Há algo irônico em como uma continuação pode eclipsar seu predecessor em termos de fama, apesar de ficar aquém em qualidade, e é exatamente isso que acontece em Jovem Demais Para Morrer (Young Guns II). Dirigido por Geoff Murphy, este faroeste traz de volta o elenco liderado por Emilio Estevez, que reprisa seu papel de Billy The Kid.
A continuação tenta capitalizar o sucesso de Os Jovens Pistoleiros, um filme que, embora não tenha sido um marco no gênero, pelo menos possuía um certo charme selvagem e uma trama coesa. Infelizmente, Jovem Demais Para Morrer parece ser uma sombra pálida de seu antecessor.
O roteiro, escrito de novo por John Fusco, perde a oportunidade de aprofundar a história de Billy The Kid e seus companheiros marginais, optando por uma abordagem preguiçosa e repetitiva. Em vez de trazer uma nova perspectiva ou expandir os personagens de forma significativa, o roteiro parece contente em reutilizar fórmulas e diálogos desgastados, sem oferecer nada de substancial.
É uma pena, pois o elenco talentoso poderia ter compensado as deficiências do roteiro. Emilio Estevez é perfeito como Billy, e Kiefer Sutherland como Doc e Lou Diamond Phillips como Chavez y Chavez entregam seus personagens igualmente bem. E são essas atuações cativantes e carismáticas consolidam esses aspectos como os pontos altos da franquia Young Guns. O roteiro elaborado por Fusco usa vários elementos padrão do faroeste — perseguição a cavalos, a noite no bordel, a emboscada nas colinas — mas não tem nenhuma ideia clara de para onde ir.
Jovem Demais Para Morrer usa de certo modo o tema da redenção de forma mais proeminente do que seu antecessor. A história se concentra na busca de Billy The Kid pela redenção, enquanto enfrenta seu passado e busca reconciliar-se com suas ações.
No entanto, o cerco das autoridades se fecha e o grupo precisa fugir do território que estão. Mas uma traição inesperada pode acabar frustrando os planos de Billy e seus amigos.
Quem dirige agora esses jovens pistoleiros “II” é George Murphy, um cineasta que produziu pouco, sendo que seu maior destaque foi Freejack – Os Imortais (1992), uma ficção científica com Emilio Estevez, Anthony Hopkins e Mick Jagger (sim, dos Rolling Stones), além das continuações trash A Força em Alerta 2 (1995) e A Fortaleza 2 (2000). O trabalho de maior prestígio do cara com certeza foi como diretor de segunda unidade na trilogia O Senhor dos Anéis (2001-2003), de Peter Jackson.
Mas como explicar a notável popularidade de Jovem Demais Para Morrer em comparação com Os Jovens Pistoleiros? Aqui, o poder do marketing e a sedução do nome são fatores determinantes. A combinação de uma trilha sonora memorável e cenas impactantes ajudou a aumentar o reconhecimento do filme, sendo que a música Blaze of Glory, interpretada por Jon Bon Jovi, se tornou um sucesso imenso e contribuiu para a popularidade do longa.
Jovem Demais Para Morrer
(Young Guns II, 1990, de George Murphy)
O filme começa em um lugar não-determinado nos Estados Unidos em 1950. Um idoso chamado “Brushy Bill” Roberts declara ao advogado Charles Phalen (Brad Whitford) que sua verdadeira identidade é William Henry McCarty, vulgo William Bonney, vulgo Billy The Kid. E ele quer um encontro com o Governador para ser perdoado pelo assassinato de 21 homens. Quando o advogado hesita, o veterano ameaça atirar nele e “fazer 22”, o que parece sugerir que um perdão não é exatamente merecido.
É claro que o advogado não acredita no velho, então é a desculpa perfeita para o roteirista John Fusco explicar como que tudo chegou até ali, em um roteiro não-linear com um fio narrativo muito menos coeso do que o primeiro filme, mas que ainda consegue algum impacto.
Os eventos do filme se passam entre os anos de 1879 e 1881, quando Billy e muitos outros “veteranos” da Guerra de Lincoln são caçados pelo governador Lew Wallace (Scott Wilson), determinado a resolver de uma vez por todas os problemas causados pela guerra. Junto a Dave “Arkansas” Rudabaugh (Christian Slater) e Pat Garrett (William Petersen), Billy ainda assola a região de Lincoln.
Doc Scurlock (Kiefer Sutherland) virou professor em uma escola em Nova York, e é capturado por autoridades policiais. Ele é levado para Lincoln e jogado em uma prisão subterrânea, onde reencontra seu velho amigo Jose Chavez y Chavez (Lou Diamond Phillips). Mas ninguém deles é Billy The Kid. E o próprio decide se apresentar ao Governador, na tentativa de salvar seu bando, tentando fazer um acordo para o perdão de seus crimes.
