Final Fight é um dos maiores representantes do gênero de briga de rua (beat-em-up) na indústria dos videogames, criado pela Capcom, o mais famoso e o mais bem ajustado game do estilo.
Marcou jogadores e profissionais do mercado ao se tornar presença constante na lista de melhores jogos do gênero já feitos — é a escolha perfeita para pancadaria sem limites em um videogame.
Produzido como sequência do primeiro Street Fighter (com efeito, chegou a ser batizado originalmente de Street Fighter ’89), logo ganhou características e identidade tão próprias que tomou vida sozinho e arrastou milhares de fãs para os arcades em busca de uma briga sem fim nas ruas de Metro City.
Cody, Guy e Haggar eram os personagens disponíveis para toda essa porradaria, e era com um amigo jogando junto que se podia andar por toda a cidade para arrebentar os membros da gangue Mad Gear até o final.
Porretes, pedaços de cano, facas e até espada ninja podiam ser encontrados no cenário para ajudar nos combates. E caso você esteja perto de morrer, pode estourar um barril de madeira ou de lata, e dar sorte de achar um frango ou pedaço de pernil — coma e você se recupera.
A única coisa difícil de recuperar aqui é a mágica que antigos games de briga de rua tinham e aplicar na indústria do videogame de hoje em dia.
Final Fight foi lançado em 14 de dezembro de 1989
Final Fight nasce quando o primeiro Street Fighter morre, e como um eterno retorno, volta à origem. Acompanhar a trajetória de Final Fight é acompanhar alguns passos dentro da própria indústria de entretenimento do videogame.
O beat-em-up Final Fight é o sétimo game da Capcom a ter a placa de circuitos gráfica CPS. Ela é usada para construir um game de narrativa 2D com rolagem lateral da esquerda pra direita, usando 384 x 224 pixels na horizontal, com 3.072 cores.
Se movimenta o personagem com o controle manche em oito direções, e se joga com apenas dois botões: um pula e o outro dá soco. Uma combinação dos dois com o controle gera ataques aéreos e voadoras, agarrões e jogadas.
Pressionando os dois botões ao mesmo tempo, um ataque especial é acionado, que afeta todos os inimigos em volta, ao custo de um pouco da barra de life. Os gráficos imensos e detalhados, a ambientação é urbana e adulta, e o clima sujo e perigoso, a dependência de apenas seus punhos para avançar no game, fazem de Final Fight um clássico dos jogos eletrônicos.
Uma experiência das mais violentas no competitivo mercado dos fliperamas. Seu design simples e limpo foi base de muitos jogos na década de 90, e a própria Capcom o repetiu em diversos outros grandes jogos.
Em seus estúdios de criação de videogame, dois artistas da Capcom ficaram responsáveis por criar visualmente Final Fight.
Akiman (que se chama Akira Yasuda, geralmente os desenhistas escolhem pseudônimos e nomes engraçadinhos na produção), que começou na Capcom em 1985, foi um dos dos character design (desenhista que serve de base para os outros seguirem na arte, inclusive ele foi do primeiro Street Fighter, de 1987).
Outro character design de FF foi Bengus (nome desconhecido, também se apresenta como Mido Shiito, CRMK, Holy Homerun).
São 3 personagens disponíveis para a jogatina. Mike Haggar é o atual prefeito de Metro City (cidade fictícia na costa atlântica americana) e ex-wrestler (luta livre), e teve sua filha Jessica raptada pela gangue Mad Gear.
Haggar foi eleito com promessas de acabar com o crime, e em vez de ceder a pressão do sequestro da filha, decide sair na mão com a bandidagem. Ele é a reminiscência de Street Fighter em Final Fight, pois é dito em sua biografia na abertura do game que ele era um lutador de rua e ex-participante do torneio quando mais jovem.
É o personagem mais forte e lento, usa melhor o cano, e tem agarrões de impacto poderosos.
Cody Travers é o namorado de Jessica e ajuda Haggar no resgate. Ele é um lutador de rua e equilibra força e rapidez em suas características de jogo, e além de usar melhor a faca, é o ideal para quem está começando.
O melhor amigo dele é um ninja urbano chamado Guy (sobrenome, por favor, Capcom), terceiro e último personagem disponível. Mais rápido dos três, pode usar os cantos da tela para executar outro pulo, e usa melhor a espada.
Os estágios memoráveis causam identificações imediatas. Favelas caindo aos pedaços, estações de trem, ruas cheia de vida noturna em bares, becos e vielas, boates e bares, ringues clandestinos de briga, fábrica e uma mansão são algumas das diversas localidades para sentar a porrada em uma variedade de bandido vagabundo que o game oferece.
O Stage 1 é Slums (favelas), com o primeiro chefão a ser batido o Damnd. O Stage 2 é Subway (metrô), com Sodom como segundo chefe em um ringue no final da linha.
Depois de sua derrota, aparece uma fase bônus, chamada “Break Car“, onde um carro deve ser destruído. Esse bônus mais tarde seria integrado a Street Fighter II e se tornaria um clássico do gameplay.
O Stage 3 é West Side, uma andança por várias ruas, bares e comércios noturnos de Metro City até o chefe, Edi. E, um policial corrupto e dono da única arma de fogo que aparece no game.
O Stage 4 é a Industrial Area, uma fábrica onde nos aguarda o chefe Rolento, um militar aliado da Mad Gear.
Em seguida há mais uma fase bônus, “Break Glass“, em que vidros devem ser quebrados — uma das poucas coisas descartáveis em Final Fight.
O Stage 5 é a Bay Area, uma longa andança pelo calçadão da praia de Metro City, com parques, banheiros públicos detonados e um nascer do sol para a luta com o chefe Abigail.
O Stage 6 é a última fase, Up Town (Cidade Alta), com percurso até o topo de um edifício, onde aguarda o último chefão, Belger, um velho (!) de cadeira de rodas (!!) armado com uma besta (!!!), segurando Jessica a tiracolo (!!!!).
Não há opções de defesa — é atacar ou morrer. Final Fight pode ser terminado em menos de uma hora, contanto que você use vários continues, pois os inimigos não dão folga.
A inteligência artificial deles é muito boa, e bandidos como J, Two. P e a família Andore (Andore, Andore Jr,. Father Andore, Uncle Andore e Grandpa Andore) vão dar muito trabalho para serem derrotados.
