SECRET SIX | A espionagem e chantagem na DC Comics

A equipe de operações secretas Secret Six foi criada na editora de quadrinhos de super-heróis DC Comics no final dos anos 1960, auge da Guerra Fria, época que a cultura pop aproveitou ao máximo o tema na máquina cultural americana de entretenimento.

O título de mesmo nome, Secret Six (1968), escrito por E. Nelson Bridwell e o desenhista Frank Springer — artista dos mais dinâmicos em seu tempo –, durou 7 edições, e sua cinética revolucionária se manteve mesmo com Jack Sparling substituindo Frank logo na terceira edição.

Os integrantes do Secret Six foram alguns dos primeiros personagens (somente) humanos e “mais realistas” da editora, e em um primeiro momento, eles não interagiram com nenhum ser superpoderoso colorido e de cueca por cima das calças da DC Comics.

Secret Six DC Comics
Secret Six, da DC Comics, criada por Nelson Bridwell e Frank Springer
Secret Six DC Comics
A equipe teve curta duração mas marcou muitos jovens leitores que se tornariam artistas na editora

A história de Secret Six contava sobre 6 indivíduos — cada um com um talento especial — forçados a agirem como uma equipe pela misteriosa figura chamada Mockingbird (traduzida habitualmente como Harpia no Brasil, apesar da tradução mais correta ser Bem-Te-Vi), chantageados a fazerem missões secretas sob a ameaça de terem segredos escusos revelados, era muito instigante.

Secret Six DC Comics
A primeira aparição do Mockingbird/Harpia em Secret Six

O Secret Six tinha como objetivo prender ou exterminar grupos e pessoas que as “forças oficiais” do governo dos Estados Unidos não podiam tocar, e sabíamos de alguma maneira que Mockingbird/Harpia não era exatamente o vilão da história.

A equipe era composta por Mike Tempest, o campeão de boxe conhecido como Tiger Force, resgatado da morte certa pela máfia italiana nos EUA pelo Harpia; o físico nuclear August Durant (um dos primeiros protagonistas negros das HQs), com influência em diversas instituições secretas e militares americanas, como CIA (agência de operações secretas), Nasa (tecnologia espacial) e Pentágono (centro de estratégias militares), e amarrado ao Harpia por remédios exclusivos que garantem sua vida; o ilusionista e escapista Carlo Di Rienz, visado pela máfia napolitana que matou sua esposa e aleijou seu filho (Harpia o ajuda em troca de cooperação); a ex-famosa atriz francesa e agora mestra dos disfarces Lili de Neuve, acusada injustamente de assassinato, “salva” pelo Harpia; o piloto e dublê King Savage, que Harpia chantageia com segredos militares; e a femme fatale e artista marcial Crimson Dawn, uma ex-socialite que perdeu tudo para um vigarista.

Secret Six DC Comics
Secret Six #2, arte de Frank Springer

Não havia nada como eles publicados em 1968. Auto contido, em uma porção à parte do Universo DC, aventuras de espionagem em ambientes urbanos e políticos da época, com todos seus clichês bons e ruins.

Produto de seu tempo, essa série da DC Comics mostrava um lado ideológico bastante conservador da sociedade, mas esse Sexteto Secreto (tradução adotada algumas vezes no Brasil para Secret Six) entregava diversão mesmo com temas sérios e originais misturados a assuntos existas, machistas e políticos (socialistas e comunistas retratados de forma grotesca) possíveis.

Secret Six DC Comics

Secret Six DC Comics

Mas entendendo que é uma obra cimentada em um ponto do espaço-tempo que veria diversos muros sociais serem derrubados, é possível apreciar o passeio que ele deseja nos entregar.

Secret Six DC Comics

Secret Six DC Comics

Secret Six: as 7 edições originais

A capa de The Secret Six #1 é literalmente a primeira página da história, com ela abrindo a ação vista na primeira página, uma proeza artística na época, ainda engessada por fórmulas prosaicas.

Todo mérito ao grande Frank Springer, ao seguir sequencialmente a explosiva arte do carro caindo em um penhasco.

Secret Six DC Comics

Secret Six DC Comics
A revolucionária capa e página 1 da primeira edição de Secret Six. Arte de Frank Springer

A primeira missão da equipe foi impedir o vilão Zoltan Lupus de seguir com seus planos de construir armas de destruição em massa, como uma que retira o oxigênio do ar.

