O synthwave é um gênero de música que resgata e reformula toda a sonoridade instrumental que marcou os anos 80.
O som é fundamentalmente instrumental, com elementos clichês oitentistas nas músicas, como baterias eletrônicas, sintetizadores analógicos e batidas novas, como as do electro house.
O synthpop está no rolê desde os anos 80, mas conversa demais com o alto filão da indústria fonográfica, diferente dessa versão mais nova, com um background saudosista de um tempo exagerado, que come pelas beiradas do mainstream.
O nome new retrowave, ou apenas retrowave, também é muito usado para designar o synthwave.
Nos últimos anos, considerando a força que nostalgia oitentista ganhou na cultura popular, o synthwave deixou os cantos obscuros da música na internet para ganhar o mainstream – mesmo que o público não tenha percebido logo de cara.
Tem aos montes em playlists de Youtube e Spotify.
Afinal, o gênero nasceu no meio dos anos 2000, em nichos da internet, que criavam música inspirados exatamente na trilha de filmes dos anos 80.
Em 2011, a trilha do filme Drive, composta pelo novaiorquino Cliff Martinez, já mostrava do que se tratava o estilo.
Os minutos iniciais de Drive, do diretor Nicolas Winding Refn, são marcados pelo personagem de Ryan Gosling dirigindo pela cidade durante a noite, escutando um som melancólico de vocal distorcidos, acompanhado de sintetizadores repetitivos.
A trilha sonora de Drive tem 19 músicas, das quais 14 é de Martinez, ex-baterista da banda californiana Red Hot Chilli Peppers.
Ele tocou no álbum de estreia e no Freaky Styley, em 1984 e 1985, respectivamente. Nightcall é uma das faixas da trilha, feita por Kavinsky (Vincent Belorgey), DJ francês que ganhou notoriedade com o filme.
A música conta com a participação da brasileira Lovefoxxx, do Cansei De Ser Sexy, e é a primeira a ser tocada durante os créditos iniciais. David Grellier é outro que está na trilha sonora, sob o nome de College. Todos com uma pegada eletrônica de sons oitentistas.
A Waxwork Records lançou no dia 20 de fevereiro de 2018 a trilha sonora do clássico Despertar dos Mortos, filme do George A. Romero, de 1978.
As músicas são da banda Goblin, e é a primeira vez que as composições da banda italiana são lançadas na íntegra, em formato de vinil.
O grupo é uma das influências para quem faz synthwave.
E provavelmente você escutou muito desse estilo de som por aí.
Se você assistiu a qualquer episódio de Stranger Things, por exemplo.
Synthwave e Stranger Things
A trilha sonora das três temporadas do seriado Stranger Things saíram em discos de vinil.
Elas são dos músicos Kyle Dixon e Michael Stein, do projeto musical S U R V I V E.
Buscando diversas interpretações já feitas em clássicos do terror, em músicas do diretor de vários clássicos do cinema John Carpenter — um cineasta emblemático da indústria, um faz-tudo que criou a franquia slasher Halloween, a música tema do filme, e clássicos do sci-fi e aventuras, como Enigma de Outro Mundo, Fuga de Nova York e Os Aventureiros do Bairro Proibido, em canções da banda alemã Tangerine Dream e dos italianos Goblin, a dupla americana resgatou sintetizadores empoeirados para compor o baile sonoro que dão vida a Stranger Things de uma maneira completamente integrada e funcional.
A trilha sonora incidental de Stranger Things é uma viagem em direção ao passado, sob direção dos The Duffer Brothers, que criaram a série.
Na segunda temporada, há 9 episódios, contando com 34 faixas e pouco mais de 70 minutos.
Os músicos Kyle Dixon e Michael Stein seguem uma estrutura delimitada conceitualmente, indo da ambientação contida dos primeiros episódios à euforia inevitável do desfecho.
Toda a música de ST é synthwave.
São trilhas incidentais, com melodias e fórmulas instrumentais que criam uma atmosfera minimalista de anos 80. Triste, épica, serena, proposta para ser lenta, e nunca se aproximando da velocidade que o rock oitentista tem.
As músicas de ST não tem pressa, são vagarosas e detalhistas.
O som da cidade de Hawkins, Indiana, onde a série se passa, é marcante. E claro que há espaço para caos e morte, com volume alto de repetições de tons dos sintetizadores, ruídos metálicos tortos e frenéticos.
A habilidade dos compositores Dixon e Stein mostra como temas sombrios e de suspense investigativo e sobrenatural podem render músicas de qualidade.
A música eletrônica em ST foge do convencional de orquestra que a principal referência, o diretor arrasa-quarteirão Steven Spielberg, promovia no meio cinematográfico.
Essa é a razão dos irmãos Duffer escolherem um caminho diferente.
Dixon e Stein tinham uma pequena banda eletrônica de Austin, Texas.
Segundo Matt Duffer, eles foram atrás dos músicos no Spotify, e a música Dirge foi o motivo do pedido de casamento. Uma montagem dessa música com cenas de Halloween (1978), E.T. – O Extraterrestre (1982) e Poltergeist (1982), e a trilha de John Carpenter de A Bruma Assassina (1981), foi o que fez Stranger Things sair do papel (no caso, vídeo de apresentação a executivos).
Dixon e Stein foram chamados para trabalhar na série, e eles se demitiram de seus antigos empregos na mesma hora.