A porradaria rola num visual de metal farofa sempre tendo que ir a direita, e a medida do avanço dos estágios, a dificuldade começa a ficar impossível. São quase 10 caras entupindo a tela e te cercando pelos dois lados.
Two. P e J nunca são derrotados sem ao menos desferir uma sequencia de seus golpes. Um dos lances mais legais é a nomeação de cada membro da gangue, com seu nomes e barras de energia próprias para serem identificados na pancadaria.
Não menos legal era enfrentar os chefes e as barras deles apresentarem outras cores até começarem a de fato perderem energia — começa com branco, verde, azul e outras, até ficar amarela e começar a se encher de vermelho-sangue.
Poderia ter sido outra luta
O gênero beat-em-up nasce de uma combinação de games. O jogo de briga de rua Kung-Fu Master, da softhouse Data East, de 1984, e Renegade, desenvolvido pela Technos Japan e distribuído pela Taito em 1986, formam uma base de construção para o gênero, e juntos podem reivindicar os postos de pais do estilo.
Os dois arcades já traziam muitas das características que fariam sucesso, como inimigos a serem derrotados na base da pancada para avançar no game.
Mas é com Double Dragon, da própria Technos, lançado em 1987, que a popularidade de dividir com um amigo uma pancadaria pelas ruas até chegar ao chefão final alcança níveis de contágio.
Com duas fichas, era possível jogar com mais um amigo em uma longa trama de ação imparável de lutas cooperativas. Os irmãos Jimmy e Billy Lee partiam em busca de uma moça raptada batendo em todos os criminosos que passavam em seu caminho. E isso podia durar dezenas de minutos.
Enquanto isso, na Capcom, um game de luta era idealizado por Takashi Inishiyama, um designer, diretor e produtor de videogames que iniciou sua carreira na softhouse Irem, onde desenvolveu primeiros jogos de arcade, como o shoot ‘em up Moon Patrol (1982), e nada mais nada menos que o beat ‘em up Kung-Fu Master (1984). Nishiyama muitas vezes creditado como Piston Takashi nos créditos dos games da Capcom.
Em 1987, sob a direção de Takashi Inishiyama, é criado Street Fighter (1987), o game de luta que revolucionaria o mercado.
Enquanto Street Fighter performava de maneira muito errática nos arcades, com sua proposta revolucionária de seis botões de ataque, alavanca com seis direções e golpes especiais, o sucesso do gênero beat-em-up chegou até a outros quadros de funcionários da Capcom.
O produtor Yoshiki Okamoto citou em uma entrevista que Double Dragon foi a base de construção do game futuro de luta beat-em-up da Capcom Fight, e que o pedido do jogo se tornar uma sequencia de Street Fighter partiu do departamento de vendas da empresa, que viam o sucesso de Double Dragon maior que Street Fighter nos arcades.
E, logicamente, operadores das casas de arcade reclamaram que esse vindouro game, que logo ganhou o nome de Street Fighter ´89, não era nada parecido com Street Fighter.
Alguém sensato na softhouse se tocou do erro, e essa ideia de uma continuação de Street Fighter morreu para que Final Fight nascesse. A mudança ocorreu pouco antes do lançamento do game, o que não impediu que artes promocionais fossem lançada com o título de Street Fighter ´89.
Okamoto, além de responsável por Final Fight, foi o responsável por criar o que se tornaria a verdadeira sequencia de SF, e com efeito, o maior game de lutar de todos os tempos, Street Fighter II.
Okamoto iniciou sua carreira na Konami, onde produziu jogos como Gyruss e Time Pilot. Em 1984, foi contratado pela Capcom, onde produziu diversos jogos famosos como SonSon, 1942 e Side Arms.
Participou também da produção dos filmes e dos jogos da série Resident Evil. Se desligou da Capcom em 2005, para fundar sua própria empresa de jogos, a Game Republic.
As artes promocionais oficiais da Capcom acima não deixam dúvidas da intenção original de lançar Final Fight como Street Fighter ´89, a despeito da estranha fonte dos números não bater com a letra do título.
E qual a razão de Takashi Inishiyama não ter criado a sequencia de seu Street Fighter? A resposta é que ele não continuaria na Capcom. A SNK, ofereceu mais controle criativo e poder executivo para o designer.
E lá ele criou a franquia de jogos de luta Fatal Fury (1991), o “verdadeiro” Street Fighter II, um game de luta que guarda tudo que ele faria para a sequência do primeiro Street Fighter da Capcom.
Um ano depois, criou outro game ainda mais sofisticado, Art of Fighting (1992). E em King of Fighters (1994), Nishiyama junta as duas franquias anteriores em um único game de luta, em um modo revolucionário de briga de times 3 contra 3.
De volta à Capcom. O designer e ilustrador Satoru Yamashita criou o logo de Final Fight, e também foi o encarregado de animar os personagens Cody e Haggar, ambos com seu character design.
A mudança, se não ocorresse, causaria enormes ondas na indústria, pois foi com Street Fighter II que a Capcom revolucionou o mercado, estabelecendo por definitivo um gênero.
Muitas empresas e jogos foram criados apenas para tentar pegar o sucesso da Capcom, e muitos deles foram incríveis e revolucionários.
Ironicamente, parte da equipe de desenvolvimento de Final Fight trabalhou em Street Fighter II.
O Super Nintendo explodiu de vendas graças a sua versão caseira de SF II.
Em diversas outras entrevistas e matérias na imprensa especializada as origens da imagética de Final Fight já foram reveladas.
O filme Ruas de Fogo (Streets of Fire, 1984) foi uma das grandes inspirações, contribuindo com nomes e até mesmo parte da trama. O visual de certos personagens são inspirações óbvias, como o protagonista Cody — autoexplicativo.
Bandas de hard rock e metal fontes de design e nomes também. Axl, Slash, Poison, Roxy, Sid, Billy, Simmons, Abigail, Sodom e outros são nomes tirados de bandas, seus integrantes e até mesmo de álbuns.
Andore, um dos inimigos mais icônicos, presente em diversos games da franquia e promovido até mesmo para a série Street Fighter, é baseado no lutador André The Giant (André O Gigante), um famoso wrestler dos anos 80.
