEGA VERMELHO | 30 anos de um vilão ícone das HQs anos 90 e o fim da URSS

Ômega Vermelho é um personagem de quadrinhos de super-heróis que nasceu literalmente da morte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, desfeita oficialmente em 26 de dezembro de 1991.

São 30 anos do fim da URSS e 30 anos da estreia do Ômega Vermelho, um dos vilões mais estilosos e casca-grossa da Marvel Comics, que surge nas páginas das HQs dos X-Men como antagonista de Wolverine, um dos mais populares heróis da editora, mas que se mostra um tormento na vida de todos os outros x-men, e até mesmo de outros super-heróis da Marvel, como o Homem-Aranha.

Ômega Vermelho
Ômega Vermelho vs Wolverine na arte de Jim Lee
Ômega Vermelho, arte de Steve Dillon
Ômega Vermelho, arte de Adam Kubert
Ômega Vermelho
Ômega Vermelho em uma arte promocional o jogo de luta Marvel vs Capcom 2. Ilustração de Bengus
Ômega Vermelho
Ômega Vermelho, arte de Jeromy Opena

Com design único e estiloso criado por Jim Lee, artista que ditou o mood de desenho da indústria de quadrinhos de super-heróis nos anos 90, o Ômega Vermelho é uma encarnação viva desses conceitos.

Além de mutante, é ciborgue. Além de usar armadura, tem tentáculos. Além de agente secreto, é um supersoldado. Além de megalomaníaco, é um serial killer.

Ômega Vermelho, arte de Jim Lee

Ele surge em meio a uma maquinação do Tentáculo, uma seita oriental de ninjas assassinos que cultuam o demônio, e que contam com a ajuda de um general soviético, que juntos aproveitam a queda da URSS (também dentro dos gibis, em um processo muito usual do universo de quadrinhos de refletir certos acontecimentos políticos em suas tramas), para desencavar uma antiga arma viva criada pelo Império Soviético, mantida no gelo por anos, ninguém menos que o próprio Ômega Vermelho.

O Ômega Vermelho surge nos quadrinhos da Marvel. Arte de Jim Lee

A estreia oficial do personagem acontece em X-Men #4 (janeiro de 1992), mas a primeira menção e aparição do Ômega Vermelho, na realidade, acontece em uma “pin-up preview” na explosiva X-Men #1, lançada em outubro de 1991, a culminação de anos e anos de histórias de desintegração e reformulação que o escritor Chris Claremont promovia no título.

Agora os Fabulosos X-Men estavam todos mais uma vez reunidos na Mansão X, sob orientações do Professor Charles Xavier, que retornou à Terra depois de anos no espaço sideral com os Shiar.

X-Men #1 (1991), de Chris Claremont e Jim Lee, a HQ de super-herói mais vendida de todos os tempos

Os mutantes dos X-Men , os mutantes do X-Factor e vários outros se uniram para criar um mega grupo de mutantes. A revista trouxe uma aventura em três partes, com o retorno da ameaça de Magneto, agora adorado por mutantes aliados, os Acólitos.

X-Men #1 está no Hall das Lendas das HQs de super-heróis como uma das mais vendidas de todos os tempos, com algumas cifras rodando em matérias na época e ainda hoje dando conta de 8 milhões de exemplares vendidos.

A arte em questão da pin-up dizia “O que vem por aí”, e mostrava alguns inimigos conhecidos e outros ainda por vir, como Matsuo Tsurayaba, um dos líderes do Tentáculo (que também foi o responsável pela transformação da mutante Betsy Braddock na ninja Psylocke), e o Ômega Vermelho logo abaixo, em posição sombria na escuridão.

Ômega Vermelho na ilustração promocional no fim de X-Men #1, três números antes de sua estreia nas HQs

O número seguinte, X-Men #2, mostra em meio a trama dos X-Men contra Magneto, militares soviéticos de agora uma falida URSS vendendo para Matsuo um esquife misterioso com a letra ômega pintada nela. O japonês não honra seu acordo e mata todos os soviéticos.

O terceiro número tem o fechamento da confronto com Magneto, que também marca a despedida de Chris Claremont depois de centenas de histórias e anos de trabalho no título, e anuncia que Ômega Vermelho vem na edição seguinte.

A despeito de um eventual cansaço e esgotamento de ideias, a verdade é que Jim Lee era tão poderoso na indústria e dentro da Marvel que ele começou a ditar também como queria o roteiro dos mutantes, um terreno até então exclusivo de Claremont.

A influência de Lee se deu até mesmo nesses três números iniciais — o primeiro já indica os dois como “co-plotters“, algo como “co-roteiristas”.

Alguns rascunhos e ideias de Jim Lee para o Ômega Vermelho

A última vez que algo assim aconteceu no editorial X foi no final da fase do desenhista John Byrne, em 1980, naquela que é considerada a mais clássica e inventiva fase de todos os tempos dos X-Men.

Aliás, o título X-Men de 1991 foi dado especialmente para Jim Lee brilhar. Logo, a Marvel não teve dúvidas do que fazer, e permitiu Jim Lee continuar e deu adeus à Chris Claremont, o arquiteto de um dos grupos mais queridos da cultura pop.

Mais rascunhos do personagem por Jim Lee

Por ironia do destino, o artista John Byrne estava na Marvel na época, e ajudou Jim Lee no plot do número #4, que marca enfim a estreia do Ômega Vermelho nas HQs dos X-Men.

O aviso no número #3 que o Ômega Vermelho estava vindo

Byrne ainda fica no número #5, mas cai fora do #6. É quando o roteirista Scott Lobdell aparece no universo X, onde ficaria por um longo tempo. Ele esgarçaria todos os clichês, dinâmicas e excessos possíveis, a ponto de transformar a vida dos X-Men na maior novela mexicana de todos os tempos dos quadrinhos.