Já aqui os seis suspeitam que o Mockingbird/Harpia na verdade pode ser…um deles!

Na segunda edição, temos os seis secretos tentando impedir o roubo da mais nova aeronave americana, o XB-107, dando plantas e esquemas falsas para agentes estrangeiros. No final, um espião russo, Nicolai Sholokov, consegue os planos, e o Secret Six tem que detê-lo.

Frank Springer deixa o título nesse número, infelizmente. Mas o artista Jack Sparling se revelou um bom substituto para os números seguintes..

O desenhista teve uma carreira longa nos quadrinhos, fazendo as tiras de jornais Hap Hopper e Claire Voyant e diversas revistas das editoras Harvey Comics e Charlton Comics, onde desenhou as aventuras do Homem de Seis Milhões de Dólares e Mulher Biônica).

Na DC, Jack fez Desafiadores do Desconhecido e Eclipso, e na Marvel fez Capitão América. E ele já mostra a que veio fazendo a melhor capa das sete edições do Secret Six da DC Comics.

Secret Six DC Comics

A terceira edição de Secret Six mostra a equipe como alvo de assassinos contratados, em uma revanche contra Mike Tempest, que na época de boxeador tinha envolvimento com um sindicato criminoso. Hanrahan, um dos homens dessa organização, também era capanga de Zoltan.

Secret Six DC Comics

A quarta edição de Secret Six é uma missão na China, onde tentam tirar do país comunista um dissidente, mantido prisioneiro.

A ação é particularmente difícil para King Savage, já que o homem é o mesmo que o torturou na Coreia do Norte, durante o conflito militar com os americanos nos anos 1950.

Secret Six DC Comics

As informações extraídas dessa tortura são as mesmas com as quais o Mockingbird/Harpia chantageou Savage para ser parte do Secret Six.

Secret Six DC Comics

A quinta missão do grupo é focado em Crimson Dawn, que lidera a equipe contra um ladrão de jóias, que está relacionado ao diabólico ex-marido da femme fatale.

Secret Six DC Comics

Na edição #6, Lili de Neuve tem que pedir a ajuda de todos do Secret Six — muito a contragosto — para liquidar um antigo desafeto.

Secret Six DC Comics

Secret Six DC Comics

E a última edição é dedicada à Carlo, que tem que enganar a própria morte para se livrar de perseguidores de seu passado.

Secret Six DC Comics

Nunca se soube nas HQs de Secret Six da DC Comics quem era de fato o Mockingbird/Harpía. E Nelson Bridwell não revelou nem mesmo depois que já tinha saído do título, tampouco em entrevistas posteriores ao longo de sua carreira.

O Secret Six de Nelson Birdwell, Frank Springer e Jack Sparling, com apenas 7 histórias, fez história e marcou a carreira de muitos jovens que se tornariam escritores consagrados da indústria de quadrinhos.

A equipe teve apenas uma biografia publicada pela DC Comics, conforme pode ser vista em Who’s Who: The Definitive Directory of the DC Universe #20 (1986), mas eles ainda apareceram em História do Universo DC, publicado no mesmo ano, a “bíblia” da DC Comics após a mega saga reboot Crise nas Infinitas Terras.

O Secret Six junto com outros personagens relacionados à espionagem na DC Comics: em cima, King Faraday e Sargento Steel, e abaixo o primeiro Esquadrão Suicida

Mas a marca de alguma forma atravessou as milhares de propriedades intelectuais da DC e se tornou relevante, ganhando mais 4 títulos próprios (incluindo a de Nelson e Frank), além de mais duas séries em outros títulos.

Secret Six, 7 edições, (1968—1969)
Action Comics Weekly #601-612, 619-630, 23 edições, (1988)
Villains United, 5 edições (2005)
Secret Six, 6 edições, (2006—2007)
Secret Six, 36 edições (2008—2011)
Secret Six, 14 edições (2015—2016)

Origens secretas

A trajetória de agentes secretos acompanha a geopolítica mundial. No pós-Segunda Guerra Mundial, quando os serviços de inteligência dos países começaram a sair das sombras, em especial com a divisão mundial de capitalismo vs comunismo, de Ocidente e Oriente, a ficção começou a incorporar isso em suas obras da indústria cultural.

O submundo da espionagem, as operações militares de infiltração, resgate e ataque, o fetiche das tecnologias nascentes e a sombra da Guerra Fria e o complexo industrial-militar, tudo isso foi aproveitado por Bridwell em sua narrativa quadrinhística nessa pequena joia que é Secret Six da DC Comics.