Em entrevista exclusiva para o site oficial da Capcom, o designer de personagens Akiman (Akira Yasuda, contratado por Okamoto) e Akira Nishitani explicam que foi o próprio presidente da Capcom na época, Kenzo Tsujimoto, quem pediu para que os produtores assistissem filmes para se inspirarem na hora da criação da sequencia de Street Fighter.
Os filmes escolhidos foram Lutador de Rua (o nome original é Hard Times, 1975) e o já citado Ruas de Fogo. Cabe aqui especial atenção a tradução que Hard Times teve, com Lutador de Rua entregando muito da proposta do filme, e do que estamos discutindo longamente aqui no post.
Os dois longa-metragens são dirigidos por Walter Hill, e são clássicos do cinema de violência urbana das décadas de 70 e 80. Lutador de Rua inclusive tem similaridades até com o primeiro Street Fighter.
Akiman, junto com o produtor Fujiwara (do game Ghosts ‘n Goblins) também se inspiraram no beat-em-up Double Dragon e no jogo de ação P.O.W.: Prisoners of War (SNK, 1988).
Akiman então desenhou um documento de dezenas de páginas com a proposta do jogo. Havia um choque cultural entre o modo gamer americano e japonês, segundo os desenvolvedores.
Os gamers japoneses pensavam “o quão longe consigo chegar com apenas uma única ficha?” Já os gamers americanos pensavam que enfrentar adversários difíceis era divertido, e perder fichas por conta disso não representava grandes problemas.
Os produtores também atribuíram a Kenzo a presença do ninja Guy no game, já que ele acreditava que americanos adoravam ninjas e dinossauros como ninguém.
A Capcom já tinha ninjas em seu game Gun Smoke (1985), e os guerreiros já ganhavam fama no jogo The Ninja Warriors, da Taito, e Ninja Gaiden, da Tecmo, ambos lançados em 1988.
Uma origem mais “nobre” teve Haggar, com inspirações no clássico romance francês Os Miseráveis, de Victor Hugo, publicado em 1862 — o protagonista Jean Valjean se torna prefeito da cidade em certo momento da história.
Akiman também confirmou influência de um mangá policial criado pelo escritor Kazuo Koike e ilustrado por Noriyoshi Inoue, em 1985, chamado Mad Bull 34, onde temos um policial grandão bigodudo bem parecido com Haggar chamado Eddie — uma óbvia inspiração para o inimigo de mesmo nome no game.
De acordo com Akiman, outros designers contribuíram com os gráficos de fundo. Nissui desenhou o cenário as favelas do Stage 1 e a última fase — o jardim da laje do prédio do chefão e o cenário final. Mikichan fez a fase da fábrica de Rolento, Okachan fez o bar e Kukumarua fez a fase do metrô.
Como o game anterior Forgotten Words não vendeu muito bem, a equipe foi reduzida no desenvolvimento dos games seguintes — incluindo Final Fight.
A equipe que fez Ghosts ‘n Goblins e Mad Gear (jogo de corrida da Capcom, inspiração para o nome da gangue) trabalharam juntas. Prince, um dos designers, mais tarde criaria Blanka, o homem-fera guerreiro brasileiro de Street Fighter II.
Akira Nishitani trabalhou no desenvolvimento dos games Forgotten Worlds, Final Fight e Street Fighter II, e mais tarde saiu da empresa e fundou a Arika, que ficou famosa pela criação da série em 3D de Street Fighter, chamada Street Fighter EX.
Essa série de SF nunca teve participação de nenhum personagem de Final Fight. Doctrine Dark, um dos lutadores exclusivos do line-up, foi ferido terrivelmente por Rolento, e procura vingança por isso — e essa é a única menção a algo relacionado a Final Fight em Street Fighter EX.
Akiman é o apelido de Akira Yasuda, um dos characters designers da Capcom. O visual dos lutadores de Street Fighter II é criação sua.
Nissui é outro artista gráfico da Capcom, e fez também fez cenários para os jogos Captain Commando, Cyberbots: Full Metal Madness, Dungeons & Dragons, Street Fighter Zero 3, The Legend of Zelda: Oracle of Seasons, The Legend of Zelda: The Minish Cap, Mega Man Star Force e muitos outros.
Seus trabalhos mais recentes incluem Resident Evil 7 e Monster Hunter World.
Porrada em todo lugar e bits
Houve diversos ports e localizações da versão de fliperama de Final Fight ao longo dos anos para diversos consoles caseiros — a maioria inferior em qualidade e ousadia da versão japonesa das máquinas.
Final Fight nos arcades do Japão mostra Jessica apenas de sutiã quando os bandidos da Mad Gear avisam seu pai do sequestro; Poison é uma transsexual no game, usa shorts curtíssimos e sua animação de sprite (a figura em pixel do personagem mostrada na tela) quando leva um soco quase mostra os seus seios; há uísques e cervejas entre os itens achados em caixas e barris quebrados para recuperar energia; efeitos gráficos de sangue na pancadaria, citações sexuais, letreiros de bares e nudez em estátuas aparecem com frequência, entre outros detalhes que tornam a versão japonesa muito mais legal do que outras.
Todos essa detalhes foram alterados ou até mesmo removidos de versões para consoles.
Chegaram a mudar até mesmo o nome de personagens, como Sodom, que virou Katana. A versão americana de Super Nintendo de Final Fight, lançada no Japão e EUA em 1990, nem mesmo tem as personagens Poison e Roxy — em seus lugares entraram Billy e Sid, dois homens que lembram o Billy Idol.
Talvez elas estivesse na fase Industrial, que sumiu inteiramente do mapa, junto com o chefe, Rolento. Além de tudo isso, essa versão tem apenas Cody e Haggar para escolher, e nem dá para jogar de dois com um amigo.
Em 1992, saiu no Japão o cartucho Final Fight Guy, que trazia o ninja vermelho sem máscara a=calçando All-star no lugar de Cody. Mas as censuras e omissões continuaram. Em 1994, essa versão foi lançada nos Estados Unidos.
Posteriormente, essas versões de Final Fight foram lançadas no Virtual Console do Wii em 2007, e no Virtual Console do Wii U em 2013.