Arte de um card de 1994, com o Ômega Vermelho pintado por Dave DeVries

Ironicamente, o número #11, de agosto de 1992, seria o último de Jim Lee no título, já que ele deixaria a Marvel com outros artistas superstars de vendas, como Todd McFarlane, Marc Silvestri e Rob Liefeld (?!) para fundar a própria editora, a Image Comics, em um movimento comercial e editorial que mudaria a indústria de quadrinhos nos Estados Unidos para sempre.

Na Marvel, quem conduziria os X-Men seriam os roteiristas Lobdell e Fabian Nicieza, que trabalhariam com o Ômega Vermelho em aventuras posteriores.

Ômega Vermelho, a origem

O Ômega Vermelho é o resultado de um programa governamental de criação de supersoldados soviéticos para se contrapor aos agentes super-humanos dos Estados Unidos, em especial o programa Arma X dos anos 1960, do qual Wolverine é um dos resultados.

Nas tramas de X-Men #4-7, acompanhamos, além de parte da origem do Ômega, um pouco mais do passado de Wolverine em seus tempos de agente secreto anos atrás.

Ômega Vermelho
X-Men #4, a estreia do Ômega Vermelho

Em determinado momento de sua carreira militar na URSS, o soldado (e serial killer) Arkady Gregorivich Rossovich é encaminhado para a KGB (Komitjet Gosudarstvjennoj Bjezopasnosti), o serviço secreto soviético, onde ele entraria para o programa de supersoldado.

Ele é um mutante dono de um poder mortífero, que chama de “fator de morte”: feromônios que debilitam a saúde muito rapidamente de quem está à sua volta. O processo de transformá-lo num ciborgue envolveu o enxerto do metal carbonádio em seu corpo, com apêndices como tentáculos retráteis nos braços.

Ômega Vermelho
Ômega Vermelho usa seu “fator de morte” em Jubileu

Além de indestrutíveis (mesmo que sejam maleáveis), ainda drenam a energia vital de quem toca. Isso torna o “vampirismo” de Arkady como Ômega Vermelho bem mais real, uma vez que essa força vital sugada é essencial para ele se manter vivo, já que o carbonádio envenena seu sistema biológico, a despeito dele ter partes cibernéticas.

A energia a ser drenada por Ômega Vermelho geralmente tem que ser de uma pessoa adulta, ou pequenas porções de cada uma, para que “compense”.

O seu poder de “fator de morte” pode ser “estendido” para os tentáculos também. O carbonádio é uma forma maleável criada pelos cientistas russos a partir do adamantium, o metal mais resistente do Universo Marvel.

O problema de envenenamento também ocorre com Wolverine, que tem os ossos revestidos de adamantium, mas seu fator de cura o impede de morrer por isso — essa é a razão de alguns roteiristas ao deixá-lo à beira da morte quando tem seu poder anulado.

Os cientistas russos criaram um aparelho chamado Sintetizador de Carbonádio, que estabiliza a condição médica do Ômega Vermelho.

Como o carbonádio era uma tentativa soviética de replicar o adamantium, uma tecnologia exclusiva (e perdida) dos americanos, a CIA (agência secreta militar dos EUA) decide roubar o aparelho.

Ômega Vermelho
O Sintetizador de Carbonádio nas mãos de Wolverine, na série Wolverine Origens, lançada muitos anos depois da estreia do Ômega Vermelho

E manda a Equipe X, formada na época (entre 1960 e 1970 na “cronologia” Marvel) por Logan, (que seria o futuro Wolverine), Victor Creed (que seria o futuro Dentes de Sabre), ambos do serviço secreto canadense, e David North, um agente da Alemanha Ocidental, que viria a se tornar o mercenário Maverick (que também estreia no arco de origem do Ômega Vermelho).

Uma das primeiras vezes que Logan é mostrado como agente secreto da Equipe X

Foi a primeira menção dos tempos de agente secreto de Logan como operativo de campo com outros companheiros. A missão em questão na verdade foi a última da Equipe X, que foi quase um fracasso.

Além de roubar o Sintetizador de Carbonádio, eles tinham que resgatar a agente dupla Janice Hollenbeck, interesse amoroso de Logan. Creed se precipita e elimina ela antes, e eles não obtém mais dados a respeito do supersoldado que os russos estão fazendo.

Ômega Vermelho é mostrado aqui pela primeira vez na cronologia, atacando a Equipe X em busca do sintetizador
A missão contra o Ômega Vermelho foi tão traumática que Logan abandonou a CIA depois disso

É por essa razão que Ômega fica atrás de Wolverine, Dentes de Sabre e Maverick ao longo dos anos, para ter esse maldito sintetizador.

Ômega Vermelho

Ômega Vermelho
O esquife onde Ômega Vermelho estava congelado, sendo recuperado pelos militares soviéticos para os ninjas de Matsuo Tsurayaba, que não pensa duas vezes em trair

A Marvel não detalhou até hoje as desventuras de Arkady Rossovich como Ômega Vermelho depois do confronto com a Equipe X, mas em certo momento as autoridades soviéticas o congelaram (provavelmente para ele não morrer por envenenamento devido ao carbonádio) e o deixaram debaixo do gelo ártico por anos, até que Matsuo Tsurayaba o ressuscita em um ritual místico do Tentáculo.

Ômega Vermelho
Ômega Vermelho é ressuscitado pelo Tentáculo

E a primeira coisa que Ômega Vermelho quer quando acorda é o Sintetizador de Carbonádio, e a a primeira coisa que Matsuo faz é mostrar uma foto de Wolverine, que também é um dos mais odiados inimigos do Tentáculo (ao lado do Demolidor), para que ele vá atrás dele, dizendo que ele sabe onde está o aparelho.

A trama mostra Ômega Vermelho invadindo a mansão dos X-Men, onde ele derrota vários dos heróis até nocautear Wolverine, que o reconhece de imediato até pelo nome, mesmo sem saber ou se lembrar de nada (Logan passou anos sofrendo lavagens cerebrais).

