DUZENTAS POSTAGENS | Razões de escrever um blog e o pecado capital da vaidade

Está é o 200º texto que posto no blog Destrutor, o primeiro de 2022. O blog é uma operação jornalística nativa digital de um homem só — eu mesmo, Tom Rocha (chave PIX pra ajudar com qualquer quantia: destrutor1981@gmail.com), onde faço o acompanhamento de cultura, política e tendências, com análises do consumo de informações e assuntos da cultura pop.

É uma descrição mais elaborada que encontrei pra substituir “críticas, resenhas e textos diversos”. Falo de cinema, música, quadrinhos, tecnologia e mídia, sendo que grande parte delas está acompanhada de um contexto político.

No começo de 2018 eu criei algo, um blog, para falar do que eu queria — e definitivamente nada do que eu não queria.

O logo do blog
Duzentos posts por aqui já neste blog

A vida é curta e cheguei no fim da festa uns 10 anos — as redes sociais mataram a leitura desde o começo dos anos 2010.

Quando a gente passa uma determinada impressão para uma pessoa, é porque ela expressa apenas um lado nosso. Não é inteiramente o que você pensa, ainda que não seja inteiramente tudo que eu gostaria de ser. É um ritual menos sofisticado, com o perigo do doce ficar amargo.

E quase sempre fica.

Ser Ministro de Relações Exteriores de si mesmo não é fácil, requer agilidade mental e habilidade para antecipar expectativas alheias. E quando você faz conteúdo para ser lido pelos outros, é mais complicado ainda.

Capa do disco Unknown Pleasures, do Joy Division, de 1979. A maior parte das músicas indie rock até hoje em dia miram nesse monolito da indústria musical

Ponderar, argumentar e produzir um resultado eficiente exige sabedoria, que só pode ser adquirida com mais e mais conhecimento, no grande paradoxo de saber tanto a ponto de reconhecer que na verdade não sabe nada.

Esse é um bom lado para por os pensamentos nossos de cada dia, e ficar o mais longe possível de ser um obeso mental, não negligenciar pensamentos, respeitar a própria palavra.

E eu gosto de palavras, gosto também de escrever, e mais ainda de ler.

Por isso insisto e fico nisso, o blog, com o maior prazer.

Se tiver junto nessa, estou nas melhores das cias.

Esta matéria do Rock in Rio é um bom exemplo do que produzo aqui no Destrutor.

ROCK IN RIO | A crônica da repetição musical também é política

Rambo III é outro exemplo de sinergia de contextos:

RAMBO III | O cinema político e o suspiro da Doutrina Brejnev

Outras matérias do blog são mais tranquilas e low profile, como essa do Armored Warriors

ARMORED WARRIORS | O futuro da Capcom é porrada

E outras são inevitáveis, como o sensacional jogo de tiro marxista criado por uma empresa japonesa para máquinas capitalistas de comer ficha: o Guevara

GUEVARA / GUERRILLA WAR | O game de Che e Fidel feito pela SNK

Produzir matérias de fôlego e pesquisa como essas para postar no blog, mostrando todas essas informações, dá um trabalhão danado.

É para quem gosta de ler, feito por quem gosta de ler (e escrever).

Escrever e ser lido é um desafio imenso no Brasil, e é dobrado quando se deve vencer conteúdo ruim e fake news. Elaborei isso com detalhes junto com a origem da Equação Anti-Vida, um dos conceitos mais legais dos quadrinhos da editora DC Comics.

EQUAÇÃO ANTI-VIDA | “Se alguém possui o controle absoluto sobre você – você não está realmente vivo”

Dados do Digital News Report, do Reuters Institute, divulgados em abril de 2020, mostram que o maior canal de informações do brasileiro é a internet. Cerca de 87% da população utiliza como principal fonte de informação — TV tem 79%. Desses 87%, 64% admitem utilizar o Facebook como fonte principal para o consumo de notícias, enquanto 55% utiliza o Whatsapp. Apenas 35% checam se a notícia recebida é falsa.

Uma pesquisa do Estadão, de 2016, indica que 44% da população não lê livros nem revistas — 30% admitem nunca ter comprado um livro na vida.

E quando você começa um projeto — seja para leitura ou não –, não faltam opiniões. A pressão por fazer mais, melhor e diferente do que você tem feito vem de todos os lados, até de você mesmo, caso não esteja com o espírito alinhado com seu propósito.