Eles nunca tinham feito trilha nenhuma na vida. Suas composições não são nenhuma reinvenção da roda, mas as músicas entregam uma espécie de dark ambient music muito difícil de enjoar.
E se Drive e Stranger Things são dois dos exemplos mais pop do mercado, há playlists essenciais para quem quer saber mais sobre o synthwave.
O canal de YouTube New Retrowave é o melhor.
Vaporwave
De obras mais recentes, alguns trabalhos de influência podem ser traçados desde a trilha sonora do game de corrida Nintendo F-Zero (1990) até o EP Teddy Boy (2005), do Kavinsky, e até mesmo a pedra angular do movimento vaporwave Floral Shoppe (2012), disco de estreia do Macintosh Plus, da artista trans Vectroid (Ramona Andra Xavier).
O vaporwave é uma estética dos anos 2010 que subverte a estética consumista com grafismos e sons dos anos 90, muito baseado em designs e interfaces gráficas dos anos 90, com músicas baseadas em samples de pop e smooth jazz dos anos 80.
É fruto de saudades de um tempo que só existiu em nosso quarto, literalmente o choro digital da geração X. Nasceu no começo de 2010, no ambiente online de comunidades do Bandcamp, SoundCloud, Last.fm e 4chan.
O estilo gerou outros subgêneros, como o future jazz e o vaportrap, e até artistas como Tame Impala fizeram algo do gênero, como pode ser visto no clipe de Cause I´m a Man, do disco Currents (2016).
Artistas como Trent Reznor, o Homem Nine Inch Nails, e seu parceiro Atticus Ross fizeram sons de música synthwave para filmes de David Fincher, como o recente A Garota Exemplar (2014) e A Rede Social (2010).
Outros bons exemplos de começo de synthwave são algumas músicas da trilha do filme Ex Machina (2015) e todas de Tron – O Legado (2010), esse último feito pelo Daft Punk .
Em videogames o estilo synthwave está bem representado com o indie Hotline Miami (2012), da softhouse Devolver Digital, é frequentemente apontado como o primeiro a ter músicas do estilo, combinando uma jogabilidade brutal e sanguinária com gráficos granulados de 8 ou 16 bits.
As músicas são de artistas americanos, franceses, suíços, mexicanos e ingleses. A trilha sonora da sequencia, de 2015, é impressionante em seu synthwave.
Synthwave em Berlim Ocidental
Não fosse o amadurecimento dos gêneros de terror e horror nos cinemas durante os anos 70, muitas bandas e artistas não teriam oportunidade de escutar os trabalhos de bandas como Tangerine Dream e Goblin, frequentemente citados como influências marcantes para se fazer synthwave.
O Goblin é uma banda italiana de rock progressivo que fez a a trilha sonora de filmes de terror como Prelúdio Para Matar (1975) e Suspiria (1977), todos verdadeiros clássicos do mestre italiano do cinema de terror, Dario Argento.
Os músicos gostavam muito de Genesis e King Crimson. Foi essa fama alcançada na Europa, graças as trilhas dos filmes, que o diretor George Romero conheceu a banda, e os incluiu nos trabalhos de O Despertar dos Mortos.
Outros trabalhos dos italianos incluem Mansão do Inferno (1980), Tenebre (1982) e o álbum Daemonia, de 2000. O Goblin tem 24 discos lançados.
O Tangerine Dream vem da Alemanha, formada em 1967 na Berlim Ocidental, por Edgar Froese.
Ele era um tecladista nascido na antiga Prússia, e faleceu em 2015, em Viena.
O Tangerine foi uma das maiores bandas de rock progressivo eletrônico, junto com ninguém menos que os caras do Kraftwerk. Seu extenso currículo e vasta qualidade pode ser encontrado em quase uma centena de discos.
Os atos psicodélicos da década de 60 na indústria musical e os sintetizadores eletrônicos formaram o gosto de Edgar, que chegou a tocar na casa de Salvador Dali — vindo até a ter a oportunidade de conhecer o pintor pessoalmente.
O encontro com Dali mudou a forma como Froese lidava com a música e tornou seu trabalho ainda mais experimental – afinal, Dali é o mestre do surrealismo e das coisas estranhas.
A carreira da banda é dividida em sete fases, assim como sua sonoridade instrumental, passando por inspirações do Pink Floyd (fase Syd Barrett), a cena progressiva alemã do krautrock, uma aposta solitária com vocais (único disco da banda assim é o Cyclone, de 1978), as trilhas sonoras de filmes de Hollywood, o pop nos anos 80, e uma constante troca de formação dos membros, que trouxeram aspectos diversificados nas composições.
Em todos os álbuns do grupo, a mesma proposta: uma tapeçaria sonora com elementos trançados de camadas leves e ritmadas para criar uma atmosfera progressiva única.
Um techno pop sombrio difícil de achar em qualquer outro trabalho artístico musical já feito.
A banda tem nada menos que 51 álbuns de estúdio, 12 álbuns ao vivo, 26 álbuns de compilados e três EPs lançados.
As trilhas sonoras que o Tangerine trabalhou incluem as trilhas dos filmes A Lenda (1985); Comboio do Medo (1977, direção de William Friedkin, o diretor de O Exorcista); Negócio Arriscado (1983), Te Pego Lá Fora, (1987, um clássico da Sessão da Tarde); Profissão: Ladrão (1981); A Fortaleza Infernal (1983); As Chamas da Vingança (1988); Quando Chega A Escuridão (1987) entre dezenas de outros.
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