Ômega Vermelho
Wolverine lembra de Ômega Vermelho como Arkady, a identidade civil do vilão

Ômega Vermelho

Ômega Vermelho
Ômega Vermelho dá um pau em Wolverine, que tem até um vislumbre do vilão como Arkady, mostrado poucas vezes na HQ nesse mood. Arte de Jim Lee

Depois de 17 horas de luta seguida (!) em uma instalação secreta em Berlim, Alemanha, o vilão se dá por satisfeito e deixa Logan praticamente em pedaços.

O grande plano aqui envolve Matsuo em conluio com Abraham Cornelius, um dos cientistas que transformou Logan na máquina de matar que ele é hoje no programa Arma X, e os irmãos Fenris, os filhos mutantes do Barão Von Strucker, o nazista criador da Hidra, uma das mais perigosas organizações terroristas do Universo Marvel.

Ômega Vermelho

Os gêmeos participam de perigosos jogos onde o prêmio final é a imortalidade, dada por um misterioso ser chamado Gamesmaster, e como parte desse jogo, eles ajudam Ômega Vermelho a recuperar seu precioso Sintetizador de Carbonádio.

A aventura também conta com Maverick, vivo e ainda jovem depois de todo esse tempo, e que constata que Logan não tem mais nenhuma lembrança de seus tempos de agente secreto, exceto que odeia Ômega Vermelho.

A aventura de estreia do Ômega Vermelho também trouxe outro personagem do passado de Wolverine, seu antigo colega Maverick, que também foi agente da Equipe X
Maverick fica de cara que Logan não se lembra dos seus tempos de agentes da CIA, mostrado aqui pela primeira vez como Equipe X

Agora um mercenário por conta, ele recebe ajuda do Time Azul dos X-Men para resgatar Wolverine, que depois de repetidas sessões de tortura, consegue se lembrar de algumas peças de seu passado de agente da CIA.

No fim, o sintetizador estava escondido durante todo esse tempo dentro do caixão de Janice, em um cemitério de Berlim. Matsuo e os Fenris fogem, Psylocke fere mortalmente Ômega Vermelho — que é obrigado a fugir também –, e Cornelius é morto por Maverick, a quem Logan dá o sintetizador.

Ômega Vermelho

Ômega Vermelho

Em Wolverine #61 (1992), Wolverine descobre mais de seu passado na Equipe X, e o vilão aparece em algumas cenas, no roteiro de Larry Hama e desenhos de Mark Teixeira. Também conhecemos mais um colega das antigas de Wolverine e Maverick: o misterioso Espectro, como é conhecido John Wraight, mutante teleportador da Equipe X.

Ômega Vermelho
John Espectro contra o Ômega Vermelho, primeira aparição do personagem, outro agente da Equipe X

A aparição seguinte de Ômega Vermelho acontece em X-Men #17-19 (1993), escrito por Fabian Nicieza e desenhado por Andy Kubert, em uma trama absurda de agentes russos em cima da família de Piotr Rasputin, o Colossus, por conta de sua irmã, Illyanna Rasputin, recém-saída dos eventos de Inferno, onde se tornou criança novamente (não pergunte).

Ômega Vermelho

Ômega Vermelho retorna para uma revanche

A história mata os pais deles sem motivo, não constrói um plot plausível para os militares, que ainda adiciona um vampiro psíquico chamado Sugador de Almas para enfrentar os heróis, além do próprio Ômega Vermelho. Parte da narrativa tenta se sustentar em traumas dos X-Men envolvidos, mas nada funciona aqui.

Em Iron Man #295-297 (1993), o vilão enfrenta o Homem de Ferro em uma trama que envolve a IMA (Ideias Mecânicas Avançadas, uma dissidência da Hidra) e M.O.D.A.M., a versão feminina do M.O.D.O.K., robôs bélicos criados pela IMA. O roteiro é de Len Kaminski e desenhos de Kevin Hopgood.

Ômega Vermelho vs. M.O.D.A.M.

Na revista Cable #9-11 (1994), Ômega Vermelho ataca os Acólitos de Magneto nos esgotos de Londres, onde ficamos sabendo um pouco mais de seu passado, em especial com o mutante Katu, de quem arrancou um braço quando era supersoldado soviético, além de matar sua esposa e filho.

Ômega Vermelho
Ômega Vermelho vs. Cable

É uma luta terrível, com o Acólito se sacrificando para tentar matar o assassino de sua família, em uma trama roteirizada por Fabian Nicieza com arte de M.C. Wyman.

Em Generation X #7-11 (1995), o Ômega Vermelho enfrenta os jovens mutantes da Geração X, com destaque especial para mais revelações sobre sua origem e um sensacional confronto com Câmara.

Sean Cassidy, quando ainda era agente da Interpol (Polícia Internacional), que identificou o assassino serial Arkady, o futuro Ômega Vermelho

No roteiro de Scott Lobdell, Arkady é mostrado desde sua juventude como um ser cruel, que torturava e matava animais quando criança. Mesmo quando cresceu e entrou no exército soviético, onde foi parte do GRU Spetsnaz, a elite militar do país, continuou cometendo crimes. Sequestrava e matava garotinhas.

Câmara vs Ômega Vermelho

E quando fez uma chacina perto do Círculo Ártico em domínio soviético, o Exército Vermelho tomou conhecimento dos fatos e o executou. Apenas o poder mutante de Arkady o salvou. Ele foi para a Europa, onde continuou cometendo crimes.

Seus assassinatos despertaram a atenção de Erik Magnus Lensherr, anos antes dele se tornar Magneto, que colocou um investigador da Interpol na trilha do serial killer. Tratava-se de ninguém menos do que Sean Cassidy, o futuro herói irlandês mutante e x-man Banshee.

Arkady usa seu “fator de morte” na parceira de Sean, a inspetora Magrite Devereaux, que não resiste e morre. Sean atira várias vezes no assassino e, a contragosto, entrega Rossovich para as autoridades soviéticas. Fica implícito que logo depois desses eventos é que Arkady foi transformado no ciborgue Ômega Vermelho.

Em 1997, Maverick ganhou um título próprio, escrito por Jorge Gonzalez com desenhos de Jim Cheung, e o Ômega apareceu querendo matar o agente secreto nos números #2 e #10-12, o último da série.