Mas ele é enganado pelo promotor D.A. Rynerson (R.D. Call) e preso. Só que Billy engana o oficial da guarda, em uma clara jogada estúpida de roteiro (nem os Trapalhões seriam tão burros) e consegue fugir, a tempo até de salvar Doc e Chavez de linchadores.
Com tanta gente atrás deles, Billy os convence a seguir uma trilha chamada Pássaro Negro, que os colocará em segurança no México. O menino Tom O’Folliard (Balthazar Getty) e o voluntarioso Hendry William French (Alan Ruck) se juntam as bando, tornando Jovem Demais Para Morrer um filme de fuga muito mal-ajambrado.
O roteiro tenta estabelecer Arkansas Rudabaugh em conflito com os antigos companheiros e Billy, e até mesmo contestando a liderança do jovem matador. A cena que Arkansas quer saquear um cemitério indígena é demais para Chavez, e os dois brigam feio em uma luta de facas.
Slater é um ator que funciona somente para certos tipos de personagens e longas, e aqui é um deles. Seu personagem é bem defendido e estiloso, mas é uma repetição diluída do que já vimos no longa anterior, uma mistura de Charlie com Stephens.
Na vida real, Dave Rudabaugh foi o único fora da lei que cruzou o caminho de várias lendas do Velho Oeste, como Wyatt Earp, Doc Holliday, Dave Mather e Bat Masterson (além de Garrett e Billy).
Há uma cena “obrigatória” de prostíbulo, com a linda Jane (Jenny Wright) de anfitriã, que promove uma bela cena posterior, ao surgir nua cavalgando um cavalo. Pat deixa o bando no meio do caminho, e os rapazes decidem procurar ajuda de John Chisum (James Cobrun), um antigo aliado de Tunstall.
Mas ele não quer papo com Billy e seu bando. Tanto que ele se encontra com o Governador e o promotor para contratarem ninguém menos do que Pat Garret como xerife para prender Billy e os outros. John W. Poe (Viggo Mortensen), contratado da Associação dos Pecuaristas, o acompanha nas buscas.
Em certo momento, Billy confessa não ter trilha alguma. Ele queria apenas a cia. de sua galera para continuar sua vida de aventuras. Doc fica a ponto de matar o amigo, mas por algum motivo não o faz. Pat e seus homens se aproximam e Tom é o primeiro a ser morto na caçada, que culmina com Billy e os outros escondidos em uma velha casa abandonada no meio das montanhas.
Billy, Doc, Chavez, Arkansas e French pensam que estão seguros. Doc simplesmente não suporta mais ficar ao lado de Billy e parte dali, apenas para ser baleado de surpresa por Poe, em uma cena bem impactante. O tiroteio, apesar de bem filmado, é bem menos legal do que deveria, já que estamos de fato vendo um (anti) clímax.
Doc sacrifica o pouco tempo de vida que lhe resta e dá uma chance para seus amigos fugirem do local. Chavez é baleado na barriga, mas consegue puxar um cavalo e fugir dali, junto com French, que depois se sente agradecido por não ter sido “batizado” com um nome de guerra por Billy.
Jovem Demais Para Morrer deixa de lado a pirotecnia em seu encerramento, e a aparente despedida e morte e Chavez é bastante emocionante, com ele em agonia delirante, vendo o cavalo do destino ao seu encontro.
Ainda bem, pois o final mesmo, com Pat Garret encurralando Billy, em um diálogo tosco e mal-escrito entre os dois, nos deixa entrever 2 possibilidades: Pat matou ou não Billy? Mais importante, o velho do começo do filme é realmente ele?
Como um furacão de desilusão, Jovem Demais Para Morrer desaponta aqueles que esperavam uma continuação digna e inventiva. É uma montanha-russa que não consegue capturar o espírito e a originalidade que tornaram seu predecessor um filme interessante.
No entanto, para os fãs fervorosos de Emilio Estevez e do gênero western, talvez haja alguns momentos isolados de prazer, mesmo que sejam ofuscados por uma história enfraquecida e um roteiro preguiçoso.
Jovem Demais Para Morrer é um lembrete amargo de que o sucesso nem sempre é sinônimo de qualidade. No Oeste selvagem de Hollywood, é um caso triste em que a fama pode se tornar um tiro no pé.
Tanto que nunca mais se falou em uma sequência, a despeito de notícias frequentes de Emilio Estevez falando de um possível Young Guns III, que parece ter sido definitivamente morto nas sombras da pandemia que arrasou a indústria de entretenimento na época.