O complexo industrial-militar opera a máquina cultural americana desde a época da Segunda Guerra Mundial

Secret Six pegava o melhor de vários produtos bons da época: o seriado Missão Impossível (1966-1973), que mostrava uma unidade americana de operações secretas de elite que realiza missões altamente perigosas, sujeitas a negação oficial em caso de falha, morte ou captura; e Man From U.N.C.L.E. (1964-1968), onde os dois principais agentes do United Network Command for Law Enforcement (U.N.C.L.E.) lutam contra os inimigos da paz, especialmente as forças do T.H.R.U.S.H. (Technological Hierarchy for the Removal of Undesirables and the Subjugation of Humanity); e a britânica Os Vingadores (1961-1969), com os agentes secretos John Steed e Emma Peel em várias missões para salvar o mundo “livre ocidental”.

Mas claro que a maior inspiração é o espião mais famoso da cultura pop, James Bond, o agente 007 do serviço de espionagem britânico MI-6.

O personagem foi criado pelo escritor Ian Fleming em 1953 para o romance Cassino Royale e desde então se tornou a força motriz de toda a cultura pop que envolve a espionagem, com dezenas de livros, filmes HQs e outras obras consolidaram James Bond como o representante máximo do estilo.

No cinema, Bond estreou com 007 Contra o Satânico Dr. No (1962), interpretado por Sean Connery. Quando Secret Six saiu pela DC Comics, o filme mais recente era 007 – Só se Vive Duas Vezes (1967).

Outros filmes relevantes de espionagem na época incluem IPCress (1965), acrônimo para Induction of Psycho-neuroses by Conditioned Reflex under strESS, um dos melhores filmes do gênero, lançados pelo mercado inglês.

A trama foca em Harry Palmer (Michael Caine), um agente secreto que investiga o desaparecimento de um cientista, em meio a uma grande conspiração.

Palmer é o protagonista de vários filmes baseados no personagem principal dos romances de espionagem escritos por Len Deighton, e outros filmes baseados em suas obras foram Funeral em Berlim (1966), O Cérebro de um Bilhão de Dólares (1967), Expresso Para Pequim (1995) e Meia-Noite em Moscou (1996), todos com Caine no papel (A história de um Espião, de 1976, foi com o ator Michael Petrovitch).

Outro belo exemplo foi Modesty Blaise (1966), filme baseado na série literária de mesmo nome.

Modesty Blaise (Monica Vitti) é uma agente secreta britânica das mais sagazes e sexys do gênero. Sua origem vem das tiras em quadrinhos criada pelo escritor Peter O’Donnell e o desenhista Jim Holdaway em 1963.

Além desse filme de 1996, também teve mais dois, em 1982 e 2003, além de 11 livros lançados.

Monica Vitti como a agente secreta Modesty Blaise

Segunda formação e quem é o Mockingbird/Harpia

O Secret Six retornou quase 20 anos depois de sua última aparição em Secret Six #7, nas páginas da revista semanal Action Comics Weekly, um título da DC Comics usado para apresentar histórias de vários de seus personagens, geralmente sem título solo, e aventuras especiais com heróis e heroínas já consagrados.

Os responsáveis são o roteirista Martin Pasko e o desenhista Dan Spiegle, que começam o novo Secret Six em Action Comics Weekly #601 (1988), em aventuras curtas de 8 páginas, até a edição #612, perfazendo 12 edições da nova equipe.

E eles aparecem até na capa, arte de Dave Gibbons, famoso por Watchmen na época, obra seminal que seria considerada a melhor história em quadrinhos de super-heróis já feita.

Pasko retoma a trama com muita liberdade criativa o que Bridwell tinha feito, e amparado pelos desenhos de Spiegle, constroem algo que, se não se iguala ao original, ao menos é interessante o suficiente para se destacar mais uma vez.

O novo Secret Six na capa novamente, arte de Paul Gulacy, artista conhecido pelas histórias do Mestre do Kung-Fu, o “007 chinês” da Marvel Comics
O Mockingbird/Harpia na arte de Dan Spiegle

Eles retornaram para um segundo arco de histórias, publicadas em #619–630 (1988), de novo com Pasko nos roteiros, mas com arte do veterano Frank Springer, de volta ao título que ajudou a criar.