Ômega Vermelho vs Maverick

Em X-Factor #138, no mesmo ano, Ômega aparece para enfrentar Dentes de Sabre, que estava à força na equipe do governo.

Na época, a Marvel deu um título próprio para o Mercúrio, escrito por Tom Peyer e desenhado por Casey Jones, que durou 13 números. O cara mais rápido da editora teve aventuras com os Inumanos — raça da sua ex-esposa Crystalis — e com os Acólitos — que cultuam seu pai, Magneto –, além da galera maluca tecnológica e mística das montanhas Wundagore, mais especificamente do Alto Evolucionário, um dos vilões mais problemáticos da Marvel.

No meio dessa zona, o Ômega apareceu aliado à Pyro (ex-Irmandade de Mutantes) e os Acólitos, liderados na época por Exodus. Um dos números em que aparece o Ômega Vermelho foi escrito por John Ostrander (arquiteto do Esquadrão Suicida da DC Comics) e desenhada pelo artista brasileiro Ivan Reis, ainda em começo de carreira.

Ainda em 1997, o vilão aparece em Daredevil #368, escrita por Joe Kelly e desenhada por Gene Colan, onde enfrenta o Demolidor e a Viúva-Negra (sua conterrânea russa).

Ômega Vermelho vs Viúva Negra vs Demolidor

Já em 1998, a minissérie X-Men – Os Libertadores, escrita por Joe Harris e ilustrada por Phil Jimenez, mostra o vilão contra Wolverine, Colossus e Noturno em uma aventura na Rússia, com militares e outros super-seres.

Ômega nos anos 2000 e 2010

No começo dos anos 2000, quem roteirizava Wolverine era Frank Tieri, com desenhos de Sean Chen, numa fase pouco inspirada. Ômega aparece nos números #170 e #173-176 (2002).

Mesmo mexendo num dos lores mais interessantes do personagem, seu passado de agente secreto e na Equipe X, pouco funciona aqui, que também junta Dentes de Sabre e Lady Letal, em segredos também relacionados ao Programa Arma X.

Uma difícil fase de Wolverine nos anos 2000, por Frank Tieri e Sean Chen

Em Weapon X #3 (2003), também com roteiros de Tieri, Ômega Vermelho retorna como um chefão da máfia russa (!), ainda atrás dos segredos do programa. Ele age em conluio com o Agente Zero, um disfarce de Maverick para ficar perto dos vilões, em sua própria agenda pessoal de mercenário.

No título Wolverine Origins, mais do passado de Wolverine na Equipe X e do Ômega como supersoldado é mostrado nos números #6-10 (2007), roteiro de Daniel Way e arte de Steve Dillon.

A fase de Daniel Way não é lá essas coisas também, mas os desenhos de Steve Dillon compensa

Na saga Velho Logan (Old Man Logan), criada por Mark Millar e desenhada por Steve McNiven (e de certa forma “adaptada” para o filme Logan, da Fox), publicada no título regular de Wolverine em 2008, o Ômega Vermelho teve várias aparições, como nos números #67, 69 e 70, nos flashbacks terríveis do herói na tragédia que aconteceu com ele e os X-Men.

Ômega Vermelho e o resto da rapa de inimigos dos X-Men vs. Wolverine. Ou não? Só lendo a saga Velho Logan para saber

Em 2009, nos números finais de Wolverine Origins, em #36-40, roteiro de Daniel Way e desenhos de Doug Braithwaite, Ômega Vermelho é o último inimigo a ser derrotado por Wolverine, antes dele finalmente descobrir toda a verdade manipulada de sua vida, pelas mãos do terrível vilão Romulus, a quem ele fica cara a cara pela primeira vez.

O Ômega Vermelho é literalmente o último inimigo que Wolverine enfrenta antes de saber toda a verdade sobre sua vida…

Aliás, o Ômega morre nessa edição, assassinado com a espada invencível de Wolverine, Muramasa.

…antes de enfrentar Romulus, quem está por trás de todos os eventos de sua vida pregressa de herói e x-man

Em 2010, em mais um título do Wolverine, número #2, o escritor Jason Aaron estabelece que a alma de Arkady foi para o inferno, como esperado. Acontece que na época, uma organização chamada The Red Right Hand matou Wolverine (!) e enviou a alma dele para o inferno (!!) também.

Em meio a muitos inimigos, temos Ômega Vermelho querendo arrebentar Wolverine no inferno também. Os desenhos foram do artista brasileiro Renato Guedes.

É lógico que Ômega Vermelho vai pro inferno quando morre, e mesmo lá, ele ainda enfrenta Wolverine, que tinha sido morto e ENVIADO para lá

Em Uncanny X-Force #25 (2012), Daken, o vilanesco filho de Wolverine, criou sua própria versão da Irmandade de Mutantes, e criou clones do Ômega Vermelho — Omega Red, Omega Black e Omega White. Eles tiveram uma luta com a X-Force, a equipe de ações secretas/black ops dos X-Men, na trama escrita por Rick Remender e desenhada por Mike McKone.

Ômega Vermelho é clonado e junto com outros clones, enfrenta a X-Force

Em X-Men: Gold #10 (2017), escrita por Marc Guggenheim e desenhada por Ken Lashley, o vilão é ressuscitado de fato, dessa vez pelas mãos de uma organização maligna russa. Rossovich estava mais “vampiro” do que nunca aqui, e precisava absorver a energia de seres vivos constantemente, ou então morreria.

Ômega Vermelho é ressuscitado e enfrenta o Velho Logan, que na época estava no Universo Marvel regular

Mesmo assim, seu corpo, ainda que ciborgue, se deteriorava. Também temos a aparição de um tio perdido de Colossus e Magia, Anatoly Rasputin. Illyanna Rasputin é crucial para a história, e quem participa também da aventura é Wolverine, que, na época, era o Velho Logan (aquele mesmo de Old Man Logan).

