Rambo III é o típico produto capitalista que é traído pelo avanço de idéias. E uma vez expostas as mensagens, é lógico colher o que foi plantado.
Na narrativa do filme, Rambo e os Estados Unidos da América ajudaram a formar as bases que construiriam a milícia Al-Qaeda no Afeganistão, que um dia daria ao mundo a reconfiguração política definitiva chamada 11 de setembro de 2001.
É a inevitável lei do retorno funcionando 100%. O produto de consumo de massa e propaganda armamentista, na forma do complexo industrial militar em que Hollywood opera, entorta narrativas em que os EUA são perdedores ou vilões, e Rambo III se mostrou um verdadeiro tiro pela culatra — se observado agora, a longo prazo e com o distanciamento das obviedades do momento em que foi lançado.
O “sistema” é capaz de incorporar qualquer tipo de modismo ou rebeldia e neutralizá-los em seus valores originais, não importando que seja um filme de ação política imperialista travestido de ação bombada a testosterona militar, como Rambo III.
Paz é Guerra, Guerra é Paz no mundo de Rambo
Entre outras coisas, Rambo neste filme salva o Afeganistão, os afegãos, brinca de futebol com uma cabra morta, luta montado a cavalo contra blindados (é mesmo cavalo do Indiana Jones em sua Última Cruzada) e mata um monte de russos — foram 108 assassinatos no filme, com 163 cadáveres na telona.
O filme Rambo III é um subproduto em contexto da Guerra Fria, com tropas do governo marxista da República Democrática do Afeganistão e soldados da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Juntos, eles tentam manter o status quo do governo afegão contra rebeldes revolucionários, que se organizam em grupos de guerrilheiros fundamentalistas e modernistas, alguns chamados de mujahideens, todos de diversas nacionalidades.
A maioria das facções eram islâmicas sunitas e recebiam apoio militar, na forma de armas e dinheiro, de nações como o Paquistão, Estados Unidos, Reino Unido e outros.
A guerra dos republicanos marxistas contra os guerrilheiros “revolucionários” durou uma década, e resultou em milhares de mortes (entre civis e combatentes). Uma enorme parcela da população afegã fugiu do país, e buscou refúgio em países como o Paquistão e o Irã.
Esse conflito é chamado de Guerra Afegã-Soviética (1979-1989). Os EUA mediam forças com a URSS por todo o planeta, no embate de capitalismo vs comunismo, e qualquer derrota, para qualquer um deles, representaria perda de moral política nos jogos de guerra nas disputas geopolíticas em zonas de influências ao redor do globo.
Era isso que ditava as dinâmicas dos conflitos militares no fim do século XX.
Afeganistão, cemitério de impérios
A despeito do que o filme revela, o país Afeganistão guarda muitas curiosidades e características marcantes sobre um dos locais mais importantes do mundo.
É lá que foram encontrados os primeiros vestígios de civilização humana sedentária agrícola, datada de 7 mil anos atrás, o que torna o Afeganistão um dos berços da humanidade como a conhecemos.
O terreno do país é uma encruzilhada geográfica, em que se pode ter acesso ao planalto iraniano, ao subcontinente indiano, as montanhas da Cordilheira do Himalaia, aos desertos chineses e as planícies da Ásia.
A cidade de Báctria, por exemplo, 4 mil anos atrás, é apontada como o local de morte de Zoroastro, fundador da religião mística do zoroastrismo, que durou mil anos.
Vários povos passaram pelas terras afegãs, que estava no caminho da Rota da Seda (um corredor comercial que ligava vários reinos), como a tribo dos medos, o conquistador persa Dario, o Grande, e também Alexandre, o Grande (que se casou com uma princesa de Báctria e deixou uma, de muitas cidades conhecidas como Alexandria, no país, e que existe até hoje, com o nome atual de Kandahar), entre muitos outros.
No século 1, budistas passaram na região, e foi graças a eles que a religião chegou na Índia e na China.
Califados do Islã chegaram ao Afeganistão e turcos também. Indianos, turcos e iranianos governaram o Afeganistão em épocas seguintes, mas todos enfrentaram problemas para dobrar os afegãos.
Um dos apelidos do país é “cemitério de impérios“, termo geralmente atribuído a Alexandre, o Grande. Conquistar pela invasão o Afeganistão não era problema, e sim manter o controle em um país acidentado, cheio de desertos a sudoeste (em direção ao Irã) e com estepes temperadas e as montanhas da cordilheira do Hindu Kush, a leste.