Há também adaptações de Final Fight para os computadores feita pela softhouse Creative Materials, e lançadas pela U.S. Gold para Amiga, Atari ST, Commodore 64, ZX Spectrum e Amstrad CPC, todas em 1991.
A Capcom lançou uma versão de FF para o computador X68000 em 1993, com CD da trilha sonora remixada.
Uma das versões mais aceitáveis do game para jogar em casa está no Sega CD, lançada em 1993. Final Fight CD entrega boa parte do conteúdo original, com a vantagem de três cenários adicionais no original e bem vindo modo Time Attack.
Há animações e sprites exclusivos, com artes bem trabalhadas e que enriquecem a mitologia do game. Pela mídia ser em CD, a trilha sonora foi retrabalhada e é uma das melhores versões.
Os gráficos se aproximam da versão arcade, mas o game é baseado na versão americana, então há diversas mudanças, e ainda que Poison e Roxy voltem, elas estão mais vestidas em seus sprites.
Em 2001, foi lançado uma versão de Final Fight para o console portátil da Nintendo, o Game Boy Advanced. O Final Fight One oferece até mesmo os sprites de Cody e Guy vindos diretamente de Street Fighter Zero, e a fase Industrial, que estava ausente na versão de SNES.
O softhouse Sun-Tec foi responsável pelo port, que permite que até três amigos joguem juntos via cabo link. Mas ainda nada de Poison ou Roxy para sentar a mão nelas.
Em 2005, a empresa dona de Final Fight o incluiu no Capcom Classics Collection Volume 1 para PlayStation 2 e Xbox. Em 2006, saiu uma versão desse game para o portátil da Sony, o PSP.
Trata-se de uma emulação direta do arcade americano. No mesmo ano, a Capcom promoveu o desastroso lançamento da sequencia, que se afasta tanto da original que hoje é renegada pelos fãs. Final Fight Streetwise foi lançado para Playstation 2 e Xbox e trazia uma versão do game original, muito mal feita pela Ultracade.
Uma versão digital para download no Xbox 360 e Playstation 3 foi disponibilizada em 2010, sob o nome de Final Fight Double Impact, e que trazia junto o game Magic Sword. Em 2012, essa versão apareceu no Xbox 360 na coletânea Capcom Digital Collection.
Tem Final Fight para jogar em iPhone, com uma versão em iOS lançada em 2011 na Apple’s iTunes Store. É a versão do arcade americano.
A mais recente aparição de Final Fight nos videogames foi em 2018, com Capcom Beat ‘Em Up Bundle, uma coletânea de games clássicos da empresa.
Além de Final Fight, a Capcom incluiu no coleção os jogos Captain Commando (1991), The King of Dragons (1991), Knights of the Round (1991), Warriors of Fate (1992), Armored Warriors (1994) e Battle Circuit (1997).
Todos games de beat-em-up baseados em Final Fight. A coletânea esta disponível para PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC.
A luta continua nos videogames
O sucesso de Final Fight fez o game ganhar diversas sequências e ser incorporada ao filé da casa, a série de luta Street Fighter. Grande parte disso se deve a inventividade e design dos personagens, que resistem até hoje.
Foram seis games de franquia de Final Fight produzidos pela Capcom. Depois de Final Fight para os arcades em 1989, surgiram Final Fight 2, uma sequencia direta lançada para o console de 16 bits Super Nintendo em 1993; Mighty Final Fight, uma adaptação do primeiro Final Fight para o Nintendinho, console de 8 bits, também em 1993; e Final Fight 3, a sequência de FF2, lançado em 1995 para Super Nintendo (se chama Final Fight Tough no Japão).
Mighty Final Fight tem os três personagens originais no contexto do primeiro jogo, e usa um estilo cartoon tipicamente japonês chamado chibi, ou super deformed — SD.
Final Fight 2 retornou ao mundo dos games em 2009 por meio do Virtual Console do Wii, e em 2013 para o Virtual Console do Wii U, assim como Final Fight 3 / Final Fight Tough.
Mighty Final Fight retornou em uma coletânea chamada Capcom Classics Mini-M, lançada para o portátil da Nintendo, Game Boy Advanced, em 2006. Em 2014, estava disponível no Virtual Console do Nintendo DS, Wii e Wii U.
Final Fight 2 tem apenas Haggar do game original, e promove as estreias do samurai (!) urbano (!!) brasileiro (!!!) Carlos Miyamoto e da ninja Maki.
A Mad Gear se alastrou pelo mundo e as fases são em diferentes países, como Hong Kong e Holanda. Na Itália, a Capcom fez Rolento como chefão de fase, para tentar redimir sua ausência no primeiro Final Fight.
E dessa vez são 3 personagens disponíveis para jogar com um amigo em multiplayer, reparando outro erro crasso da softhouse em suas adaptações anteriores do SNES. O jogo é meia-boca, com quase nenhum inimigo memorável, e o último chefão, o kabuki Retsu, apesar de ter um design legal, é um dos mais fáceis de toda a franquia.
Há uma explicação para a Guy não estar aqui: é dito que ele estava treinando. Mais tarde, a Capcom escolheu Guy para seu line-up em Street Fighter Zero, o que explica esse tal treinamento.
Final Fight 3 tem o retorno de Guy a franquia e a pancadaria está de volta nas ruas de Metro City, cujo prefeito ainda é Mike Haggar.
Ela está assolada por uma nova gangue, Skull Cross. A zona se alastra por toda a cidade, o que obriga a detetive de polícia Lucia se juntar a Haggar e Guy.
Ainda tem mais um personagem, Dean, um membro de uma gangue menor que teve a família assassinada pelos criminosos da Skull Cross, e que procura vingança.
Os gráficos são melhores, há uma barra de especial que se enche a medida que se bate nos inimigos, e que permite a execução de um golpe especial.
Há movimentos especiais de corrida e ataques com corrida, todas implementações vindas diretamente de Street Fighter Zero — o design de Guy já é derivado diretamente dele inclusive.
Apesar de não ser o mesmo sprite, ele foi baseado em sua aparição de SFZ. Ele chega até mesmo a ganhar uma magia: um pequeno poder de fogo disparado pelas mãos, e que nunca mais apareceu em qualquer outro game.
Os inimigos têm mais carisma do que os inimigos de FF2, mas o chefão final, Black, não passa de um Rolento com vara militar a bordo de um helicóptero.