O Vovôverine estava perdido no universo regular da editora, o “nosso” 616, depois da megassaga Guerras Secretas (2015), de Jonathan Hickman e Esad Ribic. O Universo Marvel não tinha mais seu Wolverine há um tempo, que encontrou seu fim na saga Morte de Wolverine, escrita por Charles Soule e desenhada por Steve McNiven em 2014.

Nisso tudo, Arkady descobre um irmão perdido (!), Vassily, o diretor da S.I.C.K.L.E., o equivalente russo da S.H.I.E.L.D. (!!). Com a ajuda de nanobots (robôs microscópicos), ele escraviza o Ômega Vermelho, que se torna um operativo fiel.

Em Weapon X, temos do mesmo lado o Velho Logan, Dentes de Sabre (“invertido” mentalmente, portanto, agora “do bem”) e o Ômega Vermelho

O caminho da organização se cruza com a equipe de black-ops dos X-Men na época, a Weapon X. Em certo momento, essa equipe, liderada pelo Wolvelho Logan, teve o Ômega Vermelho em suas fileiras (salvo de seu irmão e a escravização), o que não foi lá uma surpresa, já que o Velho Logan estava fazendo as pazes com seus inimigos nesta realidade 616, como Dentes de Sabre (ainda sob os efeitos mentais/morais da inversão da saga Eixo, escrita em 2014 por Rick Remender e desenhada por Adam Kubert, Leinil Francis Yu, Terry Dodson e Jim Cheung) e Lady Letal.

Os dois já eram parte da equipe aliás, junto com Dominó e Apache, antigos colegas do Wolverine/616 em uma versão anterior do grupo X-Force. Com efeito, quando o Velho Logan decide finalmente retornar para seu mundo, ele deixa Dentes de Sabre no comando da equipe, que agora se chama Weapon X-Force.

Dentes de Sabre e Velho Logan

As aventuras da primeira equipe que Ômega Vermelho fez parte foram publicadas no título Weapon X (2018) e ele aparece nos números #17-27, escrito por Greg Pak. O último número marca o retorno do vilanesco Dentes de Sabre, sem efeitos da inversão, como pode ser visto logo no começo de House of X/Powers of X (2019).

Weapon X conta com Ômega Vermelho, a primeira equipe que o vilão participou

As aparições mais recentes do Ômega Vermelho mostram o envolvimento dele com o Drácula, O Senhor dos Vampiros (é sério), que tem uma base de atuação dentro da Rússia no atual momento. Para variar, o Sintetizador de Carbonádio ainda é um recurso criativo usado, e o Drácula chantageia o ciborgue mutante para que se infiltre em Krakoa para seus planos de dominar os mutantes.

Ômega Vermelho retorna ao mundo dos X-Men na revista do Wolverine, dessa vez aliado ao Drácula, o Senhor dos Vampiros

Ômega já conseguiu extrair o sangue de Wolverine, usado por Drácula para se tornar mais resistente à luz do Sol (?). Interessante notar aqui que o vampirismo do Ômega Vermelho finalmente se aproxima do maior representante dessa mitologia. Essas aventuras estão sendo publicadas no título mais recente de Wolverine (2019).

Uma das aparições mais recentes do Ômega Vermelho foi em X-Men Legends, HQ que mostra aventuras passadas fora da cronologia regular. Aqui, o escritor Larry Hama mostra uma aventura passada nos anos 90. época de estreia do vilão. Arte de Billy Tan

Dentre as várias versões alternativas do Ômega Vermelho, a de mais destaque é a do Universo Ultimate. Lá, ele é um vilão da galeria do Homem-Aranha. Ele é mutante, tem superforça e seus tentáculos (que saem de cima dos braços, e não debaixo) parecem ter origem orgânica. Estreou em Ultimate Spider-Man #86 (2006), repensado por Brian Michael Bendis e desenhado por Mark Bagley.

Ômega Vermelho no Universo Ultimate é um inimigo do Homem-Aranha

Ômega Vermelho em desenhos, videogames e filmes

O Ômega Vermelho aparece no desenho animado clássico noventista dos X-Men (1992-1997) em 2 episódios: Red Dawn (01×17) e A Deal with the Devil (01×65), e em X-Men Evolution (2000-2003): Target X (03×04), a maioria aproveitando o mood militar black-ops das histórias pregressas do Ômega e Wolverine, até mesmo com a participação da Hidra.

Wolverine nos tempos de agente secreto contra o Ômega Vermelho

Em 2009, a Marvel lançou dois episódios em formato longa-metragem chamado Hulk Vs, e o Ômega aparece em um deles, como operativo da Arma X (?!), junto com Deadpool, Dentes de Sabre e Lady Letal, que buscam capturar o Hulk, envolvido numa luta contra o Wolverine, que depois resolve ajudar o Verdão.

Wolverine dando uma bica na boca do Ômega em Hulk Vs.

Em 2011, a Marvel fez uma parceria com a Mad House, uma das mais prestigiadas produtoras de desenhos animados no Japão, os populares animes. Uma das obras foi Marvel Anime: Wolverine, que teve 12 episódios. O quarto foi com Ômega Vermelho.

O bom de ser anime é que as lutas são bem violentas em Marvel Anime Wolverine

A inspiração da série, escrita por Warren Ellis, um veterano das HQs de super-heróis, criador de séries como Transmetropolitan (1997–2002), Planetary (1998-2009) e Authority (1999-2002), se baseia na minissérie Eu, Wolverine (1982), clássica história escrita por Chris Claremont e desenhada por Frank Miller, que conta a passagem do mutante no Japão.

Em Deadpool 2 (2018), uma participação especial do Ômega Vermelho acabou fora do corte final do filme. Dakoda Shepley, um jogador profissional de futebol americano da NFL, chegou a ser maquiado e gravou uma cena, quando Deadpool está na cadeia. A arte conceitual do Ômega Vermelho é de Andrew Domachowski, que trabalhou no filme.