Frank Springer mais uma vez na arte de Secret Six da DC Comics

A nova equipe do Secret Six: o escultor Mitch Hoberman, que perdeu uma das mãos; a atriz desfigurada e muda Ladonna Jameal; o jornalista vencedor do Pulitzer (o “Oscar” do jornalismo) Tony Mantegna, surdo depois de uma reportagem sabotada; o ex-medalhista olímpico de corrida Luke McKendrick, que perdeu as pernas em um ataque terrorista ocorrido nos Jogos de Verão dos EUA; Vic Sommers, um experiente militar que ficou cego da Guerra do Vietnã; e a Dra. Maria Verdugo, uma cientista especialista em matemática que sofre ataques epiléticos.

Assim como os originais do Sexteto Secreto, eles eram operativos que lutavam contra o crime e realizavam missões secretas, com a diferença que usam aparatos tecnológicos que suprem suas deficiências e potencializam suas habilidades.

O mood visual criado por Dan Spiegle reflete diretamente esse design nos personagens, que agora parecem ser uma equipe mais “padrão de super-herói” devido ao uniforme padrão que agora usam.

Arte de Dan Spiegle
Arte de Paul Gulacy

E vale notar a diferença de “coerção” aqui, já que o novo Mockingbird/Harpia não usa de segredos sujos do passado de cada um deles para realizarem as missões, e sim os ajuda a vencer suas dificuldades oferecendo opções irrecusáveis de melhorias.

Mas claro, uma eventual recusa significa o desligamento de seus aparatos tecnológicos.

Na trama que construiu, Pasko amarra o que já sabíamos com o que Nelson Birdwell tinha feito nas revistas originais com novos fatos.

spoilers

O Mockingbird/Harpia era August Durant e Carlo DiRienzi.

Vários anos atrás, August Durant foi infectado com uma carga viral intensa de V23, uma arma biológica criada pelo próprio governo americano. Um agente não-identificado inocula nele uma cura temporária quando estava internado em coma.

Ainda se recuperando, August toma conhecimento que uma misteriosa organização chamada Agência pode lhe fornecer os medicamentos que o manteriam vivo, com a condição que ele liderasse uma força tarefa internacional contra o crime, com operativos especiais escolhidos a dedo.

Assim, August encontrou outros cinco indivíduos com problemas insolúveis para chantagear da mesma maneira. Aliás, o fato do cientista ter que receber remédios do Mockingbird/Harpia era sabido de todos — inclusive dos leitores — mas mesmo assim as suspeitas não eram tão claras assim.

Martin Pasko amarra a primeira e segunda geração do Secret Six da DC Comics

Depois de muitas missões bem-sucedidas, o primeiro Secret Six foi aposentado, na época em que Richard Nixon chegou na Casa Branca — ele foi o 37.º Presidente dos EUA, de 1969 até 1974, quando se tornou o primeiro e único Presidente a renunciar do cargo.

Mas a cada 5 anos, os amigos combinavam de se encontrar.

No encontro mais recente, August Duran chama Carlo di Rienzi de canto e lhe revela sua verdadeira identidade de Mockingbird/Harpia. E conta mais.

A Technodyne, uma da empresa médica subsidiária da Agência, pesquisava o material genético de August para desenvolver uma arma biológica mais potente.

É nesse momento que August decidiu formar um novo Secret Six para combater a empresa, rastreando novos indivíduos para a equipe, inclusive ajudando no desenvolvimento dos equipamentos que a nova equipe do Secret Six usaria, a marca visual mais impactante dessa nova geração.

Mas a Agência retaliou, e conseguiu realizar uma sabotagem que resultou na explosão de um avião em que estavam os seis integrantes do Secret Six, com apenas Carlo di Rienzi como sobrevivente.

No número #629-630, temos o encerramento da história das duas gerações do Secret Six, onde Pasko revela que o novo Mockingbird/Harpia dessa segunda geração era Carlo, depois que ele herdou o manto de August.

A segunda geração do Secret Six teve duas bios publicadas pela DC Comics, em Who’s Who: The Definitive Directory of the DC Universe Update ’88 #3 (1988) e Who’s Who in the DC Universe #2 (1990).

Secret Six Dc Comics

Nelson Bridwell e Frank Springer, os criadores do Secret Six

O americano Edward Nelson Bridwell foi um dos escritores da Mad, uma das maiores revistas de humor nos Estados Unidos. Era um intelectual, mas escreveu diversos trabalhos para o mercado de quadrinhos de super-heróis dos EUA, do qual era grande fã.