Como se percebe, a Nintendo conseguiu exclusividade da série para seus consoles, mas isso mudaria nos dois últimos games produzidos, que se afastaram muito das propostas originais.
Em julho de 1999, a Capcom fez efetivamente um jogo de luta com Final Fight.
O Final Fight Revenge foi uma das primeiras experiências da softhouse com gráficos 3D em um game de luta. Em março de 2000, ele foi adaptado como um produto exclusivo do console de 32-bits da empresa, o Sega Saturn, um dos últimos lançamentos do aparelho.
E é tremendamente ruim, com jogabilidade travada e gráficos pobres. Os personagens são todos do primeiro Final Fight, ignorando por completo os outros. Há quase todo mundo da Mad Gear, e o último chefão é outro fracasso da Capcom: Berger retorna como um zumbi roxo superpoderoso, o que destoa por completo da série.
No entanto, parte dos finais dos personagens foi aproveitado no cânone do universo compartilhado — é aqui que Cody aparece como presidiário pela primeira vez, por exemplo.
A última aparição da franquia aconteceu em 2006, com o péssimo Final Fight Streetwise, um game considerado fora do cânone de tão ruim, e que enterrou o prestígio da marca.
O game foi lançado para Playstation 2 e Xbox em 2006, e trazia um irmão até então desconhecido de Cody, Kyle Travers em uma série de brigas de rua por Metro City, assolada por arruaceiros loucos de uma droga que promove superforça.
O game usa gráficos 3D e toma diversas liberdades criativas em cima de personagens já estabelecidos. A fama de jogos hack´n slash, uma derivação do beat-em-up, como o God of War, e de jogo aberto como Grand Theft Auto, influenciaram os produtores, que tentaram um novo formato para a franquia, abandonando elementos clássicos a favor de um game com ambientação anos 2000 bem americano, com hip-hop, guetos e outros elementos exagerados e clichês.
A atmosfera foi para o espaço, assim como a trama. De inimigos, há o Guy, que virou um chefão do crime (!?) e a Cammy White de branco (!?!). Um jogo completamente esquecível.
A briga de rua de Final Fight chega em Street Fighter
Em 1995, mesmo ano que a Capcom lançava Final Fight 3 / Final Fight Tough para o Super Nintendo, aparecia nas galerias de arcade a máquina de Street Fighter Zero, game de luta com traços de anime (que aproveitava o enorme sucesso do filme animado Street Fighter II – The Animated Movie, lançado um ano antes), para contar uma nova narrativa pré-Street Fighter II.
Seus designs e elementos gráficos foram inspirados em Street Fighter II e alguns originais do próprio filme inspiraram a Capcom em fazer um game de Street Fighter mais com cara de anime.
Os personagens em Street Fighter Zero eram jovens, e iniciavam as carreiras de lutadores. Construída em cima da placa gráfica CPSystem II, era efetivamente o primeiro game da franquia desde o lançamento de Street Fighter II em 1991, que até então apenas passava por diversas revisões e acréscimos de nomes ao seu título — Champion Edition, Hyper Fighting, Turbo, Super, Super Turbo etc.
Vários elementos do filme animado de SF apareceriam na série Zero, como a faixa vermelha na cabeça de Ryu, dada por Ken (no jogo ele ainda usa uma branca), um casaco para Cammy, uma capa vermelha para Zangief, o cenário australiano de matagal, em meio a uma noite de tempestade à beira de uma estrada qualquer, onde Ryu e Sagat lutaram, o avião e o cientista-chefe de Bison, entre outros elementos.
Os desenhos de Street Fighter Zero eram melhores, o cenário melhor trabalhado, as artes internas, de introdução e de finais eram bem produzidas, a trilha sonora era incrível. A jogabilidade alcançava níveis de perfeição, com o surgimento de barras de especiais e movimentos para desferir golpes concentrados que alteraram completamente a dinâmica de se jogar.
Agora havia combos para ligar pancadas e contadores nos informavam quantas vezes seguidas o oponente era atingido. Tudo que havia apenas sido rascunhado no game Super Street Fighter II Turbo, de 1994, foi aprimorado na nova marca Street Fighter Zero.
O game de SFZ oferecia personagens já conhecidos, promoveu a aparição de novos e trouxe até Adon e Birdie, do primeiro Street Fighter. E dois personagens, vindos diretamente das ruas de Metro City, trazem o estilo de briga de rua para finalmente estrear em um game do headliner da casa, Street Fighter: o herói Guy e o vilão da segunda fase, Sodom.
Street Fighter Zero fez tanto sucesso que por um tempo a Capcom fez dela sua prioridade. Um ano depois, em 1996, já estava disponível Street Fighter Zero 2, um dos games de luta mais completos da indústria de videogames.
STREET FIGHTER ZERO 2 | O poder e impacto do design 2D nos jogos de luta
Se antes o primeiro era quase perfeito, agora não havia mais nada a acrescentar. Jogabilidade assertiva, comandos rápidos, sons de porrada como meteoros caindo, luzes, sombras e cores em personagens e cenários carismáticos e uma dinâmica rápida de combate, aliada com interface amigável, fazem de Street Fighter Zero 2 o melhor game de luta de todos os tempos.
Guy e Sodom ganham a companhia de Rolento, o vilão da terceira fase de Final Fight, e que traz junto até seu cenário original. Há ainda a aparição de capangas menores, El Gado e Hollywood, como ajudantes de Rolento em um golpe especial e uma pose de vitória.
Os 3 Street Fighter III
Em 1996, a Capcom promovia também a franquia Street Fighter III, a sequencia direta de Street Fighter II. Feita em cima da placa gráfica CPSystem III, o visual era muito superior da franquia Zero, com animações e sprites de alta qualidade e frame rate altíssimo.
Se em Zero, Ryu e Ken usavam uns cinco quadros de animação para soltar um hadouken, em Street Fighter III eram quase 20. Apesar da jogabilidade técnica e gráficos de alto padrão, o fato de ter apenas Ryu e Ken do elenco de lutadores de rua original fez a franquia patinar em popularidade.
O jogo foi lançado em dezembro de 1996 no Japão, e em setembro de 1997, menos de um ano depois, havia uma atualização / sequência do game, chamada de Street Fighter III 2nd Impact: Giant Attack.