Ômega Vermelho
Ômega Vermelho no filme Deadpool 2 (2018), em uma cena que não entrou para o longa
Ômega Vermelho
Arte conceitual de Andrew Domachowski

Não demorou quase nada para que Ômega Vermelho fizesse sua estreia nos videogames, já que na época de sua estreia nas HQs, a Marvel e a Capcom estavam em fases de acordo para uma parceria que seria uma das mais frutíferas em sinergia criativa do mercado.

Aproveitando o imenso sucesso do desenho animado dos X-Men de 1992, a softhouse Capcom, já uma produtora gigante dos games de luta, desenvolveu o jogo X-Men: Children of the Atom (1994), que deu início a uma série de sequencias uma melhor que a outra.

Arte promocional de X-Men Children of The Atom

Os dubladores do desenho foram até chamados para fazer as vozes dos heróis. E Ômega Vermelho estava no line-up de lutadores disponíveis, ao lado de Samurai de Prata, Sentinela e Espiral. Esse game foi lançado para os arcades, e portado um ano depois para os consoles caseiros de 32-bits Sega Saturn (Sega) e PlayStation (Sony).

Ômega Vermelho

Ômega Vermelho
O final de Ômega Vermelho em X-Men Children of The Atom mostra ele obtendo o Sintetizador de Carbonádio e tocando o terror na Terra depois

Ainda em 1994, a Capcom lançou um game de aventura dos X-Men para o Super Nintendo, o videogame de 16-bits da Nintendo, chamado X-Men Mutant Apocalypse, que tem o Ômega Vermelho como inimigo dos heróis, em uma reprodução na Sala de Perigo, o local de treinamento dos mutantes na Mansão X.

Ômega Vermelho

Ômega Vermelho
Ômega Vermelho no jogo X-Men Mutant Apocalypse, game de ação para o Super Nintendo

Depois de X-Men Children of The Atom, o jogo seguinte de luta foi Marvel Super Heroes (1995), com a sequência X-Men vs Street Fighter (1996) criando o mood definitivo desse crossover. Ômega Vermelho aparece no jogo seguinte a esse, Marvel Super Heroes vs Street Fighter (1997), e em seu final chega a matar Ryu, o principal personagem da Capcom (!).

Ômega Vermelho
No final de Marvel Super Heroes vs. Street Fighter, Ômega Vermelho mata Ryu, o maior personagem da produtora do game

Em Marvel vs Capcom (1998) ele está ausente, mas retorna ao line-up geral no grandioso Marvel vs. Capcom 2: New Age of Heroes (2000), que trouxe quase 60 personagens disponíveis, todos que já tinham passado pela série VERSUS, além de outros inéditos.

Ômega Vermelho

Artes promocionais da Capcom do Ômega Vermelho para Marvel vs. Capcom

X2: Wolverine’s Revenge, jogo de ação de Wolverine de 2003, na adaptação para o portátil da Nintendo, Game Boy Advanced, tem o Ômega como chefe de uma das fases. Em X-Men Legends II: Rise of Apocalypse, um RPG de ação de 2005, Ômega Vermelho também tem uma aparição.

Galeria Ômega

Ômega Vermelho

Ômega Vermelho

Ômega Vermelho

Ômega Vermelho

Ômega Vermelho

Ômega Vermelho
Arte promocional de Ômega Vermelho para Marvel Super Heroes vs. Street Fighter

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Ômega Vermelho

 

No encerramento do título do Maverick, o Ômega Vermelho estava lá também

Ômega Vermelho

Ômega Vermelho
Ômega Vermelho no Universo Ultimate

Ômega Vermelho

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Ômega Vermelho

Arte da Capcom para seus arcades de X-Men Children of The Atom
Capa de Marvel Super Heroes vs. Street Fighter para o Sega Saturn, a melhor versão do jogo para os consoles caseiros
Arte promocional de Marvel Super Heroes vs. Street Fighter
Ômega Vermelho
O serial killer Arkady, antes de se tornar Ômega Vermelho

Ômega Vermelho

Ômega Vermelho
Arte de Tom Raney

O Fim da URSS

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas representou um bloco incontornável de poder em sua época, uma superpotência da Guerra Fria, e sua herdeira, a Rússia, é quem mais se opõe em contexto político, econômico, militar e ideológico aos Estados Unidos até os dias de hoje, mesmo com o fim do império, oficialmente em 26 de dezembro de 1991.

Desde os anos 1920, década de sua consolidação, a URSS enfrentava alguma tensão em acomodar todos os anseios, angústias e desejos dos milhões de habitantes que formavam o império soviético.

A Primavera de Praga, reformas políticas em 1968 na Tchecoslováquia, foi a primeira que desagradou por completo a URSS, que via aberturas e liberdades demais nas ações.

O poder comunista monolítico da URSS começou a rachar na passagem dos anos 1970 para 1980. A Doutrina Brejnev, implementada por Leonid Brejnev, o líder soviético da época, sucessor de Nikita Krushev, se focava na indústria pesada e na área militar.

A Doutrina Brejnev (uma diretriz informal de política externa que autorizava o uso de força militar para intervir em países que se mostravam em desequilíbrio com as políticas da União Soviética. Brejnev morreu em 1982 e seu enterro foi a maior reunião de políticos e chefes de Estado do século XX.

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O gasto imenso para se contrapor aos EUA nos campos militares, econômicos, aeroespacial, cultural e ideológico no contexto da Guerra Fria arrasaram com as finanças da URSS, e mudanças dessas dinâmicas começaram a se mostrar urgentes.

Novas políticas implementadas pelo novo líder soviético Mikhail Gorbatchov, como a glasnost (“abertura” em português), pretendiam acomodar as tensões internas dos vários países que formavam o imenso bloco socialista da URSS.

Algumas medidas foram mais liberdade de expressão e libertação de prisioneiros políticos. Outros movimentos foram necessários, como a perestroika (“reestruturação” em português), que abriu o multi partidarismo e empreendedorismo na URSS — todas elas, ironicamente, inspiradas na Primavera de Praga.

Ronald Reagan, Presidente dos EUA, e Mikhail Gorbatchov, presidente da URSS

Gorbatchov também começou uma reaproximação da União Soviética com os países do Ocidente. Em 8 de dezembro de 1987, a URSS e os EUA assinaram o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, um dos mais importantes na área nuclear entre os 2 países.