Um poster de Viúva-Negra, filme do Marvel Studios, lançado em 2021, ainda sem resenha para o blog. A razão? Fazemos esse corre (ou não) dependendo do que podemos levantar a respeito que seja original e relevante em comparação a outras resenhas de momento

É por isso, em minha humilde opinião, a razão de tantos caírem nas armadilhas fáceis ao mergulhar em tendências, motivo de perderam identidade e propósito. Exemplo: há influenciadores de TikTok com milhões de seguidores e poucos milhares no Instagram; canais de YouTube com milhões de views e poucos em podcast.

Seu projeto é mais sobre como você prefere se comunicar e interagir, do que qualquer outra coisa. Assim, há espaço para dancinhas culinárias no TikTok e há espaço pra texto — e quanto mais genuíno e original for o conteúdo, maior a chance dele se destacar.

Mas boa sorte se preferir texto.

Os blogs

Nos dias de hoje, na maior parte das vezes, um blog não é para ser encarado como produto cultural, e sim um modo de auxiliar a ganhar dinheiro, um braço de uma estratégia comercial para monetizar algum negócio: saúde, moda, viagem, televisão, música, cosméticos, tecnologia, games, entretenimento, arte e até como ganhar dinheiro com…blogs.

A primeira identidade visual do blog

Os blogs começaram como diários pessoais no final dos anos 1990, e rapidamente foram encarados como o meio ideal de divulgar informações e ideias na internet, pessoais ou profissionais. E ele virou outro tipo de animal com a popularização das redes sociais nos anos 2010, semimorto e enterrado sob camadas e mais camadas de stories, vídeos, áudios e X novas funções de apps mil.

O termo blog vem de “weblog”, “registro na web”, criado em 1997 por John Barger e abreviado para “blog” em 1999 por Peter Merholz, dois profissionais que trabalhavam com computação e internet nos anos 90.

O termo blog nasce em 1999, ano de Matrix, um dos filmes mais emblemáticos do cinema. Ele mesmo ainda que poderoso, bebeu muito de obras anteriores, como a série em HQ Os Invisíveis e o filme Johnny Mnemonic, também estrelado por Keanu Reeves, baseado em uma história de Grant Morrison

A leitura

Conhecimento requer capacidades de julgamento e de análise, e implica a capacidade de atribuir valor, classificar e interpretar os dados. Isso não é muito fácil, mas com 14 anos de experiência em reportagens e jornalismo, creio que consegui chegar a um ponto bem próximo disso.

Os mecanismos de busca do Google, ou mesmo de redes sociais como Instagram, Facebook e Twitter, não revelam os seus algoritmos que operam essa mecânica, e isso ajuda a tornar a situação ainda menos clara, porque óbvio, buscam interesses comerciais.

Na internet, faltam inúmeras funções de filtragem antes providos por gatekeepers — figura de linguagem presente nas teorias do jornalismo, como os editores em jornais impresso, portais e canais de televisão, ou mesmo bibliotecários e revisores de texto.

Uma residência típica de um gatekeeper

O poder comercial colossal que as big techs e redes sociais têm, antes pertencente à mídia jornalística (agora semidefunta), trouxe polarização, desinformação, problemas de saúde mental, discurso de ódio (em quantidades absurdamente maiores que o primeiro dono entregava), além da inevitável concentração de recursos. Tudo isso são pás e mais pás de cal em cima do jornalismo.

Isso nos leva diretamente a outro fato: a exigência para o usuário de uma pretensa capacidade de julgamento a ser exercido por conta própria. O simples fornecimento de dados não substitui a capacidade de avaliá-los, nem de saber avaliar se são confiáveis ou em que argumentos se baseiam.

Pensamentos líquidos dos anos 2010-2020

Não é tarefa fácil construir textos em blog em cima de todo esse peso.

Mas cá estou.

Tenho infinita gratidão por quem lê o blog, e sou muito agradecido pelos muitos aprendizados depois de tantos posts de matérias, críticas, análises e entrevistas.

Jennifer Connelly em The Hot Spot, um neonoir dirigido por Dennis Hopper em 1991. Na foto, ela em uma cena perto de um spinner rack da Marvel Comics, com algumas HQs da editora. Cada sujeito e predicado dessa frase anterior é objeto de interesse do blog para discutir

Todo dia temos que agregar algo para fazer diferença para quem está na busca por algo novo na internet, para quem quer algo mais.

É nisso que miro quando trago assuntos ~~ batidos e velhos. E a única garantia que existe ao fazermos algo repetidas vezes é o aprendizado que ele promove, às vezes sem nem nos darmos conta disso.