Uma ocupação duradoura sempre foi complicada para os invasores. O primeiro império próprio dos afegãos foi o Império Hotak, em 1709.
Em 1823, é criado o Emirado do Afeganistão, e desde então, nenhuma potência estrangeira tomou mais o país. Ou quase, como veremos a seguir.
A presença soviética no Afeganistão vista em Rambo III não foi a primeira. No século XIX, a Rússia disputou o país com os britânicos, que na época dominavam a Índia.
O Afeganistão era o único pedaço de terra que separava a Rússia do Império Britânico, que tentou por três vezes invadir o país. E maior potência do mundo na época se deu mal em todas.
Na última, os ingleses foram obrigados a assinar um acordo em que reconheciam a independência do país, em 19 de agosto de 1919, data que é considerada a fundação do atual Afeganistão.
Como sempre acontece em qualquer lugar do planeta, os problemas internos acabaram por transformar a sociedade afegã. Com o tempo, facções internas fundamentalistas emergiram no poder e disputavam o governo.
De monarquia deposta por proibir ensino religioso e uso de véus por mulheres a revoluções por modernistas — que criaram a República em 1973, o Afeganistão foi mudando.
Em 1978, os socialistas deram outro golpe e tomaram o poder, inspirados pelo modelo soviético. Os conflitos internos escalonaram de vez, e o governo socialista pediu ajuda para a URSS, que invadiu o país em 1979.
Nisso, as forças tribais e tradicionalistas, juntos com os modernistas depostos, pegaram em armas para resistir. Não demorou quase nada para os Estados Unidos intervirem para não permitir o avanço geopolítico de seus inimigos russos em mais um capítulo da Guerra Fria.
E para vencer os soviéticos dessa vez, os americanos criaram um monstro que os devoraria tempos depois.
Rambo III
(Rambo III, 1988,
de Peter MacDonald)
Quem ele pensa que é? Deus?”
“Não, Deus teria piedade”
Lançado em 1988, um ano antes da guerra acabar, Rambo III tinha como diretor original Russell Mulcahy, que foi demitido depois de duas semanas de produção por diferenças criativas.
Peter MacDonald, o novo diretor, teve apenas dois dias para se preparar antes de assumir a bronca. Nesse cenário de Guerra Afegã-Soviética, o longa-metragem mostra que os afegãos são um povo que nunca se rende, menos ainda para os soviéticos invasores.
O Coronel Sam Trautman (Richard Crenna) queria que seu melhor soldado, John Rambo (Sylvester Stallone), o acompanhasse na entrega de mísseis Stinger FIM 92 para os “lutadores da liberdade” mujahideen, como são chamados os rebeldes afegãos no filme, mas o coronel não conseguiu tirar Rambo de um monastério budista tailandês, e foi sozinho mesmo. Rambo fica sabendo que Trautman foi capturado, e só então parte para salvar seu mentor.
O herói deixa o monastério, situado em Bangkok, Tailândia, onde foi deixado no fim de Rambo II – A Missão, e retoma suas atividades de guerreiro militar mais fodão da América.
Essa cena inclusive foi bem real, pois as gravações ocorrerem em um monastério de verdade, que estava sendo renovado na época, e todos os extras em cena eram de fatos monges, que negaram pagamento a favor de dar o dinheiro para pessoas que mais precisavam.
Algumas cenas filmadas por Russell Mulcahy ficaram presentes no corte final do longa, como a sequencia em que Trautman é emboscado no helicóptero, e a cena em que Rambo reflete sobre a proposta de retornar como soldado.
Os antagonistas são o Coronel Zaysen (Marc de Jonge) e seu segundo em comando, Kourov (Randy Raney).
A primeira cena do filme é um take da embaixada e a bandeira americana, para não deixar dúvidas do que veremos em tela.
No Paquistão, Rambo conhece Mousa (Sasson Gabai), um fornecedor de armas para os mujahideen, que concorda em lavá-lo para o deserto afegão; e o garoto Hamid (Doudi Shoua), o alívio infantil do filme, artifício comum nos anos 80 para garantir audiência dessa faixa etária.