Mas nada disso era capaz de acalmar os ânimos dos soviéticos. A ala liberal, liderada pelo político Boris Yeltsin, achava pouco o que Mikhail fazia, e a linha dura comunista, com os membros do velho Partido, achavam que Mikhail era liberal demais.

A URSS começou a retirada do Afeganistão, invadido em dezembro de 1979, quase 10 anos depois — as últimas tropas deixaram o país asiático apenas no dia 15 de fevereiro de 1989.

Foi nesse ano que aconteceu a Queda do Muro de Berlim, em meio a movimentos contra os regimes comunistas no Leste Europeu que derrubaram um após o outro governos nos antigos satélites da União Soviética — a Ucrânia desejava a independência, por exemplo.

A linha dura comunista dá um golpe militar para tirar Gorbachev do poder, mas o povo soviético rejeita, e movimentos políticos liderados por Yeltisin revertem a situação.

A Ucrânia aproveitou o caos político na URSS e declarou independência, em 24 de agosto de 1991. Os líderes soviéticos não queriam conduzir o manejo da crise da URSS sem a Ucrânia, que não fazia questão nenhuma de voltar ao bloco, em menos de 4 meses, outros 9 países declaram independência da URSS.

O historiador político Serhii Plokhy afirma que os Estados Unidos não queriam a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

A sinopse de seu livro, é autoexplicativa.

No Natal de 1991, o presidente norte-americano George H. W. Bush discursou para a nação a fim de declarar a vitória dos Estados Unidos na Guerra Fria. No mesmo dia, Mikhail Gorbatchov havia renunciado a seu posto de primeiro e último presidente soviético. A consagração dessa narrativa, em que o fim da Guerra Fria estava ligado à desintegração da União Soviética e ao triunfo dos valores capitalistas sobre o comunismo, protagonizou a opinião pública norte-americana e persiste desde então, com consequências desastrosas para a situação dos Estados Unidos no mundo. O premiado historiador Serhii Plokhy revela neste livro que o colapso da União Soviética foi tudo menos obra dos Estados Unidos. Valendo-se de documentos recém-revelados e de entrevistas originais com os principais envolvidos, Plokhy apresenta uma interpretação nova e ousada dos últimos meses da União Soviética e argumenta que a chave do colapso foi a incapacidade de as duas maiores repúblicas soviéticas, a Rússia e a Ucrânia, concordarem quanto à continuidade da existência de um Estado unificado. Ao atribuir o colapso soviético ao impacto das ações norte-americanas, os dirigentes políticos estadunidenses superestimaram sua capacidade de derrubar e reconstruir regimes estrangeiros. O papel decisivo dos Estados Unidos no desaparecimento da União Soviética não só é um mito como uma crença descabida que tem orientado – e perseguido – a política externa norte-americana desde então.

Mais importante: os EUA não queriam o descontrole do arsenal atômico da URSS, um dos maiores do mundo, pois temia-se que muitas delas caíssem no mercado negro europeu, asiático e do Oriente Médio, ou de qualquer louco com dinheiro o bastante para comprar uma.

Reportagem de 9 de dezembro já indicada o esfacelamento da URSS

Mesmo com o colapso da URSS, os ex-países do bloco socialistas assinaram tratados para a criação da Comunidade de Estados Independentes e ajuda militar em caso de agressão estrangeira.

No rearranjo político após o colapso da URSS, a Rússia emergiu como o o maior país do mundo — literalmente. Ela se tornou a herdeira da URSS, inclusive com sua cadeira na Organização das Nações Unidas – ONU.

Boris Yeltsin, o primeiro presidente eleito em décadas, promoveu um choque de realidade com uma abertura irrestrita ao capitalismo, com 150 milhões de habitantes-consumidores ávidos por tudo que o Ocidente podia oferecer.

Mas essa aposta saiu pela culatra, já que isso não deu certo, com uma população empobrecida. Em 1993, um terremoto social acontece, e os confrontos escalam para a violência brutal, e o Congresso é dissolvido.

Boris Yeltsin, presidente da Rússia, a herdeira da URSS, e Bill Clinton, Presidente dos EUA

Em 1996, ele ainda consegue vencer as eleições, mas a coisa anda tão mal que em 1998 os índices de desenvolvimento humano e desemprego conseguem ser piores do que na época da URSS (!).

Desgastado e acusado de comparecer bêbado em eventos públicos (há vários vídeos do Youtube que, bem, vejam por vocês mesmos), Boris Yeltisin deixa o cargo em 1999.

É quando Vladmir Putin ascende à política. Ex-agente da KGB (será que ele conheceu o Arkady?), venceu as eleições presidenciais de 2000 e de 2004. Em oito anos, melhorou a economia russa e sufocou movimentos separatistas na Chechênia.

Como não podia concorrer uma terceira vez, Putin indicou um afilhado político, Dmitri Medvedev, que, com efeito, ganhou as eleições presidenciais, e tornou Putin o Primeiro Ministro, evidenciando seu papel de joguete político.

Essa abertura irrestrita na época é a origem dos atuais mega milionários russos: muitos burocratas do Partido Comunista se tornaram oligarcas do comércio aberto, inclusive com muitos ligados à corrupção e até crime organizado, como a Máfia russa.

Nas eleições de 2012, Putin ganhou de novo, agora num mandato de 6 anos: ficou até 2018. Durante esse tempo, reduziu o poderio atômico da Rússia consideravelmente — em 1989, a URSS tinha 35 mil ogivas nucleares, e em 2014, havia “apenas” 4 mil –, se tornou o segundo maior exportadores de armas do mundo, tomou a Criméia da Ucrânia (segundo maior país que integrava a URSS), se aproximou do presidente da Síria, Bashar al-Assad, da Síria, e até mesmo se envolveu nas eleições americanas, acusado de interferir no processo ao bombardear digitalmente o Partido Democrata com manobras de fake-news nas redes sociais e internet em geral, em conluio com Donald Trump.