Afinal, o que já não foi escrito de um filme como o Caça-Fantasmas?

Cigarros no cinema dos anos 1980

OS CAÇA FANTASMAS | Quem você vai chamar?

O contexto desse filme tem a ver com o Hollywood Rock no Brasil?

HOLLYWOOD ROCK | Quando a trilha sonora do cigarro era o rock

O que se pode dizer do Black Sabbatth que ainda não foi dito?

BLACK SABBATH | Black Sabbath, do Black Sabbath

Ainda há algo a ser falado de Zona Verde?

ZONA VERDE | Quando Bourne foi para o Iraque pós-11 de Setembro

A Ann Nocenti já foi aclamada o suficiente?

ANN NOCENTI | Uma jornalista no editorial da Marvel Comics

A minha “responsabilidade” é fazer você sair melhor do que antes de ter lido o texto.

Afinal, quem está até aqui lendo, podia fazer outra coisa, qualquer outra coisa.

Quando se pega essa estrada de construir conteúdo evergreen (termo de marketing de conteúdo para material que trata de temas atemporais, mantendo-se “relevante” por muito tempo depois da sua publicação), levamos nas mãos duas sacolas: uma se chama começar e a outra se chama continuar.

Saga Inferno dos X-Men, Marvel Comics, anos 1980
Como diz a peça promocional da saga, algumas vezes bons planos levam uma vida inteira. O roteirista Chris Claremont (sob edição de Ann Nocenti) criou uma das mais legais e interessantes sagas dos quadrinhos de super-heróis nos anos 1980 na Marvel. Já elaboramos parte dela em matérias sobre a Ann, o desenhista Marc Silvestri, o arte-finalista Dan Green e o personagem Destrutor, e vamos continuar aprofundando o assunto em 2022

As duas são pesadas, mas a primeira você pode deixar logo no início da estrada. A outra, tende a ficar mais e mais pesada com a caminhada. É essa a razão de muitos não serem constantes e consistentes o tempo inteiro com a produção de conteúdo.

Eu tento me manter motivado lendo muito.

De tudo um pouco, mas principalmente do que eu gosto.

Há de se aproveitar, pois a geração Z tiktoker não tem muito mais atenção do que um peixinho de aquário.

E a cada dia perdemos mais referências.

Referências

No fim do ano, em 22 de dezembro de 2020, morreu a a escritora e jornalista Joan Didion, aos 87 anos. Vítima da doença de Parkinson, ela foi a precursora do chamado jornalismo literário. Era uma ensaísta de língua e escrita ferina da realidade americana no pós-guerra. Impediosa com as palavras. Escreveu livros consagrados, como Rastejando até Belém e Álbum Branco, e conseguia de modo magistral se inserir nas próprias narrativas.

Rastejando Até Belém foi lançado originalmente em 1968, e reúne artigos publicados em revistas americanas entre 1965 e 1967.

O escritor Tom Wolfe batizaria o estilo do livro como “novo jornalismo”, um tipo de texto não-ficção em que o autor, usando técnicas literárias da ficção, se põe na história e traz uma perspectiva pessoal sobre fatos jornalísticos. Didion está ao lado de Norman Mailer, Gay Talese e Hunter Thompson, entre outros grandes nomes do jornalismo literário.

HUNTER THOMPSON | A morte do jornalismo gonzo

Além de ensaios e críticas, Didion também foi autora de ficção e roteirista de filmes de sucesso, como Os Viciados (1970) e a versão de 1976 para Nasce Uma Estrela.

O filme Os Viciados, aliás, estará na Temporada 2022 do Destrutor na forma de uma maratona de filmes resenhados do grande e ilustre ator Raul Julia, um dos maiores nomes que o cinema já teve, e que ainda está para ser melhor reconhecido — razão de fazermos uma maratona de filmes dele. Aliás, Os Viciados é seu primeiro longa-metragem.

Onde buscar informação

Atualmente, meu modo de consumo de notícias e informações é por meio de newsletters. No oceano de informação da internet, os barquinhos, navios e iates de mídia têm que se destacar muito para serem notados.

Jornais, portais, sites de TV e rádio, blogs e podcasts de grande audiência têm que ter profissionais qualificados — ou preferidos do público — para segurar o interesse.