Por conta da invasão russa, Mousa explica para Rambo o que ocorre no país, e faz paralelos com outras tentativas históricas, como as de Alexandre, o Grande, Gengis Khan, os britânicos. Em suas palavras, o Afeganistão é “uma história de pedra a ser lapidada por seu próprio povo“.
Há matança indiscriminada de mulheres e crianças pelos soldados soviéticos, e conforme um dos líderes rebeldes, Masoud (Spyros Fokas) acredita, libertar o coronel Trautman está diretamente ligado à possibilidade de tudo isso ser conhecida no “mundo livre“.
O termo é usado para designar o fluxo sem amarras de informações que rola em países capitalistas, e vem diretamente da Guerra Fria.
Era a forma mais direta de descrever os Estados que não estavam sob o domínio da União Soviética, seus aliados do Leste Europeu, China, Vietnã, Cuba e outras nações comunistas.
O elemento infantil sob a forma do garoto Hamid, apesar de real, joga contra a imersão exigida nesse longa de fetichização de violência e armas.
Trata-se de uma perspectiva infantil desnecessária, e que infelizmente só funcionaria com ele morto, o que obviamente jamais aconteceria neste filme em que Rambo é o salvador da pátria.
E é por conta dele que o mesmo covil dos soviéticos tem que ser invadido por duas vezes, já que na primeira é o menino quem atrapalha a tentativa.
Trautman salva Rambo da morte certa em uma cena, para logo depois o soldado partir sozinho ao ataque contra os soviéticos.
Para não deixar todas as obviedades vilanescas de fora, os soldados soviético malvados não se furtam a atirar em seus próprios companheiros se necessário, e até usá-los como escudo. Marc de Jonge interpreta o coronel soviético Zaysen com todos os clichês possíveis.
A cena final de Rambo III é um blindado versus helicóptero — difícil ter um combate mais oitentista militar do que este. O amuleto que a vietnamita Co (Julia Nickson) deu a Rambo no segundo filme fica com o Hamid. Não há mulheres no elenco principal, e poucas aparecem de fato até o fim do filme.
E é em Rambo III que uma das cenas mais clássicas da franquia acontece, quando Rambo cauteriza um ferimento de bala com pólvora e fogo.
As cicatrizes obtidas nos outros dois filmes da franquia estão presentes em Rambo III, o primeiro a não levar nenhum subtítulo.
Em Rambo – Programado Para Matar (1982), ele feriu o braço direito quando pulou do penhasco para as árvores, e em Rambo II: A Missão (1985), ficou com um machucado na região dos olhos, na cena de torturua com a faca aquecida no fogo.
Rambo III também marca a última aparição de Richard Crenna como Coronel Sam Trautman.
Ele morreu em janeiro de 2003, antes do quarto filme ser produzido, Rambo IV (2008), que é dedicado à sua memória. Crenna chegou a aparecer em Hot Shots 2: Part Deux (1993), conhecido no Brasil como Top Gang 2 – A Missão, filme de comédia baseada na franquia Rambo.
O ator inclusive perguntou para Stallone se ele não se importava em retratar uma paródia do coronel. Sly não foi contra.
Filmar Rambo III foi a primeira experiência cinematográfica de Peter na cadeira de direção. Ele dirigiria também a terceira sequência de A História Sem Fim (1994), e episódios das séries de TV O Jovem Indiana Jones (1993) e Contos da Cripta (1996).
Mas ele nunca foi um novato nos cinemas. Peter foi o diretor de segunda unidade (termo no cinema usado para gravações de cenas secundárias e de menores importância em filmes) de obras como Star Wars – O Império Contra-ataca (1980), Excalibur (1981), Rambo II: A Missão (1985), Batman (1989), Tango e Cash (1989), Harry Potter e a Câmara Secreta (2002), Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004), Eragon (2006) e a Bússula Dourada (2007).
A música do filme ficou por conta de Jerry Goldsmith, com uma fotografia árida laranja muito bonita de John Stainer. Rambo III custou 63 milhões de dólares para ser feito, uma verdadeira fortuna na época, e com efeito, o filme mais caro do cinema até então.
A política de Rambo III
O final de Rambo 3 seria originalmente mais longo, com o herói decidindo ficar com os soldados afegãos. Ele tinha encontrado seu lar, e Trautman retorna sozinho para os Estados Unidos. Ele foi alterado, talvez com vistas para ter uma continuação posterior.