Nelson escreveu as tiras em quadrinhos de jornais do Batman e revistas regulares do Homem-Morcego, além do Capitão Marvel e outros heróis.

Bridwell, junto com o roteirista Cary Bates e o desenhista Dave Cockrum, deram nova vida ao grupo da Legião dos Super-Heróis (Dave depois ficaria famoso na Marvel, ao co-criar Os Novos X-Men, junto com Len Wein e Chris Claremont, inclusive usando ideias descartadas pela DC).

Nelson também foi o escritor que estabeleceu geograficamente as duas cidades mais importantes da DC Comics: botou Metropolis em Delaware, e Gotham City em New Jersey (e Smallvile em Kent Country, em Maryland).

A DC Comics passa por diversas reformulações, e em certo momento, as cidades estavam assim dispostas

Nelson escreveu a revista Super Friends (Super Amigos, 1976- 1981) e os personagens da equipe Guardiões Globais. Liderados pelo misterioso Doutor Mist, eles eram uma espécie de “super-heróis internacionais”, de diversas nacionalidades, que se reuniam para combater ameças globais.

O escritor Joe Gill também ajudou nos diálogos de Secret Six de Bridwell. Gill é outro com trabalhos relevantes para a Charlton, responsável pela co-criação do Capitão Átomo (que, uma vez na DC, também foi atrelado ao mundo da espionagem militar), o superagente federal (e pinel) Pacificador, Mestre Judoka e outros personagens de peso da editora.

Frank Springer começou a carreira nos quadrinhos em 1956, como assistente de George Wunder (sucessor de Milton Canniff) na tira Terry e os Piratas, uma das mais emblemáticas obras de quadrinhos da indústria.

Foram as aventuras modernas e adultas dessa tira que deu o fio de navalha necessário para que o traço de Frank fosse dinâmico, inventivo e cinético como poucos em sua época.

O artista trabalhou em títulos como Four Color Comics, Ghost Stories, Movie Classic, Tales from the Tomb, Toka: Jungle King, The Big Valley, Charlie Chan, Iron Horse, The New People, da Dell; Batman, Detective Comics, House of Mystery (terror), Our Army at War (guerra), da DC; e Capitão Marvel, Nick Fury: Agente da SHIELD, Vingadores, Homem-Aranha, Mulher-Aranha, Tales of the Zombie, Dracula Lives e Ka-Zar, da Marvel.

Frank Springer trabalhou em Nick Fury logo depois de ter feito Secret Six, um título de impacto visual tão bom quanto.

A incrível arte de Frank Springer em Nick Fury, da Marvel

Ele teve que substituir ninguém menos Jim Steranko, um dos artistas gráficos mais inventivos da indústria de quadrinhos. Fez Nick Fury, Agent of S.H.I.E.L.D. #4 e #6-11, com Jim fazendo as capas de #6-7.

O artista é lembrado também por Phoebe Zeit-Geist, personagem de quadrinhos eróticos que desenhava para a revista Evergreen Review, um material chegou a sair em parte na revista Porrada!, do Brasil. Além disso, ele colaborou com a revista satírica National Lampoon.

Os responsáveis pela segunda formação do Secret Six também eram relevantes nos quadrinhos.

Martin Pasko foi um escritor e editor com bastante trabalhos na cultura pop, com uma lista extensa impossível de reproduzir.

Ele ganhou um Emmy pela edição das histórias dos 17 episódios da primeira temporada de Batman: A Série Animada (1992-1993), além de ter escrito o roteiro de Batman – A Máscara do Fantasma (1993), o primeiro filme animado da série lançado nos cinemas, e com efeito, uma das melhores obras já produzidas com o personagem.

O filme Batman – A Máscara do Fantasma, revela a verdadeira identidade do Coringa na consagrada série animada

Para a editora DC Comics, escreveu títulos como Superman Family e DC Comics Presents.

Outros trabalhos que valem citar foram o desenho animado Comandos em Ação (1985-1986), os seriados Além da Imaginação (1986), As Tartarugas Ninja (1998-1990) e Cadillacs e Dinossauros (1993-1994).

O desenhista Dan Spiegle era um veterano da indústria quando trabalhou na criação de Nêmesis.