Divisões e opostos na vida são mais comuns do que imaginamos

Mesmo os veículos oficiais podem se manter com apenas nomes, dependendo da reputação e prestígio que alcançaram. O problema são as cambalhotas e malabarismos para se manter no topo, ao sabor dos ventos dos donos das plataformas, pois a cada dia, Google, Facebook e outras big techs mudam seus algoritmos de alcance, e entregar conteúdo fica cada vez mais difícil no feed do Face, no Youtube, no Instagram.

Ou mesmo no buscador do Google — por muito tempo, o Destrutor foi o primeiro lugar do Google para “construindo uma carreira“, graças à minha resenha do filme Construindo Uma Carreira, com a atriz Jennifer Connelly, uma das preferidas da casa aqui. Os coachs e quem procura coachs não deviam entender nada…

CONSTRUINDO UMA CARREIRA | O John Hughes de Jennifer Connelly

Para quem gosta de informação qualificada e comodidade, além de curadoria responsável e material de qualidade a ser consumido, assinar uma newsletter pode ser uma boa opção para escapar dos algoritmos, e saber o que se precisa saber muito mais rápido.

A newsletter já é uma velha da internet. Trata-se do conhecido boletim informativo, um formato usado em comunicação interna e externa de empresas, como avisos, informações e notícias, e que no meio digital, tem sua base construída por e-mail.

Se você tem 50 pessoas e os e-mails dela, tem a certeza de que 50 pessoas poderão ver o que você quer comunicar (com a boa vontade do servidor não jogar no spam).

Mais importante: a newsletter está ficando pop de novo.

Um dos serviços mais usados, o Substack, uma plataforma online que fornece infraestrutura de publicação, pagamento, análise e design para suportar esses boletins de assinatura digitais, recebeu um investimento de 15 milhões de dólares em 2019.

Em 2020, o Linkedin lançou uma ferramenta interna de newsletters dentro da sua plataforma.

A newsletter Morning Brew, que traz notícias do mercado financeiro (de Wall Street ao Vale do Silício), teve o seu valor avaliado em 75 milhões de dólares em 2020 — seu lema é “fique mais inteligente em apenas 5 minutos” (em inglês, “Become smarter in just 5 minutes”).

Em 2021, o Twitter comprou a plataforma de newsletter Revue (rival da Substack) e cortou a taxa pela metade para incentivar a monetização de quem criar com ela.

A revista Forbes inovou e lançou a sua própria plataforma de newsletters, que vai permitir que jornalistas ganhem dinheiro com assinatura, uma modalidade cada vez mais comum no mercado. Nos Estados Unidos, jornalistas de grandes jornais e revistas já montaram as suas próprias newsletters.

Por aqui, em sempre leio 3 todo dia: a do Poder360, sobre notícias dos bastidores políticos dos Três Poderes no Brasil e geral; a do Meio e a do Nexo, duas das mais diversas do mercado, com notícias sobre o cenário político, de saúde, cotidiano e artes. Todas as três também tem modelos pagos, mas oferecem versões gratuitas também.

Para saber mais de música, eu gosto muito de ler a Semibreve, da Dora Guerra (assine aqui), que vem com impressões, reflexões e novidades ótimas da indústria musical, com um olhar jovem e diferenciado para não escorrer nos velhos gostos e costumes de um mercado tão dinâmico como o da música.

E para ficar por dentro do mundo da tecnologia e das marcas, a Beatriz Guarezi com sua newsletter Bits to Brands (assine aqui) é uma das melhores do Brasil. E ela é uma das grandes entusiastas do formato ainda, o que só melhor tudo.

Segundo ela mesma (em palavras tiradas de sua própria newsletter)

Uma newsletter é o constante montar de um quebra-cabeças (e talvez seja por isso que eu goste tanto) (…) começa por identificar as peças (acontecimentos) e como elas se encaixam entre si, para o resultado final ser algo não só encaixado, mas fácil de entender e que inspire uma reflexão sobre o todo, não somente sobre as partes.”

(…) outro grande momento de 2021 foi quando o Instagram passou horas fora do ar, e nós passamos dias ouvindo especialistas recomendarem que marcas e criadores fossem donos da sua audiência, sem depender de “espaços alugados” na internet.

(…) em uma newsletter, a ferramenta de disparo é apenas o intermediário. A sua audiência é sua, e vai com você para onde for. Além disso, todos que se inscrevem são expostos ao seu conteúdo, não é a plataforma que decide.”

O jornalismo é enterrado mais fundo a cada ano, então é preciso se informar por outros meios. No meio de novembro de 2021, a versão brasileira do site espanhol El País encerrou suas atividades. Em menos de dois anos, três versões brasileiras de grandes veículos internacionais fecharam as portas: BuzzFeed News e o Huffpost já haviam deixado o Brasil em 2020.