Vladmir Putin, atual (e aparentemente para sempre) Presidente da Rússia

Nas eleições de 2018, Putin novamente foi o vencedor, e a ideia era ficar no poder da Rússia até 2024. Nisso, já seriam 25 anos ininterruptos no comando, marca só superado por Joseph Stalin, que ficou 29 anos (1924-1953).

Mas em março desse ano, Putin promulgou uma lei que permite que ele concorra a mais dois mandatos de seis anos, o que abre caminho para sua permanência no Kremlin até 2036, quando terá 83 anos.

Um breve histórico pré-revolução da Rússia

O Czar Nicolau II, em pintura de H.H. Manizer

Em novembro de 2021, completou-se 104 anos das Revoluções Russas de 1917.

A Rússia no fim do século XVIII ainda era predominantemente rural. De quase 100 milhões de habitantes, apenas 17 milhões viviam em cidades. Só duas tinham mais de 1 milhão: Petersburgo e Moscou — Londres, na Inglaterra, tinham 5 milhões de habitantes.

Uma das poucas obras de fôlego do período que impressionou o mundo foi a Transiberiana, a mais longa ferrovia do planeta, que começou em 1891 e só terminou em 1916, que liga Moscou à Vladivostok, no extremo oriente da Rússia.

Nicolau II era o czar (rei e líder político, o título dado aos monarcas soberanos russos) na época. Em 1894, havia um pouco de expansão industrial, que contribuiu para o aumento de urbanismo, mas o fiasco da Guerra Russo-Japonesa enterrou seu prestígio: navios saíram de Moscou de um lado do continente, deram a volta pela África e todos os mares, em 30 mil quilômetros percorridos só para perderem a batalha naval, com 20 navios afundados.

E baixas de 200 mil pessoas e perdas de controle territorial na China e Coréia, acabaram por enterrar o czar.

Nicolau enfrentava tensões provocadas por liberais e socialistas, e não aceitava a derrota na guerra, com efeito assumindo o controle das tropas, o que só piorou a situação. Revoltosos que pediam o fim da guerra foram para o Palácio de Inverno, sede da administração real e casa do czar. Houve milhares de mortos na repressão, que ficou conhecida como Domingo Sangrento.

O massacre do Domingo Sangrento em São Petersburgo no dia 22 de janeiro de 1905

Outra rebelião foi a dos marinheiros do Encouraçado Potemkin, um motim por melhores condições de trabalhos e comida decente. A situação virou plot para um dos maiores filmes do cinema, Encouraçado Potemkin (1925), de Sergei Eisenstein.

O cazar cedeu às pressões populares e políticas, e permitiu a criação da Duma, uma assembleia legislativa, e uma constituição. A Rússia foi o último país da Europa a deixar o absolutismo — a Inglaterra já era uma monarquia constitucional havia 200 anos.

Nicolau II (à esquerda), e seu primo-irmão, o rei Jorge V do Reino Unido, em 1913, em Berlin, Alemanha

O desastre militar e econômico que a Primeira Guerra Mundial trouxe afundou mais uma vez o prestígio do czar, e de novo, só piorou quando ele mesmo assumiu o comando das tropas.

Greves por mais alimentos e motins de guardas que se recusavam a reprimir o povo fizeram o inevitável: o czar Nicoal II abdicou do trono. Ele pega seus filhos e a czarina Alexandra (de origem alemã, vista com maus olhos pela nobreza e plebe, ainda mais pela aproximação com Rasputin, pretenso mago que ajudava o filho do casal, hemofílico) e se manda de Moscou.

A Família Imperial Russa em 1913 no Palácio de Livadia. Esquerda para direita: Olga, Maria, Nicolau II, Alexandra Feodorovna, Anastásia, Alexei e Tatiana

Os socialistas russos (chamados de sovietes de Petrogrado) e liberais linha-dura se tornam o governo provisório, e brigam por causa da permanência ou não da Rússia na Primeira Guerra Mundial, que devastava vidas e finanças.

Os generais tentam impor uma ditadura militar por golpe, mas são rechaçado nos conflitos que ficaram conhecidos como Outubro Vermelho, tamanha a quantidade de pessoas mortas no massacre.

Os sovietes tinham uma ala comunista raiz chamada bolchevique (“maioria” em português), lideradas por Vladimir Ilyich Ulianov, mais conhecido pelo pseudônimo Lenin, e outra chamada melchevique, mais moderados. E os bolcheviques votam por derrubar o governo provisório, e assumem o poder em outubro de 1917.

Para liquidar qualquer chance de retorno à monarquia, Nicolau Romanov II, sua mulher, seu filho, suas quatro filhas, o médico da família imperial, um servo pessoal, a camareira da imperatriz e o cozinheiro da família foram executados no porão da casa pelos bolcheviques na madrugada de 16 para 17 de julho de 1918.

Nicolau foi o primeiro a morrer, baleado múltiplas vezes na cabeça e no peito. As últimas a morrer foram Anastásia, Tatiana, Olga e Maria, golpeadas por baionetas.

Leon Trotsky, intelectual marxista e revolucionário bolchevique, organizador do Exército Vermelho e, após a morte de Lênin, rival de Joseph Stalin na disputa pela hegemonia do Partido Comunista da União Soviética, declarou em seu diário que a execução aconteceu com a autoridade de Lênin e de outros.

No começo das assembleias de operários e soldados para criarem as administrações autônomas que construiriam a maior nação comunista da história, um armistício foi assinado com a Alemanha para acabar com as hostilidades, pois a vitória dos bolcheviques fez a Rússia mergulhar em uma sangrenta guerra civil.

Até 1922, houve confrontos entre o governo comunista, uma facção esquerdista anti-bolchevique, monarquistas, militares revoltosos do exército e até mesmo anarquistas.

Ômega Vermelho
Arte original de Jim Lee para o Ômega Vermelho
Ômega Vermelho
A entrada de Ômega Vermelho nos games da Capcom/Marvel

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