Os créditos finais, que conta com cenas de Rambo lutando ao lado de guerrilheiros afegãos, foi alterado depois dos atentados de 11 de setembro.
Originalmente, o texto dizia “Este filme é dedicado aos bravos guerrilheiros Mujahideen do Afeganistão”, mas foi modificado para “Este filme é dedicado ao corajoso povo do Afeganistão”, exatamente devido à relação entre os combatentes e a rede terrorista Al Qaeda.
O velho Masoud é baseado em Ahmad Shah Masoud, um líder real afegão da resistência contra os russos, e que se tornou Ministro da Defesa do país, inclusive ficando contra o regime Talibã, que dominou a nação depois da saída dos soviéticos.
Depois do fim da guerra contra os russos, o país mergulhou em uma guerra civil entre os vencedores, e os soldados do Talibã, um grupo radical islâmico, foi o vencedor.
De 1996 a 2001, eles criaram um estado totalitário no país, e mesmo com a invasão americana em 2001, depois dos ataques de 11 de setembro, eles não foram destruídos por completo.
Osama Bin Laden não era um dos mujahideen, mas foi o legado desses que deu base para ele se tornar o que se tornaria, junto com outros terroristas conhecidos da Al-Qaeda.
Agentes do serviço de inteligência do Paquistão, junto com agentes secretos da CIA (Agência Central de Inteligência, o órgão que opera política externa secreta para os americanos), treinaram e deram armas para os guerreiros tribais fundamentalistas e modernistas do Afeganistão, para que combatessem os republicanos marxistas e soviéticos. O regime Talibã existe exatamente por conta desses fatores.
Tudo isso culminaria no contexto dos ataques de 11 de Setembro contra os EUA, que resultaria em diferentes formas da máquina cultural americana absorver e torcer as narrativas a seu favor, como o filme Zona Verde (2010), de Paul Greengrass, e a franquia de videogames Call of Duty, de 2003, nascida durante a invasão dos EUA no Iraque.
CALL OF DUTY | Guerra Fria nos videogames para entender política
Complexo Industrial-Militar
O termo complexo industrial-militar foi utilizado pelo presidente Dwight D. Eisenhower (1953-1961) para descrever o intricado processo pelo qual os EUA cada vez mais produziam armas e tecnologias bélicas.
Essa força ainda exerce influência no desenho da política externa norte-americana e geopolítica mundial, e sua natureza híbrida é o que movimenta as peças desse jogo.
Esse relacionamento político entre as forças armadas de um governo nacional e a indústria tem como objetivo obter para o setor privado a aprovação política para pesquisa, desenvolvimento e produção, assim como o apoio para treinos militares, armas, equipamentos e instalações.
“Essa conjunção de um imenso establishment militar e uma grande indústria de armas é nova na experiência estadunidense. A influência total – econômica, política e, até mesmo, espiritual – é sentida em cada cidade, em cada legislativo, em cada gabinete do Governo Federal.”
Com o complexo industrial-militar, todo avanço técnico radicalmente novo produzido pelo trabalho de Pesquisa e Desenvolvimento da sociedade ou é gestado pelo próprio militarismo ou é imediatamente empregado em fins militares no capitalismo.
Na sinergia macabra em que isso opera, se desenvolvem as forças produtivas em uma mão, enquanto outra avança com a barbárie em forma de dominação.
O Presidente admitiu que a Guerra Fria deixava clara a “imperativa necessidade de seu desenvolvimento (militar)”, mas se mostrou preocupado sobre a “injustificada influência que o complexo militar-industrial estava crescentemente conquistando.” Em especial, pediu à nação a se precaver contra “o perigo que esta política pública poderia tornar-se prisioneira de uma elite científico-tecnológica.”
É importante considerar, no entanto, que o governo de Eisenhower ampliou o arsenal atômico, ao mesmo tempo em que defendia a redução dos efetivos militares regulares. Eisenhower governou o país no auge da Guerra Fria, e os americanos viviam o terror de serem mortos na fogueira nuclear de mil bombas atômicas.
Eisenhower era um General Cinco Estrelas do Exército Americano, sendo o Comandante Supremo das Forças Aliadas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Foi o responsável pela dessegregação racial nas Forças Armadas e pela Lei dos Direitos Civis de 1957. Mais do que ninguém, tinha amplo conhecimento do setor militar nos EUA.