Parte da culpa é a inevitabilidade do que já cometamos aqui: o vazamento financeiro das publicações. Desde que o jornal migrou das bancas para o digital e a ideia de assinatura de um veículo fechado envelheceu, as redações vivem uma batalha diária para repensar sua sustentabilidade financeira.

Blade Runner, filme de 1982 dirigido por Ridley Scott. O filme se passa num futuro de 2019, e nesta cena vemos o protagonista lendo um jornal impresso. Não temos carros voadores e as pessoas não leem mais jornais também

Pra piorar/melhorar, quando o lado do dinheiro aparece para ajudar, trata-se de uma faca de dois gumes, já que as big techs ainda compram/ajudam com trocados algumas organizações jornalísticas, sempre necessitadas de dinheiro para manter suas operações. Trocados mesmo: estima-se que, juntas, elas abocanhem dois terços de tudo o que se gasta com publicidade na internet mundial.

O Facebook anunciou em março de 2020 que “investiria” US$100 milhões em jornalismo — receitas da empresa: US$86 bilhões, um crescimento de 22%, em ano de início de pandemia. Em termos de porcentagem, representou 0,001% da receita.

O Google anunciou em outubro de 2020 “investimentos” de US$1 bilhão em parceria com veículos de notícias. Receita da empresa: US$182,5 bilhões em 2020.

Importante: os “investimentos” são diluídos em vários anos, enquanto que a receita descrita aqui foi de apenas UM ANO.

É preciso encontrar formas de financiar o jornalismo de forma sustentável, além de outros meios como financiamento coletivo ou do corre-sozinho de newsletters autossustentáveis.

Não que o dinheiro gordo de gigantes de tecnologia como Google e Facebook não importem, mas como dissecar os poderosos que criaram o caos que criaram? Foram eles que contribuíram para tornar mais aguda a crise financeira do jornalismo. Na Austrália, uma legislação inovadora já obriga esses conglomerados a pagarem por notícias.

O poder da crítica

Um dos objetivos do blog Destrutor é análise crítica. É pedante achar que há de se criar regras para consumir certos produtos, mas é interessante municiar o público com mais informações para ele saborear as obras e descobrir como que certos temperos agem. A crítica é importante, porque ajuda a contextualizar obras.

A história em quadrinhos de Maus (1980, de Art Spielgelman) é uma obra-prima, que se reveste de ouro quando é entendido o Holocausto, que matou milhões de judeus no contexto da Segunda Guerra Mundial. Ganhou o Pulitzer, o “Oscar” do jornalismo nos Estados Unidos, único caso da história do prêmio.

Gen – Pés Descalços (1973/1985), de Keiji Nakazawa, tem o impacto de uma bomba atômica equivalente — metaforicamente e de um modo infeliz e real, já que ambas são obras autobiográficas.

Maus é a história dilacerante do pai de Art nos campos nazistas. Gen é a infância terrível de Nakazawa, ele próprio um sobrevivente da bomba lançada em Hiroshima.

Uma crítica bem contextualizada leva o leitor a entender as duas obras como espelhos de suas culturas. Se todos sabemos sobre os campos de concentração, deveríamos saber o que o povo japonês sofreu por conta das vontades de Hirohito, o 124º imperador do Japão, aliado da Alemanha na época da guerra.

Detalhei bem isso no centésimo post do blog

DESTRUTOR | Os 100 posts no blog

No que me diz respeito, críticos podem me ajudar em uma ou mais das seguintes coisas:
1. Apresentar autores ou obras que eu desconhecia até o momento.
2.Convencer-me de que venho subestimando um autor ou obra.
3.Mostrar relações entre obras de diferentes épocas e culturas.
4. Fornecer uma ‘leitura’ de uma obra que aprimore minha compreensão dela
5. Jogar luz sobre um processo de ‘produção’ artístico
6. Jogar luz sobre a relação da arte com a vida, com a ciência, com a economia, com a ética, com a religião, etc.”

(HQ Histórias Brilhantes – 10 Hqs De Alan Moore – 2020, organização de Marc Sobel)

É com base nessas premissas que tento dar minha pequena contribuição nesse debate e universo, a quem interessar possa.