E o vilão Andore de Final Fight fez sua estreia nesse game, com direito a destaque em artes promocionais do jogo.
Seu nome foi alterado para Hugo, provavelmente para evitar problemas de direitos de imagens, já que em Final Fight ele é tão parecido com o André The Giant que um processo cabia fácil.
Na verdade, a Capcom pouco faz para esclarecer de maneira mais clara a questão, e fica para os fãs formularem teorias. Poison faz uma aparição em cia. com o bandido também, mas não é jogável.
Estranhamente, a softhouse não teve essa preocupação de nome anos depois, já que em 1999, Andore aparecia com esse nome em Final Fight Revenge nos arcades japoneses.
O mais estranho é que foi a Capcom USA quem produziu FF Revenge (que anos depois cometeriam Final Fight Streetwise).
Ainda em 1999, foi lançada a atualização Street Fighter III Third Strike, e Andore volta com o nome de Hugo.
Street Fighter Zero 3
Em 1998, Street Fighter Zero 3 aparece nos arcades. E o protagonista de Final Fight, Cody, seria um dos grandes destaques do game. Ele se junta à Guy, Rolento e Sodom do jogo original de briga de rua da softhouse.
Cody está bem diferente, com uma roupa de presidiário clássica, toda listrada. É um disparate com sua aparição anterior, no cenário de Guy em Street Fighter Zero 2, onde ele estava abraçado com Jessica, vestido ainda como em Final Fight.
A explicação é de que Cody simplesmente não parou de lutar após a derrota da Mad Gear, satisfazendo seu vício de lutas, até que arrumou uma confusão e foi preso.
Em uma de suas poses de vitória, Cody é perseguido por Edi.E, o policial corrupto de Metro City e um dos chefões do primeiro jogo.
Há outras referências diretamente retiradas de Final Fight, como a possibilidade de Cody pegar uma faca no chão e atacar o inimigo, e seu golpe especial Final Destruction ser uma homenagem a manha presente no jogo original de paralisar o inimigo com porrada (se trata de desferir dois socos, virar para o outro lado, e retornar rapidamente, desferindo outros dois socos, e repetir a operação até esgotar a barra de life do inimigo).
Seu cenário de luta é parte da prisão de onde escapa. Já o cenário de Guy (acima) ainda é Metro City, e ainda é possível ver membros da Mad Gear nela.
A briga de rua de Final Fight
sai de Metro City para outros mundos
Em 2002, Guy aparece no game de luta 2D Capcom Fighting Evolution, originalmente lançado como um jogo de arcade e convertido para os consoles PlayStation 2 e Xbox.
Foi uma tentativa de reunir grandes estrelas dos jogos da empresa, mas que não teve grande sucesso. Ele já veio de uma ideia que não tinha dado certo — Capcom Fighting All-Stars era o jogo original, e usava mecânicas e gráficos 3D, com diversos outros lutadores.
Em vez de Guy, era Mike Haggar o representante de Final Fight. A Capcom optou por cancelar esse projeto em seguir em frente com uma ambientação 2D, e o resultado foi Capcom Fighting Evolution.
Uma reunião de lutadores melhores estava a espera da Capcom em SNK vs. Capcom: SVC Chaos, de 2003.
A SNK fez a alegria do público gamer ao construir uma parceria com a Capcom, e juntas produziram uma série de jogos de luta unindo seus elencos de lutadores. E apesar de não ter participações dos heróis de Final Fight, Hugo/Andore foi trazido da franquia Street Fighter III para o line-up. Seu mood gráfico está o mesmo de Street Fighter III Second Impact e Third Striker, incluisive com Poison à tira colo.
Os chefões de FF, Damnd e Sodom, também fazem uma aparição no final de Chun-Li. O game de luta foi lançado para os arcades, PlayStation 2 e Xbox.
Final Fight na série Street Fighter IV
Em 2009, a Capcom finalmente deu sequência à Street Fighter, e Street Fighter IV foi lançado. Fiu um jogo revolucionário, finalmente 3D, mas ainda com jogabilidade 2D, o que deixou famliar para todos esse novo game de luta.
Em 2010, finalmente Cody e Guy são trazidos de Street Fighter Zero 3 e aparecem na franquia principal de Street Fighter: Super Street Fighter IV, a segunda atualização da franquia IV.
As fases bônus de destruir objetos no cenário retornam, e tem o carro entre eles. Bastante famosa em Street Fighter II, ela é uma reminiscência de uma fase bônus de Final Fight. É lá que essa fase bônus apareceu, e o dono do carro é o capanga Brad.
Quando se termina de arrebentar o carro, ele surge e diz chorando “Oh, my God!” (isso foi alterado na versão americana para “Oh, my car!“). Se usarmos Guy ou Cody nessa fase bônus em SSF IV, ele surge para chorar também.
Brad não é selecionável nem apanha em Super SF IV, mas aparece e chora
Final Fight vs Tekken
Em 2012, mais um crossover de lutadores acontece em Street Fighter x Tekken, game de luta produzido pela Capcom com a Namco. Guy e Cody estão disponíveis, vindos direto de seu modelo 3D de SFIV, e a Capcom também promoveu a estreia 3D dos vilões Rolento e Hugo, mas o destaque fica para a estreia de Poison no mundo das lutas.
Há até mesmo um cenário onde vários integrantes da Mad Gear marcam presença. Tekken é um dos games de luta 3D mais famosos do mercado, e a softhouse Namco deve muito a Capcom pela popularização do gênero.
A proposta inicial divulgada pela imprensa especializada era de que as duas empresas fariam cada uma um jogo, com suas características específicas.
A Capcom entregou sua versão, mas a Namco nunca fez seu Tekken x Street Fighter. Entretanto, a relação das duas softhouses aparenta ser das melhores — Tekken 7, de 2016, chegou a contar com o personagem Akuma em seu cânone. Em 2021, as empresas anunciaram oficialemente que a sequencia jamais acontecerá.
O esquema técnico meticuloso de lutas presente em Tekken é uma de suas maiores marcas, com dezenas e dezenas de golpes, agarrões, combinações e combos, e poder ver toda essa riqueza de combate em um personagem da franquia FF seria um privilégio.
Um game de briga de rua, mesclado ao detalhismo apurado de um game de luta convencional, elevaria o prestígio da marca Final Fight.