O filme que Mikhail Gorbachev
matou antes do lançamento
Quando o filme já estava em pós-produção, o líder soviético Mikhail Gorbachev começou a implementar a política de transparência que acabou por aliviar a tensão política e melhorar as relações entre os EUA e a URSS. E, 10 dias antes do lançamento, as tropas soviéticas começaram a abandonar o Afeganistão, destruindo o principal argumento do filme.
O forte de Gorbachev, além de invalidar roteiros cinematográficos, eram exatamente essas realizações na política externa da então URSS. Ele iniciou uma reaproximação comercial com o Ocidente e uma série de longas conversas com Ronald Reagan e George Bush, dois políticos de maior grandeza nos EUA.
Gorbachev tinhas planos de acabar com a ameaça nuclear até o ano 2000, e foi graças aos seus esforços pessoais que os arsenais nucleares das duas superpotências começaram a ser controlados, com uma inédita e inovadora fiscalização mútua.
Armamentos foram desativados e mísseis de médio alcance, abolidos. Gorbachev recebeu o Nobel da Paz de 1990 por isso.
Além de sair do Afeganistão, fez reaproximações comerciais com Margaret Thatcher, a Dama de Ferro, primeira-ministra do Reino Unido.
Especialistas e analistas políticos consideram seu maior feito a abolição da Doutrina Brejnev, nome dado para uma série de decisões executivas como resposta soviética à Doutrina Truman — nada mais nada menos que o tal jogo de conflito geopolítico da Guerra Fria por zona de influência.
Era isso que limitava a autonomia dos países do leste europeu, colocando os partidos comunistas locais sob direta influência do Comitê Central do Partido Comunista soviético. E foi isso que possibilitou o avanço de decisões que desencadearam a Guerra Afegã-Soviética.
Em 3 de julho de 1979, o então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, assinou uma ordem executiva para secretamente apoiar financeiramente os grupos de oposição ao regime pró-soviético em Cabul, Afeganistão.
As primeiras forças soviéticas entraram no Afeganistão em 24 de dezembro de 1979, sob a liderança do premier Leonid Brezhnev.
Eles ainda estavam lá enquanto outras partes da máquina cultural planetária se aproveitava do cenário.
Uma das mais notáveis foi em 1987, quando a softhouse SNK criou Guevara para os arcades, um jogo de tiro onde controlamos Fidel Castro e Che Guevara contra soldados do ditador fantoche dos EUA.
GUEVARA / GUERRILLA WAR | O game de Che e Fidel feito pela SNK
Já a retirada deu-se quase uma década mais tarde, a 15 de maio de 1988, se completando a 15 de fevereiro de 1989, já com Mikhail Gorbachev no cargo de líder da União Soviética.
A decisão histórica de Gorbachev ao acabar com a Doutrina Brejnev (a referência é o nome do líder soviético, de 1964 a 1982) permitiu que cada país do Pacto de Varsóvia renovasse seus quadros políticos, o que provocou fissuras na Cortina de Ferro meses antes da Queda do Muro de Berlim.
O melhor exemplo aconteceu na Polônia, com a ascensão dos primeiros não-comunistas no país, com os políticos do sindicato polonês Solidariedade, fundado em 1980.
O grupo liderado por Lech Walesa foi a primeira oposição em um país do leste europeu, e com efeito, conseguiram a eleição de um primeiro-ministro que não era do Partido Comunista, um fato inédito na Polônia do pós-Segunda Guerra Mundial e no Pacto de Varsóvia.
Como isso aconteceu meses antes da Queda do Muro de Berlim, já ficava estabelecido outro entendimento sobre a validade dos conflitos e manutenção do status comunista.
Não foi sem razão que a URSS deixou para a República Democrática da Alemanha e a República Federal da Alemanha a decisão de como trabalhar as tensões dos povos das duas Alemanhas divididas — ocidental capitalista e oriental comunista.
O comando soviético não mais pressionaria por interesses na região, e os alemães finalmente puderam se organizar e decidir como proceder em uma eventual reaproximação e união dos dois países, o que de fato aconteceu.
O filme que Ariel Sharon
visitou nas filmagens
Outro fato da maior relevância política em Rambo III foi que o político e militar israelita Ariel Sharon visitou as filmagens, já que a maior parte das locações aconteceu em Israel.