O blog Destrutor começou de modo mais amador, ainda num domínio Blogspot do Google (e que ainda está no ar aqui > www.destrutor.blogspot.com). O primeiro post nele foi em 15/02/2018, uma matéria antecipando o afrofuturismo que o filme Pantera Negra, da Marvel Studios, traria ao cinema pipoca.

Em dezembro de 2019, iniciei a operação num site de domínio próprio — este aqui onde você está –, sendo que o primeiro post por aqui foi em 02/12/2019, uma matéria sobre a importância da Semana Internacional de Música, que ira rolar no fim do ano em questão. Preferi deixar o aniversário de 2 anos em detrimento de uma marca mais bacana, como essa de 200 é.

SIM 2019 | Como entender a música pelos bastidores da indústria

Para quem pira nas costuras narrativas e sociais que assuntos aparentemente banais como filmes, músicas, tecnologia, quadrinhos e outros produtos da indústria cultural impactam a dinâmica uns dos outros e na sociedade.

Sempre me interessou as histórias de inversão de expectativas, de todo mundo achar que algo já nasce “pronto” e criado pelos ~ seus ~, quando quase nunca é.

Como uma mulher francesa ter inventado o cinema (oi, Alice Guy-Blaché)

Alice Guy-Blaché

Um par de judeus ter criado o herói negro mais foda de todos os tempos das HQs (gracias, Lee e Kirby)

Arte de Jack Kirby para o Pantera Negra. Texto de Stan Lee

Uma pianista ter feito a trilha sonora do game de porrada mais popular da cultura gamer (valeu, Yoko)

A pianista Yoko Shimomura, criadora da trilha sonora do game de luta Street Fighter II
Um dos jogos mais populares da indústria de videogames

Um cantor heterozera ter feito uma das canções mais gay de todos os tempos na cara de todo mundo em plena ditadura de 1979 (SPOILER: foi o Wando)

Tento trazer um pouco dessas histórias, uma vez por semana, no Destrutor.

O progresso da tecnologia na difusão de nossas opiniões e contato uns com os outros apenas nos deu meios para que possamos retroceder com mais eficiência. E estamos progredindo: tudo esfarela com mais rapidez.

Você pega qualquer matéria para ler na internet, e quando se arrisca a ler os comentários, tem vontade de furar seus olhos com o objeto mais afiado q tiver por perto.

Bloodbourne (2018), texto de Ales Kot e arte de Piotr Kowalski

A quantidade de desinformações, idéias vendidas e compradas, enganos, descrença, preconceito, estupidez, ofensas e burrice se aproxima no nível apocalipse de perigo e temor.

O nosso crescimento social é diretamente proporcional às promessas feitas; e o lucro disso é inversamente proporcional às metas cumpridas.

Se manter positivo e ver o lado bom das coisas e das pessoas não é um lado ruim de se encarar a vida, e é nisso que eu acredito e tento muito mal fazer.

Porque a alternativa é se tornar amargo igual e entrar em lutas livres de tecla daqui e dali.

Uma analogia com o mixtape

Solar (2021), da Lorde. As críticas ao álbum surpreendentemente não foram favoráveis. E isso importa?

Antes de artistas musicais reclamarem do pica-pica e recorte de suas canções de álbuns pensados a ouvir de modo linear na agora muito populares playlists de streamings, já existia a fita cassete (K7) — um padrão de fita magnética para gravação de áudio, surgida no começo dos anos 60. Quem inventou foi a Philips, empresa holandesa de tecnologia.

A K7 tem uma importância colossal no cenário musical, pois propiciou a mobilidade aliada ao prazer de escutar o som.

Podíamos levar mais praticamente na casa dos amigos; primeiros gravadores da Philips já eram portáteis, mas a Sony explodiu a indústria com a invenção do walkman; toca-fita em veículos revolucionaram e popularizaram ainda mais o formato, pois a música se tornava a trilha sonora de passeios e viagens.

Na época da Cortina de Ferro, as Alemanhas viviam um intercâmbio cultural pela troca de fitas — o David Bowie mesmo, que fez um show no ano da queda do muro (1989), encorajava a troca de piratinhas de sua música entre os dois lados.

Arte de capa de um cassete alemão da Basf

O que eu mais gostava (e todo o resto do mundo) era gravar minhas próprias tapes, pegando de rádio, reproduzindo de soundsystem, de double decks, cópias de amigos. Entre a década de 70 e 90 o cassete era um dos formatos mais comuns para gravação, junto aos LP’s e posteriormente aos CD’s.