Em 1949, o ator William Boyd estava procurando um desenhista para uma série de tiras em quadrinhos para jornais impressos, sobre um cowboy dos cinemas, chamado Hopalong Cassidy. Spiegle era cartunista na imprensa, e topou pegar a série, permanecendo nela por 10 anos.

Ele fez diversas adaptações de televisão, de desenhos animados e séries de TV, como Maverick e Perdidos no Espaço, para diversas editoras, como Gold Key, Western e Dell Publications.

Junto com Russ Manning, desenhista americano que continuou os trabalhos dos lendários Harold Foster e Burne Hogarth nas tiras de Tarzan, ajudou a criar Magnus, Robot Fighter, um super-herói de ficção científica, em 1963, e Korak, o filho de Tarzan.

Também foi o autor da quadrinização do filme Uma Cilada Para Roger Rabbit. Quando entrou na DC Comics, Dan trabalhou em revistas como Batman,Tomahawk, Jonah Hex e Novos Titãs.

Fez Falcão Negro com Mark Evanier, e criou o personagem Mister E em Secrets of Haunted House #31.

Dan foi o co-criador (junto com o roteirista Cary Burkett) de outro grande personagem de espionagem no Universo DC: Tom Tresser, o agente Nêmesis, o Mestre dos Disfarces da DC Comics, um vigilante surgido em The Brave and the Bold #166 (1980).

Nêmesis, arte de Dan Spiegle

NÊMESIS | O agente secreto super espião da DC Comics

Secret Six versão pop colorida heroica vilanesca

A versão mais popular dos Secret Six nos quadrinhos da DC Comics foi criada pela escritora Gail Simone e o desenhista Dale Eaglesham em Villains United #1 (2005), uma minissérie em 5 edições que faz parte do eventos de Crise Infinita, uma das várias mega sagas do Universo DC.

Secret Six Dc Comics

A equipe agora era composta de vilões, que combatiam outros vilões.

Some a pegada realística de seres humanos comuns em missões de espionagens e relacionadas ao complexo industrial-militar, e surgem os superseres coloridos do Universo DC.

A premissa é de que um novo Mockingbird/Harpia acossa seis super-vilões da DC que não querem se unir à Sociedade Secreta dos Super-vilões, e oferece à eles a chance de serem superiores a todos os outros.

O novo Mockingbird/Harpia do Secret Six de Gail Simone

São eles: Homem-Gato/Thomas Blake (vilão menor e até então ridículo da galeria do Batman), Pistoleiro/Floyd Lawton (outro inimigo do Batman, mais famoso por ser uma das caras mais conhecidas do Esquadrão Suicida, grupo de black-ops do governo americano formado por super criminosos), Lince/Jade Nguyen (assassina de aluguel, vilã dos Novos Titãs), Boneco de Pano/Peter Markes Jr. (filho do vilão de mesmo nome, inimigo clássico da Sociedade da Justiça), Escândalo (a filha de Vandal Savage, um dos maiores vilões da DC) e um Parademônio, os soldados casca-grossas de Darkseid em Apokolips.

O Flautista, outro vilão da Sociedade da Justiça, também fazia parte do grupo, mas foi morto pelo Pistoleiro a mando de Mockingbird/Harpia, que nessa versão da equipe se revela Lex Luthor. Com o tempo, esse Secret Six se torna mais mercenário do que tudo.

O novo título, ao se distanciar da proposta original, alcançou sucesso pelas mãos de Simone. O drama intenso, a dualidade dos personagens malignos, a violência extrema e um senso de humor afiado tornaram a marca Secret Six muito mais popular e importante do que os anteriores jamais foram.

O sucesso da minissérie de Villains United fez a DC publicar uma série própria de Secret Six. A pegada de traição de dentro do grupo ainda se mantém — Lince antes e agora com Nocaute (uma das Fúrias Femininas de Apokolips e amante de Escândalo). Até a Arlequina chegou a participar desse Secret Six.

Secret Six Dc Comics

Em Birds of Prey #104–108 (2007), também escrito por Simone, e desenhado por Nikola Scott, o Secret Six enfrenta as heroínas do Birds of Prey, conhecidas no Brasil como Aves de RapinaCaçadora, Moça-Gavião, Lady Falcão Negro, Oráculo, Mestre Judoka/Sonia Sato e Grande Barda.