Ultra Street Fighter IV
Em 2014, em Ultra Street Fighter IV, a ultima atualização da franquia SF IV, trouxe os vilões Rolento, Hugo e Poison para se juntaram a Cody e Guy no line-up de Street Fighter. Suas animações, gráficos e golpes vieram diretamente de suas estreias em Street Fighter x Tekken.
Street Fighter V
Em Street Fighter V (2016), a exemplo de SFIV, nenhum lutador de Final Fight estava no line-up inicial. Diferente da tradição que vem desde de SFII da Capcom colocar complementos simples nas continauções de seus jogos (Turbo, Super, Ultra ext), em SFV temos atualizações de personagens via DLC.
Assim, em 2017, a empresa deixou disponível aos jogadores o vilão Abigail, o subchefão de Final Fight, com certeza o maior (em altura e massa) lutador de toda a mitilogia de Street Fighter — ele simplesmente usa pneus como pulseira.
Junto com ele veio Zeku. Trata-se do mestre de Guy, o maior representante do Bushinryu Ninjutsu.
Cabe dizer que Zeku é o precursor também com arte ninja Strider, que num futuro da Capcom, em 2048, é uma organização ninja de assassinos, conforme estabelecido no sensacional game Strider.
STRIDER | O projeto multimídia da Capcom de um game ninja distópico pós-soviético
Na terceira atualização, no ano seguinte, entre os lutadores estava Cody, finalmente livre da roupa de presidiário, pois se tornou o novo prefeito de Metro City (SIM! 30 anos depois, temos uma atualização na cadeira do Poder Executivo da cidade. Será que Haggar voltou a ser lutador?).
E quarta atualização, de 2019, trouxe, além da Poison, a surpreendente estreia de Lucia, a detetive que é personagem selecionável em Final Fight 3.
E não foi a primeira vez que a Capcom promoveu de fato personagens fora do primeiro Final Fight em Street Fighter.
Em 2006, a empresa lançou para o portátil da Sony, o PSP, o game Street Fighter Alpha 3 MAX, conhecido como Street Fighter Zero 3 Double Upper no Japão.
É uma das últimas atualizações de Street Fighter Zero 3, e nele tem a personagem Maki no line-up de lutadores. Ela é ninja, filha de Genryusai, o mestre do Bushinryu Ninjutsu, a arte de luta de Zeku e Guy. O velho foi mestre dos dois, e morto por Zeku, seguindo a tradição da escola de alunos superarem seus mestres. E Maki era uma dos personagens jogáveis de Final Fight 2.
Mas acontece que Max/Double Upper não é considerado no cânone, até porque, além de trazer Maki, também oferece Yun, um lutador de Street Fighter III que nem deveria estar presente no game, cronologicamente falando. Além dele, há Eagle, um lutador do primeiro Street Fighter, e Ingrid, uma personagem exclusiva de Capcom Fighting Evolution.
Maki também já tinha aparecido até antes: no game de luta crossover Capcom vs. SNK 2: Mark of the Millennium 2001, junto com Eagle. E são os sprites desse game que a Capcom usou em SFZ 3 MAX / Double Upper.
Da prefeitura para a Marvel
Mike Haggar, do trio de heróis de Final Fight, foi bem menos aproveitado pela Capcom, em comparação com Cody e Guy.
O personagem, antes de ser prefeito, era um lutador de wrestler. Ele aparece assim em Saturday Night Slam Masters (Muscle Bomber, no Japão), um jogo de luta de ringue lançado em 1993 para o console Super Nintendo.
O game teve uma atualização chamada Muscle Bomber Duo, lançada ainda em 1993, e restrita ao mercado japonês. Em 1994, saiu a sequência Ring of Destruction: Slam Masters II, bem mais conhecida no Ocidente.
Seus eventos acontecem antes do primeiro Final Fight. E o game leva a grife de ter os designs de personagens feitos por Tetsuo Hara, conhecido pelo seu excelente trabalho no mangá Hokuto no Ken.
A sinergia entre Final Fight / Street Fighter é muito presente em Slam Masters, mesmo que o game não seja um briga de rua, e sim um jogo de luta aos moldes tradicionais. Zangief pode ser visto no ringue russo de Moscou, Balrog (o lutador de boxe) pode ser visto no ringue em Las Vegas e Edmond Honda esta presente no cenário final “CWA stage”.
Produtores da Capcom já afirmaram que Zangief faz as vezes do representante de luta livre em Street Fighter, e colocar Haggar no line-up seria uma repetição tola, pois os estilos de ambos são idênticos.
A aparição de personagens de Street Fighter em outros jogos já tinha sido usada um ano antes, em Final Fight 2 — Guile e Chun-Li podem ser vistos no cenário do game.
Em 2011, a Capcom lançou Marvel vs. Capcom 3: Fate of Two Worlds — o quinto game da franquia Marvel Vs. Capcom, oitavo jogo da série Vs, e o primeiro a ser exclusivo para consoles.
Haggar era um dos personagens selecionáveis. A sequencia direta do jogo, Marvel vs. Capcom: Infinite, lançada em 2017, também tem Haggar para ser selecionado. Ele é o único representante de Final Fight a enfrentar e ajudar os heróis da Marvel nos jogos da franquia Vs., apesar de Cody e Jessica já terem aparecido em cenários de X-Men Versus Street Fighter e Marvel Super Heroes vs. Street Fighter.
Mike Haggar em Marvel vs. Capcom 3, o único personagem de Final Fight que interage com os super-heróis da Marvel Comics
Final Fight é o melhor briga de rua dos videogames para se ter a pancadaria mais legal em briga de rua em qualquer console.
Se você é fã de diversão eletrônica em games, conseguir botar as mãos ou os olhos em uma versão de Final Fight é obrigação.
Uma cronologia possível de se traçar com os games da Capcom que engloba o universo de lutas de seus jogos em Final Fight e Street Fighter é a seguinte: Slam Masters, Street Fighter, Final Fight, Rival Schools, Street Fighter Zero (1,2,3), Street Fighter II, Street Fighter IV, Street Fighter V, Street Fighter III.
Final Fight em anime
Em 1999/2000, saiu o anime Street Fighter Zero no Japão, em formato OVA (Original Video Animation, modelo popular com duração menos do que um filme). Os dois episódios geralmente são unidos e veiculado como um filme atualmente.