Quando montei o blog Destrutor, tinha o mixtape em mente — uma coleção/colação do que me é mais agradável, sem ordem específica, para curtir, e interagir com quem também gosta. De tecnologia e entretenimento, de mídia a política.

O livro Como a Música Ficou Grátis, essencial para entender as complexas dinâmicas da indústria cultural. E duas fitas K7: o álbum Led Zeppelin IV (1971) e a trilha sonora do filme Missão Impossível (1996)

E o exemplo de música é salutar aqui.

Em um mar de informações musicais, as entidades que detém mais poder — como o Spotify e a Apple — detém também os recursos para organizar e controlar a maré de demanda. À medida que esses curadores poderosos transformam a música em uma espécie de utilidade pública, subvertem também o que significa ser músico.

Gordon Raphael, produtor de música, em um evento no SESC-Sorocaba (2018)

Não atuamos no segmento da música“, declarou Daniel Ek, o fundador do Spotify, à New Yorker, em 2014. “Atuamos no momento.”

Então o que importa, produtores ou produto?

Trago de novo então a discussão de ter um gatekeeper, sem pretensões de definir o que não deve ser consumido — você nunca verá uma crítica negativa no Destrutor pela simples razão deu não querer perder tempo e energia com o que eu considere não ser bom para ser recomendado.

O que não significa que eu não possa avaliar alguma obra aos olhos da razão. Nesta matéria sobre a trilha sonora do game de corrida Jaguar XJ220, o jogo em questão é deixado de lado pela simples razão dele não ser bom o suficiente, a despeito do foco da matéria ser a música.

JAGUAR XJ220 | A música de jazz eletrônico nos games

A crítica se dobra para obras com peso de relevância e que desvendam o passado de modo inédito ou antecipam conceitos, status e pensamentos.

No mundo do cinema, surgido no final do século XIX, André Bazin começou a escrever sobre a área em 1943 e foi co-fundador dos Cahiers du Cinéma em 1951, na companhia de Jacques Doniol-Valcroze e Lo Luca.

Segundo Bazin, qualquer dita crítica de um filme que se proponha a analisar uma obra cinematográfica sem levar em conta sua proposta estética, aliando forma e conteúdo, é não só equivocada como também datada.

Bazin se tornou um renomado e influente crítico de cinema e teórico do cinema. Além de editar Cahiers, a revista mais celebrada do meio, fez uma coletânea de quatro volumes de seus textos, Qu’est-ce que le cinéma? (O que é o cinema?).

Blonde, filme biográfico da atriz Marylin Monroe, estrelado por Ana de Armas, a sair neste 2022

Neste 2022, teremos um texto inédito todo domingo e um monte de #repost.

Mas é feito com apuro e dedicação.

Duvido não encontrar um que goste.

Hoje eu celebro o blog Destrutor, e celebro o seguir em frente, com todos os desafios e conquistas. Não podemos esquecer que foi um ano difícil, talvez mais do que 2020. O ano passado foi marcado pelo luto causado por mais de meio milhão de mortos da pandemia, pela esperança motivada pela imunização contra a covid-19 e por incertezas provocadas pelo avanço da variante ômicron e a corrosão da situação financeira e social de grande parte dos brasileiros. Essa crise econômica aprofundou a desigualdade e a pobreza. E esses mesmos fatores são motivos de instabilidade em democracias em outros países também.

Bem vindo 2022! Legion #34 (1991), da DC Comics, texto de Keith Giffen e arte de Barry Kitson

Temos um perfil do blog no Instagram bem modesto — tem pouco mais de 200 seguidores, mas você encontra a gente lá todo dia > @destrutorblog

Desde o pau do Facebook em outubro de 2020, não atualizamos a página do blog dessa rede. Faça um favor para você mesmo, e saia de lá.

No Twitter você não encontra o blog Destrutor, mas me encontra > @tomrocha81

Quer conversar comigo chama lá, ou me manda um
e-mail: evertonroch@gmail.com

Abaixo, seleciono algumas leituras para se aprofundar mais no assunto de crítica e análise do consumo de informações, que é o que procuro sempre trazer aqui para o Destrutor

A Ajor cita o programa do Google chamado “Destaques”, painéis elaborados por veículos de imprensa e publicados no app Google Notícias. A medida, anunciada em outubro do ano passado. Os participantes dessa iniciativa do Google foram divulgados em espaço publicitário em jornais em janeiro, com nomes como Folha de S.Paulo, O Estado de São Paulo, O Tempo, UOL, Cultura, R7, e outros. No total, 34 participantes foram anunciados. Hoje, mais de 60 veículos fazem parte, mas o Google não revela os nomes das empresas de mídia.