Elas tentam salvar a alma de Tora Olfasdotter, a falecida super-heroína Gelo, que acaba ressuscitando, para alegria imensa de sua melhor amiga, Beatriz da Costa/Fogo, sua antiga colega de equipe na Liga da Justiça.

Bia é brasileira e também era agente secreta, no serviço secreto de nosso paái,s e tambpem foi criada por Nelson Bridwell (ainda que não tenha feito ela dessa maneira em um primeiro momento).

Gelo e Fogo

FOGO | A modelo, agente secreta e super-heroína brasileira na DC Comics

Na edição seguinte (Birds of Prey #109), temos um certo desfecho para as aventuras da equipe, com Nocaute sendo assassinada e Pistoleiro voltando ao Esquadrão Suicida.

Em 2008, a DC lançou mais uma revista do Secret Six, com Simone no comando, dessa vez com Homem-Gato, Pistoleiro, Escândalo, Boneco de Pano e Bane, um dos maiores inimigos do Batman.

Agora não seriam minissérie em 6 edições, e sim uma série regular. O sucesso foi tanto que durou 36 números.

Nesta terceira fase tivemos um crossover emblemático do Secret Six com o Esquadrão Suicida, por conta da saga A Noite Mais Densa (2010).

Na revista Suicide Squad #67 (2010), especialmente publicada depois de anos de encerramento, seguindo a antiga numeração original do título conduzido desde a primeira edição pelo escritor John Ostrander (numa jogada genial da DC em outros títulos, como o do Questão,por exemplo), temos os membros do Esquadrão a serviço do governo americano liderados pela poderosa e irascível chefe executiva Amanda Waller enfrentando os membros do Secret Six, em uma trama que continua em Secret Six #17-18.

Os roteiros são de Ostrander e Gail Simone, com arte de Jim Calafiore, nos dois títulos. As duas equipes são forçadas a trabalharem juntos contra os Lanternas Negros, vilões e heróis zumbis que não pensam em outra coisa a não ser matar e se vingar de pessoas próximas, ainda que elas não tenham culpa de nada.

Secret Six e Esquadrão Suicida contra os zumbis Lanternas Negros

Ostrander foi o arquiteto das histórias das 66 edições clássicas do Esquadrão Suicida (1987-1992), e foi roteirista convidado nos números Secret Six #15 e #23 também. Sua maior criação foi exatamente Amanda Waller, a figura política mais casca-grossa dos quadrinhos e super-heróis, líder da maioria das organizações secretas de espionagem e supervisão de atividades meta-humanas do Universo DC.

AMANDA WALLER | O poder da política em Esquadrão Suicida

Com o Pistoleiro sendo um ex-integrante do Esquadrão — quiçá o mais emblemático representante da equipe –, a relação das 2 equipes foi um incêndio atômico.

O resultado não poderia ter sido outro. No final, eles trabalham juntos mas se separam quando o Secret Six desafia Amanda Waller e matá-los (com os famosos dispositivos-bombas na cabeça).

A poderosa Amanda tem que abaixar a cabeça, mas ainda assim ela pede para o Pistoleiro voltar para o Esquadrão. O vilão faz o que mais se esperaria dele: dá um tiro em Amanda, antes de sumir em um portal dimensional com seus colegas do Secret Six.

Amanda é mostrada depois se recuperando no hospital, quando descobrimos que o Mockingbird/Harpia desse Secret Six é ninguém menos que ela própria!

Secret Six Dc Comics
Amanda Waller é o Mockingbird/Harpia do Secret Six nesta fase

A cena acima mostra, junto com Amanda Waller, o agente King Faraday, o primeiro espião criado na editora DC Comics, que precede até mesmo o James Bond de Ian Fleming na cultura pop — King é de 1950, e o 007 só apareceu em 1953.

KING FARADAY | “Rei por um dia” na espionagem na DC Comics

A história do segundo volume do Secret Six de Simone acaba com uma trama onde Bane lidera a equipe até Gotham City, onde querem matar a Mulher-Gato, o Robin Vermelho, a Bat-Moça e Azrael.

No final, todos os membros do Secret Six são presos, e a equipe se desfaz.

Secret Six pós-Novos 52 DC Comics

Em 2011, a DC promoveu um reboot chamado Novos 52, que jogou no lixo a maior parte da cronologia pós-Crise nas Infinitas Terras, que por sua vez já tinha jogado 50 anos de histórias. Os 80 anos da DC Comics e seus milhares de personagens foram comprimidos em versões diluídas e muitas vezes sem personalidade do que uma vez foram.