E isso diz ainda mais sobre a politicagem voluntária e involuntária do longa. Poucas horas depois dos ataques às Torres Gêmeas e ao Pentágono, em setembro de 2001, o ex-primeiro ministro israelense Benjamin Netanyahu declarou: “Yasser Arafat é o líder da maior organização terrorista do mundo, o pai de todos os terroristas, o nosso Bin Laden“. Nos dias seguintes, o primeiro-ministro Ariel Sharon adotou o discurso de Netanyahu, equiparando Arafat ao dissidente saudita Osama Bin Laden, tentando assim conseguir o apoio dos Estados Unidos e dos países europeus para a destruição da Autoridade Palestina.
Analistas políticos israelenses dizem que Sharon não soube ler a nova situação que se criou depois do dia 11 de setembro, e que provocou uma tensão sem precedentes entre Israel e seu principal e mais poderoso aliado, os Estados Unidos, que não concordou com as equiparações, apesar de ocorrer similaridades.
Sharon foi o 11º primeiro-ministro de Israel até ficar incapacitado por um acidente vascular cerebral.
Sharon foi considerado um dos maiores estrategistas do país e maior comandante de campo da história dos israelenses. Era um feroz general conhecido por sua ousadia excessiva. Desde 1948, era comandante do Exército de Israel (ou seja, desde a criação do país).
Foi líder da Unidade 101, teve participações fundamentais na Guerra de Independência de 1948, como a Operação Ben Nun Alef, a Crise do Suez em 1956, a Guerra dos Seis Dias de 1967, a Guerra de Desgaste, a Guerra do Yom Kipur, de 1973, a Guerra do Líbano de 1982, onde era Ministro de Defesa.
Passou por outros cargos ministeriais até 2000. A partir daí, serviu como primeiro-ministro de Israel de 2001 a 2006.
Ainda hoje, em Gaza e na Cisjordânia, é uma suposição comum que foi ele, como primeiro-ministro, que ordenou o envenenamento do presidente Yasser Arafat com polônio antes de sua morte em 2004.
Em 1983, Sharon massacrou civis palestinos, com apoio de falangistas libaneses, nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, durante a Guerra do Líbano. As cidades de Sabra e Shatila tiveram suas saídas dos campos bloqueadas para impedir a saída dos moradores e facilitar o massacre. Ariel Sharon foi responsabilizado pessoalmente por isso.
O processo foi aberto graças à lei de jurisdição universal, criada na Bélgica em 1993, que permite que pessoas acusadas de cometer crimes de guerra sejam julgadas, independentemente do local onde os crimes tenham sido cometidos.
Sharon sofreu um derrame em 4 de janeiro de 2006 e foi deixado em um estado vegetativo permanente até sua morte, oito anos depois.
Como percebido, as duas últimas partes da matéria tem um peso político mais intenso e complexo, então vamos encerrá-lo da melhor maneira americana — passando um verniz pop sem noção e conexão alguma com a realidade.
A canção He Ain’t Heavy, He’s My Brother é a que encerra Rambo III, uma música de Bill Medley, um soft rock romantic típico dos anos 80. Bill era a metade da dupla The Righteous Brothers, junto com Bobby Hatfield. Ficaram famosos nos anos 1960 com o hit Youve Lost That Lovin Feelin.
Em 1987, seu dueto com Jennifer Warnes, (I’ve Had) The Time of My Life, foi incluído na trilha sonora do filme Dirty Dancing (1987), lançado um ano antes de Rambo III.
/ RAMBO III EM OUTRAS MÍDIAS. David Morrell, o autor de First Blood, o romance que deu origem ao primeiro filme do Rambo, escreveu a novelização do terceiro filme. Vários videogames foram produzidos para Rambo III, alguns lançados no mesmo ano em que estava em cartaz nos cinemas.
A Ocean Software fez Rambo III (1988) para computadores Amiga, Amstrad CPC, Atari ST, Commodore 64, DOS, MSX e ZX Spectrum. No mesmo ano, a Sega publicou um game de Rambo III para Master System.
Em 1989, a Taito fez um jogo de tiro para arcades sobre o filme, e em 1993, a Sega lançou Rambo III para Mega Drive. Em 2008, a mesma softhouse usou elementos do filme em um jogo de arcade do Rambo, chamado Rambo: The Video Game, baseado nos três primeiros filmes da franquia.
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