https://www.poder360.com.br/midia/associacao-pede-transparencia-de-big-techs-na-relacao-com-veiculos-de-jornalismo/

Se você jogar uma moeda pra cima hoje em dia no Brasil você é capaz de acertar na cabeça de alguma organização que tenha recebido dinheiro dessas empresas ou de algum outro grande conglomerado de tecnologia. É difícil fugir desse dinheiro, especialmente perto do deserto de financiamento jornalístico no Brasil. A grande maioria das iniciativas não tem a capacidade, nem a escala, nem a audiência para conseguir 20-30 mil assinantes. Além de difícil de conseguir, dinheiro de fundações é escasso, burocrático e frequentemente amarrado a projetos.”

https://www.nucleo.jor.br/linhafina/2021-11-29-jornalismo-financiamento-google-facebook

Vamos pegar o exemplo brasileiro. O país é o principal mercado consumidor de notícias e entretenimento da América Latina, certamente uma das mais atraentes vitrines para qualquer fornecedor de produtos ou serviços. Aqui também o jornalismo enfrenta severas dificuldades para manter empregos e empresas, mas quantas fundações locais ou poderosos fundos de investimento incentivam o negócio de notícias no país? Talvez não caibam nos dedos de uma mão… Quantos super-ricos tentam “salvar o jornalismo” local? Embora o país tenha dois nomes de peso entre os 100 maiores bilionários do planeta, não se ouve falar de boas ações de Joseph Safra (56º na lista da Forbes) e Jorge Paulo Lemann (86º), que juntos acumulam mais de 40 bilhões de dólares. O jornalismo nacional deveria esperar essa ajuda? Melhor não…”

https://www.observatoriodaimprensa.com.br/etica-jornalistica/quanto-custara-ao-jornalismo-aceitar-o-dinheiro-de-google-e-facebook/

A enorme dificuldade de lidar com a dicotomia finanças/notícia está debilitando gradualmente os grandes jornais no Brasil e no resto do mundo, empurrando-os para uma armadilha, geralmente fatal: demitir jornalistas para enfrentar a queda de receita. Na prática, isto empurra a empresa para os braços de investidores financeiros. Como a imprensa deixou de ser uma máquina de produzir dinheiro, os novos controladores dos grandes conglomerados promovem uma desidratação radical dos jornais controlados por eles antes de transformá-los em sucata, onde só os bens imóveis têm algum valor financeiro.
O grupo El Pais foi comprado pelo conglomerado financeiro Vivendi, francês, que ao perceber que a edição brasileira do jornal espanhol não dava lucro resolveu simplesmente desfazer-se dela.”

https://www.observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/o-caso-el-pais-e-a-reinvencao-do-jornalismo/

A primeira década do século XXI foi a da digitalização e a organização em série. A segunda foi a das plataformas. A terceira década será a dos algoritmos criativos. Estamos preparados para isso?”, questiona Jorge Carrión, escritor e crítico cultural, em artigo publicada por Clarín-Revista Ñ, 06-12-2021. A tradução é do Cepat. Segundo ele, “por meio desses três passos – digitalização, serialização, algoritmos – a cultura do século XXI foi retirando a importância da obra e do artista singulares e a repassando para a série, a franquia, o universo, o catálogo, a plataforma.”

https://www.ihu.unisinos.br/615079-digital-serial-algoritmica-a-cultura-do-seculo-xxi-chegou

Uma das páginas de Inferno, nova saga dos X-Men que encerra o arco majoritário de Jonathan Hickman nos mutantes da Marvel. Em breve resenhado aqui

A origem do nome do blog Destrutor está ligada a palavra destrutor, um sinônimo para destruidor. Ela vem do latim, destructor, e é usada em linguagem de processos de computação.

Também batiza no Brasil um personagem dos quadrinhos americanos de super-heróis. Trata-se do Destrutor, o codinome de Alex Summers nos X-Men.

Ele surgiu em uma história dos heróis mutantes publicada em The X-Men #54 (1969), com o nome de Havok, palavra inglesa de derivação francesa, geralmente usada como sinônimo de destruição. Ele foi co-criado pelo roteirista Arnold Drake e os desenhistas Don Heck e Neal Adams.

X-Men #249 (1989), arte de capa de Marc Silvestri e Dan Green, com Destrutor em destaque. Seu mood visual inspira o blog também

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