Blaze of Glory
A música Wanted Dead or Alive faz parte do álbum Slippery When Wet (1986), terceiro álbum de estúdio da banda americana de hard rock Bon Jovi. A música foi criada sob influência de outra, a Turn the Page, de Bob Seger (presente no disco Back in ’72, de 1973), sobre os altos e baixos de um músico de rock na estrada. Jon a ouviu durante uma viagem de ônibus, e comentou com o guitarrista Richie Sambora que eles precisavam escrever uma canção no mesmo estilo.
Então compuseram então Wanted Dead or Alive, acrescentando mais ideias, como a de um cowboy comparando o estilo de vida de cada banda de rock aos bandidos característicos do Velho Oeste. De início, Slippery When Wet nem seria o nome do disco, e sim Wanted Dead or Alive, inclusive com uma arte de capa com os caras da banda vestidos de cowboys.
Quando Young Guns II – Jovem Demais Para Morrer estava sendo filmado, Emilio Estevez, que era amigo de Jon, disse que queria tê-la na trilha sonora. Os produtores do filme foram atrás do artista, mas Jon não quis ceder, achando que não se encaixava no contexto.
Só que o cantor faria mais. Ele faria uma composição própria para Jovem Demais Para Morrer. E Jon veio com a canção Blaze of Glory. Aprovada no mesmo instante por Emilio e John Fusco, Jon saiu de lá com o roteiro nas mãos e escreveu mais músicas para o filme, além de descolar uma pequena participação especial no longa.
Tudo era parte de um projeto maior do artista: Blaze of Glory também deu nome ao primeiro disco solo do Jon Bon Jovi, que fez sua carreira como o frontman da banda Bon Jovi, que de 1984 até 1990 já tinha 4 discos lançados.
A trilha sonora do filme tem 11 músicas compostas e interpretadas por Jon Bon Jovi e uma música de Alan Silvestri, compositor de longa data em Hollywood, todas elaboradas especialmente para o filme.
Bon Jovi foi auxiliado pelo baterista Kenny Aronoff e pelo guitarrista Jeff Beck, além das estrelas Elton John e Little Richard em alguns vocais, incluindo o ator Lou Diamond Phillips em outras (o ator já tinha experiência musical graças ao filme La Bamba, de 1987, que conta a história meteórica de sucesso do jovem cantor de rock Ritchie Valens, descendente de mexicanos e vítima de um trágico acidente de avião). Vale destacar, contudo, que em Jovem Demais Para Morrer, só tocam 3 músicas do disco: Blaze of Glory e Billy Get Your Guns (ambas nos créditos finais) e Guano City (a música incidental criada por Silvestri).
Blaze of Glory foi um fenômeno pop, um sucesso de vendas com várias indicações aos maiores prêmios da indústria. E ela concorreu até ao Oscar de Melhor Canção de 1991 (inclusive Jon a performou durante a cerimônia). Mas a canção perdeu para Sooner or Later, da Madonna, por Dick Tracy. Jon Bon Jovi só lançaria um segundo disco solo (e o último) em 1997, com Destination Anywhere.
Jon Bon Jovi, nome artístico do músico americano John Francis Bongiovi, Jr., fez parte das bandas Atlantic City Expressway, Raze e The Wild Ones com o colega David Bryan, antes de montar a Bon Jovi (grafia americanizada para o seu sobrenome italiano, Bongiovi).
Ele é vocalista da banda desde o começo, com o lançamento do disco homônimo, em 1986, que incluiu os singles de sucesso Runaway e She Don’t Know Me. Ele foi seguido de 7800° Fahrenheit (1985), que mostrou um som mais pesado e incluiu músicas como In and Out of Love e Only Lonely, e o já citado Slippery When Wet, que foi o que deu fama internacional ao grupo, com os hits Livin’ on a Prayer e You Give Love a Bad Name, além da Wanted Dead or Alive.
O disco New Jersey, lançado em 1988, mesmo ano de lançamento de Os Jovens Pistoleiros, apresentou uma abordagem mais madura e incluiu sucessos como Bad Medicine, Lay Your Hands on Me e I’ll Be There for You.
Depois de Blaze of Glory, Jon retornou com o Bon Jovi em Keep the Faith (1992), seguido de Cross Road (1994), uma coletânea de sucessos da banda; These Days (1995); Crush (2000), o disco com o som mais pop que fizeram, com o megasucesso It’s My Life; Bounce (2002); Have a Nice Day (2005); Lost Highway (2007), um álbum com influências country; The Circle (2009); What About Now (2013); e This House Is Not for Sale (2016).
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