Esse anime foi feito em comemoração aos 10 anos do lançamento de Street Fighter II. A trama é original, mas usa elementos de SFZ e SFZ2. Um garoto, Shun, aparece e diz ser irmão mais novo de Ryu, e estava fora do Japão vivendo no Brasil (!).
Fica implícito aqui que o pai dos dois pode ser Akuma, e a narrativa é a maior parte do tempo com Ryu tendo que lidar com seu lado negro, graças à influência do Satsui no Hadou, a parte perversa e poderosa de sua arte marcial, o Ansatsuken (antes a Capcom chamava de caratê Shotokan).
Os vilões são personagens da Shadaloo, a organização criminosa comandada por Bison, nas figuras de Sadler e Rosanov, criados especialmente para esse anime.
Chun-Li também tem destaque, investigando as atividades do cientista. De Final Fight mesmo, temos aparições especiais de Guy, Sodom e Rolento, que acabam indo para a ilha de, junto com outros Street Fighters — Dhalsim, Adon, Birdie e Dan — no que parece ser uma conspiração do cientista, que tem relação com esse suposto irmão de Ryu também.
As lutas são tão rápidas com a galera de Final Fight que se você piscar, perde.
Conhecido como Street Fighter Alpha: The Animation nos EUA, ele foi dirigido por Shigeyasu Yamauchi, com character design de Yoshihiko Umakoshi.
Final Fight no Street Fighter “americano”
Street Fighter (conhecido como Street Fighter: The Animated Series) é um desenho animado americano, feito nos EUA, e que passou na TV de 1995 a 1997, totalizando 26 episódios.
A qualidade da animação é atroz, mas no episódio “Final Fight” (01×25), aparecem Guy, Cody e Haggar contra a Mad Gear. A série era baseada em elementos do filme live-action de 1994 (aquele com Ryu e Ken como traficantes e Jean-Claude Van Damme como Guile e Raul Julia como Bison).
Esse desenho chegou a passar no Brasil, com o SBT tentando colar na popularidade de Street Fighter II – Victory, esse sim um desenho animado de alta qualidade. No episódio em questão, temos uma bizarra adaptação do primeiro Final Fight.
Belger ordena que Rolento sequestre Jessica para tomar o controle de Metro City, e a moça é capturada. Ryu e Ken estão vendo Guy lutar no circuito de luta clandestino da cidade, e eles aparentam já conhecer o ninja, que recebe uma ligação de Cody informando do sequestro.
Ryu e Ken se disfarçam de punks (!) para entrar na Mad Gear (!!). luta com Sodom para descobrir onde Jessica está, enquanto Cody e Guy ficam fora de ação por alguma razão inexplicada.
No final, Cody, Guy e Haggar chegam à torre de Belger e resgatam Jessica. Cody chega a dar uma voadora no chefão criminoso, mas ele escapa da morte quando se enrosca em um mastro. Desenho infantil que fala, né.
Final Fight em mangá
Um mangá escrito por Masahiko Nakahira para Street Fighter Zero saiu na revista Gamest (publicação especializada em arcades no Japão) entre 1995 e 1996.
A série gerou dois volumes encadernados e foi sucedida por Street Fighter: Sakura Ganbaru!, também fechada em dois volumes. Ambas as obras de Nakahira foram lançadas no Brasil pela editora NewPOP, em 2013. E eles contém elementos de Final Fight, com uma participação grande de Guy.
/ TUDO SOBRE FINAL FIGHT. O site mais completo a respeito de Final Fight na internet é este: http://rq87.flyingomelette.com/FF/1.html
/ GAME ESSENCIAL. Final Fight está entre os games recomendados por Tony Mott na bíblia obrigatória de gamers, 1001 Videogames Para Jogar Antes de Morrer.
FINAL FILME
Há um fan film bem legal de Final Fight disponível no YouTube: The Broken Gear: Um Filme Final Fight
/ UMA NÃO-LUTA. Final Fight Seven Sons. Como não poderia deixar de ser, há um game não-lançado de Final Fight, que sairia no Playstation 2, mas foi cancelado graças aos deuses do entretenimento. Você pode arruinar seu dia vendo ele aqui. Pena que ele só foi enterrado para a aberração Final Fight Streetwise nascer (e fracassar).
/ BRASILEIRO SUMIDO. Cody, Guy e Haggar fazem a trinca original de lutadores disponíveis de Final Fight, mas os games de sequência do briga de rua contam com outros personagens.
Final Fight 2 para Super Nintendo mantém Haggar, tem a Maki — já citada no texto — e ofereceu o sumido Carlos Miyamoto, o único jogador da franquia que não perde sua arma depois de levar uma porrada. Ele é um lutador de kempo e caratê que usa uma katana em seu ataque especial de dois botões.
Ele é brasileiro, coisa que a Capcom adora botar em seus jogos, sendo uma das grandes contribuidoras da indústria de videogames nesse sentido. Já é o “segundo” Carlos em jogos da empresa — Carlos Oliveira é outro brasileiro, mas alocado na franquia Resident Evil.
Carlos Miyamoto nunca mais apareceu em jogos da Capcom, até Street Fighter V, onde pode ser visto no final de Lucia.
Infelizmente, ainda é preciso por na conta Kyle Travers, irmão de Cody, e protagonista de Final Fight Streetwise. Apesar dos eventos do game serem ignorados pelo fandom, a Capcom tornou cânone o irmão mais novo de Cody.
/// TRILHA SONORA. Final Fight teve a trilha produzida por sete compositores: Manami Matsumae, Yoshihiro Sakaguchi, Harumide Fujita, Junko Tamiya, Yasuaki, Hiromitsu Takaoka e Yoko Shimomura (uma compositora incrível, matéria dela aqui).
Abaixo, você pode conferir a trilha sonora remixada em Final Fight CD. O blog Destrutor dá a maior importância para as trilhas sonoras de videogames, e se o briga de rua Final Fight não tem a melhor delas, a cantora britânica TJ Davis fez uma memorável trilha sonora em Sonic R.
Trilha sonora do Final Fight CD
YOKO SHIMOMURA | A pianista que criou a trilha sonora de Street Fighter II
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