Os Novos 52 da DC Comics, que reformulou (pero no mucho) o Secret Six de Gail Simone

A própria Simone retornou para fazer o Secret Six dos Novos 52, que agora são o Homem-Gato, Alice Sombria, Strix, Ventriloquist, Porcelain e super-herói Homem-Elástico/Ralph Dibny, disfarçado como Big Shot. O Mockingbird/Harpia nessa equipe é o Charada, clássico vilão do Batman.

Secret Six Dc Comics

Essa encarnação durou apenas 14 edições.

Apesar de traçar o mesmo caminho, essa versão estava bem mais inferior em termos de qualidade do que vista na fase Villains United e na revista Secret Six anteriores.

(As) Agência

Seria a Agência citada por Durant e Carlo na segunda geração do Secret Six a mesma Agência vista dois anos antes nos quadrinhos da DC? A primeira aparição de uma organização secreta chamada Agência na DC Comics aconteceu em Vigilante #36 (1986), um conceito criado pelo escritor Paul Kupperberg e o desenhista Denys Cowan.

A primeira aparição da Agência, em Vigilante #36 (1986)

Entre alguns dos membros da organização, se destacam agentes da lei e especialistas de diversas áreas, mais ou menos como era o próprio Secret Six, como os policiais Harry Stein e Harvey Bullock — esse, detetive de Gotham City, um dos mais fodões da cidade –, e especialmente três personagens: Valentina Vostok, a identidade civil da Mulher-Negativa, integrante da segunda formação da Patrulha do Destino, o justiceiro Vigilante e o Pacificador.

Valentina Vostok é a líder da Agência

Aliás, foi Valentina quem criou a Agência, que tinha o propósito de monitorar a (então) crescente atividade de metahumanos nos EUA. Depois que Vostok deixa a Agência para retornar para a Patrulha do Destino, Harry Stein se tornou o novo líder da organização.

VALENTINA VOSTOK | De militar russa desertora a Mulher-Negativa e espiã americana

E foi essa organização que se tornou a base para que Amanda Waller criasse o Xeque-Mate. Logo, de uma força especial de operativos em roupas civis e militares, ela se torna uma poderosa organização mais hi-tech e agressiva, com os agentes e líderes emulando as figuras de peças de xadrez, como cavalos, bispos e rainhas.

Os momentos finais da Agência podem ser vistos nos números finais da revista própria do Vigilante, escrita por Kupperberg. O título morre exatamente para dar vida para a revista chamada Checkmate.

Apesar dos nomes idênticos, a DC Comics nunca correlacionou as duas Agências como a mesma, mas fica a curiosidade dos nomes iguais, ambos inseridos no mundo da espionagem da DC.

É o mesmo caso de outros dois grandes expoentes da espionagem da editora: o já citado Nêmesis, que no começo da carreira lutou contra o sindicato criminoso chamado Conselho, e o antigo super-herói tornado agente secreto assassino Caçador, que luta contra a organização Conselho. Também as duas nunca foram correlacionadas.

CAÇADOR PAUL KIRK | O Arco-Íris da Gravidade de Archie Goodwin e Walt Simonson

Formas de apoiar o Destrutor

Todo dia eu, Tom Rocha, tô por aqui (e aqui: Twitter e Instagram)
Quer apoiar o Destrutor? tem um jeito simples de fazer isso – é só deixar uma contribuição (ou duas, ou quantas mais quiser)

A chave PIX é destrutor1981@gmail.com

O Destrutor é uma publicação online jornalística independente focada na análise do consumo dos produtos e tecnologia da cultura pop: música, cinema, quadrinhos, entretenimento digital (streaming, videogame), mídia e muito mais. Nosso principal canal de financiamento é o apoio direto dos leitores. E produzir matérias de fôlego e pesquisa como essa, mostrando todas essas informações, dá um trabalhão danado.

Ajude o Destrutor a crescer, compartilhe essa matéria com seus amigos e nas suas redes sociais se você gostar! Se você gostou desse post, considere compartilhar com quem você acha que vai gostar de ler também. Você pode indicar os posts para seus amigos, seus conhecidos, seus crushes, seus colegas.

E obrigado por ler até o final =)

Secret Six Dc Comics

* Todas as imagens dessa matéria têm seus direitos
reservados aos seus respectivos proprietários, e são
reproduzidas aqui a título de ilustração.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *